ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FARMÁCIA HOSPITALAR ROSILÂNDIA TRAJANO BANDEIRA PERFIL DE UTILIZAÇÃO DE ANTIBACTERIANOS NA CLÍNICA MÉDICA DE UM HOSPITAL DA REDE PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE VIÇOSA DO CEARÁ-CE. FORTALEZA 2008 2 ROSILÂNDIA TRAJANO BANDEIRA PERFIL DE UTILIZAÇÃO DE ANTIBACTERIANOS NA CLÍNICA MÉDICA DE UM HOSPITAL DA REDE PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE VIÇOSA DO CEARÁ-CE. Monografia submetida à Escola de Saúde Pública do Ceará, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Farmácia Hospitalar. Orientadora: Gisele Medeiros Bastos FORTALEZA 2008 3 ROSILÂNDIA TRAJANO BANDEIRA PERFIL DE UTILIZAÇÃO DE ANTIBACTERIANOS NA CLÍNICA MÉDICA DE UM HOSPITAL DA REDE PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE VIÇOSA DO CEARÁ-CE. Especialização em Farmácia Hospitalar Escola de Saúde Pública do Ceará Aprovada em 06/08/2008 Banca examinadora: _______________________________________________ Msc. Gisele Medeiros Bastos (Orientadora) _______________________________________________ Dr. Gilson Holanda Almeida _______________________________________________ Msc. Solange Cecília Cavalcante Dantas 4 DEDICATÓRIA “Aos meus familiares, amigos e aos pacientes do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará, razão deste estudo”. 5 AGRADECIMENTOS À Deus, por iluminar o meu caminho. Aos meus pais, pela incentivo e compreensão, mesmo diante da distância. À minha tia Vanda e minha avó Maria José (In Memorian), pelo amor e grande apoio na minha educação e entusiasmos com cada conquista. Em especial ao meu amigo, namorado e noivo André Felipe, pelo carinho, dedicação e paciência e à sua mãe Audália, por toda a ajuda prestada. À minha Orientadora Msc. Gisele Medeiros Bastos, pelo total apoio, dedicação, amizade, e pela praticidade na condução do trabalho, bem como à sua mãe Claudenir, por seu acolhimento. Aos funcionários da Farmácia do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará, pela compreensão das minhas ausências para a realização do curso de Farmácia Hospitalar. À Marisa Fontenele, funcionária do setor de Controle e Avaliação do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará, pela colaboração na coleta dos dados. Aos professores e funcionários do curso de Especialização de Farmácia Hospitalar, pelos conhecimentos adquiridos e a oportunidade do meu crescimento profissional. Aos colegas da Especialização de Farmácia Hospitalar pelas experiências que passamos juntos. 6 RESUMO Introdução: Os antibacterianos pertencem a uma classe de medicamentos muito utilizada em meio hospitalar, os antimicrobianos. Esses medicamentos trouxeram muitos benefícios nos cuidados com a saúde. Contudo, muitos problemas surgiram em conseqüência do seu uso incorreto, como a seleção e o aumento de cepas resistentes, reduzindo as opções terapêuticas disponíveis. O levantamento de dados sobre o uso de antibacterianos em unidades hospitalares torna-se útil para o estabelecimento de políticas de intervenção como estratégia de vigilância e controle no uso desses medicamentos. Objetivos: Avaliar o uso de antibacterianos de uso sistêmico no tratamento de pacientes admitidos na unidade clínica médica do hospital da rede pública do município de Viçosa do Ceará - Ceará, no período de 1° de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007. Método: Os registros clínicos foram analisados e os dados dos pacientes e dos medicamentos foram coletados através de um formulário padrão. Os dados foram inseridos e analisados no programa de informática Microsoft® Excel 2003 (Microsoft Co.). Dentre os prontuários pesquisados, noventa e seis pacientes fizeram uso de antibacterianos. Resultados: As infecções do aparelho genitourinário foram mais prevalentes (21%), seguida do respiratório (21%) e digestivo (20%). Dos antibacterianos prescritos o grupo das Cefalosporinas representaram 35% das prescrições, das Penicilinas 27% e dos Aminoglicosídeos 20%. A Cefalotina foi o antibacteriano mais usado (22%) e a via de administração mais utilizada foi a intravenosa (72,5%). A associação de antimicrobianos mais prescrita foi a combinação da Ampicilina com Gentamicina (23%). Foi observado que o tempo de tratamento era muito curto (média variou de 1 a 4 dias) e que mais de um tipo de antibacteriano foi usado no mesmo paciente (58,3%). Conclusão e Recomendações: Apesar de existir uma comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH) no hospital, não havia um controle na padronização e dispensação de antimicrobianos. Isso pode resultar em falha terapêutica e no aumento de resistência bacteriana. Essas informações servem de alerta para orientar os profissionais de saúde e contribuir na promoção do uso racional dos antimicrobianos. Para isso, é necessário adotar estratégias tais como, vigilância permanente de prescrições e estabelecimento de protocolos para o uso desses medicamentos. Palavras chave: Antibacterianos, resistência bacteriana, uso racional de antimicrobianos. 7 ABSTRACT Introduction: Antibacterial agents belong to a class of drugs very utilized in hospital environment, the antimicrobials. These drugs brought many benefits in the health care. However, many problems appeared with their incorrect use, for example, selection and increase of resistant strains, reducing the therapeutic options available. Therefore, the survey data about the use of antibacterial drugs in hospitals becomes useful to establish politics of intervention as a strategy of vigilance and control in the use of these drugs. Objectives: The aim of this study was to assess the use of the systemic antibacterial drugs in the treatment of patients admitted in the medical clinic unit in a public hospital of Viçosa do Ceará-CE, from July 1st to September 30th, 2007. Methods: The clinical records were analyzed, and then patients and drug data were collected through a standard formulary. The data were inserted and analyzed in the Microsoft® Excel 2003 (Microsoft Co.). Ninety six patients were included in the study because they were using at least one systemic antibacterial drug during the admission. Results: The genitourinary infections were the most prevalent (21%), followed by the respiratory (21%) and digestive (20%) ones. The classes of antibacterial drug more prescribed were Cephalosporin (35%), Penicillin (27%) and Aminoglycoside (20%). Cephalothin was the most used antibiotic (22%) and the route of administration more used was the intravenous one (72,5%). The combination of Ampicillin and Gentamicin was the antimicrobial drugs association more used (23%). It was observed that the treatment time was very short (mean ranges from 1 to 4 days) and more than one kind of these drugs was used for the same patient (58,3%). Conclusion and Recommendations: Despite the hospital have a commission of hospital infection control; there isn’t a control in the selection and dispensation of antimicrobials drugs. This can result in therapeutic failure and increase of resistance bacterial. The results of this study presents some characteristics about the antibacterial drugs more prescribed in clinical medical unit. These informations will serve to alert and orient the health professionals to contribute in the promotion of the rational use of antimicrobials drugs. For this, it’s necessary to adopt some strategies as permanent vigilance of prescriptions and to establish protocols for the use of these drugs. Key words: antibacterial drugs, bacterial resistance, rational use of antimicrobials drugs 8 LISTA DE FIGURAS Figura 01 – Fluxograma da seleção da amostra.......................................................................25 Figura 02 - Dias de internação dos pacientes da Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007, que fizeram uso de antibacterianos sistêmicos................................................................................29 Figura 03 - Distribuição dos antibacterianos prescritos para os pacientes internados na Cínica Médica do hospital municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007, de acordo com a via de administração..............................................29 Figura 04 - Quantidade de antibacterianos por paciente prescrita na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007......................................................................................................................30 Figura 05 - Grupos de antibacterianos mais prescritos para os pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007............................................................................................................32 Figura 06 - Distribuição dos antibacterianos mais prescritos para os pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007, segundo o princípio ativo......................................................34 Figura 07 – Associações de antibacterianos mais freqüentes prescritas para os pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007.........................................................................35 Figura 08 – Distribuição dos pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007, de acordo com o local da infecção.................................................................................................36 Figura 09 – Distribuição dos antibacterianos mais prescritos para os pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE) com infecções do trato genitourinário, no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007.........................37 Figura 10 – Distribuição dos antibacterianos mais prescritos para os pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE) com pneumonia, no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007....................................................................38 Figura 11 – Distribuição dos antibacterianos mais prescritos para os pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE) com enteroinfecção, no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007.......................................................39 9 LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Distribuição dos pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007, que fizeram uso de antibacterianos sistêmicos................................................................................28 Tabela 02 – Tempo de duração do tratamento com antibacterianos prescritos para os pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007.......................................................31 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 13 2 OBJETIVOS................................................................................................................... 16 2.1 Objetivo Geral..............................................................................................................16 2.2 Objetivos Específicos................................................................................................... 16 3 REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................... 18 3.1 Antimicrobianos........................................................................................................... 18 3.2 Resistência Bacteriana............................... ...................................... ........................... 19 3.3 Estudos de utilização de medicamentos: monitorização do uso de antimicrobianos.................................................................................................................. 21 4. MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................................... 24 4.1 Desenho do Estudo....................................................................................................... 24 4.2 Local de Estudo............................................................................................................ 24 4.3 Período do estudo........................................................................................................ 25 4.4 População e amostra.................................................................................................... 25 4.5 Instrumento e coleta de dados.................................................................................... 26 4.6 Análise dos Dados........................................................................................................ 26 4.7 Considerações éticas.................................................................................................... 26 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................... 28 5.1 Características dos pacientes...................................................................................... 28 5.2 Utilização de antibacterianos...................................................................................... 29 5.2.1 Vias de administração.............................................................................................. 29 5.2.2 Número de antibacterianos prescritos por paciente............................................. 30 5.2.3 Tempo de tratamento com antibacterianos............................................................ 31 5.2.4 Antibacterianos mais utilizados por grupos...........................................................32 5.2.5 Antibacterianos mais utilizados por princípio ativo............................................. 33 5.2.6 Associações dos antibacterianos.............................................................................. 35 5.3 Topografias das infecções........................................................................................... 36 5.4 Correlação utilização de antibacterianos e as infecções mais freqüentes.............. 37 6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES...................................................................... 42 11 7. REFERÊNCIAS............................................................................................................. 44 ANEXOS............................................................................................................................. 48 8. ANEXOS.......................................................................................................... 12 INTRODUÇÃO ___________________________________________________________________________ 13 1 INTRODUÇÃO Os antibacterianos integram uma das classes de medicamentos bastante utilizados em ambiente hospitalar, os anitimicrobianos. Apesar dos inúmeros benefícios trazidos para a sociedade, os antimicrobianos quando utilizados incorretamente também podem trazer prejuízos, tanto para pacientes em tratamento com essas drogas, quanto para os sistemas envolvidos diretamente com esse tratamento. Entre as conseqüências do uso indiscriminado dos antibacterianos, pode-se citar a resistência bacteriana e o aparecimento de reações adversas a estes medicamentos, que atualmente são sérios problemas de Saúde Pública e que preocupam as autoridades de saúde no mundo todo, pelo fato de estar diretamente envolvido com o aumento dos custos na aquisição desses medicamentos, e, portanto com o aumento dos gastos com a saúde. Essa temática tornou-se relevante a partir da constatação de que no hospital onde foi realizado o estudo, embora o número de prescrições contendo antibacterianos seja bastante elevado, representando 22% de todos os 163.321 medicamentos dispensados no ano de 2007, não havia nenhum método de acompanhamento e/ou controle no uso destes medicamentos. Por esta razão, o conhecimento sobre o consumo de antibacterianos na unidade de saúde torna-se necessária, pois permite conhecer o perfil de utilização desses medicamentos, fornecendo subsídios para estabelecer rotinas de monitorização dos antibacterianos para a promoção do uso racional. A Farmácia Hospitalar ocupa importante posição dentro do contexto assistencial do Sistema Único de Saúde (SUS), pois é responsável por diversas atividades relacionadas ao medicamento; instrumento terapêutico com forte impacto na saúde e no custo hospitalar. A farmácia é um setor do hospital que necessita de elevados valores orçamentários, e o farmacêutico hospitalar está habilitado a assumir atividades clínico-assistenciais contribuindo para a racionalização administrativa com conseqüente redução de custos (GOMES & REIS, 2003; MAGARINOS-TORRES, OSORIO-DE-CASTRO & PEPE, 2007). Dentre as competências da Farmácia Hospitalar estabelecidas pelo Conselho Federal de Farmácia por meio da Resolução 300/97, está a participação na Comissão de Controle de Infecção Hospitalar subsidiando as decisões políticas e técnicas, relacionadas em especial, à seleção, à aquisição, ao uso e controle de antimicrobianos e germicidas hospitalares (CRF, 1997). Esta participação é considerada relevante pela American Society of Health – System Pharmacistis (AHSP), que estabelece os padrões que o farmacêutico deve 14 seguir nas ações de controle de infecções hospitalares. Segundo a AHSP, a principal atividade que a farmácia pode desenvolver no controle de infecções é a promoção do uso racional de antimicrobianos. (GOMES & REIS, 2003). O uso racional ocorre quando o paciente recebe o medicamento apropriado à sua necessidade clínica, na dose e posologia corretas, por um período de tempo adequado e ao menor custo para si e para a comunidade (MSH, 1997; MARIN et al., 2003). Espera-se que a farmácia hospitalar desenvolva atividades que devem ser organizadas de acordo com as características do hospital onde se insere o serviço, isto é, mantenha coerência com o tipo e o nível de complexidade do hospital. O acompanhamento da utilização de medicamentos, principalmente dos antimicrobianos, provimento de informação e orientação a pacientes e equipe de saúde sobre estes fármacos, devem estar inseridas nas atividades clínicas do farmacêutico. 15 OBJETIVOS ___________________________________________________________________________ 16 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Traçar o perfil do consumo dos antibacterianos sistêmicos no tratamento de doenças infecciosas, em pacientes admitidos na unidade de Clínica Médica de um hospital da rede pública do município de Viçosa do Ceará. 2.2 Objetivos Específicos • Caracterizar, com relação à idade, sexo, hipótese diagnóstica, tempo de internação e desfecho clínico, os pacientes admitidos na clínica médica da referida unidade hospitalar durante o período de estudo, que fizeram uso de pelo menos um antibacteriano de uso sistêmico. • Identificar os antibacterianos mais prescritos nesta população. • Caracterizar os antibacterianos com relação à via de administração, tempo de tratamento, associações mais freqüentes. • Correlacionar o uso de antibacterianos com a topografia das infecções. 17 REVISÃO DE LITERATURA ___________________________________________________________________________ 18 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Antimicrobianos Os benefícios trazidos para a sociedade pelos antimicrobianos estão entre os avanços mais importantes na medicina do século XX. Os antimicrobianos são substâncias utilizadas para matar ou inibir o crescimento de microrganismos, incluindo as bactérias, os vírus, os fungos, e alguns parasitas, em particular os protozoários. Eles podem ter origem sintética ou natural (produzida por bactérias, fungos ou plantas) e se classificam em antibacterianos, antifúngicos, antiparasitários, anti-helmínticos e antivirais (CONSELHO DA UNIÃO EUROPÉIA, 2002). Embora alguns antibacterianos possam ser sintetizados em laboratórios (os chamados quimioterápicos), os antibióticos, ou seja, aqueles produzidos por microrganismos, ainda predominam entre os antibacterianos de uso clínico juntamente com os semi-sintéticos (antibióticos manipulados quimicamente). Contudo, a denominação de antibiótico ainda é bastante prevalente na prática clínica diária, independente da origem natural ou sintética (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2004). Com o início do uso clínico da Penicilina, na década de 40, estava iniciada a era da antibioticoterapia, marcada pela corrida na busca de novas substâncias anti-infecciosas originadas de microorganismos e pelo desenvolvimento de outros agentes quimioterápicos. Todos esses agentes antimicrobianos aumentaram intensamente o número de doenças infecciosas passíveis de prevenção ou de cura (MURRAY et al, 2004). A partir daí, estes compostos passaram a ter uma participação cada vez maior na prescrição médica. No Brasil, um estudo realizado em um hospital municipal na cidade do Rio de Janeiro, verificou que houve um aumento de 24% no consumo de antimicrobianos entre os anos de 2003 e 2004 (ROCHA et al, 2006). Uma das principais preocupações mundiais quanto ao uso racional de medicamentos está relacionada à utilização de antimicrobianos, pois seu uso incorreto e abusivo pode trazer como conseqüências, além da elevação nas taxas de resistência bacteriana e do risco potencial de reações adversas, aumentos desnecessários nos gastos com a saúde pública (BRASIL, 2001; ABRANTES et al., 2007). O total de recursos despendidos com o uso de antibióticos é bastante elevado em todo o mundo. Isto faz com que este seja um 19 mercado altamente disputado envolvendo grandes cifras de dinheiro, com todos os problemas que daí pode advir (FERNANDES, FERNANDES & RIBEIRO FILHO, 2000). Um estudo realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) revelou que 75% das prescrições médicas contendo antibióticos no nosso país estão erradas e que pelo menos a metade dos medicamentos prescritos é dispensada ou usada inadequadamente. Por exemplo, o uso de antibióticos no tratamento de infecções que não são de origem bacteriana. (ABAFARMA, 2007). O uso racional de antimicrobianos significa considerar as conseqüências microbiológicas e ecológicas associada ao uso dessa classe de medicamentos (CARNEIRO, 2006). Além disso, a seleção também deve ser baseada nas propriedades farmacocinéticas e na toxicidade do medicamento, na manifestação clínica e no estado geral do paciente (MURRAY et al, 2004). Alguns hospitais adotaram comissões que revisam o uso de antibióticos em termos de efeito e custo: a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e a Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) Dentro da unidade hospitalar, essas duas comissões são responsáveis, entre outras coisas, por padronizar os antimicrobianos de uso e estabelecer o controle permanente das prescrições que contenham essa classe de medicamentos na instituição. Além disso, devem ser compostas por uma equipe multiprofissional com disponibilidade de tempo para a realização das atividades competentes a cada uma das comissões, mas ainda parece não haver uma aceitação adequada por todas as instituições hospitalares (BRASIL, 2001; CASTRO et al, 2002). O que se observa é que, apesar das bases que fundamentam o uso racional de antimicrobianos terem sido amplamente discutidas e enfatizadas na literatura, ainda podem ser constatadas situações preocupantes de mau uso dessas drogas. 3.2 Resistência bacteriana Desde a década de 40, o desenvolvimento de fármacos eficazes e seguros para o tratamento de infecções bacterianas revolucionou o tratamento médico, com conseqüente redução drástica da morbidade e mortalidade das doenças microbianas. De início, isso gerou euforia na comunidade científica, que acreditou que a batalha contra as infecções bacterianas estava vencida. Infelizmente, o desenvolvimento de agentes antibacterianos eficazes tem sido acompanhado do aparecimento de microorganismos resistentes a fármacos. Este fato não é 20 inesperado, porquanto reflete o princípio evolutivo de que os organismos adaptam-se geneticamente a mudanças no seu meio ambiente (RANG et al., 2004). As bactérias são organismos procarióticos e possuem apenas uma cópia de cada gene. Assim, qualquer mutação ou recombinação genética pode ter um grande impacto em suas propriedades, inclusive naquelas relacionadas à virulência, especialmente à resistência aos antimicrobianos. Como o tempo de geração da maioria dos microorganismos é muito pequeno, rapidamente as cepas resistentes alcançam elevadas populações (COOPER, 2006). Entre os mecanismos bioquímicos pelos quais as bactérias apresentam resistência aos antibióticos estão: produção de enzimas que inativam o fármaco; alteração dos sítios de ligação de fármacos; redução da captação de fármaco pela bactéria e alteração das vias enzimáticas. Uma bactéria pode tornar-se resistente por um ou uma associação destes mecanismos (BARROS et al, 2003). De acordo com Tavares (2000), no Brasil, acima de 80% dos S. aureus isolados de pacientes hospitalizados e cerca de 70% dos isolados de pacientes da comunidade apresentam resistência às penicilinas naturais e, por extensão, à ampicilina e amoxicilina. Os hospitais são locais críticos para a seleção e disseminação de cepas bacterianas resistentes a um ou mais tipos de agente antimicrobiano. Entre os fatores que contribuem para essa situação, destaca-se o uso intensivo e prolongado de antimicrobianos de amplo espectro no manejo de infecções de origem hospitalar e/ou comunitárias de maneira irracional, visto que muitas dessas infecções poderiam e deveriam ser tratadas com agentes mais específicos a fim de minimizar a seleção de bactérias resistentes. Por tanto, os hospitais podem ser os locais de disseminação e/ou reservatórios de patógenos altamente resistentes, que mais tarde podem vir alcançar a comunidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006). Almeida et al (2007), em um estudo realizado no Paraná, observaram que amostras de Staphylococcus aureus isolados de infecções hospitalares em um hospital de ensino apresentaram um amplo espectro de resistência frente aos antimicrobianos usualmente empregados na prática clínica, com médias de resistência de 98% para penicilina, 79,25% para eritromicina e 63,25% para ciprofloxacino. O aumento da resistência bacteriana a vários agentes antimicrobianos acarreta dificuldades no manejo de infecções (uma vez que impõe sérias restrições às opções disponíveis para o tratamento médico), contribuindo para o aumento dos custos do sistema de saúde e dos próprios hospitais. Além disso, o ritmo de produção de novos antibacterianos não tem acompanhado o surgimento de novas cepas resistentes. Fato que tem causado muita preocupação em virtude da possibilidade de em um curto espaço de tempo, nos deparemos 21 com dificuldades no tratamento de doenças infecciosas comuns (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006). Dessa forma, reforça-se a necessidade da otimização na utilização desse arsenal terapêutico, devendo ser usado somente quando necessário e de modo adequado. 3.3 Estudos de utilização de medicamentos: monitorização do uso de antimicrobianos No mundo atual, onde há ampla necessidade de racionalização de recursos, sobretudo nos países mais pobres, os estudos de utilização de medicamentos apresentam-se como alternativas que permitem reduzir custos sem perda da qualidade nos tratamentos médicos, além de terem como função detectar possíveis abusos no uso de medicamentos ou a ocorrência de efeitos adversos. Os medicamentos representam boa parcela nos gastos públicos com saúde e não são substâncias inócuas. Essas são as duas principais razões pelas quais, cada vez mais, se reconhece a necessidade e a importância dos estudos que analisam os tratamentos medicamentosos, em especial nos hospitais, e os dados relativos ao consumo em si. (MELO, RIBEIRO & STORPIRTIS, 2006). Dentre as diversas estratégias na área de utilização e monitorização do uso de medicamentos, destacam-se os estudos de hábitos de prescrição médica. Os prescritores exercem um importante papel na promoção do uso racional de medicamentos, de modo que a análise de seus hábitos de prescrição proporciona o conhecimento de aspectos da qualidade da terapia. Conseqüentemente, permite identificar problemas, implantar medidas corretivas e educativas e avaliar o impacto da adoção dessas medidas (LIRORA et al., 1997). Nos países em desenvolvimento, poucos recursos são empregados na monitoração de ações sobre o uso racional de antimicrobianos e os dados sobre o uso desses agentes em hospitais são limitados, não sendo o cenário brasileiro diferente (CASTRO et al, 2002). A monitorização do consumo de antimicrobianos pode ser utilizada como uma das ferramentas no combate ao fenômeno da resistência bacteriana, partindo do pressuposto que se conhecendo o perfil de utilização desses fármacos em uma determinada instituição pode-se criar estratégias que almejem reduzir o seu uso inadequado e conseqüentemente, as taxas de resistência aos antimicrobianos. Na perspectiva da gestão do serviço de saúde, as informações obtidas por meio da coleta de dados sobre o consumo de antimicrobianos podem servir para fins de comparação com outros hospitais ou grupo de hospitais. Os gestores e as equipes podem avaliar seu 22 desempenho comparando seus resultados com hospitais que apresentam melhores indicadores de qualidade ou grupo de hospitais semelhantes. Além disso, podem analisar seu próprio desempenho do ponto de vista histórico, bem como avaliar o impacto de suas ações (CARNEIRO, 2006). 23 MATERIAIS E MÉTODOS ___________________________________________________________________________ 24 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Desenho do estudo Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, quantitativo e documental sobre o consumo de antibacterianos entre pacientes admitidos na clínica médica de um hospital da rede pública do município de Viçosa do Ceará. 4.2 Local do estudo O estudo foi realizado em um hospital da rede pública localizado no município de Viçosa do Ceará, situado na região norte do estado do Ceará, na Chapada da Ibiapaba, a 350 km da capital Fortaleza. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2007 a população de Viçosa do Ceará era de 52.770 habitantes, dos quais 68% vivem na zona rural, sendo a agricultura a principal atividade econômica do município. A organização da rede de saúde está ligada ao Sistema Único de Saúde (SUS) e é predominantemente pública, sendo composta por 12 Centros de Saúde da Família (CSF), distribuídos na sede e nos distritos, um Centro de Saúde com especialidades médicas, um Hospital e uma unidade de Vigilância Sanitária (CEARÁ, 2007). O hospital municipal de Viçosa do Ceará fica localizado no centro da cidade. Classificado como de médio porte (com capacidade de 48 leitos) e de atenção secundária, sua estrutura física é composta de um prédio de dimensão vertical, que oferece serviços de emergência, ambulatório, clínicas médica, pediátrica, obstetrícia e cirúrgica. Conta ainda com as seguintes especialidades: ortopedia, neurologia, cardiologia. De acordo com o Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME), em 2007 foram realizadas em média, 1312 consultas médicas e aproximadamente 295 internações por mês. Para a Clínica Médica, essa média foi de 87 internações, sendo a segunda unidade com maior número de internações, ficando atrás apenas da unidade de Obstetrícia. 25 4.3 Período do estudo Os dados utilizados no estudo são referentes aos pacientes internados na unidade clínica médica no período de 1º de julho a 30 de setembro de 2007. 4.4 População e amostra Do universo de 569 prontuários de pacientes internados no período do estudo, retirou-se uma amostra de 141 pacientes internados na clínica médica. Destes, noventa e seis utilizaram algum tipo de antibacteriano (parenteral ou oral) durante a internação, e por tanto, foram incluídos no estudo (Figura 01). Dessa forma, foram incluídos no grupo da amostra todos os pacientes admitidos na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará, que fizeram uso de pelo menos um antibacteriano de ação sistêmica durante a internação e que apresentavam todas as informações necessárias preenchidas corretamente nos prontuários. Não houve nenhuma exclusão em função da idade, sexo, diagnóstico ou motivo de admissão na unidade. Prontuários analisados (julho-setembro/07) N = 569 Prontuários de outras unidades N = 428 EXCLUÍDOS Figura 01 – Fluxograma da seleção da amostra. Prontuários clínica médica N = 141 Prontuários com antibacterianos (parenteral ou oral) N = 96 Prontuários sem antibacterianos (parenteral ou oral) N = 45 EXCLUÍDOS 26 4.5 Instrumento e Coleta dos dados O instrumento de pesquisa foi um formulário (Anexo 01) previamente elaborado contendo questões fechadas sobre o tema e continha as seguintes variáveis: número do prontuário, idade, gênero, hipótese diagnóstica, data da admissão, data da alta hospitalar, desfecho clínico, antimicrobianos prescritos, via de administração, freqüência de utilização e duração do tratamento. Este formulário foi preenchido a partir da análise dos registros clínicos dos pacientes internados durante o período do estudo. 4.6 Análise dos dados As informações coletadas dos registros clínicos utilizando o formulário foram compiladas em um banco de dados informatizado, para análise posterior dos dados. Esses dados foram inseridos e analisados com o auxílio do programa de informática Microsoft® Excel 2003 (Microsoft Co.). Foi realizada uma análise descritiva das variáveis citadas anteriormente, através de distribuição de freqüências, da média aritmética e de desvio padrão dos resultados encontrados. 4.7 Considerações éticas O projeto de pesquisa “Perfil de utilização de antibacterianos na clínica médica de um hospital da rede pública do município de Viçosa do Ceará-CE” foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Saúde Pública do Ceará, tendo sido aprovado com protocolo nº 108/2008, em 14 de maio de 2008 (Anexo 02). 27 RESULTADOS E DISCUSSÃO ___________________________________________________________________________ 28 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Características dos pacientes Na avaliação dos prontuários dos 96 pacientes, verificou-se que a idade dos pacientes variou de 12 a 99 anos, com uma média de 51,5 ± 25,1 anos. Quanto ao gênero, houve um ligeiro maior número de registros de pacientes do sexo masculino (51%) (Tabela 01). Quanto ao desfecho clínico, 95 pacientes (99%) obtiveram alta hospitalar enquanto 1 paciente (1%) foi a óbito. Não foi possível avaliar quais os critérios os utilizados para a determinação da alta destes pacientes, em que estágio de saúde eles se encontravam. Tabela 01 – Distribuição dos pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007, que fizeram uso de antibacterianos sistêmicos. CARACTERÍSTICAS Sexo Feminino Masculino n % 47 49 49,0 51,0 Faixa Etária 12-30 30-50 50-70 70-90 90-99 30 15 20 29 02 31,3 15,6 20,8 30,2 2,1 Desfecho Clínico Alta Óbito 95 01 99,0 1,0 Total 96 100 O tempo de internação foi em média de 3,9 ± 2,1 dias, variando de 2 a 12 dias (Figura 02). Observou-se que mais da metade dos pacientes tiveram um período de permanência curto de até três dias, e provavelmente eles devem ter prosseguido o tratamento farmacológico fora do ambiente hospitalar. 29 35 Nº de pacientes 30 25 20 15 10 5 D O ZE EZ D V E O N O IT O E SE T S SE I CO CI N Q U A TR O TR ÊS D O IS 0 Dias de internação Figura 02 - Dias de internação dos pacientes da Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007, que fizeram uso de antibacterianos sistêmicos 5.2 Utilização de antibacterianos 5.2.1 Vias de administração De acordo com a Figura 03, as vias de administração utilizadas em ordem decrescente de freqüência foram: via endovenosa (72%), via oral (20%), e via intramuscular (8%). Esse resultado foi concordante com o estudo de França & Costa (2006), no qual a via de administração mais utilizada foi a intravenosa (96,8%), seguida da via oral (1,9%) e intramuscular (1,3%). ENDOVENOSA 20% INTRAM USCULAR ORAL 8% 72% Figura 03 - Distribuição dos antibacterianos prescritos para os pacientes internados na Cínica Médica do hospital municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007, de acordo com a via de administração. A via endovenosa apresenta algumas vantagens importantes na administração dos medicamentos, tais como o efeito farmacológico imediato, permite o controle da dose, admite 30 grandes volumes e permite substâncias com pH diferente da neutralidade (FONSECA, 2000). No entanto, também vem acompanhada de riscos próprios, como irritação venosa e dificuldades técnicas de administração. Deve ser reservada para pacientes com infecções graves, especialmente quando outras vias de administração não se mostrarem exeqüíveis. A via intramuscular é utilizada para fármacos sem biodisponibilidade oral, como os aminoglicosídeos. Esta via também propicia emprego de formulações de depósito, como benzilpenicilina procaína e benzatina, prolongando a ação antimicrobiana. (FUCHS, WANNMACHER & FERREIRA, 2004). 5.2.2 Número de antibacterianos prescritos por paciente Entre os pacientes que usaram antibacterianos, o uso de mais de um tipo destes fármacos foi bastante freqüente, o que correspondeu a 58% dos pacientes, com a média de 1,82± 0,9ATB/paciente. Um paciente chegou a utilizar até 6 antibacterianos diferentes (Figura 04). 45 40 40 37 Nº de pacientes 35 30 25 20 14 15 10 4 5 1 0 UM DOIS TRÊS QUATRO SEIS Nº de antibacterianos prescritos Figura 04 - Quantidade de antibacterianos por paciente prescrita na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007. Louro et al (2007) observaram que 28,7% dos pacientes de um Hospital Universitário no Paraná fizeram uso de dois ou mais antibacterianos, que comparado ao nosso estudo é um valor bem inferior, mas com relação ao número de antibacterianos por paciente, o 31 resultado encontrado foi bem próximo, com a média de 1,6. Vale ressaltar que, no Hospital onde foi realizado nosso estudo, houve freqüentes mudanças de esquemas farmacológicos para o mesmo paciente durante seu período de internação, confirmando a utilização irracional destes medicamentos. Além disso, dos 96 pacientes, 80 (84%) fizeram o uso de pelo menos um antibacteriano a partir do primeiro dia de internação. Este dado sugere que o início do tratamento é realizado na maioria das vezes de forma empírica. 5.2.3 Tempo de tratamento com antibacterianos De acordo com a Tabela 02, observa-se que a média do tempo de tratamento para todos os antibacterianos prescritos foi baixo, inferiores a 5 dias. Consideram-se intervalos usuais aqueles preconizados pela literatura, 3 a 4 semanas para Penicilina Benzatina e 7, 10 e 14 dias para os demais antibacterianos (ABRANTE et al, 2007). Tabela 02 – Tempo de duração do tratamento com antibacterianos prescritos para os pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007. Antibacteriano Amoxicilina Ampicilina Cefalexina Cefalotina Ceftriaxona Ciprofloxacino* Cloranfenicol* Gentamicina Metronidazol Nitrofurantoína* Norfloxacino* Oxacilina Penicilina Sulfametoxazol + Trimetoprima Média de duração do Tempo Tempo tratamento (dias) mínimo(dias) máximo(dias) 1 1 3 2,7 1 7 1,6 1 2 2,8 1 7 3,2 1 9 2 -2 4 -4 3,4 1 9 2,8 1 10 2 -2 1 -1 1,3 1 2 1,6 1 5 2,3 1 4 * Apenas um paciente fez uso do medicamento Persiste o princípio de que o tempo de tratamento com antimicrobianos deve ser prolongado, usualmente em torno de 10 dias. Em algumas situações, tem-se testado a eficácia de diferentes períodos de uso, demonstrando-se que algumas infecções podem ser tratadas até com dose única, como gonorréia, ou por três dias, como infecção urinária aguda não- 32 complicada. Outras infecções moderadas ainda são tratadas por 7 a 10 dias; para as graves, geralmente se recomendam 10 a 14 dias. (FUCHS, WANNMACHER & FERREIRA, 2004). Neste estudo não foi avaliada a continuidade do tratamento após a alta hospitalar, se houve uma substituição correta do antibacteriano, no caso de medicamentos injetáveis, e se o tempo de tratamento foi adequado. Muitas vezes o tratamento suspenso ou substituído, sem justificativa ou indicação prévia para o procedimento, e a adoção de tratamento por tempo inferior aos preconizados pode implicar falhas terapêuticas e favorecer o desenvolvimento da resistência bacteriana. Isso trará como conseqüência, em futuro próximo, a necessidade da administração de antibacterianos mais potentes e, provavelmente, mais onerosos no tratamento de infecções causadas pelos mesmos microorganismos. 5.2.4 Antibacterianos mais utilizados por grupos Dos nove grupos de antibacterianos disponíveis nos Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (Anexo 03), o mais prescrito foi o das Cefalosporinas (35%), seguida das Penicilinas (27%) e dos Aminoglicosídeos (20%). Estes grupos foram responsáveis por aproximadamente 82% do consumo total de antibacterianos (Figura 05). 7% 3% Cefalosporinas 8% 35% Penicilinas Aminoglicosídeos Sulfonamidas 20% Fluorquinolonas 27% Outros Figura 05 - Grupos de antibacterianos mais prescritos para os pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007. Esse resultado é corroborado pelo o estudo realizado por Andrade et al (2007) no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e por Rocha et al (2006) em um Hospital Municipal no Rio de Janeiro, onde os antibacterianos mais prescritos também 33 pertenciam à classe das Cefalosporinas. Por outro lado, um trabalho que analisou as tendências na utilização de antimicrobianos em um Hospital Universitário no Rio Grande do Sul, por Castro et al (2002) mostra que as Penicilinas foram o grupo de antibacterianos mais utilizados (36,6%), seguido das Cefalosporinas (15%) e dos Aminoglicosídeos (14,4%). No Rio Grande do Norte, segundo Martins et al (2006), as Penicilinas foram também as mais utilizadas(35%), seguido das Cefalosporinas (25%) e Quinolonas (14%). Ainda com relação ao percentual de uso de cada grupo de antibacterianos, dados do Ministério da Saúde (2005) sobre o uso de antimicrobianos em hospitais brasileiros (de até 300 leitos) mostravam que os mais utilizados eram os da classe das Cefalosporinas (31,1%), seguido das Penicilinas (24,5%) e Aminoglicosídeos (18,5%). Um dos motivos para o uso freqüente de Cefalosporinas, além do seu amplo espectro, é a baixa incidência de efeitos colaterais. Raramente o tratamento necessita ser interrompido devido à sua toxicidade. Em hospitais, uma das indicações para o uso de antibióticos é a profilaxia de infecções e as Cefalosporinas encontram-se entre os mais utilizados para esta finalidade. As Penicilinas não possuem atividade tóxica direta para as células animais, mas podem gerar ações irritativas locais ou fenômenos de hipersensibilidade. Provavelmente por este motivo, não tenha sido a opção terapêutica mais utilizada nesse estudo (PADRO; RAMOS; VALLE, 2003). Os Aminoglicosídeos foram intensamente usados nos últimos anos, o que levou à seleção de bactérias resistentes. Além disso, eles podem causar nefro e ototoxicidade, mesmo em doses habituais (PADRO; RAMOS; VALLE, 2003). Com o desenvolvimento de antimicrobianos menos tóxicos, o uso dos Aminoglicosídeos tem sido questionado. No entanto, pela sua comprovada eficácia, eles continuam sendo largamente utilizados, especialmente no tratamento de pacientes hospitalizados com infecções graves (FUCHS, WANNMACHER & FERREIRA, 2004). 5.2.5 Antibacterianos mais utilizados por princípio ativo No total, foram prescritos 14 antibacterianos diferentes para os 96 pacientes incluídos no estudo. A Figura 06 apresenta a freqüência de utilização dos antibacterianos, na qual podemos observar que os antibacterianos mais prescritos foram a Cefalotina (22%), a Gentamicina (20%) e a Ampicilina (18%). Em um estudo realizado em um hospital privado de Fortaleza por França & Costa (2006) verificou-se que o antimicrobiano mais prescrito foi a Penicilina. Já em outro estudo realizado em um hospital público de ensino no Rio de Janeiro, 34 Avelar et al (2006) relatam que o antimicrobiano mais prescrito foi o Ciprofloxacino (24,35%), seguido de Ceftriaxona (12,67%), Cefepima (9,38%). 16% Cefalotina 22% Gentamicina 7% Ampicilina Ceftriaxona 7% Metronidazol 20% 10% 18% Sulfametoxazol + Trimetroprima Outros Figura 06 - Distribuição dos antibacterianos mais prescritos para os pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007, segundo o princípio ativo. A Cefalotina e a Ampicilina são antibióticos beta-lactâmicos e constituem frequentemente a primeira escolha ou alternativas para o tratamento de muitas infecções bacterianas (FUCHS, WANNMACHER & FERREIRA, 2004). A Gentamicina é um antibacteriano importante para o tratamento de muitas infecções por bactérias gram-negativas. Mas, devido ao seu uso intenso a partir de 1971, o isolamento de microrganismos hospitalares resistentes vem aumentado rapidamente, tornando-se cada vez mais limitado para o uso hospitalar. É o Aminoglicosídeo de escolha para o tratamento, em associações com Beta-lactâmicos ou Glicopeptídeos, de infecções enterocócicas graves, desde que a bactéria não apresente alto grau de resistência a esses antimicrobianos (PADRO; RAMOS; VALLE, 2003). 35 5.2.6 Associações dos antibacterianos Foram identificadas associações de dois ou mais antibacterianos em 53% dos prontuários estudados, prevalecendo a combinação de Ampicilina com Gentamicina em 23%, dos pacientes, como mostra a Figura 07. 23% Ampicilina + Gentamicina Cefalotina + Gentamicina Ceftriaxona + Gentamicina 52% 13% Outros 12% Figura 07 – Associações de antibacterianos mais freqüentes prescritas para os pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007. As associações que correspondem a Outros no gráfico (52%) foram bem variadas, sendo possível observar que não houve nenhuma padronização para os esquemas de tratamento com associações de antibacterianos. Um estudo sobre o perfil farmacoterapêutico de pacientes em uso de antimicrobianos em um Hospital Infantil privado em Fortaleza, França & Costa (2006) demonstraram que 12,8% das prescrições tinham associações, prevalecendo a combinação Ceftriaxona com Oxacilina. Em um outro estudo, realizado no Distrito Federal, os resultados de Oliveira & Branco (2007) mostraram que houve associações em 36,7% das prescrições. Sempre que possível deve ser prescrito um só agente antimicrobiano para o tratamento de uma infecção, pois pode ocorrer antagonismo entre os antimicrobianos e aumento dos efeitos adversos. Há, no entanto, alguns casos em que a associação é necessária, trazendo benefícios ao paciente através da sinergia de efeito sobre um mesmo microrganismo, prevenção de emergência de resistência, tratamento de infecções polimicrobianas e diminuição de doses que conduz a menos efeitos tóxicos de cada um dos fármacos associados (FUCHS, WANNMACHER & FERREIRA, 2004). 36 A associação de Gentamicina (Aminoglicosídeo) com Ampicilina, Cefalotina e Ceftriaxona (Beta-lactâmicos) é justificada pelo propósito de obtenção de sinergismo a fim reduzir a resistência bacteriana. O mecanismo classicamente proposto é o de que os agentes Beta-lactâmicos, por ação sobre a parede bacteriana, aumentem a permeabilidade desta última a Aminoglicosídeos (FUCHS, WANNMACHER & FERREIRA, 2004). Entretanto, deve-se evitar a associação de aminoglicosídeos com as cefalosporinas, principalmente com a cefalotina, pois pode causar a potencialização da nefrotoxicidade de ambas as drogas (RABELO, 2002). 5.3 Topografia das infecções No Anexo 04 estão relacionadas as hipóteses de diagnóstico encontradas nos prontuários dos pacientes do estudo. De acordo com a Figura 08, as infecções do aparelho genitourinário e respiratório foram mais prevalentes (21%), seguido do aparelho digestivo (20%). Houve dificuldade para definir o sítio da infecção em 15% dos 96 pacientes, pois não estavam esclarecidos no prontuário. Aparelho genitourinário Aparelho respiratório Aparelho digestivo 2% 7% 15% 1% 21% Aparelho cardíaco Pele e tecidos subcutâneos 5% 8% 21% Aparelho auditivo 20% Infecções em sítios não esclarecidos no prontário Diagnóstico a ser esclarecido Outros Figura 08 – Distribuição dos pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007, de acordo com o local da infecção. 37 No estudo de um hospital público do Rio de Janeiro, Avelar et al (2006), observaram que as infecções do trato urinário (ITU), pneumonias, infecções de pele/tecidos moles e sepse representaram as principais indicações clínicas para antibioticoterapia. A pneumonia foi a patologia mais prevalente no trabalho de França & Costa (2006). 5.4 Correlação utilização de antibacterianos e as infecções mais freqüentes Foram inseridos no grupo das infecções do trato urinário, os prontuários que incluíam os seguintes diagnósticos: pielonefrite, glomerulonefrite aguda, síndrome nefrítica e infecção urinária, totalizando 20,8% dos casos que necessitaram de internação. Dentre os antibacterianos utilizados para o tratamento dessas patologias, a Ampicilina foi a mais prescrita (24%), seguida da Gentamicina (21%) e Cefalotina (18%) (Figura 09). Ampicilina 24% 26% Gentamicina Cefalotina 11% 21% 18% Sulfametoxazol + T rimetroprima Outros Figura 09 – Distribuição dos antibacterianos mais prescritos para os pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE) com infecções do trato genitourinário, no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007. O uropatógeno mais freqüente é a Escherichia coli, sendo comuns também as infecções por Proteus, Klebsiella e Enterococcus, Pseudomonas, Enterobacter, bem como Staphylococcus saprophyticus, Staphylococus epidermidis. (BURTON, ENGELKIRK, 2005). Todos os antibióticos Beta-lactâmicos, inclusive a Ampicilina, são ativos contra os coliformes, porém as Cefalosporinas atingem níveis urinários mais elevados. Nas infecções mais graves, com comprometimento sistêmico, as Cefalosporinas de primeira e terceira geração e os Aminoglicosídeos são fármacos de escolha. No entanto, deve-se ter cautela com o efeito nefrotóxico dos Aminoglicosídeos (PADRO; RAMOS; VALLE, 2003). 38 A Ampicilina constitui-se um valioso recurso no tratamento de infecções por microorganismos suscetíveis devido a sua eficácia, facilidade de administração e baixa toxicidade. Infelizmente, estas virtudes têm conduzido a emprego abusivo, o que está levando ao aparecimento crescente de resistência A sensibilidade das enterobactérias à Ampicilina é variável de cepa para cepa. Em presença de infecções graves, nunca se deve, antes de conhecidos os resultados do laboratório, usar a Ampicilina isoladamente, e, sim, associada a um Aminoglicosídeo. (FONSECA, 2000). Este fato foi observado em alguns casos, onde a Ampicilina foi utilizada em associação com a Gentamicina, porém 04 dos 20 pacientes com infecção do trato urinário receberam Ampicilina isoladamente. Como muitas cepas de E. coli adquiridas na comunidade são resistentes a Sulfonamidas isoladas e à Ampicilina, a associação Sulfametoxazol + Trimetroprima (TMPSMX) é frequentemente preferida para a terapêutica empírica das infecções do trato urinário na comunidade (apesar de também estar havendo uma crescente resistência), entretanto, observou-se que este medicamento não foi o mais prescrito (REESE; BETTS; GUMMUSTOP, 2002). Dentre as 20 patologias do aparelho respiratório, a pneumonia foi a mais prevalente em 85% dos casos e corresponde a 17,7 % do total das patologias analisadas. Em geral, os Aminoglicosídeos não são usualmente indicados no tratamento empírico de infecções do trato respiratório inferior, pois são pouco ativos em muitas delas (S. pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae, Legionella pneumomophila) (FUCHS, WANNMACHER & FERREIRA, 2004). Apesar disto, a Gentamicina foi o antibacteriano mais prescrito para o tratamento como mostra a Figura 10. 6% 3% 31% 13% Gentamicina Cefalotina Ampicilina Ceftriaxona 22% Benzilpenicilina 25% Cefalexina Figura 10 – Distribuição dos antibacterianos mais prescritos para os pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE) com pneumonia, no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007. 39 De acordo com a literatura, a indicação do antibacteriano deverá ser de acordo com o patógeno específico. Pacientes com pneumonia adquirida na comunidade tem como etiologia mais comum o S. pneumoniae, H. influenzae, M. catarrhalis e os atípicos Mycoplasma pnumoniae, Clamydia ssp e Legionella ssp. Já as adiquiridas no hospital são principalmente Pseudomonas aeruginosa, Enterobacter sp, Acinetobacter sp, Klebsiella pneumoniae, Proteus sp, Escherichia coli (REESE; BETTS; GUMMUSTOP, 2002). Como o S. pneumoniae é o patógeno mais comum na pneumonia adquirida na comunidade, as condutas empíricas devem incluir agentes contra este patógeno. A Penicilina é o tratamento de escolha, embora o aumento da resistência seja cada vez mais comum. No Brasil, dados da vigilância nacional registraram que, de 1993 a 2004, a freqüência de cepas resistentes de S. pneumoniae cresceu de 10,2% para 27,9% (BRANDILEONE et al, 2006). Para tratamento de infecções por cepas resistentes ou pacientes alérgicos à Penicilina, as Cefalosporinas, Macrolídeos e Quinolonas de última geração podem ser utilizadas como alternativas terapêuticas (MURRAY, 2004). Dentre as patologias do aparelho digestivo, as enteroinfecções foram as mais prevalentes, com as hipóteses de diagnóstico: diarréia e enteroinfecção, totalizando 11,4% dos casos que necessitaram de internação. De acordo com a Figura 11, o antibacteriano mais prescrito para esses casos foi o Metronidazol (40%). Metronidazol 10% 5% Sulfametoxazol + Trimetroprima 5% 40% Ampicilina Oxacilina 15% 25% Cefalotina Gentamicina Figura 11 – Distribuição dos antibacterianos mais prescritos para os pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE) com enteroinfecção, no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007. 40 Os principais agentes bacterianos causadores de diarréias agudas são a E. coli, Shigella, Salmonella, C. jejuni, C. difficile, Yersinia e Campylobacter. Os medicamentos mais indicados por via oral são: a associação de Sulfametoxazol + Trimetoprima, Norfloxacino e Ciprofloxacino. Em formas graves, deve-se escolher entre Ampicilina, associação de Sulfametoxazol + Trimetoprima ou Cloranfenicol. (PADRO; RAMOS; VALLE, 2003). Já o Metronidazol é indicado em casos de diarréias causadas por parasitas (ex: Giardia intestinalis e Entamoeba histolytica) e após uso recente de antibióticos, pois o tratamento com estes altera a flora gastrintestinal, permitindo a proliferação exagerada do C. difficile, que produz uma toxina que causa diarréia (REESE; BETTS; GUMMUSTOP, 2002). Deve-se ressaltar que a causa da enteroinfecção além de origem bacteriana pode ser viral e parasitária. Além disso, a maioria dos pacientes que apresentam diarréia aguda causada por uma enteroinfecção não necessita de antimicrobianos, devendo ser tratados apenas com medidas de suporte, como reposição de líquidos com eletrólitos e sintomáticas (PRADO; RAMOS; VALLE, 2003). 41 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ____________________________________________________________________ 42 6 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES No perfil dos pacientes admitidos na clínica médica o sexo masculino teve uma ligeira predominância, e a idade média foi de 51±25,1anos. Na maioria dos casos o desfecho clínico foi a alta hospitalar, sendo a média do tempo de internação 3,9±2,1 dias e a de duração do tratamento não ultrapassando 4 dias. Com relação à via de administração prevaleceu a endovenosa. Em média foram prescritos 1,82±0,9 antibacterianos por paciente. As patologias mais prevalentes estavam associadas ao trato urinário e o antibacteriano mais prescrito foi a Ampicilina para esta infecção. Os antibacterianos mais prescritos, em geral, pertenciam ao grupo das Cefalosporinas, sendo a Cefalotina o antibacteriano principal. As associações estiveram presentes em mais da metade das prescrições, prevalecendo a combinação de Ampicilina com Gentamicina. Houve semelhança destes resultados com outros trabalhos publicados no nosso e em outros estados brasileiros, com relação às vias de administração, número de antibacterianos prescritos por paciente, grupo de antibacterianos mais utilizados e os tipos de infecções mais freqüentes. Os resultados desta pesquisa possibilitaram conhecer um pouco mais a respeito da forma de utilização dos antibacterianos mais prescritos na unidade da Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará – Ceará. Observou-se que, apesar de existir uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) no hospital, não existem padronização e controle de dispensação de antibacterianos. Isso pode resultar em falha terapêutica e no aumento de resistência bacteriana. Essas informações poderão servir de alerta e orientação para que os profissionais de saúde envolvidos direta e indiretamente no tratamento antiinfeccioso possam contribuir para a promoção do uso racional de antibacterianos. Para tanto, sugere-se que sejam adotadas medidas como monitorização permanente das prescrições e a criação de protocolos clínicos para o uso destes medicamentos. 43 REFERÊNCIAS ___________________________________________________________________________ 44 7 REFERÊNCIAS ABAFARMA – Associação Brasileira do Atacado <http://www.abafarma.com.br/noticias.php> Acesso em: 16/11/2007. Farmacêutico – ABRANTES, P.M. et al. Quality assessment of antibiotic prescriptions dispensed at public health units em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil, 2002. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n.1, p. 95-104, jan 2007. ALMEIDA, M. I. et al. Prevalência e perfil de sensibilidade de amostras de Staphylococcus aureus isoladas de casos clínicos de infecções hospitalares. Revista eletrônica de enfermagem, v.9, n.2, p. 489-495, mai. /ago. 2007. Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/revista/v9/n2/v9n2a15.htm>. Acesso em: 03/04/2008. ANDRADE et al. 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Antibacterianos prescritos durante a internação ANTIBACTERIANOS 01 02 03 04 05 06 07 08 DOSE VIA FREQ INÍCIO FIM TOTAL DE DIAS D1 D2 D3 D4 D5 D6 D7 D8 D9 D10 Anexo 02 51 Anexo 03 Antibacterianos de uso sistêmico disponíveis no Hospital Municipal de Viçosa do Ceará. AFENICÓIS FÁRMACOS Cloranfenicol APRESENTAÇÃO Cloranfenicol Frasco-ampola – 1g Comprimido – 250mg PENICILINAS FÁRMACOS Amoxicilina Amoxicilina Ampicilina Ampicilina Ampicilina Benzilpenicilina benzatina Benzilpenicilina benzatina Benzilpenicilina potássica Benzilpenicilina procaína + Benzilpenicilina potássica Oxacilina FÁRMACOS Cefalexina Cefalexina Cefalotina Ceftriaxona APRESENTAÇÃO Cápsulas – 500mg Pó para suspensão – 250mg/ 5ml Cápsulas – 500mg Frasco-ampola – 1g e 500mg Pó para suspensão – 250mg/ 5ml Frasco-ampola – 600.000UI Frasco-ampola – 1.200.000 UI Frasco-ampola – 5.000.000UI Frasco-ampola – 300.000UI + 100.000UI Frasco-ampola – 500mg CEFALOSPORINAS APRESENTAÇÃO Cápsulas – 500mg Pó para suspensão – 250mg/ 5ml Frasco-ampola – 1g Frasco-ampola – 1g SULFONAMIDA E TRIMETOPRIMA FÁRMACOS APRESENTAÇÃO Sulfametoxazol + Trimetoprima Comprimidos – 400mg + 80mg Sulfametoxazol + Trimetoprima Suspensão – 200mg+ 40mg/5ml AMINOGLICOSÍDEOS FÁRMACOS APRESENTAÇÃO Amicacina Ampola – 500mg Gentamicina Ampolas – 10, 20, 40, 60 e 80mg FLUORQUINOLONAS FÁRMACOS APRESENTAÇÃO Ciprofloxacino Comprimido – 500mg Norfloxacino Comprimido – 400mg IMIDAZÓIS FÁRMACOS APRESENTAÇÃO Metronidazol Ampola – 500mg Metronidazol Comprimido – 250mg Metronidazol Suspensão – 250mg/5ml 52 Continuação LINCOSAMIDAS FÁRMACOS Lincomicina FÁRMACOS Eritromicina Eritromicina APRESENTAÇÃO Ampolas – 300 e 600mg MACROLÍDEOS APRESENTAÇÃO Comprimidos – 500mg Suspensão – 125mg/5ml 53 Anexo 04 Distribuição dos pacientes internados na Clínica Médica do Hospital Municipal de Viçosa do Ceará (CE), no período de 01 de julho de 2007 a 30 de setembro de 2007, de acordo com a hipótese diagnóstica. Hipótese de Diagnóstico Pneumonia Enteroinfecção Estreptococcia Infecção urinaria Pielonefrite Insuficiência cardíaca crônica Gastroenterite Estafilococcia Abdomen agudo Erisipela Glomerulonefrite aguda Insuficiência cardíaca Intoxicação alcoólica Necrose do membro inferior Câncer de bexiga + infecção do trato urinário Colecistite aguda Diarréia + anemia carencial Doença Pulmonar obstrutiva crônica Febre reumática Gastrite Gastrite + Infecção urinária Gastroenterite + Hemotórax Infarto agudo do miocárdio Infecção na gestação Infecção pós-cirúrgica Insuficiência cardíaca crônica + Pneumonia Intoxicação exógena Lesões superficiais infectadas Orofaringite Perfuração no braço com chumbo Pneumonia + anemia + Câncer pélvico Pneumonia + asma? Pneumonia + derrame pleural Politraumatismo Retirada de tumor(corpo estranho) na face Síndrome nefrítica Julho 3 5 4 2 2 2 1 0 0 0 2 2 1 0 0 0 1 1 1 0 0 1 1 1 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 1 Agosto Setembro 7 3 4 4 1 3 1 2 0 1 0 0 0 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 3 2 1 2 4 1 3 1 2 1 0 0 1 1 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 1 0 0 1 0 0 1 1 1 1 0 0 Total 13 10 9 8 7 6 5 3 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 54 Continuação Hipótese de Diagnóstico Tenorragia (sutura de tendão da mão) Diarréia Otite supurativa crônica Total Julho 0 0 0 33 Agosto Setembro 1 0 0 33 0 0 0 30 Total 1 0 0 96