Da capital do Império

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Da capital do Império
Jota Esse Erre
Agora que o Tony Blá Blá se decidiu ir embora creio que é tempo de vos lembrar para o saudarem
como um dos maiores dirigentes europeus dos últimos tempos.
Falo, claro está do Blair, cuja única faceta
que inicialmente me impressionou foi a sua eloquência na Câmara dos Comuns.
Cada vez que eu ligava a televisão e o via a falar eu fazia claque afirmando: Blá, Blá, Blá…Estava
enganado. Os 10 anos de Tony Blair revolucionaram a cena política na Grã-Bretanha e a posição deste
país no mundo. Comecemos pela economia cujo crescimentos nos últimos 10 anos é verdadeiramente
estonteante.
Na última década a Grã-Bretanha teve o maior nível de crescimento económico de qualquer país do G8 (excluindo os States). Passou da sexta economia do mundo para a quarta maior do mundo. Em termos
económicos a Grã-Bretanha está hoje entrincheirada de modo firme e insuperável à frente da França e da
Itália.
A Grã-Bretanha mudou a sua economia de uma base industrial para uma economia de serviços de
produtos de grande valor.
Nos próximos anos Londres poderá ultrapassar Nova Iorque como o centro financeiro do mundo.
(Como diriam os franceses: U lá lá) Imagino que muitos podem afirmar que o Tony se limitou a a imitar a
Margaret Thatcher, a “Dama de Ferro” que acabou com aquele sentimento de declínio inevitável que
envolvia a Grã-Bretanha dos anos 60 e início dos anos 70.
Mais ou menos a mesma coisa que se sente hoje em França mas sem o charme francês. Na altura a
Grã-Bretanha marchava a grande velocidade para a catástrofe económica e Thatcher “virou” o país
perante as vaias dos sindicatos de esquerda mas com o apoio do eleitorado. Ao contrario de muitos na
esquerda que se recusam a ver as realidades ( a la SEGOgaffe) e por isso continuam a perder o Tony
apercebeu-se disso. Hoje na Grã-Bretanha a palavra “socialismo” é raramente usada e quando o é notase uma falta de sinceridade que me faz corar.
Blair, no dizer de um amigo inglês, “curou os Trabalhistas da maldição dos dogmas socialistas,
daqueles que estavam viciados na pureza de causas perdidas”. Talvez o sucessor da Segogaffe tenha
que fazer isso para tornar a esquerda francesa novamente viável…. Se Thatcher teve que ser
confrontante e “de ferro” para mudar o país, Tony Blair teve 10 anos de poder marcados notavelmente
pela ausência de grandes conflitos … e os britânicos vivem hoje muito melhor do que há 10 anos atrás.
Poder-se-á talvez acusar Blair de ter acabado com as divisões partidárias, substituindo a fé nos
princípios políticos pela conveniência, oportunidade e interesse próprio partidário.
Mas face ao colapso e desacreditação do socialismo através do mundo Blair apercebeu-se que a
legitimidade do capitalismo vem do falhanço de todas as alternativas, não da sua falta de contradições
internas e/ou insuficiências. Apresentou pois um esquema para governar por consenso que tirou o vento
às velas dos conservadores.
Com sucesso sem paralelo. Politica, económica e socialmente deixou para traz Thatcher. O seu
sucesso não foi só a nível interno. Culturalmente e como sempre se passa quando há poder económico
as universidades inglesas estão hoje com pedidos de matriculas vindos do estrangeiro sem precedentes.
O inglês é hoje língua universal. O cinema inglês está hoje de novo “on top of the world”. Até no futebol
a globalização abraçada pelo Tony esta a ter sucesso para a Inglaterra. ( Manchester United, Chelsea,
Liverpool reflectem essa globalização) A nível de política externa o mesmo se passa.
A Grã-Bretanha tem hoje maior influencia e maior presença no mundo do que qualquer outro pais
europeu ( e aqui incluo a Rússia, a que eu prefiro chamar de “Nigéria com mísseis nucleares”).Com tropas
na Serra Leoa (onde pôs termo sozinha a uma guerra civil de barbaridade inacreditável), Kosovo,
Afeganistão e Iraque a Grã-Bretanha projecta hoje influencia que Paris, Bona e mesmo Tóquio não têm
Em qualquer parte do mundo hoje quando Londres fala escuta-se.
Quando Paris ou Bona falam … vai-se tomar um café em conjunto para discutir o assunto e tal e coisa,
pois é mas também, claro está e coisa e tal tudo culpa dos americanos e do Blair, uma chatice….
A GrãBretanha é hoje mais e melhor do que era há 10 anos atrás. O que é bom. Para a Europa também. Por
isso não se esqueçam e mandar um e-mail a 10 Downing Street: Merci Tony. ( Oficialmente em teoria o
francês ainda é a língua diplomática).
SAVANA – 25.05.2007
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