UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL MESTRADO PROFISSIONAL EM MATEMÁTICA – PROFMAT ANÁLISE COMPUTACIONAL DOS NÚMEROS PRIMOS E DA CONJECTURA DE GOLDBACH JOAB CAVALCANTE DA SILVA DOURADOS, 2014 JOAB CAVALCANTE DA SILVA ANÁLISE COMPUTACIONAL DOS NÚMEROS PRIMOS E DA CONJECTURA DE GOLDBACH Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre. Sob orientação do Professor Doutor Vando Narciso. DOURADOS, 2014 JOAB CAVALCANTE DA SILVA ANÁLISE COMPUTACIONAL DE NÚMEROS PRIMOS E DA CONJECTURA DE GOLDBACH Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre. Sob orientação do Professor Doutor Vando Narciso. Professor Vando Narciso, Dr. Presidente da Banca - Orientador Professor Cosme Eustaquio Rovio Mercedes, Dr Membro Professor Claudemir Aniz, Dr. Membro DOURADOS, 2014 Dedico este trabalho aos profissionais da educação que participaram e contribuíram com minha formação, aos excelentes professores que tive o privilégio de aprender com eles. Pessoas as quais muitas não têm nenhum reconhecimento da sociedade nem das classes políticas governantes, mas que desempenham um nobre papel frente às salas de aula em nosso país. Desde minha professora chamada Judite, que me ensinou o alfabeto e as primeiras contas, até os mais gabaritados Doutores que me ensinaram coisas que jamais eu imaginaria compreender. AGRADECIMENTOS “Ó Deus de meus pais, eu te dou graças e te louvo, porque me deste sabedoria e força...” (Bíblia Sagrada, Livro de Daniel, Capítulo 2 e Verso 23) Agradeço pelo Deus presente, meu Criador ao qual devo todas as conquistas. Agradeço a todos meus familiares que sempre me apoiaram e em alguns momentos se sacrificaram para contribuir com minha formação. Agradeço a Jéssica que sempre me incentivou e acreditou em mim principalmente nos momentos mais difíceis. Agradeço a toda a equipe envolvida no PROFMAT local da UEMS: ao coordenador, que quando necessário foi sensível às necessidades particulares; aos professores que não mediram esforços para contribuir com o conhecimento dos discentes; à secretária, que se desdobrou para conseguir atender as demandas recebidas; e a cada aluno, colega de estudos que enfrentaram juntos os obstáculos de um programa desafiador, incluindo aqueles colegas que por diferentes razões não conseguiram terminar a jornada, mas que foram importantes no processo. RESUMO Neste trabalho, que tem por objetivo contribuir com estudos que visem uma ampliação do conhecimento sobre a Conjectura de Goldbach, foi realizada pesquisa com o fim de investigar e conhecer detalhes sobre o conjunto dos números primos e também as decomposições de números pares como soma de dois primos. A pesquisa foi realizada com auxílio de recursos computacionais, o que tornou possível conhecer e registrar diversos dados e curiosidades sobre o assunto. O trabalho propõe duas ferramentas denominadas ‘triângulo da soma’ e ‘triângulo da diferença’ para serem melhores estudadas. Tais ferramentas podem ser úteis para estudos relacionados a números primos. Palavras-chave: Conjectura de Goldbach; números primos; potência de 10. ABSTRACT In this work, which aims to contribute to studies aiming at broadening our knowledge of the Goldbach Conjecture, research was conducted in order to investigate and learn details about the set of prime numbers and also the decomposition of even numbers as the sum of two primes. The survey was conducted with the aid of computational resources, making it possible to know and register various data and trivia about the subject. The paper proposes two tools called 'triangle sum' and 'triangle of difference' to be better studied. Such tools may be useful in studies related to prime numbers. Keywords: Goldbach conjecture; primes; exponents of 10. LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Números primos menores que 200 ............................................................................16 Tabela 2 – Números pares e suas respectivas decomposições em números primos....................18 Tabela 3 – Quantidade de números primos por potência de 10 ..................................................19 Tabela 4 – Diferença média entre números primos por potência de 10 ......................................20 Tabela 5 – Diferença máxima entre primos por potência de 10 ..................................................20 Tabela 6 – Distintas diferenças entre números primos até 108 ...................................................21 Tabela 7 – Quantidade de números primos por terminação ........................................................22 Tabela 8 – Número máximo de decomposições por potência de 10 ...........................................22 Tabela 9 – Decomposições possíveis do número 2700 ...............................................................23 Tabela 10 – Números menores que 100.000 com maiores quantidades de decomposições em dois números primos ...................................................................................................................24 Tabela 11 – Média de decomposições por potência de 10 ..........................................................24 Tabela 12 – Quantidade mínima de decomposições por intervalos estratégicos ........................25 Tabela 13 – Média de decomposições por intervalos estratégicos ..............................................26 Tabela 14 – Forma genérica do triângulo da soma .....................................................................28 Tabela 15 – Triângulo da soma de tamanho 20...........................................................................28 Tabela 16 – Triângulo da soma detalhado...................................................................................30 Tabela 17 – Forma genérica do triângulo da diferença ...............................................................31 Tabela 18 – Triângulo da diferença de tamanho 20 ....................................................................31 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 9 1.1. CONTEXTO HISTÓRICO .............................................................................................. 10 2 ESTUDOS PRELIMINARES ..................................................................................................... 12 2.1. Definição e Distribuição dos Números Primos ................................................................ 12 3. TRABALHOS COMPUTACIONAIS ....................................................................................... 15 3.1. PROGRAMA IDENTIFICADOR DE NÚMEROS PRIMOS ......................................... 15 3.1.1. Instruções e funcionamento do programa ............................................................... 15 3.2. PROGRAMA DECOMPOSITOR DE NÚMEROS PARES ........................................... 17 3.2.1. Instruções e funcionamento do programa ............................................................... 17 3.3. PESQUISAS REALIZADAS A PARTIR DOS DADOS GRAVADOS ......................... 19 3.3.1. Quantidade de números primos por potência de 10 ............................................... 19 3.3.2. Diferença média entre um número primo e outro por potência de 10 .................... 20 3.3.3. Diferença máxima entre um número primo e outro por potência de 10 ................. 20 3.3.4. Distintas diferenças entre números primos ............................................................. 21 3.3.5. Quantidade de números primos por terminação...................................................... 21 3.3.6. Número máximo de decomposições possíveis por potência de 10 ......................... 22 3.3.7. Exemplo de decomposições possíveis: o número 2700 .......................................... 23 3.3.8. Os 20 números com maior quantidade de decomposições possíveis ..................... 23 3.3.9. Média de decomposições por potência de 10.......................................................... 24 3.3.10. Decomposições mínimas por intervalos estratégicos............................................ 25 3.3.11. Média de decomposições por intervalos estratégicos ........................................... 26 3.4. TECNOLOGIAS COMPUTACIONAIS UTILIZADAS ................................................. 26 4. O DUPLO TRIÂNGULO DE NÚMEROS PRIMOS .............................................................. 27 4.1. O DUPLO TRIÂNGULO DE NÚMEROS PRIMOS – DEFINIÇÃO ............................ 27 4.1.1. O triângulo da soma ................................................................................................ 27 4.1.1.1. Propriedades do triângulo da soma................................................................ 29 4.1.2. O triângulo da diferença.......................................................................................... 30 4.1.2.1. Propriedades do triângulo da diferença ......................................................... 32 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 34 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 35 9 1. INTRODUÇÃO “A conjectura de Goldbach, Todo número par maior que dois é soma de dois números primos, é um dos mais famosos problemas em aberto da Teoria dos Números. Em 1742, uma versão desta conjectura foi enunciada pelo matemático alemão Christian Goldbach (1690-1764) numa correspondência a Euler”. (FILHO, D. C. de M. Um Convite à Matemática, 357-358). A busca pela demonstração da conjectura de Goldbach já despertou tentativas de grandes nomes da matemática e ainda permanece desafiando os matemáticos da nossa geração. Existente há quase três séculos, fato que, se considerado junto ao grande avanço da ciência (inclusive no ramo da matemática) vivido neste período, a permanência desta afirmação ainda não demonstrada pode sugerir uma pergunta: seria esta conjectura algo impossível de se demonstrar? O matemático austríaco Kurt Friedrich Gödel (1906-1978), autor do teorema da incompletude, afirma que nenhum sistema aritmético é completo e que por tal razão sempre haverá alguma proposição verdadeira que não poderá ser demonstrada nem negada. Teria sido este mesmo matemático quem referiu a Conjectura de Goldbach como o exemplo de teorema indemonstrável1. Um fato é que se trata de um problema indiscutivelmente difícil: “A partir daquele ano (1742) os matemáticos começaram a tentar prová-la ou encontrar algum contraexemplo para ela. Até o presente momento, mesmo com os mais avançados recursos computacionais modernos, não se conseguiu provar ou encontrar um contraexemplo para essa conjectura”. (FILHO, D. C. de M. Um Convite à Matemática, 358). 1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Teorema_da_incompletude_de_G%C3%B6del (consultada em Dezembro de 2013). 10 Embora haja quem assim acredite (algo impossível de se demonstrar), atualmente existem grupos de pesquisas em universidades e também pessoas independentes empenhadas em transformar esta conjectura em um teorema. O assunto ainda é pouco explorado pelos autores de livros e quase não existe literatura a respeito deste tema. Não foram encontrados também durante a realização deste trabalho, registros sobre como se deram as tentativas de demonstração por parte dos matemáticos. 1.1. Contexto Histórico Em 1742, o matemático Christian Goldbach observou que os números pares poderiam ser decompostos como soma de dois números primos. A partir dessas observações Goldbach enviou uma carta ao consagrado matemático Leonard Eüler comentando suas observações. Após verificações, Eüler teria respondido a carta concordando com a possível veracidade da afirmação, porém, informando que não seria capaz de demonstrar. Eüler também reformulara a conjectura a qual conhecemos hoje como conjectura de Goldbach, deixando-a da seguinte forma: “Todo inteiro par maior que dois pode ser escrito como a soma de 2 números primos”.2 Desde o ano de 1742, quando a conjectura se tornou conhecida, alguns trabalhos foram feitos na tentativa de demonstrar ou confirmar a validade da mesma para determinados intervalos. No que segue mencionamos alguns desses registros3 em conexão com a conjectura de Goldbach. Cantor, em 1894, efetuou todas as decomposições possíveis, como soma de dois números primos, de todos os números pares inferiores a 1000. R. Haussner, em 1897, estendeu essa tabela até 5000. Em 1937, o matemático soviético I. M. Vinogradov demonstrou, usando somas trigonométricas adequadas, que qualquer número ímpar suficientemente grande é soma de três números primos. Em 1966, o matemático chinês JengRun Chen chegou perto demonstrando que: Todo número par suficientemente grande pode ser 2 STEWART, I. Almanaque das Curiosidades Matemáticas, 163-164. 3 http://prezi.com/il_b60ml8xha/conjectura-de-goldbach/ (consultada em setembro de 2013). 11 escrito como a soma de dois primos e um semiprimo (o produto de dois primos). Em 07 de setembro de 2012, com a ajuda do computador, Tomás Oliveira e Silva afirma ter constatado a veracidade da hipótese para números da ordem de 3.1017. Recentemente, já em 2013, o matemático peruano Harald Andrés Helfgott conseguiu demonstrar a conjectura fraca de Goldbach. A conjectura afirma que “todo número ímpar maior que 5 pode ser expresso como soma de três números primos”4. Como parte da realização deste trabalho, em 2013 foi constatado a veracidade e efetuadas todas as decomposições possíveis como soma de dois números primos, de todos os números pares até 100.000. Este breve relato já é suficiente para perceber que a conjectura de Goldbach é um problema muito complexo de ser demonstrado. Nesse sentido, e considerando que para tal demonstração seriam necessários conceitos matemáticos muitos avançados, o enfoque do trabalho não é tentar demonstrar a conjectura, mas, através de recursos computacionais entendê-la melhor e observar algumas curiosidades que surgem quando observamos cálculos numéricos que em milhares de anos não seríamos capazes de concluir manualmente. Assim, foram construídos programas e rotina de computador para a realização de algumas tarefas como: armazenar números primos e seus respectivos intervalos que os distanciavam dos anteriores, explorar as decomposições de números pares em números primos possíveis e armazenar em banco de dados, e exibir relatórios estatísticos detalhados e específicos sobre as informações armazenadas. No capítulo 2, enunciamos alguns conceitos básicos e teoremas sobre números primos, sendo este o alicerce científico do trabalho. No capítulo 3, apresentamos como foram construídos os programas: identificador de números primos menores que 100 milhões e o que verifica, conta e especifica as maneiras que são possíveis decompor determinado número par em forma de dois números primos. A partir dos dados armazenados pelo computador, foi possível explorar distintos detalhes e curiosidades a cerca do assunto, os quais estão disponíveis em forma de textos ou tabelas. No capítulo 4, está o resultado principal deste trabalho, a proposição de novos instrumentos e o desafio para melhor explorar o assunto. Definimos o triangulo da soma e diferença e algumas de suas propriedades. 4 http://profemarli.comunidades.net/index.php?pagina=1542745242 (consultada em setembro de 2013). 12 2. ESTUDOS PRELIMINARES Os números primos são protagonistas em muitos problemas e assuntos relacionados à teoria dos números. E para continuar este trabalho é importante conhecer um pouco sobre eles. 2.1. Definição e Distribuição dos Números Primos “Um inteiro p diz-se primo se tem exatamente dois divisores positivos, 1 e |p|”. (MILIES, C. P. e COELHO, S. P. Números – Uma Introdução à Matemática, 78). A citação acima é uma das diferentes maneiras encontradas nos livros para definir os números primos. Perceba que a definição exclui o número 0 (que tem infinitos divisores) e os números 1 e -1, que tem um único divisor positivo. Excluir o número 1 do conjunto dos números primos é um fato relevante já que este número já foi considerado primo no passado5. Inclusive, quando a conjectura de Goldbach foi elaborada, ela dizia respeito a todo número par (incluindo o número dois, resultante de 1+1). Os números que não são primos são chamados de números compostos, e qualquer número composto pode ser escrito como multiplicação de números primos conforme teorema a seguir. “Seja a 1 um inteiro. Então existem primos positivos p1 p 2 p t tais que a p1 p 2 p t e essa decomposição é única”. (MILIES, C. P. e COELHO, S. P. Números – Uma Introdução à Matemática, 80). Uma vez definidos números primos e números compostos, através de teoremas vamos encontrar respostas para três perguntas sobre a distribuição dos números primos. Qual o tamanho do conjunto dos números primos? “(Euclides) O conjunto dos números primos é infinito”. (MILIES, C. P. e COELHO, S. P. Números – Uma Introdução à Matemática, 89). 5 STEWART, I. Almanaque das Curiosidades Matemáticas, 163. 13 Demonstração6: Suponha que exista apenas um número finito de números primos p1, p2, p3,...,pr. Considere o número natural n= p1p2p3...pr + 1. O número n precisaria possuir um fator primo p que, portanto, deve ser um dos p1, p2, p3,...,pr e, consequentemente, divide o produto p1p2p3...pr. Mas isso implica que p divide 1, o que é um absurdo. A próxima questão que precisa ser compreendida diz respeito a intervalos entre números primos. Há intervalos grandes entre um número primo e outro? A resposta é sim, há intervalos de tamanho grande o quanto quizermos entre um número primo e outro. Em outras palavras, existem ‘saltos’ arbitrariamente grandes na sequência dos números primos”. (SANTOS, J. P. de O. Introdução à Teoria dos Números, 11). Demonstração: Seja k um número inteiro qualquer, o número (k 1)! será divisível por todos os k números entre 2 e k 1 , dessa forma, a sequência k 1!2, k 1!3, , k 1!k , k 1!k 1 é formada por k números consecutivos compostos. Através deste teorema é possível perceber que, embora haja intervalos com tamanho k qualquer sem a existência de números primos, conforme o tamanho de k trabalhar-se-á com números consideravelmente grandes uma vez que se usa fatorial. Por fim, é importante saber se é possível determinar ou estimar a quantidade de números primos em dado intervalo de números naturais. É possível saber a quantidade de números primos existentes entre 1 e um número qualquer? 6 HEFEZ, A. Elementos de Aritimética, 88. 14 Com o auxílio de recursos computacionais é possível conhecer em números exatos a quantidade de números primos existente em intervalos de tamanho considerável. No entanto, para números muito grandes, mesmo os mais potentes computadores são limitados a trabalhar. Para solucionar este problema existe o ‘Teorema do Número Primo’ mostrado abaixo7. Seja (n) a função de contagem de números primos, que retorna o número de números primos entre 1 e n. Então vale o limite: ( n) 1 n n / ln( n) lim Dessa forma, a função (n) é aproximadamente igual a: n . ln(n) Mesmo não retornando números exatos, para números naturais a partir de 1016 esta fórmula calcula um valor com diferença inferior a 3% do número real, e quanto maior o número menor a diferença percentual. Com esse teorema é possível se estimar quantidade aproximada de números primos para intervalos consideravelmente grandes e ainda prever a diferença média entre um número primo e outro em tais espaços. Sobre este teorema, Legendre e Gauss já haviam chegado a conclusões prévias semelhantes. E apenas por volta de 1900 J. Hadamard e Ch. de la Valleè-Poussinm, em circunstâncias independentes, provaram o profundo resultado chamado de Teorema dos Números Primos.8 Considera-se importante salientar que, ao aplicar este teorema em intervalos ‘pequenos’ essa função retorna números aproximados da quantidade exata de números primos. 7 http://pt.wikipedia.org/wiki/Teorema_do_n%C3%BAmero_primo (consultada em dezembro de 2013). 8 HEFEZ, A. Elementos de Aritimética, 90. 15 3. TRABALHOS COMPUTACIONAIS 3.1. Programa Identificador de Números Primos Para iniciar os estudos envolvendo análise de números primos seria necessário obter uma lista desses números, dessa forma foi desenvolvido um programa de computador que a partir de lema conhecido pela matemática, identifica se um número é primo ou não. O lema utilizado foi: “Se um número natural n > 1 não é divisível por nenhum número primo p tal que p 2 n , então ele é primo”. (HEFEZ, A. Elementos de Aritmética, 89). Demonstração: Suponhamos, por absurdo, que n não seja divisível por nenhum número primo p tal que p2 ≤ n e que não seja primo. Seja q o menor número primo que divide n; então, n = qn1, com q ≤ n1. Segue daí que q2 ≤ qn1 = n. Logo, n é divisível por um número primo q tal que q2 ≤ n, absurdo. 3.1.1. Instruções e funcionamento do programa O programa recebeu instrução inicial de que os números 2 e 3 seriam os primeiros primos, a partir do número 3, o programa foi instruído a acrescentar 2 para a próxima verificação, com o fim de analisar apenas números ímpares. Para utilizar o lema matemático o programa calcula a raiz quadrada do número que está sendo verificado e seleciona a parte inteira, em seguida seleciona todos os primos anteriores a esta parte inteira e confere se o número é divisível por algum desses primos anteriores. Quando o número verificado não é divisível por nenhum dos primos anteriores à sua raiz quadrada, o programa o identifica como número primo, ou quando o número é divisível por qualquer um dos primos, o programa já passa a verificar o próximo número ímpar. A partir de então, se o número a ser verificado for primo, o programa armazena o número no banco de dados, juntamente com a diferença deste número para os dois primos anteriores. Essas informações acerca da diferença dos anteriores foi gravada para futura análise e fins estatísticos. 16 O programa levou cerca de seis horas para processar e gravar todos os números primos menores que 100 milhões, quantidade escolhida para a realização dos experimentos propostos neste trabalho. Dessa forma o programa armazenou os números primos e as informações solicitadas em ordem crescente ao modelo da tabela 1 a seguir. Número Primo Diferença Primo Anterior Diferença 2º Primo Anterior 2 0 0 3 1 0 5 2 3 7 2 4 11 4 6 13 2 6 17 4 6 19 2 6 23 4 6 29 6 10 31 2 8 37 6 8 41 4 10 43 2 6 47 4 6 53 6 10 59 6 12 61 2 8 67 6 8 71 4 10 73 2 6 79 6 8 83 4 10 89 6 10 97 8 14 101 4 12 103 2 6 107 4 6 109 2 6 113 4 6 127 14 18 131 4 18 137 6 10 139 2 8 149 10 12 151 2 12 157 6 8 163 6 12 167 4 10 17 173 179 181 191 193 197 199 6 6 2 10 2 4 2 10 12 8 12 12 6 6 Tabela 1 – Números primos menores que 200. Ao todo, o sistema identificou os 5.761.455 números primos menores que 108. Os números produzidos pelo programa foram comparados com outras tabelas existentes com o fim de testar a confiabilidade dos métodos computacionais utilizados, e o resultado das comparações foram de total precisão. 3.2. Programa decompositor de Números Pares Tendo em vista os relatos que afirmavam a veracidade da Conjectura de Goldbach para uma quantidade expressiva de números pares, não faria sentido apenas repetir o processo de verificação. Dessa forma, foi construído um programa para não apenas verificar, mas também, contar quantas maneiras são possíveis decompor determinado número par em forma de dois números primos, e ainda identificar quais são essas maneiras. 3.2.1. Instruções e funcionamento do programa O programa recebeu instruções para: a partir do número 4, verificar todas as combinações possíveis de soma de dois primos menores que somados equivalessem ao número em verificação. Quando a soma dos primos em análise equivalia ao número, o programa registrava a possibilidade e passava a verificar a próxima combinação, até encerrar todas as combinações possíveis com números primos menores que o número par em verificação. Ao final da verificação, o programa grava: o número par; a quantidade de decomposições de primos possíveis; e a descrição dessas possibilidades. Com pouco mais de 50 horas de processamento, o computador conseguiu detalhar e gravar todas as decomposições possíveis de todos os números pares até o número 100.000. 18 Para o computador, esse programa é muito mais complexo e custoso em termos de processamento, por essa razão a quantidade de números alcançados foi inferior à alcançada no programa anterior(sessão 3.1), apesar de ter utilizado maior quantidade de tempo. Esses programas foram criados e executados em um computador simples. Supercomputadores com capacidades de processamento consideravelmente aumentadas poderiam ter atingido números expressivamente maiores. No entanto, os números que foram alcançados com os recursos disponíveis são suficientes para o que propõe este trabalho. A tabela 2 abaixo exemplifica como foram gravadas as informações dos números pares no banco de dados. Número Primos Qtde. Possibilidades 4 2 1 2+2 6 3 1 3+3 8 4 1 3+5 10 4 2 3+7; 5+5 12 5 1 5+7 14 6 2 3+11; 7+7 16 6 2 3+13; 5+11 18 7 2 5+13; 7+11 20 8 2 3+17; 7+13 22 8 3 3+19; 5+17; 11+11 24 9 3 5+19; 7+17; 11+13 26 9 3 3+23; 7+19; 13+13 28 9 2 5+23; 11+17 30 10 3 7+23; 11+19; 13+17 32 11 2 3+29; 13+19 34 11 4 3+31; 5+29; 11+23; 17+17 36 11 4 5+31; 7+29; 13+23; 17+19 38 12 2 7+31; 19+19 40 12 3 3+37; 11+29; 17+23 42 13 4 5+37; 11+31; 13+29; 19+23 44 14 3 3+41; 7+37; 13+31 46 14 4 3+43; 5+41; 17+29; 23+23 48 15 5 5+43; 7+41; 11+37; 17+31; 19+29 50 15 4 3+47; 7+43; 13+37; 19+31 52 15 3 5+47; 11+41; 23+29 54 16 5 7+47; 11+43; 13+41; 17+37; 23+31 56 16 3 3+53; 13+43; 19+37 58 16 4 5+53; 11+47; 17+41; 29+29 60 17 6 7+53; 13+47; 17+43; 19+41; 23+37; 29+31 62 18 3 3+59; 19+43; 31+31 64 18 5 3+61; 5+59; 11+53; 17+47; 23+41 66 18 6 5+61; 7+59; 13+53; 19+47; 23+43; 29+37 68 19 2 7+61; 31+37 19 70 72 74 76 78 80 82 84 86 88 19 20 21 21 21 22 22 23 23 23 5 6 5 5 7 4 5 8 5 4 90 92 94 96 98 100 24 24 24 24 25 25 9 4 5 7 3 6 3+67; 11+59; 17+53; 23+47; 29+41 5+67; 11+61; 13+59; 19+53; 29+43; 31+41 3+71; 7+67; 13+61; 31+43; 37+37 3+73; 5+71; 17+59; 23+53; 29+47 5+73; 7+71; 11+67; 17+61; 19+59; 31+47; 37+41 7+73; 13+67; 19+61; 37+43 3+79; 11+71; 23+59; 29+53; 41+41 5+79; 11+73; 13+71; 17+67; 23+61; 31+53; 37+47; 41+43 3+83; 7+79; 13+73; 19+67; 43+43 5+83; 17+71; 29+59; 41+47 7+83; 11+79; 17+73; 19+71; 23+67; 29+61; 31+59; 37+53; 43+47 3+89; 13+79; 19+73; 31+61 5+89; 11+83; 23+71; 41+53; 47+47 7+89; 13+83; 17+79; 23+73; 29+67; 37+59; 43+53 19+79; 31+67; 37+61 3+97; 11+89; 17+83; 29+71; 41+59; 47+53 Tabela 2 – Números pares e suas respectivas decomposições em números primos. 3.3. Pesquisas Realizadas a Partir dos Dados Gravados A partir dos dados gravados pelos programas descritos nos itens 2.1 e 2.2, é possível pesquisar diversas informações, ao longo deste item serão mostrados os dados e curiosidades que foram considerados relevantes para este trabalho. 3.3.1. Quantidade de números primos por potência de 10 Conhecer a quantidade de números primos pode contribuir para uma melhor compreensão de estudos a eles relacionados. Dessa forma a tabela abaixo exibe a quantidade de números primos existente em cada base 10 até onde o programa registrou (108). Intervalo Até 10 100 1.000 10.000 100.000 1.000.000 10.000.000 100.000.000 Números Primos 4 25 168 1.229 9.592 78.498 664.579 5.761.455 Porcentagem 40,00% 25,00% 16,80% 12,29% 9,59% 7,85% 6,65% 5,76% Tabela 3 – Quantidade de números primos por potência de 10 20 Existem atualmente tabelas semelhantes a esta, inclusive com intervalos maiores, que foram desenvolvidas em outros trabalhos, a exemplo, a tabela estendida até 1023 disponível na Wikipédia9. 3.3.2. Diferença média entre um número primo e outro por potência de 10 A diferença entre os números primos 2 e 3 equivale ao número 1, já a diferença entre os primos 89 e 97 é 8. Abaixo segue a tabela que mostra qual a diferença média entre todos os primos inferiores a uma base 10. Intervalo Até Diferença média entre primos 10 100 1.000 10.000 100.000 1.000.000 10.000.000 100.000.000 1,6666 3,8000 5,9226 8,1131 10,4242 12,7389 15,0471 17,3567 Tabela 4 – Diferença média entre números primos por potência de 10 O aumento gradativo entre as diferenças de um número primo para seu anterior implica na redução da ocorrência de números primos em intervalos maiores. Informação percebida na tabela anterior. Caso se queira valores aproximados, esta tabela pode ser facilmente estendida utilizando-se o ‘Teorema do Número Primo’. 3.3.3. Diferença máxima entre um número primo e outro por potência de 10 Intervalo Até 10 100 1.000 10.000 100.000 1.000.000 10.000.000 100.000.000 Diferença Máxima 2 8 20 36 72 114 154 220 Ocorrência(s) 5e7 97 907 9587 31469 492227 4652507 47326913 Tabela 5 – Diferença máxima entre primos por potência de 10 9 http://pt.wikipedia.org/wiki/Teorema_do_n%C3%BAmero_primo (consultada em dezembro de 2013). 21 Como é possível perceber na tabela 5, nem sempre os números primos com intervalos maiores em relação ao primo anterior, estão próximos dos extremos. Por exemplo, o número 31.469 dista 72 de seu primo anterior, e até o número 100.000 (número maior que o seu triplo) existem muitos números primos e nenhum com intervalo igual ou maior que 72. Embora a diferença máxima entre um primo e outro aumente no decorrer dos números naturais(ver tabela 3), em termos de percentual essas diferenças diminuem regularmente conforme aumentamos o número(ver tabela 4). 3.3.4. Distintas diferenças entre números primos Ignorando a diferença entre os números primos 2 e 3, por ser a única diferença impar, listamos na tabela abaixo todas as distintas diferenças entre números primos dentro do intervalo de nosso estudo, desde a menor (o número 2, diferença entre 3 e 5) até maior (220). 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 72 74 76 78 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 100 102 104 106 108 110 112 114 116 118 120 122 124 126 128 130 132 134 136 138 140 142 144 146 148 150 152 154 156 158 160 162 164 166 168 170 172 174 176 178 180 182 184 196 198 210 220 Tabela 6 – Distintas diferenças entre números primos até 108 Percebe-se que todos os números pares aparecem ininterruptamente até o número 184, o que sugere que se continuarmos a o trabalho com números maiores que 108 os demais serão preenchidos e a tabela crescerá. Esses dados serão importantes para considerações do capítulo 5 adiante. 3.3.5. Quantidade de números primos por terminação Como o número dois é o único primo par, e o número cinco é o único com essa terminação que é primo, os demais números primos terão obrigatoriamente final 1, 3, 7 ou 9. 22 Assim, dentre os 5.761.455 de primos menores que 108, foi computado o total destes com cada terminação possível. Dígito Final Quantidade 2 5 1 3 7 9 Total 1 1 1.440.298 1.440.474 1.440.495 1.440.186 5.761.455 Tabela 7 – Quantidade de números primos por terminação Ignorando os números primos terminados em 2 e 5, por serem únicos, os dados dessa tabela 7 mostram que a quantidade de números primos por terminação existentes em dado intervalo é bem próxima uma da outra. Resultados semelhantes foram obtidos selecionando intervalos menores que 108. Dispensando assim a necessidade de outras tabelas com informações semelhantes. 3.3.6 – Número máximo de decomposições possíveis por potência de 10 Intervalo Até Número 10 100 1.000 10.000 100.000 Decomposições Possíveis 10 90 990 9240 99330 Quantidade de Primos Menores 2 9 52 329 2168 4 24 166 1145 9533 Tabela 8 – Número máximo de decomposições por potência de 10 Se considerarmos o conjunto dos números naturais(infinito), a quantidade de 105, objeto de nosso estudo, é um número consideravelmente pequeno, e neste pequeno intervalo existe número que pode ser decomposto em mais de 2000 maneiras diferentes como soma de dois números primos, conforme mostra a tabela. 23 3.3.7. Exemplo de decomposições possíveis: o número 2700 Possíveis decomposições do número 2700 em soma de 2 números primos 7+2693 223+2477 461+2239 701+1999 1031+1669 11+2689 227+2473 463+2237 727+1973 1033+1667 13+2687 233+2467 479+2221 751+1949 1063+1637 17+2683 241+2459 487+2213 769+1931 1087+1613 23+2677 263+2437 521+2179 787+1913 1091+1609 29+2671 277+2423 547+2153 811+1889 1093+1607 37+2663 283+2417 557+2143 821+1879 1103+1597 41+2659 307+2393 563+2137 823+1877 1117+1583 43+2657 311+2389 569+2131 827+1873 1129+1571 53+2647 317+2383 571+2129 829+1871 1151+1549 67+2633 349+2351 587+2113 839+1861 1201+1499 79+2621 353+2347 601+2099 853+1847 1213+1487 83+2617 359+2341 613+2087 877+1823 1217+1483 107+2593 367+2333 617+2083 911+1789 1229+1471 109+2591 389+2311 619+2081 941+1759 1249+1451 149+2551 419+2281 631+2069 947+1753 1277+1423 151+2549 431+2269 647+2053 953+1747 1291+1409 157+2543 433+2267 661+2039 967+1733 1301+1399 179+2521 449+2251 673+2027 977+1723 1319+1381 197+2503 457+2243 683+2017 991+1709 1327+1373 Tabela 9 – Decomposições possíveis do número 2700 O número 2.700 é o primeiro número par o qual é possível decompor de 100 maneiras diferentes como soma de dois números primos, motivo pelo qual foi escolhido para este exemplo. Até 2.700 existem 393 números primos, que combinados entre si, totalizam 77.421 combinações possíveis (com repetição), das quais 100 destas resultam na soma deste número. Na primeira soma possível mostrada na tabela usa números primos dos extremos, o menor e o maior primo possível, em seguida, o número primo inicial vai aumentando e decrescendo o final. Por fim, a última soma possível é composta por dois números primos bem próximos, ou até mesmo iguais em algum casos. 3.3.8. Os 20 números com maior quantidade de decomposições possíveis A tabela 10 a seguir, exibe os 20 números menores que 105 que possuem maior quantidade possível de decomposições, observe que os números com maiores quantidades são todos terminados em zero. Para aparecer número com terminação diferente foi necessário estender a lista para os primeiros 200. Esse fato ocorre pelo fato de os números com final zero 24 podem ser formados por somas de dois números com finais 1 e 9 ou 3 e 7. Ou seja, todo o universo de terminações dos números primos (descartando o 2 e o 5), ao passo que, para formar números pares com outras terminações (diferindo de 0) não é possível utilizar todas as terminações. Número 99330 90090 92820 94710 97020 98280 99960 87780 99750 92400 98670 91770 95550 96390 95760 98490 96600 98910 97650 99540 Quantidade de primos menores 9533 8726 8967 9132 9339 9437 9588 8524 9570 8926 9473 8866 9211 9283 9229 9458 9302 9495 9390 9550 Decomposições 2168 2135 2114 2093 2090 2075 2063 2042 2035 2004 2003 1999 1989 1977 1974 1964 1963 1956 1955 1955 Tabela 10 – Números menores que 100.000 com maiores quantidades de decomposições em dois números primos 3.3.9. Média de decomposições por potência de 10 Conforme os números pares vão aumentando, aumenta também suas possibilidades de decomposições em dois números primos, segue abaixo a quantidade média dessas decomposições nos intervalos indicados. Números pares até 10 100 1.000 10.000 100.000 Média de decomposições 1,25000 3,83670 16,47700 85,16720 507,34980 Tabela 11 – Média de decomposições por potência de 10. 25 Esta relação indica a média de quantas vezes um número pode ser decomposto como soma de dois números primos diferentes, dentre de cada intervalo selecionado. A exemplo, cada número par até 104 podem ser decomposto em média, por cerca de 85 maneiras diferentes. 3.3.10. Decomposições mínimas por intervalos estratégicos Verificou-se na tabela 11, uma evidente tendência crescente na média de possibilidades de decomposições dos números pares como soma de 2 números primos, porém é preciso saber se existe uma tendência de crescimento também no mínimo de vezes que os números podem ser igualmente decomposto. A tabela a seguir mostra em intervalos estratégicos, a quantidade mínima de decomposições possíveis. Intervalo 90 a 100 900 a 1000 9000 a 10000 90000 a 100000 Menor Quantidade 3 13 77 526 Tabela 12 – Quantidade mínima de decomposições por intervalos estratégicos Perceba na tabela 12 que, entre o número 90.000 e 100.000, cada número par pode ser decomposto em, no mínimo, 526 maneiras diferentes de soma de dois números primos. Evidência fortíssima de que a Conjectura de Goldbach é verdadeira. No entanto, evidências não são provas. Na tabela 13 a seguir, mostraremos em média quantas decomposições são possíveis nesses mesmos intervalos. 26 3.3.11. Média de decomposições por intervalos estratégicos Intervalo 90 a 100 900 a 1000 9000 a 10000 90000 a 100000 Média de decomposições possíveis 5,6667 26,4118 143,9501 876,8396 Tabela 13 – Média de decomposições por intervalos estratégicos 3.4. Tecnologias Computacionais Utilizadas Os programas descritos nos itens 3.1 e 3.2 foram construídos em ambiente de programação utilizando a linguagem computacional PHP, e para armazenamento dos dados foi utilizado o sistema gerenciador de banco de dados MySQL. Para gerar os relatórios descritos no item 3.3 e seus respectivos subitens foi utilizada a linguagem computacional de manipulação de dados chamada SQL. Os programas que não foram construídos utilizando recursos avançados de otimização de processamento foram executados em um computador comum. 27 4. O DUPLO TRIÂNGULO DE NÚMEROS PRIMOS Durante a realização das pesquisas e execução dos trabalhos, surgiram algumas ideias envolvendo métodos ainda não explorados, ao menos pelas literaturas conhecidas. Algumas dessas ideias serão descritas neste. 4.1. O Duplo Triângulo de Números Primos – Definição Como a conjectura de Goldbach trabalha com a hipótese de soma de dois números primos, inicialmente foi pensado em gerar algo que mostrasse todas as combinações possíveis de soma de dois números primos, daí nasceu a proposta que aqui chamaremos de “Triângulo da soma” (TS). Em seguida, a partir de algumas curiosidades observadas durante os trabalhos foi pensado em algo que mostrasse também os resultados da diferença entre dois números primos, surgindo o que aqui denominamos “Triângulo da diferença” (TD). Como a conjectura considera a soma de dois números primos que resulta em números pares, por conveniência, nos modelos e exemplos deste trabalho não utilizaremos o número 2 (dois), isso por ser ele um número par e se somado a qualquer outro número primo resultará em número ímpar. Neste capítulo (para ambos os triângulos) serão abordadas e, quando necessário, demonstradas algumas de suas respectivas propriedades. 4.1.1. O triângulo da soma Definição (triângulo da soma) Sejam P1 , P2 , , Pn os n primeiros números primos ímpares, dispomos em uma tabela com n 1 linhas e n 1 colunas. Na primeira linha (horizontal) e na primeira coluna (vertical) preenchemos as células com cada um dos n números primos. Em seguida, preenchemos as demais células com a soma dos números primos que estão em sua posição vertical e horizontal. Denotemos por Pi o i-ésimo número primo e S i , j Pi Pj , 1 i, j n , onde n a quantidade de números primos. O triângulo da soma (TS) é definido da seguinte forma: 28 TS(n) P1 P2 P3 ... Pn P1 S1,1=P1+P1 S2,1=P2+P1 S3,1=P3+P1 P2 P3 S2,2=P2+P2 S3,2=P3+P2 S3,3=P3+P3 Sn,1=Pn+P1 Sn,2=Pn+P2 Sn,3=Pn+P3 ... Pn ... Sn,n=Pn+Pn Tabela 14 – Forma genérica do triângulo da soma Abaixo segue como exemplo o triângulo da soma dos primeiros 20 números primos maiores do que 2. TS(20) 1 3 2 5 3 7 4 11 5 13 6 17 7 19 8 23 9 29 10 31 11 37 12 41 13 43 14 47 15 53 16 59 17 61 18 67 19 71 20 73 3 6 8 10 14 16 20 22 26 32 34 40 44 46 50 56 62 64 70 74 76 5 7 11 13 17 19 23 29 31 37 41 43 47 53 59 61 67 71 73 10 12 16 18 22 24 28 34 36 42 46 48 52 58 64 66 72 76 78 14 18 20 24 26 30 36 38 44 48 50 54 60 66 68 74 78 80 22 24 28 30 34 40 42 48 52 54 58 64 70 72 78 82 84 26 30 32 36 42 44 50 54 56 60 66 72 74 80 84 86 34 36 40 46 48 54 58 60 64 70 76 78 84 88 90 38 42 48 50 56 60 62 66 72 78 80 86 90 92 46 52 54 60 64 66 70 76 82 84 90 94 96 58 60 66 70 72 76 82 88 90 96 100 102 62 68 72 74 78 84 90 92 98 102 104 74 78 80 84 90 96 98 104 108 110 82 84 88 94 100 102 108 112 114 86 90 96 102 104 110 114 116 94 100 106 108 114 118 120 106 112 114 120 124 126 Tabela 15 – Triângulo da soma de tamanho 20 118 120 126 130 132 122 128 134 132 138 142 134 140 144 146 29 4.1.1.1. Propriedades do triângulo da soma (PS1). Os elementos de cada linha estão em ordem crescente. Selecionada uma linha k qualquer, e duas somas consecutivas quaisquer, as somas S k ,i , S k ,i 1 , para todo 1≤ i <k estão dispostas de maneira crescente. Demonstração: Para todo k fixo, 1 k n , temos que, S k ,i Pk Pi e S k ,i 1 Pk Pi 1 . Logo, S k ,i 1 S k ,i Pi 1 Pi 0 S k ,i S k ,i 1 □ (PS2). Os elementos de cada coluna estão em ordem crescente. Selecionada uma coluna k qualquer, e duas somas consecutivas quaisquer, as somas S i , k , S i 1, k , para todo 1 i k estão dispostas de maneira crescente. Demonstração: análoga à propriedade 1. (PS3). Os elementos de uma diagonal selecionados de cima para baixo e da esquerda para a direita estão em ordem crescente. Demonstração: Consequência imediata de P1 e P2. (PS4). A quantidade de elementos de um triângulo com N números primos equivale a: ( N 1).N 2 Demonstração: o número de possibilidades de combinações possíveis equivale à formula de combinações com repetição, já que, havendo selecionado um número primo qualquer, o próximo número primo a completar a dupla pode ser ele mesmo novamente. Assim CR n.2 C n 1, 2 ( N 1)! ( N 1) N 2!( N 1)! 2 □ (PS5). A relação de passagem do elemento S i , j para o elemento S i 1, j 1 é dada por 30 S i 1, j 1 S i 1, j S i , j 1 S i , j Demonstração: S i 1, j 1 Pi 1 Pj 1 Pi 1 Pj Pi Pj 1 Pi Pj S i 1, j S i , j 1 S i , j □ Exemplo: S 3, 2 S 2, 2 S 3,1 S 2,1 TS(n) P1 P2 P3 ... P1 S1,1 P2 S2,1 S2,2 P3 ... S3,1 S3,2 S3,3 Pn Sn,1 Sn,2 Sn,3 ... Pn Sn,n Tabela 16 – Triângulo da soma detalhado (PS6). Em um triângulo formado por N números primos, o maior número par possível é 2PN. Demonstração: como os elementos das linhas e das colunas estão dispostos em ordem crescente o maior elemento é S N , N PN PN 2 PN □ (PS7). Em uma mesma linha ou coluna nunca haverá elemento repetido. Demonstração: Decorre do fato que dados dois números primos distintos PA e PB, não há como, somados a um terceiro número primo PC, resultar em um mesmo valor. 4.1.2. O triângulo da diferença Com muitas semelhanças ao triângulo da soma, segue abaixo definição de triângulo da diferença. Definição (triângulo da diferença). Sejam P1 , P2 , , Pn os n primeiros números primos ímpares, dispomos em uma tabela com n+1 linhas e n+1 colunas. Na primeira linha e na primeira coluna preenchemos as células com cada um dos n números primos. Em seguida, 31 preenchemos as demais células com a diferença dos números primos que estão em sua posição vertical e horizontal. Seja Pi i-ésimo número primo e seja Di , j Pi Pj , 1 i, j n , onde n é a quantidade de números primos, o triângulo da diferença (TD) é definido da seguinte forma: TD(n) P1 P2 P3 ... Pn P1 D1,1=P1-P1 D2,1=P2-P1 D3,1=P3-P1 P2 P3 D2,2=P2-P2 D3,2=P3-P2 D3,3=P3-P3 Dn,1=Pn-P1 Dn,2=Pn-P2 Dn,3=Pn-P3 ... Pn ... Dn,n=Pn-Pn Tabela 17 – Forma genérica do triângulo da diferença Abaixo segue como exemplo o triângulo da diferença dos primeiros 20 números primos. TD(20) 1 3 2 5 3 7 4 11 5 13 6 17 7 19 8 23 9 29 10 31 11 37 12 41 13 43 14 47 15 53 16 59 17 61 18 67 19 71 20 73 3 0 2 4 8 10 14 16 20 26 28 34 38 40 44 50 56 58 64 68 70 5 7 11 13 17 19 23 29 31 37 41 43 47 53 59 61 67 71 73 0 2 6 8 12 14 18 24 26 32 36 38 42 48 54 56 62 66 68 0 4 6 10 12 16 22 24 30 34 36 40 46 52 54 60 64 66 0 2 6 8 12 18 20 26 30 32 36 42 48 50 56 60 62 0 4 6 10 16 18 24 28 30 34 40 46 48 54 58 60 0 2 6 12 14 20 24 26 30 36 42 44 50 54 56 0 4 10 12 18 22 24 28 34 40 42 48 52 54 0 6 8 14 18 20 24 30 36 38 44 48 50 0 2 8 12 14 18 24 30 32 38 42 44 0 6 10 12 16 22 28 30 36 40 42 0 4 6 10 16 22 24 30 34 36 0 2 6 12 18 20 26 30 32 0 4 10 16 18 24 28 30 0 6 12 14 20 24 26 0 6 8 14 18 20 0 2 8 12 14 Tabela 18 – Triângulo da diferença de tamanho 20 0 6 0 10 4 12 6 0 2 0 32 4.1.2.1. Propriedades do triângulo da diferença (PD1). Os elementos de cada linha estão em ordem decrescente. Selecionada uma linha k qualquer, e duas diferenças consecutivas quaisquer Dk,i; Dk,i+1, para todo 1≤ i <k estão dispostas de maneira decrescente. Demonstração: Para todo k fixo, 1 k n , temos que, Dk , j Pk Pj e Dk , j 1 Pk Pj 1 . Logo Dk , j Dk ,i 1 Pj 1 Pj 0 Dk , j Dk , j 1 □ (PD2). Os elementos de cada coluna estão em ordem crescente. Selecionada uma coluna k qualquer, e duas somas consecutivas quaisquer, as diferenças D i , k , Di 1, k para todo 1 i k estão dispostas de maneira crescente. Demonstração: Análoga à propriedade 1. (PD3). A quantidade de elementos de um triângulo da diferença com N números primos equivale a: ( N 1).N . Mesma demonstração já realizada no triângulo da soma. 2 (PD4). A relação de passagem do elemento Di,j para o elemento Di+1,j+1 é dada por: Di 1, j 1 Di 1, j Di , j 1 Di , j Demonstração: idêntica à propriedade 5 do triângulo da soma. (PD5). Em um triângulo formado por N números primos, o maior número par possível é PN – 3. Demonstração: Como o último elemento de cada coluna é o maior (propriedade 2) e o primeiro elemento de cada linha é o maior (propriedade 1), o maior elemento será o primeiro elemento da última linha, que é PN,1 = PN – P1 = PN – 3. □ Nota. A partir de uma visão cuidadosa sobre o triângulo da diferença, foi possível observar que todos os números pares, a partir de 0, vão aparecendo bem próximos do outro. A partir 33 desta observação foi realizado um teste computacional que comprovou esta tendência para números pares até 105. Um detalhe adicional ainda foi observado quanto ao sinal, pois, dado dois números primos quaisquer Pa e Pb, a subtração Pa – Pb nos resultará um determinado número N; e se invertermos a ordem e o sinal resultará no mesmo número com o sinal invertido, resultando em: Pb – Pa = -N. A partir desses fatos sugere-se ser verdadeira a seguinte afirmação: Todo número par inteiro pode ser escrito como subtração de dois números primos. Essa afirmação é uma consequência direta de outra conjectura existente: a conjectura de Polignac10. 10 http://fr.wikipedia.org/wiki/Conjecture_de_De_Polignac (acessada em dezembro de 2013) 34 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho teve por desafio construir um conjunto de informações referentes a um assunto pouco explorado e com uma quantidade insignificante de publicações a respeito, a conjectura de Goldbach. Apresentou-se certo volume de informações calculadas computacionalmente abordando diferentes aspectos sobre os números primos e sobre a formação de números pares a partir de dois números primos. Ideias novas surgiram a partir da análise dessas informações e foram apresentadas como proposta de novos conhecimentos para a matemática, com o fim de provocar o público matemático e despertar o interesse pelo assunto. Os dados extraídos a partir de rotinas computacionais foram de grande importância para conhecer resultados e despertar curiosidades sobre assuntos abordados aqui, uma vez que de outra forma não teríamos como conhecer certos valores. Levaríamos séculos para investigar manualmente o que o computador pôde fazer em bem pouco tempo. As pesquisas realizadas a partir dos dados gravados (item 3.3) levantam curiosidades que, se estudadas em intervalos maiores podem levar a novas descobertas. Por exemplo, a diferença máxima entre um número primo e outro por potência em base 10; ou mesmo a quantidade de números primos por terminação. Os triângulos da soma e da diferença, ferramentas aqui propostas, precisam ser estudadas para que se alcance uma maior maturidade sobre suas possíveis aplicações, tanto em relação à conjectura de Goldbach como em outros problemas envolvendo números primos. Por fim, concluímos que, quando falamos de números primos e seus assuntos relacionados, há muito a ser investigado, há muito ainda a ser descoberto. E este trabalho deixa alguns alicerces cujas construções precisam ser continuadas. 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] FILHO, Daniel Cordeiro de Moraes. Um Convite à Matemática. Rio de Janeiro: SBM, 2012. [2] Teoremas da incompletude de Gödel. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Teorema_da_incompletude_de_G%C3%B6del>. Acesso em: 18 dez. 2013. [3] STEWART, Ian. ALMANAQUE DAS CURIOSIDADES MATEMÁTICAS. Rio de Janeiro: ZAHAR, 2009. [4] VAZ, Erika. A Conjectura de Goldbach. Disponível <http://prezi.com/il_b60ml8xha/conjectura-de-goldbach/>. Acesso em: 24 set. 2013. em: [5] Problema matemático indecifrável. Disponível em: <http://profemarli.comunidades.net/index.php?pagina=1542745242>. Acesso em 24 set. 2013 [6] MILIES, César Polcino e COELHO, Sônia Pitta. Números Uma Introdução à Matemática. São Paulo: Edusp, 2003. [7] SANTOS, José Plínio de Oliveira. Introdução à Teoria dos Números. Rio de Janeiro: IMPA, 2003. [8] HEFEZ, Abramo. Elementos de Aritmética. Rio de Janeiro: SBM, 2011. [9] RIBENBOIM, Paulo. Números Primos - Velhos Mistérios e Novos Recordes. Rio de Janeiro: SBM, 2012. [10] Conjecture de De Polignac. Disponível <http://fr.wikipedia.org/wiki/Conjecture_de_De_Polignac>. Acesso em: 19 dez. 2013. em: [11] LOPES, Paulo Afonso. Probabilidades & Estatística. Rio de Janeiro: R&A, 1999. [12] BENTO, Evaldo Junior. Desenvolvimento web com PHP e MySQL. Brumado: Casa do Livro, 2007. [13] MILANI, André. Construindo Aplicações Web com PHP e MySQL. São Paulo: Novatec, 2010. [14] MILANI, André. MySQL - Guia do Programador. São Paulo: Novatec, 2007. [15] OLIVEIRA, Celso Henrique Poderoso de. SQL – Curso Prático. São Paulo: Novatec, 2002. [16] ZERVAAS, Quentin. Aplicações Práticas de Web 2.0 Com Php. Rio de Janeiro: Alta Books, 2012. [17] SOARES, Walace. Php 5 - Conceitos, Programação e Integração com Banco de Dados. São Paulo: Erica, 2004.