André Luiz Külkamp de Souza - Universidade Federal de Pelotas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Programa de Pós-Graduação em Agronomia
Área de Concentração Fruticultura de Clima Temperado
Tese
A clonagem de portaenxertos afeta o comportamento inicial a
campo de plantas de pessegueiro?
André Luiz Külkamp de Souza
Pelotas, janeiro de 2014
ANDRÉ LUIZ KÜLKAMP DE SOUZA
Engenheiro Agrônomo
A clonagem de portaenxertos afeta o comportamento inicial a
campo de plantas de pessegueiro?
Tese apresentada ao Programa de PósGraduação
em
Agronomia
da
Universidade Federal de Pelotas, como
requisito parcial à obtenção do título de
Doutor
em
conhecimento:
Agronomia
(área
Fruticultura
de
Temperado).
Comitê de orientação:
Orientadora: Profª. Drª. Márcia Wulff Schuch
Pelotas, janeiro de 2014
do
Clima
Banca examinadora:
_________________________________________________________________
Márcia Wulff Schuch, Prof. Drª. Universidade Federal de Pelotas (UFPel/FAEM)
_________________________________________________________________
Cláudia Simone Madruga Lima, Extensionista, Drª. Emater/RS-Ascar
_________________________________________________________________
Luis Eduardo Correa Antunes, Pesq. Dr., Embrapa Clima Temperado – Pelotas
_________________________________________________________________
Paulo Celso de Mello Farias, Prof. Dr., Universidade Federal de Pelotas
(UFPel/FAEM)
__________________________________________________________________
Marcelo Barbosa Malgarim, Prof. Dr., Universidade Federal de Pelotas
(UFPel/FAEM)
Agradecimentos
À Universidade Federal de Pelotas e ao Programa de Pós-graduação em
Agronomia, pela oportunidade de realizar o curso.
À orientadora Márcia Wulff Schuch pela sua compreensão, amizade e
confiança.
Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação em Agronomia pela
atenção e ensinamentos dispensados.
Aos amigos e colegas de pós-graduação, em especial Mateus e Juliano, pela
ajuda, convívio e companheirismo.
Aos colegas do Laboratório de Propagação de Plantas Frutíferas, em especial
aos estagiários e bolsistas, pelo apoio na execução dos experimentos.
Um agradecimento especial a Robson Pereira, que auxiliou na condução dos
trabalhos quando me ausentei. Sem sua ajuda, nada disso teria sido possível.
À minha noiva Samila, que acompanhou, incentivou, participou e contribuiu
diretamente na realização deste trabalho. Seu amor e confiança demonstrados
diariamente, me deram força para seguir.
Aos meus pais e irmãos pelo carinho, apoio e atenção, sem os quais seria
impossível concluir mais essa etapa. Em especial ao meu pai, Edson, pelos
ensinamentos passados, disponibilidade e pelo exemplo de vida.
RESUMO
SOUZA, André Luiz Külkamp de. A clonagem de portaenxertos afeta o
comportamento inicial a campo de plantas de pessegueiro? 2014. 99f. Tese
(Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Agronomia. Universidade Federal de
Pelotas, Pelotas – RS.
O uso de miniestacas em sistema semi-hidropônico para a produção de mudas de
pessegueiro, possibilita a utilização de mudas clonadas em um menor espaço de
tempo. No intuito de validar esse sistema como alternativa ao convencional,
realizado por meio da produção do portaenxerto por semente e enxertia da cultivar
copa na primavera, avaliou-se a campo, o comportamento de plantas da cv. Maciel
propagadas de diferentes formas, divididos nesse trabalho em três capítulos. O
primeiro teve como objetivo avaliar o comportamento de mudas de pessegueiros
onde o portaenxerto e a cultivar copa foram clonados, comparados a portaenxertos
oriundos de semente. No segundo capítulo verificou-se se há influência da cultivar
portaenxerto clonada. Já o terceiro, tratou do estudo da melhor época de realização
da borbulhia em portaenxertos oriundos de estaquia. Nos três experimentos testouse a campo o comportamento das plantas em relação as características vegetativas,
produtivas e físico-químicas dos frutos. De acordo com os resultados obtidos,
plantas autoenraizadas apresentaram maior crescimento vegetativo e produção por
planta, tornando essa técnica uma alternativa viável na produção de mudas de
pessegueiro cv. Maciel. Além disso, constatou-se que a utilização de diferentes
portaenxertos não alterou as características produtivas e físico-químicas dos frutos e
ainda, que mudas enxertadas por gema ativa, obtiveram maior diâmetro médio de
tronco e de pernadas, maiores produtividade e qualidade físico-química dos frutos,
comparada às de gema dormente.
.
Palavras-chave: Semi-hidropônico, miniestaquia, autoenraizamento, enxertia.
ABSTRACT
SOUZA, André Luiz Külkamp de. Does rootstock cloning affect the initial field
performance of peach trees? 2014. 99p. Thesis (doctoral)-Graduate Program in
Agronomy. Federal University of Pelotas, Pelotas – RS, Brazil.
The use of minicuttings in a semi-hydroponic system for the production of seedlings
of peach enables the achievement of cloned seedlings in a shorter period of time. In
order to validate this system as an alternative to the conventional system, which is
performed through the production of the rootstock from seed propagation and
grafting the scion in the spring, it was tested the behavior in the field of peach cv.
Maciel propagated in different ways, which are presented in the three chapters of this
document. The objective of the first chapter was to evaluate the behavior of peach
seedlings where the rootstock and scion were cloned as compared to rootstocks
derived from seed. In the second chapter it was tested the influence of the cloned
rootstock cultivar. The third chapter dealt with a study about the best time for
performing bud grafting on the rootstocks obtained from cuttings. In the three
experiments it was tested the field performance of the plants regarding vegetative
and productive traits, as well as fruit quality. According to the obtained results, selfrooted plants showed greater vegetative growth and production per plant, making this
technique a feasible alternative for seedling production of peach cv. Maciel.
Furthermore, it was found that the use of different rootstocks did not affect the
production as well as physicochemical characteristics of fruits. Additionally, seedlings
obtained from vegetative bud grafting had greater average trunk and scaffold
diameter, higher productivity and better physicochemical fruit quality when compared
to dormant bud grafting.
.Key-words: Semi-hidroponic, minicutting, self-rooting, grafting.
Lista de Figuras
Material e Métodos
Figura 1. Sistema radicular da muda pronta para comercialização. Capão do
Leão – RS, 2014.........................................................................................................27
Figura 2. Embalagens plásticas transparentes e articuladas SAMPACK® com
substrato e miniestaca de pessegueiro. Capão do Leão – RS, 2014. Fonte: Zeni
Tomaz, 2010...............................................................................................................28
Figura 3. Sistema semi-hidropônico composto por floreiras plásticas com
areia. Capão do Leão – RS, 2014. Fonte: Zeni Tomaz, 2010....................................29
Figura 4. Sistema radicular da muda pronta para comercialização. Capão do
Leão – RS, 2014. .......................................................................................................30
Figura 5. Sistema radicular da muda pronta para comercialização. Capão do
Leão – RS, 2014. .......................................................................................................31
Figura 6. Sistema radicular da muda pronta para comercialização. Capão do
Leão – RS, 2014. .......................................................................................................32
Figura 7. Sistema radicular da muda pronta para comercialização. Capão do
Leão – RS, 2014. .......................................................................................................33
Figura 8. Mudas de pessegueiro ‘Maciel’ no momento do plantio, no ano de
2011. Capão do Leão – RS, 2014. ............................................................................35
Figura 9. Representação esquemática da forma de condução das plantas e
de coleta de dados para cálculo do volume de copa.................................................36
Capítulo 1
Figura 1. Incremento do diâmetro do tronco (mm) e diâmetro das pernadas
(mm) no período de um ano em plantas de pessegueiro cv. Maciel, propagados de
formas distintas: T1 – ‘Okinawa’ semente + ‘Maciel’; T2 – ‘Okinawa’ clonado +
‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’ autoenraizada. Capão do Leão – RS, 2014. Barras verticais
indicam o valor de DMS (diferença mínima significativa) da última avaliação (p <
0,05, determinado pelo teste de Tukey). ...................................................................47
Figura 2. Incremento no comprimento das pernadas (cm) no período de um
ano em plantas de pessegueiro cv. Maciel, propagados de formas distintas: T1 –
‘Okinawa’ semente + ‘Maciel’; T2 – ‘Okinawa’ clonado + ‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’
autoenraizada. Capão do Leão – RS, 2014. Barras verticais indicam o valor de DMS
(diferença mínima significativa) na última avaliação (p < 0,05, determinado pelo teste
de Tukey)....................................................................................................................48
Figura 3. Produção (Kg.planta-1) nas diferentes colheitas do ano de 2013, em
plantas de pessegueiro cv. Maciel, propagados de formas distintas: T1 – ‘Okinawa’
semente + ‘Maciel’; T2 – ‘Okinawa’ clonado + ‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’ autoenraizada.
Capão do Leão – RS, 2014. Letras minúsculas representam diferenças significativas
com p < 0,05, determinado pelo teste de Tukey. ......................................................51
Capítulo 2
Figura 1. Incremento no diâmetro do tronco e das pernadas (cm) no período
de um ano em plantas de pessegueiro cv. Maciel, propagados de formas distintas:
T1 – ‘Okinawa’ + ‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’ autoenraizada; T3 – ‘Flordaguard’ + ‘Maciel’.
Capão do Leão – RS, 2014. Barras verticais indicam o valor de DMS (diferença
mínima significativa) na última avaliação (p < 0,05, determinado pelo teste de
Tukey).........................................................................................................................63
Figura 2. Incremento no comprimento das pernadas (cm) no período de um
ano em plantas de pessegueiro cv. Maciel, propagados de formas distintas: T1 –
‘Okinawa’ + ‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’ autoenraizada; T3 – ‘Flordaguard’ + ‘Maciel’.
Capão do Leão – RS, 2014. Barras verticais indicam o valor de DMS (diferença
mínima significativa) na última avaliação (p < 0,05, determinado pelo teste de
Tukey).........................................................................................................................64
Figura 3. Produção (Kg.planta-1) nas diferentes colheitas do ano de 2013, em
plantas de pessegueiro cv. Maciel, propagados de formas distintas: T1 – ‘Okinawa’ +
‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’ autoenraizada; T3 – ‘Flordaguard’ + ‘Maciel’. Capão do Leão –
RS, 2014. Letras minúsculas representam diferenças significativas com p < 0,05,
determinado pelo teste de Tukey. .............................................................................67
Capítulo 3
Figura 1. Incremento no diâmetro do tronco e das pernadas (cm) em plantas
de pessegueiro cv. ‘Maciel’ enxertadas por gema ativa (T1) ou gema dormente (T2)
no portaenxerto ‘Flordaguard’. Capão do Leão – RS, 2014. Barras verticais indicam o
valor de DMS (diferença mínima significativa) na última avaliação (p < 0,05,
determinado pelo teste de Tukey). ............................................................................78
Figura 2. Produção (Kg.planta-1) nas diferentes colheitas de 2013, em plantas
de pessegueiro cv. Maciel enxertadas por gema ativa (T1) ou gema dormente (T2)
no portaenxerto ‘Flordaguard’. Capão do Leão – RS, 2014. Letras minúsculas
representam diferenças significativas com p < 0,05, determinado pelo teste de
Tukey..........................................................................................................................80
Lista de Tabelas
Capítulo 1
Tabela 1. Incremento de diâmetro médio de tronco (DMT - mm), diâmetro
médio de pernadas (DMP – mm) e comprimento médio de pernadas (CMP – cm) no
primeiro ano de desenvolvimento a campo, comprimento médio de ramos (CMR –
cm) e massa fresca da poda (MFP – Kg), de pessegueiros ‘Maciel’ propagados de
diferentes formas: T1 – ‘Okinawa’ semente + ‘Maciel’; T2 – ‘Okinawa’ clonado +
‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’ autoenraizada. Capão do Leão – RS, 2014............................46
Tabela 2. Fenologia de pessegueiro cv. Maciel propagados por diferentes
formas: T1 – ‘Okinawa’ semente + ‘Maciel’; T2 – ‘Okinawa’ clonado + ‘Maciel’; T3 –
‘Maciel’ autoenraizada. Capão do Leão – RS, 2014..................................................49
Tabela 3. Produção (Kg.planta-1), produtividade estimada (t.ha-1), massa
fresca dos frutos (MFF - g) e diâmetro (mm) de frutos ‘Maciel’ propagados de
diferentes formas: T1 – ‘Okinawa’ semente + ‘Maciel’; T2 – ‘Okinawa’ clonado +
‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’ autoenraizada. Capão do Leão – RS, 2014............................50
Tabela 4. Sólidos solúveis (SS - oBrix), pH, acidez titulável (AT – meq.100mL1), coloração dos frutos (COR – ΔE) e firmeza de polpa (FP – N) de frutos ‘Maciel’
propagados de diferentes formas: T1 – ‘Okinawa’ semente + ‘Maciel’; T2 – ‘Okinawa’
clonado + ‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’ autoenraizada. Capão do Leão – RS, 2014...........52
Capítulo 2
Tabela 1. Diâmetro médio de tronco (DMT - mm), diâmetro médio de
pernadas (DMP – mm), comprimento médio de pernadas (CMP – cm), comprimento
médio de ramos (CMR – cm), massa fresca da poda (MFP – Kg) e volume de copa
(VC – m3) de pessegueiros ‘Maciel’ propagados de diferentes formas: T1 – ‘Okinawa’
+ ‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’ autoenraizada; T3 – ‘Flordaguard’ + ‘Maciel’. Capão do Leão
– RS, 2014..................................................................................................................62
Tabela 2. Fenologia de pessegueiro cv. Maciel propagados de diferentes
formas: T1 – ‘Okinawa’ + ‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’ autoenraizada; T3 – ‘Flordaguard’ +
‘Maciel’. Capão do Leão – RS, 2014. ........................................................................65
Tabela 3. Produção (Kg.planta-1), produtividade estimada (t.ha-1), massa
fresca dos frutos (MFF - g) e diâmetro (mm) de frutos ‘Maciel’ propagados de
diferentes formas: T1 – ‘Okinawa’ + ‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’ autoenraizada; T3 –
‘Flordaguard’ + ‘Maciel’. Capão do Leão – RS, 2014. ...............................................66
Tabela 4. Sólidos solúveis (SS - oBrix), pH, acidez titulável (AT – meq.100mLcoloração da epiderme (COR – ΔE) e firmeza de polpa (FP – N) de frutos ‘Maciel’
propagados de diferentes formas: T1 – ‘Okinawa’ + ‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’
autoenraizada; T3 – ‘Flordaguard’ + ‘Maciel’. Capão do Leão – RS, 2014................68
1),
Capítulo 3
Tabela 1. Diâmetro médio de tronco (DMT - mm), diâmetro médio de
pernadas (DMP – mm), comprimento médio de pernadas (CMP – cm), comprimento
médio de ramos do ano (CMR – cm) e volume de copa de pessegueiros ‘Maciel’
enxertados por gema ativa (T1) ou gema dormente (T2) no portaenxerto
‘Flordaguard’. Capão do Leão – RS, 2014.................................................................77
Tabela 2. Fenologia de pessegueiros cv. Maciel enxertados por gema ativa
(T1) ou gema dormente (T2) no portaenxerto ‘Flordaguard’. Capão do Leão – RS,
2014. ..........................................................................................................................79
Tabela 3. Produção (Kg.planta-1), produtividade estimada (t.ha-1), massa
fresca (MFF - g) e diâmetro (mm) de frutos no segundo ano após o plantio, de
‘Maciel’, enxertado por gema ativa (T1) ou gema dormente (T2) no portaenxerto
‘Flordaguard’. Capão do Leão – RS, 2014. ...............................................................79
Tabela 4. Sólidos solúveis (SS - oBrix), pH, acidez titulável (AT – meq.100mL1), coloração dos frutos (COR - ΔE) e firmeza de polpa (FP – N) de frutos colhidos no
ano de 2013, da cultivar Maciel enxertada por gema ativa (T1) ou gema dormente
(T2), no portaenxerto ‘Flordaguard’. Capão do Leão – RS, 2014. ...........................81
Sumário
INTRODUÇÃO GERAL ............................................................................................. 13
REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................... 16
MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................................... 25
1. Delineamento experimental ................................................................................... 25
2. Material Vegetal .................................................................................................... 27
3. Implantação do Pomar .......................................................................................... 34
4. Variáveis Analisadas ............................................................................................. 35
5. Divisão dos capítulos ............................................................................................ 38
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 39
Produção de pessegueiro ‘Maciel’ autoenraizado e enxertado em portaenxerto
propagado de diferentes formas................................................................................ 39
Resumo ..................................................................................................................... 39
Abstract ..................................................................................................................... 39
Introdução ................................................................................................................. 40
Material e Métodos .................................................................................................... 42
Resultados e Discussão ............................................................................................ 45
Conclusões................................................................................................................ 52
Referências ............................................................................................................... 53
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 55
Resumo ..................................................................................................................... 55
Abstract ..................................................................................................................... 55
Introdução ................................................................................................................. 56
Material e Métodos .................................................................................................... 58
Resultados e Discussão ............................................................................................ 61
Conclusões................................................................................................................ 68
Referências ............................................................................................................... 69
CAPÍTULO 3 ............................................................................................................. 72
Época de enxertia no desempenho a campo de mudas de pessegueiro ‘Maciel’ ..... 72
Resumo ..................................................................................................................... 72
Abstract ..................................................................................................................... 72
Introdução ................................................................................................................. 73
Material e Métodos .................................................................................................... 74
Resultados e Discussão ............................................................................................ 77
Conclusões................................................................................................................ 81
Referências ............................................................................................................... 81
CONCLUSÕES GERAIS ........................................................................................... 83
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 84
REFERÊNCIAS GERAIS .......................................................................................... 85
APÊNDICES.............................................................................................................. 91
ANEXOS ................................................................................................................... 98
13
INTRODUÇÃO GERAL
A produção mundial de pêssego está em 21,5 milhões de toneladas, sendo os
maiores produtores a China, Itália, Espanha e Estados Unidos, nesta ordem (FAO,
2011). No Brasil, a cultura é importante economicamente, com uma produção total
de 220,7 mil toneladas (IBGE, 2012a), sendo que os frutos podem ser
comercializados in natura ou processados, através de compotas, geleias, sucos,
entre outros.
O Rio Grande do Sul é maior produtor brasileiro, com 13,5 mil hectares de
área plantada e uma produção de 132,7 toneladas, seguido por São Paulo, Minas
Gerais, Paraná e Santa Catarina (IBGE, 2012b). A região Sul do Rio Grande do Sul
caracteriza-se por produzir frutos para indústria, enquanto que as demais regiões
destacam-se no mercado de frutos frescos, sendo o período de oferta iniciado em
setembro, nos locais mais quentes e concluído em fevereiro.
Pelotas – RS é um tradicional produtor de pêssegos em compotas, com área
plantada em 2012 de aproximadamente 3.000 hectares, com receita aproximada de
18,2 milhões de reais e uma produtividade média na ordem de 10,1 toneladas por
hectare, menor que as médias nacional (11,03 t.ha-1) e internacional (13,7 t.ha-1)
(IBGE, 2012a; FAO, 2011).
De acordo com Pereira & Mayer (2005), uma das carências observadas na
cultura do pessegueiro, é a necessidade de novas tecnologias na área de produção
de mudas. Atualmente, a propagação de pessegueiros no país é feita basicamente
por meio da enxertia de borbulhas sobre portaenxertos oriundos de sementes, o que
não é aconselhável, pois com o uso destas, pode haver perda de características
genéticas desejáveis, o que gera plantas distintas da planta matriz. A enxertia
também apresenta inconvenientes, como maior tempo de produção de mudas,
necessidade de mão-de-obra especializada para operação e maiores custos de
produção.
14
Como alternativa à propagação por sementes, existe a propagação
vegetativa, pelo método de estaquia, que proporciona a manutenção das
características genéticas, redução da fase juvenil e obtenção de plantas uniformes
(YAMAZOE & VILAS BOAS, 2003), porém, para a cultura do pessegueiro este
método nem sempre é viável, pois de maneira geral, as cultivares apresentam baixo
potencial de enraizamento, principalmente quando realizada com estacas lenhosas
(HOFFMANN et al., 2003).
A dificuldade de enraizamento é atenuada quando realizada a estaquia semilenhosa ou herbácea, em casa de vegetação, com sistema de nebulização
constante, controle da temperatura e, principalmente, da umidade relativa. Com essa
técnica, atinge-se, em alguns casos, mais de 75% de enraizamento (TIMM, 2011).
Após o enraizamento, a estaca precisa de condições adequadas para o seu
crescimento, visando que esteja adaptada e acondicionada para atingir diâmetro
suficiente para posterior, realização da enxertia.
Com isso, novas técnicas são necessárias no processo de produção de
mudas de pessegueiro, que proporcionem maiores índices de sobrevivência e maior
crescimento vegetativo, possibilitando assim, obtenção de um número mais elevado
de mudas e em menor espaço de tempo. De acordo com Tomaz (2013), o sistema
de cultivo semi-hidropônico é uma alternativa ao método tradicional e permite que as
plantas tenham um desenvolvimento acelerado, com redução do tempo de obtenção
de portaenxertos clonais. Esta técnica consiste na utilização de miniestacas em
substrato, seguida de crescimento em um sistema fora do solo, por meio do uso de
areia como substrato e solução nutritiva específica para a cultura.
Como esse tipo de cultivo é recente para a cultura do pessegueiro, não há
informações sobre o comportamento destas mudas quando estabelecidas em
pomares, sendo assim, o seu desempenho a campo, principalmente logo após o
plantio, pode limitar ou maximizar o potencial produtivo da cultivar. No caso do
pessegueiro, apesar de inúmeros trabalhos de pesquisa terem sido realizados com
estacas de portaenxertos e de cultivares copa, esse método de propagação ainda
não tem sido adotado comercialmente no Brasil, em função da falta de
conhecimentos necessários para viabilizá-lo, dentre os quais, o comportamento no
campo de cultivares propagadas por estaquia e sua ancoragem (MAYER et al.,
2007).
15
Neste sentido, as hipóteses deste trabalho são que as mudas com
portaenxertos obtidos por estaquia, crescido no sistema semi-hidropônico, quando
transplantadas no campo apresentam comportamento diferenciado em relação à
propagação convencional. Além disso, que as mudas de pessegueiro de cultivares
copa autoenraizadas têm bom desenvolvimento vegetativo pós-plantio, tornando-se
uma boa opção aos viveristas e produtores.
De forma geral, nesse trabalho objetivou-se avaliar o comportamento a campo
do pessegueiro ‘Maciel’ plantado com mudas produzidas de diferentes formas, a fim
de indicar ao setor produtivo opções alternativas ao sistema convencional.
16
REVISÃO DE LITERATURA
O pessegueiro (Prunus persica (L.) Batsch) é uma frutífera de clima
temperado pertencente à família Rosaceae, que tem como centro de origem a
China, onde se encontra em maior diversidade.
A cultura é propagada comercialmente por enxertia (FACHINELLO et al.,
2005), sendo que o portaenxerto utilizado deve adaptar-se às exigências
edafoclimáticas do local de plantio; e também, auxiliar a cultivar-copa a produzir
frutos de alta qualidade para o consumo in natura ou para a indústria (ROCHA et al.,
2007).
O portaenxerto, em escala comercial, é produzido de forma sexuada, com o
uso de caroços oriundos da indústria de conserva. As principais limitações do uso de
sementes são a alta juvenilidade, o vigor elevado e a variabilidade genética, que
associada a ocorrência de polinização cruzada em pessegueiro, proporcionam um
crescimento desuniforme nas plantas. Neste sentido, se faz necessário o uso da
enxertia visando manter as características genéticas de determinada cultivar, evitar
problemas de juvenilidade e permitir que o enxerto obtenha os benefícios do
portaenxerto.
A cultivar Okinawa, é um dos principais portaenxertos utilizados na produção
de mudas de pessegueiro no país (MAYER et al., 2003; REIS et al., 2010). Nos
estados do Paraná e Rio Grande do Sul, este portaenxerto se destaca devido às
características de resistência ou tolerância aos fitonematóides de galhas, além de
ser pouco exigente em frio hibernal (FINARDI, 1998).
Originária do Japão, esta cultivar foi levada para os Estados Unidos em 1953,
onde foi selecionada como portaenxerto de sementes pelo Programa de
Melhoramento Genético da Universidade da Flórida, apresentando exigência de frio
estimado em 100 horas, com ciclo de 120 dias entre floração e maturação
(MEDEIROS et al., 2005). É resistente aos fitonematóides Meloidogyne incognita e
17
M. javanica (FACHINELLO et al., 2000). Entretanto, uma desvantagem desse
portaenxerto é a produção de caroços com sementes duplas, sendo necessária a
quebra dos mesmos para permitir melhor emergência das plântulas, o que
caracteriza em uma maior necessidade de mão-de-obra no preparo das sementes e
consequentemente, maior tempo na execução das tarefas.
Essa cultivar apresenta baixo percentual de germinação de sementes devido
à alta necessidade em frio para a superação da dormência e às maiores
concentrações de inibidores da germinação no tegumento de sua semente, em
relação às demais (PICOLOTTO et al., 2007a). Além disso, estudos demonstram
que quando utilizado com a cultivar Maciel, apresenta maior potencial na produção
de mudas de pessegueiro em embalagens (PICOLOTTO et al., 2007b) e combinado
com outras cultivares, apresenta alto vigor vegetativo, boa capacidade produtiva e
qualidade dos frutos (PICOLOTTO et al., 2009).
Outra cultivar importante usada como portaenxerto da cultura, é a
Flordaguard, que foi lançada pela Universidade da Flórida em 1991 e é originária de
cruzamento entre Prunus persica e P. davidiana. Sua necessidade em frio é
estimada em 300 horas e é resistente a nematóides de galhas como Meloidogyne
incognita, M. javanica e M. floridensis (FERGUSON & CHAPARRO, 2007).
Apresenta folhas avermelhadas, ramos com hábito de crescimento tipo chorão,
caroços com apenas uma semente e alta taxa de germinação (SHERMAN et al.,
1991; EMBRAPA, 2005).
Nos viveiros do Sul do Brasil, a semeadura dos caroços é feita diretamente no
campo, em linhas, no local do viveiro. Esta prática obriga a venda das mudas em
raiz nua durante o período de inverno, enquanto está em dormência, diminuindo o
estresse provocado pelo arranquio e transplante. De acordo com Finardi (1998), os
caroços devem ser plantados entre os meses de abril e maio, para que as plantas
estejam aptas à enxertia em novembro/dezembro, levando assim até oito meses
para serem enxertadas.
O uso de sementes e a época de semeadura decorrem da época da
maturação dos frutos e da capacidade germinativa das mesmas. Na cultura do
pessegueiro, as sementes não podem ser semeadas logo após a colheita dos frutos,
pois necessitam de um período de repouso para germinarem (estratificação),
superando-se a dormência e favorecendo a maturação fisiológica (FACHINELLO et
al., 2008). A estratificação é o tratamento a que se submetem as sementes durante
18
o armazenamento, sem que se perca o poder germinativo e é feita com o objetivo de
acelerar a maturação das mesmas, favorecendo a germinação daquelas que têm o
tegumento espesso e relativamente impermeável. Os caroços de pêssego
estratificados devem permanecer em locais frescos, enterrados ou em câmaras frias,
a temperaturas que variam de 0° a 10°C, por um período 30 a 100 dias
(FACHINELLO et al., 2008).
Os caroços utilizados são de cultivares tardias, com poder germinativo muito
variável e com misturas varietais. Como inconveniente da propagação por
sementes, tem-se a segregação genética, responsável pela geração de indivíduos
diferentes da planta mãe, pondo em risco características agronômicas desejáveis e
podendo ser responsável pela diferença de vigor das plantas no pomar (RUFATO &
KERSTEN, 2000). Beckman & Lang (2003), afirmam que essa forma de propagação
contribui para a desuniformidade dos pomares, pelo fato do pessegueiro apresentar
polinização cruzada de 2 a 6% e assim, o uso de portaenxertos obtidos por
sementes pode ser considerado como uma importante limitação à uniformidade dos
pomares.
Na região de Pelotas esse problema se agrava devido à existência de
indústrias de conserva, fazendo com que haja grande disponibilidade de caroços e
menores preços pagos pelo fruto destinado a indústria. A mistura varietal dos
caroços impede a identificação do portaenxerto que formará as mudas, o que não é
adequado, já que compromete a qualidade dos mesmos, pois estas variedades
dever ser selecionadas em função das características produtivas e de qualidade dos
frutos, e não para a função portaenxerto (MAYER & ANTUNES, 2010).
Além disso, o uso de sementes na obtenção de mudas de pessegueiro
inviabiliza um programa de certificação de mudas, já que este exige o conhecimento
da origem genética, tanto do enxerto, quanto do portaenxerto (MIRANDA et al.,
2004). A propagação assexuada possibilita a melhoria da qualidade e uniformidade
do viveiro e do pomar, além de proporcionar maior segurança, tanto ao produtor
quanto ao consumidor, das etapas de processo produção das mudas.
As plantas oriundas de sementes são mais vigorosas, apresentam maior
longevidade, sistema radicular pivotante, vigoroso e profundo e maior espaço de
tempo até a entrada em produção, devido ao seu maior período de juvenilidade
(HOFFMANN et al., 2003).
19
A juvenilidade é a fase em que a planta não responde aos estímulos
indutores de florescimento e é marcada pela ausência de produção e elevado vigor
(WENDLING & XAVIER, 2001). Uma ferramenta utilizada para adiantar o período de
produção de frutos e superar a juvenilidade é a enxertia, pois essa técnica mantém a
capacidade de floração pré-existente na planta mãe, que já superou o período
juvenil.
Com o uso da enxertia é possível combinar em uma mesma planta
características produtivas de uma cultivar com as do sistema radicular de outra,
como por exemplo, tolerância a pragas e doenças.
De acordo com Rouphael et al. (2010), no passado, a enxertia era realizada
apenas para auxiliar a cultivar copa em problemas relacionados com patógenos de
solo, mas, na verdade, esta técnica pode ser usada também, para induzir resistência
a altas ou baixas temperaturas (VENEMA et al., 2008), aumentar a absorção de
nutrientes (COLLA et al., 2010a), aumentar a síntese de hormônios endógenos
(DONG et al., 2008), aumentar a eficiência no uso da água (ROUPHAEL et al.,
2008), aumentar tolerância a solos alcalinos (COLLA et al., 2010b) e elevar a
tolerância a salinidade (HE et al., 2009).
De acordo com Medeiros et al. (2005), o principal método de enxertia
realizado é a borbulhia de gema ativa, sendo que a borbulhia de gema dormente e a
garfagem são adotadas somente em casos especiais, como por exemplo, quando se
visa o aproveitamento de material. A borbulhia de gema ativa é realizada entre fim
de novembro e meados de dezembro, permitindo a produção da muda em,
aproximadamente, oito meses após a enxertia; enquanto que a enxertia de gema
dormente é realizada no outono, porém o tempo de produção torna-se mais longo
(aproximadamente 15 meses) (MEDEIROS et al., 2002).
Mesmo assim, a enxertia apresenta inconvenientes, como o demorado tempo
de produção das mudas e necessidade de mão-de-obra especializada para
operação, além de problemas como incompatibilidade entre enxerto e portaenxerto.
Como alternativa à propagação de portaenxertos por semente, utiliza-se a
estaquia, tendo como principais vantagens a facilidade de realização, rapidez na
produção da muda e a possibilidade de maior uniformidade entre as plantas no
pomar, entretanto, a principal limitação ao emprego comercial dessa técnica é a
baixa capacidade de enraizamento da maioria dos cultivares de pessegueiro
(CHALFUN & HOFFMANN, 1997; MURATA et al., 2002).
20
O processo de formação de raízes em estacas de plantas frutíferas é afetado
por um grande número de fatores, que podem atuar isoladamente ou em conjunto.
Entre os principais destacam-se: a variabilidade genética, a condição fisiológica da
planta matriz, a idade da planta, o tipo da estaca, a época do ano, as condições
ambientais e o substrato (NACHTIGAL & PEREIRA, 2000).
A
estaquia
apresenta
como
principais
vantagens
a
ausência
de
incompatibilidade entre o enxerto e o portaenxerto e, além disso, possibilita a
obtenção de mudas com maior uniformidade do que plantas enxertadas sobre
mudas oriundas de sementes, provenientes de caroços de indústrias conserveiras.
Esta técnica pode ser subdividida em diferentes técnicas, conforme a época
de coleta: estaquia lenhosa, onde propágulos são obtidos no período de dormência
(inverno); estaquia semi-lenhosa, onde são obtidos no final do verão e início do
outono; e estaquia herbácea, quando são obtidos na fase de crescimento vegetativo
(primavera/verão) (FACHINELLO et al., 2005). As estacas herbáceas são aquelas
com folhas e tecidos ainda não lignificados, com alta atividade meristemática e baixo
grau de lignificação, no entanto, apresentam baixa resistência à desidratação,
devido a sua consistência tenra. Estacas lenhosas são altamente lignificadas e
apresentam maior capacidade de sobrevivência, entretanto, possuem baixa
capacidade meristemática e portanto, menores taxas de enraizamento. Já as
estacas semi-lenhosas apresentam consistência intermediária entre as duas
anteriores, sendo obtidas no final do verão e início do outono (XAVIER et al., 2009).
Para a grande maioria das plantas, as estacas herbáceas enraízam com mais
facilidade do que estacas lenhosas da mesma espécie (AGUIAR et al., 2005).
A técnica da miniestaquia se diferencia da estaquia convencional pelo
tamanho dos propágulos, que medem entre três e cinco centímetros de
comprimento e apresentam de um a três pares de folhas. Esta
é considerada
promissora na produção de mudas clonais e tem sido utilizada com êxito no Brasil
em espécies florestais (WENDLING et al., 2000; ALCÂNTARA et al., 2007) e tem
sido testada em frutíferas (PIO et al., 2002; MARINHO et al., 2009). Com esta
técnica, há um melhor aproveitamento do material vegetal, necessitando de pouco
espaço físico, menor quantidade de substrato, maior rendimento por planta matriz,
tornando-se possível maximizar a qualidade e a uniformidade das mudas
produzidas, devido a um melhor enraizamento das estacas quando comparado com
a estaquia convencional (SANTOS et al., 2000).
21
Diversos trabalhos (OLIVEIRA et al., 2003; TOFANELLI et al., 2005; RIBAS et
al., 2007) têm sido realizados no intuito de viabilizar a estaquia de pessegueiro no
Brasil, mas até então, com resultados variáveis. O setor produtivo ainda não aderiu
a esta técnica, pois apesar de promissora, seus resultados são muito variáveis. São
escassos os estudos que avaliem como estas plantas, oriundas da estaquia, se
comportarão no campo, para dar respaldo aos viveiristas.
A propagação do pessegueiro por meio de estacas pode ser realizada tanto
para portaenxertos, quanto para cultivares copa. Para essa cultura, ao contrário da
macieira, temos uma enorme diversidade de cultivares que podem ser utilizadas
como portaenxertos, sendo o seu desempenho bastante variável, conforme o ano de
cultivo e a cultivar copa escolhida (ROCHA et al., 2007; PICOLOTTO et al., 2009;
SCHMITZ, 2011), sendo extremamente difícil a escolha da melhor opção, já que
exige conhecimento específico do comportamento bioagronômico de cada um
desses (LORETI, 2008).
Sendo assim, a forma com que as plantas são produzidas influencia no seu
desempenho a campo, principalmente nos primeiros anos após o plantio, o que
pode limitar ou maximizar o potencial produtivo da cultivar.
Pessegueiros
autoenraizados
apresentam
como
características
alta
capacidade de absorção dos nutrientes do solo, grande uniformidade no
crescimento de ramos e eliminação na possibilidade de morte de planta devido à
incompatibilidade enxerto/portaenxerto (COUVILLON, 1985).
Ao utilizar a técnica de estaquia, a função de adiantamento na entrada em
produção da muda, proporcionada pela enxertia em portaenxertos propagados por
semente, passa a ser irrelevante, possibilitando a produção de mudas por meio do
autoenraizamento das cultivares copas, com redução no custo de produção,
eliminação de problemas de incompatibilidade e aumento na uniformidade do
pomar.
O grande entrave para o uso desta técnica está no crescimento lento das
mudas após o enraizamento das estacas, já que o pessegueiro apresenta
dificuldade de formar raízes adventícias quando usados métodos convencionais de
estaquia, variando conforme a cultivar, hábito de crescimento, idade da planta
matriz, época de coleta, tamanho e diâmetro das estacas (OLIVEIRA et al., 2003;
TSIPOURIDIS et al., 2005; TSIPOURIDIS et al., 2006; TWORKOSKI & TAKEDA,
2007).
22
Neste sentido, recentemente, o Laboratório de Propagação de Plantas
Frutíferas da Universidade Federal de Pelotas tem desenvolvido um sistema de
produção de mudas de frutíferas, por meio da estaquia de portaenxertos e cultivares
copa, em sistema semi-hidropônico (SCHUCH & PEIL, 2011).
Este sistema consiste no enraizamento das miniestacas em substrato
adequado, em casa de vegetação, seguido do crescimento em floreiras contendo
areia, onde diariamente se adiciona solução nutritiva previamente estipulada para
cada cultura.
Isso é justificado pelo fato da produção de mudas em embalagens com
substrato proporcionar maior qualidade, quando comparada às mudas obtidas de
raiz nua, como no caso de sementes. Apresenta rápido crescimento no viveiro,
melhor controle de adubação e de formigas, ausência de nematóides (substratos
estéreis), desenvolvimento inicial mais rápido e maior pegamento no campo
(PICOLOTTO et al., 2007b). Além disso, otimiza o espaço destinado ao viveiro,
facilita a realização de tratos culturais e enxertia, facilita a irrigação e
comercialização das mudas e dispensa o uso de herbicidas ou capinas, pois as
mudas já se encontram embaladas, dispensando as operações de arranquio, poda
de raízes, formação de feixes e embalagem, possibilitando a venda em qualquer
época do ano (MAYER & ANTUNES, 2010).
O cultivo em casa de vegetação possibilita vantagens como aumento da
qualidade do produto, precocidade obtida por condições ambientais internas mais
adequadas, menor lixiviação de nutrientes do solo, melhor controle de pragas e
doenças e manejo de água, além de proteção contra adversidades climáticas
(OLIVEIRA, 1997). A antecipação da produção de mudas produzidas em casa de
vegetação possibilita maior produtividade do viveiro, maior rotatividade no uso da
infraestrutura montada e aumento da eficiência de utilização da mão-de-obra
especializada (REIS et al., 2010).
Reis et al. (2010) ao testarem diferentes ambientes na produção de mudas de
pessegueiro, constaram que a estufa plástica foi o ambiente que fez com que as
plantas atingissem o ponto ideal para a enxertia com maior rapidez (179,37 dias) do
que em ambientes a campo aberto (254 dias) e telado (268 dias).
De acordo com Resh (1997), a hidroponia é uma técnica de cultivo protegido
na qual o solo é substituído por uma solução aquosa contendo os elementos
minerais essenciais aos vegetais, podendo ser auxiliada pelo uso de substratos
23
inertes. Essa técnica possibilita a padronização da cultura, uso racional de água,
eficiência do uso de fertilizantes, melhor controle do crescimento vegetativo, maior
rendimento e qualidade da produção, havendo também uma independência em
relação às condições do solo. Entretanto, o sucesso deste tipo de cultivo depende
da adequada formulação da solução nutritiva, para que a mesma forneça todos os
nutrientes necessários à cultura na dose correta, para que não haja deficiência, nem
toxidez.
O cultivo hidropônico pode ser composto por diferentes técnicas, como o
sistema NFT (“nutrient film technique”) ou técnica do fluxo laminar de nutrientes, o
sistema DFT (“deep film technique”) ou cultivo na água ou “floating” e o sistema com
substratos. Este último consiste em recipientes preenchidos com substratos como
casca de pinus, fibra de coco, areia, argila expandida, pedras, vermiculita e outros
(SOARES, 2002), que servem como sustentação da planta.
A produção de mudas por meio de sistemas hidropônicos é amplamente
empregada quando se objetiva a produção das plantas neste sistema (MARTINEZ &
SILVA FILHO, 2004). No entanto, a transferência destas plantas para que produzam
em um meio não hidropônico, é um processo novo e com grande potencialidade em
seu uso.
Souza et al. (2011), em trabalho realizado com pessegueiro em sistema
hidropônico, com o uso da técnica de “floating”, avaliaram o tempo de germinação
do caroço, crescimento vegetativo de portaenxertos e a viabilidade da produção de
mudas enxertadas neste sistema. O mesmo mostrou-se viável na produção de
mudas enxertadas de pessegueiro, já que as plantas tiveram rápido e vigoroso
crescimento vegetativo, atingindo, em média, 78 cm de altura e 5,7 mm de diâmetro,
após 90 dias no “floating”. As mudas do portaenxerto ‘Okinawa’ atingiram o ponto de
repicagem e ponto de enxertia aos 30 e 61 dias, respectivamente, após
transferência para solução nutritiva. Cerca de 13% dos indivíduos se apresentaram
anormais, com segregação genética indesejável para fins de formação de mudas
vigorosas de pessegueiro. Foi realizada enxertia pelo método de borbulhia em “T”
invertido, utilizando como copa a cultivar Aurora, com índice de pegamento de
100%, sendo que o enxerto atingiu 47,53 cm de altura, estando pronto para
comercialização, aos 116 dias após transferência para solução nutritiva.
O sistema de produção semi-hidropônico com o uso de substrato inerte, está
sendo testado na cultura do pessegueiro com sucesso para a cultivar copa Maciel
24
autoenraizada e enxertada sobre os portaenxertos ‘Okinawa’ e ‘Flordaguard’,
demonstrando taxas superiores a 70 e 80% de sobrevivência e enraizamento das
estacas, respectivamente (TOMAZ, 2013). De acordo com a mesma autora, estacas
obtidas no outono (semi-lenhosa) atingiram valores superiores a 1,0 metro de
comprimento em 190 dias utilizando como substrato areia média; enquanto que
estacas obtidas na primavera (herbácea), 0,60 metros em 120 dias. Em
contrapartida, trabalhando com a formação de mudas de pessegueiro a partir de
caroços em embalagem, Picolotto et al. (2007b), observaram para ‘Okinawa’
comprimento médio entre 38,25 cm aos 180 dias após o início da emergência,
valores inferiores aos encontrados com o uso do sistema semi-hidropônico.
Esta técnica proporcionou também, para os portaenxertos ‘Okinawa’ e
‘Flordaguard’, que a muda atinja de forma precoce diâmetro adequado para a
realização da enxertia, com diâmetro de 4,5 mm, adequado para enxertia, em 140
dias para miniestacas semi-lenhosas obtidas no outono e 90 dias para portaenxertos
obtidos de estacas herbáceas durante a primavera (TOMAZ, 2013).
Após a realização da enxertia de gema ativa, as plantas da cultivar Maciel
atingiram 40 cm de comprimento, considerada muda comercialmente pronta, em 55
dias para o portaenxerto ‘Okinawa’ e 65 dias para ‘Flordaguard’ (TOMAZ, 2013).
Com produção da muda em estufa plástica sem o uso da semi-hidroponia, Reis et
al. (2010), obtiveram mudas de pessegueiro ‘Diamante’ enxertadas sobre ‘Okinawa’
com o mesmo tamanho no dobro do tempo.
Apesar de terem sido realizadas diversas pesquisas sobre enraizamento
adventício em portaenxertos e cultivares-copa de pessegueiro, a formação de
pomares comerciais com este método de propagação ainda não é utilizado no
Brasil, especialmente por exigir maiores conhecimentos técnicos e pela falta de
informações sobre o comportamento no campo de plantas assim propagadas
(PEREIRA & MAYER, 2005).
A reposta a campo de mudas oriundas de diferentes métodos de propagação
tem sido motivo de estudo em diversas frutíferas, entre elas a oliveira (BATI et al.,
2006), o mirtileiro (SOUZA et al., 2012) e a bananeira (ÁLVARES & CALDAS, 2002).
Em pessegueiro, o comportamento a campo tem se demonstrado distinto entre
cultivares e locais de realização dos experimentos (MARÍN et al. (2003);
HAMMERSCHLANG & SCORZA, 1991).
25
A influência dos portaenxertos não ocorre somente no crescimento e
desenvolvimento, mas também na qualidade do fruto (GIORGI et al., 2005). As
características pós-colheita dos frutos estão intimamente ligadas à escolha do
portaenxerto, da cultivar copa e do manejo adotado na implantação e na condução
do pomar (MATHIAS et al., 2008). O portaenxerto exerce influência nos aspectos
físicos e composição química dos frutos, promovendo alterações na altura, diâmetro,
coloração, teores de sólidos solúveis e de acidez titulável (FORNER-GINER et al.,
2003; AL-JALEEL et al., 2005; PEREZ-PEREZ et al., 2005). O grau de excelência de
um produto, bem como a sua aceitação pelo consumidor, está relacionado aos seus
atributos de qualidade que, em frutos e hortaliças in natura, engloba a aparência, os
atributos sensoriais, o valor nutritivo, os constituintes químicos e as propriedades
funcionais (KADER, 2002).
Devido à semi-hidroponia ser uma técnica inovadora no que diz respeito à
produção de mudas de espécies lenhosas, para se tornar uma opção para o setor
produtivo,
é
fundamental
o
acompanhamento
destas
plantas
depois
de
transplantadas a campo, avaliando-se as suas características agronômicas e a
qualidade pós-colheita dos frutos.
Diante deste contexto, propõem-se verificar o desempenho a campo de
pessegueiros, propagados de diferentes formas, com ou sem portaenxerto, a fim de
se avaliar características de vigor, produção e qualidade pós-colheita dos frutos cv.
Maciel.
MATERIAL E MÉTODOS
1. Delineamento experimental
O experimento foi realizado na Fazenda Agropecuária da Palma, pertencente
à Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, da Universidade Federal de Pelotas,
apresentando latitude 31°48'12.48" S e longitude 52°30'34.08" O, localizada no
município de Capão do Leão – RS.
Segundo classificação de Köppen, a cidade de Pelotas apresenta clima do
tipo Cfa, com temperatura média anual de 17,8 °C, umidade relativa média anual de
80,7%,
precipitação
pluviométrica
média
anual
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, 2014).
de
1366,9
milímetros
26
As mudas foram plantadas seguindo o delineamento de casualização por
blocos, devido à desuniformidade de cotas existente na área. O único fator de
tratamento é o sistema de produção de mudas (monofatorial), tendo quatro
repetições, sendo cada uma constituída de três plantas.
Este trabalho foi subdividido em três experimentos distintos, que serão
apresentados em capítulos à parte, sendo cada um constituído pelos diferentes
materiais vegetais, nos quais estão caracterizados a seguir.
EXPERIMENTO 1
T1 - Plantas obtidas por meio de enxertia de gema ativa da cultivar copa
Maciel sobre o portaenxerto ‘Okinawa’, produzido por semente, pelo sistema
convencional.
T2 - Plantas obtidas por meio de enxertia de gema ativa da cultivar copa
Maciel sobre o portaenxerto ‘Okinawa’, produzido por miniestaquia em sistema semihidropônico.
T3 - Plantas obtidas por meio de autoenraizamento da cultivar copa Maciel
em sistema semi-hidropônico.
EXPERIMENTO 2
T1 - Plantas obtidas por meio de enxertia de gema ativa da cultivar copa
Maciel sobre o portaenxerto ‘Okinawa’, produzido por miniestaquia em sistema semihidropônico.
T2 - Plantas obtidas por meio de autoenraizamento da cultivar copa Maciel
em sistema semi-hidropônico.
T3 - Plantas obtidas por meio de enxertia de gema ativa da cultivar copa
Maciel sobre o portaenxerto ‘Flordaguard‘, produzido por miniestaquia em sistema
semi-hidropônico.
EXPERIMENTO 3
T1 - Plantas obtidas por meio de enxertia de gema ativa da cultivar copa
Maciel sobre o portaenxerto ‘Flordaguard‘, produzido por miniestaquia em sistema
semi-hidropônico.
27
T2 - Plantas obtidas por meio de enxertia de gema dormente da cultivar copa
Maciel sobre o portaenxerto ‘Flordaguard‘, produzido por miniestaquia em sistema
semi-hidropônico.
Em cada experimento, os dados foram submetidos à análise de variância e as
médias dos tratamentos comparadas estatisticamente pelo teste de Tukey em nível
de 5% de probabilidade de erro.
2. Material Vegetal
- Plantas obtidas por meio de enxertia de gema ativa da cultivar copa Maciel sobre o
portaenxerto ‘Okinawa’, produzido por semente (Sistema convencional)
As mudas (Figura 1) foram propagadas da forma convencional e foram
adquiridas em um viveiro comercial localizado no município de Pelotas – RS. Os
portaenxertos foram obtidos através de sementes oriundas de frutos das plantas
matrizes da própria empresa, semeadas em embalagens com substrato (casca de
pinus) após passarem por um período de estratificação a frio. Quando os
portaenxertos apresentaram cerca de 4,5 mm de espessura, realizou-se enxertia de
gema ativa. Através da técnica de borbulhia em “T” invertido, justapôs-se uma
pequena porção da casca da cultivar copa contendo apenas uma gema, na incisão
realizada no portaenxerto escolhido.
Figura 1. Sistema radicular da muda pronta para
comercialização. Capão do Leão – RS, 2014.
28
- Planta obtida por meio de enxertia de gema ativa da cultivar copa Maciel sobre o
portaenxerto ‘Okinawa’, produzido por miniestaquia (Sistema Semi-hidropônico)
Em março de 2010 (outono), em casa de vegetação, preparou-se miniestacas
semi-lenhosas da cultivar Okinawa contendo duas gemas e uma folha cortada ao
meio. Com o auxílio de um canivete, realizou-se lesão superficial na base da estaca
e, posteriormente, imersão por 5 segundos em solução de 2000 mg.L -1 de ácido
indolbutírico. A seguir foram acondicionadas em embalagens plásticas transparentes
e articuladas SAMPACK® (10 x 13 x 20 cm) (Figura 2), com perfurações no seu
fundo para evitar acúmulo de água. O substrato utilizado foi vermiculita média e
areia autoclavada (1:1 v/v), previamente umedecidas com água, mantidas em casa
de vegetação à 25 °C por 45 a 60 dias, após esse período, as estacas foram
transplantadas para os sistemas de produção. Durante o enraizamento, sempre que
necessário, procedeu-se borrifamento com água, deixando-se as caixas fechadas
para evitar a desidratação. Semanalmente aplicou-se fungicida Captan (3 g.L-1 do
produto comercial a 50% de ingrediente ativo (i.a.) em água).
Figura 2. Embalagens plásticas transparentes e
articuladas SAMPACK® com substrato e miniestaca de
pessegueiro. Capão do Leão – RS, 2014. Fonte: Zeni
Tomaz, 2010.
Depois de enraizadas, as estacas foram transferidas para um sistema semihidropônico, em estufa, constituído de floreiras plásticas (80 cm x 20 cm) (Figura 3).
No interior destas, foram colocadas uma camada de 5 cm de brita para facilitar a
drenagem, uma tela de sombreamento entre a brita e a areia e uma camada de
29
areia média. Durante a produção e desenvolvimento das mudas, diariamente,
realizou-se a irrigação das floreiras com solução nutritiva definida por Schuch & Peil
(2011), conforme as necessidades da cultura. A reposição de nutrientes na solução
nutritiva do reservatório foi efetuada através do monitoramento da condutividade
elétrica, pela adição de soluções estoque de macro e micronutrientes, e o pH
mantido entre 5,5 e 6,5. A solução nutritiva foi monitorada através das medidas de
condutividade elétrica (empregando-se um eletrocondutivímetro digital) e de pH
(utilizando-se um pHmetro digital).
Figura 3. Sistema semi-hidropônico composto por
floreiras plásticas com areia. Capão do Leão – RS, 2014.
Fonte: Zeni Tomaz, 2010.
Para o preparo das soluções nutritivas, os fertilizantes foram pesados
conforme a formulação indicada e em seguida, diluídos, separadamente, e então
adicionados ao reservatório já contendo água. Após a diluição, o volume do
reservatório foi completo com água, até atingir 400 litros, realizando-se, em seguida,
a completa homogeneização da solução nutritiva.
Após as mudas atingirem diâmetro adequado de 4,5 mm, a enxertia de gema
ativa foi realizada pelo método de borbulhia em “T” invertido, entre 10 a 15 cm do
colo da muda, no período da manhã, usando uma fita plástica transparente, para
permitir melhor aderência da borbulha, e após, realizou-se quebra parcial do
portaenxerto, para estimular a brotação do enxerto. Foram enxertadas borbulhas da
cultivar Maciel oriundas da Embrapa Clima Temperado, Pelotas – RS. Aos 30 dias
após a enxertia, foi retirada a fita plástica do enxerto e, em seguida, foi realizado o
30
corte em bisel (5 cm acima do ponto de enxertia) dos portaenxertos e, aos 60 dias, a
eliminação completa da parte aérea dos portaenxertos, com corte rente ao ponto de
emissão do enxerto. As plantas enxertadas permaneceram no sistema de cultivo
sem solo, sendo conduzidas em haste única e tutoradas para um crescimento
vertical e reto até atingirem 40 cm de comprimento (muda comercialmente pronta –
Figura 4).
Figura 4. Sistema radicular da muda pronta para
comercialização. Capão do Leão – RS, 2014.
Durante o período de produção dos portaenxertos, os mesmos foram
mantidos em estufa e o manejo desta foi efetuado apenas por ventilação natural,
mediante abertura diária das janelas laterais entre os horários das 8h às 17h. Em
dias que ocorreram baixas temperaturas, ventos, chuvas fortes e/ou alta umidade
relativa do ambiente externo, a estufa ficava total ou parcialmente fechada,
dependendo das condições climáticas.
- Planta obtida por meio de autoenraizamento da cultivar copa Maciel (Sistema
Semi-hidropônico)
Os ramos utilizados para a realização da miniestaquia clonal foram obtidos de
plantas matrizes da Embrapa Clima Temperado, Pelotas – RS. Em dezembro de
2010, durante o período de primavera, foi realizado o enraizamento do material,
conforme citado no tratamento acima.
Após 60 dias em casa de vegetação (fevereiro) as estacas foram transferidas
para o sistema semi-hidropônico, em estufa, para o crescimento das mesmas.
31
Durante a produção e desenvolvimento das mudas, diariamente, realizou-se a
irrigação das floreiras com solução nutritiva definida por Schuch & Peil (2011),
conforme as necessidades da cultura. Foi realizado o monitoramento do pH e
condutividade elétrica, como citado anteriormente. Ao contrário dos outros
tratamentos, não foi realizada enxertia, já que a cultivar copa Maciel foi
autoenraizada (Figura 5).
Figura 5. Sistema radicular da muda pronta
comercialização. Capão do Leão – RS, 2014.
para
- Planta obtida por meio de enxertia de gema ativa da cultivar copa Maciel sobre o
portaenxerto ‘Flordaguard’, produzido por miniestaquia (Sistema semi-hidropônico)
Em março de 2010 (outono), em casa de vegetação preparou-se miniestacas
semi-lenhosas da cultivar Flordaguard contendo duas gemas e uma folha cortada ao
meio. O enraizamento foi realizado por um período de 60 dias, sob as mesmas
condições dos tratamentos anteriores.
Depois de enraizadas, em maio de 2010, as estacas foram transferidas para
um sistema semi-hidropônico, em estufa, constituído de floreiras plásticas com areia
média. Durante a produção e desenvolvimento das mudas, diariamente, realizou-se
a irrigação das floreiras com solução nutritiva definida por Schuch & Peil (2011),
conforme as necessidades da cultura. A reposição de nutrientes na solução nutritiva
do reservatório foi efetuada através do monitoramento da condutividade elétrica,
pela adição de soluções estoque de macro e micronutrientes, e o pH mantido entre
5,5 e 6,5.
32
Após as mudas atingirem diâmetro adequado de 4,5 mm, a enxertia de gema
ativa foi realizada pelo método de borbulhia em “T” invertido, entre 10 a 15 cm do
colo da muda, sendo realizada com os mesmos critérios que os demais tratamentos.
Foram enxertadas borbulhas da cultivar Maciel oriundas da Embrapa Clima
Temperado, Pelotas – RS. As plantas enxertadas permaneceram no sistema de
cultivo sem solo, sendo conduzidas em haste única e tutoradas para um crescimento
vertical e reto até atingirem 40 cm de comprimento (muda comercialmente pronta –
Figura 6).
Figura 6. Sistema radicular da muda pronta
comercialização. Capão do Leão – RS, 2014.
para
Durante o período de produção dos portaenxertos, o manejo do ambiente da
estufa foi efetuado apenas por ventilação natural, mediante abertura diária das
janelas laterais entre os horários das 8h às 17h. Em dias que ocorreram baixas
temperaturas, ventos, chuvas fortes e/ou alta umidade relativa do ambiente externo,
a estufa ficava total ou parcialmente fechada, dependendo das condições climáticas.
- Planta obtida por meio de enxertia de gema dormente da cultivar copa Maciel sobre
o portaenxerto ‘Flordaguard‘, produzido por miniestaquia (Sistema semi-hidropônico)
Em novembro de 2010 (primavera), foram preparadas as miniestacas
herbáceas da cultivar Flordaguard, para enraizamento, com as mesmas condições
dos tratamentos anteriores.
Após 60 dias, já enraizadas (janeiro 2011), as miniestacas foram transferidas
para um sistema de cultivo sem solo, em estufa, constituído de floreiras plásticas
33
contendo areia média. Durante a produção e desenvolvimento das mudas,
diariamente, realizou-se a irrigação das floreiras com solução nutritiva definida por
Schuch & Peil (2011), conforme as necessidades da cultura. A reposição de
nutrientes na solução nutritiva do reservatório foi efetuada através do monitoramento
da condutividade elétrica, pela adição de soluções estoque de macro e
micronutrientes, e o pH mantido entre 5,5 e 6,5.
Após 120 dias do plantio das miniestacas no sistema (maio 2011), quando o
portaenxerto da cultivar Flordaguard atingiu cerca de 4,5 mm de diâmetro do caule,
foi realizada a enxertia de gema dormente, pelo método de borbulhia em “T”
invertido, entre 10 a 15 cm do colo da muda, no período da manhã, usando-se fita
plástica transparente. Foram enxertadas borbulhas da cultivar Maciel oriundas da
Embrapa Clima Temperado, Pelotas – RS. Na enxertia de gema dormente, a
borbulha enxertada permanece dormente, brotando, somente, após o inverno.
Nesse processo de enxertia, a obtenção da muda é mais atrasada do que a de
gema ativa, impossibilitando a obtenção da muda em apenas um ciclo vegetativo.
Aos 30 dias após a enxertia, foi retirada a fita plástica do enxerto e realizada a
quebra parcial (a 5 cm acima do ponto de enxertia) dos portaenxertos, após a
brotação da borbulha, no final do inverno a eliminação completa da copa, com corte
em bisel rente ao ponto de emissão do enxerto. Os enxertos permaneceram no
sistema de cultivo sem solo em floreiras conduzidas em haste única, sendo
tutorados para um crescimento vertical e reto até atingirem 40 cm de comprimento
(muda comercialmente pronta – Figura 7).
Figura 7. Sistema radicular da muda pronta
comercialização. Capão do Leão – RS, 2014.
para
34
Durante o período de produção dos portaenxertos, o manejo do ambiente da
estufa foi efetuado apenas por ventilação natural, mediante abertura das janelas
laterais.
A produção das mudas em sistema semi-hidropônico foi definida por Schuch
& Peil (2011) e a composição da solução nutritiva não é demostrada neste trabalho,
pois sua patente se encontra em trâmite.
3. Implantação do Pomar
De acordo com os tratamentos, o plantio foi realizado em agosto e dezembro
de 2011, na Fazenda Agropecuária da Palma, pertencente a Universidade Federal
de Pelotas (UFPel).
O solo atende aos requisitos básicos da cultura por se tratar de um solo leve,
com boa drenagem, além de se encontrar em meia encosta, sendo abrigado do
vento, devido à presença de quebra-ventos. O solo foi preparado por meio de aração
seguida de gradagem da área total. Como o pessegueiro é sensível ao
encharcamento, foram construídos camalhões, onde foram dispostas as mudas, nas
linhas de plantio.
Conforme resultado da análise de solo, realizada a partir de amostragem da
área do pomar experimental, foi realizada a correção da acidez e fertilidade
específica para a cultura (COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO – RS/SC, 2004),
com o uso de esterco curtido de bovino para aumentar o teor de matéria orgânica e
melhorar os atributos físicos e biológicos do solo, calcário e adubação mineral de
nitrogênio, fósforo e potássio.
O espaçamento utilizado foi de 5 m entre as linhas de plantio e de 1,4 m entre
as plantas, sendo a forma de condução escolhida a de ípsolon “Y” (Figura 8). Nas
extremidades da linha, foram adicionadas plantas que servem como bordadura,
visando facilitar as práticas de manejo do pomar e isolando, com isso, o erro
experimental.
35
Figura 8. Mudas de pessegueiro ‘Maciel’ no momento do plantio, no ano de 2011. Capão do Leão –
RS, 2014.
4. Variáveis Analisadas
a) Crescimento inicial das plantas
a1) Comprimento das pernadas
Quando as mudas foram plantadas foi medido o comprimento das duas
pernadas, para servir de base para as próximas mensurações, constatando, com
isso, o incremento de tamanho das mesmas.
No primeiro ano, as mensurações foram realizadas mensalmente a partir do
plantio até completar 12 meses de avaliação, através do uso de uma régua
milimetrada.
a2) Comprimento de ramos
No fim do período vegetativo foi mensurado o comprimento de quatro ramos
do ano produtivos por planta, escolhidos aleatoriamente, previamente marcados,
sendo localizados em porções diferentes da planta.
a3) Incremento de diâmetro do tronco
Assim como na variável comprimento de ramo, o diâmetro foi constatado no
momento da instalação do pomar para servir de parâmetro para as futuras
mensurações, que foram realizadas mensalmente com o uso de um paquímetro
digital, a uma altura de 15 cm acima do solo. O local onde foram feitas as
mensurações foi marcado para facilitar a coleta de dados, sempre no mesmo ponto
na planta ao longo do experimento.
36
a4) Volume de copa
O volume da copa (Figura 9) foi mensurado no final do experimento e
calculado pela fórmula: V = [(L/2) x (E/2) x (A) x (π)]/3, onde V = volume de copa em
m3, L = distância entre as pernadas (m), E = 24 = espessura média das pernadas, A
= altura da copa (m) e π = 3,1416, conforme Rocha et al. (2007).
Figura 9. Representação esquemática da forma de
condução das plantas e de coleta de dados para cálculo
do volume de copa.
a5) Massa fresca de ramos retirados na poda
A massa de poda foi mensurada pelo somatório da massa fresca de ramos
retirados na poda de inverno e de verão de cada planta, sendo expresso em Kg de
ramos por planta.
b) Estádios fenológicos
Foram marcados ramos no início da floração e, posteriormente, duas vezes
por semana foi realizada a avaliação, juntamente com a contagem do número de
flores. Acompanhou-se o início de floração (10% das flores abertas), plena floração
(50% das flores abertas) e fim da floração (queda das pétalas), início da brotação,
além do início da produção de frutos.
37
c) Aspectos produtivos
Quanto aos aspectos produtivos, foram avaliadas a produção média por
planta, produtividade estimada por hectare, massa fresca dos frutos e diâmetro
médio dos frutos.
A avaliação da massa fresca dos frutos foi realizada por meio de pesagem
em balança de precisão e contagem de todos os frutos colhidos. A produção média
por planta (Kg.planta-1) foi obtida por pesagem dos frutos colhidos por planta,
individualmente. Com base na densidade de plantio de 1.428 plantas.ha-1 foi
estimada a produtividade em t.ha-1. O diâmetro médio dos frutos foi medido, em 20
frutos por repetição, no seu sentido equatorial, através de paquímetro digital marca
Digimess®.
d) Parâmetros físico-químicos dos frutos
Para as análises físico-químicas, foram utilizados 20 frutos por repetição,
colhidos nos quatro quadrantes das plantas, que foram analisados quanto aos
seguintes parâmetros: firmeza de polpa (FP), coloração da epiderme, sólidos
solúveis (SS) e acidez titulável (AT), sendo mensurados por penetrômetro manual
com ponteira de 8 mm, colorímetro Minolta®, refratômetro digital e titulometria de
neutralização com NaOH 0,1N, respectivamente. A firmeza da polpa foi avaliada na
região equatorial dos frutos, em dois lados opostos, sendo os valores expressos em
Newtons (N). Para a determinação de SS e AT, foi realizada a extração, em
multiprocessador, do suco de dez frutos, sendo os resultados expressos em % e
meq.100mL-1, respectivamente.
A coloração dos frutos foi determinada pela diferença de cor (ΔE), pela
fórmula: [(L*-µL*)2+(a*-µa*)2+(b*-µb*)2]0,5 e foi obtida pelo método definido pela
Comissão Internacional de Iluminação (CIE), criado em 1976, com o objetivo de
reduzir os problemas do espaço de cor, devido às diferenças visuais das cores.
Neste, se determina os parâmetros em escala tridimensional L* a* b*, onde: L*
(luminosidade, expressa em percentagem – de 0 para o preto a 100 para o branco),
a* (tendência para o vermelho ou verde) e b* (tendência para o amarelo ou azul),
sendo a* e b*, valores que vão de –120 a +120.
38
5. Divisão dos capítulos
Como citado anteriormente, a tese foi escrita na forma de capítulos, sendo
subdividida em três experimentos distintos, nos quais estão citados a seguir e
descritos no decorrer do trabalho.
5.1 CAPÍTULO 1
Produção de pessegueiro ‘Maciel’ autoenraizado e enxertado em portaenxerto
propagado de diferentes formas.
5.2 CAPÍTULO 2
Desempenho de pessegueiro ‘Maciel’ sobre diferentes portaenxertos clonados.
5.3 CAPÍTULO 3
Época de enxertia no desempenho a campo de mudas de pessegueiro ‘Maciel’.
39
CAPÍTULO 1
Produção de pessegueiro ‘Maciel’ autoenraizado e enxertado em portaenxerto
propagado de diferentes formas
Production of 'Maciel' peach self rooted and grafted on rootstocks propagated
in different ways
Resumo
O objetivo deste trabalho foi avaliar a campo, o comportamento de pessegueiros
‘Maciel’ enxertados sobre portaenxertos obtidos por miniestaquia, semente e cultivar
copa autoenraizada. Para isso, no ano de 2011, foi implantado um pomar de
pessegueiro, com espaçamento de 5,0 x 1,4 m, conduzido em “Y”, com mudas
oriundas de diferentes formas de propagação: T1 - sistema convencional - enxertia
de gema ativa da cultivar copa Maciel, sobre o portaenxerto ‘Okinawa’, produzido
por semente; T2 - enxertia de gema ativa da cultivar copa Maciel, sobre o
portaenxerto ‘Okinawa’, produzido por miniestaquia, em sistema semi-hidropônico;
T3 - autoenraizamento da cultivar copa Maciel, em sistema semi-hidropônico. No
período de três anos, foram avaliadas variáveis vegetativas, fenológicas, produtivas
e de qualidade dos frutos. Concluiu-se que o sistema de produção da muda por
semi-hidroponia proporcionou plantas de qualidade igual ou superior ao método
tradicional. Plantas autoenraizadas apresentaram maior crescimento vegetativo e
produção por planta, tornando essa técnica uma alternativa viável para a produção
de mudas de pessegueiro cv. Maciel.
Palavras-chave: Prunus persica; clonagem; autoenraizamento; miniestaca.
Abstract
The objective of this study was to evaluate the field behavior of 'Maciel' peach trees
grafted onto rootstocks obtained from minicutting, seed and self-rooted scion cultivar.
For that, in 2011, it was implemented a peach orchard, spaced 5.0 x 1.4 m, trained
as "Y", with seedlings from different propagation techniques: T1 - conventional
system – vegetative bud grafting of the scion ‘Maciel’ on the rootstock 'Okinawa',
40
obtained from seed; T2 - vegetative bud grafting of the scion ‘Maciel’ on the rootstock
'Okinawa', obtained by minicutting in a semi-hydroponic system; T3 – self-rooting of
the scion cv. Maciel in a semi-hydroponic system. During the period of three years
the vegetative, phenological, productive, and fruit quality parameters were assessed.
It was concluded that the semi-hydroponic seedling production system provided
plants of equal or even better quality than the traditional method. Besides, self-rooted
plants showed greater vegetative growth and production per tree, making this
technique a feasible alternative for the production of seedlings of peach cv. Maciel.
Key-words: Prunus persica; cloning; self-rooting; minicutting.
Introdução
A fruticultura participa diretamente na economia do país, por meio do valor
das exportações e mercado interno, e pode-se salientar ainda, a importância no
caráter econômico-social, uma vez que está presente em todos os estados
brasileiros, sendo responsável pela geração de 5,6 milhões de empregos diretos, o
equivalente a 27% do total da mão de obra agrícola do país (FACHINELLO et al.,
2011).
A produção mundial de pêssego está em 21,5 milhões de toneladas, sendo os
maiores produtores a China, Itália, Espanha e Estados Unidos (FAO, 2011). No
Brasil, a cultura é importante economicamente, com uma produção total de 220,7 mil
toneladas (IBGE, 2012), sendo insuficiente para suprir a demanda interna. No ano
de 2011, para abastecer o mercado interno, o Brasil importou 14.744 t, mostrando
um aumento de 33,13% em relação ao ano anterior (ANUÁRIO BRASILEIRO DE
FRUTICULTURA, 2012).
No Brasil, a produção de mudas de pessegueiro, é realizada por meio de
enxertia, sendo os portaenxertos obtidos por meio de sementes (TOFANELLI et al.,
2005). Entretanto, com o uso da propagação sexuada, pode haver perda de
características genéticas desejáveis, o que gera plantas distintas da planta matriz
(RUFATO & KERSTEN, 2000).
A semeadura de caroços feita diretamente no campo obriga os viveiristas a
venderem as mudas em raiz nua durante o período de inverno, enquanto está em
dormência, para diminuir o estresse provocado pelo arranquio e transplante. A
enxertia também apresenta inconvenientes, como maior tempo de produção de
mudas, necessidade de mão-de-obra especializada para essa operação, gerando
maiores custos de produção.
41
Diante do exposto, se torna necessária a busca de novas tecnologias na área
de produção de mudas (PEREIRA & MAYER, 2005). A estaquia é um método de
propagação vegetativa que pode ser usada em substituição à sexuada por facilitar a
execução e reduzir o tempo necessário à produção da muda, além de evitar à
variabilidade genética, e pode ser utilizada, tanto para produção de portaenxertos,
quanto para produção das copas (OLIVEIRA et al., 2003).
O grande entrave para o uso desta técnica está no crescimento lento das
mudas após o enraizamento das estacas, já que o pessegueiro apresenta
dificuldade de formar raízes adventícias, quando usados métodos convencionais
(TSIPOURIDIS et al., 2006; TWORKOSKI & TAKEDA, 2007).
A produção de mudas de pessegueiro em sistema de cultivo sem solo pode
ser uma alternativa para a produção de mudas certificadas, como a clonagem de
portaenxertos por miniestaquia e, após, a enxertia da cultivar copa, ou clonagem por
meio de autoenraizamento da cultivar copa (SCHUCH & PEIL, 2011). O sistema
hidropônico ou semi-hidropônico pode ser uma alternativa para os viveiristas, pois
esta técnica, que consiste no cultivo de plantas em solução nutritiva, possibilita a
produção fora de época e induz precocidade de formação das mudas, menor
ocorrência de pragas e doenças, otimiza o espaço físico e diminui riscos com
adversidade climática, o que resulta em produção de material vegetal mais sadio.
Tomaz (2013), em estudo com estaquia semi-lenhosa em sistema semihidropônico, utilizando areia como substrato, obteve plantas com 105 cm de
comprimento em 190 dias, sendo que na formação de mudas a partir de caroços em
sistema não hidropônico, Picolotto et al., (2007) observaram comprimento médio três
vezes menor, com o mesmo espaço de tempo. A obtenção do diâmetro do
portaenxerto adequado para realização da enxertia também é acelerada, atingindo
valores de 4,5 mm em 140 dias, obtendo-se após a enxertia de gema ativa, 40 cm
de comprimento, considerada muda comercialmente pronta, em 55 dias para o
portaenxerto ‘Okinawa’ (TOMAZ, 2013).
Mesmo com alguns resultados promissores quanto ao enraizamento, o setor
produtivo ainda não aderiu à produção de mudas por estaquia, pois seus resultados
são muito variáveis e são escassos os estudos que avaliam como estas plantas,
oriundas da estaquia, se comportam no campo, para dar respaldo aos viveiristas e
produtores.
42
A reposta a campo de mudas oriundas de diferentes métodos de propagação
tem sido estudado em fruteiras como oliveira (BATI et al., 2006), mirtileiro (SOUZA
et al., 2012), mamoeiro (TALAVERA et al., 2009), entre outros. Em pessegueiro, o
comportamento a campo tem demonstrado, no decorrer dos vários anos de
pesquisas realizadas mundialmente, distinto entre cultivares e locais de realização
dos experimentos (MARÍN et al., 2003; HAMMERSCHLANG & SCORZA, 1991).
Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi avaliar a campo, o comportamento
de pessegueiros ‘Maciel’ enxertados sobre portaenxertos obtidos por miniestaquia,
semente e cultivar copa autoenraizada
Material e Métodos
O trabalho foi desenvolvido nas dependências da Universidade Federal de
Pelotas, localizada no município de Capão do Leão - RS (31°48'12.48"
S,52°30'34.08" O).
A instalação do mesmo seguiu delineamento de casualização por blocos e o
único fator avaliado foi o sistema de produção de mudas, sendo caracterizado como
um experimento monofatorial, com quatro repetições, de três plantas cada. As
plantas de cada tratamento foram propagadas da seguinte forma: T1 – Plantas
obtidas pelo sistema convencional - enxertia de gema ativa da cultivar copa Maciel,
sobre o portaenxerto ‘Okinawa’, produzido por semente; T2 - Plantas obtidas por
meio de enxertia de gema ativa da cultivar copa Maciel, sobre o portaenxerto
‘Okinawa’, produzido por miniestaquia em sistema semi-hidropônico; T3 - Plantas
obtidas por meio de autoenraizamento da cultivar copa Maciel, em sistema semihidropônico.
Para produzir as mudas foram realizados os seguintes procedimentos:
T1 – Os portaenxertos foram obtidos por meio de sementes da cultivar
Okinawa, esses passaram por um período de estratificação a frio, seguido de
semeadura em embalagens com substrato composto de casca de pinus. Quando os
portaenxertos apresentaram cerca de 4,5 mm de espessura, realizou-se enxertia de
gema ativa. Pela técnica de borbulhia em “T” invertido, justapôs-se uma pequena
porção da casca da cultivar Maciel contendo apenas uma gema, em uma incisão em
forma
de
“T”
invertido,
realizada
no
portaenxerto
escolhido.
As
mudas
43
permaneceram em bancadas com sombrite, até que estivessem em condições de
serem transplantadas a campo.
T2 – Miniestacas semi-lenhosas da cultivar Okinawa foram obtidas em março
de 2010, com duas gemas e uma folha cortada ao meio, sendo utilizado AIB (2000
mg.L-1) para auxiliar o enraizamento. O substrato utilizado foi vermiculita média e
areia autoclavada (1:1 v/v), previamente umedecidas com água, mantidas em casa
de vegetação à 25 °C por 60 dias. Durante o enraizamento, sempre que necessário,
procedeu-se o borrifamento com água, deixando-se as caixas fechadas para evitar a
desidratação. Depois de enraizadas, as estacas foram transferidas para um sistema
semi-hidropônico, em estufa, constituído de floreiras plásticas (80 x 20 cm). No
interior das floreiras foram colocadas uma camada de 5 cm de brita para a
drenagem, uma camada de areia média e uma tela de sombreamento para separar
os dois materiais. Durante a produção e desenvolvimento das mudas, diariamente,
realizou-se a irrigação das floreiras com solução nutritiva definida por Schuch & Peil
(2011), conforme as necessidades da cultura. A reposição de nutrientes na solução
nutritiva foi efetuada através do monitoramento da condutividade elétrica e pH,
mantido entre 5,5 e 6,5. Após as mudas atingirem diâmetro de 4,5 mm, a enxertia de
gema ativa foi realizada pelo método de borbulhia em “T” invertido, entre 10 a 15 cm
do colo da muda, seguida da quebra parcial do portaenxerto. Foram enxertadas
borbulhas da cultivar Maciel oriundas da Embrapa Clima Temperado, Pelotas – RS.
Aos 30 dias após a enxertia, foi retirada a fita plástica do enxerto e, em seguida, foi
realizado o corte do portaenxerto, a 5 cm acima do ponto de enxertia, e, aos 60 dias,
a eliminação completa da parte aérea do portaenxerto, com corte rente ao ponto de
emissão do enxerto. As plantas enxertadas permaneceram no sistema de cultivo
sem solo, sendo conduzidas em haste única e tutoradas para um crescimento
vertical.
T3 – Para obtenção das miniestacas utilizou-se ramos de plantas matrizes da
Embrapa Clima Temperado, Pelotas – RS. Em dezembro de 2010, durante o
período de primavera, foi realizado o enraizamento do material, conforme citado no
tratamento acima. Após 60 dias em casa de vegetação (fevereiro) as estacas foram
transferidas para o sistema semi-hidropônico, em estufa, para o crescimento das
mesmas. Durante a produção e desenvolvimento das mudas, diariamente, realizouse a irrigação das floreiras com solução nutritiva definida por Schuch & Peil (2011),
conforme as necessidades da cultura. Foi realizado o monitoramento do pH e
44
condutividade elétrica, como citado anteriormente. Ao contrário dos outros
tratamentos, não foi realizada enxertia, já que a cultivar copa Maciel foi
autoenraizada.
Durante o período de produção dos portaenxertos, o manejo do ambiente da
estufa foi efetuado apenas por ventilação natural, mediante abertura diária das
janelas laterais.
O sistema de produção das mudas em sistema semi-hidropônico foi definido
por Schuch & Peil (2011) e a composição da solução nutritiva não é demostrada
neste trabalho, pois sua patente se encontra em trâmite.
O plantio das mudas foi realizado em agosto de 2011 em espaçamento de 5,0
x 1,4 m, sendo conduzidas em forma de ípsolon “Y”. Nas extremidades da linha
foram adicionadas plantas que serviram como bordadura, visando isolar o erro
experimental. O solo foi corrigido baseado em análise de solo e seguido a
recomendação
de
adubação
específica
para
a
cultura
(COMISSÃO
DE
FERTILIDADE DO SOLO – RS/SC, 2004), com o uso de esterco curtido de bovino,
calcário e adubos minerais a base de nitrogênio, fósforo e potássio.
Quanto aos aspectos vegetativos, foram avaliados: crescimento inicial das
plantas, por meio do incremento no diâmetro do tronco, comprimento e diâmetro das
pernadas no primeiro ano de desenvolvimento a campo, comprimento de ramos
produtivos crescidos no ano, massa fresca de ramos retirados na poda e volume de
copa, calculado pela fórmula: V = [(L/2) x (E/2) x (A) x (π)]/3, conforme Rocha et al.
(2007).
Avaliou-se a fenologia das plantas duas vezes por semana, a partir do início
da floração, a fim de registrar o início da floração (10% das flores abertas), plena
floração (50% das flores abertas) e fim da floração (queda das pétalas), além do
início da brotação e da produção de frutos.
Os frutos foram colhidos em estádio de maturação completa, por meio da
visualização da coloração da epiderme e avaliados quanto aos aspectos produtivos:
produção média por planta (Kg.planta-1), produtividade estimada por hectare (t.ha-1),
massa fresca dos frutos (g) e diâmetro médio dos frutos (mm), este último medido,
em 20 frutos por repetição, no seu sentido equatorial, através de paquímetro digital.
Para as análises físico-químicas foram utilizados 20 frutos por repetição,
colhidos nos quatro quadrantes das plantas, que foram analisados quanto aos
seguintes parâmetros: firmeza de polpa (FP - Newtons), coloração da epiderme
45
(ΔE), sólidos solúveis (SS - oBrix) e acidez titulável (AT - meq.100mL-1), sendo
mensurados através de penetrômetro manual com ponteira de 8 mm, colorímetro
Minolta®, refratômetro digital e titulometria de neutralização com NaOH 0,1N,
respectivamente. A coloração dos frutos foi determinada pela diferença de cor (ΔE)
levando-se em conta escala tridimensional L* a* b*, pela fórmula [(L*-µL*)2+(a*µa*)2+(b*-µb*)2]0,5.
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias dos
tratamentos comparadas estatisticamente pelo teste de Tukey em nível de 5% de
probabilidade de erro.
Resultados e Discussão
Em relação às variáveis vegetativas, constatou-se maior incremento de
diâmetro do tronco e das pernadas (ramos principais) e comprimento médio das
pernadas nas plantas com portaenxerto oriundo de semente (T1) e copa
autoenraizada (T3) (Tabela 1). O maior crescimento vegetativo inicial do T1 explicase pela forma de propagação sexuada, que confere a planta alto crescimento
vegetativo, devido às características de juvenilidade, que corresponde ao estádio
inicial de crescimento vegetativo vigoroso das plantas após a germinação, durante a
qual, a iniciação floral e a floração não podem ser induzidas, mesmo que as
condições externas sejam favoráveis (XAVIER et al., 2009). Quando comparamos os
dois tratamentos oriundos de estaquia, percebe-se maior crescimento vegetativo das
plantas autoenraizadas, o que se justifica pela inexistência de incompatibilidade
entre enxerto e portaenxerto, já que neste tratamento, não foi realizada a técnica da
enxertia. De acordo com a literatura, cultivares copa autoenraizadas podem ter alta
capacidade de absorção de nutrientes do solo, serem mais uniformes no
crescimento dos ramos e eliminar chances de morte de planta, devido a
incompatibilidade de enxertia (TWORKOSKI & TAKEDA, 2007). A incompatibilidade
de enxertia é definida como sendo a incapacidade de formar a perfeita união entre o
portaenxerto e a copa, ou ainda a incapacidade de uma planta enxertada crescer
normalmente (TOMAZ et al., 2009).
46
Tabela 1. Incremento de diâmetro médio de tronco (DMT - mm), diâmetro médio de pernadas (DMP –
mm) e comprimento médio de pernadas (CMP – cm) no primeiro ano de desenvolvimento a campo,
comprimento médio de ramos (CMR – cm) e massa fresca da poda (MFP – Kg), de pessegueiros
‘Maciel’ propagados de diferentes formas: T1 – ‘Okinawa’ semente + ‘Maciel’; T2 – ‘Okinawa’ clonado
+ ‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’ autoenraizada. Capão do Leão – RS, 2014
DMT
DMP
CMP
CMR
MFP
VC
T1
33,2 a*
30,0 a
165,8 a
40,7
ns**
4,8
ns
T2
26,9 b
22,2 b
136,2 b
36,8
ns
4,5
ns
T3
31,8 a
28,1 a
169,9 a
37,7
ns
5,5
ns
7,3
4,91
CV
5,8
6,1
2,84
3,28
2,87
ns
ns
ns
9,6
19,2
* Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Tukey
com nível de significância de 5%.
** ns não significativo à 5% de probabilidade de erro.
O menor crescimento vegetativo de T2 é decorrente da utilização das técnicas
de enraizamento das estacas somado ao uso da enxertia, sendo que ambos têm
como característica, diminuição de vigor em relação a uma planta oriunda de
semente (FACHINELLO et al., 2005). Este comportamento pode ser interessante
quando deseja-se plantas compactas para utilização em pomares mais adensados.
Não houveram diferenças significativas para as variáveis comprimento médio de
ramos do ano (CMR), massa fresca dos ramos retirados na poda (MFP) e volume de
copa (VC).
Com referência a taxa de crescimento, nota-se comportamento semelhante
para as variáveis diâmetro do tronco e das pernadas, com aumento a partir do mês
de outubro, se estendendo até abril (Figura 1), sendo os meses com maior
incremento em altura e diâmetro das brotações os de janeiro e fevereiro, meses com
temperaturas médias mais elevadas (Anexo 1).
47
35
Diâmetro tronco (mm)
30
25
20
15
10
5
0
T1
T2
T3
35
Diâmetro pernada (mm)
30
25
20
15
10
5
Se
t/1
1
O
ut
/1
1
N
ov
/1
1
D
ez
/1
1
Ja
n/
12
Fe
v/
12
M
ar
/1
2
Ab
r/1
2
M
ai
/1
2
Ju
n/
12
Ju
l/1
2
Ag
o/
12
Se
t/1
2
0
Figura 1. Incremento do diâmetro do tronco (mm) e diâmetro das pernadas (mm) no período de um
ano em plantas de pessegueiro cv. Maciel, propagados de formas distintas: T1 – ‘Okinawa’ semente +
‘Maciel’; T2 – ‘Okinawa’ clonado + ‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’ autoenraizada. Capão do Leão – RS, 2014.
Barras verticais indicam o valor de DMS (diferença mínima significativa) da última avaliação (p < 0,05,
determinado pelo teste de Tukey).
As plantas clonadas de ‘Maciel’ enxertadas sobre ‘Okinawa’ (T2) obtiveram
valores de incremento em diâmetro inferiores aos demais tratamentos, desde seu
plantio, até o final do primeiro ano de crescimento vegetativo. O mesmo
comportamento foi encontrado ao se analisar a variável incremento do comprimento
de pernadas, durante o primeiro ano do experimento (Figura 2), sendo constatado
dois picos de crescimento, um no mês de dezembro, e outro, no mês de março. O
pico de crescimento no mês de dezembro justifica-se pela ocorrência de elevadas
temperaturas (Anexo 1) e, no mês de março, a resposta da planta à prática de
48
adubação pós-colheita realizada, com objetivo de melhorar sua nutrição e com isso,
a retenção do enfolhamento por maior tempo possível.
180
Comprimento pernada (cm)
160
140
120
100
80
60
T1
T2
T3
40
20
Se
t/1
1
O
ut
/1
1
N
ov
/1
1
D
ez
/1
1
Ja
n/
12
Fe
v/
12
M
ar
/1
2
Ab
r/1
2
M
ai
/1
2
Ju
n/
12
Ju
l/1
2
Ag
o/
12
Se
t/1
2
0
Figura 2. Incremento no comprimento das pernadas (cm) no período de um ano em plantas de
pessegueiro cv. Maciel, propagados de formas distintas: T1 – ‘Okinawa’ semente + ‘Maciel’; T2 –
‘Okinawa’ clonado + ‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’ autoenraizada. Capão do Leão – RS, 2014. Barras
verticais indicam o valor de DMS (diferença mínima significativa) na última avaliação (p < 0,05,
determinado pelo teste de Tukey).
Pelo
acompanhamento
do
comportamento
fenológico
dos
diferentes
tratamentos, nos anos de 2012 e 2013, observou-se que no primeiro ano, a floração
ocorreu do final de julho à segunda quinzena de agosto, com a plena floração
ocorrida nos primeiros dias de agosto (Tabela 2).
49
Tabela 2. Fenologia de pessegueiro cv. Maciel propagados por diferentes formas: T1 – ‘Okinawa’
semente + ‘Maciel’; T2 – ‘Okinawa’ clonado + ‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’ autoenraizada. Capão do Leão –
RS, 2014
Brotação
Floração
Colheita
Trat.
início
início
plena
fim
início
fim
2012
T1
01/ago
30/jul
07/ago
15/ago
18/dez
26/dez
T2
01/ago
30/jul
07/ago
17/ago
18/dez
26/dez
T3
01/ago
30/jul
08/ago
17/ago
18/dez
26/dez
2013
T1
12/jul
11/jul
17/jul
03/ago
11/dez
26/dez
T2
12/jul
09/jul
17/jul
19/jul
11/dez
28/dez
T3
14/jul
11/jul
18/jul
02/ago
11/dez
28/dez
O início da brotação ocorreu no primeiro dia de agosto, enquanto que a
colheita foi realizada na segunda quinzena de dezembro. No ano de 2013,
ocorreram de forma antecipada, o início de brotação e início/plena/final de floração,
isso se deve à maior quantidade de horas de frio neste ano (Anexo 1). A diferença
entre os tratamentos é pequena e variável de um ano para o outro, sendo assim,
mais anos de avaliação são necessários para caracterizar o padrão fenológico
desses tratamentos, considerando-se a variação climática de cada ano. Porém,
percebe-se que, os tratamentos não interferiram na fenologia da planta, indicando
que as plantas clonadas se mantiveram com os mesmos padrões fenológicos
comparados ao da muda tradicional.
Os dados relativos aos caracteres agronômicos estão demonstrados na
Tabela 3. Na primeira safra na qual houve colheita (2012), não houve diferença entre
os tratamentos para produção, produtividade, massa e diâmetro dos frutos. Isso
pode ser explicado pela pequena quantidade de frutos colhidos, devido à pouca
idade das plantas, já que este era o segundo ano de brotação da mesma.
50
Tabela 3. Produção (Kg.planta-1), produtividade estimada (t.ha-1), massa fresca dos frutos (MFF - g) e
diâmetro (mm) de frutos ‘Maciel’ propagados de diferentes formas: T1 – ‘Okinawa’ semente + ‘Maciel’;
T2 – ‘Okinawa’ clonado + ‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’ autoenraizada. Capão do Leão – RS, 2014
Produção
Produtividade
MFF
Diâmetro
2012
T1
1,4
ns**
2,0
ns
95,8
ns
60,5
ns
T2
0,8
ns
1,2
ns
106,1
ns
63,0
ns
T3
1,3
ns
1,9
ns
105,8
ns
62,8
ns
CV
29,4
29,5
6,5
2,4
2013
T1
10,0 ab*
14,3 ab
131,6 b
61,0 b
T2
8,8 b
12,6 b
147,1 a
63,5 a
T3
11,2 a
16,0 a
127,4 b
60,9 b
CV
6,8
6,8
3,6
1,3
* Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pelo
teste de Tukey com nível de significância de 5%.
* ns não significativo à 5% de probabilidade de erro.
Já na safra 2013 ocorreram diferenças entre os tratamentos. Plantas de
‘Maciel’ autoenraizadas atingiram maior produção e produtividade estimada, com
valores de 11,2 Kg.planta-1 e 16 t.ha-1, não diferindo estatisticamente de T1
(‘Okinawa’ semente + ‘Maciel’). A maior produção pode estar relacionada à ausência
de incompatibilidade de enxertia (COLOMBO & NÉRI, 2003). Dessa forma, a
obtenção de mudas de cultivares copa autoenraizadas pode ser uma opção para
locais onde o uso de portaenxertos não apresenta nenhuma vantagem específica,
como por exemplo, a resistência a nematóides (OLIVEIRA et al., 2003). Além disso,
Tomaz (2013), em estudos com propagação vegetativa de ‘Maciel’ autoenraizado
por meio de miniestacas em sistema semi-hidropônico, concluiu que este sistema
melhora o desenvolvimento das mudas autoenraizadas de pessegueiro, em relação
à produção de miniestacas em embalagens, com enraizamento superior a 90%.
Quando comparados os tratamentos T1 e T2, ‘Maciel’ enxertado sobre
‘Okinawa’, verificou-se que em 2013 não houveram diferenças estatísticas em
relação à produção de frutos. Desta forma, o método de estaquia em sistema semihidropônico pode ser considerado uma alternativa à produção por semente, por
proporcionar maior uniformidade de plantas, exclusão da possibilidade de
51
segregação genética, diminuição no tempo de obtenção das mudas, plantas bem
nutridas e com sistema radicular mais desenvolvido (TOMAZ, 2013).
As maiores massas e diâmetros dos frutos foram encontrados em T2, fato que
pode ser explicado pela menor produção por planta e consequente menor relação
fonte/dreno e competição por carboidrato (BYERS et al., 2003).
A distribuição da produção no período de colheita teve comportamento
semelhante nos diferentes tratamentos, com concentração em 14 e 21 de dezembro
(Figura 3). Nas plantas de T2 – ‘Okinawa’ semi-hidroponia + ‘Maciel’ – na primeira
data (11/dez) foram colhidas, proporcionalmente, menores quantidades. As plantas
de Maciel autoenraizadas tiveram o mesmo comportamento das mudas produzidas
pelo sistema tradicional (T1).
11/dez
14/dez
21/dez
26/dez
5
a
a
a
a
ab
-1
Produção (Kg.planta )
4
3
ab
b
2
b
b
ab
b
1
c
0
T1
T2
T3
Figura 3. Produção (Kg.planta-1) nas diferentes colheitas do ano de 2013, em plantas de pessegueiro
cv. Maciel, propagados de formas distintas: T1 – ‘Okinawa’ semente + ‘Maciel’; T2 – ‘Okinawa’
clonado + ‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’ autoenraizada. Capão do Leão – RS, 2014. Letras minúsculas
representam diferenças significativas com p < 0,05, determinado pelo teste de Tukey.
Em ambos os anos, não houveram diferenças entre os tratamentos, no que
diz respeito à maioria dos atributos físico-químicos e de qualidade dos frutos, com
exceção da coloração do fruto em 2012 e AT em 2013 (Tabela 4).
52
Tabela 4. Sólidos solúveis (SS - oBrix), pH, acidez titulável (AT – meq.100mL-1), coloração dos frutos
(COR – ΔE) e firmeza de polpa (FP – N) de frutos ‘Maciel’ propagados de diferentes formas: T1 –
‘Okinawa’ semente + ‘Maciel’; T2 – ‘Okinawa’ clonado + ‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’ autoenraizada. Capão
do Leão – RS, 2014
SS
pH
AT
COR
FP
2012
T1
12,6
ns**
3,3
ns
14,8 a
5,4
ns
51,1
ns
T2
11,9
ns
3,2
ns
11,3 b
5,7
ns
48,9
ns
T3
12,3
ns
3,2
ns
11,6 b
4,9
ns
51,5
ns
CV
8,45
10
52,7
4,2
12,3
2013
T1
13,7
ns
3,7
ns
6,3
ns
2,6 b*
38,8
ns
T2
12,8
ns
3,6
ns
6,9
ns
3,4 ab
34,4
ns
T3
12,5
ns
3,7
ns
7,3
ns
4,0 a
35,2
ns
CV
4,5
2,1
10,8
16,8
8,9
* Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pelo
teste de Tukey com nível de significância de 5%.
** ns não significativo à 5% de probabilidade de erro.
Plantas de ‘Maciel’ clonadas por meio de miniestaquia se mostraram com
potencial para serem usadas como alternativa às mudas enxertadas. As avaliações
continuarão sendo realizadas nos próximos anos para que esta técnica seja validada
com mais segurança.
Conclusões
 Para pessegueiro cv. Maciel, a muda autoenraizada proporcionou plantas
com desempenho a campo igual ou superior ao método tradicional.
 De acordo com o comportamento a campo das plantas, a clonagem de
pessegueiro ‘Maciel’ por meio da minestaquia é uma alternativa viável às
mudas oriundas por semente.
53
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55
CAPÍTULO 2
Desempenho de pessegueiro ‘Maciel’ sobre diferentes portaenxertos clonados
Performance of 'Maciel' peach on different cloned rootstocks
Resumo
O objetivo foi verificar a influência dos portaenxertos ‘Okinawa’ e ‘Flordaguard’
clonados, nas características a campo de pessegueiro ‘Maciel’. Neste sentido,
plantas da cv. Maciel autoenraizadas e enxertadas sobre ‘Okinawa’ e ‘Flordaguard’
foram plantadas no ano de 2011, no município de Capão do Leão – RS, com
espaçamento de 1,4 x 5,0 m e conduzidas em “Y”. Foram avaliadas características
de vigor, fenológicas, produtivas e de qualidade dos frutos. A utilização de diferentes
portaenxertos em pessegueiros ‘Maciel’ não alterou as características produtivas e
físico-quimicas dos frutos, sendo que os autoenraizados produziram mais do que
enxertados sobre ‘Okinawa’ e ‘Flordaguard’.
Palavras-chave: Prunus persica; ‘Okinawa’; ‘Flordaguard’; autoenraizamento.
Abstract
The aim was to verify the influence of rootstock cloning in the field performance of
peach 'Maciel'. In this sense, plants of cv. Maciel, self-rooted and grafted on
'Okinawa' and 'Flordaguard' rootstocks, were planted in 2011 in the city of Capão do
Leão – RS, spaced 1.4 x 5.0 and trained as "Y". It was assessed vigor, phenological,
productive and fruit quality parameters. The use of different peach rootstocks for
'Maciel' did not alter the production and physicochemical characteristics of fruit,
however, self-rooted ‘Maciel’ trees produced more than when grafted on 'Okinawa'
and 'Flordaguard' rootstocks.
Key-words: Prunus persica; ‘Okinawa’; ‘Flordaguard’; self-rooting.
56
Introdução
O setor de fruticultura está entre os principais geradores de renda, emprego e
desenvolvimento rural do agronegócio nacional. A atividade frutícola possui elevado
efeito multiplicador de renda e, portanto, com força suficiente para dinamizar
economias locais estagnadas e com poucas alternativas de desenvolvimento
(BUAINAIN & BATALHA, 2007). No Brasil, a produção total é de 220,7 mil toneladas,
sendo que os frutos podem ser comercializados in natura ou industrializados,
principalmente através de compotas. O Rio Grande do Sul é o maior produtor
brasileiro, com 13,5 mil hectares de área plantada e uma produção de 132,7
toneladas, seguido por São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina (IBGE,
2012).
Visando incremento na produção, algumas técnicas são utilizadas na
produção de mudas, como por exemplo, a realização de enxertia. Por meio desta
técnica é possível combinar em uma mesma planta, características produtivas de
uma cultivar com o sistema radicular de outra, como por exemplo, tolerância a
pragas e doenças do solo. Além disso, com a realização desta técnica, diminui-se o
período juvenil e improdutivo, permitindo uma produção antecipada de estruturas
produtivas, quando comparada à muda oriunda de semente.
O sucesso do cultivo dessa espécie depende da região, das práticas culturais
adotadas e do portaenxerto escolhido no momento da escolha das mudas, sendo
este último um fator que pode influenciar no desenvolvimento da cultivar, alterando a
área da seção do tronco, altura, formato e crescimento da planta, volume da copa,
ângulo de abertura dos ramos, nutrição da planta, potencial hídrico do xilema,
fenologia, qualidade dos frutos, precocidade produtiva, produção, resistência a
doenças e sobrevivência da planta (RATO et al., 2008; REMORINI et al., 2008).
O portaenxerto exerce efeito marcante sobre o grau de adaptação climática
da cultivar copa, bem como sobre as diferentes respostas fisiológicas frente às
condições ambientais adversas (de baixo acúmulo e de irregularidade nas
temperaturas hibernais, de déficit hídrico no verão e outono, e de respostas às
elevadas temperaturas durante a prefloração e floração, entre outras). Assim, o grau
de sensibilidade a esses fatores, imposto pelo portaenxerto, pode afetar o
desenvolvimento floral e a formação dos gametas sexuais, variando o padrão
produtivo das cultivares entre os anos de cultivo (NAVA et al., 2009).
57
A vasta gama de portaenxertos, atualmente disponíveis no mercado, tornou
indispensável o conhecimento das características bioagronômicas dos mesmos, de
modo a auxiliar técnicos e produtores na tarefa de efetuar uma apropriada escolha.
Portanto, é oportuno reportar a descrição dos portaenxertos que, em recentes
experimentações, forneceram os resultados mais interessantes (LORETI et al.,
2008).
A cultivar Okinawa, é um dos principais portaenxertos utilizados na produção
de mudas de pessegueiro no Brasil (MAYER et al., 2003; REIS et al., 2010) devido
às características de resistência ou tolerância aos fitonematóides de galhas, além de
ser pouco exigente em frio hibernal (FACHINELLO et al., 2000; MEDEIROS et al.,
2005).
Outra cultivar usada como portaenxerto é a Flordaguard, pois sua
necessidade em frio é estimada em aproximadamente 300 horas e também por ser
resistente a nematóides de galhas, como Meloidogyne incognita, M. javanica e M.
floridensis (FERGUSON & CHAPARRO, 2007). Apresenta folhas avermelhadas,
ramos com hábito de crescimento tipo chorão, caroços com apenas uma semente e
alta taxa de germinação (SHERMAN et al., 1991; EMBRAPA, 2005).
A influência dos portaenxertos não ocorre somente no crescimento e
desenvolvimento da planta, mas também na qualidade do fruto (GIORGI et al.,
2005). As características pós-colheita dos frutos estão intimamente ligadas à
escolha do portaenxerto, da cultivar copa e do manejo adotado na implantação e na
condução do pomar (MATHIAS et al., 2008). O portaenxerto exerce influência nos
aspectos físicos e composição química dos frutos, promovendo alterações na altura,
diâmetro, coloração, teores de sólidos solúveis e de acidez titulável (FORNERGINER et al., 2003; AL-JALEEL et al., 2005; PEREZ-PEREZ et al., 2005).
Como alternativa à propagação de portaenxertos por semente, utiliza-se a
estaquia, tendo como principais vantagens a facilidade de realização, rapidez na
produção da muda e a possibilidade de maior uniformidade entre as plantas no
pomar, entretanto, a principal limitação ao emprego comercial dessa técnica é a
baixa capacidade de enraizamento da maioria das cultivares de pessegueiro
(CHALFUN & HOFFMANN, 1997; MURATA et al., 2002).
A estaquia pode ser realizada por meio do enraizamento do portaenxerto ou
da cultivar copa (autoenraizamento). Pessegueiros autoenraizados apresentam
como características alta capacidade de absorção dos nutrientes do solo, grande
58
uniformidade no crescimento de ramos e eliminação na possibilidade de morte da
planta devido à incompatibilidade enxerto/portaenxerto (COUVILLON, 1985).
Devido à semi-hidroponia ser uma técnica inovadora no que diz respeito à
produção de mudas de espécies lenhosas, para se tornar uma opção para o setor
produtivo, se torna fundamental a avaliação bioagronômica destas plantas depois de
transplantadas a campo e a qualidade pós-colheita dos seus frutos.
O objetivo foi verificar a influência dos portaenxertos ‘Okinawa’ e ‘Flordaguard’
clonados, nas características a campo de pessegueiro ‘Maciel’.
Material e Métodos
O plantio das mudas foi realizado em delineamento de casualização por
blocos, nas dependências da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), localizadas
no município de Capão do Leão – RS, com latitude 31°48'12.48" S e longitude
52°30'34.08" O.
Os tratamentos possuem quatro repetições de três plantas e são: T1 - Plantas
obtidas por meio de enxertia de gema ativa da cultivar copa Maciel sobre o
portaenxerto ‘Okinawa’; T2 - Plantas obtidas por meio de autoenraizamento da
cultivar copa Maciel; T3 - Plantas obtidas por meio de enxertia de gema ativa da
cultivar copa Maciel sobre o portaenxerto ‘Flordaguard‘; todos produzidos por
miniestaquia em sistema semi-hidropônico.
A metodologia utilizada para cada um destes se encontra descrita a seguir.
T1 – No outono de 2010 (março) foi realizada miniestaquia semi-lenhosa da
cultivar Okinawa em embalagens plásticas transparentes e articuladas SAMPACK ®
(10 x 13 x 20 cm), com substrato composto por vermiculita média e areia
autoclavada (1:1 v/v). As miniestacas foram mantidas em casa de vegetação a 25 °C
por 60 dias, sendo irrigadas sempre que necessário. Depois de enraizadas, foram
transferidas para o sistema semi-hidropônico, em estufa, constituído de floreiras
plásticas (80 cm x 20 cm). No interior das mesmas foram colocadas uma camada de
5 cm de brita para a drenagem, uma camada de areia média e uma tela de
sombreamento
para
separar
os
dois
materiais.
Durante
a
produção
e
desenvolvimento das mudas, diariamente, realizou-se a irrigação com solução
nutritiva definida por Schuch & Peil (2011), conforme as necessidades da cultura. A
reposição de nutrientes na solução nutritiva foi efetuada por meio do monitoramento
59
da condutividade elétrica e o pH mantido entre 5,5 e 6,5. Após as mudas atingirem
diâmetro de 4,5 mm, a enxertia de gema ativa foi realizada pelo método de borbulhia
em “T” invertido, entre 10 a 15 cm do colo da muda. Foram enxertadas borbulhas da
cultivar Maciel oriundas da Embrapa Clima Temperado, Pelotas – RS. As plantas
enxertadas permaneceram no sistema de cultivo sem solo, sendo conduzidas em
haste única e tutoradas para um crescimento vertical e reto até atingirem 40 cm de
comprimento, tamanho este, considerado como muda comercialmente pronta.
T2 – Foram feitas miniestacas de cv. Maciel a partir do matrizeiro da Embrapa
Clima Temperado, Pelotas – RS. Em dezembro de 2010, durante o período de
primavera, foi realizado o enraizamento do material, conforme citado no tratamento
acima. Após 60 dias em casa de vegetação (fevereiro), as estacas foram
transferidas para o sistema semi-hidropônico, em estufa, para o crescimento das
mesmas. Durante a produção e desenvolvimento das mudas, diariamente, realizouse a irrigação das floreiras com solução nutritiva definida por Schuch & Peil (2011),
conforme as necessidades da cultura. Foi realizado o monitoramento do pH e
condutividade elétrica, assim como citado anteriormente. Diferentemente dos outros
tratamentos, não foi realizada enxertia, já que a cultivar copa Maciel foi
autoenraizada.
T3 – Preparou-se miniestacas semi-lenhosas da cultivar Flordaguard, em
março de 2010, no período de outono, com duas gemas e uma folha cortada ao
meio. O enraizamento foi realizado por um período de 60 dias sob as mesmas
condições do tratamento T1. Depois de enraizadas, em maio de 2010, as estacas
foram transferidas para um sistema semi-hidropônico, em estufa, constituído de
floreiras plásticas com areia média. Durante a produção e desenvolvimento das
mudas, diariamente, realizou-se a irrigação das floreiras com solução nutritiva
definida por Schuch & Peil (2011), conforme as necessidades da cultura. Após as
mudas atingirem diâmetro adequado de 4,5 mm, a enxertia de gema ativa foi
realizada pelo método de borbulhia em “T” invertido, entre 10 a 15 cm do colo da
muda, sendo realizada com os mesmos critérios de T1. Foram enxertadas borbulhas
da cultivar Maciel oriundas da Embrapa Clima Temperado, Pelotas –RS. As plantas
enxertadas permaneceram no sistema de cultivo sem solo, sendo conduzidas em
haste única e tutoradas para um crescimento vertical e reto até atingirem 40 cm de
comprimento (muda comercialmente pronta).
60
O sistema de produção das mudas em sistema semi-hidropônico foi definido
por Schuch & Peil (2011) e a composição da solução nutritiva não é demostrada
neste trabalho, pois sua patente se encontra em trâmite.
Em todos os tratamentos, durante o período de produção dos portaenxertos, o
manejo do ambiente da estufa foi efetuado apenas por ventilação natural, mediante
abertura diária das janelas laterais.
O plantio das mudas foi realizado em agosto de 2011, na Fazenda
Agropecuária da Palma, pertencente a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em
espaçamento de 5,0 x 1,4 m, sendo conduzidas em forma de ípsolon (“Y”). O solo foi
corrigido baseado em análise de solo e recomendação de adubação específica para
a cultura (COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO – RS/SC, 2004), com o uso de
esterco curtido de bovino, calcário e adubos minerais a base de nitrogênio, fósforo e
potássio.
De acordo com as características vegetativas, durante a realização do
experimento foram avaliados o crescimento inicial das plantas, por meio do
incremento no diâmetro do tronco e das pernadas, incremento no comprimento das
pernadas, comprimento de ramos produtivos crescidos no ano, massa fresca de
poda e volume de copa, calculado pela fórmula: V = [(L/2) x (E/2) x (A) x (π)]/3,
conforme Rocha et al. (2007).
Acrescido a isso, avaliou-se a fenologia das plantas duas vezes por semana,
a partir do início da floração a fim de constatar a data do início da floração (10% das
flores abertas), plena floração (50% das flores abertas) e fim (queda das pétalas),
início da brotação, além do início da produção de frutos.
Os frutos foram colhidos em estádio de maturação completa, por meio da
visualização da coloração da epiderme e avaliados quanto aos aspectos produtivos:
produção média por planta (Kg.planta-1), produtividade estimada por hectare (t.ha-1),
massa fresca dos frutos (g) e diâmetro médio dos frutos (mm), sendo esta última
medida, em 20 frutos por repetição, no seu sentido equatorial, através de
paquímetro digital.
Para as análises físico-químicas foram utilizados 20 frutos por repetição,
colhidos nos quatro quadrantes das plantas, que foram analisados quanto aos
seguintes parâmetros: firmeza de polpa (FP - Newtons), coloração do fruto (COR –
ΔE), sólidos solúveis (SS - %) e acidez titulável (AT - meq.100mL-1), sendo
mensurados através de penetrômetro manual com ponteira de 8 mm, colorímetro
61
Minolta®, refratômetro digital e titulometria de neutralização com NaOH 0,1N,
respectivamente. A coloração dos frutos foi determinada pela diferença de cor (ΔE)
levando-se em conta escala tridimensional L* a* b*, pela fórmula [(L*-µL*)2+(a*µa*)2+(b*-µb*)2]0,5.
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias dos
tratamentos comparadas estatisticamente pelo teste de Tukey em nível de 5% de
probabilidade de erro.
Resultados e Discussão
Plantas da cv. Maciel autoenraizadas apresentaram maior incremento de
diâmetro e comprimento das pernadas, durante o primeiro ano de crescimento
vegetativo (Tabela 1). Além disso, essas plantas tiveram as maiores massas frescas
de poda, não diferindo estatisticamente das plantas enxertadas sobre ‘Okinawa’. O
maior vigor vegetativo, representado por maior diâmetro do tronco e massa fresca
de poda, foi encontrado também, em oliveiras autoenraizadas (BATI et al. 2006).
Isso demonstra boa adaptação da cultivar copa Maciel ao local onde foi
transplantada, sendo superior ao portaenxerto ‘Okinawa’. Ao utilizar a técnica de
estaquia, a função de adiantamento na entrada em produção da muda,
proporcionada pela enxertia em portaenxertos propagados por semente, passa a ser
irrelevante, possibilitando a produção de mudas por meio do autoenraizamento das
cultivares copas, com redução no custo de produção, eliminação de problemas de
incompatibilidade e melhoria na uniformidade do pomar.
62
Tabela 1. Diâmetro médio de tronco (DMT - mm), diâmetro médio de pernadas (DMP – mm),
comprimento médio de pernadas (CMP – cm), comprimento médio de ramos (CMR – cm), massa
fresca da poda (MFP – Kg) e volume de copa (VC – m3) de pessegueiros ‘Maciel’ propagados de
diferentes formas: T1 – ‘Okinawa’ + ‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’ autoenraizada; T3 – ‘Flordaguard’ +
‘Maciel’. Capão do Leão – RS, 2014
DMT
DMP
CMP
CMR
MFP
VC
T1
26,9
ns**
22,2 b*
136,2 b
36,8
ns
4,5 ab
3,53
T2
31,7
ns
28,1 a
169,9 a
37,7
ns
5,5 a
2,90
T3
28,4
ns
23,3 b
143,7 b
40,3
ns
4,3 b
2,87
CV
8,2
6,8
6,5
6,8
ns
ns
ns
10,4
23,3
* Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna, não diferem pelo
teste de Tukey com nível de significância de 5%.
** ns não significativo à 5% de probabilidade de erro.
Não houve diferença de vigor entre os dois portaenxertos utilizados. De
acordo com Pauletto et al. (2001), a diferença entre os portaenxertos ocorre em
função da maior ou menor capacidade de absorção de nutrientes do sistema
radicular, da capacidade de translocação de seiva à cultivar copa e da capacidade
fotossintética da cultivar copa em converter fotoassimilados em massa seca,
expressa em vigor. Portaenxertos mais vigorosos apresentam maior capacidade de
absorção e translocação de água e nutrientes, e, maior produção de substâncias
estimuladoras de crescimento, favorecendo o desenvolvimento da copa.
As variáveis incremento de diâmetro médio do tronco, comprimento médio
dos ramos do ano e volume de copa não diferiram neste estudo. Estes resultados
vão ao encontro com os obtidos por Comiotto et al. (2012) em plantas ‘Maciel’
enxertadas sobre ‘Okinawa’ e ‘Flordaguard’ propagados por semente. Considerando
as mesmas variáveis respostas, Schmitz et al. (2012), também não verificaram
diferença
de
vigor
em
plantas
‘Chimarrita’
enxertadas
sobre
diferentes
portaenxertos. Em contrapartida Picolotto et al. (2009), trabalhando com a mesma
cultivar, constatou que os portaenxertos ‘Capdeboscq’, ‘Tsukuba 1’ e ‘Okinawa’
induziram maior vigor.
Percebe-se que a taxa de crescimento das variáveis diâmetro do tronco e das
pernadas têm aumento mais significativo nos meses com maior temperatura (Figura
1), decrescendo de maio a outubro, período em que diminuem as temperaturas
(Anexo 1) e o fotoperíodo e, por consequência, a planta se prepara para o período
de dormência.
63
35
Diâmetro tronco (mm)
30
25
20
15
10
5
0
T1
T2
T3
30
Diâmetro pernada (mm)
25
20
15
10
5
Se
t/1
1
O
ut
/1
1
N
ov
/1
1
D
ez
/1
1
Ja
n/
12
Fe
v/
12
M
ar
/1
2
Ab
r/1
2
M
ai
/1
2
Ju
n/
12
Ju
l/1
2
Ag
o/
12
Se
t/1
2
0
Figura 1. Incremento no diâmetro do tronco e das pernadas (cm) no período de um ano em plantas
de pessegueiro cv. Maciel, propagados de formas distintas: T1 – ‘Okinawa’ + ‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’
autoenraizada; T3 – ‘Flordaguard’ + ‘Maciel’. Capão do Leão – RS, 2014. Barras verticais indicam o
valor de DMS (diferença mínima significativa) na última avaliação (p < 0,05, determinado pelo teste de
Tukey).
É possível verificar na Figura 1, por meio da barra representando a diferença
média significativa (DMS), que a variável diâmetro do tronco, mesmo não
apresentando diferença entre os tratamentos, apresentou um maior valor para as
plantas autoenraizadas, o que corrobora com as dados encontrados nas variáveis
diâmetro e comprimento das pernadas. Ao analisarmos o comportamento, no tempo,
do comprimento das pernadas, durante o primeiro ano do experimento (Figura 2),
constatam-se dois picos no crescimento, no mês de dezembro e março.
64
180
Comprimento pernada (cm)
160
140
120
100
80
60
40
20
T1
T2
T3
Se
t/1
1
O
ut
/1
1
N
ov
/1
1
D
ez
/1
1
Ja
n/
12
Fe
v/
12
M
ar
/1
2
Ab
r/1
2
M
ai
/1
2
Ju
n/
12
Ju
l/1
2
Ag
o/
12
Se
t/1
2
0
Figura 2. Incremento no comprimento das pernadas (cm) no período de um ano em plantas de
pessegueiro cv. Maciel, propagados de formas distintas: T1 – ‘Okinawa’ + ‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’
autoenraizada; T3 – ‘Flordaguard’ + ‘Maciel’. Capão do Leão – RS, 2014. Barras verticais indicam o
valor de DMS (diferença mínima significativa) na última avaliação (p < 0,05, determinado pelo teste de
Tukey).
As características fenológicas das plantas estão demonstradas na Tabela 2.
Percebe-se que as diferença entre os tratamentos são pequenas e variáveis de um
ano para o outro, sendo assim, o uso de diferentes portaenxertos ou mudas
autoenraizadas, não influenciou no comportamento fenológico das plantas. Estes
resultados vão ao encontro dos obtidos por Comiotto et al. (2012) que comparou
plantas cv. Maciel enxertadas sobre os mesmos portaenxertos usados nesse
trabalho. Picolotto et al. (2009), em pessegueiros cultivar Chimarrita enxertado em
diferentes portaenxertos, constataram que não houve efeito dos mesmos sobre os
caracteres fenológicos. A ausência de efeitos dos portaenxertos sobre o início de
brotação indica que a entrada e a saída da dormência, segundo Petri & Herter
(2004), são influenciadas pela temperatura e controladas principalmente pela cultivar
copa.
65
Tabela 2. Fenologia de pessegueiro cv. Maciel propagados de diferentes formas: T1 – ‘Okinawa’ +
‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’ autoenraizada; T3 – ‘Flordaguard’ + ‘Maciel’. Capão do Leão – RS, 2014.
Brotação
Floração
Colheita
Trat.
início
início
plena
fim
início
fim
2012
T1
01/ago
30/jul
07/ago
17/ago
18/dez
26/dez
T2
01/ago
30/jul
08/ago
17/ago
18/dez
26/dez
T3
01/ago
30/jul
07/ago
15/ago
18/dez
26/dez
2013
T1
12/jul
09/jul
17/jul
29/jul
11/dez
28/dez
T2
14/jul
11/jul
18/jul
02/ago
11/dez
28/dez
T3
14/jul
11/jul
16/jul
03/ago
11/dez
26/dez
De maneira geral, a floração iniciou-se no mês de julho, com término na
segunda quinzena de agosto e o início da colheita ocorrido em meados de
dezembro. No ano de 2013, ocorreu de forma antecipada, o início de brotação e
início/plena/final de floração. Isso se deve a maior quantidade de horas de frio neste
ano (Anexo 1).
No ano de 2012, não houve diferença significativa entre os diferentes
tratamentos quanto aos aspectos produtivos (Tabela 3). Já em 2013, plantas de
‘Maciel’ autoenraizadas (T2) tiveram maiores produções e produtividades, não
diferindo estatisticamente de ‘Maciel’ + ‘Flordaguard’ (T3). Bati et al. (2006), ao testar
o comportamento a campo de mudas de oliveira autoenraizadas e enxertadas, não
constataram diferenças significativas para produtividade das plantas. Os mesmos
autores verificaram, que mudas autoenraizadas apresentaram maior número de
gemas de flor no segundo ano após o plantio, sendo essa diferença inexistente nos
anos seguintes, demonstrando menor juvenilidade neste tratamento.
66
Tabela 3. Produção (Kg.planta-1), produtividade estimada (t.ha-1), massa fresca dos frutos (MFF - g) e
diâmetro (mm) de frutos ‘Maciel’ propagados de diferentes formas: T1 – ‘Okinawa’ + ‘Maciel’; T2 –
‘Maciel’ autoenraizada; T3 – ‘Flordaguard’ + ‘Maciel’. Capão do Leão – RS, 2014.
Produção
Produtividade
MFF
Diâmetro
2012
T1
1,81
ns
1,16
ns
106,11
ns
63,05
ns
T2
2,37
ns
1,86
ns
105,78
ns
62,81
ns
T3
2,3
ns
1,95
ns
113,4
ns
64,29
ns
CV
12,08
22,46
6,3
2,69
2013
T1
8,8 b
12,56 b
147,1 a
63,52 a
T2
11,23 a
16,04 a
127,41 b
60,92 b
14,02 ab
126,45 b
59,38 b
T3
9,82 ab
CV
8,24
8,22
3,12
1,26
* Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pelo
teste de Tukey com nível de significância de 5%.
** ns; não significativo à 5% de probabilidade de erro.
Hammerschlang & Scorza (1991), compararam plantas micropropagadas e
autoenraizadas, concluindo que pessegueiros autoenraizados podem ser produzidos
in vitro e por estaquia semi-lenhosa, sendo que se torna alternativa quando não há
necessidade de portaenxertos específicos para resistir a determinado solo ou
problemas de patógenos .
Entre os dois tratamentos com uso de portaenxertos (T1 e T3), não houve
diferenças significativas para a variável produção por planta e produtividade. Galarça
et al. (2012) obtiveram, com as mesmas combinações enxerto x portaenxerto,
respostas semelhantes, ou seja, não encontraram diferenças entre as produções
das plantas. Stern & Doron (2009) relatam o efeito dos portaenxertos na cultivar de
pera Coscia somente a partir do 4o ano de produção, expandindo-se ano a ano,
verificando diferenças consideráveis e significativas no 9o ano de avaliação. Os
valores obtidos no presente trabalho estão abaixo do potencial destas plantas, visto
que as plantas ainda não atingiram plena produção, pois estavam em seu segundo
(2012) e terceiro (2013) ano de produção.
Analisando-se as colheitas ao longo do tempo, foi possível observar a
distribuição da produção no período de colheita de cada tratamento (Figura 3). O
comportamento é semelhante nas plantas autoenraizadas (T2) e enxertadas em
‘Okinawa’ (T1), com a maior colheita em 21 de dezembro. Já nas plantas enxertadas
67
sobre ‘Flordaguard’ (T3), percebe-se o pico antecipado em uma semana e maior
produção na primeira colheita em relação a última, representando concentração de
colheita nos períodos mais iniciais, comparados ao T1 e T2. Desta forma, devido à
pequena variação ocorrida, considera-se que os diferentes métodos de propagação
testados apresentaram comportamento semelhante quanto à distribuição das
colheitas no tempo.
5
a
a
4
-1
Produção (Kg.planta )
11/dez
14/dez
21/dez
26/dez
a
a
3
b
ab
b
b
2
1
b
b
c
c
0
T1
T2
T2
T3
T3
T4
Figura 3. Produção (Kg.planta-1) nas diferentes colheitas do ano de 2013, em plantas de pessegueiro
cv. Maciel, propagados de formas distintas: T1 – ‘Okinawa’ + ‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’ autoenraizada; T3
– ‘Flordaguard’ + ‘Maciel’.Capão do Leão – RS, 2014. Letras minúsculas representam diferenças
significativas com p < 0,05, determinado pelo teste de Tukey.
Os maiores diâmetros e massa dos frutos foram encontrados em plantas de
‘Maciel’ enxertadas sobre ‘Okinawa’ (T1) e isso é explicado pela menor
produtividade apresentada nesse tratamento. Resultados semelhantes foram
encontrados por Schmitz et al. (2012) em frutos de ‘Chimarrita’ propagados por
diferentes portaenxertos, onde ‘Okinawa’ proporcionou frutos com maiores
diâmetros.
No que diz respeito às variáveis físico-químicas, de maneira geral, os
diferentes tratamentos não influenciaram essas características nos dois anos do
experimento (Tabela 4). Forcada et al. (2012), avaliando a combinação de duas
cultivares copa e seis portaenxertos, não encontraram diferenças para firmeza de
polpa, sólidos solúveis e acidez titulável em nenhum dos 3 anos. Segundo Mathias
et al. (2008), a coloração externa do pêssego não foi modificada quando utilizados
68
diferentes portaenxertos na cultivar Aurora 1. Da mesma forma, Comiotto et al.
(2012) e Galarça et al. (2012), em estudos com os mesmos tratamentos testados no
presente trabalho, não obtiveram diferença para firmeza de polpa, sólidos solúveis e
acidez titulável.
Tabela 4. Sólidos solúveis (SS - oBrix), pH, acidez titulável (AT – meq.100mL-1), coloração da
epiderme (COR – ΔE) e firmeza de polpa (FP – N) de frutos ‘Maciel’ propagados de diferentes formas:
T1 – ‘Okinawa’ + ‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’ autoenraizada; T3 – ‘Flordaguard’ + ‘Maciel’. Capão do Leão –
RS, 2014
SS
pH
AT
COR
FP
2012
ns**
3,19
ns
12,3
ns
3,21
ns
T3
12,35
ns
3,18
ns
CV
5,99
T1
11,85
T2
5,75
ns
48,88 b
11,55 b
4,87
ns
51,51 b
14,72 a
4,77
ns
55,6 a
11,3 b*
1,93
9,62
56,96
3,57
2013
T1
12,77
ns
3,65
ns
6,9
ns
3,39 b
34,44
ns
T2
12,5
ns
3,72
ns
7,27
ns
4,02 ab
35,22
ns
T3
12,9
ns
3,74
ns
5,7
ns
4,71 a
40,57
ns
CV
8,99
1,44
12,27
14,68
8,79
* Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pelo teste
de Tukey com nível de significância de 5%.
** ns não significativo à 5% de probabilidade de erro.
Adicionalmente, podemos constatar que o sistema de produção de mudas,
baseado em clonagem por meio de miniestacas herbáceas em sistema semihidropônico, presente em todos os tratamentos, proporcionou plantas com adequado
desempenho a campo. Essa afirmação é baseada no desenvolvimento vegetativo
das plantas, aliado a produtividade (superior à média nacional), mesmo não tendo
atingido idade adulta de plena produção.
Conclusões
 Portaenxertos ‘Okinawa’ e ‘Flordaguard’ clonados, apresentam o mesmo
comportamento a campo na cv. Maciel em relação às características
produtivas das plantas e físico-químicas dos frutos.
69
 Mudas de pessegueiros ‘Maciel’ autoenraizadas foram mais produtivas a
campo que as enxertadas sobre ‘Okinawa’ e ‘Flordaguard’.

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72
CAPÍTULO 3
Época de enxertia no desempenho a campo de mudas de pessegueiro ‘Maciel’
Field performance of peach seedlings of 'Maciel' affected by timing of grafting
Resumo
A técnica da enxertia consiste na união de dois ou mais tecidos de plantas vivas que
crescem como uma única planta, possibilitando com isso, combinar em um mesmo
indivíduo, características produtivas de uma cultivar, com as do sistema radicular de
outra. Com intuito de estabelecer a melhor época de realização da borbulhia em
portaenxertos oriundos de estaquia, foi estudado o desempenho a campo de mudas
produzidas em diferentes épocas de enxertia (de gema ativa e dormente) em mudas
de pessegueiro cv. Maciel. Para isso, avaliou-se durante três anos, caracteres
vegetoprodutivos, fenológicos e físico-químicos de frutos de pessegueiros plantados
no ano de 2011 em espaçamento de 1,4 x 5,0 m e conduzidos na forma de “Y”.
Constatou-se que mudas de pessegueiro cv. Maciel sobre o portaenxerto
‘Flordaguard’, enxertadas por gema ativa, obtiveram maior diâmetro médio de tronco
e de pernadas, maiores produtividade e qualidade físico-químicas dos frutos,
comparadas as de gema dormente.
Palavras-chave: Prunus pérsica; gema ativa; gema dormente; propagação,
estaquia.
Abstract
The grafting technique consists in the union of two or more tissues of living plants
that grow out as a single plant enabling it to combine in a single individual, productive
characteristics of a cultivar with the root system of another. In order to establish the
best timing of budding for rootstocks derived from cuttings, it was studied the field
performance of seedlings produced in different grafting timings (vegetative and
dormant bud) of peach cv. Maciel. It was evaluated during three years the vegetative,
productive and, phenological parameters, as well as the physicochemical
73
characteristics of peach trees planted in 2011 spaced 1.4 x 5.0 and trained as "Y". It
was found that seedlings of peach cv. Maciel on the rootstock 'Flordaguard', obtained
through vegetative bud grafting, showed the greater average trunk and scaffold
diameter, higher productivity and better physicochemical fruit quality when compared
to dormant bud grafting.
Key-words: Prunus persica; vegetative bud; dormant bud; propagation; cutting.
Introdução
Atualmente, diferentes sistemas hidropônicos vêm sendo utilizados por
empresas e produtores para a produção de mudas de espécies florestais, maracujá,
morango, mudas de fumo e produção de batata-semente pré-básica (CORRÊA et
al., 2008). A hidroponia possibilita a eficiência do uso de fertilizantes, a padronização
da cultura, melhor controle do crescimento vegetativo, maior rendimento, qualidade
da produção e independência em relação às condições do solo.
Estudos mais recentes demonstram que a semi-hidroponia, com uso de
substratos, pode ser uma alternativa viável, já que proporciona maior rapidez na
produção de mudas. De acordo com Nascimento et al. (2011), devido à diversidade
de tipos de substratos que podem ser utilizados para a produção de mudas em
hidroponia,
tem
aumentado
a
necessidade
de
estudos
que
avaliem
o
comportamento destes na produção de mudas.
Outra vantagem desse sistema é a manutenção das mudas em ambiente
protegido, que além da antecipação da sua produção, possibilita maior produtividade
do viveiro, maior rotatividade no uso da infraestrutura montada e aumento da
eficiência de utilização da mão-de-obra especializada (REIS et al., 2010).
Aliado a isso, visando maior aprofundamento nos estudos de propagação de
mudas de pessegueiro, que englobem o crescimento e desenvolvimento adequado
das mesmas, estudos sobre os distintos métodos de enxertia também devem ser
realizados.
O método de enxertia mais utilizado é a borbulhia de gema ativa
(HOFFMANN et al., 2003), realizada, em geral, entre o fim de novembro e meados
de dezembro, permitindo, no sistema convencional, a produção da muda em,
aproximadamente, oito meses após a enxertia.
Também pode ser realizada a enxertia de gema dormente, no outono, porém
o tempo de produção torna-se mais longo, aproximadamente 15 meses no sistema
74
convencional
(REIS
et
al.,
2010).
Com
o
uso
da
semi-hidroponia
e,
consequentemente, produção em embalagem, o tempo para produção da muda é
semelhante ao de gema ativa (TOMAZ et al. 2013), já que a muda pode ser
comercializada o ano todo, não necessitando permanecer um ano no viveiro depois
de enxertada.
De acordo com Hoffmann et al. (2003), na borbulhia de gema dormente,
ocorre a soldadura do enxerto, mas não há brotação, a qual somente ocorrerá após
a saída da dormência, durante o ciclo seguinte. O pegamento, normalmente, é
elevado, mas a gema pode morrer durante o inverno, especialmente se, devido à
ocorrência de temperaturas elevadas durante o outono, ocorrer a brotação
antecipada da cultivar copa. De acordo com os mesmos autores, esta técnica é
adotada para o aproveitamento de portaenxertos cuja enxertia de primavera-verão
não tenha obtido êxito e naqueles em que os diâmetros não se encontravam
adequados, ou ainda para a maximização do uso de material propagativo da cultivar
copa.
O objetivo desse trabalho foi avaliar o desempenho a campo de pessegueiro
'Maciel’ enxertado no portaenxerto ‘Flordaguard’, oriundo de estaquia, com gema
ativa ou dormente.
Material e Métodos
O experimento foi realizado na Fazenda Agropecuária da Palma, pertencente
à Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, da Universidade Federal de Pelotas,
apresentando latitude 31°48'12.48" S e longitude 52°30'34.08" O.
Instalado seguindo um delineamento de casualização por blocos, o
experimento é monofatorial, onde o único fator de tratamento é a época de enxertia
das mudas, tendo quatro repetições, sendo cada uma constituída de três plantas.
Ambos os tratamentos foram obtidos por meio de estacas da cultivar
Flordaguard, sendo o primeiro (T1) com material semi-lenhoso retirado no período
de outono (março de 2010) e o segundo (T2), com estacas herbáceas retiradas na
primavera (novembro de 2010).
Em casa de vegetação preparou-se miniestacas contendo duas gemas e uma
folha cortada ao meio. Realizou-se lesão superficial na base da estaca e,
posteriormente, imersão por 5 segundos em solução de 2000 mg.L -1 de ácido
75
indolbutírico. A seguir foram acondicionadas em embalagens plásticas transparentes
e articuladas SAMPACK® (10 x 13 x 20 cm), com perfurações no seu fundo para
evitar acúmulo de água. O substrato utilizado foi vermiculita média e areia
autoclavada (1:1 v/v), previamente umedecidas com água, mantidas em casa de
vegetação à 25 °C por 60 dias.
Após 60 dias, já enraizadas, as miniestacas foram transferidas para um
sistema semi-hidropônico, em estufa, constituído de floreiras plásticas contendo
areia média. Durante a produção e desenvolvimento das mudas, diariamente,
realizou-se a irrigação das floreiras com solução nutritiva definida por Schuch & Peil
(2011), conforme as necessidades da cultura. A reposição de nutrientes na solução
nutritiva do reservatório foi efetuada através do monitoramento da condutividade
elétrica e o pH mantido entre 5,5 e 6,5.
Após as mudas atingirem diâmetro adequado de 4,5 mm, foram realizadas as
enxertias, de acordo com os tratamentos: T1 - Enxertia de gema ativa, realizada no
mês de dezembro/2010; T2 - Enxertia de gema dormente, realizada no mês de
maio/2011.
As enxertias foram realizadas pelo método de borbulhia em “T” invertido,
entre 10 a 15 cm do colo da muda. Foram enxertadas borbulhas da cultivar Maciel
oriundas da Embrapa Clima Temperado, Pelotas – RS. As plantas enxertadas
permaneceram no sistema de cultivo sem solo, sendo conduzidas em haste única e
tutoradas para um crescimento vertical e reto, até atingirem 40 cm de comprimento
(muda comercialmente pronta).
O sistema de produção das mudas em sistema semi-hidropônico foi definido
por Schuch & Peil (2011) e a composição da solução nutritiva não é demostrada
neste trabalho, pois sua patente se encontra em trâmite. Durante o período de
produção dos portaenxertos, o manejo do ambiente da estufa foi efetuado apenas
por ventilação natural, mediante abertura diária das janelas laterais entre os horários
das 8h às 17h.
O plantio das mudas de T1 foi realizado em agosto de 2011 e de T2 em
dezembro do mesmo ano, em espaçamento de 5,0 x 1,4 m, sendo conduzidas em
forma de ípsolon “Y”. Nas extremidades da linha, foram adicionadas plantas que
servem como bordadura, visando facilitar as práticas de manejo do pomar e
isolando, com isso, o erro experimental. O solo foi corrigido, baseado em análise de
solo e recomendação de adubação específica para a cultura (COMISSÃO DE
76
FERTILIDADE DO SOLO – RS/SC, 2004), com o uso de esterco curtido de bovino,
calcário e adubos minerais a base de nitrogênio, fósforo e potássio.
Durante a realização do experimento foram avaliados o crescimento inicial
das plantas, através do incremento no diâmetro do tronco e das pernadas,
incremento no comprimento das pernadas, comprimento de ramos do ano e volume
de copa, calculado pela fórmula: V = [(L/2) x (E/2) x (A) x (π)]/3, conforme Rocha et
al. (2007).
Avaliou-se a fenologia das plantas duas vezes por semana a partir do início
da floração, a fim de constatar o início da floração (10% das flores abertas), plena
floração (50% das flores abertas) e fim (queda das pétalas), início da brotação, além
do início da produção de frutos.
No ano de 2013, os frutos foram colhidos em estádio de maturação completa
e avaliados quanto a aspectos produtivos: produção média por planta (Kg.planta -1),
produtividade estimada por hectare (t.ha-1), massa fresca dos frutos (g) e diâmetro
médio dos frutos (mm), este último medido, em 20 frutos por repetição, no seu
sentido equatorial, através de paquímetro digital.
Para as análises físico-químicas foram utilizados 20 frutos por repetição,
colhidos nos quatro quadrantes das plantas, que foram analisados quanto aos
seguintes parâmetros: firmeza de polpa (FP - Newtons), coloração do fruto (COR ΔE), sólidos solúveis (SS - oBrix) e acidez titulável (AT - meq.100mL-1), sendo
mensurados através de penetrômetro manual com ponteira de 8 mm, colorímetro
Minolta®, refratômetro digital e titulometria de neutralização com NaOH 0,1N,
respectivamente. A coloração dos frutos foi determinada pela diferença de cor (ΔE)
levando-se em conta escala tridimensional L* a* b*, pela fórmula [(L*-µL*)2+(a*µa*)2+(b*-µb*)2]0,5.
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias dos
tratamentos comparadas estatisticamente pelo teste de Tukey, em nível de 5% de
probabilidade de erro.
77
Resultados e Discussão
Ocorreu diferença no incremento de diâmetro médio de tronco (DMT) e
diâmetro médio de pernadas (DMP), avaliados no primeiro ano de desenvolvimento
das mudas a campo, com maior incremento nas plantas oriundas de enxertia de
gema ativa (Tabela 1). Isso se deve ao fato desta técnica facilitar a soldadura do
enxerto/portaenxerto, retardando o aparecimento do efeito de incompatibilidade. A
enxertia com gema dormente antecipa a incompatibilidade entre a cv. copa e o
portaenxerto, quando comparada com a enxertia de gema ativa (RODRIGUES et al.,
2004).
Tabela 1. Diâmetro médio de tronco (DMT - mm), diâmetro médio de pernadas (DMP – mm),
comprimento médio de pernadas (CMP – cm), comprimento médio de ramos do ano (CMR – cm) e
volume de copa de pessegueiros ‘Maciel’ enxertados por gema ativa (T1) ou gema dormente (T2) no
portaenxerto ‘Flordaguard’. Capão do Leão – RS, 2014
DMT
DMP
CMP
CMR
VC
T1
52,5 a*
45,2 a
111,1
ns**
40,3
ns
2,90
ns
T2
26,2 b
23,3 b
132,3
ns
42,2
ns
2,52
ns
CV
12,30
4,4
14,5
11,1
30,5
* Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pelo teste
de Tukey com nível de significância de 5%.
** ns não significativo à 5% de probabilidade de erro.
Nos atributos comprimento médio das pernadas (CMP), comprimento médio
de ramos do ano (CMR) e volume de copa (VC), não ocorreram diferenças
significativas. Tomaz (2013) constatou que, no prazo de 110 dias após enxertia de
gema ativa, o portaenxerto ‘Okinawa’ proporcionou maior comprimento da cultivar
Maciel enxertada sobre ele, comparada ao de gema dormente.
A Figura 1 nos permite visualizar o incremento dos diâmetros do tronco e das
pernadas desde o plantio das mudas, até o mês de abril de 2013. Percebe-se que o
crescimento nos primeiros meses após o plantio ocorreu de uma forma mais
acentuada nas plantas com enxertia de gema ativa (T1), mesmo considerando que
T2 teve seu plantio atrasado em quatro meses.
78
60
Diâmetro tronco (mm)
50
40
30
20
10
T1
T2
0
50
Diâmetro pernada (mm)
40
30
20
10
Se
t
O /11
ut
N /11
ov
D /11
ez
Ja /11
n
Fe /12
v
M /12
ar
/
Ab 12
r/1
M 2
ai
Ju /12
n/
1
Ju 2
l
Ag /12
o/
Se 12
t
O /12
ut
N /12
ov
D /12
ez
Ja /12
n
Fe /13
v
M /13
ar
/
Ab 13
r/1
M 3
ai
/1
3
0
Figura 1. Incremento no diâmetro do tronco e das pernadas (cm) em plantas de pessegueiro cv.
‘Maciel’ enxertadas por gema ativa (T1) ou gema dormente (T2) no portaenxerto ‘Flordaguard’. Capão
do Leão – RS, 2014. Barras verticais indicam o valor de DMS (diferença mínima significativa) na
última avaliação (p < 0,05, determinado pelo teste de Tukey).
A fenologia das plantas enxertadas com gema ativa (T1) e dormente (T2)
tiveram o mesmo comportamento (Tabela 2). De acordo com Rossi et al. (2004), o
maior crescimento vegetativo faz com que ocorra atraso na plena floração, resultado
não constatado neste experimento. Isto mostra que a fenologia está relacionada a
fatores ligados ao genótipo do portaenxerto e copa e não ao tipo de enxertia
utilizada. Fato confirmado por Petri & Herter (2004), que afirmam o comportamento
fenológico, bem como, a entrada e a saída da dormência, são influenciadas pela
temperatura e controladas principalmente pela cultivar copa.
79
Tabela 2. Fenologia de pessegueiros cv. Maciel enxertados por gema ativa (T1) ou gema dormente
(T2) no portaenxerto ‘Flordaguard’. Capão do Leão – RS, 2014.
Brotação
Floração
Colheita
Trat.
início
início
plena
fim
início
fim
T1
14/jul
11/jul
16/jul
03/ago
11/dez
26/dez
T2
15/jul
14/jul
16/jul
03/ago
11/dez
26/dez
Em ambos os tratamentos, a floração ocorreu no mês de julho, tendo fim no
início de agosto. A brotação ocorreu em meados de julho, sendo posterior ao início
da floração, fato comum para a cultura do pessegueiro, onde as gemas vegetativas
iniciam o crescimento poucos dias depois da abertura das flores (BARBOSA et al.,
1990).
A produção e a produtividade, analisadas dois anos após o plantio, foram
superiores no tratamento T1, com mudas de gema ativa (Tabela 3), acompanhando
a superioridade dos atributos de DMT, DMP e CMP. Plantas com maior vigor tem
potencial de maiores produtividades, já que apresentam maior quantidade de ramos
e, com isso, maior número de gemas floríferas, além de maior área foliar. Além
disso, a enxertia de gema dormente pode ter proporcionado maior incompatibilidade
entre enxerto e portaenxerto devido à diferença de espessura ou estrutura dos
tecidos e diferença no estádio de crescimento do enxerto em relação ao
portaenxerto (LEE & ODA, 2003).
Tabela 3. Produção (Kg.planta-1), produtividade estimada (t.ha-1), massa fresca (MFF - g) e diâmetro
(mm) de frutos no segundo ano após o plantio, de ‘Maciel’, enxertado por gema ativa (T1) ou gema
dormente (T2) no portaenxerto ‘Flordaguard’. Capão do Leão – RS, 2014.
Produção
Produtividade
MFF
Diâmetro
T1
9,8 a*
14,0 a
126,4 b
59,4 b
T2
3,3 b
4,7 b
138,0 a
62,6 a
CV
13,8
13,8
1,3
0,8
* Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pelo teste de
Tukey com nível de significância de 5%.
O tratamento T2, com plantas produzidas por gema dormente, por obter
menor produtividade, teve maior massa e diâmetro médio dos frutos. O tamanho e
diâmetro dos frutos tem efeito inversamente proporcional à produtividade,
justificando a prática do raleio de frutos em pomares comerciais de pessegueiro.
80
A produção distribuída no período de colheita teve o mesmo comportamento
nas plantas propagadas por gemas ativa e dormente (Figura 2), não sendo afetada
pelo maior vigor e produtividade ocorrida nas plantas de gema ativa.
5
11/dez
14/dez
21/dez
26/dez
a
-1
Produção (Kg.planta )
4
3
b
b
2
a
b
1
c
d
c
0
T4
T1
T5
T2
Figura 2. Produção (Kg.planta-1) nas diferentes colheitas de 2013, em plantas de pessegueiro cv.
Maciel enxertadas por gema ativa (T1) ou gema dormente (T2) no portaenxerto ‘Flordaguard’. Capão
do Leão – RS, 2014. Letras minúsculas representam diferenças significativas com p < 0,05,
determinado pelo teste de Tukey.
No tratamento T1, com mudas produzidas por gema ativa, obteve-se maiores
teores de sólidos solúveis (SS) e firmeza de polpa (FP), e menor acidez total (AT)
quando comparado com o das plantas de gema dormente (Tabela 4), sinalizando
frutos de melhor qualidade. O pH e a coloração dos frutos não foram influenciados
pela época de enxertia das mudas. A melhor qualidade de T1 pode estar relacionada
a uma melhor soldadura entre enxerto e portaenxerto em gema ativa, por ser
realizada enquanto a planta possui fluxo de seiva, aumentando a eficiência da
técnica e diminuindo a incompatibilidade de enxertia.
81
Tabela 4. Sólidos solúveis (SS - oBrix), pH, acidez titulável (AT – meq.100mL-1), coloração dos frutos
(COR - ΔE) e firmeza de polpa (FP – N) de frutos colhidos no ano de 2013, da cultivar Maciel
enxertada por gema ativa (T1) ou gema dormente (T2), no portaenxerto ‘Flordaguard’. Capão do
Leão – RS, 2014.
SS
T1
T2
12,9 a*
11,02 b
pH
AT
COR
FP
3,74
ns**
5,7 b
4,71
ns
40,57 a
3,75
ns
7,3 a
2,08
ns
31,29 b
CV
6,19
2,68
5,47
38,55
6,64
* Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pelo teste
de Tukey com nível de significância de 5%.
** ns não significativo à 5% de probabilidade de erro.
Conclusões
Mudas de pessegueiro cv. Maciel sobre o portaenxerto ‘Flordaguard’
enxertadas por gema ativa, comparadas à gema dormente, obtiveram a campo,
maior diâmetro médio de tronco e de pernadas, maior produtividade e maior
qualidade dos frutos, nos primeiros anos de implantação do pomar.
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Agronomia, área de concentração Fruticultura de Clima Temperado) - Faculdade de
Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas.
83
CONCLUSÕES GERAIS
De maneira geral, podemos concluir que as clonagens de portaenxertos e
cultivar copa mostraram resultados satisfatórios a campo para a cultivar Maciel,
apresentando desempenho inicial igual ou superior às plantas obtidas por semente.
Além disso, conclui-se que, nas condições do experimento, com três anos de
avaliação, pode ser dispensado o uso de portaenxerto para a cultivar Maciel, já que
as mudas autoenraizadas obtiveram resultados superiores às enxertadas.
Portaenxertos ‘Okinawa’ e ‘Flordaguard’ clonados, apresentam o mesmo
comportamento a campo na cv. Maciel em relação às características produtivas das
plantas e físico-químicas dos frutos. Mudas de pessegueiro cv. Maciel sobre o
portaenxerto ‘Flordaguard’ enxertadas por gema ativa, comparadas à gema
dormente, obtiveram a campo, maior diâmetro médio de tronco e de pernadas, maior
produtividade e maior qualidade dos frutos, nos primeiros anos de implantação do
pomar.
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
São escassos os trabalhos que tratam do comportamento a campo de mudas
de pessegueiro clonadas, sendo as informações existentes replicadas sem a devida
experimentação. Estas informações são fundamentais para complementar as
relacionadas à produção da muda. Neste sentido, mais trabalhos são necessários, já
que são escassas bibliografias a esse respeito.
Os resultados aqui obtidos serviram para suprir algumas carências de
pesquisa sobre esse tema e ao mesmo tempo, fez com que outras fossem
evidenciadas, necessitando serem trabalhadas nos próximos anos. Deve-se
pesquisar mais profundamente, por exemplo, a comparação dos custos de produção
das mudas nos diversos sistemas e a adaptação do sistema semi-hidropônico no
intuito de viabilizar o seu uso em viveiros comerciais.
Uma das limitações citadas pela literatura em relação à implantação de
pomares diz respeito a uma possível dificuldade de ancoragem dessas plantas, já
que o sistema radicular de uma muda oriunda de estaca é mais superficial e não
possui raiz pivotante. Esse fato não foi visualizado neste estudo já que, nenhuma
das plantas clonadas apresentou este problema, mesmo durante temporais com
vento ocorrido desde o plantio. Pelo contrário, as plantas oriundas de semente foram
as mais afetadas quanto à ancoragem, já que duas delas precisaram ser escoradas
devido à força do vento. Essa informação não foi colocada no corpo da tese, pois a
ancoragem não foi o foco deste trabalho e por isso, não avaliada. Neste sentido,
seria interessante, na continuidade do mesmo, avaliar a qualidade e distribuição do
sistema radicular dessas plantas.
Ambos os experimentos continuarão sendo avaliados nos próximos anos a
fim de confirmar os resultados obtidos até o momento, principalmente os que dizem
respeito ao padrão fenológico, regularidade na produção e longevidade das plantas.
85
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91
APÊNDICES
92
Apêndice I. Quadro de análise de variância das variáveis do experimento 1: diâmetro médio de
tronco (DMT), diâmetro médio de pernadas (DMP), comprimento médio de pernadas (CMP),
comprimento médio de ramos (CMR), massa fresca da poda (MFP) e volume de copa (VC) de
pêssegos ‘Maciel’ propagados de diferentes formas: T1 – ‘Okinawa’ semente + ‘Maciel’; T2 –
‘Okinawa’ clonado + ‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’ autoenraizado. Capão do Leão – RS, 2014.
Quadrado médio
Fonte de
DMT
DMP
CMP
CMR
PP
VC
variação
GL
(mm)
(mm)
(cm)
(cm)
(Kg)
(m³)
Propagação
2
42,80
** 66,1 **
1358,28
* 16,52
Resíduo
6
3,20
2,72
132,61
3,62
ns
1,03
0,23
ns
0,24
ns
0,33
Média geral
30,62
26,8
157,31
38,39
4,94
2,99
CV (%)
5,84
6,15
7,32
4,96
9,65
19,2
*, ** = Valores de F significativo a 5% e a 1% de probabilidade de erro,
respectivamente.
ns
não significativo
93
Apêndice II. Quadro de análise de variância das variáveis do experimento 1: produção, produtividade estimada (PTE), massa fresca dos frutos (MFF),
diâmetro dos frutos, sólidos solúveis (SS), pH, acidez titulável (AT), coloração dos frutos (COR) e firmeza de polpa (FP) de pêssegos ‘Maciel’ propagados de
diferentes formas T1 – ‘Okinawa’ semente + ‘Maciel’; T2 – ‘Okinawa’ clonado + ‘Maciel’; T3 – ‘Maciel’ autoenraizado. Capão do Leão – RS, 2014.
Quadrado médio
Fonte de
variação
GL
Produção
(Kg.planta-1)
PTE
(Kg.ha-1)
MFF
(g)
Diâmetro
(N)
SS
(%)
AT
(meq.100mL-1)
pH
FP
(N)
Cor
2012/2013
ns
136,90
ns
8,12
ns
0,50
ns
0,007
ns
15,54
*
0,79
ns
2
0,37
Resíduo
Média geral
6
0,12
1,16
0,24
1,66
46,05
102,57
2,27
62,11
1,07
12,2
0,02
3,23
1,58
12,56
7,97
5,35
38,79
50,50
29,42
29,49
6,61
2,43
8,45
4,18
10,00
52,72
12,33
CV (%)
0,76
ns
Propagação
8,02
ns
2013/2014
Propagação
2
5,93
**
12,09
**
431,1
**
8,74
**
1,51
ns
0,006
Resíduo
6
0,46
0,94
23,81
0,65
0,34
0,006
Média geral
10,01
14,29
135,4
61,81
13
3,70
CV (%)
6,77
6,79
3,60
1,30
4,52
2,15
* , ** = Valores de F significativo a 5% e a 1% de probabilidade de erro, respectivamente.
ns
não significativo
ns
1,07
0,54
6,81
10,82
ns
2,19
0,31
3,32
16,79
*
21,24
10,37
36,14
8,91
ns
94
Apêndice III. Quadro de análise de variância das variáveis do experimento 2: diâmetro médio de
tronco (DMT), diâmetro médio de pernadas (DMP), comprimento médio de pernadas (CMP),
comprimento médio de ramos (CMR), massa fresca da poda (MFP) e volume de copa (VC) de
pêssegos ‘Maciel’ propagados de diferentes formas: T1 – ‘Okinawa’ + ‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’
autoenraizada; T3 – ‘Flordaguard’ + ‘Maciel’. Capão do Leão – RS, 2014.
Quadrado médio
Fonte de
DMT
DMP
CMP
CMR
PP
VC
variação
GL
(mm)
(mm)
(cm)
(cm)
(Kg)
(m³)
Propagação
2
24,57
Resíduo
6
5,65
ns
39,6 **
1257,40
** 13,61
2,81
104,22
6,12
ns
1,60
0,25
ns
0,55
ns
0,52
Média geral
29,02
24,6
149,93
38,28
4,79
3,10
CV (%)
8,19
6,83
6,81
6,46
10,5
23,3
* , ** = Valores de F significativo a 5% e a 1% de probabilidade de erro, respectivamente.
ns
não significativo
95
Apêndice IV. Quadro de análise de variância das variáveis do experimento 2: produção, produtividade estimada (PTE), massa fresca dos frutos (MFF),
diâmetro, sólidos solúveis (SS), pH, acidez titulável (AT), coloração dos frutos (COR) e firmeza de polpa (FP) de pêssegos ‘Maciel’ propagados de diferentes
formas: T1 – ‘Okinawa’ + ‘Maciel’; T2 – ‘Maciel’ autoenraizada; T3 – ‘Flordaguard’ + ‘Maciel’. Capão do Leão – RS, 2014.
Quadrado médio
Fonte de
Produção
PTE
MFF
Diâmetro
SS
AT
FP
variação
GL
pH
COR
(Kg.planta-1)
(Kg.ha-1)
(g)
(N)
(%)
(meq.100mL-1)
(N)
2012/2013
Propagação
2
0,36
Resíduo
Média geral
6
0,07
2,16
0,14
1,66
12,08
22,46
CV (%)
*
0,75
*
74,14
ns
ns
0,001
ns
14,58
*
1,15
ns
2,50
0,30
45,87
46,75
108,4
2,90
63,38
0,53
12,17
0,004
3,20
1,45
12,52
8,55
5,13
3,45
52,00
6,30
2,69
5,99
1,93
9,63
56,96
3,57
**
2013/2014
Propagação
2
5,98
*
12,20
*
543,36
**
17,5
**
0,17
ns
Resíduo
6
0,67
1,36
17,42
0,60
1,31
Média geral
9,95
14,21
133,65
61,27
12,72
CV (%)
8,24
8,22
3,12
1,26
8,99
* , ** = Valores de F significativo a 5% e a 1% de probabilidade de erro, respectivamente.
ns
não significativo
0,009
0,002
3,70
1,44
ns
2,71
0,66
6,62
12,27
ns
1,74
0,35
4,04
14,68
ns
44,52
10,43
36,74
8,79
ns
96
Apêndice V. Quadro de análise de variância das variáveis do experimento 3: diâmetro médio de
tronco (DMT), diâmetro médio de pernadas (DMP), comprimento médio de pernadas (CMP),
comprimento médio de ramos (CMR) e volume de copa (VC) de pêssegos ‘Maciel’ enxertados por
gema ativa (T1) ou gema dormente (T2) no portaenxerto ‘Flordaguard’. Capão do Leão – RS, 2014.
Quadrado médio
Fonte de
DMT
DMP
CMP
CMR
VC
variação
GL
(mm)
(mm)
(cm)
(cm)
(m³)
Propagação
1
1378,55 ** 957,37 *
897,82
**
7,11
ns
0,30
ns
Resíduo
3
23,45
2,23
311,20
21,09
0,68
Média geral
39,35
34,23
121,68
41,30
2,71
CV (%)
12,31
4,37
14,50
11,12
30,5
* , ** = Valores de F significativo a 5% e a 1% de probabilidade de erro,
respectivamente.
ns
não significativo
97
Apêndice VI. Quadro de análise de variância das variáveis do experimento 3: produção, produtividade estimada (PTE), massa fresca dos frutos
(MFF), diâmetro, sólidos solúveis (SS), pH, acidez titulável (AT), coloração dos frutos (COR) e firmeza de polpa (FP) de pêssegos ‘Maciel’
enxertados por gema ativa (T1) ou gema dormente (T2) no portaenxerto ‘Flordaguard’. Capão do Leão – RS, 2014.
Quadrado médio
Fonte de
Produção
PTE
MFF
Diâmetro
SS
AT
FP
variação
GL
pH
COR
(Kg.planta-1)
(Kg.ha-1)
(g)
(N)
(%)
(meq.100mL-1)
(N)
2013/2014
Propagação
1
85,09
**
173,44
**
266,11
**
21,22
**
7,03
*
3E-04
Resíduo
3
0,82
1,67
2,81
0,26
0,55
0,01
Média geral
6,56
9,36
132,21
61,01
11,96
3,75
CV (%)
14
13,80
1,27
0,84
6,19
2,68
* , ** = Valores de F significativo a 5% e a 1% de probabilidade de erro, respectivamente.
ns
não significativo
ns
5,12
** 13,83
0,13
6,5
5,47
1,71
3,39
38,55
ns
172,2 *
5,69
35,93
6,64
98
ANEXOS
99
Anexo 1. Temperatura média (TM), Temperatura média das mínimas (Tmm), Temperatura mínima
absoluta (Tma), Temperatura média das máximas (TmM), Temperatura máxima absoluta (TMa),
Precipitação pluviométrica (PP) e quantidade de horas de frio (HF) obtidos pela estação
agrometereológica do Capão do Leão, pertencente a Embrapa Clima Temperado e Universidade
Federal de Pelotas. Pelotas, 2014
Ano
2011
2012
2013
Mês
TM (°C)
Tmm
(°C)
Tma
(°C)
TmM (°C)
TMa
(°C)
PP
(mm)
Ago
12,5
9,2
0,6
17,0
25,0
114,2
Set
14,4
10,1
2,6
20,0
30,2
75,1
Out
17,4
13,5
7,6
22,1
27,8
75,9
Nov
19,8
15,1
9,0
25,3
31,0
60,3
Dez
20,6
16,2
10,6
26,0
30,6
53,7
Jan
22,7
17,9
13,5
28,4
35,1
73,6
Fev
24,2
20,2
14,2
29,8
37,6
171,9
Mar
21,5
16,6
6,2
28,1
36,8
49,0
Abr
17,4
12,8
3,1
23,7
31,4
52,6
Mai
16,8
12,2
3,3
23,9
29,5
5,1
Jun
12,3
7,3
-3,0
19,5
30,0
78,0
Jul
10,4
5,6
-1,4
16,8
28,6
138,5
Ago
16,7
12,6
6,0
22,9
30,5
103,1
Set
16,2
12,3
5,1
21,3
27,3
115,3
Out
19,2
15,9
10,9
23,6
29,5
106,5
Nov
21,2
16,6
10,6
27,0
33,1
52,1
Dez
23,6
18,7
13,1
29,3
39,2
175,1
Jan
22,3
17,5
10,8
27,5
31,8
69,2
Fev
22,8
19,1
11,8
28,0
33,3
177,3
Mar
19,8
15,2
9,6
25,8
32,2
27,6
Abr
18,3
13,8
7,3
24,5
29,2
147,4
Mai
14,6
10,5
2,5
20,6
26,2
84,1
Jun
12,5
8,0
3,8
18,4
24,6
75,8
Jul
11,6
7,2
-1,0
17,8
27,4
56,6
Ago
4,2
7,0
0,6
17,1
25,8
95,3
Set
*
*
*
*
*
*
Out
17,5
13,5
7,0
22,1
30,2
214,0
Nov
*
*
*
*
*
*
Dez
23,5
18,9
10,5
29,2
36,8
78,4
HF
449
444
464
Normal
17,8
13,8
-3,0
22,9
39,6
1366,9 321
Fonte: Estação Agroclimatológica de Pelotas – UFPel e Embrapa Clima Temperado.
<http://www.cpact.embrapa.br/agromet/estacao/boletim.html>
* Dados não disponíveis.
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