Braz J Periodontol - June 2016 - volume 26 - issue 02 INTER-RELAÇÃO ENTRE HORMÔNIOS SEXUAIS E DOENÇAS PERIODONTAIS NAS MULHERES Interrelationship between Sex Hormones and Periodontal Diseases in Women Sérgio Spezzia1 1 Cirurgião-Dentista. Especialista em Saúde da Mulher no Climatério pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Mestrando em Pediatria e Ciências Aplicadas à Pediatria pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo. Membro do Corpo Editorial da Revista Uningá Review e do Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research Recebimento: 05/01/16 - Correção: 29/02/16 - Aceite: 30/03/16 RESUMO Os fatores hormonais são aqueles que atuam sobre o corpo em determinadas fases da vida da mulher sendo capazes de modificar a resposta dos tecidos à irritação bacteriana, influenciando o progresso, a intensidade e a resposta da doença periodontal ao tratamento. As alterações nos níveis de hormônios durante a puberdade, a gestação e a menopausa podem modificar a resposta do hospedeiro em relação à placa bacteriana, aumentando a intensidade de progressão da doença periodontal. O objetivo deste trabalho foi averiguar como procede o conhecimento e a conscientização dessas manifestações clínicas de cunho hormonal pelo cirurgião dentista. A influência hormonal pode predispor ao desenvolvimento de doenças periodontais ou atuar exacerbando processos inflamatórios periodontais preexistentes. Nessas situações clínicas, o tratamento periodontal deve ser capaz de eliminar a resposta inflamatória, concomitantemente faz-se controle e manutenção do tratamento, orientando os pacientes acerca dos cuidados essenciais com sua higiene oral para que sejam capazes, pelo menos de realizarem a escovação e o uso de fio ou fita dental corretamente. Utiliza-se a instrumentação periodontal para tratamento, através da raspagem e alisamento radicular. Concluiu-se que com o emprego da terapêutica periodontal, no intuito de atenuar o processo inflamatório, pode-se obter melhor qualidade de vida para as mulheres que se encontram nessas fases da vida em que é possível ocorrer interferência hormonal nos problemas periodontais. UNITERMOS: Mulheres. Estrogênios. Progesterona. Doenças Periodontais R Periodontia 2016; 26: 40-47. INTRODUÇÃO Os tecidos periodontais terão aspectos saudáveis se existir harmonia entre fatores agressores e protetores do periodonto de proteção e sustentação dos dentes (Minas Gerais, 2006). A d o e n ç a p e r i o d o n t a l c o n s i s t e d e q u a d ro imunoinflamatório, advindo da ação do biofilme dental, que é detentor de periodontopatógenos. Sabe-se que o seu aparecimento e evolução variam individualmente, obedecendo a fatores intrínsecos do hospedeiro e ambientais (Johannsen et al., 2007; Lindhe et al., 2010; Newman et al., 2011). A doença periodontal é uma doença infecciosa, crônica e assintomática, advinda da exposição do periodonto a ação de bactérias que se aderem à superfície dentária e 40 Revista Perio JUNHO 2016 - 28-06-15.indd 40 é de natureza não descamativa. Essa doença é resultante da destruição dos tecidos ao redor dos dentes por ação de periodontopatógenos específicos. A presença de lipopolissacarídeos e exotoxinas produzidas por estes microorganismos ativam os mecanismos imunoinflamatórios, desencadeando resposta inflamatória. No caso de ocorrer alteração ou destruição do periodonto de proteção, têm-se o acometimento por gengivite, havendo comprometimento subsequente e simultâneo, também do periodonto de sustentação, com presença de reabsorção óssea, têm-se periodontite (Axelsson & Lindhe, 1981; Lindhe et al., 2005). Doenças periodontais são infecções, dependentes da colonização por bactérias patogênicas. Fatores de risco, provenientes de condições sistêmicas modificam o início e a progressão do quadro periodontal (Genco, 1996). Existem alguns fatores de risco que podem estar An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 04/07/2016 11:29:48 Braz J Periodontol - June 2016 - volume 26 - issue 02 - 26(2):40-47 ligados ao desenvolvimento de doenças periodontais, são eles: alterações hormonais; uso de medicamentos, como corticóides, bloqueadores dos canais de cálcio e agentes imunomoduladores; aumento de idade; sexo; deficiência nutricional; tabagismo; estresse; deficiência imunológica e predisposição genética; doenças sistêmicas, doença de Marfan e de Ehlers-Danlos, diabetes, osteoporose, AIDS, neutropenias, doenças cardiovasculares, entre outros (Sonis et al., 1996; Neville et al., 2004). Conforme Andrade em (2006), podem ocorrer alterações sistêmicas de caráter endócrino, respiratório, hematológico e cardiológico. Frisa o autor que as alterações em âmbito endócrino com repercussões na cavidade bucal detêm relevância clínica. Relacionado à idade e ao sexo, têm-se estudos atestando que indivíduos idosos possuem condições periodontais menos favoráveis, bem como firmam que os homens têm mais doenças periodontais do que as mulheres, além de possuírem precária higiene bucal. As mulheres mostram-se mais dispostas a desempenharem boa higienização bucal e se preocupam mais com o autocuidado. No entanto, nessa afirmação não se considerou o aspecto do envolvimento hormonal, apenas o desempenho nas técnicas de higiene bucal que foram empregadas (Kato et al., 2004; Borrel & Papapanou, 2005; Borges-Yáñes et al., 2006). Os fatores hormonais agem no organismo feminino, podendo atuar modificando a resposta tecidual frente à irritação bacteriana. Eles são capazes de alterar progresso, intensidade e resposta da doença periodontal ao tratamento (Axelsson et al., 1976; Carranza, 1986). Podem ocorrer desequilíbrios endócrinos, o que se torna desfavorável sob o aspecto periodontal, uma vez que nessa situação a resposta do hospedeiro a placa bacteriana mostrarse-á modificada, dificultando o tratamento periodontal (Kornman & Loesch, 1979; Kornman & Loesch, 1980; Carranza, 1986; Clerehugh, 1991). Níveis circulantes hormonais alterados podem ocasionar um aumento na inflamação gengival, advindo de má higienização oral e acúmulo de placa dental (Goldman & Cohen, 1980). No organismo feminino essas mudanças a nível hormonal transcorrem nas várias fases da vida. Nesse contexto, a homeostase dos tecidos periodontais mostra-se prejudicada, no entanto, a inflamação gengival não ocorre somente em decorrência da ação hormonal. Para que se instale o processo inflamatório atuam outros fatores desencadeadores, tais como: biofilme bacteriano com bactérias específicas predisponentes a doença periodontal e resistência imunológica do hospedeiro (Hugoson, 1970; Axelsson et al., 1976; de Liefde, 1984; Lindhe, 1989; Zachariasen, 1989; Clerehugh, 1991; Cruvinel et al., 2010). Oscilações hormonais presentes na puberdade, gestação, no período de ovulação, durante o uso de anticoncepcionais ou contraceptivos orais sintéticos e na menopausa são possíveis fatores desencadeadores da doença periodontal. Ocorre mudança na resposta do periodonto frente aos fatores etiológicos locais (Goldman & Cohen, 1980). Mecanismos celulares são alterados por ação dos hormônios sexuais (estrógeno e progesterona) nas mulheres. O estrógeno predispõem as alterações vasculares, e a progesterona atua, estimulando a produção de mediadores inflamatórios (Lindhe, 1989; Zachariasen, 1989; Clerehugh, 1991). O quadro evolutivo da doença periodontal é passível de ser modificado pela ação dos hormônios sexuais. Toda vez que se constatar alterações nos níveis circulantes desses hormônios, pode-se afirmar que teremos predisposição a inflamação dos tecidos periodontais pela ação da placa dental ou exacerbação desse quadro inflamatório (Tunnes, 1999). O estrógeno e a progesterona possuem função de controlar o desenvolvimento dos órgãos genitais, bem como seu funcionamento, além do funcionamento dos órgãos sexuais secundários. A presença desses hormônios atua também, permitindo a regulação hormonal de outros tecidos (Vitalle & Medeiros, 2008). Sabe-se que os hormônios agem por intermédio de receptores específicos situados nas células-alvo. Esses receptores, a princípio, providenciam a interação dos hormônios com as células. Não existe um número fixo de receptores por célula, o número é variável em cada tipo de célula. Ocorre que, conforme o número presente tem-se um grau de resposta, o que demonstra variabilidade de respostas (Norman & Litwack, 1987). Encontraram-se receptores de estrógeno e progesterona no tecido gengival, fato que ocasiona maior acúmulo desses hormônios no interior desse tecido (Aufdemorte & Sheridan, 1981). Relacionado ao desenvolvimento das doenças periodontais, Tunnes & Rapp (1999), afirmaram que os hormônios sexuais podem agir, influenciando de várias formas: modificando a resposta dos tecidos periodontais, advinda da ação do biofilme dental; na constituição das colônias de bactérias presentes no biofilme dental e estimulando a produção de prostaglandinas. O autocuidado realizado com a higienização bucal feita corretamente, age prevenindo o acúmulo de placa, possibilitando diminuição dos problemas periodontais (Perry, 2004). An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 41 Revista Perio JUNHO 2016 - 28-06-15.indd 41 04/07/2016 11:29:48 Braz J Periodontol - June 2016 - volume 26 - issue 02 - 26(2):40-47 O objetivo deste trabalho foi averiguar como procede o conhecimento e a conscientização dessas manifestações clínicas de cunho hormonal pelo cirurgião dentista. on Pediatric Dentistry Clinical Affairs Committee, 2012). Puberdade Relacionado a gengivite, têm-se incidência extremada no período da puberdade. Esse dado é obtido, inclusive se o índice de placa (IP) permanecer inalterado nos adolescentes examinados (Axelsson, 1976; Kornman & Loesch, 1980; Carranza, 1986; Levin, 1987). A inflamação gengival que procede nesse período é resultante da ação de fatores irritativos locais e do metabolismo tecidual do periodonto modificado, fatores estes que decorrem dos distúrbios hormonais que são peculiares. A placa bacteriana nessa situação age muito mais facilmente, advindo da queda de resistência que ocorre localmente. Alguns estudos demonstraram que o desequilíbrio na produção de determinados hormônios no sexo masculino e feminino durante a adolescência age como fator desencadeador de gengivite na puberdade (Axelsson, 1976; Kornman & Loesch, 1980; Carranza, 1986; Levin, 1987). . A puberdade ocorre durante a adolescência dos indivíduos. Na adolescência, geralmente têm-se problemas periodontais, oriundos do desleixo na prática da higienização bucal (Kolawole et al., 2011; Vadiakas, 2012; Spalj et al., 2014). Podem instalar-se nesse período danos periodontais irreversíveis, que poderiam ser evitados. O controle da inflamação gengival pode ser controlado por intermédio de higienização bucal correta e de orientações sobre cuidados essenciais com higiene e de acompanhamento regular, realizados pelo cirurgião dentista (AAP, 2005; Silveira et al., 2012; Braga et al., 2013; Coutinho et al., 2013). Segundo Kornman & Loesche, (1980), ocorre aumento da prevalência de gengivite durante a puberdade, que são coincidentes com produção aumentada de estrógeno e de progesterona, sem concomitantemente aferir-se aumento quantitativo do IP. As manifestações clínicas periodontais que ocorrem na gengiva, incluem: eritema, sangramento espontâneo ou provocado, edema e hiperplasia gengival (Sutclife, 1972; Stamm, 1986; Rose et al., 2002). Explica-se o grau aumentado de inflamação gengival no período puberal, advindo do aumento da concentração hormonal sanguínea. No sexo masculino ocorre aumento da testosterona e no sexo feminino do estradiol. No mais, inexiste outros fatores de risco locais com significância para promover gengivite (Sutcliffe, 1972; Stamm, 1986; American Academy Gestação Na gestação o organismo feminino passa por transformações sistêmicas, que são provenientes de distúrbios de ordem emocional e hormonal. De acordo com Andrade (2006), no decorrer do período da gravidez, têm-se mudanças fisiológicas, acometendo o corpo da mulher. Esse mecanismo é adaptativo e tem o intuito de proceder a preparação do organismo para o momento do parto e para a amamentação do recém-nascido. Vários autores enfatizam as mudanças no organismo da mulher durante a gestação, em especial as alterações hormonais, cujas consequências refletem-se na boca de forma evidenciada (Sonis et al., 1996; Oliveira et al., 2006). São alterações fisiológicas no período: níveis aumentados de cortisol, ACTH, oxitocina, aldosterona, estrógenos e prolactina; supressão do FSH e do LH; alterações cardiovasculares com elevação da frequência cardíaca na ordem de 10 batimentos por minuto a partir da décima quarta semana, indo até a trigésima semana; alterações hematológicas com diminuição dos leucócitos polimorfonucleares com anemia e aumento do volume sanguíneo e alterações respiratórias com elevação da capacidade respiratória (Souza et al., 2002; Andrade, 2006; Neves et al., 2007). Nesse contexto, ocorrem também alterações em âmbito da cavidade bucal (Sonis et al., 1996; Oliveira et al., 2006). A imunidade manifesta como resposta pela gestante, o nível dos hormônios ovarianos e a constituição da placa presente subgengivalmente, agem como fatores determinantes com relação a instalação e ao quadro evolutivo das doenças periodontais (Rose et al., 2002). Essas alterações que podem ocorrer na gravidez são fatores que influenciam na reação do hospedeiro frente a ação do biofilme dental (Orrico et al. 1987; Oliveira et al., 2006). No caso de existirem alterações periodontais pregressas ocorre evidenciação clínica aumentada desse quadro por ação da gravidez. No segundo mês gestacional têm-se exacerbação inflamatória desse quadro, concomitantemente ao aumento das taxas de estrógeno e de progesterona. Os níveis desses hormônios ovarianos elevam-se ainda mais no oitavo mês de gravidez. Nesse instante, teremos severa inflamação gengival por ação hormonal. Portanto, o nível plasmático desses hormônios exerce influência sobre os tecidos, atuando conjuntamente com os fatores etiológicos que atuam localmente (Tunes & Rapp, 1999). Sabe-se que níveis plasmáticos aumentados dos hormônios ovarianos na gravidez também se mostram 42 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 REVISÃO DE LITERATURA Revista Perio JUNHO 2016 - 28-06-15.indd 42 04/07/2016 11:29:48 Braz J Periodontol - June 2016 - volume 26 - issue 02 - 26(2):40-47 aumentados em nível do sulco gengival, fato que irá predispor ao crescimento bacteriano específico e que é extremamente desfavorável, influindo fortemente no desenvolvimento da doença periodontal (de Lorenzo & Mayer, 2004). A gengivite da gravidez inicia-se comumente entre o terceiro e quarto mês gestacional, nessa ocasião periodontopatógenos proliferam-se, advindo da ação dos hormônios, o que possibilita o crescimento microbiano. Quando temos modificação na constituição da microflora microbiana bucal, normalmente chama-se a gengivite de gengivite gravídica (de Liefde, 1984; Levin, 1987). A prevalência de gengivite em gestantes gira em torno de 30% das mulheres no período. Essa manifestação de doença periodontal é a mais comumente encontrada (Hugoson, 1970; Morishita et al., 1988; Clerehugh, 1991). Em contrapartida, geralmente a influência do fator hormonal nas gestantes procede por período curto, o que não acarreta perda de inserção periodontal acentuada no periodonto (Carranza et al., 2003). Ciclo Menstrual Durante o ciclo menstrual ocorre elevação da produção dos hormônios ovarianos ou sexuais, o que por sua vez pode resultar em inflamação gengival aumentada. No decorrer do ciclo o fluxo de exsudato gengival mostra-se aumentado ao se aproximar do período ovulatório. Essa situação clínica tende a declinar no decorrer da menstruação (Mascarenhas et al., 2003; Machtei et al., 2004; Mariotti, 2005). No ciclo menstrual teremos quadro clínico periodontal de inflamação e edema de papila gengival, juntamente a baixo IP. Pode ocorrer ainda, ligeira mobilidade dentária. Nos dias anteriores ao começo da menstruação pode-se encontrar em determinadas mulheres: inchaço e sangramento gengival. Esses sintomas desaparecem juntamente com o início do período de fluxo menstrual (Lindhe & Attsfrom, 1967; Hugoson, 1970; Koreeda et al., 2005; Baser et al., 2009). Contraceptivos Orais Esses medicamentos são fabricados utilizando-se de progesterona e estrógeno sintéticos e tem a finalidade de prevenir a ovulação. Pode-se considerar que pela ação dos contraceptivos, têm-se quadro periodontal semelhante ao encontrado na gestação. O período no qual essa medicação é administrada está diretamente relacionado com a possibilidade de ocorrerem manifestações bucais. Na hipótese de haver administração prolongada certamente vai haver problemas orais, tais como: edema, aumento de exsudato inflamatório, sangramento e hiperplasia gengival (Tilakaratne et al., 2000). An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 Revista Perio JUNHO 2016 - 28-06-15.indd 43 Menopausa Nesse período, que geralmente se instala em torno dos 50 anos, ocorre a última menstruação da mulher, decorrente da falência folicular ovariana progressiva, que é típica do período do climatério feminino. Firma-se o diagnóstico definitivo, por intermédio de análise clínica retrospectiva, onde deve haver doze meses ao menos ou mais de ausência da menstruação ou de amenorréia (Jaffe, 1991). Consequência da diminuição brusca das taxas de progesterona e estrógeno, têm-se repercussões a nível sistêmico e oral, dentre as quais se destaca a maior prevalência de doenças periodontais. Os estrógenos têm propriedades anti-inflamatórias, devido a isso, sua falta pode acarretar em epitélio com menor queratinização e redução do fluxo salivar, predispondo a ocorrência da gengivoestomatite menopausal (Frutos et al., 2002). Em âmbito bucal pode ocorrer no decorrer do período: descamação do epitélio gengival, desconforto oral, dor, ardor, alteração do paladar e ressecamento oral. Sabe-se que durante todo o período menopausal pode ocorrer potencialização de problemas periodontais pregressos, originários em outras fases da vida da mulher. Existe risco para a manifestação de doenças autoimunes e cardiovasculares, advindo das modificações que ocorrem em termos de quantidade e tipos dos hormônios ovarianos no decorrer do período perimenopausa e menopausal. As repercussões bucais concomitantes envolvem xerostomia severa (Payne, 1997; Tilakaratne, 2000; Friedlander, 2002). Em decorrência de não haver mais secreção hormonal ovariana em determinado momento, têm-se gengiva com coloração de rosa pálido a vermelho intenso. Um agravante bastante importante, envolvendo essa situação clínica é que à medida que transcorre o tempo, vai havendo inflamação mais intensa, o que irá expor o tecido conjuntivo subjacente, bem como as terminações ner vosas, predispondo a maior sensibilidade, além de ocorrer dificuldade no ato da alimentação e higienização bucal pela mulher. A escassez da higienização levará a piora do quadro clínico periodontal das pacientes com acúmulo de cálculo dental e de tártaro, desencadeando um ciclo vicioso, em virtude de outro problema clinico hormonal (Lascala & Moussalli 1985; Friedlander, 2002). DISCUSSÃO Ito et al., (1995), corrigiram que pode ocorrer influência dos hormônios sexuais a nível inflamatório e infeccioso. Nesse contexto, os autores relataram que o estrógeno pode ser responsável por inibir a resposta inflamatória, causando 43 04/07/2016 11:29:48 Braz J Periodontol - June 2016 - volume 26 - issue 02 - 26(2):40-47 cessação da quimiotaxia dos neutrófilos. Segundo alguns autores, podemos presenciar processo reacional com inflamação gengival, oriundo de ação causada pelo aumento dos hormônios sexuais femininos. Essa situação clínica, no entanto, ocorre por si só e mesmo que não haja acúmulo de placa bacteriana na região da gengiva. No caso de presença de cálculo e de placa, logicamente pode-se ter um agravante no quadro inflamatório (Tiainen et al., 1922; Kornman & Loescheg, 1980; Lindhe, 1989; Zachriasen, 1989; Rose, 1990). Conforme determinação da Academia Americana de Periodontia (AAP) existe inter-relação entre doenças periodontais e hormônios sexuais ou ovarianos, havendo algumas categorias que foram estipuladas, abrangendo as várias fases da vida da mulher onde existe possibilidade de ação concomitante. São elas: gengivite associada ao ciclo menstrual, a puberdade e a gravidez (Armitage, 1999). Para combater o avanço das doenças periodontais influenciadas pela ação hormonal nessas fases da vida da mulher, deve-se instituir a terapia periodontal básica, fazendose uso da instrumentação periodontal e do alisamento radicular. Outro quesito que tem bastante importância e que deve ser obedecido é o de proceder a orientações sobre os cuidados essenciais com a higiene bucal, envolvendo orientações sobre como empregar técnicas de escovação e de uso de fita e de fio dental corretamente. Em seguida é conveniente fazer-se uma avaliação periódica com consultas regulares para que se possa averiguar como a paciente está se saindo sozinha com a higienização bucal. No caso de não haver bom desempenho, reforçam-se as orientações. A paciente deve ser capaz de por si só executar uma boa higiene bucal. O objetivo principal pretendido com esse tipo de abordagem é a educação das pacientes para que ocorra efetividade na manutenção da higiene oral, continuadamente. Depois de realizados os procedimentos odontológicos (instrumentação periodontal com remoção de placa e tártaro) deve haver esse tipo de comportamento satisfatório, pois caso contrário, teremos novamente em um período curto de tempo a instalação de cálculo e de tártaro nas superfícies dos dentes. Relacionado aos efeitos ocorridos, devido às oscilações dos hormônios sexuais na circulação, é conveniente frisar que existem variações entre indivíduos e que não ocorrem manifestações clínicas em todos de forma homogênea. Denotam-se diferenças acerca dos efeitos manifestos, que condizem com o sexo e o período de vida em que se enquadra o indivíduo (Lascala & Moussalli, 1985). Nesse contexto, o tratamento odontológico empregado pelo cirurgião dentista deve ser individualizado, conforme as necessidades apresentadas pelas pacientes, dessa forma pode-se ater as variações provenientes do comportamento hormonal das mesmas, tentando realizar condutas clínicas que possam resolver ou atenuar os problemas periodontais apresentados em cada caso (Lascala & Moussalli, 1985). Na fase menopausal pode ocorrer situação clínica, envolvendo quadro de secura bucal. Pode-se fazer uso para tratamento em âmbito odontológico de saliva artificial ou de goma de mascar, visando à estimulação mecânica e a produção de maior quantidade de saliva. A etiopatogenia das doenças periodontais e o interrelacionamento que existe com os fatores de risco para o seu desenvolvimento, dentre os quais os fatores hormonais, requer maiores estudos para se obter melhores explicações e elucidação dos fatos ocorridos num espectro mais amplificado. A maioria dos cirurgiões dentistas clínicos na atualidade tem conhecimento que existem determinadas manifestações sistêmicas, que são capazes de repercutir em âmbito bucal, ocasionando problemas periodontais, no entanto, o conhecimento e os cuidados que são tomados no decorrer das intervenções clínicas odontológicas tem enfoque voltado primordialmente para a correlação que pode existir entre determinadas doenças sistêmicas (aterosclerose, lúpus eritematoso sistêmico, diabetes, artrite reumatoide, entre outras) e doenças periodontais. Deveria haver também um enfoque maior voltado para as repercussões orais, que podem ser causadas por manifestações hormonais, como as que procedem pela influência dos hormônios sexuais nas mulheres. 44 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 Revista Perio JUNHO 2016 - 28-06-15.indd 44 CONCLUSÃO Concluiu-se que com o emprego da terapêutica periodontal, no intuito de atenuar o processo inflamatório, pode-se obter melhor qualidade de vida para as mulheres que se encontram nessas fases da vida em que é possível ocorrer interferência hormonal nos problemas periodontais. ABSTRACT Hormonal factors are those that act on the body at certain stages of women’s lives, being able to modify the response of tissues to bacterial irritation, influencing progress, the intensity and the response to treatment of periodontal disease. Changes in hormone levels during puberty, pregnancy and menopause can modify the host response in relation to the plaque by increasing the intensity progression of periodontal disease. The objective was to find out how proceeds knowledge and awareness of these clinical manifestations of hormonal nature by a dentist. The hormonal influence may 04/07/2016 11:29:48 Braz J Periodontol - June 2016 - volume 26 - issue 02 - 26(2):40-47 predispose to the development of periodontal diseases or act exacerbate preexisting periodontal inflammation. In these clinical situations, periodontal treatment should be able to eliminate the inflammatory response, concurrently makes up control of maintenance treatment, guiding patients on the essential care of your oral hygiene so that they can, at least perform brushing and use of dental floss or tape correctly. It is used for treating periodontal instrumentation by scaling and root planing. It was concluded that with the use of periodontal therapy to attenuate the inflammatory process, one can get better quality of life for women who are in those stages of life that can occur hormonal interference in periodontal problems. UNITERMS: Women. Estrogens. Progesterone. Periodontal Diseases. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Minas Gerais. Secretaria de Estado da Saúde. Atenção em Saúde Bucal. Belo Horizonte: SAS/1ª. Ed., 2006, p. 124-6, 290 p. 2- Johannsen A, Rydmark I, Soder B, Asberg Ml. Gingival Inflammation, increased periodontal pocket depth and elevated interleukin-6 in gingival crevicular fluid of depressed women on long-term sick leave. J Periodontal Res, 2007; 42(6):546-52. 3- Lindhe J, Lang NP, Karring T. Tratado de Periodontia Clínica e Implantologia Oral. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2010, 1321 p. 4- Newman MG, Takei HH, Klokkevold PR, Carranza FA. Periodontia Clínica. 11ªed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2011, p. 1328. 5- Axelsson P, Lindhe J. 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