percepção dos acadêmicos de enfermagem em relação à

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PERCEPÇÃO DOS ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM EM RELAÇÃO
À SEGURANÇA NO PROCESSO DE ADMINISTRAÇÃO
PARENTERAL DE MEDICAMENTOS
PERCEPTION OF NURSING STUDENTS REGARDING SAFETY IN THE
PROCESS OF PARENTERAL DRUG ADMINISTRATION
NASCIMENTO, Lais Cardoso do1
LEMOS, Lucimeire Fermino²
SILVA, Ana Elisa Bauer de Camargo³
OLIVEIRA, Michele Dias da Silva4
BEZERRA, Ana Lucia Queiroz5
1.
2.
3.
4.
5.
Acadêmica da Faculdade de Enfermagem (UFG). Contato: [email protected]
Enfermeira; Mestre em Enfermagem. Professora Assistente da Faculdade de Enfermagem-UFG.
Enfermeira; Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem-UFG.
Enfermeira; Mestre em Enfermagem. Professora Assistente da Faculdade de Enfermagem-UFG.
Enfermeira; Doutora em Enfermagem. Professora Associada da Faculdade de Enfermagem-UFG.
Resumo:
Objetivo: O objetivo deste estudo foi identificar a percepção dos acadêmicos de
enfermagem de uma universidade pública de Goiás sobre a segurança na prática de
administração parenteral de medicamentos. Método: Trata-se de uma pesquisa
transversal de abordagem quantitativa. Participaram do estudo 73 acadêmicos de
enfermagem dos sexto, oitavo e décimo períodos. Os dados foram obtidos mediante
aplicação de questionário e analisados com estatística simples. Resultados:
Verificou-se maior insegurança na realização de cálculo de dosagem (61,6%) e no
preparo (43,9%). 20,6% dos acadêmicos vivenciaram erro na medicação, e
apontaram a desatenção como principal fator causal. Em relação ao erro relacionado
ao medicamento, 20,6% relataram que já o vivenciaram. A desatenção correspondeu
a 80% dos fatores que podem ter contribuído para o erro. Conclusão: Acredita-se
que o acréscimo de aulas teórico-práticas, poderão contribuir para a segurança dos
estudantes, resultando na qualificação da assistência prestada.
Palavras-chave: enfermagem; segurança; administração de medicamentos.
Abstract:
Objective: The objective of this study was to identify the perception of nursing
students from a public university of Goiás on safety in the practice of parenteral drug
administration. Method: This is a cross-sectional study with a quantitative approach.
The study included 73 students of the sixth, eighth and tenth periods of a Nursing
school. The data were obtained by applying questionnaire and analyzed using simple
statistics. Results: There was greater uncertainty in making dosage calculation
(61.6%) and preparation (43.9%). 20.6% of the students experienced error in
medication, and noted the lack of attention as the main causal factor. Regarding the
error related to the drug, 20.6% reported that they have already experienced.
Inattention corresponded to 80% of the factors that may have contributed to the error.
Conclusion: It is believed that the addition of theoretical and practical lessons, can
contribute to the safety of students, resulting in the quality of care provided.
Key-words: nursing, security, drug administration.
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INTRODUÇÃO
A administração de medicamentos é um processo complexo e multidisciplinar,
inicia-se com a prescrição médica e finaliza com o preparo e administração
realizados pelo enfermeiro ou equipe de enfermagem1. Ao profissional que executa
a administração de medicamentos, é exigida a aquisição de conhecimentos técnicos
e científicos, de forma a garantir assistência segura aos pacientes2.
Os erros na administração de medicamentos podem trazer danos e prejuízos
diversos ao paciente, desde o aumento de tempo de internação hospitalar,
necessidade de intervenções diagnósticas e terapêuticas e até consequências
irreversíveis como a morte. Em relação ao profissional, esses erros são
responsáveis por desencadear sentimentos de ansiedade, insegurança, tristeza,
punição, medo, além de ocasionar desprestígio à instituição3.
Erros relacionados a medicamentos são classificados como eventos
adversos, que podem ou não ocasionar danos ao paciente, e são passíveis de
prevenção. Podem ocorrer desde a prescrição até a administração da droga ao
cliente4. O erro pode estar relacionado a erros de prescrição, dispensação, preparo,
administração e monitoramento, tais como: omissão de horário, administração de
uma medicação sem autorização, dose incorreta, técnicas de administração
inapropriadas etc...1,5.
A enfermagem é responsável pelas últimas etapas do processo de
administração de medicamentos, podendo detectar falhas e evitá-las. A segurança
na administração de medicamentos é imprescindível, e para isto é preciso identificar
os tipos de erros e os fatores de risco na ocorrência de falha1.
Estudo realizado com acadêmicos de enfermagem revelou que esses se
sentiam ansiosos e inseguros em relação à prática de medicamentos, mesmo em
simulações realizadas em laboratório. E esses sentimentos eram decorrentes da
grande responsabilidade que estavam assumindo por lidarem com vidas, as quais
necessitavam de seus cuidados, além do medo de errar e ocasionar dor e
sofrimento ao paciente, inclusive, podendo levá-lo à morte4.
A importância de se conhecer as percepções dos acadêmicos de enfermagem
sobre a prática de medicamentos está então, em estabelecer estratégias para
superação dessas fragilidades e para a aquisição de segurança por parte dos
estudantes, para que haja minimização de erros e consequentemente, de danos
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causados ao paciente. Este estudo é relevante, uma vez que pretende identificar
quais os sentimentos dos acadêmicos de enfermagem em relação à administração
parenteral de medicamentos.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo de abordagem quantitativa. A pesquisa foi realizada
numa universidade pública do Estado de Goiás. A população do estudo foi
composta por todos os acadêmicos de enfermagem do sexto, oitavo e décimo
períodos que cursaram e concluíram as disciplinas de Semiologia e Semiotécnica e
de Farmacologia. Participaram do estudo os acadêmicos de enfermagem que
concordaram em participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos aqueles que não cursaram as
referidas disciplinas e que não participaram de atividade prática no campo da
medicação parenteral.
A coleta ocorreu nos meses de outubro e novembro de 2011, por meio da
aplicação de um questionário com perguntas estruturadas, relacionadas à
segurança no preparo, na administração e no cálculo de dosagem de
medicamentos por via parenteral, à ocorrência de erros, entre outros. O
questionário foi submetido a três expertos e, após adequações propostas, foi
executado piloto junto a três enfermeiros egressos da faculdade onde foi realizado
esse estudo. A análise dos dados foi feita manualmente através de estatística
simples. O presente estudo foi submetido à avaliação prévia do Comitê de Ética
sob protocolo de número 265/2011, tendo sido executado conforme parâmetros da
Resolução CNS 196/96.
RESULTADOS
Participaram do estudo 73 acadêmicos de enfermagem, sendo 28 (38,3%)
do sexto período, 34 (46,6%) do oitavo e 11 (15,1%) do décimo período. O grupo
foi constituído predominantemente pelo sexo feminino 91,8%. A idade dos
entrevistados variou de 19 a 39 anos, com predominância de estudantes com
idades entre 20 e 22 anos.
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Quando questionados sobre como o acadêmico se sente em relação à
segurança na prática de preparo de medicamento, a maioria (53,4%) relatou se
sentirem seguros, seguido por 30,10% que se relataram pouco seguros, 12,3%
inseguros
e
2,7%
muito
seguros. Alguns
alunos
não
responderam
ao
questionamento (1,3%). A tabela 1 mostra a descrição por período.
Tabela 1: Percepção dos acadêmicos de enfermagem quanto à segurança no preparo de
medicamentos, segundo período cursado. Goiânia, GO, Brasil, 2011.
Sexto
Oitavo
Muito
Seguros
(n e %)
1 (3, 5%)
1 (2,9%)
12 (42,8%)
20 (58,8%)
Pouco
Seguros
(n e %)
12 (42,8%)
7 (20,5%)
Décimo
0 (0,0%)
7 (63,6%)
TOTAL
2 (2,7%)
39 (53,4%)
Período
Cursado
Seguros
(n e %)
Inseguros
(n e %)
Não
responderam
2 (7,1%)
6 (17,6%)
1 (3,57%)
0
3 (27,2%)
1 (9,09%)
0
22 (30,10%)
9 (12,3%)
1 (1,3%)
A tabela acima aponta que 31(43,9%) acadêmicos se sentem inseguros ou
pouco seguros para realizar o preparo de medicamentos, sendo a maior parte
deles do sexto período.
Quanto à percepção dos acadêmicos em relação à segurança na
administração dos medicamentos, 57,5% dos estudantes se sentem seguros,
27,4% pouco seguros, 8,2% inseguros, e apenas 6,8% relataram se sentir muito
seguros. A comparação da percepção dos alunos, segundo o período de estudo,
acerca da administração de medicamentos está contida na tabela 2.
Tabela 2: Análise por período cursado sobre a percepção dos acadêmicos de enfermagem
quanto a segurança na administração de medicamentos. Goiânia, GO, Brasil, 2011.
Período cursado
Muito Seguros
(n e %)
Seguros
(n e %)
Pouco Seguros
(n e %)
Inseguros
(n e %)
Sexto
1 (3,5%)
12 (42,8%)
12 (42,8%)
3 (10,7%)
Oitavo
4 (11,7%)
22 (64,7%)
6 (17,6%)
2 (5,8%)
Décimo
1 (9,09%)
7 (63,63%)
3 (27,27%)
0 (0,0%)
TOTAL
6 (8,2%)
41 (57,5%)
21 (27,4%)
5 (6,8%)
A tabela acima aponta que 26 (35,6%) acadêmicos se sentem inseguros ou
pouco seguros para realizar a administração de medicamentos, sendo a maior
parte deles também do sexto período.
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No que diz respeito à segurança do acadêmico ao realizar o cálculo do
medicamento a ser administrado, grande parte dos estudantes relataram-se pouco
seguros (41,1%) e inseguros (20,5%), conforme apresentado na tabela 3.
A tabela 3 também descreve as percepções por período, em relação ao
cálculo e dosagem de medicamentos.
Tabela 3: Análise por período cursado sobre a percepção dos acadêmicos de enfermagem
quanto a segurança na realização do cálculo da dosagem de medicamentos. Goiânia, GO,
Brasil, 2011.
Período cursado
Muito Seguros
(n e %)
Seguros
(n e %)
Pouco Seguros
(n e %)
Inseguros
(n e %)
Sexto
Oitavo
Décimo
1 (3,5%)
1 (2,9%)
0 (0,0%)
11 (39,2%)
12 (35,2%)
3 (27,2%)
13 (46,4%)
11 (32,3%)
6 (54,5%)
3 (10,7%)
10 (29,4%)
2 (18,1%)
TOTAL
2 (2,7%)
26 (35,6%)
30 (41,1%)
15 (20,5%)
A tabela acima aponta que 45 (61,6%) acadêmicos se sentem inseguros ou
pouco seguros para realizar o cálculo da dosagem de medicamentos, com alta taxa
de insegurança entre os acadêmicos do décimo período.
A fase de administração de medicamentos é aquela que pode gerar maior
insegurança no acadêmico (36,98% inseguros e 23,28% pouco seguros), seguido
da preparação (31,5% inseguros e 23, 28% poucos seguros) distribuição (21,91%
inseguros e 17,8% pouco seguros) e dispensação de medicamentos (9,58%
inseguros e 31,5% pouco seguros), em concordância com a tabela 4.
Tabela 4: Percepção dos acadêmicos de enfermagem quanto a segurança no processo de
administração de medicamentos. Goiânia, GO, Brasil, 2011.
Fase do Processo de
Administração de
Medicamentos
Preparação
Administração
Dispensação
Distribuição
Muito Seguros
(n e %)
Seguros
(n e %)
Pouco Seguros
(n e %)
Inseguros
(n e %)
17 (23,28%)
17 (23,28%)
19 (26,22%)
20 (27,39%)
13 (17,8%)
12 (16,43%)
24 (32,87%)
24 (32,87%)
20 (27,39%)
17 (23,28%)
23 (31,5%)
13 (17,8%)
23 (31,5%)
27(36,98%)
7 (9,58%)
16 (21,91%)
As vias de administração de medicamentos que geram maior insegurança
entre os acadêmicos estão apresentadas na figura 1.
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64
45,00%
40,00%
35,00%
30,00%
25,00%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
Endovenosa
Intradérmica
Muito Seguros
Seguros
Intramuscular
Pouco Seguros
Subcutânea
Inseguros
Figura 1: Percepção dos acadêmicos de enfermagem quanto a segurança para administrar
medicamentos segundo a via de acesso. Goiânia, GO, Brasil, 2011.
Em relação a erro na medicação 79,4% dos acadêmicos afirmaram que
nunca tiveram qualquer ocorrência, enquanto 20,6% relataram já ter passado por
esta experiência.
Os principais erros relatados pelos estudantes foram relacionados ao
preparo/diluição
(33,3%),
seguidos
de
paciente
errado
(20%),
vias
de
administração de medicamentos (20%), medicamento (13,3%), dose (6,7%) e
horário (6,7%).
Dentre os fatores que podem ter contribuído para o erro, foram
mencionados: desatenção (34,28%), pressa (22,85%), ansiedade/estresse (20%),
deficiência teórica (8,57%), campo de prática inadequado (5,71%), falta de
destreza manual (2,85%), falha do professor (2,85%) e orientação errada de colega
(2,85%). Dentre estes fatores, a desatenção correspondeu a 80% dos relatos. Não
foram citados prescrição médica ilegível e nem erro da farmácia no envio do
medicamento.
Em relação ao procedimento adotado em caso de erro, apenas 6,6%
descreveram que foi feita anotação no prontuário. Em 26,6% dos casos não foi
referido qual procedimento adotado. Dentre estes estudantes que não disseram
qual medida tomaram após o erro, 13,3% relataram que nada fizeram e 13,3% não
falaram o que fizeram. Os outros casos foram comunicados a alguém e foi adotada
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alguma medida paliativa ou ativa no sentido de evitar o dano, que não foi relatado
em nenhum dos casos.
Quando inquiridos se a prática em laboratório foi suficiente para a prestação
de cuidado seguro direto no paciente 79,4% dos acadêmicos afirmaram que não,
17,8% disseram que sim, e 2,7% não responderam.
Segundo os acadêmicos as medidas para conferir maior segurança na
administração de medicamentos seriam: aumentar a carga horária de aulas
teóricas e práticas destinadas à medicação, ter mais aulas simuladas em
laboratório, aprofundar as aulas com mais exercícios sobre medicação, realizar
mais oficinas e minicursos sobre este assunto e garantir que o processo da
administração de medicamentos possa ser vivenciado nas aulas práticas de todas
as disciplinas que dão especificidade à formação do profissional enfermeiro.
DISCUSSÃO
O processo de preparação de medicamentos consiste em realizar a limpeza
do local onde será preparado o medicamento e realizar a higienização das mãos,
posteriormente deve-se preparar o material que será utilizado para administrar o
medicamento, avaliando se o medicamento prescrito é o medicamento certo, se a
via e a dose estão corretas e verificar a data de validade do medicamento. A
administração de medicamentos compreende a fase em que depois do medicamento
ser devidamente preparado, é administrado, utilizando-se para isto de técnica
adequada e treinamento6.
O preparo e a administração de medicamentos é portanto, um processo
complexo, podendo até ser a maior responsabilidade a que os profissionais de
enfermagem estão submetidos1. Pode-se observar pelas respostas obtidas nos
questionários, que uma quantidade significativa de acadêmicos relataram sentir –se
pouco seguros nessa prática. Estudo realizado sobre este tema, também verificou
que o preparo e a administração da medicação, frequentemente geram respostas
emocionais como medo, insegurança, ansiedade e angústia nos acadêmicos de
enfermagem, mesmo em situações simuladas no laboratório de enfermagem(2,4,7).
Há uma preocupação quanto ao cálculo e a dosagem de medicamentos,
levando em conta que a maioria dos alunos se descreve como pouco seguros e boa
parte destes como inseguros. O erro no cálculo do gotejamento é definido como um
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dos tipos de erro mais prevalentes entre os profissionais da instituição que foi
pesquisada8.
Uma das causas dos erros de medicação é o despreparo da equipe de
enfermagem com relação às técnicas de administração de medicamentos e por não
ser dada a devida importância desse procedimento no cuidado ao paciente, o que
pode levar a erros de cálculos, e consequentemente, de preparo e de
administração7. A administração de medicamentos com dose errada ocorre
geralmente quando o medicamento é dispensado em dose diferente da prescrição
médica7,8.
Não se sabe ao certo a causa da insegurança nos períodos cursados
superiores ao sexto período, acredita-se que é devido ao maior contato que os
alunos do sexto período tem com a prática de administração de medicamentos,
sendo que posteriormente os estudantes só vão administrar medicamentos em uma
disciplina do oitavo período, de forma breve. Em contrapartida, uma pesquisa
realizada com estudantes de enfermagem sobre ocorrências iatrogênicas na
administração de medicamentos identificou que acadêmicos que vivenciaram erros
de medicação estavam cursando os seguintes semestres: terceiro semestre (48%),
quarto semestre (27%) e quinto semestre (8%). Os índices desse estudo mostraram
portanto, que os erros vão diminuindo a medida que os alunos vão avançando em
seu tempo de graduação9.
A via de administração de medicamentos que os acadêmicos apresentam
maior insegurança foi a endovenosa, seguida da intradérmica, intramuscular e
subcutânea. Esse resultado gera grande preocupação, pelo fato de que com a
ocorrência de um erro ao administrar medicamentos na via endovenosa pode causar
severos danos aos pacientes e pode até mesmo, levá-los à morte10.
Os estudantes relataram uma diversidade de fatores que podem ter
ocasionado o erro, porém o fator mais prevalente foi a desatenção. Outra pesquisa
também identificou falta de atenção como causa para ocorrência do erro, além
desse fator, a falta de informação e de conhecimento foram reconhecidos como
causadores do erro2. Apesar dos acadêmicos não citarem a prescrição médica
ilegível como fator de insegurança, isso foi encontrado em diversos estudos como
um fator predisponente do erro5,10.
Cerca de 20% dos alunos relataram já ter vivenciado algum tipo de erro.
Estudo realizado em 2008, demonstrou que 60% dos participantes relataram nunca
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terem cometido qualquer erro na administração de medicamentos, enquanto 40%
afirmam ter cometido algum tipo de erro durante a administração8.
Os tipos de erro mais vivenciados pelos discentes foram, em ordem
decrescente: diluição ou preparo, paciente errado, via errada, medicamento errado,
dose errada e horário errado. Ao comparar com a literatura, em um estudo foi
encontrado que erros de dose, erros de horário e medicamentos não autorizados
foram os mais frequentes. O mesmo artigo mencionou também erros de técnica,
erros de via de administração, doses extras, erros de prescrição, omissões, paciente
errado e erros de apresentação7. Outro estudo encontrou que mais de 90% dos
erros de administração de medicamentos por parte dos enfermeiros se dão na forma
de: paciente errado, dosagem errada, medicação errada e hora errada2.
Quanto ao procedimento adotado após o erro, foi observado que poucos
estudantes de enfermagem o relataram. Da mesma forma, foi encontrado grande
número de erros subnotificados em um artigo, em que de todos os entrevistados
67% já tinham presenciado erros de medicação, sendo que 57% foi notificado e 43%
não foi notificado. O autor traz que essa subnotificação pode ser decorrente do
medo e da preocupação de serem punidos1.
A formação acadêmica não tem privilegiado ações de fortalecimento
emocional para os estudantes, o que facilita a ocorrência de sentimentos de
ansiedade, insegurança e tristeza, que podem interferir negativamente na qualidade
das ações de cuidado desenvolvidas4.
Diante disso, as medidas sugeridas pelos discentes para gerar aumento na
segurança da administração de medicamentos foram aumentar as aulas teóricopráticas, bem como as aulas de laboratório.
Estudo confirma que, por meio das simulações realizadas em laboratório de
técnicas de enfermagem, os estudantes afirmaram superar a ansiedade e o medo
inicialmente mencionados, adquirindo a segurança necessária à execução correta
da administração de medicamentos4. Estudo que se baseia na teoria da
aprendizagem comportamental, acredita que para se tornarem seguros, os
estudantes devem desenvolver seus conhecimentos, habilidades e atitudes no
laboratório antes de ter o contato real com o paciente, de forma que eles aprendam
a gerenciar distrações e interrupções no momento da administração de
medicamentos11.
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Diante do que foi exposto pode-se observar que a segurança para a
administração de medicamentos é um aspecto fundamental para que erros sejam
minimizados. A aquisição de segurança é um sentimento indispensável à construção
do conhecimento necessário para administração de medicamentos3.
CONCLUSÃO
Embora a maioria dos estudantes entrevistados sinta-se confortável com o
preparo e administração de medicamentos, a fase em que envolve o cálculo e a
dosagem destes medicamentos, traz muita insegurança para a maioria dos
acadêmicos. A via endovenosa foi a mais lembrada entre eles, quando o tema em
questão foi a insegurança na administração medicamentosa.
Verificou-se entre os acadêmicos dos oitavo e décimo períodos, maior
insegurança relacionada com a prática medicamentosa, ao que se sugere o
desenvolvimento de novos estudos para identificar quais fatores seriam os
responsáveis pela insegurança quanto ao cálculo e dosagem de medicamentos
nesta população.
Fatores como desatenção e pressa, podem contribuir para ocorrência de
erros relacionados ao processo de administração de medicamentos.
A verificação de subnotificação após a ocorrência de erro pode ser um
indicativo da cultura do medo sobre o erro e demonstra a necessidade de maior
esclarecimento sobre o tema.
Os acadêmicos sugerem o aumento quantitativo de aulas teóricas sobre o
assunto, a prática em laboratório e maior número de disciplinas com atividades
práticas em campo. Acreditam que essas ações poderão contribuir para o aumento
do sentimento de segurança relacionado à prática de administração de
medicamentos, colaborando para a qualificação da assistência prestada.
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