A assistência de enfermagem no trauma buco-maxilo-facial1 The nursing care in maxillofacial trauma Los cuidados de enfermaría em trauma maxilofacial Franco Andréia de Souza2, Brasileiro Marislei Espíndula3. A assistência de enfermagem no trauma buco-maxilo-facial. Revista Eletrônica de Enfermagem do Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição [serial on-line] 2012 ago-dez 3(3) 1-28. Available from: <http://www.ceen.com.br/revistaeletronica>. Resumo Objetivo: Identificar, na literatura, as bases para a sistematização da assistência de enfermagem ao paciente vítima de trauma buco-maxilo-facial. Materiais e Método: Estudo do tipo exploratório e descritivo, da literatura disponível em bibliotecas convencionais e virtuais. Resultados e discussão: após a análise de 18 artigos publicados foi possível identificar três categorias que caracterizam o perfil da literatura pesquisada. A primeira delas faz uma abordagem à identificação das principais injúrias traumáticas observadas na região oral e maxilofacial- danos ao tecido mole, fraturas dentoalveolares, fraturas mandibulares, fraturas da maxila, fraturas do complexo zigomático, fraturas do complexo naso-órbito-etimoidal, lesões por arma de fogo e fraturas panfaciais. Na segunda, faz referência ao início da sistematização da enfermagem, a coleta de dados, identificando a importância desta investigação clínica e determinando o processo de identificação e abordagem do politraumatizado. E por fim, a sequência do processo de enfermagem, com o levantamento de diagnósticos de enfermagem referentes às injúrias orais e faciais mais comuns subseqüentes ao trauma facial, e o planejamento das intervenções de enfermagem referentes a cada diagnóstico. Conclusão: Este planejamento de cuidados em enfermagem é importante para os usuários dos serviços em que atua a enfermagem, pois imprime ao trabalho destes profissionais maior grau de organização, o que certamente contribui para sua qualidade e segurança, a fim de conduzir e ser parte fundamental da equipe responsável por garantir um processo de cuidado eficaz. 1 Artigo apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Enfermagem em Emergência e Urgência 13, do Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição/Pontifícia Universidade Católica de Goiás. 2 Enfermeira especialista em Emergência e Urgência, enfermeira-supervisora do Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia-HUAPA, e-mail: [email protected] 3 Doutora – PUC-Go, Doutora em Ciências da Saúde – UFG, Mestre em Enfermagem, docente do CEEN, e-mail: [email protected] Profa Marislei Brasileiro/CEEN 2 Descritores: Cuidados de enfermagem, assistência de enfermagem, processos de enfermagem, traumatismos maxilofaciais. Abstract Objective: To identify, in literature, the basis for the systematization of nursing care to patient trauma victim maxillo-facial. Materials and Methods: the study of exploratory and descriptive literature available in conventional and virtual libraries. Results and discussion: After analysis of 18 published articles were identified three categories that characterize the profile of literature. The first is an approach to major traumatic injuries observed in the oral and maxillofacial region, damage to soft tissue, dentoalveolar fractures, mandibular fractures, maxillary fractures, zygomatic complex fractures, complex fractures of the naso-orbitaletimoidal, injuries due to gunshot panfaciais fire and fractures. In the second, refers to the beginning of the systematization of nursing, data collection, identifying the importance of clinical research and determining the process of identifying and addressing the multiple traumas. Finally, the sequence of the nursing process, with a survey of nursing diagnoses related to oral and facial injuries subsequent to the most common facial trauma, and the planning of nursing interventions for each diagnosis. Conclusion: The planning of nursing care is important for users of services in which it operates nursing, since it applies to these professionals greater degree of organization, which certainly contributes to their quality and safety in order to drive and be a key part team responsible for ensuring an effective process of care. Keywords: Nursing care, nursing care, nursing process, maxillofacial trauma. Resumen Objetivo: Identificar, en la literatura, la base para la sistematización de los cuidados de enfermería al paciente víctima del trauma maxilo-facial. Materiales y Métodos: el estudio de la literatura exploratoria y descriptiva disponible en las bibliotecas convencionales y virtuales. Resultados y discusión: Después del análisis de 18 artículos publicados se identificaron tres categorías que caracterizan el perfil de la literatura. La primera es una aproximación a las principales lesiones traumáticas observadas en la región oral y maxilofacial, el daño a los tejidos blandos, fracturas dentoalveolares, fracturas mandibulares, fracturas maxilares, cigomáticos fracturas complejas, fracturas complejas de la sonda naso-órbito-etimoidal, las lesiones por arma de fuego debido a la panfaciais fuego y fracturas. En el segundo, se refiere al principio de la sistematización de la enfermería, la recopilación de datos, identificando la importancia de la investigación clínica y determinar el proceso de identificar y abordar los múltiples traumas. Por último, la secuencia del proceso de enfermería, con un estudio de los 3 diagnósticos de enfermería relacionados con las lesiones orales y faciales posteriores al trauma facial más común, y la planificación de las intervenciones de enfermería para cada diagnóstico. Conclusión: La planificación de los cuidados de enfermería es importante para los usuarios de los servicios en los que opera la enfermería, ya que se aplica a estos profesionales un mayor grado de organización, lo que sin duda contribuye a su calidad y seguridad con el fin de conducir y ser una parte clave el equipo responsable de garantizar un proceso eficaz de la atención. Palabras clave: Cuidados de enfermería, cuidados de enfermería, el proceso de enfermería, un traumatismo maxilofacial. 1 Introdução A enfermagem tem um papel fundamental nos cuidados em saúde de um paciente vítima de traumatismo buco-maxilo-facial. A assistência envolve o atendimento inicial em urgência e emergência, visando a estabilização do paciente, a reabilitação total e a reinserção do mesmo na sociedade, priorizando um atendimento ágil, com qualidade, seguro, individualizado e integral. O traumatismo buco-maxilo-facial se faz presente em grande parte das lesões traumáticas, principalmente devido ao posicionamento anterior das estruturas faciais e à ausência de proteções externas a essas estruturas¹. Dos pacientes submetidos a essas lesões, cerca de 12,5% necessitam de intervenções cirúrgicas e mais de 75% necessitam de internação hospitalar para observação1. O atendimento primário do paciente com taumatismo buco-maxilo-facial é fundamental para o sucesso do tratamento, bem como para o suporte básico de vida do mesmo, uma vez que obstruções de vias aéreas e grandes hemorragias se fazem presentes em alguns casos. A assistência de enfermagem é indispensavel em qualquer fase do tratamento e reabilitação dos pacientes com essas injúrias. O papel exercido pelo enfermeiro é construído desde sua formação, apoiado nas ações do cuidar e do saber – fazer –ser, conduzindo a enfermagem para o caminho deste cuidar. A finalidade do cuidar na enfermagem é prioritariamente aliviar o sofrimento humano, manter a dignidade e facilitar meios para manejar as crises e as experiências do viver e do morrer2. A sistematização da assistência de enfermagem, enquanto processo organizacional é capaz de oferecer subsídios para o desenvolvimento de métodos/metodologias interdisciplinares e humanizadas de cuidado. As metodologias de cuidado, sejam quais forem as suas denominações, representam, atualmente, uma das mais importantes conquistas no campo assistencial da enfermagem. A SAE proporciona uma maior autonomia para o enfermeiro, um respaldo seguro através do registro, que garante a 4 continuidade/complementaridade multiprofissional, além de promover uma aproximação enfermeiro – usuário, enfermeiro – equipe multiprofissional3. Em 2009, a Resolução Cofen nº 358/2009 revogou a Resolução Cofen nº 272/2002 afirmando que o processo em enfermagem deve ser realizado, de modo deliberado e sistemático, em todos os ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de enfermagem. Sendo composto por coleta de dados em enfermagem ou histórico em enfermagem, diagnóstico em enfermagem, planejamento de enfermagem, implementação e avaliação de enfermagem4,5. O diagnóstico de enfermagem é um julgamento clínico sobre as respostas do indivíduo, da família ou da comunidade aos problemas de saúde/processos vitais reais ou potenciais. O diagnóstico de enfermagem proporciona a base para seleção das intervenções de enfermagem, visando a alcançar resultados pelos quais o enfermeiro é responsável6. De acordo com o Código de Ética de Profissionais de Enfermagem, as responsabilidades e os deveres desses profissionais, entre outros, são: ―Assegurar uma assistência de enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência‖ e ―proteger o cliente contra danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência por parte de qualquer membro da equipe de saúde‖7. As ações dos profissionais de enfermagem devem fundamentar-se nos valores da profissão e no Código de Ética, assegurando a promoção, proteção, recuperação e reabilitação das pessoas, respeitando os preceitos éticos e legais8. Em um mundo rápido e totalmente automatizado, como ele se encontra, os acidentes de trabalho, automobilístico, motociclístico e agressões físicas infelizmente se tornaram bastante presentes no dia a dia. A quantificação das incidências dos mesmos é uma grandeza variável, haja visto que ela é dependente da realidade de cada conglomerado social. Porém, obedecendo a uma proporção bastante relevante, o trauma facial encontra-se associado a mais de 80% das lesões causadas por esses incidentes, o que torna o seu estudo necessário e de grande valia para os serviços médicos de urgência1. Espera-se que esse estudo possa contribuir com uma assistência de qualidade aos pacientes vítimas de trauma buco-maxilo-facial, além de incentivar os enfermeiros de unidades de emergência e urgência a instituírem o processo de enfermagem nestes locais, haja vista, que atualmente, por diversos paradigmas como dimensionamento de enfermagem inadequado, extensas carga horária de trabalho este processo não é sempre cumprido. 2 Objetivos 2.1 Objetivos Gerais 5 Identificar, na literatura as bases para a sistematização da assistência de enfermagem ao paciente vítima de trauma buco-maxilo-facial. 2.2 Objetivos Específicos Descrever as principais injúrias observadas na região oral e maxilofacial secundárias ao trauma; Descrever os principais elementos a serem observados na coleta de dados de enfermagem; Propor diagnósticos de enfermagem; Propor um plano de prescrições de intervenções de enfermagem a esses pacientes. 3 Materiais e Método Trata-se de um estudo do tipo bibliográfico, exploratório e descritivo. A modalidade de estudo bibliográfica recupera o conhecimento científico acumulado sobre um problema9. Quanto ao tipo de pesquisa relacionado aos objetivos, caracterizando a Pesquisa Exploratória: proporciona maior familiaridade com o problema; levantamento bibliográfico ou entrevistas; pesquisa bibliográfica ou estudo de caso. A Pesquisa Descritiva: os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem interferência do pesquisador; utilizam-se técnicas padronizadas de coleta de dados (questionário e observação sistemática)10. Após a definição do tema foi realizada uma busca em bases de dados virtuais em saúde, especificamente na Biblioteca Virtual de Saúde - Bireme. Foram utilizados os descritores: cuidados de enfermagem, assistência de enfermagem, processos de enfermagem, traumatismos maxilofaciais. O passo seguinte foi uma leitura exploratória das publicações apresentadas no Sistema Latino-Americano e do Caribe de informação em Ciências da Saúde LILACS, National Library of Medicine – MEDLINE e Bancos de Dados em Enfermagem – BDENF, Scientific Electronic Library online – Scielo, banco de teses USP, no período de 2000 a 2011. Realizada a leitura exploratória e seleção do material, principiou a leitura analítica, por meio da leitura das obras selecionadas, que possibilitou a organização das idéias por ordem de importância e a sintetização destas que visou à fixação das idéias essenciais para a solução do problema da pesquisa. 6 Após a leitura analítica, iniciou-se a leitura interpretativa que tratou do comentário feito pela ligação dos dados obtidos nas fontes ao problema da pesquisa e conhecimentos prévios. Na leitura interpretativa houve uma busca mais ampla de resultados, pois ajustaram o problema da pesquisa a possíveis soluções. Feita a leitura interpretativa se iniciou a tomada de apontamentos que se referiram a anotações que consideravam o problema da pesquisa, ressalvando as idéias principais e os dados mais importantes. A partir das anotações da tomada de apontamentos, foram confeccionados fichamentos, em fichas estruturadas em um documento do Microsoft Word, que objetivaram a identificação das obras consultadas, o registro do conteúdo das obras, o registro dos comentários acerca das obras e ordenação dos registros. Os fichamentos propiciaram a construção lógica do trabalho, que consistiram na coordenação das idéias que acataram os objetivos da pesquisa. Todo o processo de leitura e análise possibilitou a criação de três categorias. Os resultados foram submetidos às leituras por professores da Universidade que concordaram com o ponto de vista dos pesquisadores. A seguir, os dados apresentados foram submetidos à análise de conteúdo. Posteriormente, os resultados foram discutidos com o suporte de outros estudos provenientes de revistas científicas e livros, para a construção do relatório final e publicação do trabalho no formato Vancouver. 4 Resultados e Discussão Nos últimos onze anos ao se buscar as Bases de Dados Virtuais em Saúde, tais como a LILACS, MEDLINE, PUBMED e SCIELO, Revista da Faculdade de Enfermagem (UFG) e Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn), Revista International Journey of Oral e Maxillofacial Surgery, utilizando-se as palavras-chaves traumatismo maxillofacial, enfermagem e o trauma facial, nurse care in maxillofacial trauma, encontrou-se 18 artigos publicados entre 2000 e 2011. Após a leitura exploratória dos mesmos, foi possível identificar a visão de diversos autores a respeito da assistência de enfermagem no traumatismo buco-maxilo-facial, surgindo assim, três categorias que caracterizam o perfil da literatura pesquisada. O atendimento inicial do paciente com trauma na região oral e maxilo-facial deve ser conduzido de forma acurada e sistemática para determinar rapidamente a extensão de qualquer lesão aos sistemas de suporte básico de vida11,12. Seguidos os passos do ABC do trauma referenciados no ATLS, após a estabilização sistêmica do paciente, procede-se a avaliação da severidade do trauma facial12. As situações mais comuns de emergências traumáticas na face são: comprometimento de vias aéreas por corpo estranho, sangramento ou desabamento mandibular; hemorragias de vasos maiores, podendo levar ao choque hipovolêmico; fraturas de base de crânio; trauma por projéteis de arma de fogo de alta intensidade; fraturas panfaciais12,13. Nestes casos a equipe de enfermagem deve estar 7 preparada para os procedimentos de emergência básicos do suporte de vida (intubação, hemostasia, acessos venosos periféricos ou centrais, coleta rápida de fluidos para exames e condução do paciente ao centro cirúrgico)11,12,13. Em casos de traumatismos faciais que não constituem estado de emergência, alguns procedimentos de urgência ainda podem-se fazer necessarios12. A estabilização de fraturas, a fim de preparar o paciente para a fixação interna e as suturas intra e extra-orais são exemplos de urgências buco-maxilo-faciais que normalmente são conduzidas, a fim de se controlar sangramentos e mobilidades dos cotos fraturados até que o paciente se encontre em condições de ser submetido às intervenções eletivas de fixação interna rígida12,13. Durante este período, o paciente pode permanecer com bloqueio-maxilo-mandibular, o que acarretará em condições especiais de alimentação e cuidados, tanto por parte da família, como por parte da equipe de enfermagem. 4.1 As principais injúrias traumáticas observadas na região oral e maxilofacial são: A- Danos ao tecido mole: Os danos mais comuns aos tecidos moles faciais compreendem as abrasões, contusões, lacerações, lesões avulsivas, mordidas e lesões por armas brancas e de fogo14. As lesões de tecido mole, após devidamente tratadas pelo cirurgião responsável, devem ser tratadas de maneira especial, principalmente pelo caráter estético e potencialmente infeccioso das lesões faciais. As microbiotas oral e nasal são composta de uma numerosa população de microorganismos que podem infectar as lesões faciais, mesmo quando estas cavidades não estão envolvidas. Os cuidados de enfermagem indispensáveis a uma boa cicatrização das mesmas envolvem principalmente a limpeza diária com peróxido de hidrogênio, troca de curativos com antibióticos tópicos, higiene oral cuidadosa, não exposição das feridas ao sol e monitoramento das mesmas observando possíveis focos de infecção14,15. B- Fraturas dentoalveolares: São fraturas dos dentes ou dos mesmos juntamente com seus processos alveolares, sem que os completamente seus respectivos 16 fraturados . ossos de Normalmente sustentação o (maxila tratamento ou dessas mandíbula) lesões sejam consiste na estabilização dos dentes, ou segmentos fraturados com dispositivos especiais (Barra de Erich, esplintagens com resina ou fios de aço). Os cuidados especiais com esses pacientes consistem principalmente na administração minuciosa de antibióticos, na higienização perfeita da boca e estruturas adjacentes e na observação da dieta liquida e pastosa por 45 dias. Após esse período, os dispositivos são removidos e o paciente é encaminhado ao endodontista para avaliação16. 8 C- Fraturas mandibulares: Por se tratar de um osso móvel, a mandíbula é normalmente vítima das fraturas mais instáveis do esqueleto facial16,17. Normalmente o principio do tratamento consiste em estabilizar os cotos fraturados através de um bloqueio-maxilo-mandibular (BMM). São instaladas Barras de Erich na maxila e mandíbula e, através de elásticos ou fios de aço, o paciente é bloqueado, não podendo mais abrir a boca. Em alguns dias, o paciente pode ser submetido à cirurgia cruenta de instalação de placas de titânio, a fim de se remover o bloqueio. Caso contrário, quando os cotos estão bem alinhados, o paciente pode permanecer bloqueado por 45 dias e o tratamento estará completo17. Os principais cuidados com esse paciente consistem na manutenção da antibióticoterapia, higiene rigorosa da boca, alimentação especial liquida e pastosa, com ajuda de canudos ou colheres pequenas, manutenção da imobilização completa da mandíbula e em caso de vômito, proceder com o rompimento do bloqueio a fim de se evitar asfixia ou broncoaspiração17. D- Fraturas da maxila: As fraturas maxilares são divididas em três níveis: Le Fort-I, quando separa a maxila dentada das demais estruturas nasais e orbitárias; Le Fort-II, quando separa a maxila e a pirâmide nasal das demais estruturas faciais; Le Fort-III, quando ocorre a disjunção crâniofacial18. Essas fraturas normalmente não causam risco de morte ao paciente e são mais estáveis, com exceção nos casos de fraturas abertas. As fraturas maxilares podem ser tratadas com suspensões ou fixação interna rígida, com mini-placas e parafusos. O paciente pode ou não ficar bloqueado, dependendo da estabilidade da fixação. O bloqueio é mantido por 45 dias e os principais cuidados consistem em alimentação especial liquida e pastosa, antibioticoterapia e manutenção da imobilização, assim como nas fraturas mandibulares18. E- Fraturas do complexo zigomático: Pacientes com fraturas isoladas do complexo zigomático podem apresentar diversos sinais e sintomas. Os mais comuns são: sinal de guaxinim (equimose periorbital bilateral), edema periorbital distopia (desnível entre as duas pupilas), diplopia (visão dupla), oftalmoplegia (dificuldade de movimentação dos olhos) e dificuldade de abertura bucal (encarceramento do processo coronóide da mandíbula sob o arco zigomático fraturado)19. O tratamento das fraturas do complexo zigomático pode ser feito de forma fechada, com reduções incruentas e restrição de alimentação por 45 dias. Pode também ser realizado com fixação interna rígida. O pós-operatório não costuma ser complicado. Normalmente, os cuidados consistem em restrição alimentar (liquida e pastosa), repouso e antibioticoterapia. Pacientes que fraturaram o assoalho da órbita podem necessitar de fisioterapia para recondicionarem a musculatura que movimenta o globo ocular19. 9 F- Fraturas do complexo naso-orbito-etimoidal: As fraturas do complexo naso-orbito-etimoidal merecem atenção especial. Elas podem estar associadas com fistula liquórica, ou seja, comunicação com os fluidos intracranianos (liquor). O tratamento é cirúrgico com fixação interna rígida e tratamento da fistula liquórica, quando esta se fizer presente. O paciente permanece internado por mais tempo e os principais cuidados são antibióticoterapia minuciosa, higiene completa da ferida e a posição do paciente sempre deve permanecer com a cabeceira elevada em no mínimo 30 graus. O risco de meningite deve ser considerado e exames hematológicos diários são necessários para descartar infecção. Se houver necessidade de aspiração de sangue ou de liquor, isto deve ser feito com sonda rígida, para se evitar uma penetração intracraniana pelo óstio da fístula20. G- Lesões por arma de fogo e fraturas panfaciais (fraturas múltiplas na face): Estas lesões podem ser extremamente extensas e requerem uma série de cuidados especiais por parte dos cirurgiões e da equipe de enfermagem19. Em muitos casos o paciente requer inclusive internação em unidade de terapia intensiva, principalmente por a maioria das vezes elas estarem relacionadas a outras injúrias sistêmicas21. Em grande parte dos casos o paciente se encontrará traqueostomizado em ventilação mecânica ou espontânea20. A dificuldade de respirar ou deglutir, naqueles pacientes não traqueostomizados são as principais queixas apresentadas. O paciente necessita de alimentação especial e cateter de oxigênio pode ser necessário para manter a saturação em nível satisfatório. O bloqueio maxilo-mandibular normalmente é necessário, fazendo que a equipe esteja sempre em alerta para cortar o bloqueio em casos de vômitos. A higiene oral minuciosa é a principal arma contra infecção intra-oral16. O paciente permanecerá internado normalmente por no mínimo dez dias e nesse meio-tempo, deve-se proceder com antibióticoterapia intensa e atenção a exames hematológicos para possíveis picos infecciosos. A equipe da nutrição deve ser contatada devido à dificuldade de alimentação e restrição de dieta20,21. Sondagem nasoenteral deve ser considerada e em caso onde o cirurgião buco-maxilo-facial não houver solicitado uma discussão entre o mesmo, a equipe de enfermagem e a equipe da nutrição deve ser realizada a fim de se observar suas vantagens e aplicabilidade para o caso em questão21. 4.2 Coleta de dados de pacientes com trauma buco-maxilo-facial A investigação (histórico de enfermagem) é a primeira fase do processo de enfermagem, ou seja, é o primeiro passo para a determinação do estado de saúde do cliente. E consiste na coleta de informações referentes ao estado de saúde do mesmo e, em seguida, a avaliação do seu estado clínico22. Na fase intra-hospitalar, é importante que se obtenha as informações recebidas da Central de Atendimento, principalmente as referentes à história do trauma. Algumas 10 características são essenciais: identificação e etiologia do trauma; uso ou não uso do cinto de segurança ou de capacete protetor; direção e sentido do impacto; velocidade do veículo; número de vítimas; condutas realizadas pelo suporte pré-hospitalar e outros dados julgados relevantes para o recebimento adequado da vítima. Deste modo, pode ser feito um preparo para a chegada do cliente na sala de emergência (material de intubação, soluções salinas aquecidas, preparo dos monitores, comunicar o setor de exames complementares para que haja um preparo adequado, organização da equipe multiprofissional e preparo com o uso de materiais de proteção individual adequado- EPIs)23. O processo de identificação e abordagem do politraumatizado constitui no ABC do trauma preconizado pelo ATLS (Advanced Trauma of Life Support, do American College of Surgeons), sendo capaz de identificar condições de risco de vida: A- Via aéreas (com imobilização cervical) (A — airway) B- Respiração e ventilação (B — breathing) C- Circulação e controle da hemorragia (C — circulation) D- Incapacidade: estado neurológico (D — disability) E- Exposição/controle ambiental: despir completamente o paciente, mas prevenir a hipotermia (E — exposure)23. No caso de uma vítima de trauma facial é importante avaliar se este está associado a um TCE - Traumatismo Crânio Encefálico. Após, seguidos os primeiros passos do ABC do trauma, a utilização da Escala de Coma de Glasgow é bastante útil para diagnosticar, abordar e definir medidas para a estabilização do quadro clínico e neurológico. Se o traumatismo facial estiver associado a outros traumatismos e/ou patologias que necessitem de tratamento prioritário, deve-se adotar medidas para compensar clinicamente o paciente, até que o mesmo esteja estável e passível de receber tratamento para as lesões faciais. Após a avaliação dos ferimentos da face, deve-se observar se os ferimentos são superficiais, se apresentam perda de substância ou alguma condição especial, a fim de que se possa traçar, juntamente com a equipe médica e com os cirurgiões buco-maxilo-faciais, o plano de cuidados adequados e individualizados ao paciente em questão24. Após a coleta do histórico, pode-se então estabelecer o diagnóstico e a prescrição das intervenções enfermagem pertinentes a cada tipo de trauma facial. 4.3 Diagnósticos e prescrições das intervenções de enfermagem 11 O diagnóstico de enfermagem constitui a segunda etapa do processo de enfermagem. Durante esta etapa, os dados coletados na investigação são analisados e interpretados criteriosamente22. O enfermeiro deverá ter a capacidade de análise, de julgamento, de síntese e de percepção ao interpretar os dados clínicos22. As intervenções de enfermagem podem ser classificadas em dois tipos: prescritas pelo enfermeiro, para os mesmos executarem a ação ou serem implementadas por outros elementos da equipe de enfermagem; e as prescritas pelo médico (delegadas) são para os clientes, para serem implementadas pela equipe de enfermagem. Todas necessitam de um julgamento de enfermagem perspicaz, pois o enfermeiro é, legalmente, responsável por sua apropriada implementação6. Para o paciente vítima de trauma buco-maxilo-facial os diagnósticos de enfermagem encontrados são: - Dor aguda25- Definido por experiência sensorial e emocional desagradável que surge de lesão tissular real, de início súbito ou lento, de intensidade leve a intensa, com término antecipado ou previsível e duração de menos de seis meses. Caracterizado por relato verbal, gestos protetores, por comportamento expressivo, resposta autonômica, mudanças a alimentação. Relacionado a agentes lesivos físicos- trauma facial, contusões, fraturas, hematomas faciais. Observada em todas as lesões faciais. Intervenções de enfermagem -Investigar os fatores que diminuem a tolerância à dor. -Reconhecer os fatores causadores da dor. -Ouvir atentamente o que é dito a respeito da dor. -Transmitir a preocupação quanto ao problema do cliente. -Explicar o conceito de dor como uma experiência individual. -Explicar as causas, provável durabilidade da dor. -Aliviar a dor administrando medicação analgésica conforme prescrição médica. -Discutir efeito, duração, possíveis reações adversas, tolerância às drogas. -Aliviar a dor de forma não-invasiva (aplicar calor, compressas frias)6. 12 - Desobstrução ineficaz de vias aéreas25- Definido por incapacidade de eliminar secreções ou obstruções do trato respiratório para manter uma via aérea desobstruída. Caracterizado por dispnéia, cianose, vocalização dificultada, mudança de freqüência e ritmo respiratório. Relacionado à via aérea obstruída por secreções retidas, presença de via aérea artificial, corpo estranho na via aérea, secundários ao trauma facial. Observada em fraturas maxilares, mandibulares, lesões por arma de fogo e fraturas panfaciais. Intervenções de enfermagem -Investigar incapacidade de manter a posição apropriada, tosse ineficaz, dor, medo da dor, secreções viscosas, fraqueza, sonolência, rebaixamento do nível de consciência. -Auxiliar no posicionamento adequado. -Monitorar risco para aspiração. -Montar e testar equipamento para aspiração. -Realizar a aspiração quando necessário com técnica asséptica. -Avaliar padrão respiratório (freqüência respiratória, saturação de oxigênio, uso de musculatura acessória, cianose de extremidades, presença de ruídos adventícios na ausculta pulmonar). -Instruir a pessoa sobre o método apropriado de tosse controlada (respirar profunda e lentamente, sentado na vertical, usar respiração diafragmática, segurar a respiração por 3 a 5 segundos e então exalar quanto possível pela boca; inspirar, segurar, exalar lentamente e tossir fortemente a partir do tórax, usando duas tossidas curtas e fortes). -Investigar o regime atual de analgésicos. -Proporcionar apoio emocional. -Manter bom alinhamento do corpo. -Investigar a compreensão do uso de analgesia para facilitar a respiração e o esforço para tossir. -Orientar o cliente durante os episódios de nível ideal de consciência. -Manter hidratação adequada. 13 -Manter a umidade adequada do ar inspirado. -Planejar os períodos de repouso. -Instruir e incentivar a tosse usando reforço positivo6. -Troca de gases prejudicada26- Definido por excesso ou déficit na oxigenação e/ou na eliminação de dióxido de carbono na membrana alveolocapilar. Caracterizado por agitação, batimentos de asa de nariz, confusão, cor da pele anormal (pálida), dispnéia, distúrbios visuais, hipercapnia, hipóxia, irritabilidade, pH arterial anormal, respiração anormal, taquicardia. Relacionado ao desequilíbrio na ventilação-perfusão. Observado em traumas diretos na traquéia, obstrução devia aérea por sangramento, fratura bilateral de mandíbula, aspiração de corpo estranho como prótese dentária e outros. Intervenções de enfermagem -Avaliar padrão respiratório, batimento de asa de nariz, freqüência cardíaca e respiratória, cianose de extremidades, coloração da pele. -Desobstruir vias aéreas quando necessário. -Instalar oxigenoterapia suplementar com cateter nasal de oxigênio, máscara de oxigênio, ou com bolsa-válvula-máscara dependendo do nível de saturação de oxigênio e do tipo de lesão facial que o paciente apresenta. -Realizar monitorização cardíaca e oximetria de pulso. -Monitorar resultado de exames laboratoriais como gasometria arterial e venosa6. -Risco de sangramento26- Definido por risco de redução de volume de sangue capaz de comprometer a saúde. Fator de risco- trauma. Observado em grande parte das lesões de por trauma facial. - Débito cardíaco diminuído25- Definido pela quantidade insuficiente de sangue bombeado pelo coração para atender às demandas metabólicas corporais. Caracterizado por distensão de veia jugular, fadiga, pulsos periféricos diminuídos, variações de leituras de pressão sanguínea, mudança de cor de pele, pele fria, dispnéia, reperfusão capilar periférica prolongada. Relacionado a ritmo/freqüência cardíaca alterada devido ao choque hipovolêmico secundário a extensas hemorragias faciais. Observado principalmente em lesões por arma de fogo, fraturas panfaciais e fraturas infectadas. -Risco de choque26- Definido por risco de fluxo sanguíneo inadequado aos tecidos do corpo, capaz de levar a disfunção celular, com risco à vida. Fatores de risco- hipotensão, hipovolemia, 14 hipoxemia, hipóxia, infecção, sespe. Observado em ferimentos corto-contusos envolvendo grandes vasos arteriais e venosos, fratura de base de crânio, ferimentos por projéteis de arma de fogo. Intervenções de enfermagem -Monitorar função cardíaca, oximetria de pulso, estase de jugular,ausculta cardíaca e pulmonar. -Realizar e auxiliar na hemostasia. -Detectar modificações no estado fisiológico (alteração dos sinais vitais, sudorese intensa, cianose de extremidades, oligúria). -Realizar reposição volêmica. -Monitorar sinais vitais (atentando para taquicardia, pulso fraco, hipotensão arterial, dispnéia). -Providenciar acesso venoso calibroso. -Ofertar oxigênio úmido quando necessário. -Avaliar tempo de preenchimento capilar periférico. -Monitorar resultado de exames laboratoriais como hemograma, gasometria arterial e venosa, níveis de sódio e potássio. -Monitorar coloração de pele e extremidades. -Controlar diurese. -Manter materiais de urgência e emergência utilizados em parada cardiorrespiratória preparados e organizados. -Providenciar materiais e equipamentos para intubação orotraqueal, nasotraqueal ou traqueostomia6. - Deglutição prejudicada25- Definido pelo funcionamento anormal do mecanismo de deglutição associado com déficit na estrutura ou função oral. Caracterizado pelo fechamento incompleto dos lábios, refluxo nasal. Relacionado a lesões traumáticas na cabeça, traumas internos ou externos. Observada em todas as fraturas que envolvem a cavidade oral. Intervenções de enfermagem 15 -Investigar fatores causadores ou contribuintes como: cavidade oral irritada ou avermelhada; reflexo de regurgitação diminuído ou ausente; fadiga; dano ao nervo craniano; pós-reconstrução cirúrgica da boca; alteração do nível de consciência. -Auxiliar o cliente a mover o bolo alimentar da parte anterior para a parte posterior da boca, colocando o alimento na parte posterior da boca utilizando seringa com uma pequena sonda anexa. -Oferecer alimento macio e úmido e de forma lenta e gradual. -Prevenir/diminuir as secreções espessas. -Aumentar a ingesta líquida. -Verificar os medicamentos quanto aos potenciais efeitos colaterais como boca seca/salivação diminuída. -Manter a cabeceira da cama em posição semi- Fowler. -Atentar para o risco de aspiração do alimento. -Ter equipamento de aspiração disponível e funcionando adequadamente. - Retirar resíduos alimentares da região oral após a alimentação. -Avaliar os sinais de reflexo. -Ensinar exercícios para fortalecer a musculatura facial6. - Hipertermia25- Definido por temperatura elevada acima dos parâmetros normais. Caracterizado por aumento da temperatura corporal acima dos parâmetros normais. Relacionado ao trauma, risco de infecções. Observada na maioria das fraturas infectadas e osteomielite. Intervenções de enfermagem -Identificar os fatores de risco para hipertermia. -Controlar os fatores de risco para hipertermia. -Realizar analgesia/anti-térmico conforme prescrição médica. -Controlar a temperatura corporal por métodos não-invasivos (compressas frias). 16 -Atentar para sinais flogísticos locais (dor, calor, edema, rubor). -Monitorar temperatura axilar6. - Dentição prejudicada25- Definido por distúrbio na integridade estrutural dos dentes de um indivíduo. Caracterizado por fratura de dentes. Relacionado ao trauma buco-maxilo-facial. Observada em fraturas dento-alveolares, mandibulares, maxilares e panfaciais. Intervenções de enfermagem -Investigar sinais de fratura dentária. -Avaliar falta de dentes ou ausência completa. -Avaliar expressão facial assimétrica. -Identificar dor de dente ou na mucosa oral. -Identificar sinais de sangramentos na mucosa oral. -Identificar presença de edema, dor, desconforto na mucosa oral. -Realizar higienização oral adequada com escova de dente com cerdas macias6. - Risco de infecção25- Definido pelo risco aumentado de ser invadido por organismos patogênicos. Relacionado ao trauma facial, destruição de tecidos e exposição ambiental aumentada. Observado em todas as fraturas abertas e fraturas em comunicação com o meio bucal, haja visto que existe uma microbiota muito vasta residente na cavidade oral. Intervenções de enfermagem -Monitorar temperatura axilar. -Verificar o local da lesão a cada 24 horas e nas trocas de curativos. -Avaliar estado nutricional do cliente. -Avaliar todos os achados laboratoriais anormais especialmente as culturas/sensibilidades e contagem sanguínea total. -Usar técnica asséptica na troca dos curativos e realizar as trocas diariamente. -Usar precauções universais em relação a todos os fluidos corporais orgânicos do cliente. 17 -Avaliar sinais flogísticos (dor, calor, edema, rubor). -Encorajar e manter ingesta protéica e calórica na dieta. -Investigar fatores predisponentes e prevenir6. - Integridade da pele prejudicada25- Definido por epiderme e ou derme alteradas. Caracterizado por invasão de estrutura do corpo-face, destruição de camadas da pele, rompimento da superfície da pele. Relacionado ao trauma. Observada em todas as lesões avulsivas de tecido mole e fraturas expostas. Intervenções de enfermagem -Avaliar déficits de pele como edema, secura, finura, eritema, sangramentos, presença de exsudatos, tipo e quantidade. -Avaliar tamanho, profundidade, bordas, áreas subjacentes, exsudatos, sangramentos, odor, presença de tecido necrótico da lesão. -Debridar o tecido necrótico (colaborar com o médico). -Isolar superfície da lesão. -Proteger o leito granulado da lesão contra traumatismos e bactérias. -Monitorar sinais clínicos de infecção na lesão. -Investigar transporte prejudicado de oxigênio como edema, distúrbios vasculares periféricos. -Investigar presença de aparelhos, espasmos. -Investigar deficiência nutricional. -Contactuar com a nutricionista quando necessário. -Investigar distúrbios sistêmicos- infecção. -Investigar déficits sensoriais-traumatismos, confusão. -Investigar mobilidade facial. -Realizar troca de curativo diário com técnica asséptica. 18 -Incentivar ingesta líquida, rica em proteínas e carboidratos. -Inspecionar a pele diariamente, acompanhando a evolução da cicatrização da lesão (investigar epitelização, tecido de granulação). -Reduzir atrito na lesão. -Explicar o problema ao cliente e assegurar a sua cooperação com o plano6. - Integridade tissular prejudicada25- Definido por danos às membranas mucosas, pele. Caracterizado por tecido lesado ou destruído. Relacionado ao trauma. - Membrana mucosa oral prejudicada6- Definido por estado em que o indivíduo apresenta lesões na cavidade oral. Caracterizado por mucosa oral com lesões, edema, secreção purulenta, mudança no paladar, presença de patógenos, desprendimento da mucosa, dificuldade na fala, dor, desconforto oral, hiperemia, hemangiomas. Relacionado ao traumainfecção; irritação mecânica secundária a tubo endotraqueal, sonda nasogátrica. Observada em lesões intra-orais extensas, ferimentos por armas de fogo e queimaduras faciais e intraorais. Intervenções de enfermagem -Investigar as queixas principais do cliente- dor, irritação, ardência, secura na boca, dificuldade para mastigação, halitose, mudança de tolerância à temperatura dos alimentos, aos alimentos ácidos, mudança no paladar, incapacidade de deglutição da própria saliva. -Investigar história cirúrgica, presença de aparelhos, placas metálicas. -Investigar situação nutricional. -Avaliar características da saliva, aquosa, ausente, espessa, cor. -Proporcionar uma higienização oral adequada com escova de dente com cerdas macias. -Avaliar tipo de lesão, profundidade, tamanho, nível de cicatrização, presença de exsudatos, sangramentos, dor, edema6. - Risco de aspiração25- Definido pelo risco de entrada de secreções orofaríngeas, sólidos ou fluidos nas vias traqueobrônquicas. Fator de risco- nível de consciência reduzido, presença de traqueostomia ou tubo endotraqueal, fixação cirúrgica de maxilares, deglutição prejudicada, cirurgia ou trauma facial. Observado principalmente em pacientes bloqueados, fraturas 19 expostas de mandíbula, fraturas do complexo naso-orbito-etimoidal, lesões por armas de fogo e fraturas panfaciais. Intervenções de enfermagem -Manter posição de decúbito lateral, se não houver contra-indicação pela lesão. -Investigar posição da língua, assegurado que não haja oclusão de via aérea. -Manter cabeceira da cama elevada. -Manter equipamento de aspiração montado e testado. -Realizar aspiração traqueal de forma adequada e com técnica asséptica cada 1 a 2 horas e quando necessário; aspirar regiões oral e nasal. -Reavaliar frequentemente região oral. -Manter posição lateral após alimentação. -Inflar balonete durante a ventilação mecânica contínua. -Verificar localização de sonda; confirmada por radiografia ou aspiração do fluido verde. -Elevar a cabeceira da cama por 30 a 45 minutos durante o período da alimentação e 1 hora. -Aspirar conteúdo residual antes de cada alimentação. -Realizar higiene oral adequada antes e após as refeições. -Instruir a família e o cliente sobre as causas e prevenção de aspiração6. - Comunicação verbal prejudicada25- Definido pela habilidade diminuída de transmitir a fala. Caracterizado por disfasia. Relacionado por alterações anatômicas gerados pelo trauma facial; dor; edema; intubação endotraqueal ou traqueostomia. Observada em todas as fraturas que envolvem a cavidade oral. Intervenções de enfermagem -Investigar a capacidade de falar do cliente. -Usar técnicas para aumentar a compreensão. 20 -Estabelecer contato visual. -Usar comandos e diretivas simples e de uma etapa. -Ter apenas uma pessoa falando. -Encorajar o uso de gestos. -Esclarecer sobre a comunicação prejudicada junto à família. -Tranquilizar o cliente e a família. -Ouvir atentamente o cliente6. - Adaptação prejudicada25- Definido pela incapacidade de modificar o estilo de vida/comportamento de maneira consciente com relação a uma mudança no estado de saúde. Relacionado- a atitudes negativas com relação ao comportamento de saúde (fratura facial, deformação da face, trauma). Observada principalmente em casos de fraturas onde o bloqueio maxilo-mandibular é necessário. Intervenções de enfermagem -Manter um diálogo terapêutico com o cliente. -Apoiar os mecanismos de enfrentamento presentes (permitir que o cliente fale, chore). - Ficar com a pessoa. - Não fazer exigências ou pedir que ele tome decisões. -Transmitir uma sensação de compreensão empática. -Respeitar o espaço pessoal. -Proporcionar uma garantia de que a solução pode ser encontrada6. - Conforto prejudicado6- Definido pelo estado em que o indivíduo apresenta uma sensação desconfortável em resposta a estímulos nocivos. Caracterizado por relato verbal da pessoa, demonstração de desconforto, resposta autonômica na dor aguda (aumento da pressão arterial, pulso, respiração, sudorese, pupilas dilatadas), posição contraída, fáceis de dor, choro, mal-estar. Relacionado a trauma tissular e as espasmos musculares secundários a fraturas faciais, cirurgias, acidentes. Observado em todos os tipos de fraturas faciais, principalmente naquelas onde uma longa internação hospitalar se faz necessária. 21 Intervenções de enfermagem -Investigar as origens do desconforto. -Promover o conforto e prevenir lesões mais profundas. -Aliviar a dor quando necessário. -Utilizar métodos não-invasivos para aliviar a dor -Proporcionar conforto emocional. -Reduzir ou eliminar os fatores que aumentam o desconforto. -Discutir com o cliente como determinar que métodos podem ser usados para reduzir a intensidade do desconforto6. - Déficit de auto-cuidado para alimentação25- Definido pela capacidade prejudicada para desempenhar ou completar atividades de alimentação. Caracterizado pela incapacidade de manipular os alimentos na boca, mastigar. Relacionado à dor e desconforto na face. Observado em todos os pacientes com fraturas envolvendo a região oral e principalmente naqueles onde o bloqueio maxilo-mandibular se faz necessário. Intervenções de enfermagem -Proporcionar oportunidades para reaprender ou adaptar-se à atividade de alimentação. -Proporcionar alívio da dor. -Auxiliar a pessoa a posicionar-se da melhor forma. -Proporcionar contato social durante a alimentação. -Encorajar a ingesta de alimentos macios, úmidos. -Proporcionar um ambiente tranqüilo. -Proporcionar boa higiene oral antes e após as refeições. -Encorajar a pessoa a ser cuidadosa, comer em pequenas quantidades, colocando o alimento no lado não-afetado da boca. -Verificar presença de alimentos nas bochechas. 22 -Proporcionar um alimento de cada vez na sequência normal até que a pessoa seja capaz de comer a refeição inteira nessa sequência. -Prevenir a aspiração. -Manter métodos seguros de alimentação. -Testar a temperatura dos líquidos e usar proteção para a roupa6. - Risco de baixa auto-estima situacional25- Definido por estar em risco de desenvolver uma percepção negativa sobre o seu próprio valor em resposta a uma situação atual, como trauma, ou deformação na face, dor, desconforto. Relacionado a distúrbio na imagem corporal, prejuízo funcional-disfasia, doença física- lesões na face. Observado em todos os casos de lesões faciais deformantes: lesões ao tecido mole, fraturas dento-alveolares, fraturas maxilo-mandibulares, fraturas nasais, dos complexos zigomáticos e naso-orbito-etimoidais, lesões por arma de fogo e fraturas panfaciais. Intervenções de enfermagem -Auxiliar o cliente na identificação e na expressão dos sentimentos. -Ser empático. -Ouvir o cliente. -Esclarecer os relacionamentos entre os eventos da vida. -Encorajar a colocação do evento traumático no contexto as experiências da vida como um todo, enquanto apóia as precauções de bom-senso. -Auxiliar na identificação das auto-avaliações positivas. -Auxiliar o cliente a aceitar tanto os sentimentos positivos quanto os negativos. -Reforçar o uso de exercícios de fortalecimento da estima. -Explorar a relação comportamento autoconsideração. -Encorajar o exame de comportamento atual e as suas conseqüências. -Auxiliar na identificação de percepções defeituosas. -Investigar e mobilizar o sistema de apoio atual. 23 -Auxiliar o cliente a aprender novas habilidades de enfrentamento. -Auxiliar a pessoa no controle de problemas específicos, como a hospitalização, mudança no corpo, ou perda de parte do corpo6. - Imagem corporal perturbada6- Definido por estado e que o indivíduo apresenta, ou corre risco de apresentar, um ruptura na maneira como percebe sua imagem corporal. Caracterizado por resposta negativa, verbal ou não-verbal, à mudança real ou suposta na estrutura e/ou no funcionamento. Relacionado a mudanças na aparência secundárias a traumatismo grave; perda da função do corpo; hospitalização; cirurgia. Observado em todas as fraturas faciais deformantes, principalmente as que envolvem os ossos frontais, zigomático e nasal. Intervenções de enfermagem -Estabelecer um relacionamento de confiança entre enfermeiro e cliente. -Encorajar a pessoa a expressar os seus sentimentos. -Reconhecer os sentimentos de hostilidade, pesar, medo, dependência e ensinar estratégias de enfrentamento das emoções. -Oferecer informações confiáveis e reforçar as já proporcionadas. -Proporcionar privacidade e ambiente seguro. -Promover a interação social. -Auxiliar a pessoa a aceitar ajuda dos outros. -Preparar as pessoas significativas para as mudanças físicas e emocionais. -Encorajar a visita dos amigos e familiares. -Discutir com o sistema de apoio o mérito de comunicar ao cliente o valor e a importância dele. -Investigar o significado da perda para o cliente e pessoa significativas e relação à visibilidade da perda, à função da perda e ao investimento emocional. -Auxiliar na resolução da alteração cirurgicamente criada na imagem corporal. -Ensinar sobre o problema de saúde e como controlá-lo. -Encorajar atividades que englobam a nova imagem corporal. 24 -Ensinar a pessoa a monitorar o próprio progresso6. - Medo25- Definido por resposta a ameaça percebida que é conscientemente reconhecido como um perigo. Caracterizado apreensão, tensão aumentada, nervosismo. Relacionado ao trauma, dano sensorial. Observado em todos os casos de traumas acidentais. Intervenções de enfermagem -Manter um diálogo terapêutico. -Investigar possíveis fatores contribuintes para o medo. -Reduzir e eliminar fatores contribuintes. -Apoiar o estilo de adaptação preferido. -Encorajar os mecanismos de enfrentamento normais. -Encorajar a pessoa a encarar o medo. -Reenfocar a interação sobre as áreas de capacidade e não sobre as disfuncionais. -Usar declarações simples e diretas. -Incentivar a expressão de sentimentos. -Fornecer feedback sobre efeito que o comportamento da pessoa tem sobre os outros6. - Risco de síndrome pós-trauma25- Definido por estar em risco de resposta mal-adaptada sustentada a um evento traumático, opressivo. Relacionado à percepção do evento, papel do sobrevivente no evento, duração do evento-trauma. Observada em todas as vítimas de acidentes, principalmente aqueles com vítimas fatais. Intervenções de enfermagem -Determinar se a pessoa experimentou um evento traumático. -Manter um diálogo terapêutico num ambiente tranquilo. -Investigar o nível de ansiedade do cliente. -Avaliar a gravidade das respostas e os efeitos sobre o atual funcionamento. 25 -Auxiliar a pessoa a diminuir os extremos de recordações ou dos sintomas de entorpecimento. -Assegurar à pessoa que esses sentimentos/sintomas são frequentemente apresentados pelos indivíduos submetidos a eventos traumáticos. -Permanecer com o cliente e oferecer apoio durante um episódio de grande ansiedade. -Auxiliar a pessoa a reconhecer o evento traumático e iniciar a superação do trauma falando sobre a experiência e expressando sentimentos como medo, raiva e culpa. -Auxiliar a pessoa a identificar e a fazer contato com pessoas e recursos de apoio. -Explorar sistema de apoio disponível. -Proporcionar comunitários aconselhamento apropriados, e/ou conforme colocá-los em necessário para contato com com a os família/ recursos pessoas 6 significativas do cliente . 5 Considerações finais Após a análise dos estudos foi possível elucidar a incidência, etiologia e manejo do paciente vítima de traumatismo buco-maxilo-facial, partindo do atendimento primário de urgência e emergência à assistência prestada durante a sua internação, a fim de identificar com base na literatura revisada, uma sistematização da assistência de enfermagem pertinente às necessidades do mesmo. Dentro deste processo de enfermagem identificaram-se as seguintes etapas, coleta de dados, diagnósticos em enfermagem e a proposição de um planejamento das intervenções de enfermagem identificando as principais injúrias orais e faciais referentes a cada diagnóstico. É importante, após a elaboração do planejamento de terapêutico em enfermagem a implementação do plano e a avaliação. Este planejamento de cuidados em enfermagem é importante para os usuários dos serviços em que atua a enfermagem, pois imprime ao trabalho destes profissionais maior grau de organização, o que certamente contribui para sua qualidade e segurança, bem como demonstra a sua notoriedade de enfermeiro líder, ético e qualificado a fim de conduzir e ser parte fundamental da equipe responsável por garantir um processo de cuidado eficaz. Espera-se que o correto dimensionamento de pessoal de enfermagem permita, no atendimento emergencial, uma adequada sistematização da assistência de enfermagem ao paciente vítima de traumatismo buco-maxilo-facial. 26 6 Referências 1 Fhoc RES, Miranda VEM. Souza VM, Castro DRF, Oliveira CEG. Leão. Avaliação do trauma bucomaxilofacial no Hospital Maria Amélia Lins da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais. Rev. Soc. Bras. Cir. Plást. 2006; 21(4): 211-6. 2 Waldow VR. Cuidado humano: o resgate necessário. 2ª ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto; 1999. 3 Keyla Cristiane do Nascimento, Dirce Stein Backes, Magda Santos Koerich, Alacoque Lorenzini Erdmann. Sistematização da assistência de enfermagem: vislumbrando um cuidado interativo, complementar e multiprofissional. Rev Esc Enferm USP 2008; 42(4):643-8. 4 Conselho Federal De Enfermagem, Resolução Cofen n◦272/2002. Sistematização da Assistência de Enfermagem-SAE-nas Instituições de Saúde Brasileiras [Internet]. [citado em 2010 jul 14]. Disponível em http//www.portalcofen.gov.br. 5 Conselho Federal de Enfermagem. Resolução Cofen n◦358/2009. Sistematização da Assistência de Enfermagem e a Implementação do Processo em Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem [Internet]. [citado em 2010 jul 14]. Disponível em http//www.portalcofen.gov.br. 6 Carpenito-Moyet LJ. Diagnósticos de Enfermagem Aplicação à Prática Clínica. 10a ed. Porto Alegre: Artmed; 2005. 7 Conselho Federal de Enfermagem. Resolução Cofen n◦240/2000. Código de Éica dos Profissionais de Enfermagem[Internet].[citado em 2010 jul 14]. Disponível em http//www.portalcofen.gov.br. 8 Conselho Federal de Enfermagem. Lei Cofen n◦7498/86. Rio de Janeiro: COFEN; 1986. 9 Rodrigues WC. Metodologia Científica. Paracambi: FAETEC/IST;2007. 10 Pereira JM. Manual de Metodologia Da Pesquisa Científica. 1ª ed. 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