Considerações acerca da ciência, da sociologia e

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Considerações acerca da ciência, da sociologia e da investigação social empírica
Ângelo Ricardo de Souza1
Há certamente um importante papel da ciência na história e no desenvolvimento da
humanidade. O desenvolvimento da tecnologia e das melhores condições objetivas de vida
devem-se, em muito, à presença ampliada que a ciência passou a ocupar na vida das
pessoas e na organização da sociedade. Isto, contudo, não representa que a ciência possa ser
considerada a redenção da humanidade na superação do estado de natureza, isto é, a
ferramenta necessária a fazer do homem mais humano e do mundo um lugar melhor de se
viver. Neste texto, irei explorar aspectos da ciência, das ciências sociais e da pesquisa
social empírica, tomando por base o pensamento da Teoria Crítica, cotejado com a teoria
sociológica de Max Weber, buscando tecer algumas considerações que apresentem as
similitudes e as diferenças entre esses pensadores.
Weber, preocupado em entender as formas pelas quais a racionalidade marca a ação
humana, e entendendo a ciência como uma das mais fortes ações racionais humanas,
entende que a prática da ciência contribui pra o desenvolvimento da tecnologia e como esta
controla a vida, a ciência tem, então, um papel central na definição dos rumos da vida
humana. Através da ciência as pessoas têm a definição do que é e do que não é adequado
para a vida em sociedade, neste sentido a função principal da ciência é, para Weber, o
próprio desenvolvimento da racionalidade: “despojar de magia o mundo” (Weber, 1970, p.
30).
Para a Teoria Crítica, a ciência emancipa e, ao mesmo tempo, regride. Isto é, a
ciência não pode ser pensada sem se observar o lugar que ela ocupa na vida social. E este
espaço foi, inicialmente, da superação das respostas mitológicas aos fenômenos da vida e
do mundo. Mas a ciência regride ao mito quando “tecnifica” as respostas aos diferentes
problemas humanos, enfatizando a forma e deslocando-se do conteúdo, ou pelo menos ao
enaltecer a constituição de um padrão científico. A ciência, como ação racional do homem,
ao se direcionar para a técnica/forma/meio, eleva o método à condição de mito (que se opõe
à separação entre natureza e cultura), pois o coloca acima do objeto para o qual a
1
Professor Assistente do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná.
técnica/forma/meio foi criada, ou ao qual está (ou deveria estar) atrelada, e desta forma,
transforma a forma em conteúdo, elevando-a a posição de verdade absoluta, de mito que
responde a tudo. A sociedade é então vista pela racionalidade científica como o ethos, a
moldura e o indivíduo como o sujeito a ser adaptado ao objeto da ciência dentro daquela
moldura, objeto este que não mais existe posto que substituído pela técnica, logo a
repressão que a ciência promove é a repressão da submissão da sociedade e do indivíduo ao
método.
Quando se pensa nas ciências sociais, porém, esta relação conteúdo/forma, ou de
mitificação da técnica encontra ainda um problema próprio deste campo científico, que está
relacionado com o fato de que as ciências da sociedade, para a aplicação prática dos
resultados das suas investigações, “depende, substancialmente, das condições da própria
sociedade” (Adorno & Horkheimer, 1973, p. 129). A sociologia não encontra a mesma
objetividade que as demais ciências da natureza, pois não há um “sujeito social universal”
(idem, ibidem), como há no campo das ciências naturais. Isto, todavia, não tem sido
suficiente para arrefecer os ânimos de muitos pesquisadores do campo, que tratam dos
grupos sociais como se trata de fenômenos da natureza, na busca do estabelecimento de
padrões e de leis.
Weber, se pode ser considerado um autor que defendeu a busca por leis que
explicassem a sociedade e o comportamento social das pessoas, só pode ser assim
considerado pela seriedade com que lidava com a ciência: “Todo trabalho científico
pressupõe sempre a validade das regras da lógica e da metodologia, que constituem os
fundamentos gerais de nossa orientação no mundo” (Weber, 1970, p. 36). Além disto, a
tese weberiana não é da defesa da descoberta de leis que regulam universalmente as
relações sociais, tanto ao contrário, sua posição aponta para a idéia – que veremos mais
adiante – de que quanto mais gerais são as leis mais vazias de conteúdo elas são. A procura
de Weber é por uma regularidade nos acontecimentos culturais, para utilizar isto como
critério para a definição da investigação social empírica. Outro ponto importante é que a
ciência para Weber sempre deveria estar a serviço da verdade ao ponto de outros cientistas,
com o passar do tempo, superarem as verdades construídas pelos seus antecessores, o que
sugere um reconhecimento de verdades cambiáveis. Neste sentido, a procura por leis que
regulem a vida social pelas ciências sociais pareceria contraditória à perspectiva de ciência
na qual o próprio autor se ancora. A construção de padrões que representem a vida social
não deve ser entendida, de outro lado, como um “engessamento” da realidade objetiva, pois
as características da modernidade para Weber (intelectualização, secularização,
racionalização), somadas à experimentação do intelectual e mesmo a do diletante, devem
estar abertas para as exigências (por vezes volúveis) que a busca pela verdade clama.
Para a Teoria Crítica a necessidade da crítica à sociedade, pelas ciências sociais,
passa pela reconhecimento que a sociedade do século XX transcendeu a organização
capitalista mais clássica dos dois séculos anteriores e deturpou ainda mais as relações
sociais e as relações entre o indivíduo e a sociedade. No século XIX as relações de
produção capitalistas eram necessárias para o atendimento das necessidades das pessoas,
todavia isto provocava grandes desigualdades que podiam ser mascaradas por uma
ideologia racional. No século XX, o capitalismo monopolista não se faz mais necessário,
pelo menos para o suprimento das necessidades das pessoas, logo a ideologia para mascarar
as desigualdades é irracional, pois recheada de contradições explícitas. A alienação, seja
num caso ou noutro, continua existindo pois se no século XIX a alienação estava
relacionada ao suprimento das necessidades mais imediatas, no século XX há consciência
da injustiça e da desnecessária presença do capitalismo, mas o medo – que reflete neste
caso a verdade! – de ficar isolado, leva as pessoas à adesão, à alienação. As ciências sociais
podem ajudar a entender as conseqüências provocadas pela cisão entre as condições
econômicas e as condições psicológicas na organização da vida social. “A descrição do que
é a sociedade e o que o indivíduo precisa para viver nesta sociedade”* são aspectos sobre os
quais as ciências sociais podem ajudar. Todavia, Adorno afirmava que a justaposição entre
os diferentes campos científicos não é adequada para o entendimento daquela cisão, e sim a
articulação entre eles pode ser mais adequado. Ora, a articulação entre os diversos campos
científicos não parece ser promissora para a construção de padrões e leis que expliquem
todo o funcionamento da vida social e das relações entre o indivíduo e a sociedade. Neste
sentido uma teoria da sociedade positivista, mesmo com o mérito do seu empirismo, não
pode dar conta de entender e explicar as relações sociais, pois perde a face psicológica da
sociedade e dos indivíduos. A resposta para a Teoria Crítica passa pela proposta de uma
Psicologia Social analiticamente orientada, que teria o papel não de mostrar o ideal, ou a
*
José Leon Crochík. Notas de aula. PUC-SP: SP, 2003.
repetição, a lei, o padrão, mas de mostrar o real, ou de mostrar a radicalização do que é o
indivíduo e do que é a sociedade, na investigação de ambos, pois na radicalização do estudo
de um se encontra o outro, isto é, o que se encontra no limite do estudo sobre o indivíduo é
a sociedade e isto é válido também para a recíproca. Estudar o indivíduo isoladamente é
fazer ideologia*, uma vez que a mediação social é negada. As ciências sociais, por outro
lado, tendem a estudar a sociedade imaginando que ela é composta de indivíduos que se
somam simplesmente, logo tendem a olhar os indivíduos como meros reflexos da
organização social, e tão ruim quanto fazer ideologia neste sentido é supor o indivíduo
como reflexo da sociedade. Para a Teoria Crítica, o indivíduo é mediado socialmente, mas
não se restringe às determinações sociais, há condições para a constituição de um espaço
próprio do indivíduo, espaço mesmo da não-adaptação, que também decorre da relação
cultura(s) e natureza.
Aquela cisão mencionada anteriormente não significa a existência de mais de uma
identidade do indivíduo, mas sim as formas pelas quais a ciência cindiu o humano,
provocando um movimento que levou à constituição dos mais diversos campos científicos,
na linha de que é a ciência (e o cientista) que definem o seu objeto. Parece complexa e
comprometedora esta idéia, uma vez que é o objeto que clama por uma ciência, e não esta
por aquele. Talvez a necessidade de diferentes olhares sobre o mesmo objeto levou à
constituição dessas diferentes identidades do indivíduo. A necessidade de padronização dos
seus objetos de investigação pelas diferentes ciências e a busca pela “sua verdade” podem
colocar em conflito as ciências quando olham para o mesmo objeto. Seja em relação ao
conteúdo, seja em relação ao método, o fechamento sobre si própria somente pode trazer à
ciência a diminuição do seu campo de observação sobre o objeto estudado. A saída é a
interdisciplinaridade? Se pensada como método, como via-de-regra o é, não. Talvez se
pensar no plano epistemológico sim, mas ainda assim há um problema localizado
justamente neste plano, que diz respeito à possibilidade da interdisciplinaridade, isto é, a
questão é: até onde é possível ir na conjugação entre as diferentes ciências para a
construção de um olhar científico que apanhe o objeto na sua plenitude, considerando a
eterna/histórica fragmentação do conhecimento, que foi provocada pelo homem e que o
leva a não ter domínio sobre a amplitude da produção deste conhecimento? E, um pouco
mais além, não foi justamente o conhecimento especializado que permitiu o avanço
científico? Ou seja, se há problema com a especialização disciplinar, há problemas com os
avanços conquistados por esta especialização... O encontro na razão de ser das diferentes
ciências pode ser a alternativa para o problema, sem ter de se submeter a uma construção
artificial que mascara a cisão na produção do conhecimento, ou melhor, a cisão do objeto
pelas ciências no correr da história. Como vimos com a Teoria Crítica, não é, portanto, a
sobreposição entre as ciências que pode dar conta do problema, mas a aproximação entre os
objetivos científicos gerais. Nas ciências do campo social (sociologia, psicologia,
história,...), o encontro entre os objetos investigados deve dar conta de esclarecer as
relações entre as pessoas e a sociedade e em que medida elas se determinam mutuamente e
particularmente.
O sentido que devem buscar as ciências sociais, para Weber, é o do “exercitar uma
ciência da realidade”, procurando entender
“na realidade que está ao nosso redor, e na qual nos encontramos situados,
aquilo que ela tem de específico; por um lado, as conexões e a significação
cultural das diversas manifestações na sua configuração atual e, por outro, as
causas pelas quais ela se desenvolveu historicamente de uma forma e não de
outra” (1970, p. 124).
E continua:
“todo o conhecimento da realidade infinita, realizado pelo espírito humano
finito baseia-se na premissa tácita de que apenas um fragmento limitado dessa
realidade poderá constituir de cada vez o objeto da compreensão científica”
(idem, ibidem).
A extração desse fragmento pauta-se nos critérios das ciências da cultura, nas
regularidades causais. Todavia, “o conhecimento das leis da causalidade não poderá
constituir o fim, mas apenas o meio na investigação” (idem, p. 129). Esse conhecimento
causal importa para a identificação da singularidade do fenômeno cultural, o que dá suporte
à idéia do autor que demonstra que quanto mais geral e abstrata é uma lei, menos ela
contribui para o entendimento, para a “compreensão dos acontecimentos culturais” (idem,
ibidem). Voltarei a isto mais a frente. Na investigação social empírica, Weber afirma que a
regularidade é exigida como critério para a seleção do objeto investigado, mas evitando
observar o trabalho científico como “uma redução da realidade empírica a certas leis”
(idem, p. 130) ou aos “juízos de valor”, o conhecimento empírico “pressupõe a existência
de um tipo de conhecimento incondicionalmente válido” (idem, p. 117) no campo das
ciências sociais. A busca por esta regularidade, todavia, pode comprometer a visão do
investigador, ao ponto dele procurar fazer uma investigação social empírica isenta de
valores, como já demonstrava a crítica desenvolvida por Adorno à sociologia de Weber
(Adorno & Horkheimer, 1973, p. 123). Este entendimento da investigação social empírica
pode levar, conforme mostra a Teoria Crítica, a um culto aos fatos por ficar na superfície e
não ir às razões do fato, por desenvolver basicamente análise das respostas (dos sujeitos)
coletadas empiricamente e não desenvolver análise dos estímulos às respostas coletadas (ou
do objeto...). Nesta perspectiva, a Teoria Crítica aponta que a empiria deve ser o ponto de
partida e não o de chegada na investigação social, pois toma-la como verdade final é não
reconhecer a mediação que a sociedade estabelece entre todos os conhecimentos e
conceitos.
Há crítica da Teoria Crítica, também, à forma como os autores utilizam a teoria, de
maneira dicotomizada com a empiria: “Já a mais antiga sociologia, ao estilo Max Weber,
no qual a amplitude dos interesses pela prática se conjugava com um intenso esforço
teorético, revelava a sua debilidade diante do problema da totalidade” (idem, p. 122).
Adorno vê que para os autores do círculo weberiano, a teoria é um mal necessário. Mas, na
verdade, a teoria tem de auxiliar o pesquisador a entender o objeto e por isso ela tem de
fazer referência a ele. Isto significa que utilizar a teoria apenas descrever o contexto ou para
ancorar o objeto é muito pouco e, desta forma, corre-se o risco de se separar o objeto da
sociedade, da forma como mencionada no início deste texto. A teoria serve, então, para
mostrar o que os autores falam sobre o objeto e como o tratam e o trabalho do pesquisador
deve ir além, buscando mostrar o que isto representa.
Para me encaminhar para o fechamento deste texto, valeria apontar algumas notas,
mesmo que brevemente, acerca da questão de método na investigação social empírica e,
para tanto, o trabalho “A personalidade autoritária” de Theodor Adorno nos traz uma
discussão de método muito interessante de ser cotejada com a concepção de “tipo ideal” de
Max Weber. Para este autor há a necessidade de proposição de um tratamento
metodológico com vistas à melhoria do trabalho científico nas ciências sociais, e isto se dá,
para ele, através dos tipos ideais, que sugerem a síntese entre o devir e o ser empírico, entre
o entendimento e a experimentação. O sentido desta tipificação é captar a singularidade dos
fenômenos sociais através da definição de um tipo médio, padrão, que represente o todo, ou
o essencial do fenômeno. Os tipos ideais não são reflexos do real, somente são construídos
a partir do distanciamento do real e a partir das características mais evidentes e acentuadas
dos fenômenos é que se pode, nesta concepção, conhecer as relações sociais, o real
concreto. Este real é infinito para Weber e só pode ser conhecido através de conceitos que
capturam fragmentos a partir dos interesses dos pesquisadores. Como vimos anteriormente,
a causalidade (seja adequada ou acidental) é muito importante no entendimento da
sociologia de Weber, pois é a partir da (re)construção dos caminhos percorridos pelos
fenômenos sociais que eles podem ser elucidados, ou melhor, é a partir do entendimento
das causas (mesmo das irreais...) dos fenômenos que eles se tornam cognoscíveis. A teoria
weberiana aponta a necessidade da construção dos tipos ideais na medida em que o rigor da
investigação social empírica assim o peça, mesclando a adequação causal e a possibilidade
objetiva das ações sociais, com vistas a conhecer o distanciamento entre o empírico e ação
típica ideal, desvendando o caos presente em cada ação social.
Na pesquisa coordenada por Horkheimer e relata em obra de Adorno, “A
personalidade autoritária”, o foco estava no estudo do preconceito e do antisemitismo, ou
melhor no preconceito latente, isto é, a questão a saber estava relacionada com até que
ponto havia nos cidadãos comuns estadounidenses predisposição para o desenvolvimento
de concepções fascistas. O trabalho todo buscou desenvolver uma tipologia de casos reais,
eis, de pronto a diferença, entre este trabalho e a sociologia weberiana: na Teoria Crítica
temos uma tipologia dos tipos reais, enquanto que em Weber temos uma tipologia de tipos
ideais. Apesar do uso intenso da estatística, Adorno faz as ressalvas dos cuidados para a
não mitificação da técnica, para não correr o risco de deixar de ver o mais simples e o
principal. A verdade emerge da empiria, mas a teoria não tem papel secundário por conta
disto. Ela é uma relevante orientação para os dados empíricos, mas o investigador não
pode, também, permitir ser escravizado pelo teórico através da sua demonstração imediata
dos conceitos que buscam esclarecer o real. Adorno, apesar de criar e utilizar uma
tipologia, critica as tipologias:
“‘toda doutrina de tipos é um enfoque medial do problema da individualidade e
nada mais’, qualquer teoria deste gênero está exposta a sofrer ataques
devastadores por parte de ambos extremos: porque nunca capta o único e
porque suas generalizações não têm validade estatística e nem sequer
proporcionam instrumentos heurísticos produtivos. (...) Na verdade, o eixo de
todos esses argumentos é a aversão a aplicar conceitos rígidos à realidade
supostamente fluente da vida psicológica” (Adorno, 1965, p. 695).
Mas, apesar dessas críticas, nas quais inclusive Adorno associa todas as tipologias
com algo do fascismo, na medida em que busca a padronização, o uso das tipologias por
Adorno se justifica pelo fato de que a realidade é, ela própria, padronizada, os indivíduos (e
suas relações sociais e com a natureza) estão tipificadas, padronizadas e a tipologia por
ajudar a entende-los.
“Temos razões para buscar tipos psicológicos porque o mundo em que vivemos
está tipificado e ‘produz’ diferentes ‘tipos’ de pessoas. Só mediante a
identificação dos estereótipos do homem moderno, e não negando a sua
existência, pode combater-se a perniciosa tendência à classificação e
agrupamento gerais” (idem, p. 698).
Nesse sentido, a tipologia não deve ser apenas estatística. Nesta investigação, os
autores pensam a tipologia como uma tipologia social, ela está entre a teoria e a empiria,
buscando descrever, analisar e denunciar o real. E considerando esses aspectos, Adorno
apresenta metodologicamente três critérios que sustentam a tipologia por eles utilizados
naquela investigação social:
“a) Não desejamos classificar os seres humanos em tipos que os separam em
bem delimitados grupos estatísticos, nem tampouco em tipos ideais, no sentido
habitual da palavra, que seja necessário completar com ‘tipos mistos’. (...) b)
Nossa tipologia deve ser guiada por um espírito crítico no sentido de que
abarque a tipificação do homem em sua qualidade de função social. (...) c) Os
tipos devem definir-se de tal maneira que possam ser-nos úteis no aspecto
pragmático, isto é, que possam traduzir-se em padrões defensivos relativamente
drásticos e organizados de tal modo que as diferenças de natureza mais
individual cumpram apenas um rol secundário” (idem, p. 699-700).
Esses três aspectos – a não-classificação estreita, uma tipologia social e a utilidade
da tipologia – se somam e cumprem um roteiro muito interessante para se pensar o uso
desta importante ferramenta na pesquisa social empírica. Por fim, não se trata, de outro
lado, de descartar o tipo ideal de Weber e de elevar a análise dos tipos reais da Teoria
Crítica à condição de técnica adequada para a investigação social empírica (correndo neste
caso o risco de mitificação da técnica...). São sociologias distintas, com diferentes
perspectivas de análise do objeto. Weber lembra que muitos investigadores se recusam ao
uso dos tipos ideais, mas confundem ciência com juízos de valor, e acabam estabelecendo
um tipo ideal, porém ideologizado. Para Adorno, a crítica do real deve partir dos dados que
emergem da empiria, neste sentido uma tipologia social, real, não tão delimitadora, mas
denunciadora da verdade talvez seja mais interessante.
Bibliografia:
ADORNO, Theodor. La personalidad autoritaria. Buenos Aires: Editorial Proyección,
1965.
ADORNO, Theodor & HORKHEIMER, M. Sociologia e investigação social empírica. In
ADORNO, T. & HORKHEIMER, M. Temas básicos de sociologia. São Paulo: Cultrix,
1973, pp. 120-131.
CROCHÍK, José León. Anotações de aula. Programa de Estudos Pós-graduados em
Educação: História, Política, Sociedade – PUC-SP. São Paulo: mimeo, 2003
WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. Tradução de Leônidas Hegenberg e
Octany S. da Mota. São Paulo: Cultrix, 1970.
WEBER, Max. Metodologia das ciências sociais. Tradução de Augustin Wernet. São
Paulo: Cortez, 1992.
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