contribuições do referencial teórico- metodológico da

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 CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐
METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Resumo O objetivo deste trabalho é refletir sobre as contribuições do referencial teórico‐metodológico socialista para a Pedagogia do Movimento Sem Terra. Para a sua efetivação realizamos estudo bibliográfico das principais obras dos pedagogos socialistas Makarenko, Pistrak e Shulgin, e das principais obras de Caldart. Para tanto, apresentamos uma breve exposição da história do processo de constituição da Pedagogia do Movimento, estabelecendo relações o processo de elaboração de seu referencial teórico‐
metodológico, dando destaque às contribuições da Pedagogia Socialista. Tecemos considerações a respeito da constituição da escola única do trabalho no contexto da Revolução Russa, seus princípios teórico‐metodológicos. Por fim, apontamos as contribuições deste referencial para a Pedagogia do Movimento. Os resultados indicam que o MST ensaia e engendra a possibilidade concreta da construção de práticas educativas pautadas nos princípios teórico‐metodológicos da pedagogia socialista. E, ao estabelecer relações comprometidas com os sujeitos concretos, objetivar a consciência crítica e o compromisso com a luta social do Movimento, essa experiência vem alterando, além do conteúdo, o método e a forma escolar. Palavras‐chave: MST; Pedagogia do Movimento Sem Terra; Pedagogia Socialista Franciele Soares dos Santos Universidade Estadual do Oeste do Paraná [email protected] X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.1
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos Introdução Considerando a importância da referencial teórico‐metodológico da pedagogia socialista para pensar a forma escolar desenvolvida e defendida no contexto da luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que organizamos este trabalho. O foco da reflexão está na necessidade de investigar e compreender as contribuições do referencial teórico‐metodológico socialistas para a Pedagogia do Movimento Sem Terra – MST. Tendo por base reflexões realizadas a partir de estudos de caráter bibliográfico. A pesquisa bibliográfica, neste caso, foi realizada por meio de levantamento bibliográfico e estudo das principais obras escritas, traduzidas para o português, pelos pedagogos socialistas Moisey M. Pistrak e Viktor N. Shulgin, respectivamente “Fundamentos da escola do Trabalho” e “A escola‐comuna”. E também, leituras de bibliografias que discutem a educação no MST, bem como a Pedagogia do Movimento Sem Terra, especialmente as obras de Caldart (1991; 1997; 2002; 2004; 2013). Primeiramente, apresentamos uma breve exposição da história do processo de constituição da Pedagogia do Movimento Sem Terra, estabelecendo relações o processo de elaboração teórica de sua pedagogia, dando destaque a Pedagogia Socialista. Num segundo momento, tecemos considerações a respeito da constituição da escola única do trabalho no contexto da Revolução Russa, seus princípios teóricos e metodológicos a partir de dois de seus representantes Makarenko, Pistrak e Shulgin. Por fim, apontamos as contribuições deste referencial para a Pedagogia do Movimento Sem Terra. Sabemos que não é possível esgotar o debate sobre estas questões com este texto, já que as experiências com a pedagogia socialista ainda estão em andamento nas escolas de educação básica vinculadas ao Movimento. No entanto, acreditamos ser importante socializar estas reflexões com intuito de contribuir no debate coletivo, no sentido conhecermos as possibilidades de construção de uma experiência de alteração da forma escolar capitalista em espaços como dos movimentos sociais populares do campo, neste caso específico do MST. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.2
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos A constituição do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e o processo de elaboração de sua pedagogia As condições objetivas que desencadearam a necessidade da organização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, estão diretamente relacionadas às transformações ocorridas na agricultura brasileira na década 1970, que por sua vez provocam a expulsão de um grande contingente de trabalhadores rurais do campo. Portanto, para analisarmos o percurso histórico da constituição do MST é preciso considerar que sua gestação foi desencadeada desde as primeiras ocupações de terra ocorridas entre 1979 a 1984, especialmente na região sul do Brasil, como por exemplo, a ocupação de terras na Encruzilhada do Natalino, no Rio Grande do Sul, e a ocupação da Fazenda Burro Branco, no oeste catarinense. Para Caldart (2004), há também fatores de caráter sociocultural e político que devem ser considerados ao tratarmos da gênese do MST. No que diz respeito ao contexto sociocultural, este está diretamente relacionado à influência junto aos trabalhadores do campo das Comunidades Eclesiais de Base (CEB’S) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), esta realizavam encontros com os trabalhadores do campo que contribuíram para organização destes. Outra influência significativa foi exercida por alguns setores da Igreja Católica, vinculados a Teologia da Libertação, que trouxeram contribuições para a conscientização destes trabalhadores sobre a necessidade da organização para a luta pela terra. Do ponto de vista político, o processo de redemocratização do país, também foi determinante para a organização dos trabalhadores tanto da cidade quanto do campo. Assim, a constituição do MST como movimento social, ocorre essencialmente por meio da necessidade da luta pela terra. No entanto, diante do perfil de baixa escolarização dos sujeitos sem terras, e também diante da falta de escola nos acampamentos para as crianças, o Movimento acaba por preocupar‐se e assumir a escolarização de seus integrantes. Segundo Caldart (2004, p. 227) “a grande maioria dos sem‐terra tem baixo nível de escolaridade e uma experiência pessoal de escola que não deseja para seus filhos: discriminação, professores despreparados, reprovação, exclusão”. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.3
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos Por conseguinte, a história da questão escolar e educacional no Movimento Sem Terra está relacionada à necessidade da ocupação da escola, que objetivou garantir o direito à educação negada historicamente aos trabalhadores do campo brasileiro, e também se constituiu como uma forma de resistência ao modelo de escolar urbano implementado no campo, e devido ao fato de que “vinculada ao sistema produtivo, a escolaridade campesina também serviu de suporte para a estruturação de uma sociedade desigual e de preparo mínimo para mão‐de‐obra que atendesse prerrogativas político‐
econômicas” (LEITE, 2002, p.53). A busca por uma “escola diferente” para o Movimento e no Movimento faz surgir reflexões sobre a necessidade de romper com o modelo escolar predominante para a população rural, “[...] quando os acampados começam a discutir a questão da escola, uma das palavras mais pronunciadas nas reuniões pais e professores é “diferente”. A escola tem que ser diferente, o professor tem que ser diferente, os alunos têm que ser diferentes, tudo diferente” (CALDART et al, 1991, p. 97). Mas, como organizar uma “escola diferente”? Os primeiros passos para a ocupação da escola e a construção de uma escola diferente ocorrem inicialmente, pela redefinição de seus objetivos. Num dos depoimentos sobre o surgimento da questão escolar no MST, Caldart et al (1991) relata que a primeira iniciativa foi a de organizar discussões coletivas com pais professores para definir o que ensinar nas escolas do Movimento. A preocupação principal era de construir uma forma escolar pensada coletivamente pelos sem terra e vinculada à luta do MST na contramão do projeto hegemônico escolar capitalista. Talvez estas famílias já começassem a compreender o quanto estavam aprendendo em uma nova coletividade e o quanto ainda tinham de aprender para dar conta de novos desafios. Então não seria justo que a escola (conseguida na luta) não ajudasse nessa tarefa. Além disso, era comum a sensação dos sem‐terra de terem perdido muito tempo da sua vida sem saber como as coisas são de fato. Nas primeiras discussões sobre escola, não eram poucos os que diziam: queremos que nossos filhos aprendam a enxergar a realidade mais cedo do que nós, incluindo nesse desejo uma crítica à escola que conheciam (CALDART, 2004, p.234). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.4
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos Partimos do pressuposto de que ao ocupar a escola e objetivar a construção de uma “escola diferente”, o Movimento Sem Terra passa a reescrever a história de educação escolar no campo, pois, “[...] a escola também é um direito negado para aos sem‐terra, pela sua própria condição de trabalhadores do campo em uma sociedade cujo modelo de desenvolvimento pôde prescindir da escolarização do povo, especialmente desse que vive e trabalha no meio rural” (CALDART, 2004, p. 217). Ao relatar a história da organização e luta dos pais e professores acampados e assentados pelo direito a escola para seus filhos, Caldart et al (1991) afirma ainda que as discussões abrangiam também debates relativos à formação de educadores, pois, à medida que se criavam as escolas nos assentamentos e nos acampamentos, aumentava a demanda por professores. Com a criação do Setor de Educação do Movimento em 1987, inicia‐se a luta por um curso de magistério para formar educadores do Movimento e para o Movimento. Após muitas tentativas no âmbito do Estado, o Setor de Educação com a FUNDEP (Fundação de Desenvolvimento, Educação e Pesquisa da Região do Celeiro)1.A FUNDEP por meio do seu Departamento de Educação (DER) em diálogo com o MST elabora a proposta do curso de magistério para professores assentados. A primeira turma de magistério iniciou em 1990, em Braga/RS. Portanto, a educação no MST, vai sendo gestada também, a partir do fato de que havia professores de fora dos assentamentos educando as crianças a partir de uma visão de mundo contrária à da luta do Movimento (CALDART, 1997). O Setor de Educação passou a articular e potencializar as luta e as experiências educacionais já existentes dentro do Movimento, por meio da criação do Coletivo Nacional de Educação do MST. E ao mesmo tempo, possibilitou a partir de seus encontros e reflexões a elaboração teórica coletiva da proposta educacional do MST para suas escolas. Para Caldart (2004) 1
A FUNDEP “é criada em 1989, no município de Três Passos, pela articulação de movimentos populares da região com alguns setores da Igreja e com o grupo de educadores dispostos a dar à luz propostas realmente nova de educação. Proposta que seja organicamente vinculada às necessidades e demandas da formação de uma população regional organizada, tanto na área do ensino formal como da educação não formal (CALDART et al, 1991, p.104). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.5
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos [...] escrever a proposta seria o jeito de avançar em dois sentidos: socializando com mais gente o que se discutia nos encontros, e tendo que dar um formato de elaboração mais rigoroso (teórico) às questões tratadas. [...] O desafio era duplo: avançar na elaboração e simultaneamente traduzi‐la em uma linguagem capaz de ser compreendida pelo conjunto do Movimento, em especial pelos professores e pelos outros militantes que neste momento ajudavam na construção da organicidade do trabalho nos acampamentos e assentamentos (p. 258‐259). Um marco para a sistematização da proposta pedagógica do Movimento foi a elaboração do documento “O que queremos com as escolas dos assentamentos” editado em 1991, uma obra referencial nas discussões sobre educação no âmbito do MST. Neste documento, estão as primeiras orientações produzidas pelo Movimento para orientar o trabalhos nas escolas. Após a publicação deste documento, foi elaborada uma coleção chamada Cadernos de Educação que contribuíram para a sistematização da proposta pedagógica do MST (CALDART, 2004). Outra contribuição fundamental para a sistematização da Pedagogia do Movimento foi dada Roseli Caldart, intelectual ligada ao Movimento, por meio das obras: “Educação em Movimento – formação de educadores e educadoras do MST” (1997), “Escola é mais do que escola na Pedagogia do Movimento” (2000) e, a obra publicada em 2004, descreveu as fases de elaboração da proposta educacional do MST, e a “Pedagogia do Movimento Sem Terra” (2004). Essa última pesquisa constituiu‐se “[...] na primeira grande síntese teórico‐prática da pedagogia do MST” (FRIGOTTO, 2011, p.36). Segundo Caldart (2011, p.148) “Pedagogia do Movimento foi o nome que demos a uma forma de práxis pedagógica que tem origem e referência no Movimento Social dentro ou desde um projeto de transformação da sociedade e do ser humano”. Neste sentido, uma formação vinculada aos princípios pedagógicos da Pedagogia do Movimento caracteriza‐se por ser uma formação político‐pedagógica que repensa as práticas educativas a partir de específicas matrizes pedagógicas, apontando para uma ação de reflexão crítica na formação dos sujeitos do campo, questionando, por exemplo, a expropriação do modo de produção capitalista sobre os trabalhadores do campo. Na obra “Pedagogia do Movimento Sem Terra” a autora defende a tese do X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.6
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos Movimento como princípio educativo e apresenta a Pedagogia do Movimento Sem Terra constituída por diferentes matrizes pedagógicas: Pedagogia da luta social, Pedagogia da organização coletiva, Pedagogia da terra, Pedagogia do trabalho e da produção, Pedagogia da cultura, Pedagogia da escolha, Pedagogia da alternância e Pedagogia da história. Afirma também que três fontes influenciaram a elaboração da Pedagogia do Movimento: a experiência trazida pelos sujeitos que militavam no MST; o Movimento, seus princípios, projetos e ensinamentos; e por último, os elementos da teoria pedagógica trazida pelos professores e pedagogos que auxiliavam o MST, em destaque os estudos de Paulo Freire e também de alguns pensadores e pedagogos socialistas (CALDART, 2004). O que, em nossa análise, fica evidente nos princípios filosóficos sistematizados pelo Movimento: educação para a transformação social; educação para o trabalho e cooperação; educação voltada para as várias dimensões da formação humana; educação com e para valores humanistas e socialistas e educação como um processo permanente de formação/transformação humana (MST, 1999). Princípios estes que o Movimento tenta materializar de diferentes formas em suas práticas político‐pedagógicas e a partir de Um processo pedagógico que se assume como político, ou seja, que se vincula organicamente com os processos sociais que visam à transformação da sociedade atual e à construção, desde já, de uma nova ordem social, cujos pilares principais sejam a justiça social, a radicalidade e os valores humanistas e socialistas (MST, 1997, p.6). Cabe ressaltar que, desde seu início a prática pedagógica das escolas fundamentou‐se também na metodologia dos temas geradores de Paulo Freire, ou seja, o pensamento político‐pedagógico freiriano também se articulou aos desafios da construção de um projeto educativo emancipatório do MST. Sendo presença constante nas experiências. No entanto, a pedagogia socialista está presente nas escolas, principalmente por meio das dinâmicas de organização do trabalho pedagógico. Para Dalmagro (2011, p. 65) “[...] a pedagogia socialista parece ter sido importante no momento de pensar a forma da escola (trabalho, organização estudantil, tempos X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.7
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos educativos); já Freire teve peso maior quando da definição do método de estudo, a consideração da realidade do educando, o universo local como ponto de partida, entre outras temáticas”. Assim, não há como pensar a Pedagogia do Movimento Sem Terra sem considerarmos as contribuições dos princípios teórico‐metodológicos da pedagogia socialista. Com intuito de melhor compreender estes princípios e como eles se articulam a proposta pedagógica do Movimento, que apresentamos no próximo tópico um breve histórico sobre o contexto de elaboração da pedagogia socialista, bem como as principais ideias formuladas e desenvolvidas pelos pedagogos socialistas Makarenko, Pistrak e Shulgin no contexto da revolução russa. Princípios teórico‐metodológicos da pedagogia socialista O pensamento pedagógico socialista está diretamente ligado às discussões pedagógicas situadas sob uma perspectiva marxista transformadora, e atrelado a um projeto revolucionário de educação. É especialmente durante o período revolucionário russo que pensadores como Lênin, Krupskaia, Makarenko, Pistrak e Shulgin desenvolveram uma proposta pedagógica revolucionária em consonância com o movimento socialista. De acordo com Manacorda (1989), os embates pedagógicos entre pensadores e pedagogos burgueses e pensadores e pedagogos socialistas tomam corpo a partir do movimento que resultou na Revolução Russa em 1917, quando o ploretariado e seu partido político instauraram o Estado Socialista, quando o proletariado e seu partido político instauraram o Estado Socialista. Porém, as transformações sociais, políticas, econômicas e também educacionais tão almejadas pelos revolucionários não ocorreram tão rapidamente “[...] na nova situação tudo estava por ser feito. O mesmo também ocorreu no campo da educação, onde a revolução foi um desafio à criação de uma via inteiramente nova pela qual o povo russo poderia caminhar em direção ao socialismo” (ROSSI, 1981, p.12). Diante deste cenário, houve várias tentativas por parte dos educadores russos para a criação de uma nova pedagogia. Mas, somente em 1931 que temos a primeira X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.8
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos reforma educacional na União Soviética que tinha como intuito romper com os resquícios da educação tsaristas‐verbalistas que ainda assombrava a possibilidade da construção de uma nova escola. [...] No começo da revolução a tarefa colocada para escola pela reviravolta revolucionária parecia, possivelmente, menos difícil e complicada do que parece para nós agora. A tarefa de construção da nova escola foi assumida por muitos pedagogos. A maioria sabia apenas uma coisa: que a nova escola não deveria parecer‐se com a antiga, que nela deveria reinar um espírito completamente diferente, que não podia esmagar a personalidade da criança, como foi esmagada pela escola antiga. Os professores pioneiros da nova escola, começaram seu difícil trabalho. Era preciso abrir uma picada na floresta virgem, trabalhar por sua conta e risco, observar incansavelmente, buscar, cometer erros e aprender com eles (KRUPSKAIA apud FREITAS, 2009, p. 105‐106). Os debates pedagógicos no contexto da Revolução Russa tiveram por referência prática e teórica os textos clássicos de Marx e Engels. Portanto, não há como compreender os pressupostos teórico‐metodológicos da pedagogia socialista, sem considerarmos a íntima e necessária relação entre educação e trabalho no âmbito da formação humana, bem como compreendermos os pressupostos da filosofia marxista e, principalmente, lutar pela construção de uma proposta de educação contrária à lógica do capital. Portanto, no pensamento pedagógico socialista, a categoria trabalho ocupa lugar central. Sobre a união trabalho e educação, esta se encontra localizada inicialmente, na tradição herdada pelo socialismo utópico, sendo superada pelas análises de Marx e Engels a respeito das condições de vida e de trabalho. Logo, o debate sobre os fundamentos da teoria pedagógica socialista estão diretamente vinculados aos pressupostos da teoria do materialismo histórico dialético. Nos escritos marxianos, o trabalho apresenta‐se como categoria central, e, principalmente, é pelo trabalho que se constitui o processo teleológico. Segundo Lukács (1979), mesmo que, em Marx, a teleologia aparece no ato do trabalho, a tese marxiana avança em relação à concepção idealista de teologia, pois afirma que o pôr‐teleológico só pode ocorrer pelo processo de trabalho. Portanto, este só existe sob condições reais, possuindo como premissa a capacidade do ser humano objetivar‐se pelo processo de trabalho e, para, além disso, refletir suas ações e suas atividades. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.9
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos Nesse sentido, o homem, por meio de seu trabalho, transforma a matéria‐prima provinda da natureza em coisas úteis para sua existência, o que está relacionado intrinsecamente com o ato teleológico. Podemos compreender, então, que pelo processo de trabalho, ocorre o salto qualitativo do ‘ser em‐si’ para o ‘ser para‐si’, ou seja, explica‐se a questão do trabalho como fundamento ontológico do gênero humano, como criatura genérica. O homem é uma criatura genérica, não só na acepção de que faz objeto seu, prática e teoricamente, a espécie (tanto a sua própria como a das outras coisas), mas também – e agora trata‐se apenas de outra expressão para a mesma coisa – no sentido de que ele se comporta diante de si mesmo como a espécie presente, viva, como um ser universal e portanto livre (MARX, 2006, p.115). Dessa maneira, os pressupostos filosóficos da teoria marxiana postulam que é pelo trabalho que, primeiramente, o ser humano constituiu‐se em sua formação histórica e social, pois ao transformar a natureza por meio do processo de trabalho, promove em si o salto ontológico, ou seja, a passagem da esfera orgânica para a social, fundando em si a esfera social do ser2. Os debates pedagógicos no contexto da Revolução Russa se tornaram referência na elaboração teórica e prática de uma concepção socialista por parte dos pedagogos revolucionários. Anton Makarenko foi um destes educadores socialista. Elaborou uma pedagogia alicerçada na “educação dos sentimentos”, no trabalho e no “coletivo”. A “educação dos 2
No entanto, é preciso considerar que o trabalho sob os efeitos da divisão social do trabalho imposta historicamente pelo capitalismo, o trabalho torna‐se alienado. O trabalho alienado oculta a essência do processo de trabalho, desconsiderando as aptidões e capacidades dos indivíduos, e suas necessidades fundamentais, suas aspirações criadores e os faz trabalhar para o capital como se estivessem trabalhando para si mesmos. Assim, “o produto do trabalho distancia‐se do trabalhador porque foi o produzido por ordens alheias e não por necessidades e capacidades do próprio trabalhador; porque fica exposto num mercado de consumo inalcançável para o trabalhador; e porque aparece como uma coisa existente em si e por si mesma e não como resultado da ação do trabalhador. Esse tríplice distanciamento é o processo social em que o trabalhador individual e a classe trabalhadora não podem reconhecer‐se como autores dos produtos de seu próprio trabalho. Não é só isso. Ao passar da condição humana à mercadoria, ao tornar‐se coisa que produz coisas e perder sua própria humanidade, o trabalhador se torna “outro” que si mesmo e os produtos do trabalho tornam coisas “outras” que o próprio trabalhador. Esse tornar‐se outro constitui a alienação do trabalho. Como o trabalhador é uma coisa que produz coisas, a relação social do trabalho com o capital (ou entre classes) aparece‐lhe como se fosse uma relação entre coisas, ocultando a verdadeira realidade” (LAFARGUE, 2000, p.34). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.10
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos sentimentos” só é possível a partir da soberania dos valores coletivos sobre os individuais, pois o pensamento pedagógico de Makarenko incluía princípios democráticos. Para ele, não poderia haver educação senão na coletividade e por meio da vida e do trabalho coletivo. Portanto, sua proposta educacional estava diretamente comprometida com a construção da sociedade socialista. Segundo Makarenko, os alunos deveriam formar‐se com: ‐ um profundo sentimento de dever e da responsabilidade para com os objetivos da sociedade; ‐ um espírito de colaboração, solidariedade e camaradagem; ‐ uma personalidade disciplinada, com grande domínio da vontade e com vistas aos interesses coletivos; ‐ algumas condições de atuação que impedissem a submissão e a exploração do homem; ‐ uma sólida formação política; ‐ uma grande capacidade de conhecer os inimigos do povo; (GADOTTI, 2002, p.135‐136) Pistrak escreveu em 1924 a obra “Os problemas fundamentais da Escola do Trabalho”, na qual apresenta elementos essenciais para essa compreensão da proposta educacional socialista. Para Pistrak, para o desenvolvimento de uma educação baseada nos fundamentos do socialismo, torna‐se necessária a compreensão de três elementos centrais: a) sem teoria pedagógica revolucionária, não pode haver prática pedagógica revolucionária; b) a teoria marxista é a teoria da transformação; c) a teoria pedagógica comunista só se tornará ativa e eficaz quando o próprio professor assumir o papel de um militante social ativo no seio da nova escola (PISTRAK, 2003). A teoria pedagógica revolucionária é a teoria marxista, a qual o autor denomina, ao longo de sua obra, de “a teoria da transformação”, sendo imprescindível a instrumentalização dos alunos com ensino do conhecimento científico e da filosofia marxista; somente assim a classe trabalhadora poderá almejar a transformação social: [...] o marxismo nos dá não apenas a análise das relações sociais, não somente o método de análise para compreender a essência dos fenômenos sociais suas relações recíprocas, mas também o método de ação eficaz para transformar a ordem existente no sentido determinado pela análise (PISTRAK, 2003, p.38). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.11
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos A base da escola única do trabalho, proposta pelo pensador, está centrada na relação da escola com a realidade, a vida e a auto‐organização dos alunos. O estudo da realidade propiciaria aos educandos a sua compreensão na totalidade. Segundo Pistrak, é preciso demonstrar aos alunos que “os fenômenos que estão acontecendo na realidade atual são simplesmente parte de um processo inerente ao desenvolvimento histórico geral, é preciso demonstrar a essência dialética de tudo que existe [...]” (PISTRAK, 2003, p.35). Já, a auto‐organização dos alunos relaciona‐se com a capacidade destes de trabalharem coletivamente; o que compreende responsabilidade, obrigações e, principalmente, compromisso com a coletividade. O trabalho é um elemento integrante da relação da escola com a realidade atual, e neste nível há fusão completa entre ensino e educação. Não se trata de estabelecer uma relação mecânica entre o trabalho e a ciência, mas de torná‐los duas partes orgânicas da vida escolar, isto é, da vida social da criança (PISTRAK, 2003, p.50) É importante ressaltar, ainda, que Pistrak, contou com as contribuições de Shulgin para a realização de seus escritos, principalmente na obra Escola‐Comuna. Os dois “[...] compartilhavam várias categorias [...] atualidade, autogestão e trabalho” (FREITAS, 2009, p.22). A primeira categoria refere‐se à necessidade de por meio da escola permitir a vivência da atualidade, como forma de compreendê‐la, para assim lutar pela construção da nova sociedade sem classes. Nas palavras de Shulgin “[...] nós precisamos da escola cada vez mais integralmente, de cima em baixo, impregnada pela atualidade; nós precisamos de professores que compreendam a atualidade que tomam parte de sua reconstrução; nós precisamos que a criança viva‐a” (SHULGIN, 1924, p.21‐22 apud FREITAS, 2009, p. 24). Portanto, os métodos escolares propostos pelos dois pedagogos são ativos e vinculados ao trabalho manual (trabalhos domésticos, trabalhos em oficinas com metais e madeiras, trabalhos agrícolas, desenvolvendo a aliança cidade‐campo), ao trabalho agrícola ou ao trabalho industrial, nos quais os alunos deverão estar inseridos, de forma que participem em todas as modalidades segundo suas capacidades. A intenção do pensador era propiciar aos alunos a compreensão da totalidade do mundo do trabalho. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.12
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos No que se refere à autogestão, esta deve ser ensinada desta a mais tenra idade, depende da construção da noção de coletividade, hábitos e habilidades de organização. Para Shulgin [...] a forma superior de autogestão é a assembléia geral de todos os membros a comissão de organização [...] seu órgão executivo superior; ela distribui seus membros por uma série de conselhos escolares; ela toma conhecimento dos conflitos que ocorrem na comuna e toma uma série de medidas, promulgando deliberações. [...] a comissão de organização é construída de cinco pessoas: 1) administrador da parte econômica; 2) do internato; 3) do estudo; 4) do social‐científico e 5) do secretariado” (SHULGIN, 1924, p. 69‐70 apud FREITAS, 2009, p.31). Já a importância atribuída à categoria trabalho articula‐se a necessidade de transformar o trabalho “[...] como objeto de estudo, o trabalho como método, trabalho como fundamento da vida” (SHULGIN, 1924, p.23 apud FREITAS, 2009, p. 32). É a partir desta necessidade que emerge a categoria trabalho socialmente útil3.Portanto, o trabalho é o princípio educativo tanto para Shulgin quanto para Pistrak. Além disso, na Escola‐Comuna de Pistrak o currículo da escola era organizado por meio do Plano de Estudos por complexo utilizado nas escolas soviéticas. De acordo com Freitas (2009) A noção de complexo de estudo é uma tentativa de superar o conteúdo verbalista da escola clássica, a partir do olhar do materialismo histórico‐
dialético, rompendo com a visão dicotômica entre teoria e prática (o que se obtém a partir da centralidade do trabalho socialmente útil no complexo). Ele não é um método de ensino, em si, embora demande, em associação a ele, o ensino a partir do trabalho socialmente útil é o elo, a conexão segura, entre teoria e prática, dada sua materialidade (p.37‐38). O plano de estudo por complexos articula‐se a transformação da forma e do conteúdo da escola, por meio da articulação entre natureza, sociedade e trabalho. O que não significa dizer que a Escola‐Comuna não trabalhasse com disciplinas escolares clássicas, trabalhava sim, mas de maneira transformada. Pois, o complexo é uma 3
“O trabalho socialmente útil é, exatamente, o elo perdido da escola capitalista. O trabalho socialmente útil é a conexão entre a tão propalada teoria e a prática. É pelo trabalho, em sentido amplo, que esta relação se materializa. Daí a máxima: não basta compreender o mundo, é preciso transformá‐lo. A escola é um instrumento de luta no sentido de que permite compreender melhor o mundo (domínio da ciência e da técnica) com a finalidade de transformá‐lo, segundo os interesses e anseios da classe trabalhadora (do campo e da cidade), pelo trabalho” (PISTRAK, 2009, p. 34). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.13
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos construção da didática socialista (FREITAS, 2009), onde as categorias atualidade, auto‐
organização e trabalho são determinantes. No processo de elaboração da pedagogia do Movimento, Makarenko e Pistrak, e nos últimos anos Shulgin são os pedagogos socialistas que mais influenciaram e influenciam as práticas educativas desenvolvidas pelo Movimento Sem Terra. E ainda, a pedagogia socialista esteve e está em sintonia com as experiências educativas desenvolvidas no âmbito do Movimento desde sua criação, bem como na dinâmica de sua luta social. Considerando tais compreensões, que no tópico abaixo nos buscamos apontar de forma sucinta as principais contribuições deste referencial para a Pedagogia do Movimento Sem Terra. Contribuições do referencial teórico‐metodológico socialista para a Pedagogia do Movimento Sem Terra Como apontamos anteriormente, o Movimento Sem Terra desde o início da sua caminhada com a questão escolar se desafia a construir experiências educativas orientadas pelos princípios teórico‐metodológicos da pedagogia socialista. As tentativas de construção de experiências concretas a partir do referencial teórico‐metodológico socialista, a nosso ver constituem‐se também como um esforço fundamental para a organização de práticas educativas contra‐hegemônicas, bem como para construção de instrumentos para elaboração de uma crítica radical ao modelo de escolarização atual, já que tal proposta faz a crítica à educação unilateral presente na sociedade capitalista. De fato, o papel da educação e formação humana de caráter socialista possui uma tarefa específica: assegurar a transformação social, por meio do afastamento radical de práticas educacionais capitalistas e, principalmente, desenvolver a consciência socialista na sociedade em sua totalidade. Para Mészáros (2007), a educação institucionalizada sobre as bases capitalistas formam indivíduos – desde os primeiros anos de vida por meio da dominação ideológica – de acordo com seus interesses, ao contrário da educação socialista, que busca o X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.14
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos desenvolvimento contínuo da consciência socialista, que não se separa e interage continuamente com a transformação histórica geral. (MÉSZÁROS, 2007, p.298). O autor demonstra que, sem, a contribuição permanente da educação, é impossível alcançar os objetivos de um desenvolvimento histórico sustentável. Assim, [...] as medidas adotadas de transformação material são inseparáveis dos objetivos educacionais defendidos. Isso porque os princípios orientadores da transformação socialista da sociedade são irrealizáveis sem o pleno envolvimento da educação como o desenvolvimento contínuo da consciência socialista (p.300). Por isso, entendemos que as principais contribuições do referencial teórico‐
metodológico da pedagogia socialista, estão em localizar a escola no plano da estratégia para a materialização do projeto histórico e educativo do Movimento. E também apontar para a necessidade de repensar o conteúdo, o método e a forma da escola para avançar no sentido da construção de uma pedagogia contra‐hegemônica. Outra contribuição importante são as experiências educativas desenvolvidas no âmbito do Movimento a partir do referencial teórico‐metodológico socialista, vem alterando a forma escolar, ao possibilitar a reflexão sobre a possibilidade da construção de uma escola comprometida com sujeitos concretos, e almejar um processo pedagógico teórico‐prático que venha possibilitar a cada educando Sem Terra a consciência crítica da realidade onde está inserido e o compromisso com a luta pela transformação social. Considerações finais Este texto teve como objetivo principal a discussão sobre as contribuições do referencial teórico‐metodológico socialista para a Pedagogia do Movimento Sem Terra. A discussão realizada apresentou brevemente questões relacionadas ao processo de constituição do MST, situando neste movimento a necessidade da elaboração de sua pedagogia. Além disso, tecemos considerações a respeito da constituição da escola única do trabalho no contexto da Revolução Russa, seus princípios teóricos e metodológicos a partir de dois de seus representantes Makarenko, Pistrak e Shulgin. Por fim, apontamos X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.15
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CONTRIBUIÇÕES DO REFERENCIAL TEÓRICO‐METODOLÓGICO DA PEDAGOGIA SOCIALISTA PARA PEDAGOGIA DO MOVIMENTO SEM TERRA Franciele Soares dos Santos breves considerações sobre as contribuições deste referencial para a Pedagogia do Movimento Sem Terra. Assim, a partir da elaboração deste trabalho, nossas reflexões indicaram que o Movimento Sem Terra ensaia e engendra desde o início da sua caminhada com a educação escolar, a possibilidade concreta da construção de uma pedagogia pautada nos princípios teórico‐metodológicos da pedagogia socialista, estabelecendo o diálogo com seus principais representes. Logo, concordamos com Freitas (2013 apud CALDART, 2013, p.09), quando este afirma que a escola do MST “já tem seu nome inscrito na história da pedagogia socialista pelas contribuições teóricas e práticas que forneceu e continua a fornecer em sua labuta diária”. Referências CALDART, R. S. Educação em movimento: Formação de educadores e educadoras no MST. Petropólis, RJ: Vozes, 1997. ____________. Por Uma Educação do Campo: Traços de uma identidade em construção. In: KOLLING, E. J.; CERIOLI, P. R.; CALDART, R. S. (Orgs.). Educação do campo: Identidades e Políticas Públicas. Brasília, DF: Articulação Nacional por Uma Educação do Campo (Coleção Por uma Educação Básica do Campo, n. 4), 2002. ____________. Pedagogia do Movimento Sem Terra. 3ª Ed. São Paulo: Expressão Popular, 2004. ____________. A educação das crianças nos acampamentos e assentamentos. In. GÖRGEN, F. S. A. e STEDILE, J. P. Assentamentos: a resposta econômica da Reforma Agrária. Petrópolis: Rio de Janeiro, 1991. _____________. Escola em movimento no Instituto de Educação Josué de Castro. São Paulo: Expressão Popular, 2013. DALMAGRO, Sandra. A escola no contexto das lutas do MST. Tese de Doutorado em Educação. Programa de Pós‐graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina‐UFSC, 2010. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.16
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