ESTUDO FILOSÓFICO SOBRE O TEMA: MEMÓRIA BASEADO NA TEORIA DE PAUL RIOCUER E LUDOPEDAGOGIA. UMA EXPERIÊNCIA BEM SUCEDIDA COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO. Cinthia Celene Benck de Lima (UEPG), Vânia Fernandes ( Orientadora) Universidade Estadual de Ponta Grossa/Pós Graduação em Filosofia para o Ensino Médio. EDUCAÇÃO Palavras-chave: memória, Paul Ricouer,ludopedagogia. Resumo: Este artigo consiste na apresentação de um relato sobre aulasoficinas que ocorreram com alunos do primeiro ano do ensino médio no período noturno dos colégios estaduais Professora Maria Aparecida Militão e Professor Custódio Netto, ambos localizados no município de Telêmaco BorbaPR. Tendo como objetivo demonstrar que estudos com questões filosóficas podem e devem utilizar-se da metodologia didática da ludopedagogia, conduzindo os alunos ao melhor entendimento nas reflexões filosóficas. O tema memória foi trabalhado sob o subsídio teórico do filosofo contemporâneo Paul Ricouer, e a metodologia da ludopedagogia utilizou de cadernos culinários antigos. A preocupação em utilizar cadernos de culinária antigos estava baseada em integrar a realidade dos alunos com questões filosóficas, demonstrando que muito além de simples “cadernos” eles eternizam memória, recordações, e sentimentos, o ato de manusear as receitas traz a tona uma memória vivida e suas reflexões filosóficas. Introdução Partindo se da afirmação de Waternberg (2007) que a filosofia se debruça sobre “questões eternas” e de preocupações humanas. O tema memória é de grande relevância para o entendimento da articulação entre a questão histórica e a identificação de sujeitos coletivos. Em sala de aula principalmente na disciplina de filosofia observa-se um distanciamento de questões tão centrais e objetivas por parte dos alunos, no que se refere a partir de reflexões e questionamentos filosóficos. Ao trabalhar com questões filosóficas de Paul Ricouer sobre a memória e cadernos de receitas culinárias antigos buscou-se a introdução de uma metodologia onde os alunos foram levados a questionar e discutir sobre o que aqueles cadernos guardam em relação a memória. Muito mais de simples receitas, estes cadernos eternizam “memórias” e constituem em registros preciosos de sabores, aromas, histórias, de pessoas, e do jeito de perceber o mundo, refletindo um momento histórico, econômico e cultural de um determinado período. A utilização da ludopedagogia na aula de filosofia buscou apresentar aos alunos uma visão diferenciada do estudo, envolvendo-os nas questões filosóficas de maneira prática e integrante do cotidiano. A didática planejada buscou substituir o verbalismo das aulas expositivas e as atividades baseada na leitura e a interpretação de resumos apresentados em livros didáticos e ou apostilas por uma atividade interativa e participativa conduzindo o aluno a pensar, levantar problemas, questionar, e refletir sobre questões relativas a memória sobre os estudos do filosofo Paul Ricouer. A atividade com os cadernos de receitas antigos representa um modelo cognitivo, na qual o ensino e a aprendizagem são vistos como “convite” à exploração e descoberta do “aprender a refletir e questionar’’ assuntos pertinentes a filosofia, assumindo maior importância do que o simples assimilar informações. Materiais e métodos 1. Análise de alguns cadernos de culinária. Cadernos de receitas culinárias fazem parte do nosso cotidiano, fazem parte da nossa família, muitas vezes escrito à mão são guardados com tanto carinho e aguçam nossa memória. Eles vão além de simples anotações sobre receitas, eles refletem o cotidiano de um período vivo por nossas mães, avós, tias, madrinhas e de outras pessoas. Possibilitando através de suas análises o reflexo do momento histórico e social de um período, proporcionando o registro da memória e um olhar para a caminhada de uma determinada sociedade onde nossos familiares estavam inseridos. De acordo com Ana Holanda as anotações culinárias nos revelam história e recordações de uma época. Todos os cadernos possuíam ricas informações e trazendo a tona informações sobre um determinado acontecimento. Vários cadernos foram analisados entre eles cita-se um caderno de culinária da década de 1980. Em uma das páginas observa-se uma receita datilografa que reflete a utilização da soja como ingrediente principal. Na década de 1980 o governo do Paraná promoveu um grande programa de introdução de receitas que levam soja como ingrediente principal das receitas. Uma série de cursos foi promovida em centros comunitários religiosos e em escolas públicas para que as receitas fossem difundidas, como o objetivo que a soja fizesse parte da culinária paranaense. A aluna relata que as receitas de soja eram muitos apreciados pela família principalmente os docinhos feitos com soja que sua avó fazia. Um caderno da década de 1940 pertencente à bisavó de aluna chamou atenção. O caderno de culinária era pertencia a senhora já falecida, imigrante alemã que residia na região Lagoa Funda localidade do município de Irati. Os erros ortográficos refletem a dificuldade na escrita do português e a maneira da culinária praticada na época. Constando apenas anotações somente dos ingredientes, visto que o modo de fazer estava relacionado ao antigo “olho de medidas”, no saber antigo, e na tradição oral passada de mãe para filha em relação ao modo de fazer, o tempo de cozimento. A receita do bolo de chocolate, tão descrita pela aluna Marcela transmite a alegria com que o bolo era feito por ela e sua mãe. Relembra a aluna quando a mãe servia o bolo em seus aniversários, ela adorava o bolo de chocolate de sua mãe. Resultados e Discussão Em um primeiro momento, os alunos receberam a informação teórica sobre os conceitos de memória em relação aos conhecimentos filosóficos de forma geral e após sob o aspecto do filosofo Paul Ricouer. A dinâmica com a utilização dos cadernos de culinária antigos foi a metodologia utilizada para que os alunos inicialmente e depois de forma coletiva iniciassem o trabalho reflexivo com a questão da memória. Os alunos ao desenvolver a atividade observaram a necessidade da concentração ao analisar os cadernos de culinária e a correlação dos conhecimentos teóricos filosóficos. A empolgação foi grande e muitos alunos trouxeram os cadernos de receitas embrulhados em pacotes plásticos, o carinho, cuidado e zelo dos alunos em relação a esses objetos foi muito grande. Eram cadernos na grande parte de suas avós, manuscritos, machados, folhas amareladas pelo tempo, muitas vezes com erros de português, mas todos foram unânimes em tratar os cadernos como relíquias e sempre apresentando esta e aquela receita como sendo sua favorita; ou citando os nomes de alguma guloseima especificando uma determinada pessoa ou evento. Outra observação importante a ser considerada é forma como cada aluno mantinha consigo os cadernos, como um objeto precisos expressões como “cuidado”, ‘‘por favor, o caderno é da minha avó’’, ‘‘ adoro esta receita, ela me faz lembrar...’’. Um dos objetivos propostos na atividade foi atingido com êxito o de proporcionar ao aluno um olhar para dentro da sua casa e de sua família, da memória afetiva, com a técnica da ludopedagogia. A atividade oportunizou aos alunos desenvolver capacidades que neles despertem a inquietação diante desconhecido, buscando reflexões, desenvolvendo posturas críticas, realizando questionamentos fundamentados na teoria apresentado. Constatou-se por parte dos alunos maior interesse e reflexão pelo assunto referente a memória. Através da utilização dos cadernos de culinários eles puderam construir o conhecimento, trocar ideias, compartilhar lembranças de afeto e principalmente discutir e refletir sobre a questão da memória não somente ligado à teoria, mas a sentimentos guardados não apenas em folhas de papel, mas dentro de cada um como individuo constituinte de uma família com suas lembranças e recordações. Conclusões A atividade proposta foi positiva e atingiu seus resultados propostos, pois favoreceu o processo de ensino aprendizagem. Através do uso dos cadernos de culinárias e da metodologia da ludopedagogia houve a disponibilização de meios necessários para os alunos entender e compreender o mundo ao qual está inserido, proporcionando uma metodologia que disponibilizou meios para tornar o indivíduo um ser capaz de pensar, agir, e refletir sobre a ação por si mesmo. Este tipo de atividade direcionada a disciplina de filosofia a um estudo que tem como função formar alunos críticos, reflexivos, fornecendo meios para analisar cada teoria, cada pensador, cada perspectiva de questionamento filosófico. O que leva o aluno ao reverso da sociedade atual automatizada e pronta do modo de pensar, proporcionando ao aluno formar o nosso senso crítico. A interação dos alunos como questionamento sobre o assunto memória levou-os a chegarem a respostas distintas sobre o assunto, não apresentando um consenso comum sobre o tema apresentando, mas o processo de questionar e arriscar respostas e reflexões, sem dúvida ocorreu trilhando os caminhos para a compreensão de nós mesmos. Mas todos foram unânimes quando retornamos a teoria de Ricouer que afirma que a memória está diretamente relacionada com a “posição de um real anterior’’. A importância da fundamentação teórica sobre a fenomenologia também foi referenciada várias vezes. Cabe aqui à afirmação de Saviani (2002) qualquer questionamento leva o individuo a uma reflexão por mais simples que seja. O objetivo proposto foi atingindo demonstrando que cabe a nós como educadores abandonarmos as velhas posturas convencionais e passar a utilizar-se de modo mais frequentes metodologias pedagógicas que favoreçam uma nova forma de pensar nas aulas de filosofia, despertando o potencial de questionamento, argumentação e reconhecimento dos alunos. Por sugestão e solicitação dos alunos a oficina acontecerá novamente como outros alunos, com novos cadernos de receitas de culinária antigos e com o objetivo que refletir sobre assuntos filosóficos. Referências ANDRADE, Bruno. Imagem e memória. Revista de Estudos Filosóficos, 09/2012. UFSJ. ALMEIDA, Anne. Ludicidade como instrumento pedagógico. Disponível em WWW. Cdof.com. br/recrea22.htm. BARRETO, ÂNGELA Maria. Memória e Sociedade Contemporânea: Apontando Tendências. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.12, n.2,p.161-176, jul/dez, 2007. CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2004. FÉLIX, Loiva O. 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