N.º 34 1º TRIMESTRE 2013 N.º 32 PROPRIEDADE Unidade Local de Saúde de Castelo Branco Anotada no Instituto da Comunicação Social Depósito Legal - 105483/96 eISSN - 2182-2603 Latindex - Revista de Saúde Amato Lusitano 5057 CONTACTOS Av. Pedro Àlvares Cabral 6000-085 Castelo Branco [email protected] 272 000 245 (Rosa Mateus) DIRECTOR Dr. António Banhudo SUB DIRECTOR Dr. Pedro Silva Vaz CONSELHO EDITORIAL Dr. António Gouveia CONSELHO CIENTÍFICO Prof. Doutor Alves de Moura (Medicina Interna) Prof. Doutor Alberto Barros (Genética) Prof. Doutor Artur Paiva (Cuidados Intensivos) Prof. Doutor Daniel Serrão (Ética) Prof. Doutor Filipe Caseiro Alves (Imagiologia) Prof. Doutor Guilherme Tralhão (Cirurgia) Prof. Doutora Assunção Vaz Patto Prof. Doutor Carlos Almeida Dra. Isabel Duque Dra. Maria Eugénia André Prof. Doutor Manuel Nunes Prof. Doutor Massano Cardoso (Epid./Med. Preventiva) Prof. Doutor Nascimento Costa (Medicina Interna) Prof. Doutora Paula Sapeta (Enf. Medico Cirúrgica/Cuidados Paliativos) Prof. Doutor Rui Marinho (Hepatologia) Prof. Doutor Sérgio Deodato (Direito da Saúde) Dra. Almerinda Silva (Pediatra) CONSELHO REDACTORIAL Dra. Ângela Trindade (Enfermagem Saúde Materno-Infantil) Dra. Ana Caldeira Dr. António João (Gestão de Serviços de Saúde) Enf. André Mendes Dr. António Lourenço Marques (Cuidados Paliativos) Dra. Arnandina Loureiro (Cirurgia Geral) Dr. Augusto Lourenço (Cirurgia Geral) Dr. Carlos Lozoya Dra. Gina Melo Dra. Beatriz Craveiro Lopes (Dor) Dr. Carlos Gomes (Saude Mental) Dr. Carlos Maia (Enfermagem Reabilitação) Dra. Emília Bengala (Enfermagem Saude Infantil) Dr. Ernesto Rocha (Nefrologia) Dra. Helena Garcia (Anatomia Patológica) Dr. João Fonseca (Urologia) Dr. João Frederico (Cuidados Intensivos) Dr. João Morais (Cardiologia) Dr. Joaquim Serrasqueiro Dr. Jorge Monteiro Dra. Rita Crisóstomo Dra. Rita Resende Dra. Rosa Silva Dr. Vieira Pires (Medicina Geral e Familiar) Dr. Rui Alves Filipe Dr. Pedro Henriques (Medicina Interna) Dr. Rui Sousa Dr. Reis Pereira (Medicina Interna) Dra. Rute Crisóstomo (Fisioterapia) Dr. Sanches Pires (Medicina Geral e Familiar) Dra. Sandra Queimado (Farmácia) Dr. Sérgio Barroso (Oncologia) ARTIGO ORIGINAL - PÁG. 6 À PÁG. 14 DECISÃO DE “NÃO REANIMAR” EM CONTEXTO PRÉ-HOSPITALAR ESTUDO DE OPINIÃO - EQUIPA VMER - UNIDADE LOCAL DE SAÚDE, EPE - CASTELO BRANCO ARTIGO ORIGINAL - PÁG. 15 À PÁG. 18 RASTREIO DE STAPHYLOCOCCUS AUREUS NOS PROFISSIONAIS DO CENTRO DE SAÚDE DE VILA DE REI - PORTUGAL E SEUS FAMILIARES ARTIGO DE REVISÃO - PÁG. 19 À PÁG. 24 ALERGIA A VENENO DE HIMENOPTEROS ARTIGO DE REVISÃO - PÁG. 25 À PÁG. 30 HEMOCULTURAS CASO CLÍNICO - PÁG. 31 À PÁG. 35 DEFICIÊNCIA DE GLICOSE -6- FOSFATO DESIDROGENASE A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO CASO CLÍNICO - PÁG 36 À PÁG. 40 GIST GÁSTRICO - CASO CLÍNICO CASO CLÍNICO- PÁG. 41 À PÁG. 46 COLECISTITE XANTOGRANULOMATOSA - A PROPÁSITO DE UM CASO CLÍNICO CASO CLÍNICO- PÁG. 47 À PÁG. 51 IN-EXSUFLAÇÃO MECÂNICA EM CUIDADOS INTENSIVOS A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO DE ATELECTASIA PULMONAR IMAGEM EM MEDICINA- PÁG. 52 À PÁG. 54 UNICYSTIC PLEXIFORM AMELOBLASTOMA - CASE REPORT IMAGEM EM MEDICINA- PÁG. 55 À PÁG. 57 PNEUMATOSIS COLI: ASPECTOS ENDOSCÓPICOS E ALGUNS ACHADOS ULTRASSONOGRÁFICOS. DOSSIER ESPECIAL- PÁG. 58 À PÁG. 73 III DIA DO INTERNO - RESUMOS - POSTERS E COMUNICAÇÕES Dr. António Banhudo Vivemos numa época de crise sócio-económica que não poupa os profissionais de sáude. O congelamento da progressão nas carreiras e das respectivas vantagens materiais inerentes acarreta desmotivação cada vez mais notória. Para ultrapassar esta situação há que restaurar os valores ético-científicos desviando os profissionais da simples, embora merecida, recompensação material, no sentido do reconhecimento inter-pares. Este resulta muito da informação que conseguimos transmitir daquilo que é realizado pelas equipas multidisciplinares nas diversas áreas de actuação em Hospitais e Centros de Saúde. As publicações científicas são uma boa forma de o conseguir. A nossa Revista procura ser um órgão de divulgação técnico-científica na área da saúde que disponibiliza o seu espaço aos profissionais que nos submetem os seus trabalhos. Temos vindo a reestruturar os órgãos técnicos com o objectivo de melhorar aspectos determinantes como sejam: o tempo de avaliação dos trabalhos, a sua revisão, a qualidade, equilíbrio editorial, assim como a periodicidade da publicação electrónica. No primeiro editorial, da revista renovada, traçámos um caminho e uma meta que pretendemos atingir, sabemos que o percurso é sinuoso mas estamos habituados a desafios. Juntos, conseguiremos contribuir para restaurar a vontade dos profissionais em desenvolver as suas actividades em busca da melhoria contínua e ainda revelar aos colegas o que produzimos e submeter o que publicamos ao escrutínio dos nossos pares. DECISÃO DE “NÃO REANIMAR” EM CONTEXTO PRÉHOSPITALAR ESTUDO DE OPINIÃO - EQUIPA DE VMER - UNDIDADE LOCAL DE SAÚDE, EPE - CASTELO BRANCO “Do not resuscitate” - Pré-hospital order Opinion study - VMER - Local Health Uni Bárbara Susana Clímaco REBELO (2),Cláudia Isabel Custódio Roque ISCA (1); ,Isabel Maria Barroca dos Santos LINO (1), João Pedro Oliveira VALENTE (3),Maria Leonor Rosa Roque CASTELO(1),Paula Cristina Caldeira MARQUES (4), Silvia Cristina Gil Mendes LUCAS (1) RESUMO ABSTRACT: Considerando a pessoa como um ser holístico que encerra em si a dignidade inerente à sua condição humana é muito importante que o fim de vida seja considerado um momento do ciclo vital em que todos os seus direitos devem ser respeitados. No que concerne à Decisão de Não Reanimar (DNR) considera-se que existe necessidade absoluta de esclarecimento da sociedade em geral, e dos profissionais de saúde, em particular. Neste intuito procedeu-se à implementação de um inquérito de opinião aos profissionais da Viatura Médica de Emergência e Reanimação da Unidade de Saúde Local, EPE de Castelo Branco, profissionais da emergência préhospitalar que se deparam muitas vezes com o dilema da reanimação útil/fútil em contexto pré-hospitalar. A DNR é uma questão que não tem resposta fixa. É importante saber quando e como iniciar eficazmente uma reanimação, mas não menos importante é saber quando devemos parar. As linhas que se seguem não se assumem com cariz de resposta, mas sim como um ponto de reflexão sobre o fim da vida humana e o dilema ético de iniciar ou suspender o suporte avançado de vida. Considering the person as a holistic that carries with it the inherent dignity of the human condition is very important that the end of life is considered a time of their life cycle in which all rights must be respected. Regarding the decision Do Not Resuscitate (DNR) considers that there is absolute need for clarification of the society in general and health professionals in particular. In this way, we proceeded to the implementation of an opinion survey to the VMER-ULS, EPE, Castelo Branco professionals, that work’s at pre-hospitalar emergency, often faced with the dilemma of resuscitation useful / futile The DNR is an issue that has no answer. Is very important know, when and how to start an effective resuscitation, but no less important is knowing when to stop. The next lines doesn’t take us answers, but rather a point of reflection on the end of human life and ethical issues related to start or stop advanced life support. Palavras-chave: Decisão de Não Reanimar (DNR); PréHospitalar. Keywords: Do Not Resuscitate (DNR); Pre-hospital context. Correspondência do Autor: Bárbara Susana Clímaco Rebelo Email: [email protected] UNIDADE LOCAL DE SAÚDE E.P.E. : HOSPITAL AMATO LUSITANO, CASTELO BRANCO CENTRO DE SAÚDE SÃO MIGUEL, CASTELO BRANCO 1) 2) 3) 4) LICENCIADO LICENCIADO LICENCIADO LICENCIADA EM EM EM EM ENFERMAGEM; MESTRANDA EM ENFERMAGEM DE SAÚDE INFANTIL E PEDIATRIA ENFERMAGEM; PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO SOCIAL; MESTRANDA EM ENFERMAGEM DE SAÚDE INFANTIL E PEDIATRIA ENFERMAGEM; PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE UNIDADES DE SAÚDE; MESTRANDO EM ENFERMAGEM MÉDICO-CIRÚRGICA; ENFERMAGEM; ESPECIALIDADE E MESTRANDA EM ENFERMAGEM DE SAÚDE INFANTIL E PEDIATRIA; 6 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:6-14 INTRODUÇÃO “Não reanimar” significa não utilizar qualquer meio de Suporte Avançado de Vida para manter a vida da pessoa. A pertinência desta temática imerge da dificuldade e dos problemas éticos que a decisão citada suscita em todos os seus intervenientes, não havendo uniformização desta decisão em Portugal. Citando Figueiredo [1] “a sabedoria prática é um principio imprescíndivel da boa deliberação, isto é, permite avaliar uma determinada situação e decidir o momento correcto da acção.” A BIOÉTICA E A SAÚDE O termo “Bioética” surge pela primeira vez nos Estados Unidos em 1971, através de Van Potter, numa obra intitulada “Bioethics: Bridge to the Future” e posteriormente, por André Hellegers que lhe atribui um novo sentido, o de ética biomédica. Emerge assim, a ciência que relaciona a vida com o comportamento do homem [2]. A bioética médica e de enfermagem é uma ética normativa cujo principal objectivo é estabelecer regras ou códigos de comportamento ético. Visa, essencialmente, a qualidade dos cuidados prestados, em que todas as ações desenvolvidas devem promover o bem do utente, família e comunidade. Neste sentido surgem os princípios da “Beneficência”, da “Não Maleficência”, da “Autonomia” e da “Justiça” que obrigam o técnico de saúde a precaver-se contra a obstinação terapêutica, não mobilizando meios tecnologicamente avançados quando é previsível, do ponto de vista científico, que não se vão obter os benefícios esperados. O Relatório Belmont (1978) seguiu o pensamento de Frankena (1963), incluindo a não-maleficência como parte da beneficência e estabeleceu duas regras gerais: a de não causar o mal e a de maximizar os benefícios possíveis e minimizar os danos possíveis. Para Beauchamp e Childress (1994), a beneficência é uma acção feita em benefício de outros, e o seu princípio estabelece esta mesma obrigação, não o confundindo com benevolência (virtude de se dispor a agir no benefício dos outros). Em qualquer acto médico existe o risco de causar dano, mas dada a exigência da beneficência, é o dever de agir no interesse do doente que prevalece, abstendo-se de lhe causar dano ou de o enganar [3]. Já o “Princípio da Justiça” preconiza que cada pessoa tenha tudo a que tem direito e que seja tratado com equidade e igualdade. Os médicos e enfermeiros, pelos seus conhecimentos e experiência, podem valorizar de forma mais racional e objectiva a situação do doente, tomando a atitude terapêutica mais relevante, para alcançar o bem-estar deste. Na prática diária dos profissionais de saúde é distinguida a manutenção da dignidade do indivíduo [1]. O profissional deixa de ser paternalista quando esclarece claramente o doente sobre as características da sua doença, todas as hipóteses de tratamento bem como as possibilidades de sucesso e os riscos de fracasso ou de complicações, e lhe permite tomar as suas decisões livremente. Se o não fizer , estará a infringir a autonomia do doente. Mas, este consentimento “só é possível se o doente possuir as faculdades mentais necessárias para compreender a informação, e esta terá de ser facilitada de forma adequada às competências do doente” [1]. Para Pellegrino (1988), nos últimos 25 anos, a autonomia destronou a beneficência como o princípio da ética médica [3]. Na reanimação como em qualquer outro procedimento de emergência, a consagração do “Princípio da Autonomia” tem os seus limites mais estreitos. O consentimento para a reanimação cárdio-respiratória num doente incapaz de comunicar a sua vontade, resultaria certamente na sua morte! Aplica-se pois o “Princípio da Beneficência”. Em emergência médica, os dilemas éticos tomam outra proporção. Trata-se de escolher, num momento fugaz! Para isso não basta a simples intuição, nem a boa intenção, nem a adesão aos costumes da medicina mas sim, uma adequada formação profissional que permita identificar, enfrentar e resolver estes dilemas num curto espaço de tempo. Pretende-se que os profissionais tomem a decisão correcta, tendo em conta todos os factores relevantes e que evitem agir sob a pressão da situação. A BIOÉTICA EM CONTEXTO PRÉHOSPITALAR - ESTUDO DE OPINIÃO O atendimento pré-hospitalar coaduna-se com um tipo de assistência que merece destaque pelas suas particularidades. Carateriza-se por ser realizado fora do ambiente tradicional (hospitais ou centros de saúde), em que os profissionais se deslocam para o local onde o doente necessita de atendimento, num breve período de tempo. Este tipo de atendimento requer políticas e estratégias de saúde pública para que a vítima de doença súbita possa ser imediatamente atendida, reduzindo o seu sofrimento. Os profissionais, em contrapartida, esperam que o seu trabalho seja adequadamente reconhecido e que lhes sejam fornecidas condições aceitáveis de trabalho e segurança. 7 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:6-14 Os profissionais de emergência devem possuir vastos conhecimentos médicos, larga experiência no exercício da profissão, capacidade de improvisação face a situações inesperadas e dedicação extrema à sua actividade, acrescida da necessidade de aplicar os fundamentos éticos, por vezes em ambientes tumultuosos e desafiadores. Frequentemente, familiares assistem em desespero a decisões e manobras assustadoras, mas vitalmente essenciais. Assim, a equipa de emergência deve assumir a responsabilidade do saber científico, da necessidade da ação e do compromisso com a vida em favor do bem-estar do paciente (princípio da beneficiência), avaliando a gravidade do quadro clínico apresentado e o risco de vida iminente. Após os momentos mais críticos, deve fornecer aos familiares todas as informações necessárias com veracidade (Art. 46 do Código de Ética Médica) [4]. A emergência médica pré-hospitalar teve, nos últimos anos em Portugal, um grande crescimento, quer em meios técnicos, quer em recursos humanos. No nosso país, a emergência médica pré-hospitalar é regulada e dirigida pelo INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica), entidade coordenadora e participante no Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM). Actualmente, o INEM entende que é prioritário reforçar a organização interna do SIEM, devendo concentrar esforços na consolidação, formação e diferenciação profissional. Este facto é essencial para continuar a melhorar o serviço prestado aos cidadãos, permitindo salvar vidas e obter ganhos em saúde, tendo em conta os princípios éticos. Em 1965, Jude & Elam defenderam que o fundamento da “Reanimação Cardio-Respiratória” (RCR) era “o doente ser recuperável”, mas desde aí têm sofrido muitas e diversas modificações [5]. Como manobra de emergência, a reanimação não requer consentimento informado e é executada sob o princípio da beneficência. Contudo, o doente terminal, ou com poucas hipóteses de sobrevivência por mais de que um período curto de tempo, ou com deficiência grave e profunda levanta problemas e dilemas de difícil resposta, elevando a preocupação, se os esforços de reanimação estão a ser correctamente empregues. O doente inconsciente e que não possa exprimir a sua vontade, constitui para a medicina moderna, um problema emocional, ético e jurídico, contudo o direito de ser reanimado, faz parte das garantias de acesso à qualidade de vida. São conhecidas duas situações de excepção: - Vontade do doente expressa em relação à RCR antes da Paragem Cárdio-Respiratória (PCR)- é conhecido o direito que assiste o doente esclarecido recusar qualquer tratamento médico, mesmo quando tal atitude resulte num agravamento do seu estado ou mesmo a morte [6]; - Quando o médico achar que a RCR se revelará inútil refere-se aos casos em que, na opinião do médico assistente, tais manobras se revelem inúteis [6]. Nenhum médico está ética ou legalmente obrigado a executar um tratamento, mesmo que pedido pelo doente, se esse procedimento se tornar inútil ou fútil. A futilidade deve ser definida em função da relação existente entre tratamento, terapêutica e cuidado. Um tratamento é considerado fútil quando tem uma reduzida probabilidade de ter valor terapêutico, ou seja, quando acarreta riscos crescentes sem um benefício associado. Introduzimos aqui o conceito de “Decisão de Não Reanimar”, bem como os seus intervenientes: o doente, os familiares, o médico, o enfermeiro, a instituição e a sociedade em geral. Uma PCR ocorrida em contexto extra-hospitalar, é habitualmente inesperada. A decisão de iniciar, continuar ou suspender manobras de RCR, são tomadas pela equipa médica no local. Na maioria das vezes, não se tem acesso à informação clínica, detalhada e precisa do doente, pelo que, a reanimação é iniciada o mais rapidamente possível, mesmo que existam dúvidas sobre o tempo real da paragem e/ou sobre possíveis existências de doenças graves (exceptuando os casos de lesão incompatível com a vida). Espera-se o início das manobras de RCR, com eficácia cientificamente comprovada e rigor na ação desenvolvida. Como noutras áreas da medicina, as manobras de RCR são suportadas por “guidelines”, mantidas em conformidade com o “estado de arte” pelo Conselho Português de Ressuscitação (CPR), representante em Portugal do European Resuscitation Council (ERC) [7]. A DNR é também clínica e eticamente aceitável à luz do princípio da não maleficência, quando a relação riscobenefício é desequilibrada e excessivamente penosa para o doente. A decisão de não reanimar uma vítima implica idêntica responsabilidade ética e moral. Alguns profissionais sentem que a DNR colide com o princípio da beneficência e o dever profissional de impedir a morte da vítima por todos os meios disponíveis, dando prioridade à vida biológica, ainda que penosa, colocando em segundo lugar a qualidade da vida, face à simples existência. Para alguns autores, o dever de beneficência depende da probabilidade de êxito, quali- 8 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:6-14 dade de vida e duração da mesma. Uma PCR ocorrida em contexto extra-hospitalar, é habitualmente inesperada. A decisão de iniciar, continuar ou suspender manobras de RCR, são tomadas pela equipa médica no local. Na maioria das vezes, não se tem acesso à informação clínica, detalhada e precisa do doente, pelo que, a reanimação é iniciada o mais rapidamente possível, mesmo que existam dúvidas sobre o tempo real da paragem e/ou sobre possíveis existências de doenças graves (exceptuando os casos de lesão incompatível com a vida). Espera-se o início das manobras de RCR, com eficácia cientificamente comprovada e rigor na ação desenvolvida. Como noutras áreas da medicina, as manobras de RCR são suportadas por “guidelines”, mantidas em conformidade com o “estado de arte” pelo Conselho Português de Ressuscitação (CPR), representante em Portugal do European Resuscitation Council (ERC) [7]. A DNR é também clínica e eticamente aceitável à luz do princípio da não maleficência, quando a relação riscobenefício é desequilibrada e excessivamente penosa para o doente. A decisão de não reanimar uma vítima implica idêntica responsabilidade ética e moral. Alguns profissionais sentem que a DNR colide com o princípio da beneficência e o dever profissional de impedir a morte da vítima por todos os meios disponíveis, dando prioridade à vida biológica, ainda que penosa, colocando em segundo lugar a qualidade da vida, face à simples existência. Para alguns autores, o dever de beneficência depende da probabilidade de êxito, qualidade de vida e duração da mesma. Alfaro-Lefevre (2001) considera que o dilema ético-moral envolve uma situação em que existem algumas intervenções possíveis, mas nenhuma delas parece satisfatória, sendo uma exigência escolher a melhor de todas. Podemos assim dizer, que existe um dilema ético quando um profissional se questiona se uma intervenção é eticamente apropriada. A problemática da decisão é, assim, uma constante na vida dos profissionais, e de forma mais evidente nos profissionais do meio préhospitalar [8]. Um modelo para a tomada de decisão, segundo Pilar (1994), é um conjunto sistemático de princípios que motivam e guiam as acções. Tais princípios justificam e explicam as referidas ações, que se desenvolvem com base nos objectivos vitais ou nos direitos dos outros, relativamente ao cuidado de que carecem. No entanto, o mesmo autor alerta para o facto de que é necessário tomar consciência de que, não fazer nada, inibir-se de REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:6-14 atuar, também é tomar uma decisão, pelo que é preciso avaliar as consequências de cada decisão antes de decidir [9]. É tremendo o impacto emocional, social e financeiro dos doentes em encefalopatia anóxica. Este dramático quadro ocorre após cerca de 3 a 5 minutos de anóxia, e leva muitas vezes os profissionais de saúde a julgaremna pior que a própria morte. Contudo, o diagnóstico de “lesão cerebral irreversível” ou “morte cerebral”, não é possível ser feito em ambiente pré-hospitalar, como tal, não deve ser utilizado como critério para não iniciar ou suspender a RCR. Em Portugal, a legislação não é explícita quanto ao valor legal do chamado “testamento vital” pelo que não será por si só impedimento ao início da reanimação. Apenas o Art. 150º do Código Penal Português (Capítulo IV - Dos crimes contra a liberdade pessoal) regula a proteção da pessoa jurídica face a intervenções e tratamentos médico-cirúrgicos sem consentimento do doente [10]. Com este artigo, pretendemos a promoção da reflexão sobre a temática, para além de contribuir para que a sua consciencialização seja uma realidade mais presente. Neste intuito de abordagem dinâmica e com sentido de manifestação por quem a conhece na prática, procedeu-se à implementação de um inquérito aos profissionais da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) da Unidade de Saúde Local, EPE (Entidade Pública Empresarial) de Castelo Branco. Equipa constituida por médicos e enfermeiros, que procedem à execução de cuidados de saúde em contexto pré-hospitalar, aos quais se coloca inúmeras vezes a questão : Reanimar, sim ou não? MATERIAL E MÉTODOS CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ALVO A VMER de Castelo Branco iniciou funções a 3 de Janeiro de 2005. À data do estudo era constituída por 17 médicos e 18 enfermeiros, mantém a sua operacionalidade em 100%. A área de abrangência geográfica da VMER engloba o concelho de Castelo Branco, Vila Velha de Ródão, Proença-a-Nova, Sertã, Vila de Rei, Oleiros, Penamacor e Idanha-a-Nova, sendo por vezes solicitada a sua intervenção nos concelhos do Fundão e Covilhã. Salvar vidas torna-se uma tarefa árdua quando a distância que separa o socorro da vítima pode ultrapassar os 90 Km’s. Na realidade que vivemos, a capacidade de resposta da 9 VMER tem sido gradualmente optimizada, muitas vidas são salvas, muitas vidas são prolongadas, pequenos “milagres” são realizados. Apesar dos membros da equipa de emergência médica desempenharem funções distintas, todo o esforço e trabalho dos mesmos culmina na prestação de cuidados ao doente no pré-hospitalar, em todas as suas dimensões. Esta é a realidade presente na equipa da VMERULS-CB, EPE, população alvo do estudo de opinião “ DNR em Contexto Pré-Hopitalar”. Foi aplicado um questionário anónimo a todos os elementos da equipa VMER. O questionário com seis questões fechadas tem o objectivo prinicipal de conhecer a percepção dos profissionais de saúde que aqui desempanham funções face à DNR em contexto préhospitalar. A implementação do questionário foi autorizada pela Comissão de Ética da referida instituição Unidade Local de Saúde - Hospital Amato Luistano, EPE. As respostas ao questionário foram tratadas de forma agregada, estando salvaguardada a confidencialidade dos dados obtidos. A análise estatística dos resultados, tem como objectivo a formulação de ilações contribuindo de algum modo, para a reflexão. “Na perspectiva ética ninguem é dono do saber. É necessário partilhar o conhecimento e aperfeiçoar a praxis para que as decisões sejam íntegras e adequadas ao fim bom, ao supremo bem e à felicidade da pessoa humana” [1]. RESULTADOS O anonimato inerente aos questionários ditou que 8 dos questionários preenchidos não se encontravam identificados no que concerne à categoria profissional (Médico ou Enfermeiro), pelo que a sua análise recaiu apenas nas abordagens em que esta característica não era preponderante. Gráfico 1: Caracterização da População Alvo - Categoria Profissional. 1234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012 1234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012 1234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012 1234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012 1234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012 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123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 Analisando a questão número 1 (A DNR é 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 mais difícil de decidir em emergência 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 pré-hospitalar?), os dados revelam-nos 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 que para a classe médica parece ser mais 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 difícil tomar a decisão “Não Reanimar”. 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 42,85% dos médicos inquiridos concorda 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 que a “Decisão de Não Reanimar” é a mais 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 difícil de decidir em contexto pré-hospita- 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 lar. Apenas 16% dos enfermeiros que de- 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 sempenham funções na VMER partilham 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 dessa opinião, não existindo assim unifor- 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 midade de resposta entre médicos e en- 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 fermeiros. Esta conclusão, poderá indicar- 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 nos que no seio da equipa de saúde, ape- 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 sar da decisão conjunta e do espírito de 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 equipa vivenciado, a decisão final de « não 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 Gráfico 4: Questão 1- A decisão “Não Reanimar” é mais difícil de decidir em reanimar », será fundamentalmente uma res- 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 emergência pré-hospitalar? 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 (gráfico 4) 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 ponsabilidade médica. 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456 A questão 2 do questionário (A presença a DNR! Assiste-se a um índice de respostas divididas da família do paciente, influencia a DNR?), à semeentre os questionários médicos e de enfermagem, com lhança da anterior pergunta, denota um índice de resligeira prevalência para a concordância parcial (42,85% posta bastante heterogénea entre médicos e enfermeido total dos inquiridos). Os enfermeiros discordam na ros da VMER. As opiniões dividem-se entre a concorsua maioria (83,33%) com a questão apresentada. Este dância total, concordância parcial e também indicador poderá levar-nos a reflectir sobre o facto dos discordância, sobre o facto da presença da família do enfermeiros não atribuirem um papel fundamental aos paciente no momento da assistência pré-hospitalar pomeios técnicos existentes no meio hospitalar, ou por der influenciar na DNR tomada pela equipa da VMER. outro lado, sentirem que o equipamento bem como os No que se refere à questão 3 (A limitação de meios conhecimentos, que se encontram ao seu dispor são humanos e técnicos interfere na DNR ?), esta presuficientes para que a tomada de decisão “não reanitende investigar no seio da equipa da VMER, se a limitamar” seja em consciência e responsabilidade ética. ção tecnológica e de meios humanos (de diferentes áreA questão 2 do questionário (A presença da família do as profissionais), em contexto extra-hospitalar, condiciona 11 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:6-14 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As opiniões dividem-se entre a concordância total, concordância parcial e também discordância, sobre o facto da presença da família do paciente no momento da assistência pré-hospitalar poder influenciar na DNR tomada pela equipa da VMER. No que se refere à questão 3 (A limitação de meios humanos e técnicos interfere na DNR ?), esta pretende investigar no seio da equipa da VMER, se a limitação tecnológica e de meios humanos (de diferentes áreas profissionais), em contexto extra-hospitalar, condiciona a DNR! Assiste-se a um índice de respostas divididas entre os questionários médicos e de enfermagem, com ligeira prevalência para a concordância parcial (42,85% do total dos inquiridos). Os enfermeiros discordam na sua maioria (83,33%) com a questão apresentada. Este indicador poderá levar-nos a reflectir sobre o facto dos enfermeiros não atribuirem um papel fundamental aos meios técnicos existentes no meio hospitalar, ou por outro lado, sentirem que o equipamento bem como os conhecimentos, que se encontram ao seu dispor são suficientes para que a tomada de decisão “não reanimar” seja em consciência e responsabilidade ética. Na questão 4 (Os princípios éticos, que evitam o tratamento fútil prevalecem sempre na DNR?), 47% do total dos inquiridos (médicos e enfermeiros) concorda que os príncipios ético-profissionais evitam a obstinação terapêutica, procurando balizar a conduta profissional pela consciência. No entanto, verificamos ainda uma percentagem significativa de profissionais (29,41%) que discorda da afirmação apresentada nesta questão, factor que poderá ser alvo de reflexão. Gráfico 6: Questão 4 - Os princípios éticos, que evitam o tratamento fútil prevalecem sempre na DNR? 12345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901 12345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901 12345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901 12345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901 12345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901 12345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901 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12345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901 Na questão 5 (A experiência profissional da equipa da VMER é determinante na DNR?), assistimos a uma uniformidade de respostas entre classes profissionais (médico e enfermeiro), existindo 85,29% do total dos inquiridos a concordar (total ou parcialmente) com o facto da experiência profissional precedente de cada um, ser decisiva e determinante no momento de “Não Reanimar” em contexto pré-hospitalar. (gráfico 7) Por último, a questão 6 (A dificuldade burocrática inerente à Certificação de Óbito intervém na DNR?), permitiu-nos constatar que 28 profissionais (de um total de 34 inquiridos), discordam com a afirmação mencionada nesta questão. Analisando em detalhe as respostas de médicos e enfermeiros, existe uniformidade de resposta, concluindo que a burocracia inerente à certificação de óbito em meio pré-hospitalar, não interfere com a DNR. Podemos concluir que, a tomada de decisão por parte do médico é baseada em dados científicos que demonstram o estado irreversível do doente, porém é sempre uma decisão difícil de tomar, e em contexto pré-hospitalar muito mais. A ausência de linhas orientadoras sobre a DNR, pode motivar cada profissional a agir de forma “que pense ser a mais correta”, não existindo uma uniformidade global. Deste modo, constatámos que a homogenidade de resposta entre ambos os grupos profissionais nem sempre é possivel, no entanto prevalece. Factor este, que realça a experiência peculiar existente entre cada classe, médicos e enfermeiros, pois apesar de trabalharem em equipa com objectivos comuns apresentam observações da prática distintas. DISCUSSÃO Em ética não há verdades absolutas, há sim princípios de referência que devem nortear o comportamento e as decisões, em função do contexto em que são invocadas e da experiência de quem os utiliza. A ética médica assenta num pressuposto do valor fundamental - a Vida Humana. A Ética em emergência surge como forma de reflexão. O avanço tecnológico motiva o profissional de saúde, buscando profissionalismo, usando técnicas avançadas em doentes, para dar respostas a procedimentos terapêuticos, justificados pela necessidade de proteger a vida humana [8]. Com os avanços tecnológicos surgem novos paradigmas para a Bioética, os investigadores do mundo contemporâneo recorrem a novos conhecimentos técnicos. É neste ambiente marcado pela dor, sofrimento, medo da morte, ansiedade, desejo de ser atendido como pessoa e não com simples objecto que surge a transformação no agir humano. A humanização na saúde necessita ser resgatada urgentemente. Qualquer abordagem do tema “Reanimação” envolve inúmeras faces, sejam éticas, técnicas, morais ou jurídicas. Podemos referir que todos os doentes acometidos de PCR, devem ser reanimados, com excepção aos casos anteriormente referidos. Pela análise dos dados obtidos, a valorização do item “A DNR é mais difícil de decidir em emergência pré-hospitalar” revela preocupação por parte do médico (42,85%) uma vez que lhes cabe a decisão de iniciar ou não tratamento de suporte avançado de vida e/ou suspendê-lo, 13 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:6-14 sem ter acesso à informação clínica detalhada do doente. O médico tem a obrigação ética de respeitar a vontade, não devendo interferir com juízos de valor pessoais e garantir o direito de ser reanimado antes de discutir a DNR. A Lei Portuguesa é clara e explícita, nesta matéria, assinalando com clareza que a decisão final é médica. Mas, em contexto pré-hospitalar, tudo é mais complexo! Estamos cientes que as decisões tomadas acerca do fim de vida de um doente não são certamente fáceis e a abstenção de tratamentos desproporcionados como é o caso da decisão de não reanimar, pode colocar dilemas éticos aos profissionais de saúde. Em relação ao item “A limitação de meios humanos e técnicos interfere na DNR?”, os profissionais denotam confiança nos meios e materiais que possuem ao seu dispor na realização das suas técnicas, sendo os enfermeiros aqueles que demonstram maior nível de confiança, discordando da questão (83% dos 55,88% que discordam totalmente). A análise dos resultados à questão “Os princípios éticos que evitam o tratamento fútil prevalecem sempre na DNR?” é contrária à nossa expectativa, uma vez que, apenas 47% dos inquiridos concordam totalmente com esta medida e existe uma percentagem moderada de profissionais que discorda (29,41%). Talvez a justificação para esta atitude resida no fato de alguns profissionais privilegiarem o princípio da beneficência e da justiça, em detrimento de outros, nomeadamente situações em que o respeito pelo princípio da autonomia pode colidir com o da beneficência, não-maleficência ou da justiça. Do ponto de vista ético e do ponto de vista jurídico, a decisão de não reanimar e suspensão de medidas de suporte avançado de vida, não diferem. É importante saber quando e como iniciar eficazmente uma reanimação, mas não menos importante é saber quando devemos parar. Os profissionais de de saúde não são obrigados a prestar cuidados de saúde cujo objetivo não seja o benefício do doente. Para a variável experiência profissional, não se verificaram grandes diferenças estatísticas nos dois grupos profissionais estudados, em que ambos consideram a experiência profissional uma peça fundamental na tomada da DNR [8]. CONCLUSÕES Após realização desta análise, concluímos que a temática da “DNR” em contexto pré-hospitalar, é uma área de escassa referência bibliográfica. Sugerimos que sejam efetuados mais estudos nesta dimensão, de forma a explorar e a aumentar os conhecimentos sobre este tema que ainda levanta muitas controvérsias, e que, possivelmente, permitirá uma padronização na aplicação da DNR, contribuindo para uma maior qualidade de vida e respeito pela dignidade do doente e do profissional de saúde que dele cuida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FIGUEIREDO, A.; Ética e Formação em Enfermagem; Lisboa; Climepsi Editores; 2004. BOFF, L.; Saber Cuidar: Ética do Humano - Compaixão pela Terra; Petrópolis, Vozes Editor; 1999. 3. 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Código Penal Português; Capítulo IV - Dos crimes contra a liberdade pessoal; Coimbra; Aledina Tema; Lei 59/2007. 1. 2. 14 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:6-14 RASTREIO DE STAPHYLOCOCCUS AUREUS NOS PROFISSIONAIS DO CENTRO DE SAÚDE DE VILA DE REI – PORTUGAL E SEUS FAMILIARES Screening of Staphylococcus aureus in Ocupational Health Center of Vila de Rei – Portugal and their families Francisco RODRIGUES1, Hugo GERALDES2, Tiago BARATA3, Sílvia BEATO4, Carina SANTOS5, Emília GONÇALVES2, Elsa ALVES2. RESUMO ABSTRACT Introdução: O Staphylococcus aureus (S. aureus) surge como uma das principais bactérias associadas aos cuidados de saúde, nomeadamente na sua vertente meticilino resistente (MRSA), sendo um importante factor de mortalidade para os pacientes. Muitas vezes é adquirido por estes através do contato com os Profissionais de Saúde. Estes são assim um veículo prioritário na possibilidade de transmissão desta bactéria aos doentes, que por si só já se encontram imunodeprimidos. Existe ainda a possibilidade de num futuro de imunossupressão destes Profissionais de Saúde esta bactéria ser uma das principais responsáveis por situações de patologia. Objectivos: Avaliar a prevalência de S. aureus e MRSA nos Profissionais de Saúde do Centro de Saúde de Vila de Rei. Material e métodos: O estudo incidiu sobre 10 Profissionais de Saúde e 10 dos seus Familiares. A todos foi feita uma zaragatoa nasal, com posterior pesquisa da presença de S. aureus e MRSA, através de metodologia manual (catalase, coagulase, meio de cultura MANITOL (bioMérieux) e através de metodologia automatizada VITEK 2 (bioMérieux).Resultados: Obteve-se uma prevalência geral na amostra de 10% de S. aureus, sendo que os Profissionais de Saúde surgem com um valor de 10% e os Familiares dos Profissionais de Saúde com uma prevalência de 10%. Em relação ao MRSA a prevalência obtida, em ambos os grupos, foi de 0%. Discussão: A partir dos resultados percebe-se que os valores obtidos estão muito abaixo dos esperados e atingidos em vários trabalhos internacionais, que encontram sempre valores mais elevados tanto de S. aureus como de MRSA.Conclusão: Pode-se associar estes bons valores a uma actuação técnica correcta, por parte dos Profissionais de Saúde deste Centro de Saúde.Pese embora, os resultados obtidos neste trabalho não corroborarem os estudos realizados na área, a sua prevalência na comunidade e Profissionais de Saúde deve ser alvo de contínua vigilância e preocupação. Palavras-chave: Staphylococcus aureus; Staphylococcus aureus meticilino resistente (MRSA); Profissionais de Saúde; Introduction: Staphylococcus aureus (S. aureus) has emerged as one of the main bacteria associated with health care, particular in its methicillin-resistant Staphylococcus aureus (MRSA), being an important factor in mortality for patients. It is often purchased by these by contacting the Health Professionals. These are just a vehicle priority in the possibility of transmission of bacteria to patients which in itself already immunocompromised. There is still the possibility of a future immunosuppresion of these Health Professionals is to be one of the main bacteria responsible for disease situations. Objective: To evaluate the prevalence of S. aureus and MRSA in the Health Professionals Health Center of Vila de Rei.Material and Methods: The study focused on 10 Health Professionals and their Families (10). Everyone was a nasal swab, with subsequent detection of the presence of S. aureus and MRSA, using manual methods (catalase, coagulase, MANITOL culture medium (bioMérieux) and by automated methods, VITEK 2 (bioMérieux). Results: Results showed an overall prevalence in the sample of 10%, and the Health Professionals come up with a value of 10% and the Family of Healthcare Professionals with a prevalence of 10% for the presence of S. aureus. Regarding MRSA prevalence obtained in both groups was 0%. Discussion: From the results we see that the values are far below the expected and obtained in various international studies, which are always much higher values of S. aureus as MRSA. Conclusion: We can associate these good values to a good technical action on the part of the Health Professionals.Although the results of this work do not corroborate the studies in the area, its prevalence in the community and Health Professionals should be subject to continuous surveillance and concern. Keywords: Staphylococcus aureus; MRSA; Health Professionals. 15 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:15-18 INTRODUÇÃO O Staphylococcus aureus (S. aureus) surge como um enorme problema na área da Saúde Pública, nomeadamente quando associado a infeções adquiridas durante os cuidados de saúde (IACS). Para além da natural agressividade desta bactéria, a sua variante resistente à meticilina (MRSA) é cada vez mais comum, principalmente na mucosa nasal dos Profissionais de Saúde, que podem atuar como portadores, servindo de veículo para a passagem do microrganismo de doente a doente1,2.Surge como cada vez mais importante, à semelhança do que se faz atualmente nos Países Nórdicos, um rastreio aos Profissionais de Saúde, a fim de constatar o seu estado de portador e poder atuar preventivamente, resultando em ganho de qualidade, e também de segurança para o próprio e para os doentes com os quais contata. enças crónicas e contato com portadores (importância do rastreio aos Familiares diretos dos Profissionais de Saúde3).Atualmente surge como uma das principais bactérias associadas às infeções nos cuidados de saúde, apresentando-se como causa de mortalidade bastante importante nos doentes com algum tipo de imunossupressão4. 1.2 - DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Existem várias metodologias para o seu diagnóstico em laboratório, sendo que o método automatizado, com recurso a um conjunto de provas bioquímicas é o mais utilizado. Pode ainda recorrer-se, para o seu despiste, a metodologia de aglutinação, com a utilização de partículas látex sensibilizadas, ou com a sementeira do produto biológico em meios de cultura diferenciais5. 1 - STAPHYLOCOCCUS AUREUS 1.3 - TRATAMENTO Coco Gram positivo, que pode ser um habitante normal da flora Humana, sem qualquer tipo de risco aparente, mas que, contudo, numa baixa de imunidade do seu portador ou na possibilidade de ser transmitido a um doente se pode revelar extremamente patogénico.É também uma bactéria muito associada a infeções alimentares, nomeadamente pela sua enorme capacidade de resistência ao NaCl, tornando-a bastante comum em determinados alimentos da dieta mediterrânea2. A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a importância do rastreio, afim da identificação dos portadores assintomáticos e do seu necessário tratamento, nomeadamente quando estes indivíduos possam, pela sua actividade diária, constituir um risco para os seus pacientes, que ao encontrarem-se habitualmente imunodeprimidos surgem como um terreno fértil e propício à invasão e desenvolvimento da bactéria, com consequências de aumento da morbilidade e mortalidade do paciente6. 1.1 - MRSA O Staphylococcus aureus resistente à meticilina está a aumentar a sua prevalência, nomeadamente nos Profissionais de Saúde. Em comunidade os seus valores tendem a ser baixos. Os principais fatores de risco que podem influenciar a sua presença são a existência de um internamento recente numa Unidade de Saúde, exposição a terapêutica com antibióticos, frequência de locais de Saúde (nomeadamente dos seus trabalhadores), do- OBJETIVOS O principal objetivo deste trabalho é conhecer a prevalência de Staphylococcus aureus na mucosa nasal dos funcionários do Cento de Saúde de Vila de Rei. Este trabalho tem como objetivos complementares:Relacionar a profissão desempenhada com a prevalência de Staphylococcus aureus;Avaliar a prevalência de Staphylococcus aureus nos Familiares dos Correspondência do Autor: Professor Doutor José Barbas Rodrigues Email: [email protected] TRABALHO LABORATORIAL REALIZADO NA ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DR. LOPES DIAS, INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO E NA UNIDADE LOCAL DE SAÚDE DA GUARDA 1) DOUTOR EM SAÚDE PÚBLICA PELA UNIVERSIDADE DE SALAMANCA, MESTRE EM MICROBIOLOGIA CLÍNICA PELA UNIVERSIDADE DE COIMBRA, FACULDADE DE MEDICINA. COORDENADOR DA LICENCIATURA EM ANÁLISES CLÍNICAS E DE SAÚDE PÚBLICA DA ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DR. LOPES DIAS DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO. 2) ESTUDANTES DO CURSO DE LICENCIATURA EM ANÁLISES CLÍNICAS E DE SAÚDE PÚBLICA, ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DR. LOPES DIAS DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO. 3) LICENCIADO EM ANÁLISES CLÍNICAS E DE SAÚDE PÚBLICA PELA ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DR. LOPES DIAS DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO. ASSISTENTE DA LICENCIATURA EM ANÁLISES CLÍNICAS E DE SAÚDE PÚBLICA DA ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DR. LOPES DIAS DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO 4) MESTRE EM CIÊNCIAS BIOMÉDICAS PELO INSTITUTO DE HIGIENE E MEDICINA TROPICAL. ASSISTENTE DA LICENCIATURA EM ANÁLISES CLÍNICAS E DE SAÚDE PÚBLICA DA ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DR. LOPES DIAS DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO. 5) MESTRE EM MICROBIOLOGIA PELA UNIVERSIDADE DE AVEIRO. ASSISTENTE DA LICENCIATURA EM ANÁLISES CLÍNICAS E DE SAÚDE PÚBLICA DA ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DR. LOPES DIAS DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO. TÉCNICA DE ANÁLISES CLÍNICAS E DE SAÚDE PÚBLICA NA UNIDADE LOCAL DE SAÚDE DA GUARDA. 16 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:15-18 Profissionais de Saúde do Centro de Saúde de Vila de Rei;Relacionar a prevalência de Staphylococcus aureus nos Familiares dos Profissionais de Saúde com a sua profissão;Identificar a presença de Staphylococcus aureus resistente à meticilina tanto nos Profissionais de Saúde como nos seus Familiares.Relacionar o número de serviços diferentes onde os Profissionais de Saúde desempenharam funções nos últimos cinco anos, com a presença de Staphylococcus aureus;Avaliar a importância dada a este tema por parte dos Profissionais de Saúde. MATERIAL E MÉTODOS A amostra foi constituída por 20 indivíduos, sendo 10 Profissionais de Saúde do Centro de Saúde de Vila de Rei e 10 Familiares desses Profissionais. A escolha da amostra foi aleatória, tendo sido constituída pelos Profissionais de Saúde que se encontravam escalados em funções no Centro de Saúde de Vila de Rei no dia da colheita e ainda pelos seus Familiares que optaram por se dirigir ao Centro de Saúde de Vila de Rei nesse mesmo dia.Foi realizada uma colheita nasal, com zaragatoa, a todos os participantes e aplicado um inquérito sóciodemográfico. As zaragatoas foram semeadas em meios de cultura apropriados (Manitol e MRSA Cromogenic (biomerieux). Foram ainda realizados os testes de catalase e coagulase.Todas as culturas positivas para Staphylococcus aureus foram confirmadas, através de sistema automatizado VITEK, sendo posteriormente realizado o seu antibiograma. O tratamento estatístico dos dados foi efetuado através do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 16.0 para Windows, para determinação de frequências e teste de ÷2 da independência, para avaliar a associação entre as variáveis, considerando como significativo o valor de p <0,05. HIPÓTESES Para a realização deste trabalho sustentámo-nos em algumas hipóteses: 1.Existe uma elevada prevalência de Staphylococcus aureus entre os Profissionais de Saúde; 2.Os Familiares dos Profissionais de Saúde, independentemente da sua profissão base, apresentam níveis elevados de prevalência de Staphylococcus aureus, devido ao contato com possíveis portadores; 3.Existe uma elevada prevalência de Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA) entre os Profissionais de Saúde; RESULTADOS Foram rastreados vinte indivíduos, sendo 50% Profissionais de Saúde e 50% Familiares de Profissionais de Saúde. De entre os Profissionais de Saúde, 50% são Enfermeiros, 20% Médicos, 20% Auxiliares e 10% Administrativos. Em relação à profissão dos Familiares dos Profissionais de Saúde verifica-se que 50% são Estudantes, 20% Administrativos, 10% Comerciantes, 10% Enfermeiros e 10% Reformados.Foi avaliado o número de serviços de saúde em que os Profissionais de Saúde desempenharam as suas funções nos últimos cinco anos, constatando-se que 73,9% estiveram sempre neste mesmo Centro de Saúde, 21,7% desempenharam funções em dois serviços e 4,3% estiveram em três serviços de saúde diferentes nos últimos cinco anos.A totalidade dos Profissionais de Saúde, assim como dos seus Familiares, nunca realizou qualquer rastreio para esta bactéria, embora também todos eles (100%) considerem importante a sua realização.Em relação à prevalência de S. aureus, esta apresentou-se positiva em 10% dos elementos da nossa amostra, sendo que 50% destes eram Profissionais de Saúde.O Profissional de Saúde que apresentou S. aureus positivo era Enfermeiro, do sexo masculino, ao passo que o Familiar de Profissional de Saúde que também apresentou positividade para este microrganismo era Comerciante e também do sexo feminino. Verificou-se que não existia relação de parentesco entre ambos. DISCUSSÃO Não poderíamos começar esta discussão sem salientar o facto de a participação neste trabalho, tanto por parte dos Profissionais de Saúde, como dos seus Familiares ter sido muito elevada. A maioria dos Profissionais de Saúde que desempenham atividade profissional no Centro de Saúde de Vila de Rei realizou o rastreio, tendo ainda despertado os seus próprios Familiares para o mesmo. Há uma prova, inequívoca da necessidade de prosseguir com estes trabalhos, pois o interesse dos Profissionais de Saúde é cada vez mais elevado, o que demonstra uma consciencialização cada vez maior, não só com a sua saúde, mas principalmente com a problemática das infeções associadas aos cuidados de saúde7. No trabalho agora apresentado foi encontrada uma prevalência de 10% de S. aureus na amostra total. De entre os Profissionais de Saúde a prevalência foi também de 10%.Quando comparada com trabalhos recentes em organizações semelhantes, constata-se que estamos perante valores muito baixos, pois seria de es17 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:15-18 perar, de acordo com publicações atuais, prevalências na casa dos 20 a 40% de S. aureus8. Já em relação ao S. aureus meticilino resistente (MRSA) o cenário ainda é mais animador, uma vez que não foram detetados nos Profissionais de Saúde aqui analisado, sendo que se poderia, em comparação com estudos internacionais, admitir valores que variavam entre 5% e 20% de portadores na mucosa nasal 4 .Se integrarmos os valores que correspondem aos Familiares dos Profissionais de Saúde (podendo estes ser considerados população geral) em relação à prevalência de S. aureus (10%), observamos que estamos perante valores muito baixos, quando comparados com trabalhos que fazem este mesmo rastreio à população geral, cujos valores variam entre 20% e 40%9. Já comparando em função do S. aureus meticilino resistente (MRSA), cujo valor obtido neste trabalho foi de 0%, constata-se, uma vez mais, a existência de um nível inferior ao esperado na população em geral, que rondaria os 1% a 2%10. Ressalve-se ainda que, não obstante de os Familiares de Profissionais de Saúde poderem ser considerados no grupo de população geral, eles apresentam um fator de risco teórico, que se prende com a convivência diária com indivíduos potencialmente portadores11.Há ainda a reter deste estudo, a preocupação demonstrada, não só, como já vimos, pelos Profissionais de Saúde que estão no terreno a tratar os pacientes, mas também pelos dirigentes da Instituição, que rapidamente se apressaram a dar o seu aval para a realização do trabalho, demonstrando que também eles estão despertos e conscientes para a problemática12. CONCLUSÃO Com este trabalho podemos concluir que existe um interesse, por parte dos Profissionais de Saúde, assim como dos seus dirigentes, no controlo desta bactéria.Podemos ainda constatar que este Serviço de Saúde surge com valores muito positivos, indicativos de boas práticas clínicas e de bons cuidados de higiene, uma vez que os seus Colaboradores apresentam valores muito baixos de prevalência de S. aureus na mucosa nasal e ainda nenhum deles possui MRSA positivo.Conseguiu-se testar as três hipóteses colocadas no início do trabalho, constatandose que nenhuma se mostrou verdadeira. Todos os objetivos delineados para este trabalho foram concretizados. AGRADECIMENTOS Os autores gostariam de agradecer à empresa PROBIOLÓGICA SA, à empresa FRILABO SA, ao Diretor do Laboratório de Patologia Clínica da ULS da Guarda, à Direção da Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias e à Direção da ULS de Castelo Branco por todo o apoio prestado durante este trabalho. Um agradecimento especial a todos aqueles que acederam colaborar neste trabalho. BIBLIOGRAFIA 1-PARK SH, PARK C, YOO JH, KIM J, CHOI SE, KWON YM. Emergence of community-associated methicillin-resistant Staphylococcus aureus strains as a cause of healthcare-associated bloodstream infections in Korea. Infect Control Hosp Epidemiol. 2009; 30(2):146-55. 2-KIM JS, TAITT CR, LIGLER FS, ANDERSON GP. Multiplexed magnetic microsphere immunoassays for detection of pathogens in foods. Sens Instrum Food Qual Saf. 2010; 4(2):73-81. 3-PICHEREAU S, ROSE WE. Invasive community-associated MRSA infections: epidemiology and antimicrobial management. Expert Opin Pharmacother. 2010. 4-KÖCK R, BECKER K, COOKSON B. Methicillin-resistant Staphylococcus aureus (MRSA): burden of disease and control challenges in Europe. Euro Surveill. 2010; 14;15(41). 5-SAITO E, YOSHIDA N, KAWANO J, SHIMIZU A, IGIMI S. Isolation of Staphylococcus aureus from Raw Fish in Relation with Culture Methods. 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A picada de himenópteros tem de ser tratada de forma atempada e correta tanto em meio pré hospitalar como hospitalar. No entanto se for feito um correto diagnóstico pode ser prevenida e tratada. A presente revisão pretende alertar para os riscos destas picadas e orientar sobre o seu tratamento. Palavras-chave: Alergia, himenópteros, reações à picada, tratamento. Many insects cause local reactions after a bite sting hurt, but in same people, they could be fatal. Hymenoptera stings must be correctly identified on time in order to establish an effective treatment, both in a hospital as in pre-hospital environment. However, a correct diagnosis can prevent and treated a dramatic situation. The aim of this review is to alert for the risks and treatment of this insect stings. Keywords: Venom allergy, hymenoptera, sting reactions, treatment INTRODUÇÃO ENTOMOLOGIA De entre as muitas espécies de insetos que podem provocar reações alérgicas, são as abelhas e vespas as responsáveis pelas reações de maior gravidade. As manifestações orgânicas são variadas, podendo ser apenas locais ou de maior gravidade originando-se uma reação sistémica. A reação anafilática pode representar, para um pequeno número de pacientes, um risco fatal, e ocorre devido ao desenvolvimento de IgE específica contra os componentes do veneno1,2. As abelhas e as vespas (vespa de terra e vespa do papel) são insetos pertencentes à ordem dos hymenoptera (himenópteros) existindo várias famílias relacionadas5 (figura 1) , que abundam em toda a Europa nomeadamente no nosso país. Em geral, as picadas de insetos produzem uma reação local, existindo situações potencialmente mortais. Os insetos da ordem hymenoptera são habituais causadores de picadas acidentais2. Os himenópteros são uma ordem de insetos com metamorfose completa, dois pares de asas solidárias durante o voo e cuja larva não pode sobreviver sozinha, contando com mais de 100000 espécies. Nestas espécies constam as abelhas e as vespas6. A abelha (Apis mellifera) é um inseto social herbívoro que vive em colmeias e produz mel e cera. As abelhas, mais concretamente as obreiras, possuem no final do abdómen um aguilhão venenoso utilizado para defesa da colmeia, também conhecido como ferrão, que apresenta um extremo dentado que impede a sua saída, pelo que o inseto morre por evisceração após a picada7. Já as vespas (Vespa sp., Vespula sp. e Polistes sp.) são também animais sociais, de abdómen anelado de cor amarela e negra. De hábito carnívoro, as vespas fêmeas são providas tal como as abelhas obreiras de um aguilhão venenoso, mas que não fica inserido na vítima picada. A espécie Vespa frequentemente INCIDÊNCIA A prevalência na Europa de pessoas alérgicas ao veneno de himenópteros é de 20%, podendo existir reações locais ou sistémicas. Nos apicultores a prevalência pode variar entre 15% a 43%, sendo as reações sistémicas graves mais raras nas crianças2,3. Bilò et al. estimam a incidência de casos fatais na Europa entre 0,009 e 0,45 por milhão de habitantes por ano, resultando em cerca de 100 mortes/ano4. Em 1993 a Academia Europeia de Alergologia e Imunologia Clínica (EAACI) publica as primeiras recomendações relativamente à administração de imunoterapia específica com veneno de himenópteros. Cinco anos depois, em 1998 a OMS em colaboração com as Academias Europeia e Americana de Alergologia e Imunologia Clínica (EAACI e AAAAI) publica um artigo de opinião conjunto sobre a eficácia da vacina2. 1.ENFERMEIRA A DESEMPENHAR FUNÇÕES NO SERVIÇO DE URGÊNCIA DA ULSCB, EPE 2.ESTUDANTE DE 4º ANO DA LICENCIATURA EM ENFERMAGEM DA ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DR. LOPES DIAS 19 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:19-24 Figura 1- Classificação taxonómica dos insetos himenópteros mais relevantes desde o ponto de alergia na Península Ibérica (adaptado de Krishna et al.)5 situa os seus ninhos nos ocos dos troncos e no solo, enquanto que os da espécie Vespula sp. costumam ser aéreos, predominando em ambientes rurais 7. Quanto às vespas do papel (Polistes sp.), também carnívoras, podem alimentar-se de néctar das flores. Distinguem-se das outras espécies pelo seu abdómen fusiforme. De carácter predominantemente urbano, formam colónias habitando em característicos ninhos de papel6,7 (figuras 2 a 6). A potencial gravidade das reações de hipersensibilidade a picadas ocorre em pessoas com anticorpos IgE específicos contra o veneno destes insetos, desenvolvidos diretamente através da exposição a picadas prévias3. O desenvolvimento de IgE específica contra os componentes do veneno presente no aguilhão de alguns himenópteros pode causar imediatamente após a picada dois tipos de reações alérgicas: reações locais e reações sistémicas ou generalizadas1. As reações locais exuberantes recebem este nome quando o edema no local da picada tem um diâmetro superior a 10 cm de diâmetro e podem demorar entre 24 horas e uma semana até a sua total resolução. Quando a picada acontece na cabeça ou na face, a sintomatologia é de maior gravidade, pois para além do edema local, há ocasiões em que pode aparecer edema laríngeo, com a consequente obstrução das vias aéreas superiores. Perante esta situação o doente deverá ser vigiado em meio hospitalar. As reações sistémicas ou anafiláticas são mais frequentes no grupo etário dos 20 anos, e aparecem caracteristicamente CLASSIFICAÇÃO DAS REACÇÕES À PICADA O veneno presente no aguilhão é composto por diversas substâncias, segundo as espécies, assim o veneno da abelha é constituído por fosfolipase A2, hialuronidase, melitina, fosfatase ácida, apamina e péptido 401, no entanto o veneno de vespa (Vespula e polistes) contém fosfolipase A1, hialuronidase, fosfatase ácida, antigénio 5 (neurotoxina) e quinina, capazes de produzir uma reação alérgica2. Por outro lado, existem outros compostos comuns a eles tais como a histamina, dopamina, noradrenalina e proteases, causadores de dor, edema e leve inflamação local1. Figura 2 - Abelha (Apis mellifera) Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Abelha-europeia 20 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:19-24 tação brusca de grandes quantidades de veneno de múltiplas picadas em simultâneo destes insetos (cerca de 50 picadas nas crianças e mais de 100 no adulto), e que uma vez ter sido instaurado tratamento urgente no local, o doente deve ficar em observação e fazer terapêutica em meio hospitalar (anti-histamínicos, corticóides e antibiótico)6. No entanto, há casos documentados de diversas reações raras (vasculites, doença do soro, glomerulonefrite, etc.) de escassa frequência de aparição8. DIAGNÓSTICO DE ALERGIA AO VENENO DE HIMENÓPTEROS Figura 6 - Dolichovespula sylvestris Fonte: http://www.uknature.co.uk/D.sylvestris-info.html entre os 15 a 20 minutos após a picada, embora em alguns casos o seu tempo de latência pode chegar até as 72 horas. A sintomatologia deste tipo de reações compreende manifestações sistémicas: cutâneas (urticária/angioedema), gastrointestinais, respiratórias (broncospasmo) e cardiovasculares (hipotensão, angina e até o shock distributivo) podendo ser classificadas em graus em função da gravidade clínica, de acordo com a escala de Müller (Tabela 1)8. Por outro lado, também existem as reações tóxicas, resultado da liber- O diagnóstico de alergia ao veneno de himenópteros baseia-se na história clínica de reação local exuberante ou sistémica a uma picada e na demonstração da existência de IgE específica para o veneno do inseto agressor, através da realização de provas cutâneas e ou testes in vitro para doseamento sérico da IgE específica9,7. Para elaborar a história clínica é impreterível avaliar a reação à picada, percebendo se é alérgica ou não, determinando a sua gravidade e optando pelo tratamento a seguir5,10. Certos dados devem constar na história clínica, nomeadamente qual o inseto causador da picada, identificação que nem sempre é fácil para o utente. Determinadas características diferenciam alguns insetos, como referido anteriormente, nomeadamente sabendo que a abelha deixa um ferrão fixo na pele, enquanto as vespas (Vespa, Vespula e Polistes) não. Tabela 1 - Classificação das reações à picada segundo Müller Fonte: Adaptado de Pedro M.E., Tavares B.8 21 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:219-24 No entanto, ainda que a identificação do inseto não seja imediatamente conseguida, são fundamentais dados como o número de picadas, época do ano em que ocorreu, local e características da lesão (se apresenta ou não ferrão)2,9,7. Os testes cutâneos devem realizar-se quando o utente sofreu uma reação sistémica e quando se considera a imunoterapia específica como tratamento adequado. Através dos testes cutâneos os mastócitos são estimulados com estrato de veneno. Perante a dificuldade frequente de identificar o himenóptero causador da reação, estas provas realizam-se com todos os extratos disponíveis, tendo em conta os dados presentes na história clínica. As provas não devem ser realizadas nas duas semanas que se seguem à picada para evitar falsos negativos. No entanto, alguns autores recomendam a realização das provas imediatamente após a reação e algumas semanas mais tarde, conseguindo-se melhores resultados, já que alguns pacientes só demonstram sensibilização na primeira semana após a picada7. Ainda assim, cerca de um terço dos doentes com história de reação sistémica grave com picada de himenóptero têm testes negativos. Ocorrem ainda casos fatais de anafilaxia em que estudos in vitro revelam níveis muito baixos de IgE. Por este motivo, consideram-se os seguintes critérios de diagnóstico de alergia a veneno de himenópteros em doentes inclusivamente com testes diagnósticos de resultado negativo9: 1.História de anafilaxia induzida pela picada de himenóptero; 2.Testes cutâneos intradérmicos negativos com veneno Figura 3 - Vespa (Vespula sp.) Fonte: http://es.wikipedia.org/wiki/Avispa puro; 3.Testes in vitro negativos para todos os venenos; 4.Ausência de imunoterapia com veneno de himenóptero, prévia ou atual; 5.Reação anafilática numa nova picada. No entanto poderá ser feita imunoterapia específica com veneno de himenópteros em adultos e crianças com história de reação sistémica onde tenha havido comprometimento respiratório, cardiovascular, angioedema e urticária de modo a manter a qualidade de vida dos doentes. Existem estudos que nos referem que cerca de 80% de doentes com alergia a veneno de himenópteros ficam protegidos com este tipo de tratamento11. A imunoterapia específica deverá ser feita em meio hospitalar com administrações mensais durante um período que pode ir dos 3 aos 5 anos8. A atuação dos profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) perante a picada de himenópteros é de grande importância tanto na área pré-hospitalar (primeiros cuidados) como no serviço de urgência (estabilização e tratamento sintomático) como posteriormente com o encaminhamento para a consulta da especialidade (tratamento específico, prevenção e capacitação do utente). No serviço de urgência a observação é um instrumento de grande importância de modo a identificar os principais sintomas das reações graves á picada, o profissional deverá manter o doente calmo e colaborante durante o tratamento. TRATAMENTO O tratamento de urgência efetua-se de acordo com o tipo de reação que o paciente apresenta2. Perante uma reação local e presença de ferrão, este Figura 4 - Vespa do papel (Polistes dominulus) Fonte: http://fr.wikipedia.org/wiki/Polistes_dominula 22 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:19-24 Fig. 7 - Anapen Adulto® (0,3 mg) e Anapen Júnior® (0,15 mg) Fonte: http://www.emergencyresponse.com.au/anaphylaxis.html deve ser removido imediatamente, sem ser comprimido para não haver libertação adicional de veneno. A colocação de frio sobre o local ajuda a reduzir a dor e o edema. Deve ser realizada lavagem do local com água e sabão, desinfetando-se posteriormente com iodopovidona de forma a prevenir a infeção, assim como a utilização de antihistamínicos2. Por outro lado, perante uma reação sistémica, o tratamento de eleição imediato é a administração de adrenalina pela sua rapidez de ação e potência, sendo a via intramuscular a via de administração preferencial5,10,12. Independentemente da resposta ao tratamento imediato, da presença de sintomas potencialmente mortais e da necessidade de observação prolongada, a pessoa picada deve ser encaminhada imediatamente para o hospital. Pode ser também importante o tratamento da anafilaxia através da adoção de outras medidas como a reposição rápida de fluidos por via intravenosa. Por vezes, a administração de anti-histamínicos e corticosteroides podem aliviar a presença de sintomas cutâneos1,2. Caso a reação sistémica não ceda ao tratamento imediato deve-se: 1.Administrar novamente adrenalina IM; 2.Puncionar veia periférica para administração de terapêutica 3.Administrar anti-histamínicos, corticosteroides; 4.Monitorizar o doente; 5.Colocar oxigénio por máscara facial; 6.No caso de broncospasmo, realizar nebulização com Salbutamol1,8. Os utentes com risco de reação à picada de himenópteros devem ser portadores de um estojo de emergência que contenha uma caneta-seringa para auto-injecção13, denominado por ANAPEN®, com uma dose única de adrenalina2. Em Portugal está disponível nas farmácias mediante prescrição médica, no caso dos adultos a dosagem é de 0,3 mg de adrenalina e nas crianças de 0,15 mg de adrenalina (figura 7) que deverá ser administrado na face externa da coxa durante cerca de 10 segundos8. REPICADURA O risco de desenvolver uma nova reação sistémica depois de uma repicadura ronda os 20% para utentes que sofreram uma reação generalizada prévia de carácter leve, e os 50% para aqueles que sofreram uma reação mais grave. Estes dados sugerem que o grau de gravidade da reação é um fator essencial para determinar o risco de reexposição. A repicadura intra-hospitalar com himenópteros vivos é um método utilizado, principalmente, para avaliar a eficácia da imunoterapia com veneno puro. Também se utiliza para fins de investigação para conhecer os mecanismos da anafilaxia14. Em Portugal esta prova de provocação com himenópteros vivos não é utilizada8. CUIDADOS A TER DE MODO A EVITAR A PICADA Existem diversas medidas de prevenção a ter em conta de modo a prevenir a picada de himenópteros8,9, princi23 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:19-24 palmente quando se é alérgico ao veneno. Referimos essencialmente: 1.Evitar roupa colorida e perfumes; 2.Evitar estender roupa ao ar livre; 3.Evitar comer ao ar livre ou mexer em fruta ou comida; 4.Evitar mexer nos contentores do lixo; 5.Evitar a proximidade de colmeias; 6.Evita o uso de perfumes ou ambientadores; 7.Em casa coloque redes de proteção nas portas e janelas; 8.Evitar atividades ao ar livre (jardinagem, cortar relva ou andar descalço na relva); 9.Não se aproximar de zonas arbustivas, árvores de fruto ou caixotes de lixo, colmeias ou ninhos de vespa; 10.Evite correr, montar a cavalo, andar em bicicleta ou mota em zonas de campo de modo a evitar a colisão com estes animais; 11.Manter-se vigilante em zonas com piscina; 12.Manter as janelas do automóvel fechadas, quando em viagem; 13.Evitar movimentos bruscos quando uma abelha/ vespa se aproxima. 7.Nevot Falcó, S.; Guilarte Clavero, M. Hipersensibilidad a veneno de himenópteros in Protocolos de Inmunología Clínica y Alergología. Asociación Española de Pediatría y Sociedad Española de Inmunología Clínica y Alergia Pediátrica. (2003) Serie Protocolos de la AEP, 119-126. Acedido em 24 de setembro de 2012 em: http://www.aeped.es/sites/default/files/documentos/11himenopteros.pdf 8.Pedro, M. E.; Tavares, B. Alergias a veneno de himenópteros in Taborda Barata, L. et al (2011). Fundamentos de Imunoalergologia – da epidemiologia ao tratamento, Lidel: edições técnicas, 153-164 9.Pedro, M. E.; Santos, M.. Controvérsias em Imunoalergologia – Venenos, alergia sem IgE., Rev Port Imunoalergol 2009 (17). 7-11 10.Bonifazi, F. Jutel, M., Bil B. M. et Al.. Prevention and treatment of hymenoptera venom allergy: guidelines for clinical practice. Allergy 2005: 60: 1459–1470 11.Lang, R., Hawranek, T. Hymenoptera Venom Immunotherapy and Field Stings. J Investig Allergol Clin Immunol 2006; Vol. 16(4): 224-231 12.Ben-Shoshan M, Clarke AE. Anaphylaxis: past, present and future. Allergy. 2011; 66: 1–14. 13.Frew A.J. What are the ‘ideal’ features of an adrenaline (epinephrine) auto-injector in the treatment of anaphylaxis? Allergy 2011; 66: 15–24. 14.Soriano, V., Férnandez, J. et al.. Repicaduras intrahospitalarias con himenópteros – Artículo de opinión. Alergologia e Inmunologia Clínica. 2000. (6) Vol.15, 388-393. CONSIDERAÇÕES FINAIS A reação à picada de himenópteros pode ser muito grave e mesmo fatal, mas com o diagnóstico e tratamento imediato e adequado é possível revertê-la. É importante que a pessoa alérgica ao veneno de himenópteros seja referenciada e acompanhada em consultas da especialidade (imunoalergologia) para esclarecer o diagnóstico e avaliar a realização de imunoterapia específica bem como fazer um adequado ensino na administração de terapêutica de urgência fora das unidades hospitalares. BIBLIOGRAFIA 1.Marqués-Amat, L. (2006). Alergia a la picadura de himenópteros, Atención urgente. Abr (1.601), 39-42. Acedido a 12 de Novembro de 2011 em http:/ /www.jano.es/ficheros/sumarios/1/0/1601/39/ 1v0n1601a13086722pdf001.pdf 2.Pedro, M. E. Alergia ao veneno de himenópteros, Rev Port Imunoalergol. 1999 (7) 3, 191-194 3.Comité Nacional de Alergia (2010). Guía de Práctica Clínica – Alergia a picadura de himenópteros en pediatria, Sociedad Argentina de Pediatría. (108-3), 266-276 4.Bilò, B. M., Rueff, F., Mosbech, H et Al. Diagnosis of Hymenoptera venom allergy Allergy 2005: 60: 1339–1349. 5.Krishna M. T., Ewan P. W., Diwakar L., Durham S. R., Frew A. J., Leech S. C. and Nasser S. M.. Diagnosis and management of hymenoptera venom allergy: British Society for Allergy and Clinical Immunology (BSACI) guidelines. Clinical & Experimental Allergy, 2011 (41) 1201– 1220. 6.Oliveira, L. (1997). Nova Enciclopédia Larousse. Lisboa: Círculo de Leitores, Lda. Figura 5 - Vespula sp. Fonte: http://es.wikipedia.org/wiki/Vespidae 24 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:19-24 HEMOCULTURAS BLOOD CULTURES Paulo Manuel Ferreira da COSTA1, Maria Eufémia Quelhas de Carvalho CALMEIRO2, Rosa Maria Santos da SILVA3 RESUMO ABSTRACT É um desafio para qualquer clínico o tratamento rápido e eficaz das bacteriémias. Neste contexto, as hemoculturas são um exame importante na sua identificação permitindo muitas vezes a adequação da antibioterapia empírica inicial. Neste artigo são referidos alguns dos estudos mais recentes publicados na literatura. Com base nesses estudos, os autores fazem uma revisão do conceito de hemoculturas e algumas das suas controvérsias: quando realizar, método de colheita, quantidade necessária de sangue, número necessário culturas, hemoculturas de aeróbios e anaeróbios. Palavras-chave: Hemoculturas; Colheitas de hemoculturas; Contaminação It is a challenge for any clinician to do a prompt and effective treatment of bacteraemia. In this context, blood cultures are an important exam in their identification, often allowing the adequacy of initial empirical antibiotic therapy. This article contains references to some of the more recent studies published in the literature. Based on these studies, the authors review the concept of blood cultures and some of its controversies: when implement, sampling method, the necessary amount of blood, number of cultures required, aerobic and anaerobic blood cultures. Keywords: blood culture, blood cultures sampling; Contamination INTRODUÇÃO envolvido 2,3 . A contaminação culmina no uso inapropriado de antibióticos, no eventual desenvolvimento de resistências, bem como no desperdício de recursos financeiros. Bates et al reportaram um aumento de 20% nas despesas hospitalares resultantes da realização de testes adicionais, tratamento antibiótico e aumento do tempo de internamento4. As hemoculturas são uma prática comum nos hospitais, contudo ainda existem várias controvérsias no que respeita aos vários condicionantes deste procedimento. A bacteriémia é sinónimo de infecção que pode frequentemente ser ameaçadora da vida, e como tal, o reconhecimento da sua presença é de extrema importância. A identificação dos microrganismos responsáveis permite que os antibióticos de largo espectro usados no tratamento inicial empírico, possam ser substituídos por outros de espectro mais reduzido e apropriado. As culturas de sangue são um dos procedimentos mais importantes efectuados no laboratório de microbiologia clínica.1 Uma das suas principais limitações é o potencial de contaminação da amostra que pode resultar da introdução de microrganismos oriundos da pele do doente, mãos do técnico, equipamento contaminado ou durante o processo laboratorial. Desse modo, o sucesso depende em grande parte, dos métodos usados na sua colheita. Está comprovado que se consegue obter uma redução da contaminação usando uma técnica de colheita apropriada e recorrendo a formação educacional do pessoal 1 - INTERNO INTERNATO MÉDICO DE MEDICINA INTERNA; 2 - ASSISTENTE MEDICINA INTERNA; 3 - ASSISTENTE GRADUADA MEDICINA INTERNA SERVIÇO DE MEDICINA , HOSPITAL AMATO LUSITANO, UNIDADE LOCAL REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:25-30 DE SAÚDE DE QUAIS OS DOENTES QUE DEVERÃO REALIZAR HEMOCULTURAS? Uma vez que a prevalência de bacteriémia é baixa, a maior parte das culturas é colhida em doentes com baixo índice de bacterémia5. Assim, é de importância crucial seleccionar os doentes candidatos às hemoculturas, evitando a realização de culturas desnecessárias. Será possível então evitar o uso desnecessário de antibióti- CASTELO BRANCO 25 cos (resultantes de culturas falsos positivos) reduzindose os gastos inerentes? Com esta perspectiva, vários autores tentaram criar modelos capazes de prever o risco de bacteriémia. Bates et al6 e Leibovici et al7, usando variáveis clínicas e analíticas simples (como a temperatura, presença de abdómen agudo, suspeita de endocardite, comorbilidades, cateter venoso central, entre outras) criaram modelos que se mostraram úteis nas amostras testadas, mas que falharam na validação e reprodutibilidade. Jaimes et al8 conseguiram uma relação estatisticamente significativa entre as variáveis tempo de internamento, uso de cateter venoso central, idade superior a 30 anos, frequência cardíaca e”90, temperatura e”37.8ºC, leucócitos e”12000 e o risco de bacteriémia. Mais recentemente, Tokuda et al9 criaram um algoritmo simples, de fácil utilização, capaz de classificar os doentes, com febre aguda, em diferentes grupos de risco de bacteriémia (baixo, intermédio e alto). O algoritmo foi realizado usando como variáveis, a presença de arrepios, frequência cardíaca e diagnóstico médico de baixo risco de bacteriémia. Consideraram diagnósticos de baixo risco doenças como faringite aguda, bronquite aguda e agudização de DPOC, diarreia infecciosa aguda, síndrome virusal, doença inflamatória pélvica, otite média aguda, sinusite aguda e processo não infeccioso. Este estudo à semelhança de outros anteriormente realizados, mostrou a importância dos arrepios na detecção de bacteriémia. Estes autores chegam mesmo a defender que deveria ser obrigatório inquirir todos os doentes febris acerca da presença de arrepios. O algoritmo proposto também carece de reprodutibilidade. Paul et al10, por seu lado, criaram um sistema informático (TREAT), usando não só variáveis clínicas, mas também probabilidades estatísticas, capazes de identificar doentes com baixo risco de bacteriémia (obtiveram resultados estatisticamente significativos, com poder de discriminar presença de bacteriémia). Contrariamente, aos anteriores este programa conseguiu ser reproduzido com eficácia em diferentes amostras. Contudo o sistema informático falhou na identificação de 7 doentes com bacteriémia, que considerou como sendo de baixo risco, e portanto não merecedores de hemoculturas. Os autores concluíram que o programa pode não só melhorar a selecção dos doentes que deverão realizar hemoculturas (evitando o uso desnecessário de antibióticos e o desperdício de recursos financeiros), como identificar indivíduos de alto risco que podem beneficiar de exames mais caros e específicos, nomeadamente análises moleculares. Referem, contudo, que este programa deverá ser avaliado noutros hospitais e sob outras condicionantes. A procalcitonina também tem sido incluída em modelos de decisão.11 Reller L et al12, na revisão que efectuaram, definiram apenas duas indicações para as quais se deve realizar hemoculturas: 1) nos doentes hospitalizados, com febre (e”38ºC) combinada com leucocitose ou neutrofilia, antes do uso de terapia antibiótica sistémica; 2) em infecções localizadas ou sistémicas incluindo, suspeita de sepsis, meningite, osteomielite, artrite, pneumonia bacteriana aguda não tratada, febre de origem desconhecida em que abcessos ou outras infecções bacterianas são suspeitas ou possíveis. MÉTODO DE COLHEITA Por definição, a especificidade de uma hemocultura está directamente relacionada com o número de resultados falsos positivos. Ao se reduzir a contaminação, ou seja, os falsos positivos, aumentar-se-á por conseguinte a especificidade deste importante meio de diagnóstico.5 Pelo que, se torna importante definir o melhor método de colheita5,12,13, de modo a minimizar os riscos de contaminação. A colheita deve, preferencialmente, ser efectuada num local limpo; todo o equipamento deve estar acomodado num recipiente limpo; o equipamento potencialmente reutilizável (ex. torniquete) deve ser limpo e descontaminado previamente; efectuar lavagem correcta das mãos; colocação de material de protecção individual; escolher o local a puncionar e efectuar uma correcta desinfecção da pele (ver tabela 1). O recurso a elementos treinados na realização de flebotomias e colheita hemoculturas diminui a taxa de contaminação3. É, pois, desaconselhável a utilização de qualquer técnico para o fazer, contrariando a prática vigente na maioria dos hospitais portugueses. A incorrecta de desinfecção da pele parece ser a principal causa de contaminação, contudo sabe-se que pelo menos 20% das bactérias alojadas na pele sobrevivem às técnicas de desinfecção (algumas bactérias encontram-se em camadas profundas da pele ou em outras estruturas que os anti-sépticos não conseguem penetrar)5. Existem vários estudos comparativos das diferentes soluções iodadas existentes, contudo apesar de se verificar diferentes taxas de contaminação, esta parece depender mais de técnica usada em detrimento do tipo de solução usada5. Os laboratórios que detectarem contaminações superiores a 3%, deverão implementar medidas de reeducação, uma vez que a maioria se deve à má técni- 26 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:25-30 Tabela 1: regras para desinfecção da pele e colheita de hemoculturas Tabela 2: numero de culturas de acordo com patologia Fonte: DGS 27 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:25-30 ca de flebotomia, nomeadamente limpeza da pele inadequada. QUAL O VOLUME DE SANGUE RECOMENDADO? O volume máximo a inocular deve respeitar as normas do fabricante, no entanto o volume mínimo também deve ser tomado em consideração, uma vez que volumes baixos podem ser insuficientes para o crescimento bacteriano (as culturas podem ser falsamente negativas12,14). Segundo as normas da Direcção Geral da Saúde13, no caso dos adultos, deve-se inocular 10 a 30 ml e nas crianças 1 a 5 ml de sangue (nas crianças são necessários menores volumes porque nestes a concentração de microrganismos durante o período de bacteriémia é maior). Não se deve encher demasiado os frascos pois pode causar leituras falsamente positivas; para melhor controlo de volume deverá marcar-se o nível no frasco antes da colheita. PODEM SER REALIZADAS POR CATETERES? A facilidade de obter amostras de sangue pelo cateter já existente é tentadora. Esta prática é contudo controversa, uma vez que alguns autores referem aumento do potencial de contaminação da amostra e do doente, pela manipulação do cateter. Falagas et al15, fizeram uma revisão da literatura publicada entre 1970 e 2005 sobre o tema. Da análise dos dados, chegaram à conclusão que a colheita de hemoculturas por cateter, em doentes críticos ou com doença maligna, mostra uma maior sensibilidade e valor preditivo negativo, comparativamente com as culturas de sangue periférico. Daqui advém que, realizando culturas através do cateter, se falhará menos na identificação dos casos verdadeiros de bacteriémia, e esta será excluída com mais segurança nos casos de culturas negativas. Os autores defendem, que em certas populações, e na presença de cateter, se deverá fazer pelo menos uma colheita pelo cateter15. Quando se compara as culturas efectuadas com sangue colhido através de uma linha arterial e por venopunção, os resultados obtidos pelas duas técnicas são equivalentes15. QUANTAS COLHEITAS SE DEVEM FAZER E QUANDO? De um modo geral, na maioria dos doente adultos, serão suficientes 3 hemoculturas de volume apropriado. O número óptimo vai, no entanto, depender do estado clí- nico do doente, grau de suspeição de infecção e a urgência do tratamento12. Idealmente deveriam ser realizadas com o mínimo de uma hora de intervalo (no sentido de maior probabilidade de detectar microrganismos nas bacterémias intermitentes) e antes do inicio da antibioterapia, no entanto em situações de emergência, ou em doentes com alta probabilidade de bacteriémia continua, o intervalo pode ser encurtado para 10 minutos ou menos, colhidas em locais diferentes. Nos doentes em que se suspeite de bacteriémia intermitente ou bacteriémia por agentes normalmente contaminantes, deverão ser realizadas vários grupos de culturas com 6 a 36 horas de intervalo12. Apesar do exposto, alguns autores defendem não existir diferença significativa entre as culturas obtidas simultaneamente comparativamente com as obtidas em intervalos. A colheita de apenas uma hemocultura é raramente aconselhável ou suficiente. Duas culturas podem ser suficientes nos casos em que se prevê que o agente não seja um potencial contaminante (ex: em doentes com pneumonia ou sepsis de origem intra-abdominal). O uso de 3 culturas é normalmente adequado quando se suspeita de bacteriémia continua e a probabilidade de bacteriémia é alta (ex: doentes com suspeita de endocardite infecciosa que não receberam antibióticos). Por último, o uso de 4 hemoculturas pode ser razoável no caso de alta probabilidade de bacteriémias e se suspeite que o microrganismo envolvido seja um contaminante comum (ex: Staphylococcus coagulase-negativo), nomeadamente nas situações de endocardite em válvula prostética e infecções endovasculares devido a dispositivos infectados (ex: pacemakers). As 4 culturas também podem ser necessárias para diagnosticar endocardites em doentes que receberam antibióticos nas duas semanas anteriores.12 A Direcção Geral de Saúde (DGS)13 define também algumas situações clínicas expostas na tabela 2. Finalmente, as culturas não devem ser efectuadas no pico febril e quando são realizadas mais do que uma hemocultura sequencialmente estas devem ser efectuadas em veias periféricas diferentes13. DEVE-SE SER TAMBÉM REALIZADA PARA ANAERÓBIOS? Alguns autores defenderam que a cultura para anaeróbios só deveria ser efectuada selectivamente18-20, uma vez que as infecções por anaeróbios estariam a diminuir (estatística fornecida por estudos realizados com dados colhidos nos anos 70-80), e as fontes das infecções por bac- 28 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:25-30 térias anaeróbias serem clinicamente fáceis de identificar. Contudo, relatos recentes têm mostrado que esta realidade está a mudar, verificando-se um crescimento no número de anaeróbios isolados. Este aumento recente do número de infecções por anaeróbios pode ser explicada em parte, pela modificação das características da população, ou seja, tem-se verificado um aumento do número de doentes imunodeprimidos, com patologias cancerígenas, com transplantes medulares e idade avançada (mais propensos a infecções por anaeróbios). Numa população com estas características torna-se mais difícil detectar as fontes de bacteriémia por anaeróbios, pois é actualmente mais variada, especialmente entre os doentes imunodeprimidos ou com doenças de bases complexas. Alguns autores defendem um maior recurso a hemoculturas para 18,19 anaeróbios .Contudo na literatura não é claro em que número/proporção de culturas para aeróbios e anaeróbios deverão ser realizadas. PODE SER REALIZADA APÓS INICIO DE ANTIBIOTERAPIA? É frequente na prática clínica que, após 72 horas de antibiótico, os doentes permaneçam com febre. Existem recomendações acerca do número de culturas e a melhor altura para as colher será antes da antibioterapia, contudo não existem recomendações para as situações em que o doente mantém febre e já iniciou antibioterapia. Grace et al22 realizaram um estudo retrospectivo no sentido de responder a esta questão. Estes autores elegeram para o seu estudo, doentes hospitalizados, com hemoculturas pré e pós inicio de antibioterapia (excluíram doentes que receberam antibióticos nas 72h antes da admissão, doentes com infecções nosocomiais, admitidos em Unidades de Cuidados Intensivos, contagem de neutrófilos <500 células/mm3 e doentes admitidos nos Serviços de neurologia, cirurgia, ginecologiaobstreticia, psiquiatria ou pediatria). Realizaram, nesse grupo de doentes hospitalizados, uma análise estatística para encontrar elementos que conseguissem prever hemocultuas positivas após inicio de antibiótico. Concluíram que o resultado das culturas pós antibiótico poderia ser previsível, baseado no resultado da cultura pré antibioterapia e que poucos agentes foram isolados nessas culturas que não tivessem sido nas préantibioterapia. O número e o tipo de comorbilidades, a idade, temperatura, contagem de leucócitos, avaliados depois do inicio da antibioterapia, não servem como elementos indicativos de culturas positivas. Em relação aos microrganismos, concluíram que o S. aureus e os Streptococus teriam maior probabilidade e os aeróbios gram-negativos menor probabilidade, de serem isolados nas culturas pós antibiótico. Estes achados são condizentes com outros estudos. Segundo estes autores devese esperar pelo resultado das primeiras culturas antes de pedir as subsequentes. Segundo a revisão de Reller et al11 o uso anterior de antibióticos mais frequentemente atrasa do que inibe o crescimento bacteriano. As culturas após inicio de antibiótico devem ser colhidas imediatamente antes da próxima toma de antibiótico. CUIDADOS A TER COM OS FRASCOS? Os cuidados a ter com os frascos de hemoculturas devem obedecer ás especificações do fabricante. No que diz respeito aos “Bact/Alert®”, os mais utilizados nos Hospitais Portugueses deve-se cumprir as seguintes regras: armazenar à temperatura ambiente; observar a data de validade; confirmar que não existem fracturas; não usar frascos que tenham caído; confirmar que o sensor está intacto (os frascos têm um sensor que detecta CO2 produzido pelo crescimento das bactérias); não usar frascos cujo sensor se encontra amarelo; confirmar a cor correcta do meio de cultura (deverá ter uma cor azulesverdeada); não usar frascos com meios culturais turvos; não introduzir ar da seringa; rotular sempre os frascos, com o nome do doente, data, hora, e local da colheita; ter o cuidado para não tapar o código de barras. COMO DISTINGUIR UMA INFECÇÃO DE UMA CONTAMINAÇÃO? Apesar das suas limitações, as hemoculturas são essenciais na detecção de bacterémia. É fundamental e de grande importância clínica diferenciar culturas verdadeiramente positivas das contaminadas. Existem várias condicionantes que podem ajudar nesta distinção: a identidade do microrganismo isolado; o número hemoculturas positivas; tempo para a sua positividade; quantidade de crescimento; indícios clínicos e laboratoriais e fonte da cultura (cateter ou venopunção). As duas primeiras são as mais importantes.5 De facto têm sido reportados microrganismos, que na maioria dos casos, correspondem a bacteriémia; são eles o Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumonia, Escherichia coli e outras Enterobacteriaceas, Pseudomonas aeruginosa e Candida albicans. Do mesmo modo existem microrganismos reportados como 29 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:25-30 sendo quase sempre contaminantes: Staphylococcus coagulase-negativos, Corynebacterium species, Bacillus species para além do Bacillus anthracis, Propionibacterium acnes, Micrococcus species, Streprococci do grupo Viridans, Enterococci e Clostridium perfigens grupo. 5 Na maioria das situações os Staphylococcus coagulase-negativos são considerados como sendo contaminação. No entanto, tem-se verificado que estes microrganismos podem ser fonte de bacteriémias verdadeiras, nomeadamente nos doentes com próteses e cateteres venosos centrais. De ressalvar contudo que os microrganismos citados como contaminantes frequentes podem constituir bacteriémia verdadeira particularmente se crescerem em várias culturas5. As culturas polimicrobianas não devem ser consideradas à partida contaminação, uma vez que 6 a 21% dessas culturas correspondem a verdadeiras bacteriémias5. Factores indicativos de cultura falsamente positiva são: crescimento após 72h de incubação (excepto nos casos em que o crescimento possa ser suprimido por administração previa de antibióticos) e ausência de leucocitose com desvio esquerdo e dados clínicos não consistentes com bacteriémia12. CONCLUSÕES Podemos concluir que as hemoculturas se revestem de grande importância clínica. Apesar de serem pedidas por rotina continuam a existir falhas nas várias etapas do seu processo. Deverá ser cumprida as indicações para a realização das mesmas, observar as regras de colheita para evitar as contaminações e fazer uma correcta interpretação dos resultados. Os autores deste trabalho de revisão pretendem não só contribuir para uma melhor interpretação dos resultados das hemoculturas, diminuição do uso desnecessário de antibióticos minimizando o aparecimento de resistências, redução de custos inerentes, mas também estimular a criação de equipas intrahospitalares que avaliem os métodos de colheita das hemoculturas, as taxas de contaminação e outros fac- tores de gestão clínica. REFERENCIAS 1) MURRAY P, ROSENTHAL K et al. Microbiologia Médica – Terceira edição. Guanabara Koogan; 2000: 142; 2) ESKIRA S, GILAD J et al. Reduction of blood culture contanination rate by na educational intervention. Clinical Microbiology and Infection. 2006; 12: 818-821; 3) WEINBAUM FI, LAVIE S, et al. Doing it right the first time: quality improvement and the contaminant blood culture. Journal Of Clinical Microbiology. 1997; 35: 563-565; 4) BATES DW, GOLDMAN L et al. Contaminant blood cultures and resource utilization. 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Usefulness of blood culture for hospitalized patients who are receiving antibiotic therapy. Clinical Infectious Diseases. 2001; 32:1651-5 30 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:25-30 DEFICIÊNCIA DE GLICOSE-6-FOSFATO DESIDROGENASE – A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO. Glucose - 6 - Phosfate dehydrogenese defeciency - a case report Olga GOMES1;Maria do Castelo BILÉU 2;Lucia BORGES3 INTRODUÇÃO ABSTRACT A Glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) é uma enzima citoplasmática cuja função primordial é assegurar o potencial “redox” da célula. Existe em todas as células do organismo humano e em todos os organismos da cadeia evolutiva, desde os protozoários às plantas e animais, o que pressupõe que a sua actividade seja factor biológico indispensável. A necessidade da actividade de G6PD no glóbulo vermelho para assegurar níveis suficientes de NADPH e glutatião reduzido fica provada pelo facto de indivíduos portadores de variantes com actividade reduzida sofrerem episódios de hemólise intravascular por acção de factores oxidantes (favas, fármacos e infecções) ou anemia hemolítica persistente. Os autores apresentam o caso de uma mulher previamente saudável com quadro de astenia, anorexia e cansaço 2 dias após ingestão de favas. Analiticamente é de salientar hemoglobina de 7.3 g/dL que recuperou espontaneamente. O diagnóstico molecular mostrou que a doente era portadora em heterozigotia da variante A- (A menos) da G6PD. Palavras-chave: Glucose-6-fosfato-desidrogenase, Favismo, Variante A-. Glucose-6-phosphate dehydrogenase (G6PD) is a cytoplasmic enzyme whose primary function is to ensure the cellular redox potential. It exists in all cells of the human body and in all organisms of the evolutionary chain, from protozoa to plants and animals, which implies that its activity is an indispensable biological factor. The need for activity of G6PD in the red blood cell to ensure sufficient levels of NADPH and reduced glutathione is proved by the fact that individuals bearing a reduced activity variant suffer episodes of intravascular hemolysis by the action of oxidizing factors (fava beans, drugs and infections) or persistent hemolytic anemia. The authors present the case of a previously healthy woman with asthenia, anorexia and fatigue two days after ingestion of fava beans. Analytically, the only relevant alteration was a hemoglobin of 7,3 g/dl which spontaneously recovered. Molecular diagnosis revealed the patient was a heterozygous carrier of A- (A minus) G6PD variant. Keywords: Glucose 6-phosphate dehydrogenase, Favism, A- Variant. CASO CLÍNICO Antecedentes pessoais de quadro depressivo desde há 2 anos. Fumadora de 20 UMA e abstinente há 2 anos, sem hábitos alcoólicos nem consumo de drogas recreativas. Antecedentes familiares irrelevantes, negando anemias de transmissão hereditária. É de salientar a existência de uma sobrinha de 23 anos, actualmente a residir no Brasil, com história de anemia não esclarecida. Medicada em ambulatório e de forma regular com Fluoxetina e Clonazepam. Objectivamente apresentava-se consciente, orientada e Doente do sexo feminino, 41 anos de idade, casada, natural do Brasil, residente em Aveiro há 7 anos, advogada. Recorreu ao Serviço de Urgência com sintomas de astenia, anorexia, cansaço para esforços mínimos e cefaleias halocraneanas com agravamento progressivo e instalação de icterícia e colúria, com três dias de evolução. Sem outras queixas, nomeadamente respiratórias ou urinárias. Negava consumo de qualquer fármaco e referia ingestão de favas dois dias antes do aparecimento dos sintomas. 1. Interna Complementar de Medicina Interna do Hospital Infante D.Pedro, EPE (HIP) 2. Assistente Graduada de Medicina Interna do HIP 3. Assistente Graduada de Imunohemoterapia,Directora do Serviço de ImunoHemoterapia do HIP 31 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:31-35 colaborante, bom estado geral, eupneica, hemodinamicamente estável, icterícia marcada da pele e escleróticas, abdómen mole, depressível, indolor à palpação e sem hepatoesplenomegalia. Analiticamente, hemoglobina de 7,2 g/dL, bilirrubinémia total de 14,7 mg/dL com bilirrubinémia directa de 0,88 mg/ dL, LDH de 341 UI/dL. Bioquímica hepática, renal e tempos de coagulação sem alterações (Tabela 1). A ecografia abdominal revelou fígado e baço com estrutura e dimensões dentro dos parâmetros da normalidade, sem dilatação das vias biliares intra e extra-hepáticas. para um controlo de 8,3, confirmando o diagnóstico de Défice de G6PD. O diagnóstico molecular – recorrendo a estudos de 1) amplificação por PCR do exão 5 do gene G6PD e pesquisa da mutação 376A>G (126Asn>Met) e 2) amplificação dos exões 3 e 4 e pesquisa da mutação 202G>A (68Val>Met) [os indivíduos são classificados como A- quando apresentam as duas mutações 376A>G e 202G>A] –mostrou que a doente era portadora em heterozigotia da variante A(A menos) da G6PD, tendo sido o resultado de Act (% N) de 50,6%. DISCUSSÃO Tabela 1 – Exames laboratoriais efectuados A doente ficou internada na Sala de Observações, não tendo sido transfundida com concentrado de Glóbulos Vermelhos, por se encontrar assintomática e hemodinamicamente estável, tendo feito apenas terapêutica de suporte. Devido à suspeita de se tratar de anemia hemolítica por défice de G6PD, foi pedido o doseamento da actividade da G6PD, cujo resultado foi de 4,2 UI/gHb O défice de G6PD é provavelmente a mutação clinicamente significativa mais frequente a nível mundial, estimandose que existam mais de 400 milhões de pessoas afectadas1,2. A prevalência em Portugal é baixa (calculando-se ser de 0,51%)3. A descoberta desta mutação ocorreu nos anos 50, quando se estudava o fenómeno hemolítico decorrente da administração do antimalárico Primaquina. Inicialmente, foi encontrada em África, mas posteriormente pode ser observada em todo o mundo.2 A G6PD é uma enzima citoplasmática, existente em todas as células do organismo humano. A forma enzimaticamente activa da G6PD é um dímero ou um tetrâmero de uma só unidade polipeptídica. O seu papel fundamental é a geração de NADPH e, embora a G6PD ocorra em todas as células com actividade semelhante, ela desempenha um papel fundamental para assegurar a estabilidade e a viabilidade do glóbulo vermelho (GV). A sua função está relacionada com o glóbulo vermelho (GV), que realiza tarefas biológicas relativamente simples num ambiente hostil. Foi estimado que, durante o seu ciclo vital (120+/- 6 dias), cada GV percorre uma distância de cerca de 175 milhas, e é submetido a 1.7x105 ciclos circulatórios5. Para lutar contra os perigos internos (alta carga de oxigénio, produção constante de espécies oxidantes) e externos (alterações do Ph, turbulência, destruição por outras células), o GV possui um forte e simplificado metabolismo, adequado para cumprir as tarefas necessárias e para defender as suas propriedades funcionais de agressores físicos e químicos. A G6PD controla a oxidação celular.5,6 O principal papel da via Hexose–Monofosfato é a produção da forma reduzida de Fosfato Dinucleotídeo de Nicotinamida-Adenina (NADPH), o qual, por sua vez, está estreitamente relacionado com o metabolismo do Glutatião (GSH).5,6,7 32 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:31-35 O Glutatião é de importância chave em todas as células, para a preservação dos grupos sulfidril em numerosas proteínas, e para a prevenção de danos oxidativos em geral. Todavia, este papel é particularmente crucial nos GVs porque, sendo transportadores de oxigénio por excelência, têm literalmente incorporado um perigo de dano por radicais de oxigénio que são originados continuamente no decurso da formação de metahemoglobina. Os radicais de oxigénio, altamente reactivos, decompõem-se espontaneamente, ou são convertidos em peróxido de hidrogénio (H2O2). A destoxificação do H2O2 para H2O é efectivada pela Glutatião Peroxidase (GSHPX): uma molécula de Glutatião (GSH) é oxidada para GSSG, por cada molécula de H2O2 destoxificada. Assim, o Glutatião só pode desempenhar o seu papel funcional se for continuamente regenerado (de GSSG para GSH). Esta regeneração apenas pode ser efectuada no GV, através da Glutatião Redutase (GSSGR), pela NADPH sendo esta originada pela redução da NADP, através da G6PD e do shunt da Hexose– Monofosfato.6,8,9 Figura 1 – Via Hexose-Monofosfato7,8 Figura 2 – G6PD e o ciclo do Glutatião (GSH)6,9 33 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:31-35 O gene determinante da G6PD (Gd) está localizado no braço longo do cromossoma X, e está intimamente ligado aos genes que codificam o Factor VIII, e aos que codificam o pigmento da retina. A deficiência da enzima pode ocorrer por delecções ou mutações. A localização do gene Gd tem duas consequências importantes, uma vez que as mutações do Gd mostram o comportamento típico da herança ligada ao sexo e como resultado do fenómeno da inactivação do cromossoma X, as mulheres heterozigóticas, para dois diferentes alelos, exibem variedade nas células somáticas: se um dos alelos apresenta deficiência enzimática, existirão células G6PD+, e células G6PD- (as primeiras com actividade enzimática normal, e as últimas com actividade enzimática deficiente). Os homens podem ser normais (Gd+) ou hemizigóticos deficientes (Gd-), as mulheres podem ser normais (Gd+/Gd-), deficientes homozigóticas (Gd-/Gd-) ou deficientes heterozigóticas (Gd+/Gd-).6,7,8 Muitas variantes alélicas foram já descritas sendo que a sua manifestação clínica depende da variante em causa. As mais frequentes são as variantes Mediterrâneas (forma grave), as variantes Africanas A- (forma moderada) e as variantes Mahidol (forma moderada) e Canton (forma grave) no sudeste asiático. As formas raras e mais graves da deficiência da G6PD existem em associação com anemia hemolítica não-esferocítica crónica. A Organização Mundial de Saúde classificou as diferentes variantes da G6PD de acordo com a actividade enzimática e a severidade da hemólise. A classe IV e a classe V não têm significado clínico. A variante de Classe I caracteriza-se por uma actividade enzimática extremamente baixa (inferior a 10% do normal), levando a anemia hemolítica crónica. A variante de Classe II tem uma actividade enzimática baixa, mas apresentam hemólise intermitente. A variante de Classe III apresenta um défice moderado da enzima (10 a 60% do normal), com hemólise associada a infecções ou uso de drogas. A variante de Classe IV não apresenta deficiência enzimática e não se associa a patologia. A variante de Classe V tem actividade enzimática aumentada e não se encontra patologia associada.8 O mecanismo de hemólise não é exactamente conhecido e é variável consoante o estímulo desencadeante. A infecção é o desencadeante mais comum de hemólise e afecta principalmente indivíduos com deficiência tipo A-. Os agentes mais frequentemente implicados são os coliformes, salmonelas, estreptococos beta-hemolíticos, Rickettsias, Vírus Influenza e, de um modo particularmente importante, as hepatites virais. Pensa-se que os eritrónios deficientes em G6PD sejam menos resistentes à hipertermia mantida e não suportem o aumento de oxidantes produzidos pelos granulócitos durante a fagocitose. A hemólise induzida por fármacos foi inicialmente associada ao anti-malárico Primaquina. O risco e a gravidade da hemólise correlacionam-se com a dose e a duração do tratamento, assim como com a presença adicional de stress oxidativo, como uma infecção. Tipicamente, a hemólise começa 2 ou 3 dias após o início da terapêutica, é predominantemente intra-vascular e pode associar-se a hemoglobinúria. A tabela 2 mostra os fármacos mais frequentemente associados a hemólise.5,8,9 Tabela 2 – Fármacos e químicos associados a hemólise na deficiência de G6PD Na hemólise induzida por cetoacidose diabética, pensa-se que a diminuição do pH, o aumento do piruvato e a hiperglicemia saturem a via das pentoses fosfato. O mecanismo é desconhecido, mas após a correcção da acidose a hemólise termina. Na hemólise induzida pela ingestão de favas (favismo), sabe-se que nem todas as variantes são afectadas pela ingestão de favas e o grau de hemólise é variável de uma exposição para outra. O favismo afecta, sobretudo, a variante Mediterrânica. Os indivíduos mais susceptíveis são os jovens e aqueles que concomitantemente estão infectados.6,7,8,9 34 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:31-35 No favismo, os compostos como a divicina e o isouramil, que estão presentes nas favas, provocam a oxidação irreversível do glutatião e grupos sulfidrilo presentes nas proteínas, levando a alterações electrolíticas que conduzem ao aumento da permeabilidade do eritrócito, e ao estabelecimento de pontes cruzadas entre a espectrina e a banda 3 presentes na membrana da hemoglobina, conduzindo à diminuição na deformabilidade eritrocitária. Esta alteração na deformabilidade da membrana actua como um sinal para que os eritrócitos alterados sejam removidos na circulação pelo sistema reticuloendotelial. Além disso, há aumento dos níveis de cálcio intra-eritrocitário pela degradação da ATPase com actividade de bomba de cálcio, levando a alterações no metabolismo do cálcio e consequente diminuição de potássio. Os eritrócitos deficientes em G6PD são também mais susceptíveis a vesiculação induzida pelo cálcio, levando a hemólise mediada pelo complemento. 6,7,8,9 Classicamente, o episódio hemolítico caracteriza-se por palidez, icterícia e hemoglobinúria, que surge 24 a 48 horas após a ingestão de favas. O diagnóstico biológico é feito com base na determinação da actividade da G6PD em eritrócitos desleucocitados e comparação com a actividade de outra enzima eritrocitária (piruvato cinase ou hexocinase). Preferencialmente o exame deve ser feito na ausência de hemólise, para evitar falsos diagnósticos devido a contagens elevadas de reticulócitos. As deficiências moleculares subjacentes incluem sobretudo mutações pontuais na sequência codificante, levando a substituições de aminoácidos. Não são conhecidas mutações que levem à perda de função do gene. A análise molecular permite a identificação das mutações causais e a escolha de uma estratégia terapêutica adequada com base na previsão da gravidade das manifestações clínicas. 7,8,9 CONCLUSÃO A deficiência de G6PD consiste na existência de um baixo nível dos valores desta enzima. É constatada nos portadores tendo por referência (controlo) os valores de um indivíduo são. A maioria das pessoas que têm deficiência de G6PD é assintomática, não apresentando anemia nem hemólise. O desenvolvimento de ambas resulta de agentes exógenos. É particularmente importante nos hemizigóticos e nas mulheres homozigóticas, podendo desencadear crises hemolíticas graves. Na maioria dos casos, o primeiro episódio de hemólise ocorre na infância, mas este pode ocorrer no estado adulto. No caso clínico apresentado (adulto), a doente era portadora em heterozigotia da variante A - (A menos) da G6PD, diagnóstico efectuado pela análise molecular, sendo este o método adequado. O doseamento da actividade da G6PD, cujo resultado foi de 4,2 UI/gHb para um controlo de 8,3, encontrando-se assim abaixo do valor normal, de acordo com a literatura. A ingestão de favas foi o factor desencadeante da crise hemolítica. O diagnóstico de suspeição, dado por uma história clínica bem realizada evita episódios transfusionais. BIBLIOGRAFIA 1. Beutler E, Kuhl W, Ramirez E, Lisker R. Some Mexican Glucose-6Phosphate Dehydrogenase Variants Revisited. Human Genetics, 1991; 86: 371-374. 2. Mehta A, Mason P J, Vulliamy T. Glucose-6-Phosphate Dehydrogenase Deficiency. Baillière’s Clinical Haematology, 2000, 13: 21-38. 3. Costa E, Cabeda J M, Abreu M E et al. Défice de Glucose-6-fososfato desidrogenase em duas crianças do sexo feminino. Acta Médica Portuguesa, 1999, 12: 283-286. 4. Jandl, J H. Body Hemolityc Anemias, in Blood: Text book of haematology, second edition, Little Brown Publ., Boston, 1996: 503-507. 5. 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Case Report Sergiu USURELU1, Ana MONTEIRO1, Sara CORREIA1, Gina MELO2, Arnandina LOUREIRO3 RESUMO ABSTRACT: Os tumores estromais gastrointestinais (GISTs) são raras neoplasias mesenquimatosas do trato gastrointestinal e representam uma entidade distinta com base na sua patogénese molecular, coloração imuno-histoquímica e capacidade de resposta à terapêutica alvo. A incidência anual dos GIST é de 11 a 15 casos por milhão nos estudos baseados na população caucasiana. São tumores CD 117 positivos, produzidos por mutação no KIT ou PDGFRA. Os autores pretendem apresentar um relato de caso de um paciente com uma doença relativamente rara, cuja prevalência é muito maior do que se pensava desde o início. Palavras-chave: tumor do estroma gastro-intestinal, KIT, PDGFR, imatinib mesylate, inibidor tyrosine kinase. Gastrointestinal stromal tumours (GISTs) are rare mesenchymal malignancies of the gastrointestinal tract that are a distinct disease entity based on their molecular pathogenesis, immunohistochemical staining, and responsiveness to targeted therapy. The annual incidence of GIST is 11 to 15 cases per million in studies based on Caucasian population, with GISTs detected at autopsy and those with a low malignancy potential included. KIT, or more rarely PDGFRA, gene mutations are key to GIST oncogenesis. Other markers for diagnostic specificity for GIST are under consideration1,2. The authors plan to present a case report of a patient with a relatively rare disease, whose prevalence is much higher than previously thought from the beginning. Key words: gastrointestinal stromal tumours, KIT, PDGFR, imatinib mesylate, tyrosine kinase inhibitors. INTRODUÇÃO retroperitoneu (5%) e vesícula biliar. O seu tamanho é variável entre 0,5cm e 38cm, mas a maior parte tem diâmetro de 5cm na altura do diagnóstico 1,2. Em relação com a parede do tubo digestivo, podem ser submucosos, intraparietais ou subserosos. No corte têm aspecto carnoso, com áreas de hemorragia, necrose e degenerescência quística. São tumores únicos, mas, quando múltiplos, deve-se excluir GIST familiar. Têm crescimento expansivo (21%), pseudoexpansivo (45%) ou infiltrativo (24%)5. Os dois últimos podem condicionar uma ressecção incompleta quando se realiza uma enucleação. Os GIST são tumores mesenquimatosos geralmente CD 117 (c-kit, KIT) positivos, produzidos por mutação no KIT ou PDGFRA. São compostos por células fusiformes ou epitelioides que se originam no tracto gastro-intestinal, epíploon, mesentério ou no espaço retroperitoneal 3 . Apresentam muitas similitudes morfológicas e imunofenotípicas com as células intersticiais de Cajal (rede complexa de células da parede intestinal que têm função pacemaker). A incidência anual dos GIST é: EUA e Finlândia: 10-20 casos / milhão / ano, Holanda e Suécia: 12,7-14,5 casos / milhão / ano. A idade de maior incidência é entre os 50 e os 65 anos. Alguns estudos sugerem maior incidência no sexo masculino2. Estes tumores podem ter origem em qualquer local do tracto gastro-intestinal. Embora mais frequentes no estômago (50-60%), podem ter origem no intestino delgado (20-30%), cólon e recto (10%), esófago (5%) e em vários locais da cavidade abdominal, tais c om o : g r an d e o m e n to, m e s e n té ri o, p e ri tone u, CASO CLÍNICO Doente de sexo masculino, 69 anos, raça caucasiana, natural e residente em Castelo Branco, enviado pelo médico de família à consulta externa de Cirurgia Geral, por referir perda ponderal de cerca de 10kg nos últimos três meses, dor abdominal nos quadrantes superiores, astenia, fadiga, enfartamento gástrico e anorexia. Foi internado no Serviço de Cirurgia Geral para estudo. Do- *Interno de Cirurgia Geral, ULS-Castelo Branco **Assistente Graduado Hospitalar de Cirurgia Geral, ULS-Castelo Branco ***Directora de Serviço de Cirurgia Geral, ULS-Castelo Branco 36 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:36-40 ente referia que a mãe faleceu aos 81 anos por neoplasia do cólon, o pai faleceu aos 64 anos por neoplasia pulmonar, uma irmã faleceu aos 50 anos por neoplasia do útero e uma irmã com neoplasia da mama operada. O Exame Objectivo revelou-se sem alterações. A Endoscopia digestiva alta mostrou lesão sub-mucosa volumosa na pequena curvatura/face anterior do antro, aparentemente com 35 – 40 mm; mucosa de revestimento normal. A Tomografia computorizada(TC) abdominal mostrou a nível da pequena curvatura, formação ovalada com cerca de 3,6cm, com procidência endoluminal, relacionada com tumor da submucosa. Sem outras alterações(Fig.2). CONCLUSÃO Tratava-se, portanto, de provável GIST. Realizou Ultra-sonografia transendoscópica que identificou-se por abordagem gástrica na pequena curvatura (corpo/antro) formação arredondada de natureza sólida, com localização predominantemente endoluminal e plano de clivagem com o fígado, 28x37 mm de maior dimensões, na dependência da parede (da muscular própria), com ecotextura heterogénea e áreas quísticas, sendo compatível com GIST (Fig. 1). A B Fig. 2A - TC sem contraste; Fig 2B - TC com contraste Fig.1 - Ultra-Sonografia Transendoscópica O doente foi submetido a gastrectomia subtotal com reconstrução em Y de Roux(Fig.3) e não teve complicações no pósoperatório. Encontra-se seguido em consulta, com 3 anos de follow up, estando assintomático. O diagnóstico histológico revelou células fusiformes, intercala das por focos de degenerescência mixóide e áreas de edema do estroma. O índice mitótico foi de cerca de sete mitoses por 50 campos de grande ampliação. O estudo imunocitoquímico realizado com os vários marcadores: vimentina, CD34, CD117, actina, desmina, proteína S100 revelaram positividade forte e difusa nas células tumorais para o marcador vimentina 37 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:36-40 (mesenquima) e CD34 (estroma), positividade difusa para CD117 (estroma); positividade nalgumas células para proteína S100 (marcador neural).Portanto tumor do estroma gástrico (GIST) com escassa diferenciação neural. DISCUSSÃO A origem destes tumores foi, durante muito anos, atribuída ao músculo liso e muitos foram erroneamente classificados como leiomiomas, leiomioblastomas e leiomiossarcomas. Com o refinamento dos meios de diagnóstico em anatomia patológica, a origem das células foi atribuída às mesenquimatosas e não ao músculo liso. São tumores imprevisíveis no comportamento, a maioria é assintomática e descoberta acidentalmente durante exame endoscópico e radiológico. Os GIST podem apresentar-se de variadas formas. Dependendo da sua localização e tamanho, podem manifestar-se por um quadro de obstrução intestinal, principalmente em locais como o cárdia, o piloro, a válvula ileo-cecal ou recto. Dor, perda de peso e massas palpáveis estão associados com tumores grandes e que muitas vezes sugerem malignidade, porém os GISTs de grande dimensão podem ser benignos e o seu diagnóstico diferencial no pré-operatório é bastante difícil1,2. Alguns tumores crescem tão rapidamente em relação ao seu suprimento vascular que podem formar áreas de necrose, com ulceração da mucosa adjacente podendo manifestar-se por quadros de melena e enterorragia. A média de duração dos sintomas é de quatro a seis meses. O diagnóstico de GIST usualmente não é possível por biopsias endoscópicas por causa da sua localização submucosa. A diferenciação entre tumores malignos e benignos é difícil mesmo após a ressecção cirúrgica. Apresentam-se com grande espectro no que concerne ao grau de malignidade, podendo ir desde tumores benignos até alto grau de malignidade. Não existe um consenso quanto à sua diferenciação, embora muitos patologistas classifiquem o GIST somente como de baixo risco e alto risco de malignidade, sendo geralmente aceite que tumores menores que 1cm são benignos e os maiores que cinco são geralmente malignos (Quadro 1)1. Os tumores do intestino delgado comportam-se mais frequentemente, como mais agressivos que os de outros locais. Embora vários parâmetros tenham sido utilizados para diferenciação Fig. 3 - Peça anatómica 38 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:36-40 Quadro 1 - Grupos de risco de comportamento agressivo (Fletcher C. Hum Pathol 2002, 33: 459-465) de malignidade, tais como tamanho do tumor, velocidade e número de mitoses, necrose celular, aumento da celularidade, atipia celular e invasão a órgãos adjacentes, em último caso a malignidade do tumor vai depender do desenvolvimento de recorrência e/ou metástases1,2,4. Os tumores pequenos são achados incidentais durante a cirurgia, endoscopia ou estudos de imagem. A forma mais frequente de apresentação clínica é a hemorragia gastrointestinal por ulceração da mucosa. Os doentes podem apresentar hematemeses, melenas, sinais de anemia causada por hemorragia oculta. Outras manifestações clínicas incluem: náuseas, vómitos, dor abdominal ou massa palpável. O exame de imagem tem como objectivo avaliar invasão local ou detectar metástases à distância. O exame contrastado com bário pode mostrar massa com componentes exofíticos, com limites precisos por ser um tumor intramural e extramucoso. Na Ecografia os tumores apresentam-se como massas hipoecogénicas, com áreas quísticas, necróticas ou hemorrágicas. A ultra-sonografia endoscópica tornou-se uma imprescindível modalidade de imagem para o diagnóstico clínico do GIST e sua diferenciação das outras neoplasias submucosas. Geralmente apresentam-se como massa ovóide ou em formato elíptico e pode ser multilobular ou pediculado. A ecoendoscopia permite a obtenção de material para estudo histológico através da realização de punção aspirativa por agulha fina. As TAC e RMN são meios de diagnóstico de eleição para estadiamento dos GIST. Também são essenciais para o diagnóstico de metástases no fígado, pulmão, peritoneu e lesões ósseas. O diagnóstico de GIST pode ser sugerido por uma massa sólida heterogénea, com áreas císticas ou necróticas. Os GISTs têm 2 padrões histológicos principais, que se sobrepõem aos de outros sarcomas e tumores: fusiforme, epitelióide e misto. O aspecto microscópico é variável devido os vários tipos celulares que aparecem nestes tumores: células fusiformes (77%), células epitelioides (8%) e mistos (15%)5. A imunohistoquímica pode ajudar o diagnóstico diferencial: - tumores musculares lisos: leiomioma e leiomiossarcoma - positivos para actina e desmina e negativos para c-kit5 - schwanoma e tumor maligno da bainha nervosa – positivos para S100 e negativos para c-kit5 - tumor fibroso solitário – positivo para CD34 e negativo para c-kit5 - carcinoma sarcomatóide – positivo para citoqueratinas e negativo para c-kit5 - carcinoma neuro-endócrino – positivo para sinaptofisina e cromogranina e negativas para c-kit5. Mais de 95% expressam CD117, 70-90% expressam CD34, 20-30% actina, proteína S100 e 2-4% desmina. Outros marcadores utilizados são: PDGFRA, proteinocinase C e DOG-1, que actualmente não são recomendados para diagnóstico e de momento têm valor nos protocolos de investigação1,2. TRATAMENTO A cirurgia é o tratamento de primeira opção dos GIST e é o que oferece a melhor probabilidade de cura. O objectivo ideal é uma cirurgia R0, com excisão tumoral completa, tanto do tumor primário como da recidiva, e mar39 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:36-40 gens de ressecção livres de tumor4,5. Às vezes é necessário sacrificar órgãos adjacentes e realizar ressecção “em bloco”. Os doentes submetidos a uma cirurgia radical tem uma sobrevida total superior àqueles que foram submetidos a uma cirurgia menos agressiva. Não se demonstrou que a linfadenectomia regional aumente a sobrevida, pelo que não é recomendada. Quando se apresenta numa forma disseminada ou com impossibilidade de ressecção cirúrgica é indicado tratamento adjuvante com mesilato de imatinib, sunitinib ou nilotinib3,6. CONCLUSÕES O diagnóstico baseia-se na morfologia e no perfil imunohistoquímico A maioria dos GIST expressa CD117 (90%) conforme o caso clínico. O tratamento principal e de escolha é o cirúrgico, tendo optado pala gastrectomia subtotal. A linfadenectomia não deve ser realizada por rotina, já que as metástases para os gânglios linfáticos são raras5. BIBLIOGRAFIA 1.CHARLES D. BLANKE – GIST: three perspectives on current diagnosis and therapy. EJC Supplements Vol. 4 Suppl. 1 (2006) 1-3 2.HEIKKI JOENSUU – Current perspectives on the epidemiology of GIST. EJC Supplements Vol. 4 Suppl. 1 (2006) 1-3 3.MICHAEL C. HEINRICH – Molecular basis for treatment of GIST. EJC Supplements Vol. 4 Suppl. 1 (2006) 1-3 4.P.GERVAZ, O. HUBER AND P. MOREL – Surgical management of gastrointestinal stromal tumours. British Journal of Surgery 2009; 96: 567 - 578 5.A. POVEDA, V. ARTIGAS, A. CASADO, J. CERVERA – Guia de practica en los tumores astromales gastrointestinales: actualizacion 2008. Cir Esp. 2008; 84(supl 1): 1-21 6.J.A.FERNANDEZ, P.PARRILLA – tratamiento quirurgico del GIST avanzado en la era del imatinib. Cir Esp.2009;86(1): 3-12 40 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:36-40 COLECISTITE XANTOGRANULOMATOSA – PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Xanthologralomatous cholecystitis – a case report Duarte MALVEIRO1, António RIVERO1, Daniel CARTUCHO1 RESUMO ABSTRACT A Colecistite Xantogranulomatosa (CX) é uma doença inflamatória rara de vesícula biliar. Caracteriza-se por um processo inflamatório destrutivo focal ou difuso, com acumulação de macrófagos repletos de lípidos, tecido fibroso e células inflamatórias agudas e crónicas. A patogénese é idiopática. As complicações e morbilidade são mais frequentes que na colecistite nãoxantogranulomatosa. O diagnóstico definitivo exige exame histológico da vesícula colecistectomizada, visto que a sintomatologia, exame objectivo e exames complementares de diagnóstico podem ser sugestivos, mas não são patognomónicos. O único tratamento definitivo é a colecistectomia, sendo a via laparotómica preferida em relação à laparoscópica. Neste artigo é apresentado um caso clínico de colecistite xantogranulomatosa, com a sua apresentação, evolução clínica, complicações e abordagem terapêutica. Palavras-chave: Colecistite xantogranulomatosa, carcinoma da vesícula biliar, colecistectomia Xanthogranulomatous cholecystitis is a rare inflammatory disease of the gallbladder, characterized by a focal or diffuse destructive inflammatory process, with accumulation of lipid laden macropages, fibrous tissue, and acute and chronic inflammatory cells. The pathogenesis is idiopathic. Morbidity and complications are more frequent than in non-xanthologramotous cholecystitis. The diagnostic is usually made by histological examination of the resected gallbladder, since the are no consistent trends in biochemical or haematological findings that aid in then diagnosis. The only definitive treatment for xanthogralomatous cholecystitis is surgery and open cholecystectomy is the preferred surgical technique in most patients. The authors present a case of xantogralomatous cholecystitis, highlighting its presentation, clinical course, complications and therapeutic approach. keywords: Xanthogranulomatous cholecystitis; gallbladder carcinoma; cholecystectomy INTRODUÇÃO EUA, por McCoy et al1. Em termos epidemiológicos, a prevalência da CX, entre os pacientes sintomáticos com doenças da vesícula biliar varia entre os 0,7% e os 13,2%2,3. Nos EUA a prevalência é de 0,7%, no Japão e Índia é de 9%. A idade média de apresentação varia, de acordo como os estudos, entre 44 e 63 anos de idade. Um estudo realizado na Índia mostrou uma relação sexo masculino/feminino de 1:9, enquanto outros obtiveram valores idênticos para ambos os sexos e até superioridade no sexo masculino1. A importância clínica desta entidade reside no facto de que apesar de ser uma condição benigna, poder mimetizar uma apresentação clínica do carcinoma da vesícula biliar (CVB). Estando este último associado a um pior prognóstico, o diagnóstico incorrecto pode levar a uma cirurgia mais extensa com ressecção hepática ou pancreato-duodenectomia desnecessárias. A colecistectomia na CX acarreta dificuldades técnicas podendo uma suspeita diagnóstica prévia permitir uma melhor abordagem estratégica2. Face à importância e características da patologia os autores apresentam um acaso clínico e fazem a revisão do tema. A Colecistite Xantogranulomatosa (CX) é uma doença inflamatória rara de vesícula biliar. Caracteriza-se por um processo inflamatório destrutivo focal ou difuso, com acumulação de macrófagos repletos de lípidos, tecido fibroso e células inflamatórias agudas e crónicas1. Inicialmente a CX foi descrita como uma variante da colecistite crónica. No entanto, é uma patologia que acarreta uma morbilidade significativa, visto que condiciona um processo inflamatório intenso que se estende à parede da vesícula e estruturas adjacentes. Tem implicações importantes em termos de abordagem, nomeadamente particularidades na técnica cirúrgica durante a colecistectomia. Essas são algumas razões que levaram a que fosse considerada uma entidade clínica distinta1. Em 1970 foi reconhecida pela primeira vez e descrita como colecistite fibroxantogranulomatosa, mas em 1981, foi adoptada a denominação de colecistite xantogranulomatosa após uma revisão de 40 casos clínicos pelo Instituto de Patologia da Forças Armadas dos 1.Serviço de Cirurgia Geral - Centro Hospitalar do Berlavento Algarvio 41 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:41-46 CASO CLÍNICO Doente do sexo masculino, 57 anos de idade, é admitido no SU do CHBA a 23/10/2008 por quadro clínico, com algumas horas de evolução, caracterizado por dor abdominal nas regiões epigástrica e hipocôndrica direita e náuseas. Ao exame objectivo, apresentava-se vigil, orientado, colaborante, com temperatura axilar de 38,1ºC, TA 171/104mmHg e anictérico. O abdómen estava mole, depressível, doloroso à palpação do hipocôndrio direito e com RHA presentes. Restante exame objectivo irrelevante. Com antecedentes pessoais: HTA medicada e controlada com captopril 25 mg (1 cp/dia); hiperuricemia medicado com colchicina e diclofenac em SOS; psoríase; internamento anterior no Hospital de Lagos há cerca de 5 anos por pneumonia; ex-fumador desde há 6 anos. Analiticamente salienta-se uma leucocitose (16.800/mL) com neutrofilia de 87,9%, bilirrubina total/directa 2,11/0,34mg/ dL, AST 37U/L, ALT 46U/L e PCR 18,0mg/L. Restantes parâmetros sem alterações relevantes. Radiografia do tórax AP sem alterações relevantes. Radiografia simples do abdómen em ortostatismo (figura 1) sem alterações significativas. Ecografia abdominal superior (figura 2), revelou uma hepatomegália com contornos regulares e áreas de ecogenicidade aumentada relacionável com esteatose, vesícula biliar distendida com ligeiro espessamento parietal (7mm), por edema, com microlitíase e múltiplas lamas biliares, Murphy sonográfico e aspectos sugesti- vos de colecistite aguda/sub-aguda litiásica. O doente esteve internado no Serviço de Cirurgia sete dias Nesse internamento com terapêutica médica que incluiu fluidoterapia, analgesia e antibioterapia ev (ertapenem). Teve como intercorrência uma crise gotosa que remitiu com medicação. Verificou-se melhoria clínica e laboratorial, tendo tido alta com cirurgia programada para Janeiro de 2008. Figura 2 Figura 3 Figura 2 e 3 - Ecografia abdominal superior Figura 1 – Radiografia simples do abdómen em ortostatismo. Na preparação pré-operatória fez ecografia abdominal superior (figura 3) que revelou hepatomegalia ligeira com áreas de ecogenicidade moderadamente aumentadas, alternando com áreas de menor ecogenicidade simulando um padrão “em mapa geográfico” compatível com infiltração esteatósica; reforço da ecogenicidade adjacente à via biliar principal, mas sem espessamento parietal; vesicular biliar com parede notoriamente espessada (8mm) com ligeira irregularidade concêntrica parietal com formações litiásicas no seu interior; sugestivo de colecistite aguda/sub-aguda. Internado electivamente para ser submetido a colecistectomia. À entrada, referia dor abdominal intensa com aproximadamente 48 horas de evolução. Ao exame objectivo, encontrava-se vigil, hemodinamicamente estável, sub-febril (37,6ºC), desta- 42 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:41-46 cando-se o abdómen globoso, doloroso de forma generalizada, mais intensamente no hipocôndrio direito aquando da palpação, Murphy vesicular positivo, com reacção peritoneal presente e hepatomegália discreta. Analiticamente, leucocitose (11.400/mL) sem neutrofilia (73,3%), bilirrubina total/directa 4,22/ 0,69mg/dL, AST 35U/L, ALT 68U/L, PCR 299,8mg/L. Por se apresentar dentro da janela de 48/72 horas de colecistite aguda manteve-se a programação cirúrgica. Foi submetido a colecistectomia iniciada por via laparoscópica. Verificou-se a existência de um plastron com aderência do cólon transverso ao fígado. Face à dificuldade da libertação da vesícula por um componente inflamatório fibroso que não é o normalmente verificado, optou-se pela conversão para laparotomia sub-costal direita. Verificou-se o que parecia ser um trajecto fistuloso em formação, com ponto de partida na vesícula (perfurada) para o cólon (ângulo hepático), atingindo a serosa mas sem ultrapassar a muscular. Procedeu-se à colecistectomia retrógrada com dreno na goteira parieto-cólica e espaço de Morison. A cirurgia teve a duração de 1 hora e 29 minutos. O pós-operatório imediato decorreu sem intercorrências, com excepção de dores de origem gotosa nos membros inferiores que melhoraram com medicação. Teve alta referenciado à consulta externa. No 31º dia pós-operatório recorreu ao serviço SU do CHBA por quadro de dor abdominal hipogástrica, mal-estar, colúria, febre (38º) e diminuição do número de dejecções, em evolução desde o dia anterior. Analiticamente, destaca-se leucocitose (18.830/mL) com neutrofilia de 95,7%, bilirrubina total/directa 3,88/1,97mg/dL, AST 297U/L, ALT 434U/L, GGT 646U/L, FA 487U/L e PCR 46,9mg/L. Fez radiografia do abdómen em ortostasia (figura 4). Observado pela cirurgia, apresentava icterícia obstrutiva com sinais de colangite provavelmente por litíase residual da via biliar principal, sem pancreatite, tendo sido novamente internado no Serviço de Cirurgia. Repetiu ecografia abdominal que não revelou anomalias para além da esteatose e status pós-colecistectomia. Cumpriu terapêutica antibiótica e.v. com regressão da sintomatologia, tendo tido alta, clínica e laboratorialmente melhorado, com o diagnóstico de colangite em status póscolecistectomia, de etiologia a esclarecer. O relatório da anatomia patológica mostrou: macroscopicamente, peça de colecistectomia com 7,5cm de comprimento e 0,5cm de espessura da parede, mucosa castanha irregular, observando-se ulceração com 0,5cm de diâmetro que condiciona solução de continuidade da parede; 3 fragmentos de tecido fibroadiposo, compactos e com inductos purulentos. O diagnóstico histológico foi colecistite crónica xantomatosa agudizada e perfurada. REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:41-46 Figura 4 – Radiografia do abdómen em ortostasia Em follow-up com dois anos de pós-operatório doente assintomático. DISCUSSÃO A patogénese da CX é desconhecida. A teoria actualmente mais aceite considera que o processo está relacionado com o extravasamento de bílis para a parede da vesícula a partir da ruptura dos seios de RokitanskyAschoff ou pela ulceração da mucosa, secundária à colelitíase. Este evento inicia uma reacção inflamatória do tecido intersticial, na qual os macrófagos fagocitam os lípidos biliares, como o colesterol e os fosfolípidos, conduzindo à formação de células xantomatosas, e os fibroblastos contribuem para uma reacção fibrosa intensa. Tudo isto, leva à formação de xantogranulomas1. O período de tempo apontado como necessário para a formação de xantogranulomas na sequência de colecistite aguda varia entre as 3 semanas e os 6 meses3. Verificou-se que podem surgir processos inflamatórios xantogranulomatosos em muitos outros órgãos, como pele, genitais, retroperitoneu, estruturas intracranianas e tracto gastrointestinal. Em relação aos rins, está descrita a pielonefrite xantogranulomatosa, que se pensa ter alguma analogia em ter43 mos de patogénese com CX, e que resulta da estase devido à obstrução causada por cálculos renais1,4. PATOLOGIA Macroscopicamente (figuras 5), a vesícula biliar apresenta a parede espessada e a serosa coberta de densas aderências fibrosas. A superfície mucosa pode estar ulcerada e cortes da parede revelam focos de xantogranulomatose, que aparecem como nódulos ou placas de coloração amarela acastanhada. Esses focos, tal como a fibrose, podem estender-se a estruturas adjacentes, como fígado, cólon, duodeno e epiplon1,2,5. Microscopicamente (figuras 6), os focos de xantogranulomatose são compostos por macrófagos repletos de lípidos, fibroblastos e células inflamatórias. Os macrófagos podem ser de 2 tipos morfológicos: macrófagos espumosos arredondados e células fusiformes com citoplasma granular e núcleo alongado. Outros aspectos presentes incluem fendas de colesterol, infiltrações lipídicas, depósitos de hemossiderina e bílis extravasada1. A relação entre a CX e o CVB ainda não está completamente definida. Foram encontradas alterações granulomatosas focais na parede vesicular em associação com invasão neoplásica, o que pode sugerir uma possível relação entra ambas as entidades1. Há estudos que mostraram que em 30% dos carcinomas da vesícula encontram-se xantogranulomas focais3. Estudos realizados nos EUA e Japão encontraram adenocarcinoma em 10% dos espécimes ressecados com CX., porém outros estudos não demonstraram qualquer associação1. Fenómenos inflamatórios que também estão presentes na CX, foram implicados no desenvolvimento de alterações metaplásicas e displásicas ao longo do tubo digestivo e a sequência metaplasia-displasia- 44 Figura 5 – Vesícula de uma paciente com CX, na qual se observam nódulos xantogranulomatosos na parede neoplasia já foi observada na vesícula biliar3. Verificou-se uma associação - que não se provou ser causal - entre a CX e obesidade e diabetes mellitus3. Em espécimes ressecados de pacientes com vesícula de porcelana também foram observadas alterações xantogranulomatosas6. CLÍNICA Não há sinais ou sintomas que sejam patognomónicos Figura 6 – Corte histológico em que se observa uma célula gigante multinuleada rodeada por várias células xantomatosas e células inflamatórias desta entidade clínica2. O doente típico tem uma história sugestiva de colecistite aguda ou crónica e, ocasionalmente, pode apresentar aspectos clínicos e imagiológicos que mimetizam o CVB. Naqueles doentes em que coexistem CX e CVB são mais frequentes a anorexia, perda de peso, massa palpável e icterícia. Outras formas de apresentação, mais raras, incluem pancreatite aguda, cólica biliar e icterícia obstructiva. Esta última pode dever-se a coledocolitíase ou a compressão do ducto biliar comum pela vesícula inflamada (Sindrome de Mirizzi). Sintomas frequentemente referidos pelos pacientes são dor no hipocôndrio direito, que pode irradiar para o ombro homolateral e flanco, acompanhados de náuseas, vómitos e febre. O exame objectivo é habitualmente normal, com excepção do sinal de Murphy vesicular positivo, quando a colecistite aguda está presente, e a presença de uma massa palpável no hipocôndrio direito, sendo este achado mais comum num paciente com CX que na colecistite aguda sem CX1,2,6,7. Verifica-se uma alta incidência de complicações na CX, podendo atingir os 30%. As complicações locais incluem a perfuração/ruptura da vesícula, a formação de estenoses e o síndrome de Mirizzi. A obstrução prolongada do cístico e a distensão sob pressão da vesícula, durante a fase aguda da inflamação, podem acarretar a formação de abcessos hepáREVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:41-46 ticos e fístulas para estruturas adjacentes (fígado, duodeno, cólon, estômago e pele)1,4,6. A CX deve surgir como um diagnóstico possível quando o doente apresentar uma massa no hipocôndrio direito ou tiver uma fístula biliar1. Saliente-se que não existem valores laboratoriais que sejam patognomónicos, sendo a leucocitose frequente, mas não específica1. Forma isolados microrganismos na bílis de alguns doentes com CX (Escherichia coli, Klebsiella species, Enterococcus species), contudo o seu significado é desconhecido6. Os exames complementares de diagnóstico podem ser sugestivos de CX, mas não permitem o diagnóstico definitivo e os estudos publicados em relação a alguns deles não são conclusivos. Assim, o diagnóstico pré-operatório é difícil, sendo o diagnóstico definitivo obtido através do exame histológico da vesícula colecistectomizada, por vezes, pelo exame extemporâneo1. A ecografia possibilita a visualização de alguns achados que são sugestivos, mas que não são diagnósticos (figura 7). A parede da vesícula apresenta-se espessamento focal ou difuso, os cálculos condicionam uma imagem em cone de sombra, em 35% há lamas biliares e a imagem mais frequente e característica são nódulos ou faixas hipoecogénicas intramurais (> 35%). Outros achados, menos frequentes, são uma massa vesicular, perfuração/ ruptura da vesícula, colecção de líquido sub-hepático, limites mal definidos entre a vesícula e o fígado e gás nas vias biliares (por fístula com o tubo digestivo)1,3,4,6,7. Refira-se que existem outras doenças que podem condicionar o aparecimento de nódulos intramurais hipoecogénicos, como CVB, abcessos, colesterolosis, adenomiomatose1. Um estudo com 33 doentes mostrou que a ecografia diagnostica erradamente CX com CVB em 21,2% 2. A ecoendoscopia pode ter utilidade clínica no diagnóstico diferencial com CVB, na medida em se pode observar a perda do padrão de múltiplas camadas da parede vesicular, que é mais característica dessa situação4. A tomografia computorizada (TC) também permite obter algumas imagens que são sugestivas de CX. Uma revisão retrospectiva revelou que esses achados são: nódulos intramurais hipodensos (~100%), espessamento da parede (91%), cálculos (61%), extensão do processo inflamatório ao fígado (45%) e bandas hipodensas na parede (33%), sendo estas o achado mais específico1. Há vários estudos publicados que revelaram alguns aspectos importantes. Durante um episódio de colecistite aguda pode-se observar na TC uma banda hipodensa em volta da vesícula com captação homogénea de contraste pela mucosa da vesícula. Quando o exame é repetido, após 2 semanas, verificou-se o desaparecimento da referida banda, mantendo-se a captação por parte da mucosa. Concluiuse que os achados característicos são mais aparentes na fase de colecistite aguda6. Tentou-se encontrar a correlação entre os achados na TC e os achados patológicos, tendo mostrado que as áreas hipodensas da parede vesicular correspondem a células inflamatórias e espumosas, mas também a áreas de necrose e abcessos1. A Figura 7 – Na ecografia observa-se um nódulo hipoecogénico bem definido, compatível com nódulo xantogranulomatoso TC diagnosticou erradamente CX com CVB em 25%2. Também se verificou que a presença de gânglios linfáticos aumentados não é valorizável visto que em 17% dos doentes com CX há linfadenopatia periportal4. Colangiografia percutânea trans-hepática, colangiopancreatografia retrógrada endoscópica e colangiopancreatografia por ressonância magnética são exames importantes para esclarecer o envolvimento do ducto hepático comum (figura 8)1,5. Em relação à ressonância magnética, existem poucos estudos sobre a sua utilidade diagnóstica. Também se tentou encontrar uma correlação entre os achados obtidos com este método complementar de diagnóstico e os achados patológicos. As áreas iso ou ligeiramente hiperintensas em T2 no estudo dinâmico com ligeiro aumento na fase inicial e aumento marcado na fase tardia correspondem a xantogranulomas. As áreas hiperintensas em T2 sem aumento da captação correlacionam-se com necrose e abcessos1. A citologia aspirativa com agulha fina guiada por ecografia é útil na diferenciação da CX com CVB com vista ao planeamento da intervenção cirúrgica. No entanto, a malignidade nem sempre pode ser excluída. Apesar de extremamente rara, a criação de uma fístula vesiculo-cutânea é um risco que deve ser ponderado. Com a citologia aspirativa pode-se identificar aspec45 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:41-46 tos característicos da fase inicial da CX, como histiócitos espumosos, células xantomatosas e células inflamatórias agudas, e outros de uma fase mais tardia e que são a reacção fibrosa intensa1,4,6,7. A tomografia por emissão de positrões tem uma utilidade incerta, havendo poucos estudos publicados e aqueles que existem têm um número reduzido de doentes5. O marcador tumoral CA19.9 não tem utilidade no diagnóstico diferencial entre a CX e CVB visto que pode estar elevado em ambas as situações5. TERAPÊUTICA O único tratamento definitivo para a CX é a cirurgia (colecistectomia). Durante a cirurgia, deve suspeitar-se de CX Figura 8 – Colangiografia que demonstra obstrução do ducto hepático comum com dilatação das vias biliares a montante. quando se verifica um marcado espessamento da parede da vesícula biliar (91%), com aderências fibrosas densas e extensas às estruturas vizinhas (88%) (figura 20). Mas, o exame extemporâneo é necessário para estabelecer o diagnóstico definitivo e excluir lesões neoplásicas1,2,4,5. É necessária a recessão completa das estruturas envolvidas pelo processo inflamatório devido à natureza inflamatória e invasiva da CX, quando há icterícia ou colangite, e é uma forma de prevenir complicações, como obstrução intestinal e perfuração de víscera oca. A exerese da vesicula pode incluir a recessão do leito da vesicular e a cauterização de tecido não excisado por perda dos planos de clivagem. Toda a cirurgia deve ser realizada sob visualização directa de forma a evitar lesões das vias biliares e órgãos vizinhos1,2,3,4. A colecistectomia laparoscópica apresenta dificuldades téc- nicas devido à fibrose e inflamação extensas. Verifica-se maior incidência de complicações, havendo a necessidade de conversão para via aberta numa percentagem muito superior à dos doentes sem CX (19% vs 1%). Também a possibilidade de coexistência de malignidade (adenocarcinoma) pode prejudicar esta técnica1. O factor mais importante da praticabilidade da colecistectomia laparoscópica não é a não visualização da vesícula, mas sim, a não visualização do ducto cístico na TC helicoidal após colangiografia intravenosa3. A visualização clara das estruturas anatómicas nos meios complementares de diagnóstico é essencial para se optar pela laparoscopia3. Um estudo por Jiang em 2007, realizado na China demonstrou que 65% da colecistectomias foram difíceis, 35% foram apenas parciais e a duração média foi de 148 minutos 2 . Quando permanecem estenoses após a colecistectomia a terapêutica endoscópica com colocação de stent mostrou-se segura e efectiva 4 . Pelo acima referido concluiu-se que a colecistectomia laparotómica é preferida em relação à via laparoscópica nos doentes com CX1. A morbilidade que se segue à colecistectomia é largamente relacionada com complicações pós-operatórias, que atingem 30-32%. Estas estão principalmente relacionadas com infecções da ferida operatória (mais em pacientes com fístula), infecções respiratórias e urinárias. Outras complicações incluem extravasamento de bílis, peritonite biliar, hemorragia, abcesso hepático, estenoses e colangite. Tudo isto acarreta uma hospitalização mais prolongada, assim como re-hospitalizações1,2,5,7. A mortalidade é infrequente, mas foi descrita no contexto de síndrome do choque tóxico devido a infecção da ferida operatória por Staphylococcus aureus1. BIBLIOGRAFIA 1.VARADARAJULU S, ZAKO SF. Xanthogranulomatous Cholecystitis. 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Keywords:Mechanical In-Exsufflation, Cough Assist, Intensive Care, Atelectasis. INTRODUÇÃO CASO CLÍNICO O internamento prolongado em cuidados intensivos fazse acompanhar de deterioração da condição física a vários níveis. Este fenómeno ocorre em resultado da restrição da atividade física, mesmo que por curtos períodos, sendo influenciado por fatores como a idade, o estado de saúde prévio, o motivo de internamento e a terapêutica administrada.1 Por vezes desenvolvem-se estados de fraqueza muscular generalizada associados ao desenvolvimento de neuropatias e miopatias durante o curso da doença critica. Estes estados podem mesmo conduzir à flacidez dos membros, diminuição dos reflexos extensores musculares, da proprioceção e do reflexo doloroso nas extremidades e fraqueza da musculatura da parede torácica. 2 Este enfraquecimento dos músculos torácicos associase a dificuldades no desmame da ventilação e aumento significativo da taxa de reintubação.3 As dificuldades na permeabilização das vias aéreas são também um problema importante, uma vez que a debilidade muscular compromete a capacidade de expelir secreções de forma eficaz. Neste contexto poderão ser benéficas técnicas manuais ou mecânicas que facilitem a eliminação dessas secreções. Doente do sexo masculino, 30 anos de idade, admitido na Unidade de Cuidados Intensivos (UCIP) por Insuficiência Respiratória Global, no contexto de Síndrome de Privação Alcoólica. Antecedentes pessoais de hábitos etanólicos acentuados desde a infância. À entrada na unidade foi sedado, entubado orotraquealmente e conectado a prótese ventilatória em Pressão Controlada. No internamento desenvolve quadro de Pneumonia Nosocomial, com abundantes secreções purulentas, febre, analiticamente com parâmetros infeciosos, e na Radiografia de Tórax, imagem compatível com condensação pneumónica bilateral. Instituída antibioterapia endovenosa, medicação e medidas de suporte, com melhoria clínica, radiológica e analítica, e extubação ao 18º dia; manteve abundantes secreções, que não expelia por falta de colaboração. No 20º dia apresentou quadro de atelectasia pulmonar esquerda (fig. 1), pelo que foi marcada broncofibroscopia e efectuada tosse assistida com o insuflador-exsuflador mecânico; no dia seguinte verificou-se regressão da atelectasia (fig. 2), não sendo necessária a realização de broncofibroscopia. Enfermeiro Especialista em Reabilitação, Unidade de Cuidados Intensivos do HAL Interna de Nefrologia no HAL *** Enfermeiro Chefe da Unidade de Cuidados Intensivos do HAL **** Diretor da Unidade de Cuidados Intensivos do HAL * ** 47 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:47-51 Fig. 1 – Atelectasia pulmonar esquerda Fig. 2 – Resolução pós tosse assistida DISCUSSÃO ao estreitamento da traqueia; 3. Fase expiratória, abertura da glote – devido à grande diferença de pressão entre as vias respiratórias e a atmosfera, e o estreitamento da traqueia, ocorre expulsão do volume de ar comprimido, com produção de elevados PCEF, e fluxos de ar rápidos pela traqueia, responsáveis pela mobilização das secreções e eliminação de corpos estranhos.4,7 Alterações no mecanismo do arco reflexo – disrupção das vias aferentes, disfunção dos músculos respiratórios ou disfunção bulbar – levam a um mecanismo da tosse ineficaz, com consequente retenção de secreções, maior susceptibilidade a infecções respiratórias, obstrução ao fluxo de ar com aumento do trabalho respiratório, diminuição da compliance pulmonar e consequentemente alterações na ventilação-perfusão e nas trocas gasosas.4,5,8 É o que ocorre nos doentes com patologia neuromuscular, em que qualquer uma das três fases pode estar alterada ou nos Bronquiticos crónicos e Enfisematosos, por redução do fluxo expiratório e aumento da viscosidade das secreções brônquicas.4,5 A clearance das vias aéreas é uma etapa essencial na abordagem dos pacientes ventilados, particularmente nos doentes neuromusculares.9 As estratégias existentes incluem o treino dos músculos respiratórios, o recrutamen- A tosse é dos mais importantes mecanismos de defesa das vias respiratórias, consistindo numa expiração explosiva, que permite a eliminação de secreções e corpos estranhos da árvore traqueobrônquica. 4 É um mecanismo reflexo que engloba receptores químicos e mecânicos, que após estimulação por corpos estranhos ou secreções brônquicas, enviam estímulos através de vias aferentes vagais para o centro da tosse na medula; as vias eferentes vagais completam o arco reflexo, enviando uma resposta motora através dos neurónios motores para os músculos inspiratórios e expiratórios, laringe e árvore traqueobrônquica.5 Está provada a maior eficácia da tosse com elevados volumes e débitos pulmonares, pelo que a capacidade de produzir um débito expiratório máximo da tosse (Peak Cough Expiratory Flow – PCEF) irá influenciar o seu resultado final. 6 Para isso, é necessário assegurar a integridade das suas três fases: 4,7 1. Fase inspiratória: inspiração profunda – dependente da força muscular inspiratória – com inalação de um volume de ar variável; 2. Fase compressiva: encerramento da glote, relaxamento do diafragma e compressão do volume de ar pulmonar pela força muscular expiratória gerada contra uma glote encerrada; a resultante pressão intratorácica positiva leva 48 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:47-51 to do volume pulmonar (air stacking), a tosse assistida manualmente e os dispositivos mecânicos para melhorar a clearance das secreções traqueo-brônquicas, como a Insuflação-Exsuflação Mecânica (IN-EX). 6,8 Enquanto as três primeiras requerem a participação do doente, a última está indicada para aqueles que, quer pela idade, falta de colaboração, ou por disfunção bulbar, são incapazes de cooperar.5 A IN-EX tem tido particular aplicação não só como adjuvante da clearance das vias aéreas, como também para adjuvar no desmame da ventilação mecânica e traqueostomia, estando os seus resultados demonstrados em diversos estudos.5,6 INSUFLAÇÃO-EXSUFLAÇÃO MECÂNICA O Cough Assist, ou in-exsuflador mecânico, é um aparelho não invasivo que, tal como o seu nome indica, promove uma insuflação seguida de uma exsuflação rápida. Esta rápida transição entre insuflação (pressão positiva) e exsuflação (pressão negativa) gera um fluxo expiratório elevado, que procura simular o processo de tosse, facilitando o movimento das secreções dos bronquíolos para as vias aéreas superiores e posterior eliminação, em doentes com tosse ineficaz.10 Na década de 50 foi criada uma primeira versão deste aparelho – Co-Flactor – muito útil na altura para o tratamento de doentes com Poliomielite. A partir da década de 70, com o desenvolvimento da ventilação invasiva, este aparelho foi progressivamente abandonado, uma vez que as secreções podiam ser aspiradas diretamente da traqueia dos doentes. Mais recentemente, com o desenvolvimento de novas técnicas de ventilação não invasiva, como resposta a algumas limitações e complicações da ventilação invasiva, o in-exsuflador voltou a ser procurado, levando ao lançamento do Cough Assist em 1993.5,6 Tal como diz Jonh Bach, grande impulsionador desta técnica desde a década de 50, as técnicas de vibração torácica, apesar de apresentarem um incontestável efeito na mobilização de secreções, não terão resultados práticos sem um fluxo de tosse eficiente que as elimine.11 É neste sentido que a IN-EX se apresenta como possível solução para a retenção de secreções em doentes com debilidade muscular. 6,11,12,13 Esta encontra-se presente em patologias neuromusculares como a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), a distrofia muscular Duchenne, a lesão medular cervical, entre outras, e é também relativamente frequente em doentes com internamentos prolongados em cuidados intensivos. Cerca de metade destes doentes, internados por mais de uma semana, apresenta perturbações neuromusculares associadas a fra- 49 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:47-51 queza muscular que, entre outras condicionantes, está associada a dificuldades no desmame da ventilação e extubação11. A fraqueza muscular associa-se geralmente a respiração superficial, com baixos volumes correntes, associados a uma capacidade vital pequena e uma tosse pouco eficaz, por redução da capacidade dos músculos inspiratórios e expiratórios. Sem conseguir grandes variações de volume corrente, com os normais suspiros, estes doentes desenvolvem atelectasias e pneumonias, que contribuem para o agravamento do quadro clínico, necessitando muitas vezes de entubação, ou reentubação traqueal e suporte ventilatório. Neste contexto, a Ventilação Não Invasiva (VNI) poderá contribuir para a reduzir a sobrecarga dos músculos respiratórios e gerar volumes correntes adequados, e a tosse assistida facilitará a eliminação de secreções, reduzindo o risco de incidência de atelectasias e pneumonias.15,16,17 Num estudo desenvolvido por Winck e colaboradores, a propósito da IN-EX em doentes neuromusculares e obstrutivos, ambos com dificuldade na eliminação de secreções e dessaturação associada, foi demonstrado, para além de uma boa tolerância à técnica, aumento do Peak Cough Flow (PCF) e na oxigenação no grupo de doentes neuromusculares. No grupo de doentes obstrutivos verificou-se também uma melhoria na oxigenação, bem como da dispneia, sem alterações nos parâmetros ventilatórios. Os autores sugerem que a IN-EX possa ser um complemento à VNI, ajudando a evitar complicações associadas à retenção de secreções, inclusive em situações de desmame ventilatório e exacerbações de DPOC com excesso de secreções.13 Em adição aos demonstrados benefícios em situações crónicas, começam a surgir na literatura relatos de casos bem sucedidos da aplicação desta técnica na resolução de situações de insuficiência respiratória aguda subjacente a atelectasias e pneumonias. Nestes casos a IN-EX para além de contribuir para a remoção das secreções promove também a expansão e o recrutamento alveolar. À medida que a experiência com IN-EX aumenta, reduz-se a necessidade de realizar boncoscopias para resolver atelectasias.18 Quando comparada com outras técnicas de eliminação de secreções, como a aspiração traqueal, a in-exuflação proporcionada pelo Cough Assist aplica para além de uma pressão positiva inicial (que na aspiração pode ser substituída por uma insuflação prévia, utilizando um insuflador manual) uma pressão final negativa em toda a via aérea, central e periférica, ao passo que a aspiração se restringe a uma área localizada (raramente alcança o brônquio esquerdo). Para muitos autores, a IN-EX constitui a recreação mais próxima da tosse natural, e a sua utilização tem contribuído positivamente no desmame de doentes neuromusculares, iniciando-se a técnica ainda com o doente entubado, pelo tubo endotraqueal ou cânula de traqueotomia, e mantendo-a após a extubação, através de uma máscara oro-nasal.15,19. Segundo um estudo realizado, em Espanha, com doentes portadores de ELA, a IN-EX não só é mais eficaz que a aspiração convencional direta na eliminação de secre- 50 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:47-51 ções e no aumento da SpO2, como também é mais confortável e melhor tolerada, inclusive em doentes traqueostomizados.19 A utilização desta técnica em combinação com outras manobras torácicas não invasivas de mobilização de secreções consegue reduzir bastante, ou em muitos casos evitar, as aspirações traqueais, reduzindo ou evitando também todo um conjunto de traumas físicos e psicológicos que lhe estão associados.20 Este estudo faz também referência ao facto de 80% das pneumonias, neste tipo de doentes, acontecer no pulmão esquerdo, que raramente é “aspirado” com a técnica de aspiração por sonda. APLICAÇÃO PRÁTICA O Cough Assist apesar de ser um aparelho relativamente simples de utilizar é passível de uma série de ajustes e programações, que não sendo as corretas podem colocar o doente numa situação desconfortável. Vejamos quais os parâmetros passíveis de ajuste e as recomendações encontradas na literatura: - Modo manual / automático – No modo manual, é o operador que manualmente controla a duração da insuflação, da exsuflação e da pausa, este modo permite uma melhor sincronização com a insuflação e a tosse do doente; no modo automático, o aparelho administra ciclos de insuflação / exsuflação / pausa, de acordo com os tempos programados;21 - Tempos de insuflação, exsuflação e pausa – Função só está ativa no em modo automático – Nos diversos estudos consultados foram utilizados diferentes tempos, como 2, 3, 1 segundos, ou 3, 4, 4 segundos, ou ainda uma insuflação de 3 segundos e uma exsuflação de 2 segundos. Sublinhamos que o objetivo será procurar a melhor sincronia com doente e conseguir a máxima insuflação seguida da máxima exsuflação;6,11,19 - Pressões inspiratória e expiratória – As pressões a aplicar vão de 0 a 60 cm de H2O. O recomendado é que seja feito uma aumento progressivo das pressões, para adaptação do doente, até um valor ótimo de +/- 40 cm de H2O. Casos de elevada resistência das vias aéreas ou redução da compliance pulmonar podem beneficiar de pressões mais elevadas (+/- 60 cm de H2O).5,6,21 Winck e Gonçalves sugerem o seguinte esquema de progressão: 6 ciclos a 15 cm H2O, 6 ciclos a 30 cm de H2O e 6 ciclos a 40 cm de H2O; 6 - Fluxo – É possível optar por alto ou baixo fluxo. Em adultos, geralmente a opção recai na modalidade de alto fluxo, sendo o baixo fluxo mais vocacionado para crianças e para doentes com instabilidade nas vias aéreas superiores. Quando utilizado o modo de baixo fluxo, o operador deve assegurar-se de que usou um tempo inalatório adequado à completa expansão torácica. A técnica pode ser combinada com técnicas manuais de cinesioterapia, nomeadamente a drenagem postural, as REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:47-51 percussões, as vibrações e a tosse assistida, para aumentar a sua eficácia. Em casos de dificuldade na remoção das secreções é recomendável a realização de nebulizações antes da aplicação da tosse assistida. BIBLIOGRAFIA 1. MOFFAT, F; JONES, M - Physiotherapy in intensiva care. In BERSTEN, A; NEIL, S - Oh’s Intensive Care Manual. 6ª ed. [s.l.] : Elsevier, 2009. ISBN 978-0-7020-3096-3. p. 43-51 2. ANTONIAZZI, P; FERRAZ, F - Polineuromiopatia do doente crítico. Prática Hospitalar. ISSN 1679-5512. 57 (2008), p. 126-128 3. CANINEU, R et al. - Polineuropatia do doente crítico: um diagnóstico comum em medicina intensiva? Revista Brasileira de Terapia Intensiva. ISSN 0103-507X. 18:3 (2006), p. 307-310 4. 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The treatment consisted in enucleation of a dentigerous cyst and subsequent reconstruction with a non vascularized bone graft, harvested from the iliac INTRODUCTION Ameloblastoma is an odontogenic tumor of epithelial origin that has received considerable attention due to its frequency, clinical subtypes and high tendency to infiltrate and recur.1 It is the most common odontogenic neoplasm affecting the jaws, and it accounts for 11% of all odontogenic tumors. It is an aggressive benign tumor that may originate from enamel organ, remnants of dental lamina, epithelial lining of an odontogenic cyst, or basal epithelial cells of the oral mucosa.1 It often presents as a slow growing, painless swelling, causing expansion of the cortical bone, perforation of the lingual and/or buccal plates and infiltration of soft tissue.2 The clinicopathological features are benign with a slow-growing pattern, but locally invasive. The clinical behaviour may be regarded as lying somewhere between benign and malignant, and the high recurrence is a problem for clinicians3. They may show various biologic behaviours, ranging from cystic expansion to more aggressive infiltration of adjacent tissue4. The classification of ameloblastoma in the past was poorly defined.5 Ameloblastomas have been categorized broadly into three biologic variants: cystic (unicystic), solid, and peripheral.6 This classification has a direct bearing on the pathologic behaviour of these variants.5 The literature indicates that the cystic variant is biologically less aggressive and has a better response to enucleation or curettage than the solid ameloblastomas.6 The most common histologic subtypes of ameloblastomas are follicular, plexiform, acanthomatous, granular and desmoplastic3,7 Hong et al 3 recently showed that the histopathology of an 1 2 3 crest, with good morphologic and functional results. The final diagnosis was done by pathology. This paper reports an unicystic plexiform ameloblastoma of the left body of the mandible. Key-words: Unicystic plexiform ameloblastoma; Iliac crest; Mandibular reconstruction ameloblastoma is significantly associated with a recurrence. It was shown that the follicular, granular cell and acanthomatous types have a relatively high likelihood of recurrence3. In contrast, the desmoplastic, plexiform and unicystic types show a relatively low potential for recurrence.3 CASE REPORT Male patient, 52 years old, presented to our, Unit, complaining of an asymptomatic swelling in the left submandibular region, for about nine months. No relevant personal history was reported. The images provided by panoramic radiography and computed tomography (CT) showed an unilocular radiolucent cyst, circumscribed by a radiopaque halo, located in the left body of the mandible. The selected treatment planning was enucleation and reconstruction with non- vascularized iliac bone graft, and osteosynthesis by plate and screws. Histopathological examination confirmed an unicystic plexiform ameloblastoma with 4cm x 2cm x 1.5 cm in diameter, without infiltration of the cyst capsule thickness. The postoperative period went without complications, with good aesthetic and functional final results. At 1.6 years follow up, there are no signs of recurrence. DISCUSSION Surgical treatment is considered the best choice. There has been some debate about the most appropriate method for surgical removal.1 Unicystic ameloblastoma, first described in 1977,7 have been considered a special type of ameloblastomas. The Médica Dentista, Assistente de Clínica Cirurgica Periodontal - Instituto Superior Ciências Saúde Norte e Centro - Hospital Vila Nova de Gaia Médica Dentista - Clínica Lordente Cirurgia Plástica e Maxilofacial Reconstrutiva do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia 52 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:52-54 relatively younger age at occurrence, the unilocular radiographic appearance, the macroscopically cystic nature, and, most importantly, the better response to conservative treatment, make it a distinguishable entity.1 On the basis of histologic features, some investigators have classified the unicystic ameloblastomas into three subtypes with prognostic and therapeutic significance.8 The unicystic tumors, which show invasive islands of ameloblastomatous epithelium in the fibrous capsule, may have a greater tendency to recur. Various treatment modalities were used for the treatment of unicystic ameloblastoma, such as segmental or marginal resection; however, more conservative treatments were reported frequently. 1,9 The types of surgical treatment include radical or conservative excision.10 In the radical surgical exicision, the bone is resected with a 1 to 2 centimeters safety margin of macroscopically healthy bone. In the conservative excision, the tumor is removed without safety margin by enucleation . In radical surgery, are included marginal and segmental resections. In conservative surgery are included enucleation, curettage and curettage followed by cryotherapy with liquid nitrogen; cryosurgery acts as a complementary therapeutic modality, causing cell death in the treated area.11 The simple enucleation and curettage have shown a larger number of recurrences, than marginal and Segmental resections.11 The hemimandibulectomy is the treatment option in advanced cases of ameloblastoma particulary when there is involvement of the base of the mandible and the condylar process.11,12 Radiotherapy has little use in the treatment of ameloblastomas since this tumor is radioresistant, apart from ofter disadvantages like osteoradionecrosis and malignant transformation. However, radiotherapy may be useful in the treatment of inoperable cases, because of the extensive invasion of neighboring structures, like the skull base, particularly in tumours located in the posterior upper jaw.11 Fig 1 - Intraoral aspect of the cystic lesion with deformation of the external cortex of the mandible Fig 2 - OPT shoving cystic lesion, located in the chin and left body of mandible, between 3.6 and 4.2 teeth CONCLUSION This article highlights some recent concepts about unicystic plexiform ameloblastoma, based on a case report. The tumor has a high rate of a local recurrence if it is not adequately removed. This entity should always be in the clinicians mind where the diagnosis is: cystic lesions of the jaws. REFERENCES 1- Covani U, Barone A. Piezosurgical Treatment of Unicystic Ameloblastoma. J Periodontol 2007 vol 78, nº7. 2- Adeyeme WL, Bamgbose BO, Ladeinde AL, Ogunlewe MO. Surgical management of ameloblastomas: conservative or radical approach? 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J Oral Pathol 1988; 17:541-546. 9- Lau SL, Samman N. Recurrence related to treatment modalities of unicystic ameloblastoma: A systematic review. Int. J oral Maxillofac Surg 2006; 35:681-690. 10- Bataineh AB, Jordan I. Effect of preservation of the inferior and posterior borders on recurrence of ameloblastomas of the mandible. Oral surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2000; 90:155-63. 11- Costa H. Free Flaps for Mandible reconstrution . Doctoral Thesis, University of Porto, December 1995 12- Costa H. Mandible de Reconstruction- Algorithm For Flap Selection. Proceedings Ipras Congress, New Delli, India, Novembro 2009 13- Vayvada, H; Mola, F; Menderes, A, Yilmaz, M. Surgical Management of Ameloblastoma in the Mandible: Segmental Mandibulectomy and Immediate Reconstrution with Free Fibula or Deep Circumflex Iliac Artery Flap (Evaluation of the Long –Term Esthetic and Functional Results). J Oral Maxilofac Surg 64:1532-1539, 2006. 53 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:52-54 Fig 3 - CAT scan showing the extent of bone involvement Fig 4 - Per- operative aspect of the surgical specimen, including the 8 involved teeth Fig 5 - Mandible reconstruction with non-vascularized iliac bone grafts and osteosynthesis by plate and screws Fig 6 - Histology - showing ameloblastic cells clusters in the cystic wall, protruding into the lumen Fig 7 - Intraoral post-operative result after 1,6 years 54 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:52-54 PNEUMATOSIS COLI: ASPECTOS ENDOSCÓPICOS E ALGUNS ACHADOS ULTRASSONOGRÁFICOS Pneumatosis coli: endoscopic aspects and some ultrasound findings Antonieta SANTOS1, Helena RIBEIRO1, João PINTO1, Cátia LEITÃO1, Bruno PEREIRA1, Ana CALDEIRA2, Eduardo PEREIRA3, Rui SOUSA3, José TRISTAN3, António BANHUDO4 Apresentam-se dois casos clínicos de Pneumatosis coli suportados por iconografia. O primeiro é o de uma doente do sexo feminino, com 50 anos, sem antecedentes patológicos relevantes, referenciada à consulta de Gastrenterologia por queixas de desconforto abdominal inespecífico, persistente e rectorragias esporádicas. Iniciou o estudo complementar através da realização de ultrassonografia abdominal que evidenciou, na espessura da parede cólica múltiplas interfaces ecogénicas em provável relação com espaços gasosos (Imagens 1 e 2). Imagem 1 e 2 - Achados ultrassonográficos Na colonoscopia observaram-se entre os 50 e os 80 cm da margem anal, múltiplas formações pseudopolipóides de aspecto quístico, com cerca de 1cm, moles ao toque da pinça de biópsia, aspectos compatíveis com Pneumatosis coli (Imagens 3 e 4). Imagem 3 e 4 - Aspectos endoscópicos Interno Complementar de Gastrenterologia Assistente Hospitalar de Gastrenterologia 3 Assistente Graduado de Gastrenterologia 4 Director do Serviço de Gastrenterologia Serviço de Gastrenterologia, Hospital Amato Lusitano, ULS Castelo Branco 1 2 55 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:55-57 O segundo, refere-se a uma doente do sexo feminino, com 70 anos e antecedentes de colecistectomia laparoscópica, hernioplastia incisional ventral, histerectomia total, anexectomia bilateral, fistulectomia anal e hemorroidectomia que realizou colonoscopia por rectorragias esporádicas, verificando-se achados endoscópicos sobreponíveis aos do caso anterior (Imagens 5 e 6). IImagem 5 e 6 - Aspectos endoscópicos Puncionaram-se algumas das formações nodulares de aspecto translúcido, sugestivo da presença de ar na submucosa, constatando-se o seu esvaziamento, o que confirmou o diagnóstico (Imagens 7 e 8). Imagem 7 e 8 - Aspectos endoscópicos após punção 56 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:55-57 Relativamente à primeira doente não se identificaram factores risco para Pneumatosis coli, inferindo-se a sua provável etiologia idiopática. No segundo caso, a etiologia estará em provável relação com os múltiplos antecedentes cirúrgicos da doente. COMENTÁRIOS A Pneumatosis coli é uma entidade clínica rara, que se caracteriza pela presença de múltiplas formações de conteúdo gasoso a nível da submucosa ou subserosa da parede do cólon. Classifica-se em idiopática (15%) ou secundária (85%). Admite-se, na forma secundária, uma relação causal com doença pulmonar obstrutiva crónica, conectivites, amiloidose, colites infecciosas, oclusão intestinal, isquémia, Doença de Crohn, fármacos ou iatrogenia cirúrgica / endoscópica. Nos adultos é mais frequente entre a 5ª e 8ª década de vida. Genericamente é uma doença benigna e assintomática, constituindo um achado endoscópico. O espectro de manifestações clínicas pode compreender dor abdominal, obstipação, oclusão intestinal, diarreia, tenesmo, falsas vontades e hemorragia digestiva. Dado que até 50% dos casos regride espontaneamente, muitas vezes opta-se por uma conduta expectante. Os casos descritos, ilustram, assim, um diagnóstico raro, documentado por aspectos ultrassonográficos e endoscópicos característicos. 57 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:55-57 58 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 EDITORIAL 59 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 POSTERS TUBERCULOSE PULMONAR – UMA DOENÇA AINDA ACTUAL Cátia Leitão, Daniela Franco, Elena Pirtac, Cecilia Moreno, João Freixo Serviço de Medicina Interna, ULSCB, EPE Introdução: A tuberculose, uma das doenças mais antigas que acomete o ser humano, constitui importante causa de morte em todo o mundo. Esta entidade nosológica é provocada pelo bacilo ácido álcool-resistente (BARR), Mycobacterium tuberculosis, podendo apresentar-se como infecção pulmonar localizada ou ter distribuição sistémica. A conjugação dos dados clínicos, laboratoriais e imagiológicos com a suspeição epidemiológica constitui a sua abordagem diagnóstica. É fundamental a brevidade no diagnóstico diferencial com outras entidades infecciosas e não infecciosas com intuito de iniciar terapêutica adequada e minimizar os riscos de transmissão. Segundo a Organização Mundial de Saúde a sua incidência tem diminuído na última década. Em Portugal, a incidência desta patologia é elevada com 21 casos por cada 100000 habitantes. Analisando retrospectivamente na Unidade Local de Saúde de Castelo Branco, constatou-se uma duplicação do número de casos diagnosticados nos últimos 3 anos (passando de aproximadamente 1 a 2 casos para 4 a 6 por ano) em relação aos anos anteriores. Caso clínico: Doente do sexo masculino, de 31 anos, com antecedentes de perfuração de úlcera gástrica operada há 1 ano, alcoolismo em abstinência há 1 ano e tabagismo activo marcado (30UMA), recorreu ao SU por quadro clínico caracterizado por tosse produtiva com expectoração muco-purulenta há aproximadamente 4 meses acompanhado de dispneia, com agravamento nos últimos dias. Negou febre, astenia, anorexia, hemoptises ou outros sin- tomas como dor torácica ou sudorese noturna. Negou consumo de drogas ou alergias conhecidas. Calceteiro de profissão. Analiticamente de destacar leucocitose com neutrofilia e PCR elevada. A radiografia torácica evidenciou infiltrado nodular bilateral nos ápices com nível hidroáereo, tendo ficado internado para esclarecimento etiológico. Do estudo efectuado de salientar serologias para VIH negativas, culturas da expectoração positiva para BAAR e coloração Ziehl-Neelsen positiva. A tomografia computadorizada torácica identificou imagens quísticas aéreas com parede espessa e irregular e conteúdo gasoso, nos lobos superiores em ambos os pulmões traduzindo cavidades, aspectos concordantes com a suspeita clínica de tuberculose pulmonar. O doente ficou internado em isolamento respiratório, com antibioticoterapia quádrupla preconizada. Verificou-se melhoria clínica, analítica e imagiológica e desaparecimento de BAAR nas culturas da expectoração ao 26º dia de internamento. Não se registaram reacções adversas à terapêutica instituída; Foi encaminhado para o Serviço de Luta Anti-tuberculosa (SLAT) para seguimento e continuação do tratamento. Conclusão: O objectivo deste caso clínico foi não só alertar para a infecção por Mycobacterium tuberculosis como entidade nosológica ainda presente nos nossos dias e em crescente incidência na nossa Unidade Local de Saúde como enfatizar a importância deste diagnóstico inserido no devido contexto socio-epidemiológico. HIPERIDROSE – QUANDO A SUDORESE É UM PROBLEMA Filipa Candeias Santos UCSP 3 – S. Miguel Cuidar, ULSCB, EPE Enquadramento: A Hiperidrose, condição caracterizada por sudorese excessiva da requerida para a homeostasia térmica, pode afetar todo o corpo (generalizada) ou uma área localizada (focal). Esta pode ser primária (ou idiopática) e secundária, exercendo grande impacto na qualidade de vida do doente. O objetivo deste poster é reportar um caso de Hiperidrose Primária Focal, mostrando as suas consequências nas relações sócio-profissionais e a importância de uma correta abordagem por parte do Médico de Família. 60 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 Contexto do caso: Mulher de 23 anos, caucasiana, enfermeira veterinária, parte de uma família nuclear funcional na primeira fase do ciclo de Duvall, recorreu à consulta por sudorese excessiva nas palmas das mãos. Reportou queixas desde a infância, sobretudo em condições de stress e temperaturas elevadas; negou o envolvimento de outras áreas do corpo ou outros sintomas como suores ncturnos. A história familiar é irrelevante. Quando questionada acerca da severidade dos sintomas, através da Hyperhidrosis Disease Severity Scale, respondeu 3 em 4 respostas possíveis, indicando doença severa, pouco tolerada e que interfere frequentemente nas atividades de vida diárias. Ao longo do tempo a sua capacidade para lidar com este problema não melhorou. No exame objetivo apresentava sudorese das palmas e ligeira maceração da pele. Análises laboratoriais requeridas sem alterações, excluíram causas secundárias. Após o diagnóstico a doente recusou cirurgia e optou por uma terapêutica alternativa (acupunctura), uma vez já ter feito um tratamento prévio com agentes tópicos sem resultados. Até ao momento iniciou sessões de acupunctura, ainda sem melhoria da sintomatologia. Discussão: Este caso demonstra o impacto que este distúrbio tem nas atividades diárias do doente e as suas marcadas consequências psicossociais. Ilustra também a importância do Médico de Família na correta gestão destes casos, dada a dificuldade na obtenção de resultados terapêuticos satisfatórios, lidando com as expectativas do doente. PARALISIA ISOLADA COMPLETA DO NERVO OCULOMOTOR Elena Pirtac, Daniela Franco, Cátia Leitão, Nulita Lourenço, Paulo Costa, João Freixo Serviço de Medicina Interna, ULSCB, EPE Introdução: Paralisia isolada completa do nervo oculomotor resulta em exotropia (desvio externo do olho e inabilidade para aduzir), diplopia e ptose palpebral, midríase dolorosa. Em adultos, as principais causas de lesão isolada do III são: isquemia, 19 - 49 %; aneurisma vascular, 20 - 30 %; trauma, 11 - 15 %; neoplasia, 4 - 18%. A de origem isquêmica ocorre mais comumente nos pacientes idosos, frequentemente associada a diabetes mellitus, hipertensão arterial e arteriosclerose. Já os aneurismas acometem em geral pacientes mais novos, sendo na grande maioria originários da artéria comunicante posterior. A evolução mais frequente neste tipo de patologia é a regressão espontânea ou a correcção cirúrgica. Caso clínico: M.M, sexo masculino, 86 anos de idade, com antecedentes pessoais de hipertensão arterial, obesidade e hábitos alcoólicos marcados. Trazido ao SU por prostração após ter sido encontrado caído no domicílio com traumatismo craniano. Referia ainda fotofobia acentuada. Objectivamente: Corado, hidratado, eupneico sem sinais de dificuldade respiratória com boas saturações periféricas, hipertenso, prostrado, reactivo a estimulação dolorosa, discurso verbal e resposta motora mantidas. Conjuntivite exsudativa bilateral, ptose palpebral bilateral, midriase a direita, não reactiva. Sem sinais meningeos. Auscultação pulmonar com murmúrio vesicular diminuído globalmente sem ruídos adventícios. Auscultação cardíaca de referir apenas taquiarritmia. A telerradiografia do tórax mostrava um reforço retículointersticial bilaterale o electrocardiograma revelou fibrilho-flutter. Ecocardiograma evidenciava alargamento moderado da aurícula esquerda. Válvula mitral fibrosada com área funcional de 4 cm. Hipertrofia das paredes do ventrículo esquerdo e função comprometida. A tomografia crânioencefalica evidenciava múltiplas hipodensidades periventriculares, com extensão aos centros semiovais, em relação com lesões vasculares de natureza microangiopática. Lacunas vasculares talâmicas e lenticulares bilateralmente, bem como pôntica paramediana direita. Angiotomografia das artérias cerebrais mostrou calcificações ateromatosas dos bulbos carótideos, sem estenoses hemodinamicamente significativas associadas. Tortuosidade do trajecto distal das carótidas internas. Medicado com cloranfenicol por conjuntivite bilateral com melhoria do processo inflamatório mantendo fotofobia, ptose palpebral e estrabismo divergente bilateral. Por suspeita da paralisia do nervo oculomotor foi avaliado pela oftalmologia que confirma o diagnostico e inicia o tratamento com Vidisic gel. Discussão: As lesões do oculomotor podem ocorrer em diferentes pontos de seu trajeto. O espectro de doenças que podem envolvê-lo é bastante amplo e o diagnóstico diferencial depende da idade e do quadro clínico, que com frequência e bastante inespecífico. Os métodos de imagem são, portanto, peça indispensável na avaliação destes pacientes, contribuindo de forma decisiva no diagnóstico e planeamento da conduta. 61 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 PÉ DIABÉTICO – UM PASSO DE SUCESSO Vanessa Bettencourt, Ana Nunes Vieira, Pedro Silva Vaz, Horácio Perez, Aida Paulino, Arnandina Loureiro Serviço de Cirurgia Geral, ULSCB, EPE Introdução: Define-se como Pé diabético: “Alteração clínica de base etiopatogénica, a neuropatia, induzida pela hiperglicemia mantida que, pode ou não estar associada a isquémia ou a desencadeante traumático prévio, e que em última instância, produz lesão e/ou ulceração do pé”. É uma das complicações mais graves da Diabetes, sendo um dos principais motivos de internamento e um importante problema de saúde pública. Estima-se que é responsável por 40 a 60% das amputações de causa não traumática. Actualmente, a terapia de pressão negativa, tem sido uma ferramenta fundamental no auxílio da cicatrização de feridas complexas e infectadas que caracterizam geralmente o Pé Diabético. Caso Clínico:Homem de 55 anos, recorreu ao SU por apresentar infecção com edema, deformação, áreas de gangrena e necrose, descarga purulenta e cheiro fétido a nível do hállux direito. Segundo o doente o quadro iniciou-se por um pequena úlcera na face posterior do hállux com agravamento em 10 dias. Trata-se de um doente com antecedentes pessoais de Diabetes Mellitus não insulino-tratado, medicado em ambulatório com Zomarist e Tromalyt e com um mau controlo glicémico. Nesse contexto, é internado no serviço de cirurgia geral com o diagnóstico de Pé Diabético. Assumiu-se como opção terapêutica antibioterapia EV dupla com Ertapenem e Linezolide e subsequente desarticulação do hallux. No pós-operatório imediato optou-se por cuidados de penso com sistema de pressão negativa. Ao 27º dia de internamento por evolução clínica e cicatricial favorável o doente teve alta para o domicílio com sistema de pressão negativa portátil disponibilizado pelo serviço de cirurgia. Realizou na totalidade 56 dias de Vácuoterapia com excelentes resultados cicatriciais e redução substancial da ferida operatória. O Doente mantem seguimento pela consulta de Pé diabético do HAL. Comentários: Os autores pretendem com este trabalho, salientar as vantagens da Vacuoterapia, pela capacidade de acelerar o processo de cicatrização e controlar a propagação da infecção em feridas complexas. Com este sistema proporcionamos ao doente uma melhor qualidade de vida e redução do tempo de internamento. DIVERTÍCULO DUODENAL HEMORRÁGICO. CASO CLÍNICO. Sergiu Usurelu, Vanessa Bettencourt, Ana Nunes Vieira, Gina Melo, Luís Silveira, Arnandina Loureiro Serviço de Cirurgia Geral, ULSCB, EPE Introdução: Os divertículos duodenais são lesões adquiridas formados por protrusão da mucosa e submucosa através de um defeito na camada muscular da parede duodenal. Depois do cólon, o duodeno é o local mais comum de formação de divertículos. A incidência dos divertículos em séries de autópsias varia entre 6 e 22% e é de 5% nos exames radiográficos do trato gastrointestinal. São raros antes dos 30 anos de idade e a incidência aumenta com a idade. Objectivo: Apresentar um caso clínico de Divertículo Duodenal Hemorrágico. Caso Clínico: Doente do sexo masculino, 78 anos, recorre ao SU por dor abdominal nos quadrantes direitos, vómitos e hematemeses com cerca de 7 horas de evolução. EDA: 10.01.2012-volumoso divertículo duodenal com bezoar no seu interior; várias tentativas de extração sem sucesso. TAC abdominal: divertículo duodenal com 61x50 mm. Durante o internamento o doente apresentou hemorragia digestiva alta, tendo origem no divertículo duodenal. Feita EDA com tentativas de hemóstase endoscópica sem sucesso. O doente foi intervencionado de urgência e intraoperatoriamente identificou-se divertículo duodenal sangrante com bezoar intraluminal. Foi efectuada remoção de bezoar e injecção de esclerosante. Ao 4º dia pós-operatório apresentou recidiva de hemorragia não controlável por endoscopia. Submetido a nova cirurgia sendo efectuado diverticulectomia. Sem complicações no pós-operatório. Teve alta no 20º dia pós-operatório. Conclusão: A maioria dos divertículos são extraluminais e localizados na segunda porção do duodeno. Mais de 90%são assintomáticos e só em 10% dos casos apresentam sintomas. O tratamento cirúrgico está indicado em casos de complicações do divertículo; perfuração, hemorragia, obstrução ou fístula. 62 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 TRAUMATISMO ABDOMINAL PENETRANTE. E AGORA? Sara Correia, Aida Paulino, Pires Robalo, Gina Melo, Arnandina Loureiro Serviço de Cirurgia Geral ULSCB, EPE Introdução: A causa mais frequente de traumatismo abdominal penetrante (T.A.P.) são as lesões provocadas por arma de fogo (64%) seguindo-se os ferimentos por arma branca (31%). O T.A.P. é mais frequente no sexo masculino. Os orgãos habitualmente lesados neste tipo de traumatismo são: o fígado (40%), o intestino delgado (30%), diafragma (15%) e o cólon (15%). A abordagem do T.A.P. tem evoluído muito ao longo dos anos, anteriormente era tratado de forma expectante e era fatal na maioria dos casos. A introdução de modernos exames complementares, como a TC, FAST e Laparoscopia contribuíram para diminuir a mortalidade. O FAST ganhou preponderância na avaliação do T.A.P por ser um método rápido, acessível, não invasivo e reprodutível. As feridas da parede abdominal anterior podem ser exploradas localmente, de forma a determinar a integridade do peritoneu. Relativamente a feridas do flanco e dorso, a TC é o exame de escolha. A cirurgia está indicada no caso de instabilidade hemodinâmica, reacção peritoneal e evisceração. Na cirurgia é essencial o controlo do foco hemorrágico, a identificação de lesões, o controlo da con- taminação e a reconstrução se possível. Caso Clínico: Doente do sexo feminino 69 anos trazida ao S.U. pela V.M.E.R . Foi encontrada em casa com ferimentos penetrantes da parede abdominal, provavelmente auto inflingidos por arma branca. Dos antecedentes, a realçar doença psiquiátrica com várias tentativas de suicídio. À entrada a doente encontrava-se hemodinamicamente estável, com vários ferimentos penetrantes da parede abdominal e na linha média com exteriorização de intestino delgado. Realizada na sala de emergência FAST em que não se observou líquido livre. Procedeu-se a laparotomia com exploração da cavidade, tendo constatado-se laceração do mesentério, sem lesão visceral. Submetida a rafia do mesentério e sutura da parede abdominal. Pós operatório decorreu sem intercorrências, tendo o apoio da Psiquiatria com ajuste da medicação. Comentários: Os autores pretendem apresentar um caso clínico de traumatismo abdominal penetrante e uma das abordagens que se pode adoptar nessas situações. TUMOR DE KRUKENBERG Sara Correia, Pedro Silva Vaz, Gina Melo, Arnandina Loureiro Serviço de Cirurgia Geral ULSCB, EPE Introdução: Friedrich E. Krukenberg descreveu esta entidade em 1895, como sendo um tumor bilateral do ovário e diferenciou-o dos tumores quísticos, pensando que se tratava de um sarcoma. É uma metástese do tracto gastro intestinal, constituindo cerca de 1-2% de todos os tumores do ovário. É raro na menopausa. A maioria dos casos é de origem gástrica, cerca de 70%. Por vezes o tumor gástrico é de pequenas dimensões e permanece por diagnosticar muitos anos após a ooforectomia. O tumor primitivo só é diagnosticado em 50% dos casos. Os sintomas são inespecíficos. A evolução clínica é caracterizada por um crescimento rápido, processo que é habitualmente bilateral e é acompanhado de ascite. O diagnóstico precoce e tratamento é a única esperança. Apresenta um mau prognóstico, com uma baixa sobrevivência ao ano. Caso Clínico: Doente do sexo feminino 74 anos, internada por quadro de astenia, emagrecimento, vómitos e distensão abdominal com uma evolução de 4 meses. Foi realizada ecografia que evidenciou aumento das di- mensões anexiais e imagens sugestivas de implantes peritoneais. A TC mostrou exuberantes massas anexiais de tipo misto, atingindo cerca 16x13 cm a direita e 12.5x7cm a esquerda (sendo o componente sólido mais expressivo do lado esquerdo), coexistindo volumosa ascite associada a carcinomatose. Os marcadores tumorais foram os seguintes CEA 6.96, CA 19.9-91.78, AFP 2, CA 125-331.6. Foi submetida a laparotomia, tendo-se realizado anexectomia bilateral e biópsia de implantes peritoneais e do grande epiploon. A anatomia patológica revelou metastização ovárica bilateral e adenocarcinoma bem diferenciado cujas características morfológicas e imuno histoquimicas apontam como primeira hipótese para tumor primário colo rectal. Realizou EDA que revelou úlcera com 9mm de fundo branco na face anterior do antro, sem estigmas de hemorragia recente. A colonoscopia não evidenciou lesões no cego, cólon ascendente, transverso, descendente, sigma e recto. Doente veio a falecer 3meses após a cirurgia. Comentários finais: O tumor de Krukenberg é uma 63 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 entidade rara, constituindo cerca 1-2% dos tumores do ovário. O caso clínico apresentado é ainda mais raro, por se tratar de uma doente com 74 anos. A maioria dos casos é de origem gástrica, o que não se aplica a esta situação. O tumor primitivo permaneceu por diagnosticar, o que se verifica em 50% dos casos. Reforçar que o diagnóstico precoce e tratamento é a única esperança. Apresenta um mau prognóstico, infelizmente neste caso a doente faleceu no 3ºmês pós operatório. TUMOR CUNICALATUM Sara Correia, Sergiu Usurelu, Horácio Perez, Gina Melo, Arnandina Loureiro Serviço de Cirurgia Geral ULSCB, EPE Introdução: O carcinoma cuniculatum, também conhecido como carcinoma verrucoso é um tumor exoendofítico de baixo grau. É um tumor raro altamente queratinizante, localmente agressivo e que raramente metastiza. Tem um crescimento indolente e o aspecto hiperqueratósico deve levar a suspeitar deste tipo de tumor. Além da localização no pé, pode também encontrar-se na cavidade oral e anogenital. Tipicamente ocorre no sexo masculino entre a 4ª e 6ª década. Tem que se estabelecer o diagnóstico diferencial com verruga plantar, melanoma amelonocitico e queratoacantoma. O tratamento é cirúrgico. Está associado a uma baixa taxa de recorrência. Caso Clínico: Doente do sexo feminino 67 anos enviada à consulta de Cirurgia por lesão exofitica do 1º espaço interdigital do pé esquerdo. Doente referia aparecimento de lesão há cerca de 4meses, com crescimento progressivo. Foi submetida a exérese alargada da lesão com desarticulação do 1º dedo do pé esquerdo. Assistiu-se a uma boa evolução pós operatória, sem intercorrências. Doente a ser acompanhada em consulta de Cirurgia, sem evidência de recidiva BOOM FESTIVAL 2012 – VIGILÂNCIA EPIDEMIOLOGIA Carvalho MS, Baptista AF, Ladeira A, Mateus MJ, Queimado A, Serrasqueiro J Unidade de Saúde Pública / Serviço de Farmácia, ULSCB, EPE Introdução: O Boom Festival é um evento que se realiza no distrito de Castelo Branco, a cada dois anos no mês de Agosto. Este evento multicultural reúne participantes de mais de cem nacionalidades diferentes. De acordo com as características deste evento, torna-se necessário um trabalho de prevenção de doenças transmissíveis bem como da farmacoterapia associada às mesmas. A ULSCB é a principal unidade de saúde e cuidados diferenciados que serve os intervenientes deste evento, tendo assim surgido a necessidade de intervenção antecipada, com consequente reforço de vacinas, antídotos e antibioterapia. Objectivo: Conhecer a farmacoterapia usada nos casos atendidos no serviço de urgência da ULSCB durante a vigilância epidemiológica do Boom Festival Portugal. Material e Métodos: Foram analisados todos os 60 casos de indivíduos que se deslocaram ao serviço de urgência da ULSCB, durante o período em que ocorreu a vigilância epidemiológica do Boom Festival. Os dados foram obtidos através de recolhas de amostras biológicas no local e por preenchimento de um questionário de vigilância epidemiológica. Resultados: Verificou-se que a maioria dos casos de deslocação á urgência foram devidos a traumatismo (28%), patologia gastrointestinal (28%) e dor (23%). Os doentes analisados eram maioritariamente homens com idades compreendidas entre os 15 e os 30 anos. A classe de fármacos mais usados foram analgésicos (28%), fluidoterapia (17%) e antibioterapia (16%). Conclusão: O Boom Festival 2012 ocorreu no mesmo local e condições que a edição de 2010. É de salientar que os casos do presente ano foram de menor gravidade que os de 2010, não tendo sido registados internamentos na unidade de cuidados intensivos da ULSCB, bem como de doenças transmissíveis graves. Foi registado um grande número de patologia gastrointestinal. 64 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 DISSECÇÃO CAROTÍDEA Nádia Camate, Carlos Pimentel, Daniela Alves, Paulo Costa, Rosa Silva Serviço de Medicina Interna, ULSCB, EPE Introdução: A dissecção da artéria carótida interna nos seus segmentos extra e intracranianos causa cerca de 2% dos acidentes vasculares isquémicos (AVC), atinge particularmente o jovem, sem factores de risco cérebrovasculares conhecidos. Na literatura, está descrita uma maior frequência desta patologia entre os 30 e os 50 anos de idade, sem predomínio de sexo. Os segmentos extracranianos são os mais frequentemente atingidos. Caso Clínico: Doente de 55 anos de idade, caucasiana, com hipercolesterolemia não medicada. Recorreu ao serviço de urgência por quadro de instalação súbita caracterizado por: lipotimia e alteração da força muscular á esquerda. Fazia exercício físico moderado e bicicleta ergométrica. A Tomografia Computorizada crânio-encefálica às 6-7 horas apos o início das queixas não revelou alterações. AngioTAC cerebral e dos vasos cervicais às 48h mostra presença de marcada diminuição do fluxo na artéria carótida interna direita, que se faz de modo gradual do seu terço inferior, sendo praticamente filiforme e no limite de resolução da técnica utilizada nos dois terços superiores do seu segmento cervical, com aspecto em bico de lápis, fortemente sugestivo de dissecção carotídea. A doente foi submetida a fibrinólise com alteplase, sem intercorrência. Discussão: Os autores pretendem chamar a atenção para esta entidade clinica que deverá ser sempre colocada na presença quadros neurológicos de aparecimento súbito em idades jovens, pelo que a realização de angioTAC com imagens vasculares dos vasos cervicais deverá ser sempre solicitada. É importante a presença de determinadas queixas cefaleias que podem levantar a suspeita de dissecção, apesar de neste caso clinico não haver referencia as cefaleias. A GRANDE SIMULADORA Nádia Camate, Carlos Pimentel, Daniela Alves, Eufémia Calmeiro, Rosa Silva Serviço de Medicina Interna, ULSCB, EPE Introdução: O tromboembolismo pulmonar (TEP) é a obstrução aguda da circulação arterial pulmonar pela instalação de coágulos sanguíneos. Os sintomas são variados, simulando por vezes outras patologias do foro respiratório, que tem como consequência o atraso no diagnóstico. Caso Clínico: Doente de 61 anos, hipertensa e com crises frequentes de ansiedade. Recorreu ao SU por sensação de dispneia, cansaço para médios esforços. Tinha sido medicada, 8 dias antes, com Amoxicilina+Ácido Clavulânico e Acetilcisteína por suspeita de infecção respiratória. Foi reobservada e, mais uma vez as suas queixas foram interpretadas como uma crise de ansiedade. À entrada, no SU, a doente encontrava-se consciente, ansiosa, apirética, eupneica em repouso, sem sinais de dificuldade respiratória. Apresentava hipotensão e com fervores na base pulmonar esquerda. Ao deslocar-se ao WC tem episódio de síncope, com paragem cardio-respiratória, realizam-se manobras de ressuscitação cardiorrespiratórias e é conectada prótese ventilatoria para ventilação assistida. Do ponto de vista analítico salienta-se na 1º vinda ao SU LDH>2000; na 2ª vinda D-dimero 12, ECG com alteração da repolarização ventricular compactiveis com sobrecarga e/ou isquemia antero-lateral com inversão da onda T DE V1-V4 e a AngioTC revelou tromboembolismo maciço bilateral. Foi submetida a fibrinólise com activador do plasminogênio tecidual recombinante (Alteplase) sem intercorrencias. Actualmente, a doente realiza a sua AVD sem dificuldades. Comentários: Os autores pretendem com este caso chamar atenção para a apresentação clinica quer no que concerne às queixas quer no que diz respeito aos achados analíticos. A ansiedade é interpretada com justificação das queixas respiratórias inespecíficas, dissimulando o diagnostico de TEP. Assim uma história clinica detalhada e atenta pode conduzir à suspeita de TEP e à realização dos exames complementares necessários para sua confirmação e tratamento precoce com vista a diminuição morbimortalidade. 65 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 AVC HEMORRÁGICO Nádia Camate, Carlos Pimentel, Daniela Alves, Rosa Silva Serviço de Medicina Interna, ULSCB, EPE Introdução: O acidente vascular cerebral (AVC) é a segunda principal causa de morte a nível mundial., tornando-se importante o conhecimento básico da fisiopatologia e do quadro clínico para se estabelecer condutas rápidas e adequadas. Segundo estimativas da OMS, de 2005, o AVC foi responsável por 5.7 milhões de mortes em todo mundo. Equivalente a 9.9% de todos os óbitos. Mais de 80% dessas mortes ocorrem em pessoas com menos de 70 anos de idade. O TC-CE é o método de eleição para o diagnóstico desta entidade. Caso Clínico: Mulher de 40 anos com antecedentes de alcoolismo crónico, encontrada caída na via pública, após crise convulsiva. Accionada a equipa de emergência médica que encontra a doente comatosa, hemiparesia direita, desvio do olhar para o lado parético; variando movimentos oculares entre desconjunção em estrabismo divergente, alternado com desvio oblíquo e resposta motora a esboçar descerebração à direita com rigidez da nuca, valores tensionais elevados 200/100 mmHg. A tomografia computorizada crânio-encefálica revelou extensa hemorragia têmporo-nuclear esquerda e com extensão infra/suprajacente, assim como condicionando rotura intraventricular. Condiciona marcado efeito massa com herniação subfálcica/desvio contralateral da linha média e dilatação hidrocefálica do ventrículo contralateral. Comentários: Segundo a literatura as mulheres têm mais probabilidades de sofrerem derrames cerebrais que os homens se situarmos a meia idade como topo da analise, o que indica que este fato pode ter relação com doenças cardíacas e o aumento de peso. No caso apresentado o consumo excessivo e continuado de bebidas alcoólicas joga papel preponderante no desenvolvimento desta entidade. TROMBOSE VENOSA CENTRAL Nádia Camate, Carlos Pimentel, Daniela Alves, Paulo Costal, Miguel Cordeiro, Rosa Silva Serviço de Medicina Interna, ULSCB, EPE Introdução: A Trombose Venosa Cerebral (TVC) é uma doença rara e potencialmente fatal, corresponde a cerca de 0,5% dos casos de acidente vascular cerebral. No entanto, acredita-se que estará sub diagnosticada. O seu diagnóstico precoce requer um grau elevado de suspeita clínica e estudo imagiológico apropriado. Estima-se recuperação sem sequelas em cerca de 70% dos casos; dos 30% restantes, cerca de 1/3 morrem e 2/3 permanecem com sequelas neurológicas leves a moderadas. O índice de recidiva de TVC a longo prazo é de aproximadamente 20%. Os anticoncepcionais orais (ACO) constituem um factor de risco conhecido de TVC, corroborado pelo índice crescente de TVC entre mulheres na idade fértil desde a introdução dos anticoncepcionais orais, com índices estáveis observados entre os homens da mesma idade. Caso Clínico: Mulher de 38 anos, com queixas de cefaleias de inicio súbito, com cerca de 24 h de evolução, que não cedia a toma de analgésico. Trazida ao serviço de urgência com agitação psicomotora e confusão mental. Sem história de traumatismo craneano. Negava uso de tabaco, álcool ou drogas ilícitas. Medica- ção habitual com ACO há mais de 10 anos. À entrada: doente consciente em mutismo, não obedecia a ordens simples e nem estabelecia qualquer contacto, episódio convulsivo, tónico-clónico generalizado, sem incontinência de esfíncteres, pupilas anisocóricas OD>OE, reactivas, o exame neurológico não revelou qualquer alteração neurológica focal. A tomografia computarizada crânioencefálica extensa trombose venosa que se estende desde o segmento visível da veia jugular interna esquerda, atravessando o seio sigmóide até ao seio transverso deste lado. Autoimunidade e estudo das vasculites não revelou alterações. Comentários: De acordo com a literatura, também neste caso clinico a TVC surgiu numa mulher jovem que fazia ACO, tendo recuperado totalmente do evento vascular. Os autores salientam a necessidade de averiguar a presença de medicação hormonal para além de outros factores, como tabaco e história pessoal e familiar de doenças auto-imunes. A doente foi tratada com analgésicos e heparina de baixo peso molecular, actualmente medicada com varfarina e proposto outro método anticoncepcional. 66 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 UM CASO DE DOENÇA ANTI-MEMBRANA BASAL GLOMERULAR Anzhela Chernovska, Isabel Casimiro, Ana Azevedo, Helena Viana Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar Médio Tejo, EPE e Serviço de Nefrologia, Hospital Curry Cabral, EPE Introdução: A Síndrome de Goodpasture é uma patologia rara, com uma incidência entre 0,5 e 1 caso/milhão de pessoas/ano, mediada pelo sistema imunológico, na qual anticorpos circulantes são direcionados contra as regiões não colagenosas (NC) da cadeia alfa-3 do colágeno tipo IV da membrana basal dos glomérulos e alvéolos, causando glomerulonefrite progressiva e hemorragia pulmonar. Cerca de 1/3 dos doentes apresentam glomerulonefrite isolada – doença de anti-membrana basal glomerular, que é responsável por mais de 20% dos casos de insuficiência renal aguda devido à glomerulonefrite rapidamente progressiva. A doença apresenta maior prevalência na população branca, com distribuição etária bimodal (terceira e sexta décadas) e leve predominância no sexo masculino. Caso Clínico: Doente de 40 anos, caucasiano, sem antecedentes pessoais de relevo. Recorreu ao SU do Hospital de Vila Franca de Xira por febre precedida de arrepios de frio, disúria, polaquiúria, urgência miccional e hematúria macroscópica com 4 dias de evolução. Ao exame físico salientava-se Murphy renal positivo à direita, não apresentando outras alterações. Analiticamente: ureia - 130mg/dl, creatinina - 4,0 mg/dl, função hepática normal com billirubina ligeiramente aumentado (1,4), Hb de 12.5g/dL. ASU: urina turva com proteinuria de 500, 2+ de hemoglobina, 25 leucócitos. Ecografia renal: rins de dimensões normais, hiperecogenicidade sinusal, espessura cortical mantida. Du- rante o internamento no HVFX verificou-se redução progressiva do débito urinário e subida rápida da retenção azotada (ureia 230, creatinina 10mg/dl) e hipercaliemia (K 7.5meq/l) o que motivou a transferência para Serviço de Nefrologia do Hospital Curry Cabral. À entrada o doente apresentavase febril (38.1ºC), com murphy renal positivo à direita, sem outras alterações ao exame objetivo. Iniciou programa de hemodiálise. Por persistência da febre suspendeu-se ATB que o doente estava a fazer desde o início do internamento (amoxicilina/ac clavulanico) e iniciou Meropenem. Exames bacteriológicos (urina e sangue) sempre negativos. Em 03/ 02 foi submetido a biopsia renal que mostrou glomerulonefrite com 100% de crescentes e depósitos lineares de IgG. Do estudo imunológico salientava-se ac antiGBM 197 (normal<20). O tratamento foi com pulsos de metilprednisolona, seguido de prednisolona oral 60gm/dl durante 46 dias. Iniciou depois também ciclofosfamida que fez durante 29 dias (dose que variou entre 100 e 200 mg/ dia). Começou plasmaferese a 09 de Fevereiro e fez no total 11 sessões, 7 seguidas e as restantes alternadas. Verificouse apirexia ao primeiro dia de corticoterapia e manteve-se apirético durante todo o internamento. Nesse período, o doente apresentava oligo-anúria, com diurese máxima/dia 200cc, manteve retenção azotada grave. Recebeu alta hospitalar clinicamente estável, para seguir hemodiálise no centro de diálise. ALERGIA AO ALOPURINOL: COMO PREVENIR AS CRISES DE GOTA? Daniela Franco, Cátia Leitão, Cecilia Moreno Serviço de Medicina Interna, ULSCB, EPE Introdução: A gota é uma patologia muito frequente caracterizada por hiperucicemia e pela deposição de cristais de monourato de sódio nos tecidos, o que origina destruição articular, desenvolvimento de tofos e incapacidade funcional. Em Portugal, o alopurinol é o tratamento hipouricemiante de eleição e, apesar de bem tolerado pela maioria dos doentes, pode originar reacções de hipersensibilidade muito graves (0,4%). Nas formas ligeiras a dessensibilização oral pode ser tentada. Caso Clínico: Homem de 51 anos, com antecedentes de hiperuricemia desde há 15 anos, e de várias crises de gota desde então. Recorreu ao Serviço de urgência por sinais inflamatórios com deformidade exuberante das mãos e pés e com incapacidade funcional marcada por tofos gotosos múltiplos nessas regiões. Referia intolerância ao alopurinol, com reacção de Stevens-Johnson prévia, pelo que não se realizou a dessensibilização. Nos exames complementares de diagnóstico salienta-se PCR 254,7 mg/L, Ácido úrico 8,4 mg/dL e VS 110mm. Rx artropatia destrutiva em várias articulações dos pés e mãos. Foi medicado com colchicina, naproxeno e corticóides com boa evolução clínica, embora mantêm a incapacidade funcional. Discussão: Os autores pretendem chamar a atenção sobre a dificuldade de tratamento de doentes alérgicos ao alopurinol, já que não se comercializa em Portugal terapêuticas como o febuxostat, disponível em outros países europeus e EUA. E se encontrarem pouco disponíveis para estes casos terapêuticas como o rasburicase e o pegloticase. 67 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 COMUNICAÇÕES ORAIS TUMOR MESENQUIMATOSO GÁSTRICO. CASO CLÍNICO Sergiu Usurelu, Sara Correia, Gina Melo, Arnandina Loureiro Serviço de Cirurgia Geral, ULSCB, EPE Introdução: Os Schwannomas, também conhecidos como neurinomas ou neurilemomas são tumores raros, de crescimento lento, da família dos tumores gastrointestinais mesenquimatosos e representam 0.2% dos tumores gástricos. Têm origem na bainha de Schwann das fibras nervosas. Estes tumores podem ter origem em qualquer local do tracto gastro-intestinal. Embora mais frequentes no estômago (60-70%), podem ter origem no intestino delgado, cólon e recto. A idade de maior incidência é dos 50 aos 60 anos com maior incidência no sexo feminino. Caso Clínico: Doente do sexo masculino, 62 anos, internado no Serviço de Cirurgia com lesão gástrica assintomática, após o exame de rotina. Exame objectivo: sem alterações. EDA: lesão submucosa na transição corpo-antro com 25x30mm. Ultrassonografia transendoscópica: lesão submucosa, sólida, hipoecogénica e heterogénea com origem na camada muscular; compatível com GIST. O doente e submetido a gastrectomia subtotal. Sem complicações no pós-operatório. Anatomia patológica: schwannoma benigno. Conclusão: São tumores benignos e a transformação maligna é extremamente rara. A maioria dos tumores são assintomáticos e o diagnóstico é feito após uma endoscopia indicada por outros motivos, como hemorragia digestiva, dor epigástrica ou saciedade precoce. O diagnóstico é histopatológico e imunohistoquímico. O prognóstico é favorável após ressecção cirúrgica e taxa a de recorrência é baixa. PNEUMATOSE CÍSTICA INTESTINAL. CASO CLÍNICO Sergiu Usurelu, Luis Valência, Horacio Perez, Gina Melo, Arnandina Loureiro Serviço de Cirurgia Geral, ULSCB, EPE Introdução: A pneumatose cística intestinal é uma patologia rara, de etiologia desconhecida, que se caracteriza por acumulação de gás em cavidades císticas subserosas ou submucosas em qualquer local do tracto gastro-intestinal. É mais frequente no intestino delgado (42%), cólon (36%) e mistos (22%). Os cistos são de tamanhos variados e o conteúdo gasoso é rico em nitrogénio, dióxido de carbono e hidrogénio. Na maioria dos casos, o curso clínico é benigno e autolimitado, embora em algumas situações possa evoluir clinicamente para condições graves, como isquemia intestinal, exigindo tratamento agressivo de emergência. Caso Clínico: Doente do sexo masculino, 79 anos, recorre ao SU por dor abdominal, distensão abdominal, vómitos e diarreia. Ao exame objectivo: Palpação dolorosa no epigastro e distensão abdominal. Analitica- mente: Leu.9.95; PCR 39.5. RX do abdómen: presença de pneumoperitoneu. Tomografia axial computorizada: confirma-se a presença de pneumoperitoneu compatível com rotura de víscera oca. Intraoperatoriamente verificou-se pneumatose cística do intestino jejuno e sem perfuração de víscera oca. Conclusão: A maioria dos casos é assintomática mas cerca de 30% são causas de pneumperitoneu espontâneo. O diagnóstico pode ser feito durante o exame radiológico simples do abdómen, que permite ver a imagem que caracteriza a presença de ar na parede intestinal. O diagnóstico de pneumoperitôneu sem perfuração de víscera oca é raro e difícil, por isso é recomendável que todos os casos de pneumoperitôneu sejam submetidos a cirur-gia de urgência. A resseção intestinal está indicada em caso de isquemia ou obstrução intestinal. 68 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 BIOPSIA RENAL – CASUÍSTICA DE UM SERVIÇO DE NEFROLOGIA Raquel Chorão, Rui Filipe, Catarina Santos, Ernesto Rocha Serviço de Nefrologia, ULSCB, EPE Introdução e Objectivos: Na patologia renal a biopsia renal percutânea (BRP) é um instrumento essencial para o diagnóstico, orientação terapêutica e prognóstico. Os autores descrevem a experiência do serviço com as BRP. Métodos: Estudo retrospectivo e descritivo das BRP efectuadas num serviço de Nefrologia, entre 01/01/2004 e 31/08/2012. Foi consultada a base de dados para registo das BRP, com recolha de dados epidemiológicos, clínicos, analíticos e achados anatomo-patológicos. A BRP foi efectuada sob controle ecográfico, com anestesia local, através de agulha de punção orientada ao pólo inferior do rim; foram todas efectuadas em rim nativo. Resultados: Efectuaram-se 82 BRP, correspondendo a 74 doentes (média de 1.1 BRP/doente), 51,2% do sexo masculino; 8 registos correspondem a re-biópsias (4 por material de biópsia insuficiente e 4 por motivos diagnósticos/terapêuticos, com tempo médio entre biópsias de 26,16 meses); 9 BRP foram excluidas por material insuficiente; média de idades de 50,84±19,80 anos. Principais motivos que levaram à realização da BRP: sindrome nefrótico (n=33), alterações urinárias assintomáticas (n=22), insuficiência renal aguda ou rapidamente progressiva (n=14), sindrome nefrítico (n=10) e insuficiência renal crónica (n=3). Principais achados histopatológicos: nefropatia lúpica (n=11), glomerulonefrite membranosa (n=7), glomeruloesclerose focal e segmentar (n=8), nefropatia IgA (n=5), lesões mínimas (n=4), doenças de depósito (n=4), glomerulonefite crónica (n=4), nefropatia diabética (n=3) e necrose tubular aguda e/ou nefrite tubulo-intersticial (n=3). O valor médio de creatinina sérica à data de realização da BR foi de 2,54 mg/dL. As principais complicações decorrentes do procedimento foram crise vagal (n=1), hematoma perirrenal (n=5) e retroperitoneal (n=1), em 3 com necessidade de tranfusão de concentrado eritrocitário. No follow-up 85,13% ficaram a ser seguidos na consulta de Nefrologia, 6,76% entraram em diálise no internamento, 5,41% abandonaram o follow-up e 2,71% faleceram; dos que ficaram com seguimento na consulta, 14,3% vieram a necessitar de TSFR, 1,6% faleceram, 63,5% mantêm-se em consulta e 17,5% abandonaram. Conclusão: A BRP é um procedimento relativamente seguro, mas não isento de complicações; na nossa casuística a taxa de complicações obtidas é de 7% e o número de BRP em que o material foi insuficiente 11%. Os principais motivos para a realização da BRP foi S. Nefrótico (40,2%) e alterações urinárias (26.8%), tal como descrito em grandes séries (30.8% alterações urinárias e 27,1% síndrome nefrótico). INFECÇÃO NOSOCOMIAL – CONHECER PARA PREVENIR Daniela Franco, Cátia Leitão, Elena Pirtac, Cecilia Moreno Serviço de Medicina Interna, ULSCB, EPE Introdução: A infecção nosocomial constitui uma das mais importantes causas de morte e aumento da morbilidade nos doentes hospitalizados. A cada momento, mais de 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de complicações infecciosas adquiridas no hospital, constituindo um peso significativo tanto para os doentes como para a saúde pública. A vigilância epidemiológica é uma ferramenta essencial para avaliar o desempenho das instituições de saúde com respeito à prevenção das infecções nosocomiais e segurança do doente. Objectivos: Estimar a prevalência de infecção associada aos cuidados de saúde/infecção hospitalar e uso de antimicrobianos num hospital de agudos/numa unidade local de saúde. Descrever os procedimentos invasivos, infecções (localizações/microorganismos incluindo marcadores de resistência antimicrobiana) e prescrição de antimicrobianos (produtos e indicações): por tipo de doentes e especialidades. Disponibilizar ao hospital um instrumento padronizado que permita identificar alvos para as intervenções da melhoria da qualidade. Métodos: Para a realização deste estudo descritivo e transversal, foi utilizada a versão 4.2. do protocolo desenvolvido pelo grupo de trabalho HELICS III do inquérito de prevalência de infecções associadas aos cuidados de saúde e utilização de antimicrobianos nos hospitais de agudos na Europa. A recolha de dados decorreu de 22 de Maio a 6 de Junho de 2012. Foram incluídos no estudo todos os doentes admitidos nas enfermarias até as 8 horas da manhã e que não tinham tido alta na altura do estudo. Resultados: Caracterização do hospital: O Hospital Amato Lusitano tem uma lotação global de 293 camas, sendo 285 destas camas de agudos. Esta Unidade Local 69 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 de Saúde tem uma média anual de 9229 admissões por ano e uma média anual de dias de internamento de 69935. Caracterização da população: O número de doentes abrangidos pelo estudo foi de 165, com uma média de idades de 66,4 anos, dos quais 57% com idade igual ou superior a 70 anos. A distribuição por género mostrou que 52,7% eram homens. A distribuição dos doentes pelas diferentes áreas assistenciais mostra que 29% se encontravam numa enfermaria de medicina interna, 17% de cirurgia e 11% de ortopedia. Tendo em conta a situação clínica subjacente destes indivíduos, avaliada através da pontuação de McCabe, pode-se observar que 41,8% se encontrava em situação não fatal, enquanto 22,4% numa rapidamente fatal. Os serviços cujos doentes apresentavam situação subjacente mais grave foram a medicina interna, a unidade de cuidados intensivos e a cirurgia. Factores de risco: Identificaram-se como factores de risco a cirurgia, cateter urinário, periférico ou central e a ventilação invasiva. Observou-se que 21,8% dos doentes tinha sido submetido a cirurgia durante o internamento, 33,3% apresentavam cateter urinário, 79,4% cateter periférico, 9,1% cateter central e 3,6% ventilação invasiva. Ao comparar doentes sem qualquer tipo de dispositivo e doentes com três ou mais, a prevalência de infecção aumentava de 3,8% para 30,9%. Caracterização da antibioterapia: Verificou-se que cerca de 55,2% dos doentes se encontravam sob antibioterapia. Das prescrições, 47,3% deveu-se a infecção adquirida na comunidade, 31,8% adquirida em meio hospitalar e a restantes por profilaxia cirúrgica. A distribuição de antibioterapia por serviço mostra que os serviços com maior número de doentes a fazer este tratamento foram a UCIP, a urologia e a nefrologia. Os antibióticos mais prescritos foram Cefalosporinas (24,2%), Quinolonas (21,4%), Carbapenemes (8,6%) e Piperacilina- tazobactam (8,6%). As infecções respiratórias (26,4%), urinárias (12,1%), da pele (9,9%) e a sépsis (7,7%) foram os motivos mais frequentes para a prescrição de antibioterapia. Infecção hospitalar: A taxa de prevalência de infecção nosocomial foi de 11,8%, sendo esta mais comum nos serviços de UCIP, nefrologia e medicina interna. Tal como acontece nas infecções adquiridas na comunidade, as infecções respiratórias, urinárias, da pele e a sepsis foram as mais predominantes. Os microorganismos mais frequentemente identificados foram: Cândida albicans, SAMR, KlebsiellaPneumoniae e A. Baumanii, o que no total perfazem 66,8% dos microorganismos identificados. Discussão: Ao comparar-se os dados obtidos no Hospi- tal Amato Lusitano com outros obtidos num estudo nacional em 2010, observou-se uma média de idade superior no primeiro, sendo a diferença de aproximadamente 10 anos. Salientando-se que 61,5% dos doentes tinham idade superior a 60 anos, enquanto a nível nacional o valor é de apenas 44,7%. A distribuição por género e por áreas assistenciais são semelhantes às obtidas a nível nacional. Ao comparar a frequência de factores de risco pôde-se observar que tal como aconteceu a nível nacional, no hospital em estudo o número de dispositivos foi proporcional à prevalência de infecções nosocomiais. De salientar que nos doentes que com 3 ou mais dispositivos a taxa de infecção nosocomial foi de 30,1% a nível nacional, enquanto em Castelo Branco assumiu valores de 85,7%. Verificou-se que cerca de 55,2% dos doentes se encontravam sob antibioterapia, valor um pouco superior à média nacional que ronda os 48,9%. A distribuição de antibioterapia por serviço mostrou que os serviços com maior número de doentes a fazer este tratamento são a UCIP, a urologia e a nefrologia. A nível nacional havia uma maior prescrição nos serviços de doenças infecciosas, hemato/oncologia e medicina interna, o que traduz a diferença epidemiológica e organizacional deste hospital. Os antibióticos mais prescritos foram: Cefalosporinas, Quinolonas, Carbapenemes e Piperacilina- tazobactam. O que é semelhante com o que acontece a nível nacional. O mesmo se passou com os motivos/patologia de utilização de antibióticos. A taxa de prevalência de infecção nosocomial foi de 11,8%, sendo esta mais comum nos serviços de UCIP, nefrologia e medicina interna. A nível nacional a prevalência é semelhante e mais relevante nos serviços de cuidados intensivos, medicina interna e pediatria. Os microorganismos mais frequentemente identificados foram: Cândida albicans, SAMR, Klebsiella Pneumoniae e A. Baumanii. Já a nível nacional, os dados mostram uma grande diferença, pois os microorganismos mais frequentemente encontrados foram Staphylococcusaureus e epidermidis, E. coli e Pseudomonas aeroginosa. Conclusões: Este estudo vem suportar a preocupação crescente nos cuidados de saúde com a prescrição de antibioterapia e infecções nosocomiais. Reforçando também a importância dos dispositivos invasivos como factor de risco para as infecções hospitalares, constituindo um alvo de intervenção específica. Estes dados permitem ainda conhecer a realidade local em termos de microorganismos/patologias, para uma melhor organização e planeamento de estratégias a seguir no controlo e combate a infecção. 70 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 HIDATIDOSE HEPÁTICA HUMANA: ESTUDO CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DURANTE UMA DÉCADA Antonieta Santos, Vanessa Bettencourt, Ana Nunes Vieira, Cátia Leitão, Bruno Pereira, Ana Monteiro, Eduardo Pereira, Ana Caldeira, Rui Sousa, José Tristan, António Banhudo, Arnandina Loureiro Serviço de Gastrenterologia e Serviço de Cirurgia Geral, ULSCB, EPE Introdução: A hidatidose é uma zoonose parasitária com uma incidência aproximada de 2,2/100 000 habitantes em Portugal. Tem como agente etiológico céstodos do género Echinococcus. O seu diagnóstico baseia-se na clínica, epidemiologia e técnicas imagiológicas, sendo suportado em testes serológicos. O tratamento de eleição, quando possível, é a exérese do quisto, coadjuvado com os derivados benzomidazólicos. Objectivos/Métodos: Com o objectivo de analisar a experiência da unidade de saúde dos autores, fez-se a revisão dos processos clínicos dos doentes com o diagnóstico de alta de quisto hidático hepático, num período de 10 anos (1 de Janeiro de 2001 até à actualidade), correspondendo a um total de 40 doentes. Resultados: Apurou-se uma ocorrência média de 4 casos/ano de hidatidose hepática; predomínio do género feminino (55%); média de idades de 60,05 anos (16-96). O grupo de doentes com profissões relacionadas com o sector primário (27,5%) foi o mais representativo. A forma de apresentação clínica mais frequente foi a dor ab- dominal (65%). O diagnóstico foi efectuado utilizando sempre, concomitantemente, métodos imagiológicos e serológicos. A dimensão média (o maior diâmetro) dos quistos hepáticos determinada imagiologicamente foi de 8,7 cm (4-24). A localização mais frequente foi o lobo direito (62,5 %). A terapêutica mais utilizada foi a cirúrgica (57,5%). Todos os doentes submetidos a terapêutica tiveram alta clinicamente melhorados, excepto 2 doentes (1 falecimento e 1 transferência para outra unidade hospitalar). Conclusão: Os autores concluem que a incidência de hidatidose hepática na área abrangida pela unidade de saúde é de aproximadamente 3,69 casos/100 000 habitantes/ano, sendo ligeiramente superior à nacional. A distribuição por género e idade desta casuística está de acordo com os dados disponíveis na literatura, no entanto, a relação com o contexto epidemiológico de contacto com animais contaminados não foi verificada por provável ausência desses registos nos processos clínicos. ENTEROSCOPIA POR VÍDEO-CÁPSULA NA PRÁTICA CLÍNICA: A EXPERIÊNCIA DE 10 ANOS Antonieta Santos, Bruno Pereira, Cátia Leitão, Eduardo Pereira, Ana Caldeira, Rui Sousa, José Tristan, António Banhudo Serviço de Gastrenterologia, ULSCB, EPE Introdução: A enteroscopia por vídeo-cápsula está disponível para diagnóstico desde 2001 tendo revolucionado o diagnóstico da patologia do intestino delgado. Na nossa unidade hospitalar esta técnica foi introduzida em 2002, portanto há 10 anos. Objectivos: Rever a experiência de 10 anos, de utilização desta técnica tendo em conta as indicações, diagnósticos, limitações e complicações. Métodos: Recolhemos retrospectivamente dados técnicos, indicações, diagnósticos, limitações e complicações de todos os exames realizados entre Janeiro de 2002 e Dezembro de 2011, seguido de análise estatística descritiva dos dados obtidos. Resultados: Realizaram-se 239 exames (Pillcam SB ®, Given Imaging, Yoqneam, Israel) em 238 doentes (59,8% mulheres) com média de idades de 57,14 anos (13-89 anos). As médias dos tempos de trânsito gástrico e do delgado foram de 60,9 minutos (3 - > 360 minutos) e de 319,4 minutos (80 a 540 minutos). O cego não foi alcançado em 22% dos casos. As principais indicações do exame foram a hemorragia digestiva obscura (57,7%) e a doença de Crohn (25,1%). Em 107 doentes (44,7%), o exame não revelou qualquer alteração, constituindo as angiectasias (18,4%) e as erosões / úlceras (13,8%) os achados mais frequentes. Não se verificaram retenções, nem qualquer complicação relacionada com o exame. Conclusão: Os dados epidemiológicos desta casuística estão de acordo com os descritos na literatura, assim como as principais indicações e achados durante o exame. A enteroscopia por vídeo-cápsula revelou-se ainda um exame seguro, não se tendo verificado a existência de qualquer complicação. Verificou-se ainda uma elevada taxa de exames que não revelaram qualquer alteração da mucosa visualizada, podendo sugerir uma eventual necessidade de melhorar os critérios de selecção dos doentes submetidos a enteroscopia por vídeo-cápsula. 71 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 PREVALÊNCIA DA INSUFICIÊNCIA VENOSA CRÓNICA NA CIDADE DE CASTELO BRANCO Ana Sofia Rodrigues, Ana Alves, Alexandre Pereira - Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias Introdução: A Insuficiência Venosa Crónica (IVC) é um conjunto de alterações que ocorrem na pele e no tecido subcutâneo, decorrentes de uma hipertensão venosa de longa duração, causada por insuficiência valvular e/ou obstrução venosa, sendo a mais prevalente doença dos membros inferiores. Fatores como a idade, o género, o peso, número de partos, prática de exercício físico e história familiar de doença venosa têm sido associados à presença desta doença. O método mais utilizado para a sua avaliação atualmente é o ecodoppler venoso dos membros inferiores. Objetivo: Dar a conhecer a prevalência da IVC na Cidade de Castelo Branco, assim como quais os fatores de risco e sintomas mais prevalentes nesta população. Métodos: O estudo foi realizado numa amostra de 595 indivíduos da Cidade de Castelo Branco, com idades compreendidas entre os 18 e os 95 anos. O diagnóstico de IVC efetuou-se com recurso ao estudo de ecodoppler dos membros inferiores, considerando a presença de refluxo venoso maior que 0,5 segundos como diagnóstico para a doença. Resultados: Das 461 mulheres estudadas, 278 sofrem de insuficiência venosa crónica (60,3%). Quanto ao género masculino, dos 134 indivíduos estudados 65 sofrem desta patologia (48,5%), sendo a prevalência total desta população de 56,7% (n= 343).Fatores como o género (p= 0,016), a idade (p< 0,001) e os antecedentes familiares de doença venosa (p< 0,001) apresentaram valor preditivo positivo favorável à IVC. O número de partos e o uso de venotrópicos demonstrou relação com a doença (p< 0,001) ao contrário da prática de exercício físico (p= 0,209). Conclusão: Na atualidade esta doença é cada vais mais comum em todo o Mundo, para além dos sintomas que acarreta e das limitações que provoca, a IVC é considerada uma das doenças com maior impacto socioeconómico. ESPONDILODISCITE INFECCIOSA – UM DESAFIO DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICO Cátia Leitão, Daniela Franco, Elena Pirtac, Cecilia Moreno, João Freixo Serviço de Medicina Interna, ULSCB, EPE Introdução: A espondilodiscite infecciosa (EI) constitui o processo infeccioso que enolve um ou mais discos intervertebrais e os corpos das vértebras adjacentes. Trata-se de uma entidade patológica relativamente rara mas com incidência crescente nas últimas décadas. Os microorganismos frequentemente envolvidos são o Staphylococcus aureus, o Streptococcus spp., o Mycobacterium tuberculosis e a Brucella Mellitensis, o que realça a importância da valorização dos aspectos clínico-epidemiológicos na avaliação dos doentes. Habitualmente cursa com clínica inespecífica evoluindo de forma insidiosa ao longo de semanas ou meses, desde o início da sintomatologia até ao diagnóstico. A RMN é o meio de diagnóstico imagiológico de primeira linha e, na maioria dos doentes, a terapêutica é exclusivamente médica. Caso Clínico: Doente do sexo feminino, de 75 anos, hipocoagulada, com antecedentes de fibrilhação auricular, hipertensão arterial essencial e insuficiência mitral de etiologia reumática. Recorreu ao Serviço de Urgência (SU) por lombalgia com cerca de 30 dias de evolução, de ritmo inflamatório, de intensidade severa, com irradiação abdominal, virilhas e pés, sem alívio com analgesia, acompanhada de febre (picos febris noturnos), sudorese, arrepios e anorexia. Sem alterações no exame neurológico. Previamente ao início da dor havia estado internada no serviço de cardiologia para realização de cateterismo cardíaco, durante o qual apresentou episódio de flebite no braço esquerdo por acesso venoso. Afirmou contacto com gado caprino, mas negou consumo de produtos lácteos não pasteurizados. Analiticamente de destacar leucocitose com neutrofilia, PCR e VS aumentadas e anemia normocítica e normocrómica. Teste de Hudlesson e prova tuberculínica negativas; Serologias para atípicos e auto-imunidade negativas; Isolaram-se em 2 hemoculturas Staphyloccos Aureus meticilino-resistente. A Ecografia Abdominal mostrou abcessos de ambos os Psoas e a TC lombar mostrou hipodensidade e erosões dos discos intervertebrais de L1-L4, aspectos sugestivos de EI. A RMN realizada con- 72 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73 firmou o diagnóstico, mostrando hipersinal do disco intervertebral L2 a L5 e substituição da medula óssea dos corpos vertebrais L2-L5 por material inflamatório associando-se a abcesso dos psoas, glúteos e restantes músculos paravertebrais. Foi iniciada terapêutica com vancomicina, tendo sido suspendida ao 13º dia por insuficiência renal aguda. Optou-se posteriormente por linezolide, cumprindo 5 semanas com necessidade de suspensão por pancitopenia. Completou-se 8 semanas de terapêutica com cotrimoxazol, comprovando-se melhoria imagiológica na RMN de controlo. Após analgesia, antibioticoterapia endovenosa e uso de ortótese ortostática, a doente melhorou clínica e analiticamente. Conclusão: O objectivo principal deste trabalho foi demonstrar a dificuldade diagnóstica existente neste tipo de patologia, que por vezes protela o seu tratamento, determinante não só na diminuição da morbi-mortalidade como no prognóstico funcional. Por outro lado, salienta as complicações terapêuticas e efeitos indesejados decorrentes da antibioticoterapia. 73 REVISTA DE SAÚDE AMATO LUSITANO 2013; 32:58-73