PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Mestrado Profissionalizante em Ensino de Ciências e Matemática Área de Concentração: Física UTILIZAÇÃO DE ORGANIZADORES PRÉVIOS PARA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DO MAGNETISMO E DO ELETROMAGNETISMO Roberto Luiz de Azevedo Belo Horizonte 2010 Roberto Luiz de Azevedo UTILIZAÇÃO DE ORGANIZADORES PRÉVIOS PARA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DO MAGNETISMO E DO ELETROMAGNETISMO Dissertação Mestrado apresentada ao Profissionalizante Programa em Ensino de de Ciências e Matemática, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Física, elaborada sob a orientação da Profa. Dra. Maria Inês Martins. Belo Horizonte 2010 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais A994u Azevedo, Roberto Luiz de Utilização de organizadores prévios para aprendizagem significativa do magnetismo e do eletromagnetismo / Roberto Luiz de Azevedo. Belo Horizonte, 2010. 157f. : il. Orientadora: Maria Inês Martins Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. 1. Aprendizagem cognitiva. 2. Magnetismo – Estudo e ensino. 3. Eletromagnetismo – Estudo e ensino. 4. Ensino – Metodologia. I. Martins, Maria Inês. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. III. Título. CDU: 37.025 Roberto Luiz de Azevedo Utilização de organizadores prévios para aprendizagem significativa do Magnetismo e do Eletromagnetismo. Dissertação defendida publicamente no Mestrado Profissionalizante em Ensino de Ciências e Matemática - Área de Concentração: Física - da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e aprovada pela seguinte Comissão Examinadora: Profa. Dra. Maria Inês Martins (Orientadora) – PUC Minas Prof. Dr. Lev Vertchenko – PUC Minas Prof. Dr. Antônio Tarciso Borges - UFMG Belo Horizonte, 02 de março de 2010. A minha esposa Claudimeire e ao meu filho Guilherme, que me apoiaram nesta caminhada. AGRADECIMENTOS A Deus, que me permitiu viver este momento tão especial; a minha mãe, que me deu forças por meio de suas orações e ao meu pai, que me ensinou a perseverar; a minha família, pela compreensão que tiveram comigo; à PUC-MG, representada por seus funcionários e professores, pela oportunidade e recursos disponibilizados para a realização deste mestrado; aos colegas de turma, por me incentivarem a continuar lutando; ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, Campus Machado (IFET-Machado), na pessoa do diretor Walner Mendes, que ofereceu suas instalações para que a pesquisa de campo pudesse ser realizada; aos alunos do IFET-Machado, Cleidiane, Josiane, Marinês, Lucas, Willian, Renato, Thaison, Gabriel, Agnaldo, Eduardo, Aloísio e Jaques, pela valiosa contribuição que deram à pesquisa, participando ativamente das atividades; aos funcionários Renato e Elber, da mecanografia do IFET-Machado, pela imperiosa contribuição nas filmagens, edição das fotos e filmes; a todos aqueles que, de uma forma direta ou indireta, contribuíram para a realização deste trabalho. Agradecimento especial À minha orientadora Profa. Dra. Maria Inês Martins, por seus conhecimentos, presteza, dedicação, amizade, paciência e respeito cultivados nestes anos de trabalho. Sem dúvida, nossa convivência durante este período resultou em uma ótima experiência para minha formação acadêmica e profissional. A essência do processo de aprendizagem significativa está em que as idéias simbolicamente expressas sejam relacionadas de maneira não-arbitrária e substantiva ao que o aprendiz já sabe, ou seja, a algum aspecto relevante da sua estrutura de conhecimento. David Paul Ausubel. RESUMO Como organizadores prévios, utilizamos textos retirados de revistas científicas e realização de oficinas, em que os discentes colocaram “a mão na massa” para construírem os experimentos propostos. Um mapa conceitual foi utilizado como recurso instrucional e apresentado no término da aplicação da metodologia. Analisando as falas dos alunos e suas respostas antes e depois da aplicação dos organizadores prévios (textos motivadores e oficinas), percebemos uma mudança conceitual, isto é, um alargamento de seus conceitos prévios, assim como uma sedimentação das ideias âncoras que existiam antes em sua estrutura cognitiva. Objetivando auxiliar o docente na utilização dos organizadores prévios como uma estratégia de ensino na preparação dos alunos para uma aprendizagem significativa, foi produzido um guia de orientação para implementação dessa metodologia. Esse guia contém as estratégias que podem ser adotadas pelo professor na condução de uma aprendizagem significativa. Palavras-chave: Aprendizagem Significativa, Organizadores Prévios, Mapa Conceitual, Magnetismo, Eletromagnetismo. ABSTRACT As prior organizers, were utilized texts drawn from scientific journal and wokshops, where the students put “hands-on” to build the propose experiments. A conceptual map was used as an instructional resource and presented at the end of the application of the methodology. Analyzing the speech of the students and their responses before and after application of organizers (texts and motivational workshops), we perceived a conceptual change, namely, an extension of their preconceptions, as well as a storehouse of ideas anchors that existed before in your cognitive structure. Aiming to assist the teacher in the use of prior organizers as a teach strategy in preparing of the students for a meaningful learning was produced a guideline for implementation of this methodology. This guide contains strategies that can be adopted by the teacher in conducting a meaningful learning. Keywords: Meaningful Learning, Prior Organizers, Conceptual Map, Magnetism, Electromagnetism. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Quadro de competências e habilidades de Física a serem estimuladas e desenvolvidas pelos alunos do Ensino Médio.................................................................... 31-32 FIGURA 2 - Mapa Conceitual................................................................................................. 41 FIGURA 3 - Mapa conceitual do Magnetismo e Eletromagnetismo para o Ensino Médio.... 43 FIGURA 4 - Sequenciação de etapas da aplicação da metodologia........................................ 46 FIGURA 5 - Princípio de assimilação..................................................................................... 51 FIGURA 6 - Etapas da pesquisa: uma visão geral................................................................... 59 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Resultado do PISA - Brasil – 2000, 2003 e 2006.............................................. 19 LISTA DE SIGLAS CEFET -CE - Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará. ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio. IFET – Instituto Federal de Educação Tecnológica. INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. MEC – Ministério da Educação. OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. PCNEM – Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. PISA – Programa Internacional de Avaliação de Alunos. PNLEM – Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio. SEB – Secretaria de Educação Básica. UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 13 2. CONTEXTO DA PESQUISA ................................................................ 17 3. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................. 23 4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................... 31 4.1 A aprendizagem significativa e a legislação educacional vigente ..... 31 5. METODOLOGIA ................................................................................... 56 5.1. Organizadores prévios para a aprendizagem do magnetismo e do eletromagnetismo no ensino médio ............................................................ 56 5.2. Cronograma da pesquisa ..................................................................... 58 6. ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................... 62 6.1. Análise das questões antes e depois da metodologia ......................... 73 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 83 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 86 APÊNDICES ............................................................................................... 90 Pré questionário ........................................................................................... 91 Oficinas ......................................................................................................... 94 Guia ............................................................................................................... 127 ANEXOS ...................................................................................................... 149 Textos ............................................................................................................ 149 13 1. INTRODUÇÃO Em matéria sobre Educação do jornal JC on line, publicada em 02/05/2008, intitulada “Ensino Médio terá novo modelo”, a Agência do Brasil (2008) relata preocupação do MEC com respeito ao Ensino Médio oferecido aos nossos alunos que, na maioria das vezes, frequentam a escola desmotivados e desinteressados pela aprendizagem. O ENSINO MÉDIO TERÁ NOVO MODELO da Agência Brasil da Folha Online “Fazer com que o jovem na faixa etária dos 15 aos 17 anos se interesse pela escola e que a escola permita ao jovem descobrir suas potencialidades. Estes são desafios discutidos por um grupo de trabalho formado por especialistas da Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC) e do Núcleo de assuntos estratégicos da Presidência da República. As discussões buscam delinear um projeto pedagógico para que o ensino médio se torne mais atrativo ao estudante e leve em conta, entre outros aspectos, a organização curricular, formação docente e o ingresso no ensino superior”. Essa preocupação, presente para a grande maioria dos professores, faz com que sejam experimentadas variadas metodologias para despertar o interesse de seu alunado. Muitos são os atrativos externos ao ambiente escolar e, por essa razão, o aprimoramento metodológico de ensino pode ampliar a motivação e o interesse dos alunos pelo estudo, no caso, da Física. A perspectiva da pesquisa, embasada em nossa experiência docente de 15 anos no Ensino Médio, estimulou a busca de uma abordagem diferenciada daquela que tradicionalmente é adotada. Procuramos investigar sobre os fundamentos do Magnetismo e do Eletromagnetismo, por considerarmos que esses conteúdos apresentam grande dificuldade de entendimento por parte dos alunos, em razão de seu grau de abstração e seu enfoque tridimensional. A inspiração e motivação para o desenvolvimento desse tema de pesquisa se consubstanciam na procura e no anseio de muitos profissionais do ensino por metodologias alternativas que venham a dinamizar e significar o aprendizado da Física, além de motivar o 14 alunado para uma nova fase acadêmica de descobertas que a aprendizagem significativa1 da Física potencializa. Não temos a intenção de solucionar, com este trabalho, os problemas do ensino de Física na Educação Básica, e sim apontar alternativas metodológicas capazes de ampliar o “leque de opções” dos professores, sugerindo-lhes uma abordagem diferente para os conteúdos do Magnetismo e do Eletromagnetismo. Além disso, o objeto de estudo desta pesquisa - desenvolvimento de uma metodologia alternativa para o ensino de Física - vem somar às mudanças pelas quais passa o Ensino Médio. Advogamos que a aprendizagem seria mais significativa e motivadora se a Física fosse abordada de uma maneira contextualizada, com referências às situações cotidianas do aluno e com o foco em seus conhecimentos prévios, aproveitando suas experiências socioculturais. A motivação para o estudo da Física inicia-se da evocação daquilo que o aluno conhece sobre o assunto a ser estudado. Para trazer à tona o conhecimento prévio do aprendiz, utilizamos materiais instrucionais2 tais como: revistas, artigos, reportagens, entre outros que tratam do assunto Magnetismo e Eletromagnetismo, além da realização de oficinas3. Embora reconheçamos que tanto a ênfase dada à álgebra quanto os experimentos demonstrados aos alunos desempenham um papel importante na aprendizagem da Física, acreditamos, contudo, que neste nível de ensino, essas estratégias assumem um papel de coadjuvante, ao passo que, o levantamento dos conceitos prévios dos discentes, bem como da “ativação” da estrutura cognitiva dos alunos para o novo conhecimento a ser assimilado, podem ser protagonistas no processo ensino/aprendizagem. Hipotetizamos que a elaboração de um conteúdo, levando em conta os conhecimentos prévios dos alunos, levantados a priori, juntamente com os materiais instrucionais desempenhando o papel de “pontes cognitivas” e, interligando suas concepções espontâneas 1 Neste trabalho, compreende-se aprendizagem significativa na perspectiva de Ausubel (2003), conceito que será detalhado no capítulo 4 - Fundamentação Teórica. 2 Entendem-se por materiais instrucionais aqueles que contribuem com o aprendizado significativo do aluno, sendo constituídos por reportagens de revistas, artigos, curiosidades, históricos sobre o Magnetismo e o Eletromagnetismo. Serão introduzidos, antes do aluno estudar tradicionalmente, tais tópicos, sendo, por isso, considerados como organizadores prévios. Organizadores prévios são materiais introdutórios apresentados aos alunos antes da matéria, em um nível de abstração, generalidade e inclusividada maior do que a matéria em si e, explicitamente relacionado com suas pré-concepções, servindo de ponte cognitiva entre aquilo que o aluno sabe e aquilo que se deseja que ele aprenda. Doravante, onde se lê “materiais instrucionais” entende-se por “organizadores prévios”, e vice-versa. 3 Entende-se por oficinas como interação dos alunos com o objeto de aprendizagem, ou seja, “mão na massa” ou “hands on”. Essa interação se dará pela construção de protótipos. A realização das oficinas constitui, também, em um material instrucional e, consequentemente, em um organizador prévio. 15 sobre o assunto com os conceitos a serem aprendidos, potencializem a aprendizagem mais efetiva e significativa de conceitos físicos. Numa fase terminal da aplicação da metodologia, apresentamos aos discentes um mapa conceitual4, cujo objetivo seria apresentar os principais conceitos envolvidos com os tópicos em estudo e suas inter-relações. Abordamos os conceitos do conteúdo de Magnetismo e de Eletromagnetismo com discentes do Ensino Médio da rede pública de ensino do estado de Minas Gerais, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Machado, por meio de uma instrução orientada que considera as concepções espontâneas dos discentes, mediadas por materiais instrucionais. O produto final produzido por essa pesquisa consiste no material didático impresso preparado para o desenvolvimento da metodologia sugerida (APÊNDICE C), assim como os questionários (APÊNDICE A). Os materiais instrucionais funcionam como ponte entre aquilo que é conhecido pelo aprendiz e o que ele precisa saber, almejando esse aprendizado de maneira significativa, de acordo com a Teoria da Aprendizagem Significativa de David P. Ausubel. No segundo capítulo, apresentamos o contexto da pesquisa, em que justificamos e abordamos os objetivos do desenvolvimento da metodologia de ensino do Magnetismo e do Eletromagnetismo com a utilização dos materiais instrucionais. No terceiro capítulo, fazemos uma revisão da literatura, incluindo artigos de periódicos científicos, livros didáticos e livros de divulgação científica que abordam o ensino contextualizado da Física na educação básica. No quarto capítulo, discutimos a fundamentação teórica do trabalho por meio do referencial teórico da Teoria da Aprendizagem Significativa de David P. Ausubel, para embasar a metodologia a ser desenvolvida, tratando ainda da aprendizagem significativa e da legislação educacional vigente. O referido capítulo traz, ainda, outros trabalhos nos quais a ênfase está na discussão da Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel, sendo que esses trabalhos foram feitos com intuito de preparação para o estudo da obra original de David Paul Ausubel. A seguir, no quinto capítulo, há a descrição da aplicação da abordagem do Eletromagnetismo por meio da metodologia sugerida, em uma escola do Ensino Médio escolhida para o desenvolvimento da presente proposta. 4 Assunto tratado pormenorizadamente no capítulo 4 – Fundamentação Teórica. 16 No sexto capítulo, será feita uma análise dos resultados obtidos da aplicação da metodologia de ensino proposta. Finalmente, no sétimo capítulo, são apresentadas as considerações finais. 17 2. CONTEXTO DA PESQUISA A Educação Brasileira passa por inúmeras transformações, tanto no âmbito legal quanto na elaboração de projetos de pesquisa que procuram potencializar a prática docente em sala de aula. Buscando atender a tais mudanças, desenvolvemos este trabalho de pesquisa procurando estar em sintonia com as bases legais, para proporcionar aos professores uma alternativa na abordagem de um determinado tema de estudo. Apesar de termos concentrado nossa atenção no Magnetismo e o Eletromagnetismo, nada impede de aplicar a metodologia proposta aos outros campos da Física. A Lei de Diretrizes Básicas da Educação Nacional (LDB) - Lei n0 9.394/1996 -, em seu capítulo II da Educação Básica, seção I, artigo 22 prevê que a educação básica possui por objetivo a formação cidadã dos alunos: “A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL, 1998, p.8). A utilização das oficinas como um dos organizadores prévios colocou os alunos em contato com os princípios de funcionamento de alguns equipamentos, apresentando conceitos articulados à compreensão do funcionamento de aparatos tecnológicos e do cotidiano. Nesse sentido, as oficinas empregadas como material instrucional contribuem para a compreensão dos fenômenos contemporâneos e, consequentemente, para a construção da cidadania. A mesma lei, em seu artigo 3º, título II, preconiza como princípios do ensino: a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber, o pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, o respeito à tolerância, a garantia do padrão de qualidade, a valorização da experiência extraescolar e a valorização entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais (BRASIL, 1998, p.1). A pesquisa se harmoniza com aquilo que é preconizado na LDB, mais precisamente no tocante à valorização das experiências extraescolares que são estimuladas em benefício de uma aprendizagem significativa. Essa legislação se materializa por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) - 1999, procurando atender à premente necessidade de atualização da Educação Brasileira que, dentre outras propostas, deve superar as limitações do Ensino Médio, focalizado profissionalizante. na formação pré-universitária (ensino propedêutico) e/ou 18 O Ensino Médio deve deixar de ser preparatório para o ensino superior e estritamente profissionalizante, passando, então, a assumir a complementação da educação básica, “[...] isso significa preparar para a vida, qualificar para a cidadania e capacitar para o aprendizado permanente, em eventual prosseguimento dos estudos ou diretamente no mundo do trabalho” (BRASIL, 1999, p. 8) A busca dos alunos por uma aprendizagem duradoura é a necessidade que está prevista pelos PCNEM, conferindo aos aprendizes uma preparação mais sedimentada para a vida, além da continuidade em seus estudos posteriores ou em seu trabalho. Os PCNEM deixam clara a importância da existência e da disseminação dos cursos técnicos, com a pretensão do Governo Federal em criar centenas de escolas técnicas profissionalizantes, “[...] mas, que essa especialização não comprometa a formação geral para a vida pessoal e cultural em qualquer tipo de atividade” (BRASIL, 1999, p. 8). Tendo em vista ainda alguns dados sobre o Ensino Médio, como os de reprovação nessa fase de ensino, justificamos, também, a abordagem temática desta pesquisa no tocante ao aspecto pedagógico/metodológico. Advogamos que, posto o aluno como o agente participativo de sua própria aprendizagem e tornando significativos os conceitos, como pretende a metodologia sugerida, sua motivação é potencializada, assim como seu interesse, podendo impactar inclusive na taxa de reprovação. Outro bom indicativo da situação da Educação Brasileira é o resultado do PISA (sigla, do inglês, para “Programa Internacional de Avaliação de Alunos”), por se tratar de uma avaliação internacional, podemos ter um comparativo com outros países. Entre outros objetivos do PISA está a avaliação de conhecimentos e habilidades que são necessários em situações de vida real. Esse objetivo específico do PISA vem mais uma vez reforçar mudanças curriculares e metodológicas do Ensino Médio, compactuando com a LDB e os PCNEM. A primeira edição do PISA ocorreu em 2000 e a cada 3 (três) anos uma nova avaliação é feita com alunos de 15 anos de idade. O PISA de 2000 avaliou o desempenho dos estudantes em Leitura, ficando Ciências e Matemática em segundo plano, na avaliação de 2003, a área principal foi a Matemática, e no de 2006, a principal área foi Ciências. Os resultados do PISA, divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), não foram animadores; a péssima posição do Brasil no ranking de aprendizado em ciências se repetiu nas provas de Matemática e Leitura, mostrando que os alunos brasileiros obtiveram, em 2006, médias que redundaram na 53ª 19 posição em Matemática (entre 57 países), na 48ª em Leitura (entre 56 países) e na 52ª posição em Ciências. O pior resultado aparece em Matemática. Numa escala que vai até seis, 73% dos brasileiros estão situados no nível 1 (um) ou abaixo disso. Em Leitura, 56% dos jovens estão apenas no nível 1 (um) ou abaixo dele. Na escala, que vai até cinco nessa prova, significa que são capazes apenas de localizar informações explícitas no texto e fazer conexões simples. Em Ciências, 61% tiveram desempenho que os colocam abaixo ou somente no nível 1 (um) de uma escala que vai até seis. Isso significa que seu conhecimento científico é limitado e aplicado somente às poucas situações familiares. Comparando o desempenho do Brasil no exame de 2003 (que já era ruim) com o de 2006, as notas pioraram em Leitura, ficaram estáveis em Ciências e melhoraram em Matemática. Na última aplicação do PISA, o Brasil subiu 14 pontos em Matemática, só superado, entre os convidados, pela Indonésia (31 pontos) e, considerando os membros da OCDE, pelo México (20 pontos). A seguir, veja a tabela com os dados referenciados: TABELA 1 Resultado do PISA - Brasil – 2000, 2003 e 2006 Pisa 2000 Pisa 2003 4.893 4.452 9.295 Ciências 375 390 390 Leitura 396 403 393 Matemática 334 356 370 Número de alunos participantes Pisa 2006 Fonte: BRASIL, Ministério da Educação, Inep, Resultado do PISA, 2007 20 Como há uma margem de erro para cada país, a colocação brasileira pode variar da 53ª, no melhor cenário, para a 55ª, no pior. O mesmo ocorre para as provas de Leitura e Ciências. Em Leitura, varia da 46ª à 51ª. Em Ciências, da 50ª à 54ª. Explicando a tabela temos: no nível abaixo de 1 ficam aqueles que chegam a 358 pontos; no 1, de 358 a 420; no 2, de 421 a 482; no 3, de 483 a 544; no 4, de 545 a 606; no 5, de 607 a 668; e no nível 6, de 669 para cima. Para a OCDE, encontram-se no nível 1 os estudantes que conseguem responder questões envolvendo contextos familiares, onde toda a informação está presente e as questões estão claramente definidas. No nível 2, os estudantes conseguem interpretar e reconhecer situações em contextos que requerem nada além do que uma inferência direta. No nível 3, os estudantes conseguem executar procedimentos claramente descritos, selecionar e pôr em prática estratégias de resolução de problemas simples. Os estudantes do nível 4 podem trabalhar efetivamente com modelos explícitos sobre situações complexas concretas, que podem envolver situações difíceis ou necessitar tomadas de decisões. No nível 5, os alunos são capazes de desenvolver trabalhos com modelos sobre situações complexas, identificando vínculos e especificando suposições. No nível 6, estudantes conseguem conceitualizar, generalizar e utilizar informações baseadas em suas próprias investigações e modelagem de situações-problema complexas. (BRASIL, Ministério da Educação, Inep, 2009) De acordo com o Inep, em 2009 participaram cerca de 50 mil alunos, de 990 escolas públicas e privadas, das áreas rural e urbana de 587 municípios, em todos os estados do País, além do Distrito Federal e, os resultados finais da avaliação de 2009 serão divulgados pela OCDE em dezembro de 2010. Diante do atual contexto do ensino nas escolas públicas e privadas e, sobretudo, pela prática pedagógica dos professores de Física, justificamos a escolha do tema de pesquisa: Utilização de Organizadores Prévios para Aprendizagem Significativa de Conceitos de Magnetismo e de Eletromagnetismo, em que se propõe uma metodologia embasada na Teoria da Aprendizagem Significativa de David P. Ausubel. O novo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é outro bom indicativo das mudanças pelas quais passa o Ensino Médio. A tônica do novo ENEM é baseada em questões mais contextualizadas, onde essas privilegiam o raciocínio em detrimento à memorização de “fórmulas”, à “decoreba” de “macetes”. O presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, relata: “A prova ficará no meio do caminho entre o excesso de informações cobradas no vestibular e o 21 pouco conteúdo do antigo ENEM. Testará mais a capacidade de solucionar problemas da vida real do que o conhecimento acumulado” (VEJA, 2009). Como a aprendizagem no Ensino Médio deve ser voltada para a aquisição de habilidades e de competências por parte do aluno, a proposta desta pesquisa procura alinharse com essa mudança do processo seletivo, em que o conhecimento “enciclopédico” antes preconizado não tem mais espaço numa sociedade dinâmica, onde as informações chegam a uma grande velocidade e de fácil acessibilidade. Concordamos com a perspectiva do coordenador do PISA, Andreas Shleicher, ao relatar que: “Mais importante que estocar conhecimento é, sem dúvida, saber ordenar tantas informações disponíveis e chegar a uma conclusão” (VEJA, 2009). Isso denota a atualidade e o engajamento da presente pesquisa no cenário da educação. Este trabalho objetiva buscar metodologias alternativas, facilitadoras do aprendizado significativo, ou seja, metodologias que potencializem a aplicabilidade da Física em nossas vidas, reconhecendo a Física envolvida com o nosso vivencial. Além disso, objetivamos contribuir com as transformações pelas quais o ensino brasileiro passa, auxiliando a prática docente em sala de aula. Supomos que a aprendizagem possa ser mais significativa quando a Física for abordada, particularmente no Ensino Médio, focalizando conteúdos elaborados, partindo daquilo que o aluno possui internalizado em sua estrutura mental (cognitiva). Em outras palavras, aproveitando como ancoradouro aos novos conhecimentos seus próprios conhecimentos adquiridos vivencialmente. Como a aprendizagem significativa não ocorre, portanto, num vácuo cognitivo, ou seja, deverá existir na estrutura cognitiva do aprendiz “ideias âncoras”, “esteios ideacionais” ou subsunçores5, em que o novo conhecimento possa se ligar de maneira substantiva e não literal. Dessa forma, caberá ao professor a elaboração de meios facilitadores dessa aprendizagem significativa. O livro didático pode ser um dos meios facilitadores dessa aprendizagem, sobretudo, ao considerar aqueles recomendados pelo Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) - 2007. Tais livros tendem a estar sintonizados e alinhados com essa perspectiva de ensino mais significativo e contextualizado, ainda que mantenham, de certo modo, uma vinculação com a perspectiva seriada. Isso é uma exigência da atual conjuntura 5 Conceito tratado no capítulo 3 – Revisão de Literatura. 22 educacional que passa por transformações, e essas mudanças perpassam, também, pelos docentes que devem acompanhá-las, incorporando-as à sua práxis. Cabe aos professores a capacidade de suscitar nos discentes experiências pedagógicas significativas, diversificadas e em consonância com a contemporaneidade. Segundo essa ótica, os materiais de ensino, as metodologias alternativas de ensino e aprendizagem têm um papel imperioso na aprendizagem do aluno. A culminância da pesquisa é oferecer um material de apoio aos professores - produto deste trabalho - de modo a potencializar uma prática pedagógica motivadora para os alunos. Concentramos em alguns conceitos de Magnetismo e de Eletromagnetismo, tais como, campo magnético e força magnética, mediante uma abordagem diferenciada da tradicional, isto é, uma focalização naquilo que o aluno traz de conhecimento sobre o assunto e ação sobre os pontos de ancoragem (ideias âncoras) conseguidos pela utilização de materiais instrucionais e pelo mapa conceitual que parecem provocar uma facilitação no entendimento. 23 3. REVISÃO DE LITERATURA Para esta pesquisa, utilizamos como consulta e fundamentação teórica parte de um grande acervo científico que discute o uso de metodologias diferenciadas para o ensino da Física, sobretudo, trabalhos que utilizam a Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel. Entre os mais pertinentes a esse trabalho, destacamos aqueles citados neste capítulo, juntamente com as discussões, correlações e contraposições à presente pesquisa. Ao estudar as inúmeras publicações, observamos a preocupação com o ensino de Física nas últimas décadas, sobretudo no que diz respeito à busca de metodologias alternativas, minimizadoras do desinteresse e maximizadoras da motivação dos alunos. No artigo intitulado Sobre o uso de metodologias alternativas para o ensino e aprendizagem de ciências, Yamazaki; Yamazaki (2006) fazem um levantamento das diversas metodologias utilizadas no ensino de ciências. Segundo os autores, o ensino e aprendizagem da Física podem ser melhorados por meio de metodologias que potencializem a criatividade, a criticidade e a motivação dos alunos. O ensino através de brincadeiras, jogos, desafios etc, parecem provocar aprendizagem de forma mais eficiente no sentido de que os estudantes além de mostrarem-se dinâmicos quando em meio ao processo, mostram-se também dispostos a continuar a aprendizagem mesmo que em outros contextos[...] (YAMAZAKI; YAMAZAKI, 2006, p.1). As oficinas, bem como a exploração das reportagens de revistas científicas, vêm dinamizar e colocar os estudantes como os protagonistas no processo da sua aprendizagem. Com isso, esperamos um aumento do interesse e da motivação dos alunos, uma vez que se tornarão agentes participativos e integrantes em seu processo de aprendizagem. A apresentação das oficinas, tal como se propõe nesta pesquisa, possui um diferencial em relação às brincadeiras, jogos, desafios, no que diz respeito ao envolvimento efetivo do aluno na construção dos protótipos propostos. Nesse sentido, acreditamos que a utilização das oficinas como um instrumento motivador para a aprendizagem subsequente promova um maior interesse no aluno pelo assunto estudado. Um aspecto preponderante a se considerar é o interesse do alunado em “querer aprender” determinado tópico. Caso não haja tal interesse, não será essa ou aquela metodologia eficiente. Conforme colocação do próprio Ausubel 2003, deve haver uma 24 predisposição dos alunos em aprender e, por outro lado, uma “vontade pedagógica” por parte dos docentes em se adaptarem às formas alternativas de aprendizagem, fugindo do tradicionalismo e encarando aquilo que é “novo”. Na publicação do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará (CEFET-CE), em 2004, intitulada Oficinas de Física: uma proposta para desmistificar o ensino de Física e conduzir para uma aprendizagem significativa, Sales; Barbosa (2004) abordam a aplicação da metodologia de oficinas para o ensino de Física no CEFET-CE, em turmas dos cursos técnicos, e/ou do ensino médio, com cerca de 25 alunos. Os resultados obtidos com a utilização das oficinas foram satisfatórios no sentido da interação social e da valorização do conhecimento informal e intuitivo, conduzindo a uma aprendizagem efetiva. Segundo os autores, as oficinas de Física possuem por finalidade: Desmistificar o ensino de Física, apontar para um caminho lúdico e prazeroso, reduzir a dicotomia teoria-prática e explorar uma Física fenomenológica, contextualizada e interdisciplinar. Utilizam materiais concretos de fácil aquisição e conduzem à confecção de modelos experimentais que facilitam o entendimento dos fenômenos físicos que se desejam estudar (SALES; BARBOSA, 2004, p.1). Propomos, conforme fundamentação a ser apresentada no capítulo seguinte, a utilização dos materiais instrucionais e o uso de conceitos subsunçores6 relevantes - sendo utilizados como organizadores prévios7, a fim de se estabelecerem pontes cognitivas ou “ideias âncoras”, criando, dessa forma, uma facilitação no entendimento entre os conceitos já estabelecidos cognitivamente pelo aluno e os conceitos propostos para o aprendizado, preparando-o para o conteúdo a ser assimilado. Nesta pesquisa, reforçamos nossa proposta de trabalhar com as oficinas como um caminho na formação de subsunçores relevantes na estrutura cognitiva dos alunos, na medida em que: As oficinas de Física conduzem os alunos para uma aprendizagem significativa, podendo ser aplicada mesmo antes de se enveredar pelos trâmites teóricos. Desta maneira, elas funcionam como “organizadores prévios” – estratégia proposta por Ausubel com fins de manipular a estrutura cognitiva, cujo intuito é provocar correlações entre o conhecimento que o aprendiz sabe e o que ele deverá vir a 6 Ideia mais ampla que funciona como subordinador de outros conceitos na estrutura cognitiva e como ancoradouro no processo de assimilação. 7 Organizador prévio é um material introdutório apresentado num grau mais elevado de generalidade, inclusividade e abstração do que a própria tarefa de aprendizagem. Objetiva-se preencher a lacuna entre aquilo que o aluno já sabe e aquilo que ele precisa saber. 25 saber, para que esse conhecimento seja aprendido de forma significativa (SALES; BARBOSA, 2004, p.3). No artigo Uma proposta para ensinar os conceitos de campo elétrico e magnético: uma aplicação da história da Física, Magalhães; Santos; Dias (2002) sugerem a utilização da história da Física como organizadores prévios, revelando a preocupação com as novas metodologias para o ensino da Física, para uma aprendizagem significativa. Nesse artigo, os autores comentam que “[...] nosso pressuposto é que a história da Física pode ser um elemento facilitador de uma aprendizagem significativa, na medida em que funciona como organizador prévio” (MAGALHÃES; SANTOS; DIAS, 2002, p.3). É proposto a história da Física como agente otimizador da aprendizagem e como um organizador prévio da compreensão conceitual de fenômenos Eletromagnéticos, não só da compreensão, mas: [...] que os alunos percebam que os fenômenos Eletromagnéticos estão presentes não somente no dia-a-dia deles, mas são essenciais em muitas pesquisas atualmente em curso nos mais modernos laboratórios, realizadas de acordo com os padrões científicos de pesquisa, internacionalmente adotados (MAGALHÃES; SANTOS; DIAS, 2002, p.4). A abordagem do Eletromagnetismo como propõe este trabalho de pesquisa, com a utilização da história como organizador prévio, possui um problema a ser considerado. Essas histórias podem ser apresentadas de modo reducionista, o que pode levar o aluno a interpretações fragmentadas e incompletas dos processos de construção do conhecimento e da evolução da Ciência. Isso requer uma pesquisa e estudo aprofundado por parte do professor antes de apresentar a história como um organizador prévio. Outra questão é a veiculação implícita de uma visão empirista-indutivista de produção do conhecimento, podendo levar à noção de que as teorias científicas são descobertas a partir de observações livres de pressupostos teóricos. As oficinas promovem uma maior interação, uma participação ativa dos alunos e maior socialização dos mesmos, bem como possibilitam a problematização dos vários assuntos apresentados ao longo da execução dos projetos propostos. Com as oficinas, os discentes possuem três momentos distintos de aprendizagem: aquele que antecede a consecução dos protótipos, (aquisição das competências necessárias para a construção dos protótipos), o momento de “hand on”, ou seja, de “mão na massa”, e o término da construção do protótipo quando, funcionando ou não, existirão sempre questões a serem debatidas. 26 Em outro artigo estudado, com o título: Aprendizagem significativa e o ensino de 8 ciência , Tavares (2005) utiliza a teoria da aprendizagem significativa de Ausubel na construção de objetos de aprendizagem, juntamente com a teoria da codificação dual9 de Allan Paivio (MAYER, 2003). De acordo com essa teoria, a aprendizagem se torna potencialmente efetiva quando a transmissão dos conceitos se dá de forma verbal e visual, o que está em consonância com Ausubel, ao considerar que a aprendizagem significativa receptiva verbal é potencialmente eficiente para a faixa etária dos alunos estudados, ou seja, no desenvolvimento do estágio de raciocínio abstrato: “[...] neste estágio do desenvolvimento, o emprego adequado da aprendizagem receptiva verbal é altamente significativo” (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980, p.101). O pesquisador considera que, ao ser apresentado a um conjunto de informações novas, se o aluno conseguir fazer conexões entre esse conjunto e o seu conhecimento prévio, ele estará construindo significados pessoais acerca dessas novas informações, transformando-as em conhecimento e, ainda argumenta que “será muito proveitoso para o aluno se o seu primeiro contato com determinado conteúdo for através de um mapa conceitual10 construído por um especialista” (TAVARES, 2005, p. 3). Dessa maneira, o aluno consegue ter uma visão panorâmica do conteúdo, elucidando quais os conceitos mais importantes e suas conexões em um corpo de conhecimento. O mapa conceitual, além de estabelecer uma organização estruturada do conteúdo a ser ensinado, possui outra vantagem, segundo o pesquisador, “[...] mapa conceitual apresenta a um só momento uma informação visual estática e uma informação verbal” (TAVARES, 2005, p.6). Existe uma divergência entre Tavares (2005) e Moreira; Masini (2006) quanto ao momento de apresentação dos mapas conceituais. Enquanto o primeiro defende a utilização dos mapas conceituais antes de qualquer explanação, Moreira; Masini sustentam que os mesmos devem ser apresentados aos alunos quando já tiverem alguma familiaridade com o assunto. Esses autores argumentam que, se assim não for, os mapas não terão nenhum significado para os alunos, e eles poderão encará-los apenas como algo a mais a ser decorado. 8 Departamento de Física e Programa de Pós-Graduação em Educação - Universidade Federal da Paraíba, 2005. 9 Essa teoria estabelece, em linhas gerais, que a transmissão de informações acontece de maneira mais efetiva quando são usados os canais verbal e auditivo. 10 O conceito de mapa conceitual será amplamente discutido no capítulo 3, sendo sua utilização como recurso instrucional. 27 Além disso, os mapas poderão ser muito difíceis ou confusos, criando uma dificuldade para a aprendizagem ao invés de facilitá-la, constituindo-se, dessa forma, em um fator desmotivador. Neste trabalho de pesquisa, utilizaremos o mapa conceitual numa fase final, isto é, quando os alunos possuírem uma noção do conteúdo a ser ensinado. O artigo estudado anteriormente está em consonância com a proposta da pesquisa no que diz respeito à utilização consorciada dos mapas conceituais como recurso instrucional. Os mapas conceituais possuem uma grande vantagem na programação do conteúdo, pois, de acordo com o ponto de vista ausubeliano, o desenvolvimento de conceitos é facilitado quando elementos mais gerais, mais inclusivos são introduzidos em primeiro lugar e, posteriormente, esse conceito é progressivamente diferenciado. Essa estratégia de programação é proporcionada pelos mapas conceituais, na medida em que forem utilizados como recurso instrucional. No artigo intitulado: Utilizando novas tecnologias no ensino experimental de Eletromagnetismo, Haag (2003) sugere a utilização de interfaces conversoras analógicas/digitais de baixo custo acopladas ao microcomputador, mais especificadamente na saída para a impressora, onde os alunos fazem a aquisição automática dos dados e, posteriormente, a sua interpretação com auxílio de gráficos e planilhas eletrônicas. Nessa nova abordagem experimental do Eletromagnetismo, atividades abertas são sugeridas sobre o tema, além de apresentarem vantagens como: redução do tempo de coleta e interpretação dos dados, e a visualização dos fenômenos que seriam impossíveis de serem observados de outra forma. Ainda a respeito da pesquisa de trabalhos que tratam da implementação da aprendizagem significativa, ou seja, da aplicação da Teoria de Ausubel, podemos citar o artigo Buchweitz (1993): Aprendizagem significativa: idéias de estudantes concluintes de curso superior. Muito embora o público em foco seja constituído por alunos do terceiro grau, podemos aproveitar suas conclusões para inferir proposições. No artigo citado, o autor descreve uma pesquisa feita com 40 alunos do último ano de dois cursos de graduação: Física e Ciências Biológicas. Foi pedido aos alunos que selecionassem e descrevessem uma aprendizagem que lhe tenha sido significativa, que ficou marcada e bem caracterizada ao longo de suas vidas. Os alunos responderam com base nas seguintes orientações: o local em que ocorreram as situações de aprendizagem significativa, tipo de participação ativa ou passiva, duração da situação e classificação das indicações feitas pelos estudantes sobre as razões consideradas na aprendizagem relatada. 28 As conclusões indicam que, as aprendizagens consideradas significativas não foram apenas cognitivas, mas também de atitudes e de habilidades, envolvendo, predominantemente, a participação ativa do aluno. O mais curioso foi a constatação de que essas situações de aprendizagem significativa ocorrem no dia-a-dia do aluno. Os estudantes consideraram significativa a aprendizagem, dentre outras respostas, aquela que serve para aplicação do conhecimento adquirido e internalizado em outras situações novas de seu dia-a-dia. Além disso, o prazer em aprender foi situado como motivo de se considerar a aprendizagem significativa. Os autores Novak e Gowin (1999) propõem a ideia de que grande parte das aprendizagens ocorridas em sala de aula se aproxima mais da mecânica do que da significativa. A aprendizagem mecânica acontece quando a relação entre a nova idéia e a idéia antiga, existente na estrutura cognitiva do aluno, ocorrer de forma arbitrária e não substantiva, levando o aluno a decorar. Moreira (1999) também destaca que a aprendizagem significativa está longe de ocorrer em sala de aula, por se tratar de uma situação pouco trivial. Reforçando a ideia da pouca aplicação da teoria da aprendizagem significativa, Gowin (1981) revela que numa situação interativa do aluno, professor e material, o estudante possui uma forte tendência a captar os significados compartilhados com o professor. Ou seja, “o estudante tem uma grande responsabilidade em selecionar, julgar, revisar, testar, e organizar os muitos significados confusos e conflitantes que emergem em um episódio de ensino” Gowin (1981). Mais uma vez, um dos pressupostos de Ausubel para que ocorra a aprendizagem significativa deve ser observado, isto é, o aprendiz, por intermédio de atividades lúdicas e prazerosas, deve manifestar a sua disposição para relacionar de maneira substantiva o novo material potencialmente significativo à sua estrutura cognitiva. Um dos artigos que trabalha com aplicação da Teoria de Ausubel na implementação de metodologias é: Interpretação de resultados de testes de retenção em termos da Teoria de Aprendizagem de David P. Ausubel. Nesse artigo, Moreira; Dionísio (1975) apontam a aplicação e os resultados da teoria numa instrução individualizada e noutra em grupo. O argumento básico de Ausubel (2003) é que a estrutura cognitiva existente facilita a aprendizagem, pois esta serve de âncora para a subsunção de novas informações. Quando a interação entre a nova informação e o conhecimento já adquirido pelo aluno se dá de forma substantiva e não arbitrária, a aprendizagem se dará de maneira eficiente, resultando numa aprendizagem significativa. Foi relatada nesse artigo uma experiência, no segundo semestre de 1973, com dois grupos de 50 alunos na disciplina de Física II da Universidade Federal do Rio Grande do Sul 29 (UFRGS). De acordo com as conclusões obtidas no trabalho, a instrução individualizada deveria ser mais eficiente do que a em grupo, pois, teoricamente, do ponto de vista de ausubeliano, a primeira é, em princípio, voltada para o aluno, às suas habilidades e aptidões, à sua estrutura cognitiva, sendo a aprendizagem de novas informações potencializada pela ancoragem na estrutura cognitiva pré-existente. Um detalhe muito importante ressaltado no trabalho, também considerado na presente pesquisa, foi a preparação do material instrucional a ser elaborado levando em conta especificadamente a estrutura cognitiva do aluno, pois, se assim não for, os resultados em termos de aquisição do conhecimento podem se mostrar piores do que a instrução em grupo. Um contraponto ao trabalho anterior está no fato de que os materiais instrucionais utilizados na pesquisa fazem parte do cabedal de conhecimento dos alunos, por se tratarem de temas atuais e amplamente acessíveis aos mesmos, tendo assim uma possível referência à sua estrutura cognitiva. Sob a ótica de Ausubel (2003), a instrução individualizada se torna potencialmente mais apropriada para a promoção da aprendizagem significativa, desde que se determine a estrutura cognitiva do aluno para então submetê-lo a uma programação individualizada de acordo com sua própria estrutura. Quando se trabalha com muitos alunos, tal procedimento se torna inviável, mas diversificar e ramificar a programação dentro do possível pode ser uma solução adequada. Dentro de uma instrução em grupo é muito mais difícil atentar às estruturas cognitivas individuais dos alunos, já na instrução individualizada isso é viável. O artigo finaliza colocando uma questão a ser investigada: “será que utilizando uma programação que incorporasse princípios de subsunção daria melhores resultados do que numa programação não baseada nesses princípios?” (MOREIRA, DIONÍSIO, 1975, p. 252). A proposta desta pesquisa caminha nesse sentido, isto é, a ativação de conceitos subsunçores relevantes presentes na estrutura cognitiva do aprendiz pela utilização dos materiais instrucionais com a finalidade de tornar a aprendizagem significativa. Podemos observar que são inúmeras as pesquisas que procuram otimizar o processo de ensino/aprendizagem da Física, todas orbitam em torno de uma pergunta básica normalmente feita pelos alunos: Onde irei aplicar ‘isso’ que estou estudando? Ou, para que serve ‘isso’ que estamos estudando? Todos esses questionamentos vêm ao encontro desta pesquisa – tornar o ensino da Física significativo e contextualizado para o aluno. 30 Para se alcançar tal objetivo, será analisado o resultado obtido pela aplicação da metodologia sugerida11. Constitui também, como objeto de trabalho, o tratamento dos conhecimentos prévios e das experiências socioculturais trazidas pelos alunos, bem como as formas de ativação desses pré-conceitos por meio da utilização dos materiais instrucionais sugeridos pela pesquisa, sendo as oficinas realizadas na área de Magnetismo e Eletromagnetismo. O produto final deste trabalho será uma compilação da metodologia que resultará num impresso: um manual para implementação de organizadores prévios para o ensino do Magnetismo e do Eletromagnetismo. 11 A metodologia será explanada no capitulo 5 e resultará no produto da pesquisa: Um manual para a implementação de organizadores prévios para o ensino do Magnetismo e do Eletromagnetismo. 31 4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 4.1. A aprendizagem significativa e a legislação educacional vigente Apesar dos avanços da pesquisa em ensino de Física, sobretudo nas últimas décadas, a abordagem da Física na grande maioria das escolas de nível médio pressupõe o aluno como um mero expectador, receptor do conteúdo ensinado. Esse ensino tipicamente tecnicista e mecanicista prioriza a memorização de “fórmulas” e de “receituários” de resolução de exercícios e problemas tipificados. Diante de uma situação problema distinta daquela tratada em sala, o aluno tende a ficar perdido, comprovando que as habilidades e competências envolvidas nesse tipo de resolução não foram adquiridas. Estamos compreendendo competência em acordo com Philippe Perrenuod (1999): “uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar a eles”. As competências seriam, então, a mobilização de recursos cognitivos, a fim de responderem a uma situação-problema em tempo real. Procuramos, ainda, ancorar a contextualização pretendida nos PCNEM, destacando competências e habilidades de Física a serem estimuladas e desenvolvidas pelos alunos do Ensino Médio. Na área Em Física Interações, relações e funções; invariantes e transformações Identificar fenômenos naturais ou grandezas Identificar regularidades, associando fenômenos que em dado domínio do conhecimento ocorrem em situações semelhantes para utilizar as científico, estabelecer as relações; identificar leis que expressam essas regularidades na análise e regularidades, invariantes e transformações. previsão de situações do dia-a-dia. Assim, por exemplo, compreender que variações de correntes elétricas estão associadas ao surgimento de campos magnéticos pode possibilitar eventualmente identificar possíveis causas do não funcionamento do motor. 32 Na área Em Física Ciência e Tecnologia na História Compreender o conhecimento científico e Compreender o desenvolvimento dos modelos tecnológico contemporâneo como resultado físicos para direcionar corretamente os modelos de uma construção humana inseridos em um atuais, seu dogmatismo ou certezas definitivas. processo histórico e social. Ciência e Tecnologia na Atualidade Reconhecer e avaliar o desenvolvimento Acompanhar o desenvolvimento tecnológico tecnológico contemporâneo, suas relações contemporâneo, por exemplo, estabelecendo contato com as ciências, seu papel na vida humana, com os avanços das novas tecnologias na medicina, sua presença no mundo cotidiano e seus por meio de tomografias ou diferentes formas de impactos na vida social. diagnóstico; na agricultura, nas novas formas de conservação de alimentos com o uso das radiações; ou, ainda, na área de comunicações, com os microcomputadores, CDs, DVDs, telefonia celular, tevê a cabo. FIGURA 1: Quadro de Competências e habilidades de Física a serem estimuladas e desenvolvidas pelos alunos do Ensino Médio. Fonte: Brasil, PCNEM - 1999, p.65. É importante, ainda, citar o parágrafo das considerações finais dos PCNEM para a o ensino da Física: O desenvolvimento dos fenômenos elétricos e magnéticos, por exemplo, pode ser dirigido para a compreensão dos equipamentos elétricos que povoam nosso cotidiano desde aqueles de uso doméstico aos geradores e motores de uso industrial, provocando competências para utilizá-los, dimensioná-los ou analisar condições de sua utilização. Ao mesmo tempo, esses mesmos fenômenos podem explicar os processos de transmissão de informações, desenvolvendo competências para lidar com as questões relacionadas às telecomunicações. Dessa forma, o sentido para o estudo da eletricidade e do eletromagnetismo pode ser organizado em torno de equipamentos elétricos e telecomunicações (BRASIL, 1999, p.84). Assim, os PCNEM compactuam com a ideia da utilização dos organizadores prévios como uma forma de organização do conteúdo e uma maneira metodológica de introduzir um assunto, desenvolvendo uma aprendizagem contextualizada e significativa. 33 Se a aprendizagem for ineficiente, nenhum conhecimento foi agregado à estrutura cognitiva do aluno. O aprendiz desempenha, dessa forma, um papel de agente passivo no seu processo de aprendizagem, aceitando “obedientemente” o que seu mestre preconiza. Pressupomos o desenvolvimento de uma metodologia utilizando materiais instrucionais e recurso instrucional sobre o Magnetismo e o Eletromagnetismo. Acreditamos que, desse modo, o aluno poderá se tornar um agente ativo, participativo e integrado no processo, potencializando uma aprendizagem significativa a ser internalizada em sua estrutura cognitiva, pois aquela nova informação passou a fazer parte de seu cabedal de conhecimento. Por essa razão, advogamos ser de extrema utilidade para a pesquisa a Teoria da Aprendizagem Significativa de David Paul Ausubel (2003). Um dos principais aspectos da teoria de Ausubel é a detecção dos conhecimentos prévios dos alunos e o direcionamento da aprendizagem de modo a envolver tais conhecimentos. Ausubel propõe uma aprendizagem que tenha um ambiente interativo, uma comunicação eficiente que respeite e conduza o aluno a imaginar-se como parte integrante desse novo conhecimento por meio de “elos” de termos familiares, além da necessidade de se apresentar aos mesmos um material potencialmente significativo, ou seja, tanto lógico como psicologicamente significativo. A aprendizagem receptiva pode se tornar significativa na medida em que o novo conhecimento se relacione de maneira substancial e não-arbitrária com algum aspecto da estrutura cognitiva prévia que lhe for relevante, estando, dessa maneira, mais próximo da aprendizagem significativa. Quanto menos se estabelece esse tipo de relação, mais a aprendizagem se aproxima da mecânica. Na aprendizagem significativa temos aumento da capacidade de aprender outros conteúdos mais facilmente, mesmo que a informação original seja esquecida e, se a nova informação também for esquecida, existe uma facilitação para a “reaprendizagem”. Outra vertente da teoria de Ausubel é a utilização de mapas conceituais como recurso instrucional para aprendizagem significativa, ressaltando o caráter hierárquico da disposição dos conceitos nesses mapas: conceitos mais gerais situam-se no topo da pirâmide, enquanto os mais específicos, na base. Os mapas permitem ao aluno uma visão geral dos conceitos principais e são instrumentos de negociação, isto é, os alunos sempre trazem alguma coisa deles próprios para negociação. Moreira; Masini (2006) defendem que a teoria de Ausubel está fundada na organização e na interação do material na estrutura cognitiva do aprendiz, descrevendo um 34 modelo para planejar a instrução, apresentando os princípios relativos à programação do conteúdo, citando como exemplo os mapas conceituais, bem como as vantagens e desvantagens da sua utilização. Na obra original de Ausubel (2003) são discutidos diferentes tipos de aprendizagem que podem se tornar significativas ou não. O curioso é que uma aprendizagem mecânica pode se tornar significativa para o aluno a depender de dois elos: do próprio aluno e do professor. O aluno necessita estar receptivo à aprendizagem significativa, e imbuído de alguns conceitos esteios fundados em sua estrutura cognitiva, além de ter sua autocrítica formada. Além disso, o professor deve recorrer aos meios facilitadores da aprendizagem significativa, com a utilização de pontes cognitivas, materiais instrucionais e, ainda, levando em conta aspectos idiossincráticos do aluno. Quando o conteúdo ensinado ao aluno possui uma ligação (ponte cognitiva) com algum conhecimento estabelecido cognitivamente em sua estrutura, ou seja, quando aquele conteúdo faz sentido para o aprendiz, Ausubel considera que ocorreu uma aprendizagem significativa. De acordo com o autor, a aprendizagem receptiva significativa se constitui como base da maior parte do conhecimento, ao contrário do que muitos docentes imaginam, não é necessariamente mecânica e tampouco passiva. A aprendizagem significativa receptiva é um processo ativo ao requerer no mínimo: (1) o tipo de análise cognitiva necessária para se averiguarem quais são os aspectos da estrutura cognitiva existente mais relevantes para o novo material potencialmente significativo; (2) algum grau de reconciliação com as idéias existentes na estrutura cognitiva – ou seja, a apreensão de similaridades e de diferenças, e resolução de contradições reais ou aparentes entre conceitos e proposições novos e os já enraizados; e (3) reformulação do material de aprendizagem em termos dos antecedentes intelectuais idiossincrática e do vocabulário do aprendiz em particular (AUSUBEL, 2003, p.06). Percebemos que esse tipo de aprendizagem pode se tornar significativa ou mecânica dependendo do aluno e do próprio professor, se o aprendiz possui um interesse, motivação para aprender determinado conteúdo, a aprendizagem significativa se torna eficaz, caso contrário, os conteúdos “assimilados” pelo aluno terão forma vaga e confusa, levando-o tendenciosamente para o hábito de decorar. Além disso, o aprendiz necessita manifestar uma disposição de relacionar o novo material em sua estrutura cognitiva de forma substantiva e não arbitrária. Ao professor, cabe a escolha de um material potencialmente significativo, isto é, relacionável à sua estrutura cognitiva de uma maneira não arbitrária e não literal (substantiva). 35 A aprendizagem significativa receptiva verbal se aplica mais eficientemente aos adolescentes e aos adultos que passaram pelo estágio concreto-empírico do desenvolvimento cognitivo. Sobre esses estágios de desenvolvimento, os autores Ausubel; Novak; Hanesian, 1980, se fundamentam “na gênese das operações concretas” de Piaget, que ocorre em crianças com idade de sete aos onze anos. Em resumo, Piaget considera que na idade escolar do ensino fundamental as crianças são capazes de realizar operações lógicas e matemáticas elementares. Todavia, ainda ficam a depender, para isso, de recursos visuais concretos. Assim, Piaget denominou a inteligência nessa idade como “operacional concreta”. A capacidade para o pensamento abstrato surge apenas cerca de quatro anos mais tarde. Sob a condição de que haja à sua frente material visual concreto, as crianças de 7 a 8 anos não têm mais o menor problema em ordenar varetas segundo o respectivo comprimento e compreendem facilmente que um todo contém mais elementos do que uma parte12. Após a passagem pelo estágio concreto-empírico, os alunos possuem um maior amadurecimento cognitivo e são capazes de uma maior abstração, fazendo com que partindo das ideias apresentadas surjam conceitos claros, estáveis, não ambíguos e memorizados a longo prazo, como uma estrutura organizada de conhecimento. No estágio de raciocínio abstrato, os autores Ausubel; Novak; Hanesian, 1980, se basearam “nos esquemas operatórios formais ou abstratos”. De acordo com Piaget, os alunos do ensino médio e, antes de tudo, de nível superior, não pensam apenas operatoriamente, mas avançam mais e mais em direção a raciocínios formais e abstratos. Já não dependem, na mesma medida, de material visual concreto, como sucede com as crianças em idade escolar inferior. Questões lógicas simples que recorrem integralmente à capacidade representativa, como a pergunta se há mais pássaros ou maior números de pardais, já não geram mais dificuldades consideráveis na idade dos 11 ou 12 anos. A partir dessa idade, também são formuladas conclusões dedutivas, ou seja, tiradas as consequências de determinadas pressuposições (premissas)13. È no estágio de raciocínio abstrato que se encontram adolescentes e adultos, e que a aprendizagem significativa receptiva verbal se torna exequível, resultando em uma aprendizagem realmente significativa, “[...] neste estágio do desenvolvimento, o emprego 12 Sobre o assunto, entre suas inúmeras obras, indica-se Piaget (2003, 1996, 1976, 1975). 13 Para uma maior profundidade no assunto, sugerimos as obras de Piaget (2003, 1996, 1976 e 1975). 36 adequado da aprendizagem receptiva verbal é altamente significativo” (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980, p.101). Os alunos a serem investigados se encontram nessa faixa etária. A facilitação da aprendizagem significativa receptiva em sala, isto é, a manipulação dos atributos da estrutura cognitiva do aprendiz, é levada a efeito de duas formas: 1. de forma substantiva, através do caráter inclusivo, do poder de explicação e das propriedades integradoras dos conceitos e princípios específicos e unificadores apresentados ao aprendiz (AUSUBEL, 2003, p.10). 2. de forma sistemática, através de métodos apropriados de apresentação, disposição e avaliação da aquisição significativa da matéria, através da utilização adequada de material de instrução organizado e pré-testado e através da manipulação adequada das variáveis quer cognitivas, quer sociais de motivação da personalidade (AUSUBEL, 2003, p.10). Logo, para preparar uma instrução que esteja coerente com a teoria de Ausubel, a primeira e difícil tarefa é a de identificar os conceitos básicos da matéria de ensino, no caso do Magnetismo e do Eletromagnetismo, e de como eles estão estruturados. Na pesquisa, procuramos identificar tais conceitos por meio de um pré-questionário no qual versam questões cotidianas sobre Magnetismo. Essas questões foram elaboradas com base em materiais instrucionais. A finalidade desse levantamento é o de avaliar o quão está desenvolvido cognitivamente o aluno, pois, a aprendizagem significativa não se leva a cabo num vácuo cognitivo. Quando tal problema estiver resolvido devemos dar atenção a outros aspectos14. Para se implementar a aprendizagem significativa receptiva é necessário observar os princípios relativos à programação do conteúdo preconizados por Ausubel (2003): 1. Diferenciação progressiva: é uma maneira de se organizar o conteúdo para promover uma aprendizagem significativa de um determinado conteúdo. Na diferenciação progressiva, as ideias mais gerais e inclusivas são apresentadas aos alunos em primeiro lugar, sendo, então, progressivamente diferenciadas em termos de detalhes e especificidades. 14 Uma vez que o problema organizacional substantivo (identificação dos conceitos organizadores básicos de uma dada disciplina) é resolvido, a atenção pode ser dirigida aos problemas organizacionais envolvidos na apresentação e no arranjo sequencial das unidades componentes. Aqui, hipotetizam-se vários princípios relativos à programação eficiente do conteúdo, aplicáveis independentemente do campo da matéria de ensino (AUSUBEL, 1968, p.152). 37 Essa forma de organização do conteúdo se fundamenta na Psicologia, pois corresponde à sequência natural de aquisição da consciência e da sofisticação cognitiva dos seres humanos quando são submetidos a um campo completamente desconhecido do conhecimento. Um segundo pressuposto seria o processo de representação, organização e guarda no sistema cognitivo humano desse conhecimento. (1). [...] é menos difícil para os seres humanos compreenderem aspectos diferenciados de um todo anteriormente aprendido, mais inclusivo, do que formular o todo inclusivo a partir das suas partes diferenciadas anteriormente aprendidas. (2). [...] a organização que o indivíduo faz do conteúdo de uma determinada disciplina no próprio intelecto consiste numa estrutura hierárquica, onde as idéias mais inclusivas ocupam uma posição no vértice da estrutura e subsumem, progressivamente, as proposições e abrangem proposições, conceitos e dados factuais progressivamente menos inclusivos e mais diferenciados. (AUSUBEL, 2003, p.166). Quando o aluno é suficientemente maduro cognitivamente, isto é, apresenta um arcabouço ideativo já estável em sua estrutura, a aprendizagem significativa verbal de novos conceitos e ideias se tornam potencialmente eficazes, como considera o pesquisador: [...] as novas idéias e informações se apreendem e retêm, de modo mais eficaz, quando já estão disponíveis na estrutura cognitiva idéias mais inclusivas e especificamente relevantes para desempenharem um papel de subsunção ou para proporcionarem uma ancoragem ideária a estas novas (AUSUBEL, 2003, p.166). Os PCNEM preconizam que o novo ensino médio “[...] deverá preparar o aluno para a vida, qualificar para a cidadania e capacitar para o aprendizado permanente, em eventual prosseguimento dos estudos ou diretamente no mundo do trabalho” (BRASIL, 1999); os critérios do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) reforçam essa ideia, sobretudo no critério da “Proposta Pedagógica”, em que se exige dos livros didáticos uma sintonia com as Teorias da Educação e que se leve em conta o desenvolvimento cognitivo dos alunos: [...] examinam-se os fundamentos da proposta que sustenta a coleção, avaliando sua atualidade em termos de teorias da educação em ciências; o modo como é considerado e utilizado o conhecimento dos alunos no encaminhamento das atividades; o modo como a proposta considera o desenvolvimento cognitivo dos alunos; a coerência entre o que é proposto no manual do professor e o que efetivamente é apresentado no livro do aluno; os modos de contextualização dos conteúdos e as pontes estabelecidas com o cotidiano; o caráter do conhecimento científico expresso na obra; se ela apresenta a ciência como tendo caráter histórico, de produção coletiva e de constante reconstrução (Brasil, 2008, p.22). Esta pesquisa está alinhada e pretende contribuir com as mudanças que estão acontecendo na Educação Brasileira, tais mudanças começam a ser expressas nos livros 38 didáticos recomendados pelo PNLEM, cuja formatação está fundamentada nos PCNEM, com critérios explicitados no programa. Ausubel salienta que a organização de um determinado conteúdo focado numa aprendizagem significativa deva ser conduzida de modo que ative os conceitos subsunçores dos alunos, isso não é uma prática difundida nas salas de aula, ao contrário, o que se observa é uma organização que privilegia a memorização do conteúdo, em que o aluno é forçosamente conduzido a pensar tal qual seu professor. Essa prática organizacional leva em conta somente os aspectos tópicos, sem considerar o nível relativo de abstração, generalidade e de inclusividade. Esta prática tanto é incompatível com a verdadeira estrutura da maioria das disciplinas como é incongruente com o processo em que se postula a ocorrência aprendizagem significativa, com a organização hierárquica da estrutura cognitiva, em termos de gradações progressivas de inclusão em sentido descendente com o mecanismo de acréscimo através de um processo de diferenciação progressiva de uma área indiferenciada. Deste modo, na maioria dos casos, exige-se aos estudantes que apreendam os pormenores de disciplinas novas e desconhecidas, antes de adquirirem um conjunto adequado de subsunçores relevantes, a um nível de inclusão apropriado (AUSUBEL, 2003, p.166). 2. Reconciliação interativa15: é um processo pelo qual o conteúdo é organizado de modo que as semelhanças e diferenças significativas sejam ressaltadas, de reconciliar inconsistências reais ou aparentes e de explorar explicitamente relações entre as ideias. Da mesma forma que na diferenciação progressiva, nesse processo, a figura do professor é de extrema importância ao apontar essas tênues semelhanças e as quase imperceptíveis diferenças entre um conceito e outro. Podemos citar, da teoria Eletromagnética, um exemplo em que a reconciliação interativa é fundamental, que o conceito de monopólo elétrico pode levar o aluno a concluir que também exista o monopólo magnético. Caso o professor não proceda a reconciliação interativa, fatalmente essa confusão acontecerá. Um relato de Ausubel sobre os livros didáticos da década de 1960 revela que a reconciliação interativa está longe de acontecer nesses livros – textos, pois, existia a compartimentalização e segregação das ideias ou tópicos particulares dentro dos seus respectivos capítulos ou subcapítulos, e ressaltam as consequências desta abordagem: 15 As ideias de Ausubel; Novak; Hanesian (1978) sobre a reconciliação interativa se fundamentaram em trabalhos anteriores de Ward; Davis (1939) e de Kastrinos (1965), que comprovaram seu potencial e efetividade no processo de aprendizagem, além de comprovarem uma significativa retenção por parte dos alunos do material aprendido. 39 (1) termos múltiplos são usados para representar conceitos que são intrinsecamente equivalentes, à exceção da referência contextual, criando, assim, uma pressão e uma confusão cognitivas incalculáveis, bem como encorajando a aprendizagem por memorização; (2) que não se faz utilização adequada de idéias relevantes anteriormente apreendidas, como base para a subsunção e assimilação de novas informações relacionadas; (3) e que, visto que não se tornam claras e explicitas as diferenças significativas entre conceitos aparentemente semelhantes, muitas vezes, estes percepcionam-se e retêm-se como sendo idênticos (AUSUBEL, 2003, p.168). Atualmente, com o PNLEM, as obras didáticas estão cada vez mais sintonizadas com as mudanças que se processam, no sentido de fornecerem aos professores mais recursos didáticos, e aos alunos um conhecimento contextualizado e significativo. De acordo com os PCNEM: as características de nossa tradição escolar diferem muito do que seria necessário para a nova escola. De um lado, essa tradição compartimenta disciplinas em ementas estanques, em atividades padronizadas, não referidas a contextos reais. De outro lado, ela impõe ao conjunto de alunos uma atitude de passividade, tanto em função dos métodos adotados quanto da configuração física dos espaços e das condições de aprendizado (BRASIL, 1999, p. 9). A pretensão dos PCNEM, a de uma nova escola, está totalmente alinhada com o princípio relativo à programação do conteúdo, na medida em que sugere a sua organização de forma a obter uma maior integração dos alunos no seu processo de aprendizagem, além disso, os PCNEM preconizam a descompartimentação das disciplinas em ementas desconexas. Pretendemos, com a aplicação da metodologia, desenvolver no alunado as competências e habilidades necessárias para a sua formação integral, em consonância com os PCNEM: [...] estar formada para a vida significa mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos. Significa:*saber se informar, comunicar-se, argumentar, compreender e agir;*enfrentar problemas de diferentes naturezas; *participar de um convívio social que lhes dê oportunidades de se realizarem como cidadãos;*fazer escolhas e proposições;*tomar gosto pelo conhecimento, aprender a aprender (BRASIL, 1999, p.9). 3. Organização sequencial: de acordo com Ausubel (2003) a disponibilidade de subordinadores ideacionais relevantes e substantivos para a aprendizagem verbal significativa pode ser otimizada valendo-se das dependências sequênciais16 naturais 16 Dependência sequencial: relação entre as unidades de assuntos que aparecem antes e depois, nas quais o conhecimento das primeiras é essencial para a aprendizagem das últimas. 40 entre as divisões componentes de uma disciplina. Se a organização da ordem dos tópicos de determinado campo de conhecimento obedecer tais dependências sequenciais, a aprendizagem de cada unidade se torna uma realidade de direito próprio. 4. Consolidação: com a consolidação podemos assegurar uma prontidão17 continuada do assunto e êxito na aprendizagem sequencialmente organizada, desde que o passo precedente seja sempre claro, estável e bem organizado. O assunto não deveria ter continuidade até que todas as etapas anteriores tivessem sido compreendidas. “Assim, nunca se deve introduzir novo material na sequência até se dominarem bem todos os passos anteriores” (AUSUBEL, 2003, p.172). A consolidação é obtida mediante “[...] confirmação, correção, clarificação, no decurso do retorno (feedback), e através da prática diferencial e da revisão no decurso da exposição repetida, com retorno, ao material de aprendizagem” (AUSUBEL, 2003, p.172). O enfoque do autor sobre ‘aquilo que o aluno já sabe’ como o fator isolado mais importante, influenciando a aprendizagem antecedente, está sempre implícito nos princípios anteriormente citados. Tais princípios programáticos organizacionais destinam-se a tornar os materiais instrucionais potencialmente significativos para os alunos. Na presente pesquisa, sugerimos a utilização de mapas conceituais como um recurso instrucional na organização do conteúdo, facilitando a realização da diferenciação progressiva e da reconciliação interativa em que advogamos potencializar a aprendizagem significativa. Para cada conteúdo o professor pode apresentar um mapa conceitual. No caso desta pesquisa, apresentamos uma sugestão de um mapa conceitual para Eletricidade e para o Magnetismo. “Os mapas conceituais podem ser traçados para toda uma disciplina, para uma subdisciplina, para um tópico específico de uma disciplina e assim por diante” (MOREIRA; MASINI, 2006, p.52). 17 Existência de um nível evolutivo de funcionamento cognitivo suficiente para tornar possível uma dada tarefa de aprendizagem com uma economia razoável de tempo e esforço (como da adequação de ideias especificamente relevantes na estrutura cognitiva de um aprendiz particular – prontidão para aprendizagem da matéria). 41 FIGURA 2: Mapa Conceitual Fonte: MOREIRA; BUCHWEITZ, 1987 É de extrema importância salientar que se trata de “um mapa conceitual” e não “o mapa conceitual”, ou seja, cada profissional da área pode traçar seu mapa e, com certeza, não serão iguais, pois, cada qual possui uma visão diferente de como os conceitos estão relacionados dentro de uma disciplina e, além disso, cada mapa conceitual deverá ser visto como uma das possíveis representações de um determinado conteúdo. Um mapa conceitual é uma estrutura dinâmica que reflete a compreensão de quem o faz no momento, sendo um ótimo recurso para compartilhar, trocar e “negociar” significados. Alguns professores afirmam a utilização de “mapas conceituais” antes mesmo de terem ouvido falar neles. Na realidade, o que usam são quadros-sinópticos, servindo esse conhecimento prévio como ideia-âncora (subsunçor) para dar significado ao conceito de mapa conceitual, de tal maneira que o interpretaram apenas como um novo tipo de quadro-sinóptico (um caso de aprendizagem significativa subordinada derivativa!). Os mapas conceituais devem ser vistos como diagramas planares que mostram as relações hierárquicas entre conceitos de um corpo de conhecimento, e que derivam sua existência da própria estrutura conceitual desse corpo de conhecimento. 42 De uma maneira geral, os mapas conceituais, além de poderem ser utilizados como um recurso instrucional, podem, também, ser usados como instrumento de ensino e/ou de aprendizagem, assim como auxiliares na análise e planejamento do currículo (STEWART et al., 1979). A utilização de mapa conceitual apresenta vantagens e desvantagens. Entre as possíveis vantagens, pode-se mencionar (MOREIRA e MANSINI, 2006): • enfatizar a estrutura conceitual de uma certa disciplina e o papel dos sistemas conceituais em seu desenvolvimento; • mostrar que os conceitos de uma certa disciplina diferem quanto ao grau de inclusividade e generalidade e apresentar esses conceitos em uma ordem hierárquica de inclusividade que facilite sua aprendizagem; • proporcionar uma visão integrada do assunto e uma espécie de “listagem conceitual” daquilo que foi abordado nos materiais instrucionais. Dentre as possíveis desvantagens podemos citar: • se o mapa não tem significado para os alunos, eles podem encará-lo como algo a mais para decorar; • os mapas podem ser muito complexos ou confusos e dificultar a aprendizagem, ao invés de facilitá-la; • a habilidade dos alunos em construir hierarquias conceituais pode ficar inibida em função de já receberem prontas as estruturas propostas pelo professor (segundo sua própria percepção e preferência). (MOREIRA e MANSINI, 2006, p. 56, 57). Essas desvantagens podem ser minimizadas, na prática, pela explicação do professor, deixando claro que existem diversas formas de se construir um mapa, estimulando os próprios alunos a traçarem os seus. Além disso, o professor, ao elaborar mapas conceituais para usá-los como recurso instrucional, deve ter sempre em mente um compromisso entre a clareza e completeza. Ou seja, nem todas as possíveis linhas que indicam relações entre conceitos devem ser traçadas, a fim de manter a clareza do mapa. Vale a pena observar que os mapas conceituais “[...] podem ser usados para dar uma visão geral prévia do que vai ser estudado, eles devem ser usados, preferencialmente, quando os alunos já têm uma certa familiaridade com o assunto” (MOREIRA; MASINI, 2006, p.55). O mapa conceitual sugerido por Moreira; Buchweitz (1987) relaciona algumas leis que não são estudadas no Ensino Médio, em razão do ferramental matemático utilizado e, além disso, o próprio Moreira faz algumas críticas sobre a utilização de expressões matemáticas utilizadas como conectores entre um conceito e outro, pois, pode ser uma maneira de contornar o desconhecimento das relações entre conceitos. 43 Optamos por utilizar o mapa a seguir, uma vez que é direcionado para o Ensino Médio. FORÇA atuando CARGA ELÉTRICA em movimento (fonte) CAMPO ELÉTRICO FORÇA ELÉTRICA LEI DE COULOMB mensurar experiência de Oersted CAMPO MAGNÉTICO fonte regra da mão direita IMÃ VETOR E CORRENTE ELÉTRICA FORÇA MAGNÉTICA representação representação LINHAS DE FORÇA LINHAS DE CAMPO ÁREA FEM INDUZIDA MOTORES VETOR B GERADORES LEI DE FARADAY HIDRELÉTRICAS Variando FLUXO MAGNÉTICO TERMOELÉTRICAS FIGURA 3: Mapa conceitual do Magnetismo e do Eletromagnetismo para o Ensino Médio Este é um modelo de mapeamento conceitual, seguindo a concepção ausubeliana, ou seja, partimos de um conceito geral e mais inclusivo (força) e, progressivamente, foi se diferenciando em termos de detalhes e especificidades. 44 Escolhemos o conceito subsunçor “força” pelo fato de todos os alunos terem uma noção desse assunto. Podemos perceber que no topo do mapa temos um conceito muito geral e inclusivo, no “miolo” do mapa encontramos conceitos intermediários e na base conceitos específicos, pouco inclusivos, formados pelos exemplos e/ou aplicações. A pesquisa se desenvolverá numa sequência coerente com a teoria ausubeliana, ou seja, dentro da diferenciação progressiva e da reconciliação interativa, partindo daquilo que o aluno possui internalizado como conceitos prévios: 1º - motivamos o aluno com um breve histórico e algumas curiosidades a respeito do assunto (organizador prévio), com a utilização do material instrucional; 2º - ativamos ou criamos os subsunçores relevantes de sua estrutura cognitiva por meio da leitura das reportagens (organizador prévio), com o uso do material instrucional; 3º - colocamos os alunos em interação com os equipamentos a serem construídos nas oficinas (organizador prévio); 4º - propiciamos um momento de compartilhar, negociar e trocar significados, utilizando o mapa conceitual como recurso instrucional. Uma explicação se faz necessária nesse momento, designamos o mapa conceitual como sendo um recurso instrucional e não um material instrucional (organizador prévio) por dois motivos: 10 – há algumas divergências entre alguns pesquisadores quanto ao momento mais apropriado para se apresentar o mapa conceitual, antes ou depois do assunto a ser estudado; 20 – de acordo com o aspecto idiossincráticos de cada um, podemos ter diferentes mapas para um mesmo assunto. Dessa maneira, anteriormente à utilização do mapa conceitual, depois que o discente tenha tido um pré-contato com o assunto, sugerimos a utilização dos organizadores prévios que, em nosso caso, seriam representados pelos materiais instrucionais (textos e as oficinas) sobre o Magnetismo e o Eletromagnetismo. Assim, os materiais instrucionais servirão de suporte para os mapas conceituais (recurso instrucional), e como elemento imprescindível na manipulação da estrutura cognitiva do aluno. 45 Baseamo-nos em outros trabalhos18 para fundamentar a hipótese de que o emprego de um organizador prévio pode contribuir para a promoção da aprendizagem significativa. Para ter-se o máximo da eficiência da aprendizagem de um determinado conteúdo se torna necessário um organizador separado para cada unidade de material, assim sendo, a organização sequencial do assunto pode ser muito eficiente, uma vez que cada novo incremento de conhecimento serve como subordinador para a aprendizagem subsequente. No caso desta pesquisa, foram trabalhados conteúdos de força magnética; um organizador prévio interessante seria composto de artigos que tratem do desenvolvimento da pesquisa brasileira nos trens Maglev (levitação magnética), ressaltando o princípio de funcionamento desses trens-bala e a construção de motores elétricos. Para cada tópico dado existe um problema de averiguação sobre qual sequência particular é mais eficiente, isso requer considerações da análise lógica da tarefa, diferenciação progressiva, nível evolutivo do funcionamento cognitivo, reconciliação interativa e hierarquias de aprendizagem. Pretendemos, através desta sequência sugerida, uma eficiente promoção da aprendizagem significativa. Primeiro, estimulamos o aluno com um histórico do assunto, curiosidades etc. Posteriormente, manipulamos a estrutura cognitiva do aluno com os organizadores prévios que lhes sejam significativos, em seguida, fazemos o uso de conceitos ou proposições inclusivas e substantivas mais amplas, que funcionem como subordinadores de outros conceitos na estrutura cognitiva e como ancoradouro no processo de assimilação. Tal manipulação é conseguida por meio da leitura de textos, artigos etc, que tratem das aplicações tecnológicas do assunto em estudo. Quando essa etapa da pesquisa estiver cumprida e os conceitos subsunçores dos alunos ativados, apresentamos o mapa conceitual. Logo após este estágio, esperamos que os alunos sedimentem e consolidem seus conceitos com a manipulação e construção de seus protótipos, fase da realização das oficinas. Pretendemos, com a organização do conteúdo sugerida e descrita, atingir o estágio da aprendizagem significativa e ter uma efetiva assimilação dos conceitos. 18 Os autores Ausubel; Fitzgerald (1962), Gubrud; Novak (1973), Royer; Cable (1975), West; Fresham (1976) concordam que na aprendizagem escolar sequencial, o conhecimento do material que aparece anteriormente possui aproximadamente a mesma função de um organizador prévio em relação ao material que aparece posteriormente na sequência, vindo a potencializar a aprendizagem significativa. 46 Leitura em estrutura de reportagens, artigos etc Mapas conceituais (recurso instrucional) MAT. INSTRUCIONAL (organizado res prévios) Oficinas FIGURA 4: Sequenciação de etapas da aplicação da metodologia Os organizadores prévios constituem um recurso pedagógico que auxilia no cumprimento dos princípios apresentados anteriormente, sobretudo na diferenciação progressiva e a reconciliação integradora, eliminando o hiato existente entre o que o aluno já sabe (conceitos prévios) e aquilo que ele precisa saber se quiser adquirir novos conhecimentos mais ativa e rapidamente. O principal objetivo dos organizadores prévios é manipular a estrutura cognitiva do aluno de tal maneira que o novo material possa ter algum significado para ele, ou seja, possa ser lógico. Os organizadores envolvem a utilização de materiais relevantes, inclusivos e introdutórios que são maximamente claros e estáveis. Os organizadores prévios são introduzidos antes do próprio material de aprendizagem, sendo utilizados para facilitar o estabelecimento de uma disposição significativa da aprendizagem, com isso, os alunos reconhecem que elementos dos novos materiais de aprendizagem podem ser significativamente aprendidos relacionando-os com os aspectos relevantes da estrutura cognitiva existente. As razões para o uso de organizadores prévios se baseiam: 1. A importância de ter idéias estabelecidas relevantes, ou apropriadas, estabelecidas, já disponíveis na estrutura cognitiva, para fazer com que as novas idéias logicamente significativas se tornem potencialmente significativas e as novas idéias potencialmente significativas se tornarem realmente significativas (isto é, possuírem novos significados), bem como fornecer-lhes uma ancoragem estável (AUSUBEL, 2003, p.12). 2. As vantagens de se utilizarem as idéias mais gerais e inclusivas de uma disciplina na estrutura cognitiva como idéias ancoradas ou subsunçores, alteradas de forma adequada para uma maior particularidade de relevância para o material de instrução. Devido à maior aptidão e especificidade da relevância das mesmas, também usufruem de uma maior estabilidade, poder de explicação e capacidade integradora inerentes (AUSUBEL, 2003, p.12). 47 3. O fato de os próprios organizadores tentarem identificar um conteúdo relevante já existente na estrutura cognitiva (e a ser explicitamente relacionado com esta) e indicar, de modo explicito, a relevância quer deles próprios para novo material de aprendizagem (AUSUBEL, 2003, p.12). As razões pelas quais o uso desses organizadores potencializa a aprendizagem receptiva significativa estão relacionadas com o fato de como os mesmos são organizados, partindo de ideias mais generalizadas e potencialmente significativas, chegando aos conceitos mais específicos e inclusivos (diferenciação progressiva). Defendemos para essa etapa o material de divulgação de pesquisas, a saber, artigos em revistas científicas, reportagens, jornais e a realização das oficinas etc. Esse processo manipula a estrutura cognitiva do aprendiz de tal forma que o novo material aprendido passe a ter um significado para ele. Ausubel considera que os alunos dessa faixa etária (adolescentes) possuem a um arcabouço de idéias estáveis, conferindo a eles uma maior sofisticação cognitiva. Essas idéias ancoras, foram desenvolvidas ao longo da vida do discente. Assim sendo, são capazes de relacionar abstrações significativamente umas as outras sem ajuda de apoios concretoempíricos. Destacam, em seguida, outras funções para esses organizadores: [...] proporcionar um suporte (ancoragem) ideário para a incorporação e retenção estáveis do material pormenorizado e diferenciado que resulta da situação de aprendizagem, bem como aumentar a discriminação entre esta situação e as idéias ancoradas relevantes da estrutura cognitiva (AUSUBEL, 2003, p.66). Os organizadores podem, ainda, ser diferenciados conforme a familiaridade do material, para um material de aprendizagem pouco familiar ao aluno é conveniente utilizar um organizador expositório, cujo objetivo é o de oferecer subordinadores próximos às ideias préconceituais dos alunos. Para materiais de aprendizagem que são familiares poderá ser usado um organizador comparativo, tanto para a integração das novas ideias à estrutura cognitiva como para aumentar a discriminabilidade entre ideias novas e as existentes que são essencialmente diferentes, mas podem causar confusão. Sempre que a capacidade de discriminação entre as idéias ancoradas e novas idéias do material de instrução seja um problema grave, pode utilizar-se um organizador comparativo que clarifique de modo explicito semelhanças e diferenças entre os dois conjuntos de idéias. Quando não se trata de um problema especial, geralmente é suficiente um organizador expositivo (AUSUBEL, 2003, p.12). 48 Neste trabalho, utilizamos um organizador expositivo (materiais instrucionais), tendo em vista que grande parte dos alunos pesquisados possui pouca familiaridade com o assunto estudado. Ausubel ressalta ainda que a utilização dos organizadores prévios propicia ao aprendiz uma pré-visão generalizada do conteúdo que lhe será passado, e ainda recomenda a elaboração desses organizadores para cada nova unidade de material: [...] é que só desta forma é que o aprendiz pode usufruir das vantagens dos subsunçores, que lhes dão uma previsão geral do material de instrução mais detalhado, antes do verdadeiro confronto com este, quer elementos de organização que incluem e explicam, de forma mais eficaz, as idéias relevantes da estrutura cognitiva do mesmo (AUSUBEL, 2003, p.152). Para que os organizadores prévios cumpram com o seu papel, estes devem ser apresentados numa linguagem acessível e em termos familiares ao aprendiz e, além disso, serem passíveis de apreensão. A premissa desses organizadores é de que o material logicamente significativo se incorpore com mais rapidez e mais estavelmente na estrutura cognitiva do aluno, à medida que for passível de subordinação às ideias existentes especificamente relevantes. Essa incorporação do material aprendido significativamente se torna possível, pois, “[...] utilizam e mobilizam quaisquer conceitos ancorados relevantes já estabelecidos na estrutura cognitiva do aprendiz e torna-os parte da entidade subordinadora” (AUSUBEL, 2003, p.154). Assim sendo, não só o novo material se torna mais familiar e potencialmente mais significativo, como os antecedentes ideacionais mais relevantes na estrutura cognitiva também são selecionados e usados de forma integrada. Além disso, os organizadores prévios constituem um ótimo esteio se estiverem: “[...] tornando possível a subsunção a idéias especificamente relevantes (e apoiando-se noutras vantagens da aprendizagem de subsunção), os organizadores fornecem uma ancoragem ótima para o material de instrução, a um nível apropriado de inclusão” (AUSUBEL, 2003, p.154). Ausubel (2003) salienta também que o uso de organizadores prévios pode eliminar a tendência natural dos alunos em memorizar o conteúdo que não lhes é familiar. [...] o uso de organizadores torna desnecessária grande parte da memorização à qual os estudantes recorrem muitas vezes, pois lhes exigem que aprendam os pormenores de uma disciplina desconhecida, antes de terem disponível um número suficiente de idéias ancoradas chave que tornem estes pormenores significativos. Devido à freqüente não disponibilidade de tais idéias na estrutura cognitiva, com as quais os pormenores se podem relacionar de forma não-arbitraria e substantiva, o 49 material, embora logicamente significativo, não possui, muitas vezes, significação potencial (AUSUBEL, 2003, p.154). Outro pesquisador19 relata que os organizadores prévios exercem um efeito importante na aprendizagem escolar, e análises estatísticas de seus achados para avaliar a “significância prática” revelaram dados interessantes sobre esses organizadores. Uma das principais variáveis da aprendizagem receptiva significativa é a discriminação. Quando se apresenta ao aluno um material potencialmente significativo, a existência da discriminação entre as ideias novas e os conceitos ou proposições previamente aprendidos na estrutura cognitiva do aluno facilita enormemente a aprendizagem significativa, caso contrário pode ocorrer uma interferência proativa20. Isto passa-se, sobretudo, quando os dois conjuntos de idéias são confusamente semelhantes e quando as idéias anteriormente apreendidas não são claras nem estão bem estabelecidas. Nestas últimas condições, o aprendiz encontra, de forma compreensível, uma maior dificuldade na aprendizagem de novas idéias do que se não tivesse sido anteriormente exposto a um conjunto de proposições confusamente semelhantes e não discrimináveis (AUSUBEL, 2003, p.159). A discriminabilidade entre o novo material aprendido e as ideias já estabelecidas é uma função, em grande parte, da estabilidade das ideias já existentes que são relacionáveis na estrutura cognitiva do aprendiz. Pretendemos, também, com os organizadores prévios, utilizados como material instrucional, e o uso dos mapas conceituais como recurso instrucional, atingir um determinado grau de discriminação que seja suficiente para termos um bom resultado na assimilação do conteúdo. Desse modo, se os organizadores, por um lado, conseguirem formatar de forma clara, sem ambiguidades, e explicitar as diferenças e semelhanças fundamentais existentes entre os novos conceitos e princípios subsunçores a serem apreendidos, as novas ideias estariam, dessa forma, discriminadas em relação às ideias esteios, facilitando assim a compreensão do novo conteúdo, evitando possíveis confusões e, por outro, ideias semelhantes estabelecidas na estrutura cognitiva do aluno. A partir desse pressuposto, postula-se: 19 Em 98% dos casos um organizador prévio resultou numa melhora de 10 a 18% de aumento no escore médio de aprendizagem. Comparando com grupos que não usaram um organizador prévio, a percentagem de aumento no escore médio de transferência de conceitos efetuada por um organizador variou de 16 a 50%, dependendo do tipo de tarefa de aprendizagem (BARNES, 1972 apud AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1978, p.148). 20 Constitui uma transferência negativa causada pela confusão entre duas ideias similares, cujos esteios não estão suficientemente estáveis na estrutura cognitiva do aluno. 50 (1) Uma capacidade de discriminação melhorada das novas idéias ancoradas iria permitir ao aprendiz apreender, mais tarde, as idéias e informações mais pormenorizadas da própria passagem de aprendizagem, com menos ambiguidades, significados competidores e idéias erradas sugeridas pelas idéias semelhantes estabelecidas na estrutura cognitiva do que seria possível de outra forma (AUSUBEL, 2003, p.170). (2) À medida que estes novos significados mais claros e discerníveis, menos confusos e altamente diferenciados interagem com os respectivos subsunçores (isto é, com significados análogos, estabelecidos e mais subordinantes ou combinatórios, durante o intervalo de retenção), também retêm a própria identidade durante mais tempo (AUSUBEL, 2003, p. 170). Outro aspecto da Teoria de Ausubel considerado pertinente e relevante para a pesquisa é a Teoria da Assimilação, já que é pela assimilação de conceitos que crianças e adultos adquirem novos conhecimentos. Além disso, com o processo de assimilação, a aquisição e a organização de significados na estrutura cognitiva se tornam mais claras e precisas. A hipótese da assimilação ajuda a explicar como o conhecimento é organizado na estrutura cognitiva do aluno. Se armazenam as novas idéias em relações ligadas a idéias correspondentemente relevantes, existentes na estrutura cognitiva [e se também é verdade quer que um membro do par relacionado é, geralmente, subordinante, ou é mais inclusivo do que outro, quer que o membro subordinante (pelo menos, assim que estiver estabelecido) é o mais estável do par], os resíduos cumulativos daquilo que se apreende, retém e esquece (a estrutura psicológica do conhecimento ou estrutura cognitiva como um todo) têm, necessariamente, de estar em conformidade com o princípio organizacional de diferenciação progressiva (AUSUBEL, 2003, p.107). A essência da Teoria da Assimilação “[...] está na idéia de que se adquirem os novos significados por meio da interação de novas idéias (conhecimentos) potencialmente significativas com proposições e conceitos anteriormente apreendidos” (AUSUBEL, 2003, p.106). No processo de assimilação, mesmo após o aparecimento do significado, a relação entre as ideias-esteios (subsunçores) e as assimiladas permanecem na estrutura cognitiva. Ausubel descreve o processo de “subsunção” por meio do que ele chama de “princípio de assimilação”, o qual é representado simbolicamente da seguinte maneira: 51 Nova informação potencialmente significativa. Relacionada e assimilado por Conceito subsunçor existente na estrutura Produto interacional (subsunçor modificado). FIGURA 5: Princípio de assimilação Fonte: MOREIRA; MASINI, 2006, p.25 Assim, a assimilação é um processo que ocorre quando um conceito ou proposição a, potencialmente significativo, é assimilado sob uma ideia ou conceito mais inclusivo já existente na estrutura cognitiva, como um exemplo, extensão, elaboração ou qualificação do mesmo. A partir dessa interação, tanto a nova informação como os conceitos e proposição aprendidos anteriormente são modificados, e o novo produto interacional adquire um novo significado. Além disso, a’ e A’ permanecem relacionados como co-participantes de uma nova unidade a’A’ que nada mais é do que o subsunçor modificado. No caso da pesquisa, se o conceito de força magnética deve ser aprendido por um aluno que já possui o conceito de força bem estabelecido em sua estrutura cognitiva, o novo conceito específico (força magnética) será assimilado pelo conceito mais inclusivo (força) já adquirido. Esse pré-conhecimento já estabelecido funcionará como um ótimo subsunçor, funcionando como um ancoradouro para as novas ideias. Esse processo de interação sequencial de novos significados resulta: O processo de assimilação sequencial de novos significados, a partir de sucessivas exposições a novos materiais potencialmente significativos, resulta na diferenciação progressiva de conceitos ou proposições no conseqüente aperfeiçoamento dos significados e numa potencialidade melhorada para se fornecer ancoragem a aprendizagens significativas posteriores. (AUSUBEL, 2003, p.106). O refinamento dos significados é obtido pela diferenciação progressiva dos conceitos ou proposições, com o consequente aumento potencial para a criação de uma base para posterior aprendizagem significativa. O relacionamento dos conceitos ou proposições por meio de uma aprendizagem sobreordenada21 ou combinatória acarreta o surgimento de novos 21 Aprendizagem do significado de um novo conceito ou proposição que não pode se relacionar especificamente com proposições ou conceitos subordinados na estrutura cognitiva, mas pode se relacionar com antecedentes amplos de um conteúdo genericamente relevante na estrutura cognitiva. 52 significados, e significados conflitantes podem ser resolvidos por meio da reconciliação integradora. Admite-se que a assimilação aumente o poder de fixação de três maneiras diferentes: Em primeiro lugar, ficando “ancorado”, por assim dizer, a uma forma modificada de uma idéia altamente estável e relevante existente na estrutura cognitiva, novo significado partilha, de modo substituto, a estabilidade e longevidade desta idéia. Em segundo lugar, este tipo de “ancoragem”, continuando, durante o intervalo de armazenamento, a relação original não-arbitrária e substantiva entre a nova idéia e as estabelecidas, também protege o novo significado da interferência relativa exercida por idéias semelhantes contraditórias anteriormente apreendidas (próativas), experimentadas em simultâneo, ou encontradas posteriormente (retroativas). Esta interferência é muito mais prejudicial quando se relaciona arbitrariamente o material de aprendizagem à estrutura cognitiva, tal como no caso da aprendizagem por memorização. Em terceiro lugar, o fato de se armazenar a idéia significativa acabada de surgir numa relação ligada com a(s) idéia(s) particular(es) da estrutura cognitiva para a qual é mais relevante - ou seja, com a(s) idéia(s) com a(s) qual(is) estava originalmente relacionada para a aquisição de significado – torna, presumivelmente, recuperável um processo menos arbitrário e mais sistemático, explicando, também, a assimilação obliterante quando a recuperação não é possível (AUSUBEL, 2003, p.107). No estudo do Magnetismo e do Eletromagnetismo consideramos que, havendo a aprendizagem significativa propriamente dita, as vantagens por parte dos alunos estariam na dissociação dos novos conceitos em suas ideias básicas, ficando como resultado dessa dissociação as ideias âncoras que poderão servir de subsunçores para entendimentos posteriores. Não é difícil de inferir que uma aprendizagem, quando se torna significativa para o aluno, faz com que ele aplique os seus conhecimentos em inúmeras situações - problemas do seu cotidiano -, em outras palavras, ele adquiriu uma competência que o acompanhará por toda sua vida. A aquisição de competências e de habilidades é a tônica dos PCNEM, que integram os objetivos a serem atingidos no Ensino Médio. Uma das estratégias sugerida para atingir tais objetivos é a seleção dos “Temas estruturadores do ensino da Física”, são temas que articulam conhecimento e competências. Um desses temas foi tratado de uma forma fenomenológica e lúdica, em que os alunos trabalham na compreensão dos equipamentos elétricos que estão presentes em nosso dia-a-dia, desde aqueles de utilização doméstica aos geradores e motores de uso industrial, provendo competências para utilizá-los, dimensioná-los ou analisar condições de sua utilização, havendo uma efetiva interação dos alunos com esses equipamentos. 53 Percebemos que tais temas estruturadores “podem funcionar” como organizadores prévios para o caso do Magnetismo e do Eletromagnetismo se fossem organizados em torno dos equipamentos elétricos e telecomunicação, um dos seis temas sugerido pelos PCNEM. A semelhança dos temas estruturadores com os organizadores prévios é no tocante à organização dos conteúdos da Física, em termos de objetivos almejados e na exemplificação de como reorganizar as áreas tradicionalmente trabalhadas, de maneira a atribuir-lhes novos sentidos. De acordo com os PCNEM: “Esses temas apresentam uma das possíveis formas para a organização das atividades escolares, explicitando para os jovens os elementos de seu mundo vivencial que se deseja considerar” (BRASIL, 1999, p. 71). A implementação da aprendizagem significativa é observada, também, com o PNLEM, refletida na elaboração de livros que possuem uma maior preocupação com a contextualização e, consequentemente, visando à aprendizagem significativa. Podemos dizer que os livros selecionados pelo PNLEM - 2007 encontram-se, de certo modo, sintonizados com a teoria de Ausubel. O livro Universo da Física, de Sampaio; Calçada (2005), realiza a diferenciação progressiva nas resoluções de exercícios, ou seja, os autores realizam uma discussão que antecede a resolução numérica, apresentando a solução na forma literal, cujo resultado numérico só é substituído no final. O mesmo utiliza organizadores prévios, introduzindo questões no início dos capítulos do livro do aluno. Em seu volume único, os autores fazem o uso dos organizadores prévios quando em alguns capítulos o tema é iniciado por uma apresentação na perspectiva histórica. Outro livro, Física – Ciência e Tecnologia, Penteado; Torres (2005), considera a utilização dos benefícios dos organizadores prévios, quando no início de cada capítulo é apresentado ao aluno um pequeno texto motivador que anuncia o assunto a ser tratado, de modo abrangente, articulando o assunto central do capítulo. No livro do professor, é sugerida a utilização de conceitos subsunçores, como o de “força” e “energia”, por exemplo, por serem temas da atualidade. Noutro livro analisado pelo PNLEM-2007, Física, Gaspar (2005), identificamos como organizadores prévios textos de apresentação que contextualizam e justificam a importância do conteúdo a ser discutido, o que possibilita aos alunos uma leitura autônoma. E por fim, no livro Física, Santos Filho; Toscano (2005), o conteúdo é trabalhado a partir de situações contextualizadas no dia-a-dia, tomadas como ponto de partida do processo de ensino e aprendizagem, constituindo, dessa forma, em um organizador prévio. No aspecto pedagógico/metodológico, cada capítulo do livro é apresentado de uma maneira 54 contextualizada em torno de uma questão organizadora da aprendizagem, sendo, também, uma maneira de introduzir o assunto com vistas nos organizadores prévios. A utilização dos organizadores prévios como um artifício para promover a aprendizagem significativa é solidamente justificada pela Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel. O psicólogo americano R. E. Mayer realizou uma pesquisa de vinte anos sobre os organizadores prévios e utilizou o apoio da Teoria a Assimilação para fundamentar e predizer resultados. Essa teoria foi estudada anteriormente e, podemos dizer resumidamente que sua essência está na idéia de que novos significados são adquiridos pela interação do novo conhecimento com os conceitos e preposições aprendidos anteriormente. Segundo Mayer, [...] organizadores avançados resultarão em uma aprendizagem mais ampla em situações onde o aluno normalmente não possuir ou usar um contexto assimilativo para incorporar o novo material. Em particular, os organizadores avançados resultarão em uma aprendizagem mais ampla quando o material for potencialmente conceitual... (MAYER, 1979, p. 161, tradução nossa).22 Essa conclusão de Mayer fortalece ainda mais a utilização dos organizadores prévios como materiais introdutórios de um assunto e direcionados àqueles alunos que aparentemente não possuem nenhum subsunçor estável disponível em sua estrutura cognitiva. Mayer testou, também, a influência de materiais potencialmente significativos na aprendizagem dos alunos, quando o estudo permitiu um tratamento interativo dos alunos com os materiais, esses materiais utilizados como organizadores avançados se revelaram como auxiliadores para a aprendizagem significativa à medida que eles fizessem uma referência com as idéias relevantes da estrutura cognitiva do aluno. Contemplamos em nossa pesquisa a interação do aluno com o material, isso foi feito no momento da realização das oficinas, além de servirem como importantes suscitadores de idéias esteios, as oficinas concorrem para uma maior motivação dos alunos, pois, é nesse momento que os discentes colocam a “mão na massa” para a montagem dos protótipos sugeridos. Outra importante conclusão de Mayer diz respeito ao conhecimento prévio do aluno e o tratamento interativo. De acordo com Mayer, os aprendizes mais inexperientes, como menos 22 [...] advance organizers will result in broader learning outcomes in situations where learner does not normally possess or use an assimilative context for incorporating the new material. In particular, advance organizers will result in broader learning when the material is potentially conceptual… . 55 subsunçores disponíveis em sua estrutura cognitiva, podem tirar mais aproveito dos organizadores avançados. Essas conclusões são apoiadas pela Teoria a Assimilação, podemos transcrever: Quando o design de um estudo permitiu uma interação entre conhecimento versus tratamento (KTI), houve algum apoio para a conclusão de que os organizadores avançados auxiliaram fortemente os alunos inexperientes do que aqueles que possuem um rico arcabouço de conhecimento. (MAYER, 1979, p. 161, tradução nossa).23 Quando o design de um estudo permitiu um Tratamento Interativo × Materiais (MTI), houve um padrão consistente onde os organizadores avançados auxiliaram fortemente a performance, quando o material era pouco integrado do que quando estava em espiral ou em formato organizado. (MAYER, 1979, p. 161, tradução nossa).24 23 When the design of a study allowed for a Knowledge × Treatment Interaction (KTI) there was some support for the finding that advance organizers more strongly aided inexperienced learners those possessing a rich set of subsuming knowledge. 24 When the design of a study allowed for a Materials × Treatment Interaction (MTI) there was a consistent pattern in which advance organizers more strongly performance when material was poorly integrated than when it was in spiral or organized format. 56 5. METODOLOGIA 5.1. Organizadores prévios para a aprendizagem do magnetismo e do eletromagnetismo no ensino médio No presente trabalho de pesquisa, estudamos o ensino/aprendizagem de conceitos do Magnetismo e de Eletromagnetismo por meio dos organizadores prévios, explanados no capítulo da Fundamentação Teórica, sendo que esses, segundo Ausubel (2003), constituem uma facilitação para a aprendizagem significativa. Como organizadores prévios serão utilizados leituras científicas/oficinas, e os mapas conceituais como recurso instrucional, com o intuito de, respectivamente, ativar e organizar a estrutura cognitiva do aluno para aquilo que será abordado (estudado). Sendo assim, o uso dos organizadores prévios não substituirá a aula tradicional que será ministrada pelo professor da disciplina, constituindo-se, dessa forma, como um agente facilitador, anterior à aprendizagem do conteúdo de Magnetismo e do Eletromagnetismo para os alunos daquela escola. A metodologia foi aplicada aos alunos do Ensino Médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFET Sul de Minas, Campus Machado). Foi feito uma relação dos interessados em participar da pesquisa e com essa listagem foram sorteados 12 (doze) alunos. Foi perguntado àqueles sorteados sobre o interesse em participar da pesquisa e a disponibilidade de irem à escola no período da tarde. Caso houvesse alguma impossibilidade, outro aluno seria chamado. Antes do sorteio foi explicado aos discentes toda a metodologia e os objetivos da pesquisa. Todo o desenvolvimento da metodologia realizou-se no Campus Machado, dada as melhores condições de infraestrutura. Para motivá-los a participarem efetiva e seriamente deste trabalho de pesquisa, foram contabilizados 25% da pontuação da última prova sobre o assunto para os alunos participantes, sendo a frequência verificada diariamente. Durante a segunda quinzena de agosto e a primeira quinzena de setembro de 2009 (quatro semanas), foram ministradas 19 (dezenove) atividades-dias de 1,5 horas. A proposta foi aplicada no turno da tarde, enquanto aulas tradicionais de tópicos distintos do Magnetismo e Eletromagnetismo seriam ministradas pelo professor da disciplina no quarto bimestre. A proposta foi aplicada em 19 (dezenove) atividades-dias, sendo 1 (uma) atividade-dia para o questionário, 13 (treze) atividades foram utilizadas para as leituras dos textos de Magnetismo 57 e de Eletromagnetismo, incluindo as discussões, 4 (quatro) atividades-dias foram destinadas à realização das oficinas e 1 (uma) atividade utilizada para o fechamento da pesquisa, com a apresentação do mapa conceitual do assunto tratado e aplicação do pós-questionário. Os alunos foram divididos em 3 (três) grupos de 4 (quatro) alunos para a leitura dos textos, bem como para a realização das oficinas. Na leitura dos textos procuramos, a cada dia, alternar os elementos de cada grupo, com o objetivo de estimular a socialização entre os alunos. Já na realização das oficinas, os grupos foram mantidos desde o início até o final das atividades. Tanto a fase das discussões das questões como as atividades das oficinas foram gravadas em áudio e vídeo e posteriormente transcritas para o trabalho. Optamos pela exemplificação das falas e respostas a cada passo da análise, utilizando nomes fictícios na identificação dos alunos. A razão de se escolher grupos de 4 (quatro) alunos parte da experiência profissional do pesquisador, e dos bons resultados alcançados com esse tipo de distribuição ao longo de 12 (doze) anos de docência. Os tópicos escolhidos dentro do Magnetismo e do Eletromagnetismo foram: força magnética e indução eletromagnética. Esses temas balizaram as atividades das oficinas que foram realizadas após o cumprimento de outros estágios (leitura dos textos, respostas às questões dos textos e discussão dessas respostas). As interferências do pesquisador ocorriam no próprio Instituto, no período da tarde, em uma sala, e com atividades-dias de 1,5 h (uma hora e meia) para não tornar o trabalho cansativo e desestimulante. O desenvolvimento da pesquisa se deu conforme o cronograma a seguir. 58 5.2. CRONOGRAMA DA PESQUISA Questionário 1º dia 2º dia 3º dia 4º dia 5º dia 6º dia 7º dia 8º dia 9º dia 10º dia 11º dia 12º dia 13º dia 14º dia 15º dia 16º dia 17º dia 18º dia 19º dia 18/08 19/08 20/08 21/08 24/08 25/08 26/08 27/08 28/08 31/08 01/09 02/09 03/09 04/09 08/09 09/09 10/09 11/09 14/09 17:00 às 18:30 Leituras Oficinas 17:00 às 18:30 17:00 às 18:30 Questionário 17:00 e Mapa às Conceitual 18:30 59 Inicialmente, foi aplicado um questionário (APÊNDICE A) com o intuito de levantar os conhecimentos prévios dos alunos sobre Magnetismo e Eletromagnetismo e, a partir desses conhecimentos, avaliar o desenvolvimento cognitivo dos mesmos. Após o cumprimento das três primeiras etapas da pesquisa, o questionário foi passado novamente para os alunos responderem. Nosso objetivo com isso é avaliar o quanto de ideias novas (subsunçores) foram incorporados pela estrutura cognitiva do discente, podendo haver, também, uma alteração da ideia âncora existente, evoluindo para um conceito mais geral e inclusivo. Leitura de textos de Magnetismo e de Oficinas Pré- Eletromagnetismo (organizadores Questionário (organizadores prévios) Pós- Mapa questionário conceitual prévios) FIGURA 6: Etapas da pesquisa: uma visão geral Posteriormente, os discentes leram textos históricos e científicos sobre Magnetismo (ANEXO A), que relatam a experiência vivida por Magnês, e textos sobre o Eletromagnetismo. Em todas as leituras os alunos tinham que responder alguns questionamentos. Por esse motivo, necessitavam fazer uma leitura atenta desses textos. O intuito dos textos é de ambientá-los ao novo conteúdo do Magnetismo, bem como do Eletromagnetismo, que viria a ser trabalhado no decorrer do bimestre. Toda etapa foi gravada em áudio e vídeo, assim como as discussões entre os alunos sobre as questões. Na segunda fase, foram entregues aos alunos textos científicos de revistas, reportagens, artigos etc, pertinentes ao assunto de Magnetismo e do Eletromagnetismo (ANEXO A). Assim como na primeira fase, os discentes responderam algumas questões a respeito do assunto tratado e discutiram entre si suas respostas com a mediação do professor. Foram distribuídos 4 (quatro) textos sobre o Magnetismo e 8 (oito) textos sobre o Eletromagnetismo. Em média trabalhamos 1 (um) texto a cada dia, levando um total de 14 (quatorze dias) para desenvolver essa etapa22. 22 Ver cronograma da pesquisa – capítulo 5. 60 O principal objetivo desse material instrucional foi preparar cognitivamente os discentes para o assunto que seria estudado com o professor titular da disciplina, assim como ativar os subsunçores relevantes. Outro objetivo foi despertar os subsunçores na estrutura cognitiva dos discentes, ou mesmo criar ideias âncoras para o estudo futuro do Magnetismo e do Eletromagnetismo. Primando pelo bom entendimento dos textos apresentados, antes da leitura dos mesmos, foi dado aos alunos um texto complementar com intuito de fornecer significados aos termos que apareceriam. A seguir, foram analisadas as relações de dependência entre as grandezas relacionadas e os conhecimentos prévios dos alunos, ou seja, procuramos identificar neste estágio os possíveis subsunçores, procedendo a leitura de artigos e contextualizando o conteúdo. O penúltimo estágio da aplicação da metodologia foi a realização das oficinas, em que os alunos, de posse dos conhecimentos e conceitos adquiridos ou modificados, passaram para aplicação dos mesmos na construção de equipamentos ou experimentos que permitissem a consolidação e a sedimentação dos conceitos assimilados nas etapas anteriores. Os equipamentos trazidos para as oficinas eram pré-montados, e os alunos, seguindo o roteiro, finalizavam a montagem. Os roteiros estão no APÊNDICE B. Para a realização das oficinas foram necessárias 4 (quatro) atividades-dias. Os temas abordados nessa atividade foram: Indução Magnética, 2 (dois) equipamentos, em que foi trabalhada a construção de um protótipo para a Levitação Magnética e Freio Magnético. Os alunos trabalharam, também, com Campo Magnético, Força Magnética, 2 (dois) equipamentos, construindo um Motor Convencional e um Motor de Rotor Líquido. Foram mantidos os mesmos grupos de estudos e cada grupo teve que construir todos os equipamentos e experimentos sugeridos, realizando um rodízio entre todas as atividades. Levamos para a sala de aula todos os materiais necessários para a realização das oficinas, e foram distribuídos aos alunos roteiros passo-a-passo de como montar os experimentos. Todas as atividades desenvolvidas durante a aplicação da metodologia foram gravadas em áudio e vídeo para que pudessem ser transcritas para o trabalho e analisadas. As interferências do pesquisador eram apenas como mediador das discussões entre os alunos e os grupos. A última etapa da pesquisa foi a apresentação do mapa conceitual. Segundo Moreira (2006), os mapas conceituais devem ser apresentados aos alunos quando os mesmos já tiverem tido um contato inicial com o conteúdo. Assim sendo, logo após as oficinas, foi 61 passado aos alunos o mapa conceitual do Eletromagnetismo23 elaborado por nós, cujo principal objetivo foi mostrar uma visão geral do referido tópico, bem como organizar e apresentar os conceitos básicos do tópico que seria estudado no decurso normal. 23 Ver Figura 3. 62 6. ANÁLISE DOS RESULTADOS Na análise dos resultados, os nomes reais dos alunos foram substituídos por nomes fictícios, mantendo o gênero. No decorrer da aplicação da metodologia, percebemos uma intensa socialização entre os membros dos grupos e entre os grupos. Cada componente contribuía com seu parecer, isto é, com aquilo que ele trazia de pré-conhecimento a respeito do assunto. A cada novo encontro fazíamos uma troca de componentes entre os grupos, de maneira a estimular o relacionamento entre os alunos, efetivando, dessa forma, a socialização. Notamos que cada aluno apresentava certa ansiedade em saber as respostas corretas das questões, pois, o professor não julgava se elas estavam “certas” ou “erradas”, apenas emitia considerações que estimulassem/provocassem o raciocínio dos alunos. Foi combinado que as respostas seriam discutidas somente ao término da pesquisa, pois, dessa forma, a pesquisa não seria “contaminada” com o parecer do professor. Diante dessa situação, a maioria dos alunos argumentou se poderia pesquisar o assunto em livros ou internet. O professor não se interpôs, deixando os discentes livres para realizarem suas pesquisas. Achamos genial essa atitude por parte dos alunos, uma vez que a pesquisa feita em condições motivadoras e não por imposição é uma forma de adquirir efetivamente os subsunçores relevantes para o estudo futuro de um determinado tópico. Nossa intenção foi utilizar alguns conceitos do Magnetismo e do Eletromagnetismo que estão mais próximos do cotidiano do aluno, para suscitar ou despertar subsunçores relevantes para a aprendizagem significativa desses dois tópicos a serem estudados futuramente. Houve um momento durante as discussões em que duas teses surgiram, a do aluno Renan, de que a magnetita só adquiriu propriedades magnéticas ao sair em forma de lava do vulcão e resfriando-se na direção norte-sul terrestre, e a do aluno Wilson, que a magnetita já possuía propriedades magnéticas mesmo antes do resfriamento, conforme demonstrado abaixo: “Acho que deve ser uma região com muitos vulcões. Alguns ativos, outros inativos e ai algum desses ativos provavelmente deve ter a lava quando sai desce nas rochas e deve ter formado várias pedras de magnetita ai no local no momento que foi resfriada a lava” (Aluno Renan). 63 “Na minha opinião a magnetita já nasceu magnetita mesmo lá no interior da Terra” (Aluno Wilson). Observamos também que, com a evolução da aplicação da metodologia, os alunos iam modificando seus pré-conceitos, substituindo-os por ideias mais relevantes e estáveis, observadas nas falas dos estudantes. Quando questionados, suas respostas iam paulatinamente adquirindo mais propriedade, mais firmeza e clareza de raciocínio. Dessa forma, a ideia âncora anterior foi sendo substituída ou modificada pela nova ideia mais inclusiva. Com a leitura, por exemplo, do texto 3: Imãs naturais: fósseis magnéticos (ANEXO A), essas mudanças começaram a acontecer. O texto, entre outros assuntos, mencionava o ponto Curie da magnetita, sobre esse tema, percebemos que algumas pré-concepções dos alunos foram modificadas. Comparando a temperatura (5850C) com a temperatura do núcleo terrestre - obtida via pesquisa - concluíram que a tese do Renan estava correta, e todos os alunos passaram a sustentar a mesma ideia. “Então ontem eu já estava com a ideia do Wilson que a magnetita saia imã já só que hoje mudei para a do Renan porque se ela perde suas propriedades com quinhentos e oitenta e cinco lá no centro da Terra que é uma temperatura mais alta ela não pode ter propriedades magnética” (Aluna Marina). “Eu coloquei a mesma coisa que a Marina que ela perderá as propriedades magnéticas acima de quinhentos e oitenta e cinco graus” (Aluno Eder). Nesse momento, o professor pergunta ao aluno se ele faz uma ideia de quanto seria a temperatura no interior Terra. “Uai. Eu pesquisei na internet e encontrei que é acima de seis mil graus Celsius” (Aluno Eder). O professor pergunta ao aluno Wilson se ele ainda defende sua tese. “Não. (risos de todos os alunos) Na minha visão eu vou querer abdicar ela porque segundo o texto a magnetita perde as propriedades magnéticas dela quando ela ultrapassa quinhentos e oitenta e cinco graus Celsius e como o centro da Terra está muito mais com uma temperatura muito mais superior do que essa... com certeza ela perde o seu poder lá no centro, mas ai surge outra dúvida, um questionamento: O que faz com que a Terra tenha esse campo magnético?” (Aluno Wilson). 64 Aproveitando “esse gancho”, o professor questionou o aluno Wilson se o magma movimentava no interior da Terra. Esse foi um bom momento para introduzir outro subsunçor que serviria para ancorar uma nova ideia da geração de campo magnético pela circulação de corrente num condutor. “Na minha opinião ele se movimenta. Ele se movimenta o tempo todo sem parar” (Aluno Wilson). “Eu suponho que fosse pela diferença de temperatura mesmo seja mínima, mas é alguma temperatura como é o quente como que o lugar mais quente ele se movimenta é... supondo que com o ar daqui da Terra é mais quente ele sobe e o frio desce suponhando que o magma quente sobe e o frio desce e depois resfriando movimento” (Aluno Jaime). O professor questiona: como é chamada essa movimentação? “Correntes de convecção” (Aluno Agenor). Então o professor argumentou: existiria outra causa para a movimentação do magma? “Poderia ser o movimento de rotação da Terra” (Aluno Agenor). Os alunos, motivados pela questão, pesquisaram o assunto e um deles relatou: “É eu pesquisei que o movimento de rotação da Terra e o movimento de convecção do magma que ele vai gerar como que em espiras ele vai gerar um campo magnético e também que tem tipo descargas elétrica dentro do magma e isso vai fazer o campo magnético da Terra” (Aluno Agenor). Outro aluno completou a resposta. “Eu li alguma coisa a respeito. Eu li lá que o núcleo ele é composto por cargas elétricas, correntes elétricas e no manto são formada espiras solidas junto com o movimento da Terra há tipo uma reação das espiras com as cargas elétricas gerando um campo magnético. Isso que eu cheguei a conclusão lá” (Aluno Jaime). 65 Essa inferência feita pelo aluno ficou sedimentada com a leitura do texto sobre a origem do Eletromagnetismo e com a experiência de Oersted. Essa conclusão a qual chegaram os alunos constitui um importante subsunçor para o estudo significativo de outras fontes de campo magnético, ou seja, uma vez internalizado e contextualizado que a movimentação das partículas carregadas eletricamente presentes no magma dá origem ao magnetismo terrestre, torna-se mais fácil de relacionar a essa ideia estável (subsunçor estabelecido na estrutura cognitiva do aluno), a origem do campo magnético produzido, por exemplo, ao redor de um fio condutor pela circulação corrente elétrica, pois, a corrente é a movimentação ordenada das partículas portadoras de carga elétrica. Deste modo, é possível relacionar a mesma ideia estável, não só do campo magnético gerado ao redor de um fio condutor, mas o campo magnético produzido pela circulação de corrente elétrica por uma bobina ou por uma espira. Além de mudanças de concepções, observamos também que a estrutura cognitiva de alguns alunos foi alargada quando um deles relatou uma experiência cotidiana que havia realizado. “Eu também concordo que ela perde suas propriedades magnéticas e também eu tive a oportunidade de ter feito essa experiência. É um imã de alto-falante eu estava na casa do meu avô eu coloquei no fogão de lenha eu tirei ela não tinha mais a propriedade de puxar, de puxar, de atrair”(Aluno Aloir). Com os textos sobre o funcionamento dos microfones, procuramos desenvolver subsunçores para o estudo da Lei de Faraday, uma vez que esses dispositivos funcionam com base na indução de correntes elétricas pela variação do fluxo magnético em uma bobina. Foi utilizado, também, um texto tratando do funcionamento dos alto-falantes. O texto 8 (ANEXO A), que trata do microfone de indução, teve como objetivo a criação de subsunçores para a indução eletromagnética. A maioria dos alunos intuiu que a corrente elétrica induzida na bobina era consequência do movimento de vai-e-vem do imã na mesma. Ao enfrentarem questões sobre a indução de corrente elétrica pela variação do fluxo magnético, os alunos que internalizaram essa ideia âncora adquirida pela leitura dos textos e pela realização das oficinas puderam assimilar facilmente a ideia (nova) de que as correntes induzidas são produzidas pelo movimento relativo entre o imã e a bobina, ou seja, pela variação do fluxo magnético através da bobina. 66 “As vibrações provocadas pela voz na membrana faz com que o imã entre e saia da bobina gerando uma corrente elétrica que é ampliada. Essa energia elétrica é convertida em energia sonora e é retransmitida” (Aluno Wilson). “Ela aparece através do campo magnético que ativa (gera) a corrente elétrica causada pelos sinais sonoros que passa pela membrana ocorrendo vibração no imã que também ativa a bobina gerando através do movimento a corrente elétrica” (Aluno Eder). “Aparece através do campo magnético, porque ao falarmos as ondas sonoras emitidas, faz com que a membrana vibra, e com esse movimento de vibração, o imã que está ligado na bobina se movimenta também, então esses movimentos se transformam em sinais elétricos” (Aluno Tiago). Foi perguntado aos alunos se haveria alguma diferença na indução da corrente elétrica, com respeito ao movimento do imã ou da bobina. Todos responderam que tanto faz o imã se mover em direção da bobina parada ou ao contrário. Das duas maneiras haveria indução de corrente elétrica, ficando claro para nós que, o importante é que haja um movimento relativo entre bobina e imã. Em relação ao texto 9 (ANEXO A), que trata sobre o alto-falante, somente dois alunos responderam coerentemente as questões que tratavam das diferenças entre o microfone e o alto-falante. Josiane e Renan responderam que para haver a vibração do cone do alto-falante existe a necessidade de uma corrente percorrer a bobina, gerando um campo magnético. Esse campo interagiria com o campo magnético do imã fixo, convertendo, dessa forma, os sinais elétricos em sinais sonoros pela vibração do cone. “Quando a corrente proveniente do microfone atravessa a bobina, na presença do imã, fica sujeita a ação de forças magnéticas que a fazem vibrar” (Aluna Josiane). “A corrente elétrica atravessa a bobina, que é imersa no campo magnético criado pelo imã, fica sujeita à ação de forças magnéticas que a fazem vibrar. A vibração da bobina provoca a vibração do cone de papelão. O ar junto ao cone também vibra, gerando ondas sonoras e reproduzindo o som que foi captado pelo microfone” (Aluno Renan). Não conseguiram explicar a origem da vibração que seria pela inversão do sentido da corrente elétrica pela bobina. 67 Com este texto, esperamos que tivessem sido criadas ideias âncoras para a compreensão do funcionamento dos geradores e dos motores elétricos, uma vez que nos microfones temos a movimentação do imã gerando corrente elétrica, e nos alto-falantes a corrente elétrica produzindo movimento. No texto 10 (ANEXO A), que trata do gravador de fitas, o objetivo foi fazer os alunos perceberem que outros materiais ferromagnéticos (óxido de ferro nas fitas cassetes) podem ser magnetizados. Quatro alunos conseguiram responder convenientemente as questões. Em geral, esses alunos intuíram que a variação da corrente elétrica aplicada no eletroímã produz um campo magnético também variável, esse campo orientaria as partículas de óxido de ferro presentes na fita. Os alunos disseram que ao colocar a fita cassete na presença de um campo magnético externo, esses pequenos imãs se desorientariam, desmagnetizando a fita. Essas falas encontram-se transcritas a seguir: “Os sinais sonoros através da bobina gerando a corrente elétrica pelo fio variando então um campo magnético” (Aluno Eder). “O eletroímã que aplica o fluxo magnético na fita” (Aluno Agenor). “Os sinais sonoros gerado pela bobina gera uma corrente elétrica, criando o campo magnético” (Aluno Tiago). “É o eletroímã que vai aplicar um fluxo magnético ao óxido da fita” (Aluno Luciano). “Ondas sonoras convertidas em corrente elétrica eletriza o pequeno eletroímã que interaje com o imã no campo magnético. Magnetiza as partículas presentes na fita” (Aluno Jaime). Com o texto 11 (ANEXO A), que lida com cartão magnético, procuramos sedimentar ainda mais os subsunçores adquiridos com a leitura dos outros textos. Os alunos foram questionados sobre a relação entre o código binário, as regiões magnetizadas e as desmagnetizadas da fita. Todos concluíram acertadamente que o digito 1 estaria relacionado às regiões magnetizadas e o digito 0 às regiões não magnetizadas. 68 Um percentual de quase 42% dos alunos observou uma característica comum entre a fita cassete e o cartão: a existência de um eletroímã e de uma corrente elétrica variável nesse eletroímã. Podemos inferir que um subsunçor importante para o entendimento da indução eletromagnética foi internalizado. “Aonde não há magnetizáveis é nulo 0 não possui valor, já nas faixas magnetizáveis o valor é 1, por ter alguma força nesta parte” (Aluna Marina). “Na tarja presente no verso do cartão, a parte magnetizada, por exemplo, recebe a numeração 1, e a não magnetizada 0, ao passar esse cartão num caixa eletrônico, a bobina presente no caixa vai fazer essas leituras das partículas de 0 e 1, e manda para o computador que vai nos mostrar as informações presentes no cartão” (Aluno Tiago). “Digamos que a parte não magnetizada represente os dígitos 0 e a parte magneizável represente os dígitos 1. Ao passar o cartão a bobina capta os sinais das áreas magnetizáveis e não magnetizáveis essa sequencia constituirá um código binário que será decodificado pelo computador” (Aluno Wilson). O texto 12 (ANEXO A), sobre detector de metais, estudado pelos alunos, não trazia muitos detalhes sobre o funcionamento. Poucos alunos responderam coerentemente as questões. Eles confundiram a função do detector de encontrar metais escondidos com o de atrair. Alguns alunos chegaram perto da explicação correta identificando no detector de metais eletroímãs indutores de correntes no metal enterrado, passando a localizá-los. Com este texto surgiu, pela primeira vez, a expressão “variação do fluxo magnético induzindo uma corrente elétrica”. “Quando o detector de metais está em funcionamento gera uma corrente elétrica quando aproxima um objeto metálico vai ocorrer uma variação do fluxo magnético induzindo nele correntes” (Aluna Josiane). “O objeto metálico altera a corrente que por sua vez geram um campo magnético variável que induz corrente na bobina, alterando o valor da corrente que a atravessa” (Aluno Agenor). Um grupo de alunos observou que, anteriormente ao texto de microfone, relacionamos a corrente elétrica como responsável pela geração do campo magnético, enquanto que, na nova situação, temos a movimentação do imã dentro da bobina gerando a corrente elétrica. 69 Com os sete textos iniciais, procuramos ambientar os discentes com o assunto que veriam, dispondo um vocabulário próprio para tratar os tópicos de Magnetismo e de Eletromagnetismo. Os textos se mostraram motivadores e interessantes, aguçando a curiosidade dos alunos, confirmando que essa preparação prévia contribui, também, para promover uma aprendizagem significativa, potencializando que subsunçores relevantes sejam criados na estrutura cognitiva dos aprendizes através da leitura destes textos. Sobre o texto 1 (ANEXO A), que trata da descoberta do magnetismo, podemos observar, pelas respostas transcritas abaixo, que os alunos, em sua maioria, possuem uma boa noção da existência do campo magnético terrestre e de sua grande influência sobre os materiais. Suas argumentações sobre os processos de magnetização são coerentes e plausíveis. A maioria dos discentes respondeu corretamente sobre a adequada orientação numa mata utilizando uma bússola improvisada. Quanto aos processos de eletrização, os alunos citaram o atrito de um imã num corpo magnetizável, ou o aquecimento do corpo colocando-o na direção norte-sul terrestre. “Com a tesoura eu retiraria um fio, o mais fino possível, da atadura e o amarraria um fio da agulha. Então eu equilibraria a tesoura em cima do frasco contendo álcool e amarraria a linha com a agulha na ponta da tesoura. Então eu imagino que o campo magnético da Terra faria com que a agulha se alinhasse na posição nortesul” (Aluno Wilson). “De alguma forma eu utilizaria a agulha em forma de um ponteiro de bússola, em que utilizaria o algodão para passar álcool e analgésico na agulha, deixando-a incandescente; em que ao resfriar se tornaria um imã. Após, utilizaria a tesoura como suporte e as ataduras para prender a agulha de forma que ela indicasse a direção norte-sul do campo magnético terrestre” (Aluno Eder). “Colocaria o álcool em recipiente com as ataduras amarraria a agulha com a tesoura cortaria as ataduras em fita bem finas para amarrar a agulha depois com cuidado vai colocando a agulha com cuidado no recipiente para que não afunde completamente” (Aluno Jaime). Com estas respostas, julgamos que os alunos assimilaram como surge o magnetismo natural. No texto 2 (ANEXO A), que trata das histórias e lendas do magnetismo, todos os alunos relacionaram a lava vulcânica como responsável pelo magnetismo da magnetita. Segundo suas respostas, o magnetismo é algo inerente a esse mineral, originando do 70 magnetismo terrestre. Essa ideia prévia foi modificada pela realização das pesquisas realizadas pelos próprios alunos ou pelo professor, conforme relatamos anteriormente. Uma conclusão interessante estabelecida pelos alunos foi a relação entre “força magnética” e “distância”, sendo uma relação de inversa proporcionalidade. “A região de Magnês provavelmente deveria ter muitos vulcões por isso havia a pedra imã em abundância. E quando esses vulcões entravam em erupção a lava sofria esfriamento formando a pedra. [...] sim, quanto menor a distância maior seria a chance de os pregos serem arrancados” (Aluno Daniel). “A relação seria nas atividades vulcânicas presentes neste local por meio da descoberta desse mineral (magnetita) em uma região rica em minérios devido ao esfriamento da lava no solo, em que se dá à sua origem e até composição. [...] a distância deve ser a mínima entre ambos com aproximadamente uns 30 metros” (Aluno Eder). “É uma região que possui muito vulcões em atividade, talvez a magnetita possa ter sido originada das larvas que saem do interior da terra em altíssima temperatura depois esfriava. [...] seria capaz de arrancar os pregos e atrair qualquer outro metal, mas não a uma longa distância, mas sim a alguns metros, dependendo o tamanho da rocha e dos metais atraídos” (Aluno Luciano). No estudo do texto 3 (ANEXO A), que considera imãs naturais fósseis magnéticos, não verificamos qualquer modificação das ideias prévias dos alunos. No texto 4 (ANEXO A), sobre “imãs desentope artérias”, os alunos Jaime, Luciano e Agenor responderam pertinentemente às questões, demonstrando que possuem uma noção da ação da distância dos imãs, podendo vir a ser um subsunçor para o entendimento do campo magnético. “Através da ação de repelir o colesterol com estruturas magnéticas, por ser diamagnético nas veias pelo sangue, contendo CO2, sugeria eu: ao caso de medicamentos que haja em sua composição as próprias estruturas mínimas e transformadas do imã, em que agiria como repelente, passando pelo organismo e sendo eliminado (as gorduras) como forma, após de ser filtrado pelos rins, de urina ou até mesmo pelas fezes ou como forma mesmo de prevenção para os mesmos” (Aluno Agenor). No texto 5 (ANEXO A), sobre o histórico do Eletromagnetismo, percebemos que os alunos não possuíam ideia da aplicação dos eletroímãs, citando vagamente alguns equipamentos como televisores, geladeiras e ferro-velho, sobre este último, presumimos tratar-se do guindaste utilizado para levantar as sucatas. 71 Quanto à segunda pergunta, sobre o fator decisivo que limitou a construção de eletroímãs mais potentes, segundo os alunos, era de caráter físico (tamanho) e não de caráter técnico como, por exemplo, a utilização de uma corrente elétrica de intensidade maior. Na terceira pergunta, sobre como poderíamos aumentar a “força” de um eletroímã, os alunos Daniel, Tiago, Jaime, Aloir, Eder e Agenor relacionaram a intensidade do campo magnético com o número de espiras, sugerindo aumentar “as voltas” dos fios. “Aumentando as volta do fio entorno do eletroímã” (Aluno Jaime). Os alunos Tiago, Renan, Luciano, Eder, Josiane, Marina e Cleydiana inferiram que o aumento da corrente elétrica é proporcional ao aumento do campo magnético. “Aumentando a energia elétrica da fonte” (Aluno Renan). “Aumentando as fontes de energia elétrica” (Aluno Luciano). Somente a aluna Joziane especificou claramente o aumento da corrente elétrica: “Aumentando a corrente”. Através do texto 6 (ANEXO A), que trata dos trens Megalev, observamos a consolidação da ideia de que uma corrente elétrica gera campo magnético. Todos responderam que correntes elétricas percorrendo bobinas geram campos magnéticos, além disso, a inversão dessa corrente promove a troca dos pólos do eletroímã. “As bobinas presente no meio do trilho, a partir do momento que são percorridas por corrente elétrica, geram campo magnético que repele os imãs presente no fundo do trem”. (Aluno Agenor). Como se obtém a alternância da polaridade de um imã? “Invertendo o sentido da corrente” (Aluno Agenor). “Fazendo circular corrente elétrica nas bobinas da linha guia, criando assim um campo magnético que vai repelir os imãs debaixo do trem fazendo ele levitar” (Aluno Luciano). Como se obtém a alternância da polaridade de um imã? “Alternando a corrente elétrica fornecida às bobinas das paredes dos trilhos guias” (Aluno Luciano). 72 No texto 7 (ANEXO A), sobre a situação da pesquisa do trem Megalev no Brasil, quando foram perguntados sobre a economia energética dos trem Megalev, somente os alunos Agenor, Luciano, Daniel e Cleydiana se lembraram de mencionar a força de atrito que, nesse tipo de trem, é inexistente, pelo fato de flutuarem sobre os trilhos. “Porque não há atrito do trem nos trilhos, dessa forma qualquer força o impulsiona” (Aluno Agenor). “Porque não há atrito do trem nem com os trilhos e nem com outra coisa, só com o ar, mas é quase desprezível” (Aluno Luciano). “Porque não há atrito” (Aluno Daniel). “Pelo fato de serem movimentados pelo magnetismo, de ser leve e não ter atritos” (Aluna Cleydiana). Observamos uma confusão entre conceitos de Eletrostática e de Eletromagnetismo, verificada em respostas exemplificada a seguir: “[...] quando a base de cerâmica envolta em nitrogênio líquido toca o imã eletrizado, provavelmente os dois adquirem cargas iguais e se repelem, o que faz com que o veiculo flutue” (Aluno Wilson). Nem todos os alunos revelaram essa confusão, assim sendo, é necessário que o professor faça a diferenciação progressiva e a reconciliação interativa, ressaltando as possíveis semelhanças entre conceitos conflitantes. 73 6.1. Análise das questões antes e depois da realização da pesquisa Optamos como forma de análise caso a caso, pois, julgamos ser a melhor forma de observar a evolução conceitual dos alunos. Foram mantidos os erros ortográficos que os discentes cometeram. Serão apresentadas as duas respostas dadas pelos alunos, isso será feito ainda que somente exemplificando tais respostas, antes e depois, a cada questão focalizada. Questão 3: Se fosse possível organizar o movimento dos elétrons dentro de um fio condutor, o que obteríamos? Antes: “Corrente elétrica”. Depois: “Seria criado um corrente elétrica sendo assim gerando um campo magnético” (Aluno Daniel). Antes: “Corrente elétrica”. Depois: “Uma corrente elétrica e campo magnético” (Aluno Jaime). Percebemos que o conceito de corrente elétrica estava fundado em sua estrutura cognitiva, indicando uma possível ampliação da ideia mais geral (conceito de corrente elétrica), sendo incorporado ao conceito mais antigo a ideia de geração de campo magnético a partir da corrente elétrica. Questão 4: O que são imãs? Cite situações em que os imãs aprecem em seu dia-a-dia. Antes: “É um metal que obtém uma propriedade de atrair outros metais: os imãs em nosso dia-a-dia em motor de tanquinho, nos tubos de televisores, na geladeira”. Depois: “Imãs são minérios vindo da formação do magma, que utilizado no nosso dia-a-dia na televisão, no rádio no alto-falante, na geladeira” (Aluno Aloir). Percebemos uma incorporação de novos conceitos, sinalizando uma ampliação da ideia antiga sobre os imãs. Antes: “São elementos que emitem uma forte energia magnética, atraindo materiais metálicos. Eles aparecem nas coordenadas geográficas (N, S, L, O), em aparelhos como búculas e também na produção de aprelhos elétricos”. Depois: “Imãs são estruturas (pedras) que possuem um forte poder magnético (dependendo do 74 tamanho e da intensidade) que apresentam poder de atração entre os metais e nãometais, além da identificação dos pólos N, S, L, O” (Aluno Eder). Notamos uma grande evolução cognitiva, pois, anteriormente à aplicação da metodologia utilizava termos como “energia magnética” para caracterizar os imãs, após o estudo, sua resposta ficou mais elaborada e consistente do ponto de vista físico. Antes: “É um objeto que atrai metal, devido um movimento ordenado cria-se um campo magnético. Nos alto-falantes e nas portas de geladeira entre outras”. Depois: “São pedras capazes de atrair metais dentro de seu campo magnético. Podem aparecer em ferro-velho, alto-falantes, microfones” (Aluno Daniel). Antes: “São corpos que atraem metais”. Depois: “São materiais que criam campo magnético. Eles aprecem em televisores, rádios, auto-falantes” (Aluno Luciano). Para os alunos Daniel e Luciano, a metodologia desenvolvida trouxe uma mudança em suas ideias prévias. Percebemos que, após a aplicação da pesquisa o conceito de campo magnético parece ter sido internalizado, pois, utilizando outras palavras, os alunos usaram esse conceito para intermediar a interação entre os corpos e o imã. Questão 5: Cite outras fontes magnéticas. Antes: “Trem bala, freios magnéticos, bulsulas”. Depois: “Corrente elétrica em movimento, bobinas, corrente de facaut” (Aluno Agenor). As respostas do aluno Agenor nos levaram a observar um alargamento de sua estrutura cognitiva, incorporando às suas ideias prévias (apenas imã gera campo magnético) outras ideias. De fato, esse aluno apontou que a corrente elétrica circulando num fio também é fonte de campo magnético, sugerindo que sua ideia âncora foi ampliada. Antes: “Gravidade (energia gravitacional)”. Depois: “Eles aparecem nas bússolas, rádios,..., corrente elétrica” (Aluno Eder). O aluno Eder, antes da aplicação da metodologia, atribuía ao campo gravitacional propriedades magnéticas. Após a pesquisa, percebemos uma modificação conceitual, passando, agora, a atribuir às correntes elétricas a origem de campos magnéticos. 75 Antes: “O próprio planeta Terra exerce uma força magnética nos corpos que estão em sua superfície”. Depois: “A passagem de corrente elétrica por um condutor o planeta Terra” (Aluno Wilson). Com respeito à mesma questão, o aluno Wilson citou a Terra como uma das fontes de campo magnético. Esse conceito prévio adquirido com os organizadores prévios serviu de âncora para a internalização de outro conceito: corrente elétrica gerando campo magnético. Para esse aluno, a movimentação do magma no interior da Terra e, consequentemente, de cargas elétricas presentes nesse magma, dá origem ao campo magnético terrestre. Dessa forma, essa ideia mais inclusiva serviu de ancoragem para a nova ideia: corrente elétrica (cargas em movimento) gerando campo magnético. Questão 6: Como você magnetizaria uma agulha? Antes: “Atritando ela há um objeto eletrizado”. Depois: “Um campo magnético outro ferro” (Aluna Marina). Observamos, nesta questão, uma evolução conceitual da aluna Marina que, anteriormente à pesquisa, utilizava os conceitos de eletrização e de magnetização como sinônimos. Após a aplicação da metodologia essa confusão parece ter sido desfeita. Antes: “Enrolaria um fio de cobre bem fino e comprido envolta da agulha e as duas ponta do fio de cobre no pólo de uma pilha”. Depois: “Aqueceria ela em altas temperaturas depois esfriaria rapidamente na posição norte sul” (Aluno Jaime). O aluno Jaime manifestou uma ideia esteio muito sofisticada e apurada, tendo construído um modelo de solenóide cujo núcleo era a agulha, ligando os terminais dessa bobina numa pilha. No segundo momento, o aprendiz baseou-se no surgimento do imã natural. Antes: “Eletrizando-a, ou seja, faz-se passar uma corrente elétrica por ela”. Depois: “Eu a colocaria em contato com um imã, ou então a aqueceria e depois a deixaria resfriar no sentido norte, sul do campo magnético terrestre” (Aluno Wilson). 76 O aluno Wilson, de alguma forma, trazia consigo a ideia mais geral de que a corrente elétrica circulando num fio produz campo magnético. Essa ideia parece ter sido alargada pela nova ideia menos inclusiva da magnetização por indução. Questão 7: Como são denominadas as regiões do imã? Antes: “Polos positivos e pólos negativos”. Depois: “Polo norte e pólo sul” (Aluno Luciano). Antes: “Extremos”. Depois: “Polo norte e pólo sul”. (Aluno Daniel). Percebemos, nesta questão, mais uma vez, uma confusão conceitual entre atração e repulsão elétrica, e atração e repulsão magnética. Para esses alunos, o professor procedeu a reconciliação interativa, ressaltando as diferenças e as semelhanças entre conceitos conflitantes. Questão 8: Ao partir ao meio um imã em forma de barra, o que acontece com cada uma de suas metades? Antes: “O poder de atração diminui”. Depois: “Elas adquirem pólos, e viram imãs menores” (Aluno Agenor). Antes: “Elas se atraem e se unem novamente”. Depois: “Cada parte se tornará um novo imã. Essas partes irão se repolarizar, ficando cada metade com um pólo sul e um pólo norte” (Aluno Wilson). A questão indica que os alunos Wilson e Agenor tiveram um alargamento em suas ideias prévias verificadas anteriormente à aplicação da metodologia. Os estudantes acreditavam que, quando um imã se quebrava, haveria uma perda das propriedades magnéticas, ou seja, em suas palavras, “uma perda do poder de atração” e, posteriormente, manifestaram que um imã ao se quebrar origina imãs menores, mas nunca deixando de ser imã. Um imã foi quebrado acidentalmente na sala durante a realização das oficinas e eles puderam comprovar a inseparabilidade dos pólos. 77 Questão 9: Imagine-se segurando dois imãs com as mãos e com os braços afastados, descreva o que ocorre quando eles são aproximados e, quando são separados? Antes: “Quando se aproxima a uma atração e quando são separados perdem essa força que atrai”. Depois: “Quando vai se aproximando o imãs a força magnética aumenta, ao ir separando essa força vai diminuindo” (Aluno Daniel). O aluno Daniel relacionou a intensidade da força magnética com a distância somente no segundo momento da metodologia. Julgamos, então, que sua ideia esteio foi ampliada pela incorporação de mais essa relação da força com a distância. Antes: “Quando estão separados não a reação nenhuma de ambos, quando são aproximados ou irão se atraírem se tiverem cargas diferentes e iriam se repelirem com cargas iguais”. Depois: “Quando aproximados seus campos magnéticos estão mais intensos iriam se atrair ou se repelirem com serta força” (Aluno Renan). O aluno Renan, nesta questão, relacionou, no primeiro momento, a força de atração e repulsão entre os imãs com as cargas elétricas. Coube ao professor fazer a reconciliação interativa, ressaltando as semelhanças e as diferenças entre esses conceitos análogos. Questão 10: O que você entende por campo magnético? Antes: “É formado por uma carga geradora, com várias linhas de força podendo ser de aproximação ou de afastamento. E pode ser provado por uma carga de prova”. Depois: “São linhas de força presentes em imãs, corrente elétrica em movimento, que atraem corpos ferromagnéticos” (Aluno Agenor). O aluno Agenor confundiu campo elétrico com campo magnético, utilizando os conceitos do primeiro para definir o segundo. Mais uma vez, a reconciliação interativa foi necessária, ressaltando as diferenças e as semelhanças entre conceitos parecidos. Antes: “Campo que tem influência magnética”. Depois: “O campo magnético é quando as linhas de indução estão andando do sul para o norte, proporcionando ondas magnéticas” (Aluno Aloir). Aloir evoluiu muito em suas ideias. Anteriormente à aplicação da metodologia parecenos que a ideia de campo magnético era algo que modificava o espaço ao redor do imã, o que 78 não está totalmente errado. No segundo momento, o aluno utilizou termos mais adequados para definir o campo magnético. Antes: “É o campo criado pelo movimento ordenado do átomo”. Depois: “São linhas imaginárias (espiras) e dentro desse campo haverá uma força seja ela de atração ou repulsão” (Aluno Daniel). O aluno Daniel demonstrou uma mudança em seus conceitos prévios, introduzindo um novo conceito de linhas de indução para caracterizar o campo magnético. Antes: Não respondeu. Depois: “São linhas de força que saem do pólo norte e entram no sul, sendo que quando mais próxima estiverem as linhas de força, maior será o poder de atração magnética” (Aluno Jaime). O aluno Jaime parece ter alargado sua estrutura cognitiva, uma vez que, anteriormente à aplicação da metodologia, ele não sabia caracterizar o campo magnético e, após a pesquisa, apresentou coerência na definição de campo magnético. Mais curioso foi a conclusão do aluno em caracterizar a intensidade do campo magnético pelo adensamento das linhas de indução magnética, suspeitamos que o mesmo internalizou tal característica do campo elétrico, estudado no início do ano letivo. Questão 11: Quando ligamos um liquidificador ou qualquer outro equipamento eletrodoméstico perto de um rádio que está funcionando, notamos zumbidos emitidos pelo rádio. Qual é a causa desse ruído? Antes: “São dois campos emitindo em um mesmo local, um de interferência no outro provocando o zumbido”. Depois: “Ao ligar o liquidificador, fará com que a corrente elétrica que passa por ele gere um campo magnético interferindo-se assim no campo do rádio que tem uma freqüência menor do que a do liquidificador” (Aluna Cleidiana). A aluna Cleidiana demonstrou uma profunda modificação na forma de pensar, sinalizando uma ampliação em sua estrutura cognitiva. Sua segunda resposta (segundo levantamento) deixou clara a internalização de alguns conceitos antes não manifestados. 79 Antes: “Diria que seria a interferência emitida de um equipamento ao outro”. Depois: “Seria o fato de ambos possuírem imãs em sua composição, havendo então uma interferência pela eletricidade que formaria um campo magnético através dos imãs” (Aluno Eder). O aluno Eder não respondeu satisfatoriamente, num primeiro momento, à questão, mas com a aplicação da metodologia percebemos uma melhora de seus conceitos. Antes: “A interferência é que o imã no motor atrapalha a propagação da onda sonora do imã do rádio”. Depois: “O liquidificador quando está funcionando gera um campo magnético e o alto-falante do rádio funciona com a interação de dois campo magnéticos. Com o liquidificador ou qualquer outro eletrodoméstico perto do rádio haverá outro campo magnético interagindo no auto-falante e causará ruídos” (Aluno Jaime). O aluno Jaime não respondeu à questão utilizando elementos coerentes, demonstrando que inicialmente havia ausência de ideias esteios que fundamentassem sua resposta. Com a leitura dos textos e a realização das oficinas, observamos que novas ideias parecem ter sido incorporadas, pois, sua segunda resposta denota uma internalização de novas ideias mais inclusivas. Questão 12: Para que serve uma bússola? Como funciona? Como poderíamos utilizar bússolas para detectar o campo magnético de uma região? Antes: “Detectar o pólo norte e sul de um determinado lugar”. Depois: “Sabem onde estão os pólos norte e sul. A bulsula ira apontar para o pólo norte magnético onde será o pólo sul geográfico, quando ela apontar para o norte e onde estava o campo” (Aluno Aloir). Nesta questão, verificamos que o aluno Aloir ampliou suas ideias prévias sobre o assunto estudado pela completeza da sua resposta após a aplicação da metodologia, conforme transcrição anterior. Antes: “Para se localizar num mapa, indicando o norte magnético a ponta da da agulha da bússola irá indicar a direção da região com campo magnético”. Depois: “Indicar o sul e norte geográfico. A bússola tem dois pólos, um aponta para o sul geográfico e outro para o norte geográfico, devido o norte magnético estar no sul geo. e o sul mag. junto com o norte geo” (Aluno Jaime). Antes: “Para se localizar na superfície terrestre. O pólo N (norte) é atraído pelo magnetismo da Terra indicando sempre o norte”. Depois: “A bússola serve para que nos orientemos quando os pólos terrestres. O lado vermelho da bússola indica o 80 norte magnético e o lado azul indica o sul. Sabendo-se que as linhas magnéticas saem do norte e vão para o sul a bússola indicariam essas direções” (Aluno Wilson). Para os alunos Jaime e Wilson, observamos respostas pós-pesquisa muito distintas daquelas manifestadas anteriormente, indicando a incorporação de novos conceitos em sua estrutura cognitiva. Suas ideias mais gerais foram alargadas pela subsunção de outras menos inclusivas. Na análise da questão 13: Complete. Imãs com __________ opostos se________, e de mesmo __________, se ___________., não observamos qualquer mudança conceitual dos alunos. Questão 14: Digamos que você necessita furar a parede da cozinha de sua casa com uma furadeira, mas existe um fio embutido que precisa ser descoberto. Neste fio está ligada a furadeira elétrica. Como você descobriria esse fio sem quebrar a parede? Antes: “Puxando-o”. Depois: “Ao ligar a furadeira fará que dentro do fio haja o movimento dos elétrons através desse movimento haverá o campo que poderá ser achado pela bússula que indicará o sentido em que essa corrente percorre” (Aluna Cleydiana). Antes: “Seguindo do fio”. Depois: “Utilizando uma bússola que indicaria o campo magnético gerado pela corrente que circula nos fios” (Aluno Luciano). Antes: “Não tem como se o fio esta entre a parede e necessita de descobri o fio”. Depois: “Com uma bússola ela mostraria onde esta passando corrente elétrica porque acho que corrente elétrica em movimento gera um campo magnético” (Aluna Marina). Os alunos Cleydiana, Luciano e Marina parecem ter evoluído muito do ponto de vista cognitivo. Anteriormente à aplicação da pesquisa, suas respostas eram incoerentes e sem consistência, mas com a aplicação da metodologia percebemos ideias âncoras incorporadas em sua estrutura cognitiva. As respostas dadas demonstram uma riqueza de conceitos. 81 Questão 15: Nos liquidificadores, por exemplo, não existem imãs, mas o funcionamento desses equipamentos depende da existência de um campo magnético. O que gera o campo magnético nesse caso? Antes: “A diferença de potencial, pois a corrente elétrica tem que circular pelo fio, passa pela resistência para chegar ao fio neutro”. Depois: “A corrente elétrica passando por uma bobina no interior desses aparelhos” (Aluno Wilson). Para o aluno Wilson observamos, na primeira resposta, que existiam ideias âncoras disponíveis na sua estrutura cognitiva, mas faltava-lhe uma ligação entre as mesmas. Com a leitura dos textos, conseguimos fazer com que o aluno concatenasse essas ideias com as ideias âncoras existentes. Questão 16: Em que situação dois imãs se repelem? E quando eles se atraem? Antes: “Quando são aproximados ou encostados por pólos iguais e se atraem quando são aproximados por pólos diferentes”. Depois: “Dois imãs se repelem quando são aproximados pelos pólos iguais e os dois imãs se atraem quando são aproximados por pólos diferentes” (Aluno Agenor). Antes: “Quando eles estão do mesmo lado, e eles se atraem quando estão de lados opostos”. Depois: “Se repelem quando estão virados com os pólos iguais, e se atraem quando seus pólos são diferentes” (Aluna Cleydiana). Os alunos Agenor e Cleydiana evoluíram cognitivamente, apresentando um alargamento em suas concepções prévias, ficando suas respostas, após pesquisa, mais ricas em detalhes, sugerindo uma evolução em seus subsunçores. Antes: “Quando suas partes estão desiguais, quando sua superfície esta lisa”. Depois: “Quando tem seu dois lados iguais (norte-norte ou sul-sul). Quando tem um lado diferente do outro (norte-sul)” (Aluno Tiago). O aluno Tiago não apresentava ideias âncoras disponíveis em sua estrutura cognitiva. Com o desenvolvimento dos organizadores prévios, percebemos em sua resposta alguma ideia esteio estabelecida em sua estrutura cognitiva para uma aprendizagem futura. 82 Questão 17: Complete: Suponha que você esteja segurando dois imãs que estão se atraindo mutuamente, para separá-los, precisa exercer (fazer) uma_____________ maior que a ______________ magnética dos imãs. Logo os imãs exercem uma__________ magnética em objetos próximos. Para esta questão, grande parte dos alunos mostrou uma evolução conceitual, citaremos a resposta de um aluno: Antes: “Complete: Suponha que você esteja segurando dois imãs que estão se atraindo mutuamente, para separá-los, precisa exercer (fazer) uma força maior que a energia magnética dos imãs. Logo os imãs exercem uma energia magnética em objetos próximos”. Depois: “Complete: Suponha que você esteja segurando dois imãs que estão se atraindo mutuamente, para separá-los, precisa exercer (fazer) uma força maior que a força magnética dos imãs. Logo os imãs exercem uma atração magnética em objetos próximos” (Aluno Eder). Questão 18: Um elétron entra numa região que existe um campo magnético, com certa velocidade. Notamos que essa carga elétrica sofre um desvio em sua trajetória. Qual a grandeza física que provoca a mudança de sua trajetória? Antes: “Corrente elétrica”. Depois: “Força” (Aluno Daniel). Na questão 18, o aluno Daniel demonstrou uma evolução conceitual, atribuindo à força magnética o desvio sofrido pela carga elétrica. Antes: “Provavelmente esse elétron tem o mesmo sinal da carga geradora do campo magnético o que faz com que essas cargas sejam repelidas”. Depois: “A força magnética gerada pelo campo magnético, ou então mudando o sentido de circulação da corrente”. (Aluno Wilson). O aluno Wilson anteriormente acreditava que a geração de campo magnético era por cargas estáticas. Com a leitura dos organizadores prévios, sua estrutura cognitiva parece ter sido alargada e modificada, com possível internalização de conceitos corretos. É imperioso que se faça a reconciliação interativa para desfazer essa confusão entre as fontes de campo elétrico e magnético, apontando as diferenças e as semelhanças entre conceitos conflitantes. 83 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste trabalho foi desenvolver uma metodologia baseada nos organizadores prévios para a aprendizagem significativa de conceitos do Magnetismo e do Eletromagnetismo. Focamos nossa atenção nos textos sobre Magnetismo: Imãs naturais: fósseis magnéticos e a Descoberta do Magnetismo, e nos textos sobre Eletromagnetismo: Microfone de indução e Alto-falante. Os dois primeiros textos tiveram como objetivo despertar ou ativar subsunçores relevantes na estrutura cognitiva do aluno para o estudo futuro de conceitos, como o de geração de campo magnético pela corrente elétrica e a aplicação da “regra da mão direita”. Os demais textos serviram para suscitar ou criar ideias esteios para o estudo futuro de indução eletromagnética. O texto sobre o funcionamento do microfone, que foi usado como organizador prévio, cumpriu com o seu objetivo, ou seja, despertou nos alunos os subsunçores necessários para o entendimento da indução eletromagnética, o que pôde ser percebido pelas respostas transcritas dos alunos. A pergunta foi colocada juntamente com o texto que está no (ANEXO A). Além da criação das ideias esteios, foi despertada nos alunos a motivação para o estudo do Magnetismo ou do Eletromagnetismo, pois, pudemos perceber o grande anseio deles em buscar por respostas. O primeiro passo do trabalho foi selecionar os textos pertinentes ao assunto foco da pesquisa, destacando quais subsunçores queríamos ativar ou criar na estrutura cognitiva do aprendiz. Em seguida, preparar as oficinas, cujas atividades desenvolvidas estariam ligadas com o tema do trabalho. Em nossa pesquisa foram utilizados 12 (doze) textos, mas sugerimos em nosso guia ao professor um número menor de textos (observação dos alunos). Para mensurar quão desenvolvidos estariam cognitivamente os 12 alunos, ou seja, para considerar as pré-concepções desses discentes, realizamos um levantamento com 18 (dezoito) questões que foram reaplicadas ao final da pesquisa, anteriormente à apresentação do mapa conceitual do Eletromagnetismo. Analisando as respostas dadas pelos alunos antes e depois da aplicação dos organizadores prévios (textos motivadores e oficinas), percebemos uma mudança conceitual, isto é, um alargamento de seus conceitos prévios, assim como uma sedimentação das ideias âncoras que existiam antes em sua estrutura cognitiva. Tal fato pode ser observado comparando-se as respostas nos dois levantamentos, bem como nas argumentações dos alunos durante as discussões em sala. 84 O mapa conceitual apresentado aos alunos propiciou um fechamento, de forma organizada, de como os conceitos de inter-relacionam e como estão dispostos hierarquicamente. Este mapa foi elaborado levando em conta os princípios da programação do conteúdo de Ausubel: reconciliação interativa e diferenciação progressiva. Percebemos que o mapa conceitual facilitou a organização dos conceitos na estrutura cognitiva dos alunos. Acreditamos que, os alunos ao estudarem tópicos sobre Magnetismo ou de Eletromagnetismo, ideias âncoras estarão fundadas em sua estrutura cognitiva, constituindo-se assim em uma facilitação para a aprendizagem significativa. Um fator constante que surgiu durante a pesquisa foi uma confusão entre os conceitos eletrostáticos e magnéticos, coube ao professor fazer a reconciliação interativa, ressaltando as semelhanças e as diferenças entre conceitos aparentemente conflitantes. Os livros didáticos recomendados pelo PNLEM - 2007 contemplam, em grande parte, uma organização do conteúdo que está deixando de ser linear, com tópicos estanques, como “gavetas de um armário”, sem nenhuma ligação entre si. Associando aos livros didáticos uma metodologia voltada aos organizadores prévios, poderemos nos aproximar de uma aprendizagem potencialmente significativa para os alunos. Segundo Ausubel, aquilo que o aluno já sabe é o fator isolado mais importante, influenciando a aprendizagem subsequente, por esse motivo, nos propusemos testar uma metodologia baseada nos organizadores prévios (grande legado de Ausubel), a fim de preparar os alunos para uma aprendizagem significativa. Podemos dizer, portanto, que a preparação para uma aprendizagem significativa deve ser feita através de organizadores prévios, utilizando materiais potencialmente significativos (isto é, relacionáveis à estrutura cognitiva do aluno) que explicitamente tentam promover a diferenciação progressiva e a reconciliação interativa entre os conceitos. Como produto dessa pesquisa, elaboramos um guia de Aplicação dos organizadores prévios para a aprendizagem significativa de conceitos do Magnetismo e do Eletromagnetismo, de acordo com Ausubel (2003), no sentido de preparação para uma aprendizagem significativa. A elaboração desse guia visa: • instruir os docentes na preparação cognitiva de seus alunos com base na teoria ausubeliana, para o estudo de um determinado tópico; • criar ou despertar ideias esteios na estrutura cognitiva dos alunos, de modo que novos conceitos possam ancorar; • contextualizar o ensino da Física; 85 • suscitar mudanças metodológicas nos docentes de forma que possam tornar a Física mais agradável para o aluno. Sugerimos a leitura do livro: Aprendizagem significativa: A Teoria de David Ausubel, Marco A. Moreira e Elcie F. S. Masini, como referência para a organização do conteúdo com base na Teoria de Ausubel. Neste livro existe um exemplo da organização do conteúdo em “Eletricidade e Magnetismo”. Sugerimos, também, para trabalhos futuros, a verificação da retenção dos conceitos obtidos por meio de uma aprendizagem significativa, nos moldes da teoria ausubeliana. De acordo com Ausubel, uma aprendizagem significativa para o aluno pode ser retida por um período longo, quando comparada com os conceitos adquiridos por meio de uma metodologia tradicional. Por fim, informamos que o guia de Aplicação dos organizadores prévios para a aprendizagem significativa de conceitos do Magnetismo e do Eletromagnetismo destinado aos professores de Física do Ensino Médio, e ainda, segue como parte integrante deste trabalho seu conteúdo impresso apresentado ao final desta dissertação, a partir do (APÊNDICE C). 86 REFERÊNCIAS AGÊNCIA BRASIL. O Ensino médio terá um novo modelo. Folha Online, São Paulo, 02 maio 2008. Disponível em: <http://www.folha.com.br>. Acesso em: 12 maio 2008. AURÉLIO, G. F.; TOSCANO, C. Física. 1. ed. São Paulo: Editora Scipione, 2005. 112p. AUSUBEL, D. P. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva. Tradução Lígia Teopisto. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Interamericana, 2003. 242p. AUSUBEL, D. P. Educational Psychology: a Cognitive view. 1. ed. Nova York: Holt, Rinehart and Winston Inc., 1968. 625p. AUSUBEL, D. P.; FITZGGERALD, D. Organizer, general background, and antecedent learning variables in sequential verbal learning. Journal of Educational Psychology, 1962, p. 243-249. AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H. Psicologia Educacional. Tradução Eva Nick, Heliana de Barros Conde Rodrigues, Luciana Peotta, Maria Ângela Fontes e Maria da Glória Rocha Maron. 2. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980. 625p. BARNES, H. L. Investigation of the effects of diferential material on concept acquisition and transfer. (Doctoral) dissertation, Michigan State University, 1972. Dissertation Abstracts International, 1972. 2207p. BRASIL, Ministério da Educação. Guia de Livros Didáticos PNLD 2008. Brasília: MEC, 2008. 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Solicitamos sua colaboração e desde já agradecemos as informações fornecidas. Estamos a sua disposição para qualquer informação em relação à pesquisa. Obrigado! Prof.: Roberto Luiz de Azevedo Mestrando PUC-MINAS Levantamento de concepções (1º momento) 1) Desenhe um átomo. 2) Existem partículas em movimento no átomo? Quais são elas? Como é esse movimento? Qual é o grau de organização desse movimento? 3) Se sua resposta foi movimento desorganizado, responda a questão abaixo: se fosse possível organizar o movimento dos elétrons dentro de um fio condutor, o que obteríamos? 4) O que são imãs? Cite situações em que os imãs aparecem em seu dia-a-dia. 5) Cite fontes algumas “magnéticas”. 92 6) Como você magnetizaria uma agulha? 7) Como são denominadas as regiões dos imãs? 8) Ao partir ao meio um imã em forma de barra, o que acontece com cada uma de suas partes? 9) Imagine-se segurando dois imãs com as mãos e com os braços afastados, descreva o que ocorre quanto eles são aproximados, e quando são separados. 10) O que você entende por campo magnético? 11) Quando ligamos um liquidificador ou qualquer outro equipamento eletrodoméstico perto de um rádio que está funcionando, notamos zumbidos emitidos pelo mesmo. Qual é a causa desse ruído? 12) Para que serve uma bússola? Como funciona? Como poderíamos utilizar bússolas para detectar o campo magnético de uma região? 13) Complete: “Imãs com _______ opostos se __________, e de mesmo ________, se ____________”. 93 14) Digamos que você necessite furar a parede da cozinha de sua casa com uma furadeira mas, existe um fio elétrico embutido que precisa ser descoberto. Neste fio está ligado à furadeira elétrica. Como você descobriria o fio sem quebrar a parede? 15) Nos equipamentos eletrodomésticos não existem imãs mas, o funcionamento desses equipamentos depende da existência de um campo magnético. O que gera o campo magnético nesse caso? 16) Em que situação dois imãs se repelem? E quando eles se atraem? 17) Complete: Suponha que você esteja segurando dois imãs que estão se atraindo mutuamente, para separá-los, precisa exercer (fazer) uma_____________ maior que a ______________ magnética dos imãs. Logo os imãs exercem uma__________ magnética em objetos próximos. 18) Um elétron com certa velocidade entra numa região que existe um campo magnético. Notamos que essa carga elétrica sofre um desvio em sua trajetória. Qual a grandeza física que provoca a mudança de sua trajetória? 94 APÊNDICE B - Oficinas Oficina 1 LEVITAÇÃO MAGNÉTICA Apresentação: Manter um corpo suspenso no ar, sem qualquer apoio aparente, como que desafiando a lei da gravidade, é reconhecido como fenômeno de levitação. Muitos mágicos fazem isso, mantendo escondido o necessário “apoio”. Sem esse apoio, visível ou não, um corpo material não poderá levitar. Esse “apoio”, necessariamente, deverá aplicar no corpo suspenso uma força, vertical para cima, suficientemente intensa para equilibrar o peso do corpo. Em se tratando de corpo extenso a estabilidade de equilíbrio também deve se analisada. Um exemplo simples de levitação, com apoio quase invisível, é manter uma bolinha de aço suspensa por uma fina linha de pesca. A força aplicada pela linha sobre a esfera equilibra o peso da esfera. A resultante das forças externas sobre ela (peso e tração) é nula. Se a esfera está em repouso, permanecerá em repouso; se está em movimento, manterá sua velocidade vetorial constante (Primeira Lei de Newton). Levitação dessa espécie não são atrativas, a menos que o corpo suspenso seja o de uma mulher e o mágico passe um aro envolvendo o corpo (para “mostrar” que não há fios). Ai passa a ser um bom truque circense (cujo segredo o mágico não irá contar). Não confunda mágico com místico, não confunda uma arte valorosa desses abnegados profissionais, com os enganadores da ingenuidade popular. As forças de apoio sobre o corpo suspenso, equilibrando seu peso, só podem pertencer a duas categorias: 1) Ou são de contato (como é o caso do fio sobre a esfera, o caso do ar sobre um balão – empuxo de Arquimedes -, o caso do ar sobre as pás em movimento do rotor do helicóptero etc). 95 2) Ou provenientes da ação de campos sobre alguma grandeza associada ao corpo suspenso. São exemplos simples dessa segunda categoria os imãs suspensos sob a ação de outros imãs (campo magnético criado por um agindo sobre a massa ferromagnética do outro, e vice-versa), gotículas eletrizadas mergulhada em um campo magnético (experiência de Milikan – o campo elétrico uniforme gerado entre duas placas eletrizadas age sobre as cargas elétricas das gotículas mantendo-as em levitação) etc. Algumas situações de levitação, para espectadores ainda em fase de sua educação científica, podem parecer realmente misteriosas pelo fato de não “enxergarem” de onde vem a força equilibrante para o corpo suspenso. O perigo nessa fase é “descambar” para o misticismo enganador ou para explicações dadas por pseudo-ciências. [...]. Material: • Disco de alumínio com espessura cerca de 2 mm e diâmetro de 25 a 30 cm, conseguimos em um ferro velho de desmanche de ônibus. Utilizamos exatamente o assoalho do ônibus que é de alumínio que depois de torneada obtivemos o disco. Uma segunda opção seria uma forma alumínio usada para assar de pizza; • Um motor elétrico universal de baixa potência (1/8 HP), motor de um”tanquinho de lavar roupas”; • Uma caixa de madeira com dimensões 30×30×30 cm, para abrigar o motor; • Uma vareta de guarda-chuva; • Um imã prismático pequeno (retirado da porta de um armário)*; • Um contra-peso; • Suporte e cola; • Opcional: um controle eletrônico de velocidade de rotação do motor cujo circuito eletrônico, bem como a relação de peças estão representados abaixo. * Optamos, também, por utilizar dois imãs de magnetron de microondas. 96 Montagem: a) Fixe o motor dentro da caixa de madeira. Cuide para que o eixo do motor, assim fixado, fique rigorosamente na vertical. Esse motor poderá ser acionado diretamente pela rede elétrica domiciliar 110 V ou 220 V, dependendo da região geográfica, no caso de motores AC ou alimentados por pilhas e baterias, no caso de motores CC (em geral disponíveis para as tensões de 3,0 V, 6,0 V, 9,0 V ou 12 V). Um motor de indução retirado de um ventilador* já posto fora de ação servirá perfeitamente. Motores universais (com escovas) para 110 V ou 220 V, com potência de 1/8 e 1/4 de HP, estão disponíveis no comércio e são os indicados para trabalhos em laboratórios, principalmente se dotados de reguladores eletrônicos de velocidade (sem perda de torque). [...]; * Optamos por usar um motor de um tanquinho de lavar roupas. b) Fixe o disco, pelo orifício em seu centro, ao eixo do motor. Parafuso de “cabeça chata” dá excelente fixação e não fica saliente no plano do disco. Cuide para que o disco fique balanceado para que não ocorram vibrações indesejáveis. Outra observação diz respeito ao furo que deverá ser feito no eixo do motor para a fixação do disco. A rosca deverá ser esquerda (sentido antihorário), caso contrário, o disco sairá devido a sua inércia à rotação, o eixo do motor gira mais rapidamente que o disco, bambeando-o. Ou enrolar novamente o enrolamento de partida do motor, disponibilizando seis fios, dessa forma pode-se inverter a rotação, trocando os fios números 5 e 6. Comumente esses motores não dão a opção de inversão de rotação. c) Utilize pequeno imã de alnico (alumínio – níquel – cobalto)* proveniente de um alto falante ou microfone dinâmico já fora de uso ou, ainda um imã prismático retirado 97 da porta de um armário, colando-o na extremidade de um dos braços de uma “balança” (feita com uma vareta de guarda-chuva). O contra-peso CP deve ser tal que possa ser deslocado ao longo do outro braço da balança, permitindo obter equilíbrio do imã. O equilíbrio perfeito não é necessário e é até bom que a vareta fique ligeiramente inclinada, com o imã abaixo do nível do CP. A vareta de guardachuva já trás consigo a “dobradiça” bem sensível que faz o papel de “fulcro” nessa balança. Outras montagens podem ser pensadas. Essa é uma sugestão. * Utilizamos imãs retirados de portas de armários de cozinha, são leves e geram um bom campo magnético. Na figura abaixo está outra sugestão para outro efeito de levitação. Levitação em relação ao plano do disco 98 Material: • 40 cm de cano PVC de cola (cano marrom) para água fria de ½”; • Uma conexão tipo “T”para ½”; • Dois tampões de ½”; • Dois imãs de magnetron; • Dois suportes de madeira aparafusados lateralmente à caixa que guarda o motor. Procedimentos: • Serre o cano a 3 cm de uma das extremidades; • Cole a conexão “T” nessa extremidade; • Cole os tampões nas extremidades do cano para dar um acabamento. 37 cm 2,1 cm 3 cm 2,0 cm 5,7 cm Esse conjunto é parafusado acima do disco de alumínio. Colocamos também uma placa de acrílico entre o disco e os imãs para se evitar qualquer interferência do deslocamento de ar sobre o experimento. d) Coloque o imã sobre o disco de alumínio, a cerca de 3 cm da borda, como se ilustra. 99 Procedimento: Ligue o motor. Com o progressivo aumento da rotação, o imã, que até então ficava raspando sobre o disco, começara a levitar. Com boa velocidade de rotação o imã se manterá suspenso cerca de 5 ou 6 cm acima do disco. Com o dedo, tente (suavemente) apertar o imã contra o disco. Note a força que você terá que exercer para conseguir isso! Texto adaptado e retirado do site: www.feiradeciencias.com.br prof. Luiz Ferraz Netto. 100 Outra sugestão de levitação segue nas fotos abaixo: Questões: 1) De onde vem a força que afasta o imã do disco de alumínio (que poderia também ser de latão, bronze, cobre etc.)? 2) O alumínio não é material ferromagnético – não se torna imã, por indução, na presença de outro imã. Será que a rotação faz o alumínio tornar-se um “repelente” de campos magnéticos? 101 3) Qual seria a lei relacionada com esse fenômeno? 4) Explique, com suas palavras, o fenômeno observado. 102 Oficina 2 FREIO MAGNÉTICO 1) Introdução Sabe-se que cargas elétricas em movimento, dentro de um campo magnético, ficam sujeitas á força magnética (ou força de Lorentz). Essa força coloca as cargas elétricas em movimento perpendicular ao campo que o atravessam, gerando assim uma corrente induzida (Lei da Faraday), com sentido tal que os pólos magnéticos destas correntes induzidas (ou correntes de redemoinhos ou turbilhonares) se oponham à variação do fluxo magnético, através das chapas de alumínio, que as originou (lei de Lenz). As correntes de Foucaut1são correntes elétricas induzidas que surgem no interior de uma massa metálica, quando a mesma atravessa um campo magnético. Pela lei de Lenz, a oposição à variação do fluxo magnético que origina as correntes funciona, portanto, como freio magnético ou amortecedor, com conseqüente liberação de calor por efeito Joule. No experimento aqui descrito, este efeito é imperceptível, pois as velocidades envolvidas são baixas, contudo, é por esse efeito que se dissipa a energia mecânica inicial do sistema. 2) O experimento Para mostrar os efeitos das correntes de Foucault, sugere-se a montagem do seguinte experimento: recorta-se uma placa de alumínio2 em chapas de diferentes formatos (coroa, círculo, quadrado, pente). Suspende-se cada uma dessas chapas numa sólida armação, 1 O francês Jean Bernard Léon Foucault (1819 – 1868) desde jovem manifestou vivo interesse pela Física experimental, abandonando a prática da Medicina logo após a conclusão do curso. Em companhia de Fizeau, do qual era amigo, introduziu alguns aperfeiçoamentos no daguerreótipo, aparelho fotográfico inventado por Daguerre. Foucault e Fizeau fizeram a primeira fotografia da superfície solar, em 1845, com um daguerreótipo por eles aperfeiçoado. Em 1850, Foucault determinou experimentalmente a velocidade da luz. No ano seguinte, demonstrou o efeito de rotação da Terra notavelmente, valendo-se, para isso, de um pêndulo constituído de uma esfera metálica de cerca de 28 kg, suspensa por um fio de 67 m, aproximadamente. Em 1852 inventou o giroscópio. Deve-se-lhe a descoberta das correntes de indução nas massas metálicas em movimento em um campo magnético, às posteriormente chamadas correntes de Foucault. 2 No lugar de alumínio, poderia se usar cobre, latão ou qualquer metal que não seja atraído pelos imãs permanentes utilizados no experimento. 103 construída sobre uma prancha de madeira, de modo a oscilarem como pêndulos. Um esquema deste procedimento é mostrado na figura 1 abaixo. Sulco de encaixe da haste Tubo de cobre fio de cobre de 4 mm2 20,0 cm suporte 20,5 cm Base de madeira 23,0 cm 2 cm 20,0 cm Fig.: 1 Aparafusamos um suporte de madeira em uma base também de madeira e sobre esse suporte colocamos um fio de cobre de 4 mm2, diâmetro de 2,25 mm. O enrolamento da vareta horizontal (fio de cobre) garante que o plano de oscilação do pêndulo seja sempre o mesmo. Para que isso aconteça, fizemos o enrolamento com um tubo de cobre utilizado em instalações de gás. Veja o detalhe do enrolamento na figura 2, abaixo: 2 cm Solda branca Fios de cobre Fig.: 2 Cortamos pedaços de 2 cm de tubo de cobre (diâmetro interno de 2,30 mm) utilizados em instalações de gás, dessa forma o tubo pode passar pelo fio de 4 mm2. Neste tubo soldamos a haste do pêndulo e na outra extremidade, rebitamos (rebites de alumínio) a chapa de alumínio. Obtivemos um movimento pendular com um atrito, entre a haste e o tubo, muito pequeno. Veja figura 3. 104 Furos para os rebites Fig.:3 Dois imãs permanentes, com pólos opostos voltados entre si, geram o campo magnético necessário para a existência das correntes induzidas. Pode-se observar que, quando uma chapa oscila no interior do campo magnético gerado pelos imãs, seu tempo de amortecimento é muito menor do que quando está fora desse campo. Verifica-se, portanto, o efeito de freio das correntes de Foucault. A forma de oscilar da chapa de alumínio que constitui o pêndulo é tal que o plano da chapa permanece sempre paralelo ao plano de oscilação do pêndulo, veja figura 1. Utilizamos os imãs de micro-ondas montados em uma cantoneira de metal. Veja figura 4 abaixo: 9 cm 5 cm Fig.: 4 3) Montagem do experimento Para a confecção desse experimento, foram necessários: 105 a) Duas cantoneiras metálicas confeccionada com as dimensões 6,2 ×23 cm dobradas em forma de U conforme a figura 3. b) Dois imãs circulares de micro-ondas de diâmetro interno de 2 cm e externo de 5,5 cm. Figura 5. c) Um pedaço de chapa fina de alumínio para se recortar os 4 (quatro) formas sugeridas. d) Uma tábua de madeira de 20×23×2 cm. e) Uma vareta de cobre (um fio de cobre 4 mm2) sem a isolação de 20 cm de comprimento por 2,25 mm de diâmetro. f) Tubinhos de cobre de 2 cm de comprimento por 2,30 mm de diâmetro que foram soldados nas hastes. 2 cm 5,5 cm Fig.: 5 A base de madeira foi rigidamente aparafusada ao suporte e, sobre ele foi encaixado o fio de cobre 4 mm2. Deve-se fazer dois sulcos para encaixar a haste de fio de cobre para que não caia. Cada um dos imãs deve ser posto numa cantoneira. Com pólos opostos voltados entre si. Sendo as cantoneiras metálicas, os imãs ficarão fixados magneticamente. Por sua vez, as cantoneiras devem ser parafusadas à prancha de madeira. Os imãs devem ficar separados por uma distância de 2,0 cm aproximadamente. Em nossa versão não houve necessidades de fixar as cantoneiras com os imãs. A forma de suspender a chapa de alumínio é através de uma vareta, também de cobre, de 1,4 mm de diâmetro. Numa das extremidades, prende-se a chapa de alumínio com rebites. A placa de alumínio deve ser recortada em figuras que, presas às varetas de cobre, ficarão suspensas, como pêndulos. Foram utilizados pêndulos (chapas de alumínio) com os seguintes formatos: quadrado (5 cm de lado), círculo ( 7 cm de diâmetro), pente retangular de 4,2×5,2 cm (com dentes e vãos com 0,5 cm de largura) e coroa circular (com diâmetro externo de 5 cm e interno de 2,5 cm), veja figura 6 abaixo. 106 Fig.: 6 4) Realização da experiência O objetivo da experiência é verificar qualitativamente o efeito retardatário provocado pelas correntes de Foucault. Assim, é preciso que sejam constituídos pares idênticos de pêndulos; deve-se erguê-los a uma mesma altura, isto é, dar a mesma amplitude inicial, e soltá-lo simultaneamente. Um dos pêndulos do par deverá passar entre os imãs, enquanto que o outro deverá oscilar fora deles. Essa atitude dispensa o uso de um cronômetro. Observar-se-á que o pêndulo que passa entre os imãs pára muito mais rapidamente que aquele que oscila na região externa a eles, com exceção do pente e da coroa, pois nestes não há formação intensa das correntes de Foucault. Para mostrar que os atritos são aproximadamente iguais entre os pêndulos, sugere-se retirar os imãs permanentes e soltar simultaneamente os dois pêndulos da mesma amplitude inicial e ver-se-á que levam aproximadamente o mesmo tempo para atingir o repouso. O pente a coroa são menos rapidamente amortecidos, porque sendo pequena a velocidade presente, o raio das correntes de rodamoinhos (o qual é proporcional à velocidade) são maiores do que as dimensões de cada dente do pente ou da largura da coroa, não se formando, assim, correntes de rodamoinhos suficientemente intensas para gerar um fluxo3 magnético que se oponha ao fluxo que as originaram. Texto adaptado e retirado do Caderno Catarinense de Ensino de Física., v. 17, n. 1: p. 96-100, abr. 2000. As fotos abaixo mostram os alunos montando o equipamento e, logo após testando os efeitos do freio magnético. 3 Refere-se ao número de linhas de campo magnético que atravessa uma determina superfície de área S, sendo definido matematicamente por Ø= B.S cosɵ, onde ɵ é o ângulo entre o vetor B e o vetor N normal à superfície. 107 Questões: 1) Porque os pêndulos de área inteiriça (círculo e quadrado) param mais rapidamente que os de área interrompida (pente e anel)? 2) Coloque os pêndulos em ordem crescente de resistência elétrica. 3) Se os pêndulos fossem forçados a se movimentarem entre os imãs o que aconteceria? 4) Os núcleos dos transformadores de baixa potência são laminados, por qual razão? 108 Oficina 3 MOTOR ELÉTRICO Apresentação Inclui aspectos teóricos do funcionamento de um motor didático, onde os conceitos físicos do Magnetismo e do Eletromagnetismo são introduzidos aos poucos. Material Esse modelo de motor elétrico, com estator de imã e rotor de bobina requer o seguinte material para a sua confecção. • 2 imãs permanentes em forma de anéis (imãs de micro-ondas). • 24 cm de fio cobre 1,5 mm2 sem a isolação para a confecção dos mancais. • 1 tira de lata de (15,0×6,0) cm. • 3 m de fio de cobre esmaltado de número 22 a 28 AWG. • Base de madeira 67,7×8,0×2,0 cm, pilha grande e porta pilha. • Parafusos para fixação da armadura e dos mancais à base de madeira. Montagem As figuras 1 e 2 a seguir fornecem uma visão do material preparado e aspectos da montagem. 109 Material e montagem 5 cm 5 cm Imãs de magnetron tira de lata (armadura) Fios de cobre encurvados (mancais) Fio de cobre esmaltado Fig.: 1 Imã (estator) bobina mancal armadura Vista de topo Base de madeira pilha Detalhe Fio de cobre Cobertura de verniz Fig.: 2 pilha 110 Eis a seqüência da montagem: a) Dobre a tira de lata larga para que fique com a forma de U, com 5 cm em cada perna. Fixe essa armadura na base de madeira com preguinhos, tachinhas ou pequenos parafusos. b) Coloque os imãs nas fases internas das pernas dessa armadura em forma de U. Isso funcionará como estator de nosso motor. Nesta fase, tome as devidas providências para que faces opostas dos imãs se defrontem; uma bússola pode auxiliá-lo. c) Dobre o fio de cobre na forma que aparece na figura 1. Uma pequena lapela de 1 cm servirá para fixar os mancais na base de madeira (use um ou dois pequenos parafusos). d) Construa a bobina girante (rotor) enrolando o fio de cobre esmaltado (espiras juntas) numa forma de cano de PVC ½”. Essa bobina poderá ter de 10 a 50 voltas. Deixe pelo menos 10 cm livre nas extremidades do enrolamento para funcionarem como eixo do motor. Uns pedacinhos de “durex” ou mesmo uma gotinha de supercola darão maior fixação para esse enrolamento; Apóie as extremidades livre dessa bobina sobre os mancais, bem centrada, de modo que o enrolamento gire bem dentro do campo dos imãs. Corte o excesso dos fios. Uma das extremidades em contato com um dos mancais deve ter seu verniz isolante totalmente raspado e a outra extremidade raspada apenas de “um lado” (veja detalhe na figura 2). Esse lado raspado e outro não nessa extremidade em contado com o mancal, fará papel de comutador para dirigir a corrente elétrica para a bobina apenas nos momentos adequados. Nota: Para a fixação de peças na madeira sempre dê preferência aos parafusos. Comentários teóricos: A figura 3 a seguir, mostra: a) O imã com suas faces N e S identificadas; b) Os imãs colocados na armadura com as faces opostas que se defrontam, sem armadura e, por último; 111 c) O campo magnético dos mesmos imãs colados na armadura. Repare como a presença da armadura concentra o campo. Fig.: 3 A figura 4 a seguir, mostra uma visão da montagem vista por um observador na direção do eixo. Ilustra-se vetor campo magnético produzido pelos imãs fixos (B), os sentidos das correntes elétricas nos lados da bobina girante ( e ) e as forças magnéticas que esse campo aplica nas correntes (F e –F). Sem verniz (comutador) Fig.: 4 Cobertura com verniz isolante (comutador) Coloque a pilha grande no seu porta pilhas e ligue, com pedaços de fios comuns, os terminais desse porta pilhas aos preguinhos que fixam os mancais. Um pequeno impulso na bobina dará início à rotação. Texto adaptado e retirado do site: www.feiradeciencias.com.br prof. Luiz Ferraz Netto. 112 As fotos abaixo mostram os alunos montando o motorzinho e, posteriormente testando-o. Questões: 1) O que aconteceria se os fios da bobina (rotor) não fossem raspados de nenhum dos lados. Justifique. 2) O que aconteceria com o rotor se a corrente elétrica fosse invertida. 3) O que ocorreria se os imãs do estado fosse colocados com suas faces sul voltadas para dentro da armadura? 113 4) O motor funcionaria se utilizarmos o campo magnético de um eletroímã ao invés campo magnético de dois imãs,? Justifique. 114 Oficina 4 MOTOR DE ROTOR LÍQUIDO Apresentação: Solte sua imaginação! Você já pensou num liquidificador (só o copo, sem motor convencional) onde as hélices ficam paradas e o líquido do copo é quem gira? Ou numa máquina de lavar roupas onde a roupa espontaneamente se põe a girar para cá para lá? E que tal a água do tanque de lavar roupas começar a fazer o mesmo? Como funcionam os motores convencionais? O principio básico que regula o funcionamento dos motores convencionais repousa na força magnética de Lorentz. “Toda carga elétrica (q) imersa num campo de indução magnética (B) e dotada de velocidade (V), de direção não coincidente com a direção do campo, fica sujeita a uma força (Fm) de origem eletromagnética.” Figura 1. Fig.: 1 Observe que a força magnética Fm é sempre perpendicular a V e a B, sendo portanto ortogonal ao plano definido por V e B. O sentido dessa força pode ser obtido pela conhecida “regra da mão direita”, com a mão direita estendida e com os quatro dedos no sentido do vetor velocidade; leve sua mão junto ao vetor campo magnético seu polegar dará o sentido do vetor força. 115 Para o completo entendimento, vamos apresentar um experimento simples, que permite constatar o aparecimento dessa força. Para começar, precisaremos de um imã para produzir o campo magnético. Sugere-se que seja um desses imãs em forma de anel, retirado de um alto-falante grande fora de uso (ele será utilizado em todas as experiências aqui citadas) ou de um forno micro-ondas. As oficinas de equipamentos sonoros em automóveis poderão lhe fornecer, gratuitamente, tais alto-falantes fora de uso. Aconselhamos a utilização dos imãs de micro-ondas, pois a retirada do imã de um alto-falante provoca normalmente sua quebra. Bastarão um martelo e uma pequena talhadeira para que você possa soltar facilmente o imã de suas peças polares, conforme ilustramos. Em posse de tal imã você poderá, como experimentos complementares, visualizar o seu campo magnético usando de placa de vidro e limalha de ferro. Figura 2. Fig.: 2 Precisamos também de um suporte de madeira, uma bolinha de isopor pequena e um pedaço de fio de seda (fio tirado de uma meia de seda). 116 Na figura 3 a seguir apresentamos a montagem completa. Fig.: 3 Inicialmente, coloca-se a bolinha de isopor para oscilar, como um pêndulo. Ela realizará varias oscilações, sempre no mesmo plano (sob a ação de seu peso e da força de contato com o fio), pois nela não agirá nenhuma força lateral, pois, a bolinha está neutra. Vamos eletrizá-la. Passe um pente no cabelo (seco e desengordurado) ou atrite um bastão de plástico num pano de lã. Encoste o pente ou bastão em vários pontos da superfície da bolinha para eletrizá-la por contato. A bolinha está agora eletrizada (possui uma certa carga elétrica, q coloque-a para oscilar, sobre o imã sem tocar nela com os dedos! Agora o campo magnético mantido pelo imã age sobre a carga elétrica da bolinha e ela será jogada lateralmente, mudando seu plano de oscilação a cada oscilação A bolinha foge do imã durante seu movimento, devido à força magnética de Lorentz. O que o campo fez sobre a carga da bolinha ele também o fará sobre todas as outras cargas elétricas em movimento. Como faremos para conseguir muitas e muitas cargas passando uma atrás da outra? De que são constituídas as correntes elétricas? Uma corrente elétrica nada mais é do que o fenômeno decorrente de um movimento ordenado de portadores de cargas elétricas. Relembremos, também, que os portadores de carga elétrica são os elétrons (que transportam carga negativa) e os íons (cátions transportam cargas positivas e os ânions cargas negativas). Em função do tipo de portadores de carga elétrica, diferenciamos os condutores elétricos conforme mostra tabela: 117 Tipos Portadores Exemplos 1a espécie Elétrons Metais, Hg, C, ... 2a espécie Íons Soluções iônicas 3a espécie Íons e elétrons Gases ionizados Independente do tipo de portador, o sentido convencional da corrente elétrica é sempre do positivo do gerador (+) para o negativo (-). Na figura 4 a seguir, i indica o sentido convencional da corrente elétrica nos diversos circuitos. 118 Fig.: 4 Como se visualiza a ação do campo magnético sobre as correntes? Para mostrar como a força magnética age sobre as cargas participantes da corrente elétrica nos condutores metálicos (1a espécie – aqui está o princípio de funcionamento dos 119 motores elétricos convencionais), façamos a montagem a seguir, aproveitando o material de que já dispomos, mais dois pitões metálicos de uns 50 cm de fio de cobre n0 16. Figura 5. Fig.:5 A figura 5 acima mostra a colocação dos pitões no suporte e como colocar o fio de cobre de modo a poder oscilar com as extremidades (lixadas) apoiadas nos pitões, lembrando uma balança de parques. A fonte de tensão pode ser obtida de 4 pilhas grandes em série ou uma fonte de alimentação de bancada. Na utilização de uma fonte de tensão CC, recomendamos o uso de uma lâmpada em série com o circuito para limitar a corrente elétrica, caso contrário a fonte queimará. Ligue a fonte de tensão nos pitões e verifique o imediato da “balancinha” de cobre, devido à força magnética que age na corrente elétrica que passa pelo ramo do fio. 120 Para usar a regra da mão direita nessa experiência (a fim de prever para que lado a balancinha vai se deslocar), basta substituir, na regra dada, a convenção dos quatro dedos, que passará a indicar o sentido da corrente elétrica. Se você usar os quatro dedos para indicar o movimento dos elétrons, não se esqueça de inverter o sentido da força dada pela regra da mão direita (carga negativa inverte o sentido da força!). Agora que já relembramos o funcionamento do motor elétrico convencional, passemos para o motor de rotor líquido. Motor de rotor líquido: Vamos descrever inicialmente a montagem do motor de rotor líquido. Procedendo assim, talvez, você mesmo possa chegar à conclusão de como funciona. Material: • Imã em anel, tirado de um alto-falante grande ou de um forno micro-ondas; • Um funil de alumínio de bico curto e largo (para poder encaixar uma rolha); • Um pino metálico, preferencialmente latão ou alumínio; • Uma rolha para o bico do funil (preferência de borracha); • Solução iônica para colocar dentro do funil (foi usada uma solução de 10 % de sulfato de cobre, mas qualquer outro sal serve); • Uma fonte de alimentação de 6 VDC e fios de ligação. 121 As ilustrações seqüenciais deixam bem clara a montagem: a) Introduza uma extremidade do pino metálico no centro da rolha; b) Encaixe a rolha no gargalo do funil (um pouco de parafina derretida acaba com qualquer chance de vazamentos); c) Coloque a solução dentro do funil; d) Ligue o pino central e o funil nos terminais da fonte, e assim o líquido começará a girar num sentido que depende do sentido de rotação da corrente elétrica. Invertendo-se o sentido da corrente, inverte-se também o sentido de rotação do liquido. Como primeira experiência foi obtido 76 rpm sob corrente de 2 A. “A força magnética empurra os íons e arrasta o líquido.” A figura 6 mostra uma secção transversal da montagem e uma vista de topo. Através dela você poderá observar bem o movimento dos cátions e dos ânions, o campo magnético do imã (B) e o sentido da força magnética (Fm) que age nesses íons, arrastando consigo o líquido todo e fazendo-o girar ao redor do pino central. 122 Fig.: 6 Você liga a fonte de alimentação no motor (6 VDC, + no eletrodo central e – no funil), a corrente elétrica começa a circular no condutor iônico (solução iônica), do eletrodo central para o funil (sentido convencional da corrente). Essa corrente é formada por cátions (que caminham do centro – pino – para a periferia – funil -) e por ânions (que caminham da periferia para o centro). O campo de indução magnética mantido pelo imã (B) é, no nosso exemplo, vertical para cima, e age tanto nas cargas positivas (cátions) como nas cargas negativas (ânions). Pela regra da mão direita você poderá constatar que as forças magnéticas surgem sempre no sentido de arrastar as cargas movimentando-as no sentido horário. Esse “arrastão” leva consigo o líquido todo e esse se põe a girar. 123 Esse trabalho faz parte do “Manual das Feiras de Ciências e Trabalhos Escolares” (publicado em dois volumes), do Prof.: Luiz Ferraz Netto. Foto da Feira de Ciências de Frutal –MG Nesse motor iônico, usou-se como cuba, uma concha de alumínio (cabo retirado) e como haste central um prego #60 que penetra numa rolha de borracha. Texto adaptado e retirado do site: www.feiradeciencias.com.br prof. Luiz Ferraz Netto. Nossa sugestão é apresentada abaixo: Material: • Uma marmita pequena de alumínio de dimensões 10 cm de diâmetro por 5 cm de profundidade. • 23 cm de fio de alumínio de área de seção transversal 2,5 mm2. • Um imã de anel de micro-ondas. • Solução iônica para colocar dentro do funil (foi usada uma solução de 10 % de sulfato de cobre, mas qualquer outro sal serve); 124 • Uma fonte de alimentação de 6 VDC e fios de ligação. • Uma base de madeira de 19,0×8,0×2 cm com um furo no meio para introduzir o imã. Montagem: As figuras 7 e 8 a seguir fornecem uma visão do material preparado e aspectos da montagem. Material e montagem 2,1 cm 5,0 cm 5,7 cm 5,7 cm 10 cm Marmita de alumínio Imã de micro-ondas 7,5 cm 19,0 cm 6,0 cm 9,5 cm 8,0 cm Fio de alumínio dobrado Base de madeira Fig.: 7 2,0 cm 125 Pilhas Fio de alumínio Marmita Imã Base de madeira Fig.: 8 A vantagem desta montagem é que se evita furar o recipiente, evitando assim vazamentos. As fotos abaixo mostram os alunos montando o equipamento e, testando-o posteriormente. 126 Questões: 1) Como podemos aumentar a frequência (“as rpm’s”) de rotação de nosso motor? 2) Porque utilizando água e açúcar como solução iônica o motor não funciona? 3) Use sua criatividade e responda: como este aparato poderia funcionar como liquidificador? 4) Invertendo o sentido da corrente elétrica ou o sentido do campo magnético, o que aconteceria com a rotação da solução iônica? Justifique. 127 APÊNDICE C – Guia de orientação ao Professor Uso de organizadores prévios para a aprendizagem significativa do Magnetismo e Eletromagnetismo Tradicionalmente, a organização seqüencial do conteúdo de um curso introdutório de Eletromagnetismo é linear: Carga Elétrica Potencial Elétrico Corrente Elétrica Força Elétrica Força Magnética Campo Elétrico Campo Magnético Indução Magnética. Esta sequência trata de fenômenos elétricos e magnéticos primeiro separadamente e depois unidos nos chamados fenômenos eletromagnéticos. De um modo geral, essa sequência é contraria à sequência ausubeliana1, pois parte dos conceitos mais específicos em direção aos conceitos mais gerais, enquanto que Ausubel defende a posição de que as idéias, fenômenos e conceitos mais gerais e inclusivos sejam apresentados no início do processo instrucional para que sirvam de pontos de ancoragem conceitual para a aprendizagem subsequente. Este guia tem por objetivo orientar os docentes no planejamento do conteúdo, por exemplo, de Física, com vistas na teoria cognitivista de Ausubel. Neste planejamento procuramos destacar os principais passos e os principais cuidados que o professor deve ter ao elaborar sua estratégia. Na sequência ausubeliana da exposição do conteúdo, o princípio da diferenciação progressiva foi utilizado como sistema de referência, ou seja, as idéias mais gerais e inclusivas do conteúdo foram apresentadas no início e, depois foram progressivamente diferenciadas, em termos de detalhes e especificidade. Como um planejamento-exemplo, optamos pelo tópico de Eletromagnetismo por ser considerado um assunto árido pelos alunos e pouco motivante. Essa metodologia deve ser aplicada anteriormente à exposição da matéria, a fim de criar na estrutura cognitiva do aluno as ideias âncoras necessárias, nas quais se ligarão outras ideias novas. 1 A teoria da Aprendizagem significativa proposta por David Ausubel pressupõe a existência de idéias esteios na estrutura cognitiva do aluno, onde o novo conceito/idéia poderá se ancorar de maneira significativa, ou seja, de forma substantiva e não-literal. Preconiza o uso de organizadores prévios para a suscitação e/ou desenvolvimento desses subsunçores na estrutura cognitiva do discente. Para o aprofundamento dessa teoria recomendamos AUSUBEL, D. P. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva. Tradução Lígia Teopisto. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Interamericana, 2003. 242p., e MOREIRA, M. A. Aprendizagem Significativa. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999. 128 Nossa estratégia se baseou na utilização dos organizadores prévios como forma de apresentação de ideias e informações, seguindo um corpo organizado de conceitos que dessem origem a significados claros, estáveis e não-ambíguos. A apresentação de ideias e de informações foi feita mediante a leitura de textos motivadores retirados de revistas, jornais, reportagens etc e, posteriormente através das oficinas. Ideias sobre as oficinas podem ser conseguidas em alguns sites como, por exemplo, a Feira de Ciências. Em nossa escola, mesmo que os alunos tenham vindo de um processo seletivo, a heterogeneidade entre os mesmos é muito grande. Confessamos que isso seja um fator limitador da metodologia no sentido de numa mesma sala de aula possui alunos em diferentes níveis de amadurecimento cognitivo. Por isso preconizamos que os textos e as oficinas devam ser escolhidos de maneira que uma grande maioria dos alunos possa usufruir dos conceitos que ali estão. Os textos escolhidos pelo professor devem ser potencialmente significativos aos alunos, relacionando assuntos de seu interesse e atuais, cuja forma de apresentação seja agradável. O professor deve escolher os textos que trazem conceitos mais gerais sobre o assunto, com o objetivo de contemplar a diferenciação progressiva, dessa forma estaremos suscitando ou criando as idéias esteios necessárias à aprendizagem significativa do assunto que será estudado. Assim sendo, o professor estará aplicando o primeiro princípio de organização do conteúdo, preconizado por Ausubel. Recomendamos ao professor que na condução da leitura dos textos sejam feitos grupos de quatro alunos e que haja um revezamento entre os mesmos na leitura de outros textos. Dessa forma estaríamos trabalhando a sociabilidade entre os alunos. Em nosso caso, os textos de Eletromagnetismo foram sobre os Trens Megalev e o Freio Magnético em que, procuramos fundar na estrutura cognitiva do aluno, idéias gerais sobre a indução eletromagnética. Na condução dessa fase de leitura dos textos, o professor deve elaborar, juntamente aos textos, questões que levem os alunos a pensarem a respeito do assunto ou que os levem a pesquisar quando não souberem a resposta. Tais questões é um dos artifícios de manipulação da estrutura cognitiva dos discentes, a fim de que eles possam criar suas idéias esteios. Os alunos, durante o estudo das questões propostas, sugeriram que se fizesse (eles próprios) uma pesquisa extra-classe quando não conseguiam as respostas adequadas. Consideramos isso uma atitude louvável, pois, é uma maneira deles buscarem e/ou sedimentarem suas idéias esteio. A seguir apresentamos um dos textos e as respectivas questões, como um exemplo de aplicação do que estamos propondo. 129 OS TRENS MAGLEV (Magnetic Levitaton) Os trens Maglev, de alta velocidade, utilizam a levitação magnética para flutuar sobre as suas vias. Eles fazem parte de um sistema mais complexo que consta basicamente de: • Uma potente fonte de energia elétrica; • Bobinas dispostas ao longo de uma linha guia; • Grandes ímãs localizados embaixo do trem. Ao serem percorridas por corrente elétrica, as bobinas enfileiradas ao longo da pista, chamada linha guia, criam campos magnéticos que repelem os grandes ímãs situados embaixo do trem, permitindo que ele flutue entre 1 cm e 10 cm sobre o trilho. Com o trem levitando, outras bobinas dentro das paredes da linha guia, são percorridas por correntes elétricas que, adequadamente invertidas, mudam a polaridade de magnetização das bobinas, ou seja, a energia é suprida pelas bobinas dentro das paredes do trilho para criar um sistema único de campos magnéticos que puxam e empurram o trem pelo trilho guia. A corrente elétrica fornecida às bobinas nas paredes do trilho guia é constantemente alternada para mudar a polaridade da bobina magnetizada. Esta mudança na polaridade leva o campo magnético na parte frontal do trem a puxar o veículo para frente, enquanto o campo magnético atrás do trem adiciona mais um empurrão para frente. Estas agem nos grandes ímãs, impulsionando o trem, que se desloca num colchão de ar, eliminando os atritos de rolamento e de escorregamento. Na ausência de atritos e o perfil aerodinâmico do trem, permitem que este atinja velocidades da ordem de 500 km/h ou 2 vezes tão rápido quanto o trem mais rápido de transporte da Amtrak. Em comparação, um avião comercial Boeing-777 usado para vôos a longa distância pode atingir a uma velocidade máxima de 905 km/h. Os desenvolvedores dizem que os trens maglev vão finalmente ligar as cidades que estão separadas em até 1.609 km. A 500 km/h, você podia viajar de Paris a Roma em pouco mais de 2 horas. Atualmente, a Alemanha e o Japão estão desenvolvendo a tecnologia de trem maglev e estão testando protótipos de seus trens. (A empresa alemã "Transrapid International" também tem um trem em uso comercial. Embora sejam baseados em conceitos semelhantes, os trens alemães e japoneses têm diferenças. Na Alemanha, os engenheiros desenvolveram um sistema de suspensão eletrodinâmica (SEM), chamado Transrapid. Neste sistema, a base do trem envolve um trilho guia de aço. Os eletroímãs colocados sob o trem estão polarizados 130 em direção ao trilho guia, que levita o trem em torno de 1 cm sobre os trilhos guia e mantêm o trem levitando mesmo quando não está em movimento. Outros ímãs guias embutidos no corpo do trem o mantêm estável durante a viagem. A Alemanha demonstrou que o trem maglev Transrapid pode atingir 480 km/h com pessoas a bordo. Foto cedida Licença de documentação livre GNU Um trem Transrapid em Emsland, instalação de teste na Alemanha Foto cedida pelo Instituto de Pesquisa Técnica de Ferrovias Acima é uma imagem do trilho guia na linha de teste do trem maglev Yamanashi no Japão. Veja abaixo uma ilustração que mostra como o trilho guia funciona. 131 Texto e ilustrações retirados do site: www.ciencia.hsw.uol.com.br QUESTÕES 1) Baseando-se na leitura do texto e nas ilustrações, responda com suas palavras como funciona no Trem Meglev. a) A levitação. b) O sistema de propulsão. c) O sistema de freios. 2) Como se obtém a alternância da polaridade de um eletroímã? País pode ter trem que levita sobre trilhos em dez anos O ministro da ciência e tecnologia, Ronaldo Sardenberg, acredita que o país terá desenvolvido em dez anos a tecnologia do trem por levitação magnética (TLM), que permitiria percorrer o trajeto Rio – São Paulo em 50 min, com velocidade de 500 km/h. O ministro visitou ontém a mostra Levita Rio, em que foi apresentado o protótipo de um trilho de 7 metros de comprimento, desenvolvido pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). ‘Esse é um projeto realista, que não se conclui da noite para o dia’, disse o ministro. ‘É bom lembrar que a tecnologia da informação era uma tecnologia cara e barateou, o que deve ocorrer também com a levitação magnética’. 132 Por alguns minutos, Sardenberg, que pesa 85 quilos, levitou sobre um disco de metal fabricado na Alemanha. ‘Não há ponto de apoio entre o disco e a base’, disse o ministro. ‘É como se você levitasse em um tapete voador tecnológico’. De acordo com o físico da UFRJ, professor Roberto Nicolsky, que há três anos estuda o TLM, pela ausência de atrito com o trilho, o trem elétrico por levitação é mais rápido que uma composição convencional e economiza energia. ‘Esse sistema seria eficaz para evitar o congestionamento da ponte área Rio – São Paulo’, diz o físico. Nicolsky calcula que em dois anos estará desenvolvido um trilho circular de 30 metros, mas o protótipo terá um tamanho reduzido. Na opinião dele, só a partir de 2004 os pesquisadores terão condições de testar o sistema com trens de tamanho real. Até agora, o projeto consumiu R$ 100 mil. Ainda não há estimativa da quantia necessária para concluir o trabalho. [...] Apenas sete países estudam a tecnologia de trens por levitação magnética. Japão e Alemanha já têm protótipos em tamanho real. Clarissa Tomé, Caderno Cidades, O Estado de S. Paulo, 10 de junho de 2000. Na discussão das questões, o professor deve manter uma posição de mediador ou norteador dessas discussões, pois, se assim for, ele estará contribuindo para a criação de subsunçores estáveis e firmes ou contribuindo para a transformação de idéias instáveis e voláteis, em idéias mais estáveis. O professor deve estar atento a um segundo princípio muito importante da organização do conteúdo preconizado na teoria ausubeliana: a reconciliação interativa. Como os alunos possuem um arcabouço de idéias e conceitos já fundados em sua estrutura cognitiva, herança de estudos passados, é de extrema importância que o professor ressalte as semelhanças e diferenças entre os conceitos aparentemente conflitantes. Em nosso caso, por ocasião da leitura e discussão dos textos, a todo instante os discentes tentavam explicar questões do Magnetismo utilizando-se dos conceitos elétricos. Muitos alunos já haviam estudado conceitos de Eletrostática, como por exemplo, a existência de monopolos elétricos, caso a reconciliação interativa não tivesse sido 133 oportunamente feita, eles poderiam acreditar que poderia existir, também, monopolos magnéticos. No terceiro momento da aplicação da metodologia o professor deve realizar as oficinas. O objetivo dessa atividade ainda é de despertar na estrutura cognitiva dos alunos as idéias esteios relevantes e motivá-los ao estudo precedente. O tema das oficinas deve constituir um prolongamento dos textos, os assuntos precisam estar concatenados e alinhados, além de potencialmente significativos. A escolha dos temas das oficinas deve obedecer a um critério que leve em conta a proximidade do assunto com o cotidiano do aluno, ou seja, o professor deve buscar textos que tratem de tecnologia de interesse dos mesmos, cuja leitura seja agradável e inteligível. Da mesma forma que os textos, os temas das oficinas devem contemplar o princípio da diferenciação progressiva, onde devem tratar de conceitos gerais, nunca entrando em conceitos mais específicos do tema. As discussões que ocorrerem durante as oficinas e em virtude das questões que são propostas, o professor deve estar atento à reconciliação interativa ressaltando as diferenças e semelhanças entre conceitos aparentemente iguais. As oficinas propiciam um momento onde os alunos colocam a “mão na massa”, construindo os protótipos sugeridos. Para isso, o professor deve elaborar um roteiro claro e preciso sobre a montagem dos equipamentos e, conectar a atividade de montagem com o assunto tratado nos textos. Sugerimos a elaboração de questões a respeito do tema da oficina, a fim de nortear o estudo. Como exemplificação disso que estamos propondo, colocamos abaixo um dos roteiros que utilizamos para a montagem da oficina, intitulada Levitação Magnética. LEVITAÇÃO MAGNÉTICA Apresentação: Manter um corpo suspenso no ar, sem qualquer apoio aparente, como que desafiando a lei da gravidade, é reconhecido como fenômeno de levitação. Muitos mágicos fazem isso, mantendo escondido o necessário “apoio”. Sem esse apoio, visível ou não, um corpo material não poderá levitar. Esse “apoio”, necessariamente, deverá aplicar no corpo 134 suspenso uma força, vertical para cima, suficientemente intensa para equilibrar o peso do corpo. Em se tratando de corpo extenso a estabilidade de equilíbrio também deve se analisada. Um exemplo simples de levitação, com apoio quase invisível, é manter uma bolinha de aço suspensa por uma fina linha de pesca. A força aplicada pela linha sobre a esfera equilibra o peso da esfera. A resultante das forças externas sobre ela (peso e tração) é nula. Se a esfera está em repouso, permanecerá em repouso; se está em movimento, manterá sua velocidade vetorial constante (Primeira Lei de Newton). Levitação dessa espécie não são atrativas, a menos que o corpo suspenso seja o de uma mulher e o mágico passe um aro envolvendo o corpo (para “mostrar” que não há fios). Ai passa a ser um bom truque circense (cujo segredo o mágico não irá contar). Não confunda mágico com místico, não confunda uma arte valorosa desses abnegados profissionais, com os enganadores da ingenuidade popular. As forças de apoio sobre o corpo suspenso, equilibrando seu peso, só podem pertencer a duas categorias: 3) Ou são de contato (como é o caso do fio sobre a esfera, o caso do ar sobre um balão – empuxo de Arquimedes -, o caso do ar sobre as pás em movimento do rotor do helicóptero etc). 4) Ou provenientes da ação de campos sobre alguma grandeza associada ao corpo suspenso. São exemplos simples dessa segunda categoria os imãs suspensos sob a ação de outros imãs (campo magnético criado por um agindo sobre a massa ferromagnética do outro, e vice-versa), gotículas eletrizadas mergulhada em um campo magnético (experiência de Milikan – o campo elétrico uniforme gerado entre duas placas eletrizadas age sobre as cargas elétricas das gotículas mantendo-as em levitação) etc. Algumas situações de levitação, para espectadores ainda em fase de sua educação científica, podem parecer realmente misteriosas pelo fato de não “enxergarem” de onde vem a força equilibrante para o corpo suspenso. O perigo nessa fase é “descambar” para o misticismo enganador ou para explicações dadas por pseudo-ciências. [...]. 135 Material: • Disco de alumínio com espessura cerca de 2 mm e diâmetro de 25 a 30 cm, conseguimos em um ferro velho de desmanche de ônibus. Utilizamos exatamente o assoalho do ônibus que é de alumínio que depois de torneada obtivemos o disco. Uma segunda opção seria uma forma alumínio usada para assar de pizza; • Um motor elétrico universal de baixa potência (1/8 HP), motor de um”tanquinho de lavar roupas”; • Uma caixa de madeira com dimensões 30×30×30 cm, para abrigar o motor; • Uma vareta de guarda-chuva; • Um imã prismático pequeno (retirado da porta de um armário)*; • Um contra-peso; • Suporte e cola; • Opcional: um controle eletrônico de velocidade de rotação do motor cujo circuito eletrônico, bem como a relação de peças estão representados abaixo. * Optamos, também, por utilizar dois imãs de magnetron de microondas. Montagem: e) Fixe o motor dentro da caixa de madeira. Cuide para que o eixo do motor, assim fixado, fique rigorosamente na vertical. Esse motor poderá ser acionado diretamente pela rede elétrica domiciliar 110 V ou 220 V, dependendo da região geográfica, no caso de motores AC ou alimentados por pilhas e baterias, no caso de motores CC (em geral disponíveis para as tensões de 3,0 V, 6,0 V, 9,0 V ou 12 V). Um motor de indução retirado de um ventilador* já posto fora de ação servirá perfeitamente. Motores universais (com escovas) para 110 V ou 220 V, com potência de 1/8 e 1/4 de HP, estão disponíveis no comércio e são os indicados para trabalhos em laboratórios, principalmente se dotados de reguladores eletrônicos de velocidade (sem perda de torque). [...]; * Optamos por usar um motor de um tanquinho de lavar roupas. 136 f) Fixe o disco, pelo orifício em seu centro, ao eixo do motor. Parafuso de “cabeça chata” dá excelente fixação e não fica saliente no plano do disco. Cuide para que o disco fique balanceado para que não ocorram vibrações indesejáveis. Outra observação diz respeito ao furo que deverá ser feito no eixo do motor para a fixação do disco. A rosca deverá ser esquerda (sentido antihorário), caso contrário, o disco sairá devido a sua inércia à rotação, o eixo do motor gira mais rapidamente que o disco, bambeando-o. Ou enrolar novamente o enrolamento de partida do motor, disponibilizando seis fios, dessa forma pode-se inverter a rotação, trocando os fios números 5 e 6. Comumente esses motores não dão a opção de inversão de rotação. g) Utilize pequeno imã de alnico (alumínio – níquel – cobalto)* proveniente de um alto falante ou microfone dinâmico já fora de uso ou, ainda um imã prismático retirado da porta de um armário, colando-o na extremidade de um dos braços de uma “balança” (feita com uma vareta de guarda-chuva). O contra-peso CP deve ser tal que possa ser deslocado ao longo do outro braço da balança, permitindo obter equilíbrio do imã. O equilíbrio perfeito não é necessário e é até bom que a vareta fique ligeiramente inclinada, com o imã abaixo do nível do CP. A vareta de guardachuva já trás consigo a “dobradiça” bem sensível que faz o papel de “fulcro” nessa balança. Outras montagens podem ser pensadas. Essa é uma sugestão. * Utilizamos imãs retirados de portas de armários de cozinha, são leves e geram um bom campo magnético. 137 Na figura abaixo está outra sugestão para outro efeito de levitação. Levitação em relação ao plano do disco Material: • 40 cm de cano PVC de cola (cano marrom) para água fria de ½”; • Uma conexão tipo “T”para ½”; • Dois tampões de ½”; • Dois imãs de magnetron; • Dois suportes de madeira aparafusados lateralmente à caixa que guarda o motor. Procedimentos: • Serre o cano a 3 cm de uma das extremidades; • Cole a conexão “T” nessa extremidade; • Cole os tampões nas extremidades do cano para dar um acabamento. 138 37 cm 2,1 cm 3 cm 2,0 cm 5,7 cm Esse conjunto é parafusado acima do disco de alumínio. Colocamos também uma placa de acrílico entre o disco e os imãs para se evitar qualquer interferência do deslocamento de ar sobre o experimento. h) Coloque o imã sobre o disco de alumínio, a cerca de 3 cm da borda, como se ilustra. 139 Procedimento: Ligue o motor. Com o progressivo aumento da rotação, o imã, que até então ficava raspando sobre o disco, começara a levitar. Com boa velocidade de rotação o imã se manterá suspenso cerca de 5 ou 6 cm acima do disco. Com o dedo, tente (suavemente) apertar o imã contra o disco. Note a força que você terá que exercer para conseguir isso! Texto adaptado e retirado do site: www.feiradeciencias.com.br prof. Luiz Ferraz Netto. 140 Outra sugestão de levitação segue nas fotos abaixo: Questões: 5) De onde vem a força que afasta o imã do disco de alumínio (que poderia também ser de latão, bronze, cobre etc.)? 6) O alumínio não é material ferromagnético – não se torna imã, por indução, na presença de outro imã. Será que a rotação faz o alumínio tornar-se um “repelente” de campos magnéticos? 141 7) Qual seria a lei relacionada com esse fenômeno? 8) Explique, com suas palavras, o fenômeno observado. As oficinas foram impactantes no sentido da motivação e da surpresa, por parte dos discentes, ao verem um fenômeno físico sendo reproduzido por eles mesmos. Durante a fase de discussão dos textos, víamos uma inquietação dos alunos para a chegada da fase das oficinas, isso os motivou ainda mais no estudo. Podemos citar outro impacto causado pelas oficinas, quando da construção dos equipamentos. Os alunos precisam reunir suas competências e habilidades adquiridas durante sua vida (estudantil e/ou extra-classe), para montar e fazer funcionar os equipamentos e, além disso, responder às questões que são propostas. Durante a realização das oficinas, sugerimos que o professor mantenha os elementos do grupo, mas que se faça um rodízio das oficinas de maneira que todos os alunos tenham a oportunidade de fazer todas as montagens. Fizemos dessa forma, um esforço para alcançar, nessa sequência, o que Ausubel chama de reconciliação interativa. A utilização de diagramas ou “mapas conceituais” hierarquizando e relacionando conceitos é também um esforço no sentido de promover a diferenciação progressiva e a reconciliação interativa. Esses “mapas conceituais” são utilizados na fase final da aplicação da metodologia. Ao término das oficinas, sugerimos a apresentação do mapa conceitual elaborado pelo professor ou qualquer outro mapa que tenha um compromisso com a completeza e clareza dos conceitos. Do ponto de vista instrucional, um mapa conceitual deve: • Enfatizar a estrutura conceitual de uma disciplina e o papel dos sistemas conceituais no seu desenvolvimento; • Mostrar que os conceitos de uma certa disciplina diferem quanto ao grau de inclusividade e generalidade, e apresentar esses conceitos numa ordem hierárquica de inclusividade que facilite a aprendizagem; • Prover uma visão integrada do assunto e uma espécie de “listagem” daquilo que foi abordado nos materiais instrucionais. 142 Os mapas não devem: • Ser complexos e confusos, dificultando a aprendizagem ao invés de facilitá-las. Caso isso ocorra o aluno pode encará-lo apenas como algo a mais a ser decorado. • Inibir os discentes de elaborar suas próprias hierarquias, pelo fato de terem recebidos prontos. A seguir apresentamos um mapa conceitual, como exemplo, da disciplina de Eletromagnetismo. FORÇA atuando CARGA ELÉTRICA em movimento (fonte) CAMPO ELÉTRICO FORÇA ELÉTRICA LEI DE COULOMB mensurar experiência de Oersted CAMPO MAGNÉTICO fonte regra da mão direita IMÃ VETOR E CORRENTE ELÉTRICA FORÇA MAGNÉTICA representação representação LINHAS DE FORÇA LINHAS DE CAMPO ÁREA FEM INDUZIDA MOTORES VETOR B GERADORES LEI DE FARADAY HIDRELÉTRICAS Variando FLUXO MAGNÉTICO TERMOELÉTRICAS 143 Os homens se comunicam com seu ambiente social por meio de símbolos visuais e verbais, e no entanto um grande percentual da transmissão de informações acontece através da codificação verbal, seja escrita ou oral. A teoria da codificação dual de Allan Paivio (MAYER R., 2003), estabelece que a transmissão das informações é maximizada quando são utilizados ambos os canais verbal e auditivo. Uma determinada idéia ou conceito pode ser percebida através de diversas nuances que definem suas características. O canal visual pode se mais eficiente para transmitir certas nuances, ao passo que o verbal pode ser mais adequado para transmitir outras nuances. Essa teoria valida a utilização dos mapas conceituais para potencializar a aprendizagem significativa, pois, os mesmos apresentam a um só momento uma informação visual estática e uma informação verbal. Os conceitos são apresentados através de uma hierarquia onde fica clara a visualização da posição relativa de cada conceito dentro do elenco de conceitos que estabelece o tema que está sendo analisado e mapeado. É importante frisar novamente que durante o estudo dos textos e da realização das oficinas, o professor deve se portar como um mediador das discussões, fazendo suas interferências verbais no sentido de guiar os alunos para o objetivo que se deseja alcançar: aquisição dos subsunçores relevantes para o entendimento de conceitos do Magnetismo e do Eletromagnetismo. O professor, ao montar sua estratégia de aprendizagem, deve levar em conta: • O conjunto articulado de conceitos da unidade a ser ensinada; • A definição dos conceitos e princípios que, já conhecidos pelos alunos, constituem os pontos de apoio para o novo material a ser aprendido. Sugerimos que o professor elabore um pré-questionário com questões pertinentes ao assunto a ser ensinado. Esses procedimentos são necessários, pois, a aprendizagem significativa lida com os conceitos referentes a um corpo de conhecimento e não somente com procedimentos formais e, além disso, ela não pode ocorrer num vácuo cognitivo. Sugerimos a montagem de uma situação de aprendizagem com um bimestre de duração, até que o professor passe a dominar a estratégia de elaborar suas aulas baseadas no principio da aprendizagem significativa de Ausubel. 144 Os recursos facilitadores utilizados na estratégia, nesta situação de aprendizagem, foram: • Escolha e exposição dos textos de modo que a sequência da apresentação dos conceitos seja em ordem de maior para a menor inclusividade, obedecendo um dos princípios de organização do conteúdo de Ausubel: a diferenciação progressiva. • Organizadores prévios apresentados no início das subunidades, que seguiam os princípios de “diferenciação progressiva” e “reconciliação interativa”. • Os textos e as oficinas escolhidas devem ser potencialmente significativos para os alunos, bem como sua forma de organização, visando propiciar condições de subsunção. Esta sistematização restringiu-se à organização conceitual do assunto e sua forma de apresentação ao aluno. Sua finalidade foi levar em consideração dados referentes à montagem “substantiva” e “programática” para a facilitação de aprendizagem. Sugerimos que o professor coloque em seu plano de curso o equivalente a 5 (cinco) aulas para que possa implementar essa metodologia, que deve ser aplicada anteriormente ao conteúdo propriamente dito em períodos normais de aulas. À primeira vista, pode se ter a impressão de que vai “tomar tempo”, mas o ganho dos alunos na aquisição dos ideias esteios será compensado quando a matéria for ministrada, o rendimento no entendimento será potencializado pela internalização dessas ideias. Esse número de aulas é compatível com a leitura de dois textos diferentes e a realização de duas oficinas. Acreditamos que seja um número razoável para os textos e as oficinas. Depois de toda essa dinâmica na qual o aluno se mostrou protagonista de seu processo de aprendizagem, acreditamos que ideias âncoras se estabeleçam em sua estrutura cognitiva ou que outros subsunçores sejam criados, servindo de ancoradouro das novas ideias que serão apresentadas a eles no decurso normal de seu curso. Devemos admitir que a escolha dos organizadores prévios não é uma tarefa trivial devido a heterogeneidade que acontece entre os alunos na maioria das salas de aula. Acreditamos que se o professor optar pelo emprego dos organizadores prévios (textos e oficinas) como suscitadores de idéias esteios e consequentemente facilitar a aprendizagem significativa, deve ter em mente três pilares. 145 Os organizadores prévios necessitam ser: • Potencialmente significativos para seus alunos; • Fazer referência às suas idéias esteios (levantadas a priori com os pré-questionários); • Possuir uma linguagem próxima à linguagem do aluno. Essa metodologia foi aplicada no segundo semestre de 2009 com os alunos de uma escola pública, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas campus de Machado. Percebemos que com essa metodologia o ganho cognitivo da maioria dos alunos foi grande. Essa conclusão foi baseada na análise das respostas do pré-questionário em confronto com as respostas do pós-questionário (mesmas perguntas do pré-questionário), ao fazermos essa confrontação observamos que a maioria dos alunos ou modificaram alguma de suas idéias âncoras ou acabaram de internalizar outras idéias mais estáveis. O impacto da metodologia sobre o rendimento nas avaliações dos alunos não foi mensurado, mas acreditamos que os alunos devam apresentar alguma melhora em suas notas, uma vez que ele aprendeu significativamente o assunto, ou em outras palavras, aquela nova idéia se relacionou de forma substantiva e não arbitrária com a idéia mais geral (idéia âncora) internalizada por ocasião da aplicação da metodologia. Advogamos que no momento que os discentes forem aprender o conteúdo de Eletromagnetismo, eles terão um diferencial sobre os demais, pois já terão fundadas em sua estrutura cognitiva as idéias âncoras relevantes para a aprendizagem significativa daquele assunto. Como modelo de pré-questionário, colocamos aquele utilizado em nossa pesquisa. PRÉ-QUESTIONÁRIO 1) Desenhe um átomo. 2) Existem partículas em movimento no átomo? Quais são elas? Como é esse movimento? Qual é o grau de organização desse movimento? 146 3) Se sua resposta foi movimento desorganizado, responda a questão abaixo: se fosse possível organizar o movimento dos elétrons dentro de um fio condutor, o que obteríamos? 4) O que são imãs? Cite situações em que os imãs aparecem em seu dia-a-dia. 5) Cite fontes algumas “magnéticas”. 6) Como você magnetizaria uma agulha? 7) Como são denominadas as regiões dos imãs? 8) Ao partir ao meio um imã em forma de barra, o que acontece com cada uma de suas partes? 9) Imagine-se segurando dois imãs com as mãos e com os braços afastados, descreva o que ocorre quanto eles são aproximados, e quando são separados. 10) O que você entende por campo magnético? 147 11) Quando ligamos um liquidificador ou qualquer outro equipamento eletrodoméstico perto de um rádio que está funcionando, notamos zumbidos emitidos pelo mesmo. Qual é a causa desse ruído? 12) Para que serve uma bússola? Como funciona? Como poderíamos utilizar bússolas para detectar o campo magnético de uma região? 13) Complete: “Imãs com _______ opostos se __________, e de mesmo ________, se ____________”. 14) Digamos que você necessite furar a parede da cozinha de sua casa com uma furadeira mas, existe um fio elétrico embutido que precisa ser descoberto. Neste fio está ligado à furadeira elétrica. Como você descobriria o fio sem quebrar a parede? 15) Nos equipamentos eletrodomésticos não existem imãs mas, o funcionamento desses equipamentos depende da existência de um campo magnético. O que gera o campo magnético nesse caso? 16) Em que situação dois imãs se repelem? E quando eles se atraem? 17) Complete: Suponha que você esteja segurando dois imãs que estão se atraindo mutuamente, para separá-los, precisa exercer (fazer) uma_____________ maior que a ______________ magnética dos imãs. Logo os imãs exercem uma__________ magnética em objetos próximos. 148 18) Um elétron com certa velocidade entra numa região que existe um campo magnético. Notamos que essa carga elétrica sofre um desvio em sua trajetória. Qual a grandeza física que provoca a mudança de sua trajetória? Resumindo, podemos dizer que o conteúdo foi organizado procurando facilitar a aprendizagem significativa através da utilização de materiais potencialmente significativos (isto é, relacionáveis à estrutura cognitiva do aluno) que explicitamente tentam promover a diferenciação progressiva e a reconciliação interativa. 149 ANEXO A – Textos Texto 1 Histórico Descoberta do magnetismo Da mesma forma que os fenômenos elétricos resultantes da atração do âmbar, a atração magnética exercida pela magnetita sobre o ferro foi explicada pela primeira vez no século VI a.C por Talles de Mileto. Como o âmbar, a magnetita também teria uma espécie de alma- podia comunicar sua vida ao ferro inerte, que, por sua vez, também adquiria um poder de atração. Durante os séculos que se seguiram as explicações foram semelhantes. O magnetismo se devia a eflúvios, algo semelhante a um perfume que emanaria do ferro e da magnetita, faz com que eles se atraíssem. A própria palavra imã surgiria mais tarde do termo francês ‘aimant’, que, sugestivamente, significa ‘amante’. Provavelmente os chineses conheciam o magnetismo há mais tempo que os gregos. E, certamente, foram os primeiros a descobrir aplicações para esse fenômeno. No início da era cristã, adivinhos chineses já utilizavam a ‘colher que aponta para o sul’. Era uma colher de magnetita, que, colocada em equilíbrio sobre um pino podia girar livremente na horizontal. Em qualquer situação, ela sempre apontava o seu cabo para o sul. No século VI, os chineses já tinham tecnologia suficientemente avançada para a fabricação de imãs. Usavam dois processos diferentes. Um muito simples e ainda hoje comum: esfregar um imã numa agulha de ferro ou aço faz com que ela se torne também um imã. Em outro processo, mais elaborado e hoje em dia em desuso, colocavam agulhas ou pedaços de ferro incandescentes na direção norte-sul do campo magnético terrestre. Ao esfriarem, esses corpos tornavam-se também imãs. Com essas agulhas imantadas, eles construíam as suas bússolas. No início, essas bússolas serviam apenas para fazer mágicas ou para orientar a posição em que um edifício devia ser construído. Só a partir dos séculos X ou XI é que os chineses começaram a utilizá-la para a navegação. Só no século XIII começaram a surgir observações mais acuradas sobre o magnetismo e a eletricidade. A primeira e mais importante na época foi compreensão de que eram fenômenos de natureza diferente, o que prevaleceu até o século XIX. 150 Embora atrasados em relação aos chineses na utilização da bússola para a navegação, foram os europeus que realizaram o primeiro estudo experimental do magnetismo de natureza científica. Em 1269, Pierre de Maricourt, engenheiro militar francês, numa carta a um amigo, descreve a maioria das suas experiências elementares sobre magnetismo, que aparecem até hoje nos livros escolares de ciências. Foi ele quem denominou ‘pólo norte e pólo sul’ as extremidades de um imã, baseando-se na orientação natural da bússola. Observou, ainda, que a agulha da bússola não apontava exatamente para o norte geográfico da Terra. Maricourt fez outras descobertas importantes: • Se aproximarmos dois imãs pelos seus pólos de mesmo nome, eles se repelem; • Se os aproximarmos pelos pólos opostos, eles se atraem; • Um imã partido mantém a polaridade do imã original; • Cada divisão de um imã dá origem a outros imãs. Só em 1600, mais de três séculos depois, o trabalho experimental de Maricourt foi retomado por Gilbert, que procurou refazer essas experiências e revisar as explicações de outros autores. Gilbert reuniu suas conclusões no livro ‘De Magnete’, um dos primeiros clássicos da literatura científica. Descobriu a imantação por indução – quando um pedaço de ferro, colocado perto de um imã, também se imanta, mesmo sem encostar um no outro. Foi o primeiro a sugerir que a Terra seria um grande imã. Para ilustrar sua idéia, construiu um imã em forma de esfera, denominado de ‘Terrella’, que simulava a ação magnética da Terra. Colocando pequenas bússolas sobre essa esfera demonstrou e explicou a propriedade da bússola de apontar sempre para o norte geográfico. P F C G L O M A B N H Terrela de Gilbert- as setas são bússolas que simulam a ação do campo magnético terrestre. 151 Depois da publicação do ‘De Magnete’, pouco foi acrescentado ao estudo do magnetismo, até o início do século XIX. Havia indícios de que, mesmo vistos como fenômenos diferentes, a eletricidade e o magnetismo se relacionavam de alguma forma. A descoberta dessa relação, porém só veio a ocorrer depois do aparecimento da pilha de Volta, que oferecia uma fonte mais duradoura de eletricidade, permitindo o aprofundamento do seu estudo. A eletricidade, em si, esteve desde os primórdios da vida humana. Os nossos primeiros ancestrais já conviviam, de uma forma indireta, com alguns efeitos da eletricidade, até mesmo o fogo teve sua origem da descarga atmosférica, que é um fenômeno elétrico. Um imã atrai pequenos pedaços de metal, de maneira semelhante ao âmbar, que ao ser atritado, atraia objetos pequenos. Nessa altura da conversa, você já deve ter notado que deve ter alguma coisa em comum entre o âmbar e o imã (electron e magnetita). Essas duas ciências nasceram praticamente juntas, e não evoluíram muito após suas descobertas. Na época existia um vácuo muito grande entre a descoberta dos rudimentos destas ciências e a compreensão e utilização das mesmas. Hoje em dia são inúmeras as aplicações do magnetismo presentes em nossas vidas, contribuindo sobremaneira para a nossa qualidade de vida. Texto adaptado do livro: Física, Eletromagnetismo e Física Moderna. Alberto Gaspar, p.182. QUESTÕES 1) Suponha que você esteja perdido numa floresta num dia nublado e sem Sol, dispondo apenas de seu kit de primeiros socorros contendo, ataduras, algodão, álcool, agulha para sutura, tesoura e analgésico. Como você poderia se orientar parcialmente nesta floresta? 2) Comente os dois processos de magnetização citados no texto. Todos os materiais podem ser magnetizados? Justifique. 152 Texto 2 Histórias e lendas sobre o magnetismo As primeiras descobertas ocorreram na Grécia, mais exatamente na cidade de Magnésia. Contam que um pastor chamado Magnes caminhando nos seus campos observou que, em certo lugar, a ponta de ferro de seu cajado era atraída por algo no chão. Cavando neste lugar, Magnes descobriu uma pedra preta que atraía fortemente o ferro. A pedra era constituída de uma espécie de minério de ferro hoje chamada de magnetita ou pedra-imã. Região onde provavelmente Magnes encontrou a magnetita QUESTÕES 1) Faça uma pesquisa sobre a atividade vulcânica na região onde Magnes encontrou a magnetita. Qual a relação entre o magnetismo desse mineral (a magnetita) com a região na qual foi descoberto? 2) Com base em sua pesquisa, tente explicar o magnetismo terrestre. Lendas e histórias sempre povoaram o magnetismo, de seu surgimento até os dias atuais. Conta-se que existia uma enorme montanha preta (provavelmente rica em magnetita) 153 perto de uma praia na Grécia antiga, e que os navios que passavam na sua orla afundavam, pois tinham seus pregos e demais ferros da embarcação arrancados pela imensa força de atração exercida pela montanha. Há literatura que menciona que o pastor Magnes quando caminhava pelos campos da Magnésia teve os pregos dos seus sapatos arrancados ao percorrer um caminho rico em pedras de magnetita. Foram atribuídos ao imã poderes de cura, médicos prescreviam passar imã na região do corpo afetada pelo reumatismo, costumava-se colocar ‘farelo’ de imã nas formulações dos remédios. Hoje em dia é comum encontrar colchões para dormir cravejados de pequenos imãs, e até em filtros para água podemos encontrar a magnetita. Nossas avós nos receitavam colocar a tesoura de costura debaixo do colchão para aliviar as dores nas costas, confiando no magnetismo que a tesoura, porventura, pudesse ter. Devemos respeitar a sabedoria popular e tentar encontrar uma justificativa científica para cada fenômeno. Gabriel Garcia Marques em seu livro: - Cem Anos de Solidão, relaciona em sua obra a história do magnetismo com o misticismo popular, ao contar as proezas de um cigano que despertava medo e curiosidade nas pessoas, quando o mesmo ao caminhar com duas barras grandes de ferro, simulando dois cajados, ia atraindo as panelas, parafusos, pregos, etc, das casas e das ruas que atravessava. Ao andar pelas ruas ia dizendo: ‘ As coisas têm vida própria, tudo é questão de despertar sua alma’. Extratos retirados do texto: Terapia Magnética. Livro: Física Conceitual Paul G. Hewitt, p. 412. QUESTÃO 1) Comente as relações lendárias que existiam em torno do magnetismo e os naufrágios das embarcações. Você considera que a intensidade da força magnética de uma montanha de magnetita seria capaz de arrancar os pregos? Qual deveria ser a distância entre a embarcação e a montanha, para que isso acontecesse? 154 Texto 3 Imãs naturais: fósseis magnéticos Os imãs naturais adquiriram sua magnetização por resfriamento de rochas de materiais ferromagnéticos, como a magnetita, sob a ação do campo magnético terrestre. Como o ponto Curie da magnetita é de 585 0C, as pedras de magnetita tornavam-se ferromagnéticas1 à medida que atingiam temperaturas mais baixas que 5850C. Estando sob a ação do campo magnético terrestre, essas pedras se magnetizaram no sentido do campo magnético da Terra, no local onde elas se encontravam. Esse fenômeno ocorreu naturalmente milhões de vezes durante milhões de anos. Dessa forma é possível ter o registro da direção do campo magnético na época em que um imã natural se formou. Todo imã natural é, portanto, um “fóssil magnético”. Fenômeno semelhante ocorreu com a argila que revestia os fornos utilizados por nossos antepassados. Essa argila freqüentemente contém fragmentos de minérios de ferro, como a magnetita e a hematita, que guardam a direção do campo magnético terrestre da ultima vez que foram resfriados. A ocasião em que isso ocorreu pode ser determinada por processos físicos, como a datação radioativa. Extraído do livro: Física, Eletromagnetismo e Física Moderna, Alberto Gaspar, vol. 3, p. 185. QUESTÃO 1) O que ocorreria com a magnetita se sua temperatura ultrapasse 585 0C? 1 São materiais que são fortemente atraídos pelos imãs como, por exemplo, o ferro, níquel, cobalto e inúmeras ligas que os contém. 155 Texto 4 O imã desentope artérias. E muito mais... Pesquisadores brasileiros descobrem surpreendentes efeitos do magnetismo Mini-glossário • Materiais ferromagnéticos: são os corpos que são atraídos por imã feito de ferro, níquel e cobalto e inúmeras ligas que os contém. • Materiais paramagnéticos: corpos que são atraídos fracamente pelos imãs, como paládio, platina, sódio, potássio, alumínio e algumas ligas de ferro. • Materiais diamagnéticos: são repelidos pelos imãs, qualquer que seja o pólo pelo o qual são aproximados, como a prata e o bismuto. • Unidade de campo magnético no SI- Tesla (T). Parece bruxaria. Mas descobriu-se que os imãs atuam sobre substâncias que, aparentemente, nada possuem de magnéticas. O fenômeno ainda não tem explicação, e desafia a visão convencional da ciência, recolocando em debate o próprio conceito de magnetismo. Por outro lado, as perspectivas de aplicação tecnológica são simplesmente espetaculares. Com o emprego de imãs seria possível impedir, por exemplo, a formação de incrustações de carbonato de cálcio em tubulações de água, evitar o entupimento de canos de extração de petróleo causado por parafinas e, até mesmo, prevenir doenças como a arteriosclerose, provocada pela deposição de colesterol nas artérias. Pode-se acelerar o processo de fermentação alcoólica, protagonizado por certas bactérias. É que tanto o carbonato de cálcio quanto as parafinas, o colesterol e as de bactérias são misteriosamente afetados pela ação do campo magnético. Uma equipe de pesquisadores brasileiros está na vanguarda das investigações sobre o assunto. Ela é ligada ao IPT, Instituto de Pesquisas Tecnológicas, de São Paulo, que comemora um século de existência [...]. O time, formado pelos engenheiros Marco Giulietti, Fernando Landgraf, Marcelo Seckler e Alexandre Freitas e pelo químico João Poço, acaba de realizar um experimento no qual o fenômeno não apenas foi confirmado, como também rigorosamente medido. Essa abordagem quantitativa – a grande contribuição dos brasileiros 156 – é indispensável para que se chegue a uma explicação científica e a uma aplicação controlada do fenômeno, que, até agora, vinha sendo tratado de maneira vaga e genérica pelos especialistas. Para realizar seu experimento, os pesquisadores brasileiros tiveram que se armar de uma boa dose de coragem e ousadia. Pois o tema não era considerado sério pela comunidade científica. Fora do bem comportado território da ciência, porém, esses inesperados efeitos magnéticos são reconhecidos há muito tempo. Há várias décadas, está disponível no mercado um sem-número de produtos magnéticos – pulseiras, emplastos, chinelos, coletes, colchões – que prometem curar desde a simples fadiga e a trivial dor nas costas até problemas bem mais sérios, como enxaqueca e arteriosclerose. Grande é o uso de imãs em processos terapêuticos, como na acupuntura chinesa. Como não existe explicação física para o suposto efeito do magnetismo sobre a saúde, a ciência oficial sempre torceu o nariz diante dessa montoeira de objetos imantados, que cheiravam a charlatanismo. Pelo mesmo motivo, nunca levou em consideração os relatos sobre a influência positiva dos imãs na produção de leite das vacas ou no crescimento das plantas. Aos olhos dos pesquisadores acadêmicos, tudo não passava de superstições ingênuas, há muito varridas do domínio do conhecimento racional. Por isso, foi um choque quando – num congresso internacional sobre magnetismo, realizado em Birmingham, na Grã-Bretanha, em 1994 – a engenheira de materiais eslovena Spomenka Kobe apresentou um trabalho sobre o efeito do campo magnético numa solução de carbonato de cálcio [CaCO3]. Segundo a pesquisadora, o campo magnético afetava a estrutura cristalina da substância, um sal presente na água consumida em varias regiões do planeta. Essa hipótese explica por que o uso de imãs evita que o carbonato de cálcio se deposite nas tubulações das caldeiras usadas para aquecer a água. Tais incrustações são um problema sério na Europa, onde a água é fortemente carbonatada e, no rigoroso inverno, a maioria dos imóveis utiliza um sistema de aquecimento baseado em serpentinas de água quente. O engenheiro químico Marcelo Seckler, chefe do Agrupamento de processos Químicos do IPT e um dos membros da equipe de pesquisadores brasileiros, testou a hipótese na própria Europa. “Usei uma solução de fosfato tricálcico [Ca3(PO4)2], um sal semelhante ao carbonato de cálcio. E verifiquei que, na presença do campo magnético, a substância se aglomera no meio do líquido, produzindo um número menor de partículas, de tamanho maior”, informa Sekcler. Isso fazia com que, em vez de se depositarem nas paredes do 157 recipiente, formando incrustações, esses cristais mais graúdos fossem arrastados pelo fluxo normal da água. Enquanto Seckler contava partículas, o engenheiro metalurgista Fernando Landgraf, um especialista em magnetismo, trazia a idéia ao Brasil. “Fiquei muito impressionado com a apresentação de Spomenka e transmiti meu entusiasmo ao Marco Giulietti, na época diretores técnicos do IPT. Foi assim que nasceu a nossa equipe”, recorda Landgraf e Giulietti era o orientador da tese de doutoramento do engenheiro químico Alexandre Freitas. E a estratégia do grupo foi congregar toda a sua atividade em torno desse trabalho de pesquisa. “Resolvemos utilizar dois sais – o sulfato de cobre [CuSO4.5H2O] e o sulfato de zinco [ZnSO4.7H2O] – que reagem de maneira diferente ao campo magnético. E, empregando um imã 70 vezes mais forte do que usados nos adesivos comuns de geladeira, investigamos como ele afetava três propriedade dessas substâncias: sua solubilidade na água, o tamanho médio das partículas formadas durante a cristalização e a velocidade de crescimento dos cristais”, explica Giulietti. O sulfato de cobre pertence a uma classe de materiais conhecidos como “paramagnéticos”, que são muito fracamente atraídos pelo imã. O campo magnético não alterou nenhuma dessas propriedades. Já o sulfato de zinco faz parte da categoria dos materiais “diamagnéticos”, que são muito fracamente repelidos pelo imã. O carbonato de cálcio, a parafina e o colesterol participam do mesmo grupo. E, neste caso, o campo magnético produziu efeitos espetaculares. A solubilidade do sulfato de zinco diminui cerca de 8%. Isso significa que uma solução perfeitamente homogênea do material ficava saturada quando colocada entre as faces do imã. Iniciava-se, então, um processo de cristalização que produzia partículas de tamanho 50% maior do que o normal e que cresciam numa velocidade 40% mais intensa. Porém, a maior surpresa ainda estava por acontecer. Os pesquisadores verificaram que, depois de ser submetida ao campo magnético por um certo tempo, as propriedades da solução mantinham-se alteradas mesmo depois do imã ser retirado. O efeito perdurava por até quatro horas. “Era como se a solução guardasse uma memória do campo magnético”, comenta Landgraf. Qual a explicação para tão estranho fenômeno? Essa é a pergunta que desafia os pesquisadores. “A causa está provavelmente, na interação entre o campo magnético gerado pelo imã e os campos elétricos das partículas das substâncias envolvidas nos experimentos”, sugere Alexandre Freitas. Mas não se arrisca a ir além desse ponto. “Estamos claramente numa área de fronteira da ciência”, arremata Landgraf. 158 [...] o físico irlandês Michael Coey, um dos maiores especialistas em magnetismo, convidou a comunidade científica a encarar o desafio representado por esse tipo de fenômeno. “É hora de tirarmos o assunto das mãos dos bruxos”, disse. Essa conclamação é importante porque a história da ciência está cheia de casos de fenômenos relevantes que foram descartados pelo fato de não se amontoarem à visão de mundo majoritária. Porque não podiam ser facilmente explicados, esses fenômenos passaram a ser considerados como se não existissem. E viraram tabu. Os pesquisadores do IPT não se deixaram intimidar pelo preconceito. E o sucesso de seu experimento só os tornou ainda mais entusiasmados. Confirmado o efeito do imã sobre as substâncias “diamagnéticas”, eles se preparam agora para entrar no terreno promissor das aplicações tecnológicas. O químico João Poço tem feito testes para verificar o efeito do imã sobre o crescimento das plantas e com dispositivos magnéticos que aparentemente reduzem a poluição e o consumo em veículos automotores. Decidido a apostar suas fichas numa jogada de êxito garantido, o grupo oscila entre concentrar esforços no desenvolvimento de uma técnica magnética de purificação da água ou em um método de controle do colesterol. “o sangue é diamagnético nas veias e paramagnético nas artérias. Um superimã instalado dentro de uma veia poderia impedir a sedimentação do colesterol”, anima-se Giuliett. E declara-se pronto a estabelecer parcerias. Por JOSÉ TADEU ARANTES E-mail:[email protected] Extraído da revistaGalileu, Globo, julho/99, ano 8, n.96. QUESTÕES 1) Existem materiais que são fracamente repelidos pelos imãs, como é o caso dos materiais diamagnéticos (colesterol). No esquema abaixo, está representado um possível arranjo de imãs para se evitar a deposição de colesterol nas veias. 159 N veia S fluxo de sangue Com base no texto lido e nesse esquema, explique como se evitaria o acúmulo de colesterol nas veias? 2) Com relação à questão anterior, como se daria a eliminação do colesterol? 160 Texto 5 ELETROMAGNETISMO Histórico Para a Física a década de 1820 iniciou-se com uma revolucionária descoberta: uma corrente elétrica percorrendo um condutor gerava à sua volta um campo magnético. A eletricidade e o magnetismo passavam a ser uma só ciência – o Eletromagnetismo -, para a qual se antevia extraordinárias perspectivas tecnológicas. E assim foi. Começou em todo mundo uma frenética corrida das inúmeras aplicações práticas que essa descoberta prometia. Nos Estados Unidos destacou-se nessas pesquisas o professor de física Joseph Henry (1797-1878). Fugindo do estereótipo do norte-americano empreendedor, a preocupação de Henry era exclusivamente didática. Ele buscava construir equipamentos que o ajudassem a ilustrar melhor suas aulas, para ele condição essencial da aprendizagem. Na época estava empenhado na construção de um forte eletroímã, que causasse grande impacto em seus alunos. A maior dificuldade eram as fontes de energia elétrica: para obter o efeito que desejava ele precisava de baterias caras, grandes e desajeitadas, sobretudo para levar para a sala de aula. Durante anos Henry desenvolveu um pioneiro e excepcional trabalho tecnológico para chegar a um modelo de eletroímã que o satisfizesse no custo e nas dimensões. No fim da década 1820 chegou ao seu melhor resultado com o ‘imã de Albany’, nome dado em homenagem à cidade onde nasceu. Segundo Henry, esse eletroímã era capaz de sustentar um corpo de 320 g utilizando uma ‘modesta bateria’. Menos modesto, afirmava ser esse eletroímã ‘o mais potente imã jamais construído’. Experiência de Oersted Até o fim do século XVI não se distinguiam muito bem os fenômenos elétricos dos magnéticos. Com o livro ‘De Magnete’ Gilbert tornou clara essa distinção. No entanto, havia fortes indícios de que esses fenômenos deveriam estar relacionados. Alguns relatos descreviam a ocorrência de magnetização de barras de ferro, colheres e facas por causa de raios ou faíscas elétricas de máquinas eletrostáticas. Também contribuíram para reforçar 161 essa possibilidade as teorias que explicavam o magnetismo com base na existência de fluidos magnéticos, à semelhança dos elétricos. Além disso, Coulomb formulou uma lei para o magnetismo equivalente à sua lei para a eletricidade, em que o conceito de massas magnéticas substituía o de cargas elétricas. Mas só foi depois da invenção da pilha de Volta, que possibilitou o estudo de fenômenos resultante do movimento continuo de portadores de carga elétrica, que o físico dinamarquês Hans C. Oersted (1777-1851) descobriu essa relação, em 1820. As experiências de Oersted mostraram que um condutor percorrido por uma corrente elétrica gera um campo magnético ao seu redor, cuja configuração tem características especiais. Texto retirado do livro Física, Vol.: único de Alberto Gaspar, p.: 491. 162 QUESTÕES 1) Onde utilizamos os eletroímãs em nosso dia-a-dia? 2) Qual foi o fator decisivo que impediu Henry de construir um eletroímã mais “potente”? 3) Como poderíamos aumentar a “força” de um eletroímã? 163 Texto 6 Os trens Maglev (Magnetic levitaton) Os trens Maglev, de alta velocidade, utilizam a levitação magnética para flutuar sobre as suas vias. Eles fazem parte de um sistema mais complexo que consta basicamente de: • Uma potente fonte de energia elétrica; • Bobinas dispostas ao longo de uma linha guia; • Grandes ímãs localizados embaixo do trem. Ao serem percorridas por corrente elétrica, as bobinas enfileiradas ao longo da pista, chamada linha guia, criam campos magnéticos que repelem os grandes ímãs situados embaixo do trem, permitindo que ele flutue entre 1 cm e 10 cm sobre o trilho. Com o trem levitando, outras bobinas dentro das paredes da linha guia, são percorridas por correntes elétricas que, adequadamente invertidas, mudam a polaridade de magnetização das bobinas, ou seja, a energia é suprida pelas bobinas dentro das paredes do trilho para criar um sistema único de campos magnéticos que puxam e empurram o trem pelo trilho guia. A corrente elétrica fornecida às bobinas nas paredes do trilho guia é constantemente alternada para mudar a polaridade da bobina magnetizada. Esta mudança na polaridade leva o campo magnético na parte frontal do trem a puxar o veículo para frente, enquanto o campo magnético atrás do trem adiciona mais um empurrão para frente. Estas agem nos grandes ímãs, impulsionando o trem, que se desloca num colchão de ar, eliminando os atritos de rolamento e de escorregamento. Na ausência de atritos e o perfil aerodinâmico do trem, permitem que este atinja velocidades da ordem de 500 km/h ou 2 vezes tão rápido quanto o trem mais rápido de transporte da Amtrak. Em comparação, um avião comercial Boeing-777 usado para vôos a longa distância pode atingir a uma velocidade máxima de 905 km/h. Os desenvolvedores dizem que os trens maglev vão finalmente ligar as cidades que estão separadas em até 1.609 km. A 500 km/h, você podia viajar de Paris a Roma em pouco mais de 2 horas. Atualmente, a Alemanha e o Japão estão desenvolvendo a tecnologia de trem maglev e estão testando protótipos de seus trens. (A empresa alemã "Transrapid International" também tem um trem em uso comercial. Embora sejam baseados em conceitos semelhantes, 164 os trens alemães e japoneses têm diferenças. Na Alemanha, os engenheiros desenvolveram um sistema de suspensão eletrodinâmica (SEM), chamado Transrapid. Neste sistema, a base do trem envolve um trilho guia de aço. Os eletroímãs colocados sob o trem estão polarizados em direção ao trilho guia, que levita o trem em torno de 1 cm sobre os trilhos guia e mantêm o trem levitando mesmo quando não está em movimento. Outros ímãs guias embutidos no corpo do trem o mantêm estável durante a viagem. A Alemanha demonstrou que o trem maglev Transrapid pode atingir 480 km/h com pessoas a bordo. Foto cedida Licença de documentação livre GNU Um trem Transrapid em Emsland, instalação de teste na Alemanha Foto cedida pelo Instituto de Pesquisa Técnica de Ferrovias Acima é uma imagem do trilho guia na linha de teste do trem maglev Yamanashi no Japão. Veja abaixo uma ilustração que mostra como o trilho guia funciona. 165 Texto e ilustrações retirados do site: www.ciencia.hsw.uol.com.br QUESTÕES 3) Baseando-se na leitura do texto e nas ilustrações, responda com suas palavras como funciona no Trem Meglev. d) A levitação. e) O sistema de propulsão. f) O sistema de freios. 4) Como se obtém a alternância da polaridade de um eletroímã? País pode ter trem que levita sobre trilhos em dez anos O ministro da ciência e tecnologia, Ronaldo Sardenberg, acredita que o país terá desenvolvido em dez anos a tecnologia do trem por levitação magnética (TLM), que permitiria percorrer o trajeto Rio – São Paulo em 50 min, com velocidade de 500 km/h. O ministro visitou ontém a mostra Levita Rio, em que foi apresentado o protótipo de um trilho de 7 metros de comprimento, desenvolvido pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 166 ‘Esse é um projeto realista, que não se conclui da noite para o dia’, disse o ministro. ‘É bom lembrar que a tecnologia da informação era uma tecnologia cara e barateou, o que deve ocorrer também com a levitação magnética’. Por alguns minutos, Sardenberg, que pesa 85 quilos, levitou sobre um disco de metal fabricado na Alemanha. ‘Não há ponto de apoio entre o disco e a base’, disse o ministro. ‘É como se você levitasse em um tapete voador tecnológico’. De acordo com o físico da UFRJ, professor Roberto Nicolsky, que há três anos estuda o TLM, pela ausência de atrito com o trilho, o trem elétrico por levitação é mais rápido que uma composição convencional e economiza energia. ‘Esse sistema seria eficaz para evitar o congestionamento da ponte área Rio – São Paulo’, diz o físico. Nicolsky calcula que em dois anos estará desenvolvido um trilho circular de 30 metros, mas o protótipo terá um tamanho reduzido. Na opinião dele, só a partir de 2004 os pesquisadores terão condições de testar o sistema com trens de tamanho real. Até agora, o projeto consumiu R$ 100 mil. Ainda não há estimativa da quantia necessária para concluir o trabalho. [...] Apenas sete países estudam a tecnologia de trens por levitação magnética. Japão e Alemanha já têm protótipos em tamanho real. Clarissa Tomé, Caderno Cidades, O Estado de S. Paulo, 10 de junho de 2000. 167 Texto 7 Situação atual da pesquisa do Maglev no Brasil Trem magnético promete melhorar o trânsito urbano Cientistas acreditam que o projeto pode revolucionar o sistema de transporte no Brasil. Entre as vantagens, estão o baixo custo, um sistema ecologicamente correto e o menor consumo de energia. Um trem que flutua é a proposta de pesquisadores brasileiros para melhorar o trânsito nas grandes cidades. O projeto de pesquisadores brasileiros para melhorar o trânsito nas grandes cidades. O projeto foi apresentado na reunião anual da Sociedade brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Campinas, São Paulo. Um pequeno bloco de cerâmica levita sobre um imã. O mesmo efeito físico pode fazer um trem deslizar. Condutores de cerâmica são ativados por nitrogênio líquido a menos 200 0 C. Em contato com a base de imã, ganham poderes magnéticos que fazem vagões inteiros flutuar. “Com isso, produzimos um veículo para o transporte urbano que não necessite mais de rodas e trilhos para se locomover”, afirmou Richard Stephan, pesquisador da UFRJ. Projetos parecidos já viraram realidade no Japão e na Alemanha, mas o formato brasileiro, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é inédito no mundo. O trem que flutua foi apresentado na reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorreu em Campinas, no interior de São Paulo. Cientistas acreditam que o projeto pode revolucionar o sistema de transporte no Brasil. Entre as vantagens estão o baixo custo de implantação, um sistema ecologicamente correto e o menor consumo de energia. Mais leves e compactos, os trens voadores podem ser adaptados com facilidade aos contornos urbanos. Uma ótima alternativa ao metrô. Custariam apenas um terço do valor consumiriam só 4% da energia. Sem ruídos e nem emissão de poluentes. “Uma vez levitando, sem atrito, eu preciso apenas de um empurrão inicial”, declarou Richard Stephan. Reportagem retirada do site: http://jornalnacional.globo.com, do dia 17/07/2008 168 QUESTÕES 1) Como se movem os trens que flutuam? Comente. 2) Argumente: por que o consumo de energia nos trens Meglev é menor? 169 Texto 8 O microfone de indução O microfone de indução é constituído essencialmente de um imã fixo e de uma membrana à qual está ligada uma bobina. A bobina envolve o imã. O microfone possui uma tela metálica que protege a membrana. Quando uma pessoa o utiliza, as ondas sonoras emitidas (ondas de pressão) fazem a membrana vibrar e conseqüentemente a bobina vibra. Assim, os sons recebidos pelo microfone são convertidos em sinais elétricos que são, em seguida, amplificados. Tela de proteção Membrana Bobina móvel ligada à membrana Ímã Fixo Texto e ilustrações retirados do site: www.ciencia.hsw.uol.com.br QUESTÕES 1) Observando a figura abaixo, relate o que acontece e logo após responda às perguntas abaixo. 170 Ao AmpliMovimento de vai-e-vem ficador da membrana a) Nos textos anteriores, percebe-se que cargas elétricas em movimento, ou seja, corrente elétrica, produz campo magnético. Considerando-se os sinais elétricos como um sinal de corrente elétrica, de onde “aparece” a corrente no microfone, se não existe nenhuma pilha ligada ao mesmo. b) Faz alguma diferença para a produção do som manter a bobina ou o imã fixos? 171 Texto 9 Alto-falante O alto- falante faz exatamente a conversão contrária do microfone: os sinais elétricos que ele recebe do microfone são reconvertidos em sons. Para isso, o alto falante possui essencialmente um imã fixo e uma bobina ligada a um cone de papelão. A bobina envolve o imã. A corrente elétrica proveniente do microfone atravessa a bobina, que é imersa no campo magnético criado pelo imã, fica sujeita à ação de forças magnéticas que a fazem vibrar. A vibração da bobina provoca a vibração do cone de papelão. O ar junto ao cone também vibra, gerando ondas sonoras e reproduzindo o som que foi captado pelo microfone. QUESTÕES 1) Porque no auto – falante é necessário existir um imã no interior da bobina? 2) Qual a diferença básica entre um microfone e um alto-falante? Relate. Projetos alternativos de alto-falantes A maioria dos alto-falantes produz som com condutores tradicionais. Mas há algumas outras tecnologias no mercado. Esses projetos têm algumas vantagens sobre os tradicionais alto-falantes dinâmicos, mas são insuficientes em outras áreas. Por essa razão, geralmente eles são usados em conjunto com outras unidades de condutores. A alternativa mais popular é o alto-falante eletrostático. Esses alto-falantes vibram o ar com um painel de diafragma condutivo grande e fino. Esse painel de diagrama é suspenso entre dois painéis condutivos fixos que estão carregados com corrente elétrica de uma tomada da parede. Esses painéis criam um campo elétrico com uma extremidade positiva e uma negativa. O sinal de áudio passa pela corrente através do painel suspenso e rapidamente muda entre uma carga positiva e uma negativa. Quando a carga é positiva, o painel é puxado para a extremidade negativa do campo; quando a carga é negativa, ele se move para a extremidade positiva no campo. 172 O diafragma é carregado alternadamente com uma corrente positiva e uma negativa, baseando-se na variação do sinal elétrico de áudio. Quando o diafragma está positivamente carregado, ele oscila para a placa frontal, e quando é carregado negativamente ele oscila para a placa traseira. Desse modo, ele reproduz precisamente o padrão gravado das oscilações do ar. Desse modo, o diafragma vibra rapidamente o ar na frente dele. Como o painel tem uma massa baixa, ele responde muito rápida e precisamente a mudanças no sinal de áudio. Isso faz a reprodução do som clara e extremamente precisa. O painel não move uma grande distância; contudo, ele não é muito eficaz na produção de sons de baixa freqüência. Por essa razão, alto-falantes eletrostáticos são geralmente unidos com um woofer que impulsiona a variação de baixa freqüência. Outro problema com os alto-falantes eletrostáticos é que eles devem ser plugados na parede, sendo então mais difíceis de colocar em uma sala. Outra alternativa é o alto-falante magnético plano. Essas unidades usam uma longa faixa de metal suspensa entre dois painéis magnéticos. Elas funcionam basicamente do mesmo modo que os alto-falantes eletrostáticos, exceto que a alternância das correntes positiva e negativa move o diafragma em um campo magnético em vez de em um campo elétrico. Como os alto-falantes eletrostáticos, eles produzem um som de alta freqüência com precisão extraordinária, mas os sons de baixa freqüência são menos definidos. Por essa razão, geralmente o alto-falante magnético plano é usado apenas como um tweeter. Ambos os projetos estão se tornando mais populares entre os audioentusiastas, mas os condutores dinâmicos tradicionais ainda são a tecnologia predominante. Você vai encontrá-los em todos os lugares, não apenas em aparelhos de som, mas em despertadores, sistemas públicos, 173 televisões, computadores, fones de ouvido e muitos outros aparelhos. É incrível como um conceito simples revolucionou o mundo moderno! Texto e ilustrações retirados do site: www.ciencia.hsw.uol.com.br QUESTÃO 1) Qual é o principio básico de funcionamento de todos os alto-falantes? 174 Texto 10 O gravador de fita As fitas magnéticas de gravação de sons e de imagens possuem uma base constituída de tiras plásticas recobertas de material que pode ser magnetizado, como, por exemplo, o óxido de ferro. Existem fitas que utilizam outros materiais magnetizáveis, como o dióxido de cromo. Em qualquer caso, o material é pulverizado e aglomerado por um cimentador plástico. A idéia básica envolve um eletroimã que aplica um fluxo magnético ao óxido da fita. O óxido "lembra" permanentemente do fluxo que "vê". Um cabeçote de gravador de fitas é um eletroímã circular muito pequeno com um pequeno intervalo, como este: Esse eletroímã é minúsculo - talvez do tamanho de uma meia ervilha. O eletroímã consiste de um centro de ferro com um fio enrolado em volta, como mostrado na figura. Durante a gravação, o sinal de áudio é enviado através da bobina pelo fio para criar um campo magnético no centro. No intervalo, o fluxo magnético forma a extremidade padrão para fazer a ponte no intervalo (mostrado em vermelho), e este fluxo é o que magnetiza o óxido na fita. Durante a reprodução, o movimento da fita puxa um campo magnético variável pelo intervalo. Isto cria um campo magnético variável no centro e, dessa forma, um sinal na bobina. Este sinal é amplificado para ser enviado para os auto-falantes. Em um reprodutor de cassetes normal, há dois destes pequenos eletroímãs que juntos têm aproximadamente a metade da largura da fita. Os dois cabeçotes gravam os dois canais de um programa estéreo, desse modo: 175 Quando você inverte uma fita no reprodutor, você alinha a outra metade da fita com os dois eletroímãs. Quando você olha dentro de um gravador magnético, normalmente vê algo assim: No topo desta figura estão as duas rodas dentadas que acionam os carretéis dentro do cassete. Estas rodas dentadas giram um dos carretéis para puxar a fita durante a gravação, reprodução, avanço ou retrocesso rápido. Debaixo das duas rodas dentadas existem duas cabeças. A cabeça da esquerda é uma cabeça principal de limpeza para limpar sinais na fita antes da gravação. A cabeça no centro é a cabeça de gravação e reprodução contendo os dois minúsculos eletroímãs. No centro está o rolete e o cilindro de tensão, como visto abaixo: 176 O rolete gira a uma taxa bem precisa para puxar a fita pelo cabeçote exatamente na velocidade correta. A velocidade padrão é de 4,76 centímetros por segundo. O rolete de pressão simplesmente aplica pressão e a fita é apertada contra o eixo. Na gravação de som, este é transformado em sinais elétricos (corrente elétrica variável), por meio de um microfone. Essa corrente é enviada a uma bobina, enrolada num núcleo de ferro laminado e dotado de uma pequena fenda, chamada de entreferro. A bobina e o núcleo de ferro constituem o cabeçote do gravador, que possui uma blindagem metálica, a fim de reduzir as interferências externas. A corrente elétrica variável, que representa o som transformado, atravessa a bobina do cabeçote e gera um campo magnético variável. Este orienta e magnetiza as partículas magnetizáveis da fita, quando ela passa diante do entreferro. Resumindo, o som a ser gravado é transformado em sinais elétricos e estes são registrados na fita através da magnetização de suas partículas ferromagnéticas. A reprodução do som segue um caminho inverso. A fita magnética passa diante de outro cabeçote. A movimentação dos pequenos imãs existentes na fita, geram na bobina do novo cabeçote uma corrente elétrica induzida variável. Esta é fornecida a um alto-falante, que reproduz o som gravado. Na gravação de imagens, o processo é basicamente o mesmo. A imagem a ser gravada é transformada em corrente elétrica variável , através de uma câmera. Essa corrente elétrica, atravessando a bobina do cabeçote gera um campo magnético variável, que magnetiza as 177 partículas que constituem a fita magnética que passa diante do entreferro. Em seguida, outro cabeçote transforma as informações registradas na fita em corrente elétrica variável , que alimenta o filamento de um tubo de imagens. Os elétrons emitidos pelo filamento varrem a tela reproduzindo a imagem gravada. Texto e ilustrações retirados do site: www.ciencia.hsw.uol.com.br QUESTÕES 1) A gravação do som em uma fita magnetizável se dá pela magnetização dos pequenos imãs numa determinada direção, existentes no óxido de ferro. Qual é fator responsável por essa magnetização? 2) De acordo com que foi estudado, explique por que não devemos deixar as fitas (cassete e de vídeos) próximas de fontes de campo magnético? 178 Texto 11 O cartão magnético Os cartões magnéticos possuem, em um de seus lados, uma tarja magnética, semelhante a um pedaço da fita magnética utilizada em gravadores. As minúsculas partículas magnetizáveis que fazem parte da tarja estão distribuídas numa seqüência de regiões magnetizáveis e não-magnetizáveis (código binário), fornecendo todas as informações pessoais do portador do cartão e outras informações úteis. O leitor desse código é constituído de uma bobina enrolada num núcleo de ferro. Quando o cartão é movimentado por um usuário, ao inseri-lo, por exemplo, no terminal de um caixa eletrônico, uma corrente elétrica variável é induzida na bobina. Esses sinais elétricos são recebidos por um computador, que decodifica as informações existentes no cartão. QUESTÃO 1) O código binário é formado pelos dígitos de 0 e 1. Os cartões de crédito são fabricados com uma tarja magnética na parte de trás. Essa tarja é constituída de óxido de ferro (como nas fitas cassetes). As informações são gravadas magneticamente em regiões magnetizáveis e outras não magnetizáveis. Qual a ligação do código binário com as regiões magnetizáveis e não magnetizáveis do cartão magnético? Como funciona a tarja magnética dos cartões de crédito? A tarja no verso de um cartão de crédito é uma tarja magnética, muitas vezes conhecida como magstripe. A tarja magnética é composta de partículas magnéticas à base de ferro espalhadas por uma película semelhante a um filme. Cada partícula é realmente uma barra magnética muito estreita com cerca de 50 milionésimos de centímetro de comprimento. 179 A frente de um cartão de crédito tem muitos números. Acima um exemplo do que eles podem significar. A frente de um cartão de crédito tem muitos números. Acima um exemplo do que eles podem significar. O cartão tem uma tarja magnética no verso e um espaço para a importantíssima assinatura do usuário 180 A tarja magnética pode ser ‘escrita’ porque os pequenos imãs em barra podem ser magnetizados na direção do Pólo Norte ou na direção do Pólo Sul. A tarja magnética no verso do cartão é muito semelhante a uma fita cassete presa a um cartão. Em vez de motores movendo a fita para que ela possa ser lida, sua mão provê o movimento quando você passa o cartão de crédito por uma leitora de cartões. Texto e ilustrações retirados do site: www.ciencia.hsw.uol.com.br QUESTÕES 1) Enumere as características comuns entre a fita cassete e o cartão magnético. 2) A velocidade de avanço da fita cassete é constante. E a velocidade com que se passa o cartão numa leitura (no caixa eletrônico) pode ser considerada constante? Por que? 181 Texto 12 O detector de metais Vamos considerar um tipo de detector de metais, que consiste essencialmente em uma bobina enrolada num núcleo de ferro. Quando ele está em funcionamento, a bobina é percorrida por uma determinada corrente elétrica, que gera um campo magnético. Quando o detector é aproximado de um objeto metálico, ocorre uma variação do fluxo magnético através do objeto metálico, induzindo nele correntes elétricas (correntes de Foucault). Essas correntes, por sua vez, geram um campo magnético variável, que induz corrente na bobina, alterando o valor da corrente que a atravessa. Essa alteração de corrente, registrada por um amperímetro, acusa a presença do objeto metálico, através de um alarme sonoro ou visual. Anatomia de um detector de metal Um detector de metal usual é leve e consiste em algumas partes: 1. estabilizador (opcional): usado para manter o aparelho firme enquanto você o movimenta para frente e para trás; 2. caixa de controle: contém o circuito, controles, alto-falante, baterias e o microprocessador; 3. haste: conecta a caixa de controle à bobina e é geralmente ajustável à sua altura; 4. bobina de busca: a parte que realmente detecta o metal. Também conhecida como ‘cabeça de busca’, ‘arco’ ou ‘antena’. Foto cedida por Garrett Electronics Detector de metal Garrett GTI 150 Texto e ilustrações retirados do site: www.ciencia.hsw.uol.com.br 182 QUESTÕES 1) Por que o detector de metais localiza somente metais? 2) Se for enterrada no solo uma mina (bomba) com invólucro de cobre e o manipulador do aparelho o mantivesse parado sobre o solo, seria possível detectá-la? Justifique. 183