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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO
LUIS ANTÔNIO DA COSTA BENTO
TORÇÃO DE ÚTERO EM CADELA: RELATO DE CASO
Niterói – RJ
2010
LUIS ANTÔNIO DA COSTA BENTO
TORÇÃO DE ÚTERO EM CADELA: RELATO DE CASO
Monografia apresentada a Universidade
Federal Rural do Semi-Árido –
UFERSA, Departamento de Ciências
Animais, para obtenção do título de
Especialista em Clínica Médica de
Pequenos Animais.
Orientador: Nelson Domingues Pena
Niterói – RJ
2010
LUIS ANTÔNIO DA COSTA BENTO
TORÇÃO DE ÚTERO EM CADELA: RELATO DE CASO
Monografia apresentada a Universidade
Federal Rural do Semi-Árido –
UFERSA, Departamento de Ciências
Animais, para obtenção do título de
Especialista em Clínica Médica de
Pequenos Animais.
APROVADA EM:_____/_____/_____
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Prof.
Presidente
_______________________________________________
Prof.
Primeiro Membro
_______________________________________________
Prof.
Segundo Membro
Niterói – RJ
2010
Dedico este trabalho àquelas que me motivam
a levantar todos os dias e ir atrás do meu
melhor: Roberta, minha esposa e Rebeca,
razão do meu viver.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais por me conduzirem neste caminho tortuoso, mesmo que para isso
tivessem que abrir mão de suas necessidades e conforto.
Agradeço ao meu irmão e minha irmã pelo incentivo a minha profissão e apoio técnico e
afetivo.
Agradeço a minha esposa pela paciência, pelas noites de preocupação, pelo incentivo a
minha profissão e por acreditar em minha capacitação.
Agradeço a minha maior riqueza “minha filha” Rebeca, por amar os animais e amar a
profissão do papai; obrigado por você existir.
Agradeço ao professor Nelson Domingues Pena por me iniciar nas técnicas cirúrgicas.
Agradeço ao professor Alceu Raizer por me mostrar que a medicina veterinária pode ser
praticada em alto nível.
Agradeço a banca examinadora por abrir mão de tão precioso tempo para estar aqui.
Agradeço a todos os aos animais que são nossa fonte de trabalho, estudo e inspiração; os
quais eu respeito e amo.
Agradeço a Deus pelas pessoas especiais que colocou em minha vida e em nenhum momento
me deixou trilhar sozinho.
Durante uma instrução militar quando tenente
do Exercito Brasileiro ouvi do instrutor de
sobrevivência na selva a mnemônica palavra:
E-S-A-O-N, que quer dizer:
E- estacione
S- sente-se
A- alimente-se
O- oriente-se
N- navegue
Diante dos desafios do dia a dia sinto que estas
palavras são atuais para a sobrevivência em
qualquer ambiente e me motiva a continuar
navegando.
Luis Antônio da Costa Bento
LISTA DE FIGURAS
Página
FIGURA 01
Aparelho reprodutor de cadela...................................................................
12
FIGURA 02
Anatomia de útero e ovários.......................................................................
13
FIGURA 03
Esquematização de ovário-salpingo-histerectomia....................................
23
FIGURA 04
ovário-salpingo-histerectomia.....................................................................
24
FIGURA 05
Paciente demonstrando distensão do abdome.............................................
27
FIGURA 06
Paciente demonstrando distensão do abdome.............................................
28
FIGURA 07
Ultrassom identificando a presença de massas no útero............................
28
FIGURA 08
Início da cirurgia, exteriorizando um corno uterino dilatado.....................
29
FIGURA 09
Iniciando a exteriorização de ambos os cornos uterinos............................
29
FIGURA 10
Exteriorizando todo o útero (observa-se várias aderências).....................
30
FIGURA 11
Torção uterina no corpo uterino, próximo a cérvix....................................
30
FIGURA 12
Visualização de todo útero exteriorizado, com a torção............................
31
FIGURA 13
Observa-se várias aderências.....................................................................
31
FIGURA 14
Identificando o ovário e preparando a ligadura..........................................
32
FIGURA 15
O útero com seu conteúdo pesava 2,500 kg................................................
32
FIGURA 16
Término da cirurgia ....................................................................................
33
FIGURA 17
Expondo o conteúdo uterino........................................................................
33
FIGURA 18
Conteúdo uterino – observa-se a presença de fetos macerados (ossos)....
34
FIGURA 19
Conteúdo uterino – observa-se a presença de fetos macerados (ossos)....
34
RESUMO
A torção uterina é uma afecção do trato reprodutivo, rara em cadelas, tendo difícil diagnóstico
clínico, sendo comumente confirmado através de laparotomia exploratória. Geralmente ocorre
em úteros gravídicos ou em casos de piometra ou hematometra, associados à intensa
movimentação da fêmea, que faz com que o útero gire em torno de si mesmo. A literatura cita
ser mais comum a ocorrência de torção em um ou ambos os cornos uterinos. A distocia é uma
das causas que leva a torção do útero, sendo, portanto, importante suspeitar desta ocorrência
sempre que atender um caso de parto distócico. Este estudo procura esclarecer a etiologia
desta patologia, através de uma revisão da literatura, associando as informações encontradas
com o relato de caso clínico de uma cadela SRD, com seis anos, que apresentava abdome
distendido, porém temperatura normal, mucosas normocoradas e tempo de perfusão normal.
Foi feito o diagnóstico de torção uterina, através de laparotomia exploratória, e a cirurgia de
ovário-salpingo-histerectomia.
Palavras-chave: torção uterina; cadela; ovário-salpingo-histerectomia.
ABSTRACT
Uterine torsion is a disorder of the reproductive tract, rare in dogs, with clinical diagnosis
difficult, and often confirmed by exploratory laparotomy. Usually occurs in the gravid uterus
or in cases of pyometra or hematometra associated with the intense movement of the female,
which causes the uterus to turn around itself. The literature refers to be more common
occurrence of twist in one or both uterine horns. The dystocia is one of the causes that lead to
twisting of the uterus, and is thus important to suspect this event ever to attend a case of
dystocia. This study sought to clarify the etiology of this disease, through a literature review,
gathering the information found with a case report of a bitch, with six years, who presented
abdominal distension but normal temperature, normal colored mucosa and normal perfusion
time. Was made the diagnosis of uterine torsión, by exploratory laparotomy, and ovarysalpingo-hysterectomy surgery.
Keywords: uterine torsion; bitch; ovary-salpingo-hysterectomy.
SUMÁRIO
Página
LISTA DE FIGURAS........................................................................................................
06
RESUMO............................................................................................................................
07
ABSTRACT........................................................................................................................
08
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................
11
2 REVISÃO DA LITERATURA....................................................................................
12
2.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO APARELHO REPRODUTOR DE CADELAS
12
2.1.1 Ovário.......................................................................................................................
13
2.1.2 Tuba Uterina............................................................................................................
14
2.1.3 Útero..........................................................................................................................
14
2.1.4 Cérvix........................................................................................................................
15
2.1.5 Vagina.......................................................................................................................
16
2.1.6 Vulva.........................................................................................................................
16
2.1.7 Ciclo Estral...............................................................................................................
17
2.2 DEFINIÇÃO DE TORÇÃO UTERINA.....................................................................
18
2.3 ETIOLOGIA................................................................................................................
18
2.4 SINAIS CLÍNICOS......................................................................................................
20
2.5 DIAGNÓSTICO...........................................................................................................
20
2.6 TRATAMENTO...........................................................................................................
21
2.6.1 Ovário-salpingo-histerectomia................................................................................
21
3 CASO CLÍNICO.............................................................................................................
27
4 DISCUSSÃO....................................................................................................................
36
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................
38
REFERÊNCIAS.................................................................................................................
39
1 INTRODUÇÃO
O atendimento obstétrico a cadelas para diagnóstico de gestação, gestantes ou em distocia é
muito frequente na clínica veterinária de animais de companhia. Fêmeas caninas possuem
particularidades reprodutivas diferenciadas quando comparadas a outras espécies domésticas, como
a duração do período fértil e da ovulação. Além disso, altas taxas de distocia são observadas nesta
espécie, especialmente em algumas raças.
Distocias de gestação são problemas que ocorrem no parto ou no terço final da prenhez,
sendo um conjunto de causas que tornam o parto uma função difícil, impossível ou perigosa para a
mãe e para o(s) feto(s). Entre as distocias está a torção uterina, que é uma afecção do trato
reprodutivo, não exclusiva de gestação. É uma patologia bastante rara, de diagnóstico difícil,
geralmente associada ao aumento do volume uterino em combinação com outras alterações dos
órgãos pélvicos, podendo envolver um ou ambos os cornos uterinos. As torções uterinas são mais
comuns em fêmeas com útero gravídico no terço final da gestação ou no puerpério, podendo ser
causadas por mudanças bruscas de posição do animal (comportamento muito agitado), durante
movimentos fetais intensos, porém podem acontecer em úteros não-gravídicos, principalmente na
presença de hemometra ou piometra.
A torção uterina é uma patologia incomum tanto em cadelas quanto em gatas, tendo sido
descritos alguns casos em animais gestantes que se movimentaram bruscamente no final da
gestação ou que apresentaram movimentos fetais ativos.
Os sinais clínicos são inespecíficos, como descarga vulvar, distensão abdominal, apatia,
inapetência e dor abdominal, mas podem estar ausentes. O diagnóstico é feito quase sempre
durante o ato cirúrgico, pois o exame de ultrassonografia geralmente é inespecífico.
Este estudo procurou esclarecer a etiologia desta patologia, através de uma revisão da
literatura, associando as informações encontradas com o relato de caso clínico de uma cadela com
torção uterina, atendida em clínica veterinária particular, no município de Petrópolis – RJ, onde foi
feito o diagnóstico e a cirurgia de ovário-salpingo-histerectomia.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO APARELHO REPRODUTOR DE CADELAS
Os órgãos femininos da reprodução são compostos por (Figuras 01 e 02): ovários, ovidutos
ou tubas uterinas, útero, cérvix uterina, vagina e genitália externa (vulva). A irrigação sanguínea
destes órgãos é feita pelas artérias ovariana, uterina média e pudenda interna e a vascularização
segue através dos ligamentos até os órgãos (GETTY, 1975).
Figura 01: Aparelho reprodutor de cadela.
Fonte: GUIDO, 2010.
Figura 02: Anatomia de útero e ovários.
Fonte: SICARD; FINGLAND, 2008.
2.1.1 Ovário
O ovário é um órgão duplo de forma variável, encontrado dorsalmente na cavidade
abdominal, próximo ao bordo pélvico, apresentando função celular (liberação de gametas) e
endócrina (secreção de hormônios). Apresenta epitélio superficial (germinativo), túnica albugínea
(tecido conjuntivo fibroso que cobre todo o ovário), cortical externa e medular interna (com vasos e
nervos). Na cortical ficam os folículos primários, que se desenvolvem até a ovulação. Durante o cio,
os ovários de cadelas ficam com formato de cachos de uva, pois possuem múltiplas ovulações
(GETTY, 1975; HAFEZ; HAFEZ, 2003).
Possuem função celular, que é a produção de gametas femininos (oócitos – óvulos), e função
endócrina, que consiste na secreção de hormônios (FELDMAN; NELSON, 2003; HAFEZ; HAFEZ, 2003):
Estrogênio: responsável principalmente pelas características sexuais secundárias,
sinais de cio e desenvolvimento da glândula mamária.
Progesterona:
responsável
pela
manutenção
da
gestação,
lactação
e
comportamento materno.
Inibina: importante para a regulação endócrina por feedback negativo.
Ocitocina ovariana: influi no processo de involução do corpo lúteo.
Relaxina: facilita a passagem do feto no canal do parto.
2.1.2 Tuba Uterina
Segundo Feldman; Nelson (2003) e Hafez; Hafez (2003), a tuba uterina tem as funções de:
captar o óvulo e encaminhá-lo até o útero, secreção de muco e transporte dos espermatozóides.
Possui formato sinuoso e divide-se em três porções:
Infundíbulo: é a porção mais próxima ao ovário. O infundíbulo afunila formando
um tubo (alarga na extremidade). Em sua abertura se encontram fímbrias, que na
época da ovulação se prolongam e envolvem o ovário para que o(s) óvulo(s)
seja(m) atraído(s) para tuba.
Ampola:
é
uma
porção
mais
dilatada
dorsalmente,
aproximadamente à metade do comprimento da tuba.
Istmo: estreita porção proximal, ligando as tubas ao útero.
2.1.3 Útero
correspondendo
O útero de cadela é do tipo bipartido, possui corpo em forma cilíndrica e dois cornos
uterinos, extremamente
compridos e estreitos, localizando-se
na cavidade
abdominal.
Histologicamente é composto por (GETTY, 1975; HAFEZ; HAFEZ, 2003):
Camada serosa (perimétrio);
Camada muscular (miométrio): músculo liso, tecido conjuntivo e vasos;
Camada mucosa (endométrio): rico em glândulas.
As funções do útero são (FELDMAN; NELSON, 2003; GRUNERT; BIRGEL, 1989; HAFEZ; HAFEZ,
2003):
Transporte espermático: feito pelo endométrio, do ponto de ejaculação até o
local de fertilização, no oviduto.
Receber o embrião (concepto) e permitir sua nidação (fixação).
Gestação.
Expulsão do feto (parto).
Secreção de prostaglandina, relaxina e ocitocina.
Regulação da função do corpo lúteo.
O útero é o órgão do aparelho reprodutor feminino que recebe o embrião, faz sua
implantação e ainda estabelece as relações vasculares do embrião ou feto durante todo o período de
gestação. É um órgão cavitário que apresenta parede relativamente espessa, grande capacidade de
distender-se e de voltar ao tamanho normal (NASCIMENTO; SANTOS, 1997).
2.1.4 Cérvix
A cérvix se localiza entre o útero e a vagina. Suas funções são (FELDMAN; NELSON, 2003;
HAFEZ; HAFEZ, 2003):
Secreção de muco cervical para facilitar o transporte dos espermatozóides até o
útero;
Atua como reservatório de espermatozóides, que ficam alojados nas criptas
cervicais, abastecendo o trato reprodutivo com subsequentes liberações de
material seminal, ou impedindo que um número excessivo atinja o local da
fertilização.
Promove a retenção de espermatozóides defeituosos e inviáveis.
Passagem do feto.
A cérvix é semelhante a um esfíncter, permanecendo fechada, exceto durante o cio, quando
relaxa para permitir a passagem de espermatozóides para o útero, e durante o parto, permitindo a
passagem do feto (GRUNERT et al., 2005; HAFEZ; HAFEZ, 2003).
Durante a gestação, o muco produzido pela cérvix se torna altamente viscoso, espesso, turvo
e não se cristaliza, formando uma barreira contra o trânsito de espermatozóides e bactérias,
prevenindo infecções uterinas. No momento do parto este tampão se liquefaz e a cérvix se dilata
para passagem do feto e de suas membranas fetais. A secreção do muco cervical é estimulada pelos
estrógenos ovarianos e inibida pela progesterona (FELDMAN; NELSON, 2003; HAFEZ; HAFEZ, 2003).
2.1.5 Vagina
Possui formato cilíndrico, é músculo membranosa (para dilatar na saída do feto) e produz
muco. Localiza-se na cavidade pélvica, posterior a cérvix e anterior a vulva. Suas funções são (GETTY,
1975; HAFEZ; HAFEZ, 2003):
Secreção de muco: para umidificar a vagina.
Acolhimento de pênis durante a cópula.
Passagem do feto.
Depósito de sêmen.
2.1.6 Vulva
É a porção externa da genitália feminina, se estendendo da vagina para o exterior. Possui
dois lábios (maior e menor), uma comissura dorsal e outra ventral. Na ventral fica o clitóris. As
funções da vulva são (GETTY, 1975; HAFEZ; HAFEZ, 2003):
Proteção da entrada do trato genital.
Cópula.
Passagem da urina.
Passagem do feto.
2.1.7 Ciclo Estral
Ciclo estral é o período compreendido entre dois estros (entre uma ovulação e outra),
variando de duração de acordo com a espécie animal. Apresenta fases bem evidentes, caracterizadas
por modificações da genitália interna e externa, assim como no comportamento da fêmea (HAFEZ;
HAFEZ, 2003).
O ciclo estral possui duas grandes fases: proliferativa (sob influência estrogênica) e secretora
(influência progesterônica). A fase sob ação do estrogênio é a em que ocorre manifestação do cio.
Essa fase corresponde ao pró-estro e ao estro: Pró-estro é a fase em que ocorre liberação de
hormônio folículo estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH) pela hipófise, para que haja
desenvolvimento do folículo e produção de estrógeno. Iniciam-se as modificações da genitália e as
alterações comportamentais. Estro (cio) é a fase em que ocorre um pico de LH, determinando um
aumento na liberação de estrógeno. A fêmea passa a apresentar todas as características de cio
(cérvix relaxada, vulva edemaciada, aceita o macho, entre outras) e culmina com a ruptura do
folículo. Na fase secretora ou progesterônica ocorre quiescência do trato genital. Corresponde às
fases de metaestro e diestro. Metaestro é a fase pós-ovulatória, que se segue à formação do corpo
lúteo funcional. Ocorre redução do estrogênio e aumento da progesterona. O aparelho genital entra
em estado de quiescência. O útero fica flácido e a cérvix começa a fechar. Vulva e vagina ficam mais
pálidas e menos umidificadas. Diestro é a fase onde há plena atividade do corpo lúteo, com produção
de progesterona e o órgão quiescente. É a fase secretora. Vulva e vagina se apresentam com
coloração normal, cérvix fechada, umidificação. Há também a fase de anestro, que corresponde a um
longo período de quiescência (inatividade) do trato genital, ocorrendo entre os períodos de
reprodução (GRUNERT; BIRGEL, 1989; GRUNERT et al., 2005; HAFEZ; HAFEZ, 2003).
As cadelas são monoéstricas, ciclam duas vezes ao ano, tendo períodos de anestro. Seu
período fértil estende-se do final do proestro ao meio do estro e cada uma dessas fases do ciclo
estral pode durar de três dias a três semanas, com duração média de sete a dez dias. Após a cópula,
os espermatozóides podem permanecer armazenados em glândulas uterinas durante o estro, e a
proximidade do espermatozóide com o epitélio colunar não apenas ajuda a manter a sua viabilidade,
mas pode também promover ou modular a capacitação espermática e as mudanças na motilidade.
Durante a fase folicular do ciclo (proestro e estro), folículos monovulares (com apenas um ovócito)
ou poliovulares (contendo em média de dois a quatro ovócitos) desenvolvem-se nos ovários. Nas
cadelas, as ovulações ocorrem em média 48 horas após o pico pré-ovulatório de LH e caninos podem
permanecer fertilizáveis por período superior a 200 horas. O período de gestação em cadelas é de 63
dias, com uma variação de 56 a 72 dias (CONCANNON, 2000; CONCANNON et al., 1989; HAFEZ;
HAFEZ, 2003; KAWAKAMI et al., 2000; LINDE-FORSBERG; ENEROTH, 2004; VERSTEGEN et al., 2001
apud LUZ et al., 2005).
2.2 DEFINIÇÃO DE TORÇÃO UTERINA
Torção uterina é definida como sendo uma rotação de mais de 45º do útero em torno do seu
eixo axial (LARA et al., 1999).
É uma condição aguda, rara em cadelas e gatas, e que traz riscos a vida, e as manifestações
clínicas variam desde nenhum sinal até sintomas de distocias, dores abdominais ou choque, e
geralmente está relacionada com o útero gravídico próximo ao final da gestação. Um ou ambos os
cornos uterinos podem rotacionar ao longo do eixo longitudinal ou em torno do outro corno,
ocorrendo mais frequentemente em fêmeas agitadas e saltadoras (LINDE-FORSBERG; ENEROTH,
2004; NELSON; COUTO, 2006; SORRIBAS, 2006; WYKES; OLSON, 1996).
2.3 ETIOLOGIA
As principais causas de torção de útero estão relacionadas com movimentos fetais ativos,
contração uterina prematura, anormalidades do útero, estiramento do ligamento ovariano próprio e
excessiva atividade da fêmea no final da gestação (WYKES; OLSON, 1996).
As torções uterinas podem ser de diferentes graus e podem predispor um parto distócico ou
ser consequência de um. Em algumas situações, casos de distocia por ou com torção uterina, por ser
difícil identificar a torção, levam a administração de ocitocina, muitas vezes feita por leigos, sem
prescrição médica, em dose excessiva, e podem levar a ruptura uterina, o que agrava ainda mais o
quadro, elevando o risco à saúde e a vida da paciente (MARTINS et al., 2007; SAMPAIO et al., 2002).
Distocias são comuns em cadelas e isso ocorre porque a conformação do canal do parto
nesta espécie é inadequada para possibilitar a parição, em razão de um tamanho relativamente
desproporcional do feto ou por fatores que possam interferir na função contrátil do útero. Acreditase que a incidência mundial de distocias em cadelas seja de 5%, podendo chegar a 100% em algumas
raças, especialmente as do tipo acondroplásico e as selecionadas para terem a cabeça grande.
Fêmeas de raças pequenas, como Toy, que possuem cabeça grande e canal pélvico relativamente
estreito, são predispostas a distocias. Em raças como Bulldog e Pekingese, os partos distócicos são
tão comuns que os criadores geralmente solicitam cesariana antes mesmo que as fêmeas entrem em
trabalho de parto (GRAVES, 2008; LINDE-FORSBERG; ENEROTH, 2004).
Em estudo desenvolvido por De DARVELID; LINDE-FORSBERG (1994) apud LINDE-FORSBERG;
ENEROTH (2004) foram estudados182 casos de distocias em cadelas e destes, 1,1% envolveram
torção uterina, demonstrando não ser uma patologia muito comum.
Estudos epidemiológicos têm demonstrado que a produção e acúmulo de secreção purulenta
de natureza infecciosa no útero, denominada como piometra, tem se destacado como a principal
patologia do trato reprodutivo das fêmeas caninas, e é uma das alterações que ocorrem no útero
que podem predispor à ocorrência de torção uterina, segundo relatos que associam a torção uterina
também ao útero não gravídico. Outros casos citam a hematometra (presença de sangue no útero)
como outra causa que predispõe a torção. Tanto a piometra quanto a hematometra promovem
saculações no útero, sendo esta a causa que favorece a ocorrência da torção (SAMPAIO, 2010).
Piometra é o acúmulo de pus no útero. Difere da endometrite, que é inflamação do
endométrio, e da metrite, que é a inflamação das três camadas. Piometra é o acúmulo de pus no
lúmem uterino. Podendo ser causada pela endometrite ou pela metrite ou por infecção por
microrganismos. Os patógenos mais comuns são as bactérias, mas pode ocorrer por fungos, vírus e
protozoários. Os principais sintomas são apatia, febre e prostração. O acúmulo de pus pressiona o
endométrio, lesando-o, fazendo com que perca sua funcionalidade: não libera prostaglandinas, não
lisa o corpo lúteo (corpo lúteo persistente), diestro constante até que entra em anestro
(infertilidade). O diagnóstico é feito através de palpação e ultra-sonografia. Hemograma com
aumento de leucócitos, associado à clínica, pode ser indicativo. Geralmente a piometra surge após o
cio, pois há abertura da cérvix, possibilitando entrada de patógenos. Se a imunidade da fêmea estiver
baixa, leva a instalação do patógeno (endometrite). No início se traduz em uma fase assintomática,
subclínica. Com o fim do período de cio, a cérvix se fecha e a proliferação de patógenos leva a
formação de pus (piometra) e ao aparecimento da sintomatologia. É comum em cadelas, pois só
ciclam de seis em seis meses, ficando a cérvix fechada por todo esse tempo, favorecendo a
proliferação de bactérias, criando um ambiente propício (FELDMAN; NELSON, 2003; GRAVES, 2008;
GRUNERT et al., 2005).
A causa da torção do útero gravídico ou daqueles com saculações geralmente está
relacionada à movimentação intensa do animal, levando a ocorrência da torção de todo um corno,
ou parte de um, sobre o seu próprio eixo. Na gata e na cadela a torção normalmente afeta apenas
um corno ou parte do mesmo, sendo a torção de ambos os cornos mais rara e isto se explica pela
ausência do ligamento intercornual nestas espécies. Os pontos de fixação são o mesovário e o corpo
uterino. Os vasos do mesovário e mesométrio ipsilaterais à torção sofrem colapso o que dá origem à
lesão isquêmica da parede uterina e às suas consequências como ruptura e septicemia, quando a
torção está acompanhada de piometra (MARTINS et al., 2007; SAMPAIO, 2010).
Pacientes em trabalho de parto prolongado e que apresentem distocias sempre devem ser
minuciosamente avaliadas, pois podem apresentar graves alterações, como é o caso da torção
uterina, que coloca em risco a vida do paciente (MARTINS et al., 2007).
2.4 SINAIS CLÍNICOS
Nem sempre há sinais clínicos aparentes, mas mesmo quando há sinais estes são
inespecíficos, incluindo distensão abdominal, dor abdominal, descarga vaginal hemorrágica, pulso
fraco, palidez das mucosas, rápida diminuição na temperatura corporal, massa abdominal dura à
palpação, levando ao choque e a morte se não tratada a tempo (GROOTERS, 1998; SORRIBAS, 2006).
2.5 DIAGNÓSTICO
Por não oferecer sintomas específicos e pela ultrassonografia não fornecer exatidão sobre o
problema, o diagnóstico é frequentemente estabelecido durante a laparotomia exploratória (WYKES;
OLSON, 1996).
É importante suspeitar de torção uterina sempre que houver um parto distócico, pois a
utilização de ocitocina para auxiliar o parto pode agravar o problema e levar a ruptura uterina. Às
vezes alguns fetos podem nascer e o processo de parto continuar, ocorrer a torção uterina e a
condição da cadela pode deteriorar rapidamente, sendo indispensável a cirurgia de ovário-salpingohisterectomia e o diagnóstico rápido da torção para salvar a vida da paciente (LINDE-FORSBERG;
ENEROTH, 2004; MARTINS et al., 2007).
2.6 TRATAMENTO
O tratamento da torção uterina é a ovário-salpingo-histerectomia, pois o tecido uterino fica
isquêmico e geralmente se encontra desvitalizado. Usam-se muitas técnicas para ovário-salpingohisterectomia, no entanto os objetivos são os mesmos: remoção dos ovários, mais cornos e corpo
uterinos. Pode-se tentar desfazer a torção uterina, porém geralmente é uma manobra que não dá
resultado positivo (BOJRAB, 1996; FOSSUM, 2005; GROOTERS, 1998; SORRIBAS, 2006).
Além do tratamento cirúrgico, é importante verificar os sinais vitais e de saúde da paciente,
visto que esta patologia geralmente leva a desidratação e alterações metabólicas, bem como o risco
de septicemia, principalmente se vinculada a piometra. Para isso é necessário promover uma terapia
antimicrobiana e reposição de fluidos para a devida correção dos desvios metabólicos (SAMPAIO,
2010).
2.6.1 Ovário-salpingo-histerectomia
O objetivo deste procedimento é a remoção do útero e dos ovários. É indicada não apenas
para esterilização ou para prevenção de tumores mamários, mas também é o tratamento de escolha
para a maior parte das doenças uterinas, que incluem a piometra, hiperplasia cística de endométrio,
neoplasia uterina e torção uterina (FOSSUM, 2005; SICARD; FINGLAND, 2008).
O material cirúrgico utilizado, segundo Sicard; Fingland (2008) inclui: material cirúrgico
padrão; fios de sutura; gancho para ovário-salpingo-histerectomia.
A técnica segue os seguintes passos (Figuras 3 e 4), segundo Fossum (2005) e Sicard; Fingland
(2008):
1.
Realizar a tricotomia e preparar cirurgicamente o abdome ventral desde a
cartilagem xifóide até o púbis, antes da indução da anestesia para reduzir o
tempo de anestesia total;
2.
Proceder a anestesia;
3.
Posicionar o animal em decúbito dorsal;
4.
Fazer a incisão na pele, na linha média ventral, desde a cicatriz umbilical até a
margem do púbis (porém em caso de útero aumentado uma incisão mais ampla
é necessária);
5.
Penetrar na cavidade abdominal através da linha alba;
6.
Localizar o corno uterino esquerdo,e com a utilização de um gancho de ováriosalpingo-histerectomia, ou com o dedo indicador – deslocar o omento e o
intestino no sentido cranial, para alcançar o útero;
7.
Aplicar uma pequena pinça hemostática de halsted através do ligamento
próprio, para auxiliar na retração caudal do ovário;
8.
Segurar o ovário entre o polegar e o dedo médio; posicionando o dedo indicador
o mais próximo possível do ligamento suspensor; aplica-se tensão neste
ligamento, girando o dedo indicador sentido caudal até que o mesmo se rompa;
9.
Identificar o complexo arteriovenoso ovariano (CAVO), e com o auxílio de uma
pinça (clampe) hemostática Rochester-Carmalt, faz-se uma abertura no
mesovário imediatamente caudal ao CAVO em uma área livre de vasos e
gordura;
10. Aplica-se três pinças hemostáticas Rochester-Carmalt e faz-se a transecção do
CAVO (a primeira é colocada imediatamente proximal ao ovário; a segunda
cerca de 5mm proximal a primeira; a terceira no ligamento próprio, entre o
ovário e o corno uterino);
11. Aplicar uma ligadura em circunferência frouxa ao redor da pinça proximal,
aperta-se a ligadura enquanto remove a pinça, assim ela se posicionará no sulco
de tecido formado pela pinça;
12. Aplicar outra ligadura, por transfixação, entre a ligadura em circunferência e a
extremidade seccionada do CAVO;
13. Prender o CAVO distal à ligadura, com uma pinça digital; remove-se a pinça do
meio e verifica-se se há hemorragia. Se houver, aplicar uma segunda ligadura
em circunferência no CAVO, proximal à primeira;
14. Seguir o corno uterino esquerdo distalmente até a bifurcação, localizar o corno
uterino direito seguindo até o CAVO direito;
15. Repetir o procedimento descrito de ligadura e transecção do CAVO direito;
16. Seccionar o ligamento largo;
17. Exteriorizar o corpo uterino e localizar a cérvix;
18. Seccionar o corpo uterino após a aplicação de duas ligaduras, removendo todo o
útero proximal à cérvix;
19. É importante verificar se há presença de hemorragia nos pedículos dos CAVOs e
no corpo uterino antes de proceder a sutura abdominal;
20. Suturar a incisão abdominal como se faz na rotina.
Figura 03: Esquematização de ovário-salpingo-histerectomia.
Fonte: FOSSUM, 2005.
Figura 04: Ovário-salpingo-histerectomia: A- isolando o ligamento suspensor; B- Fazendo abertura no
mesovário, caudal ao CAVO; C- Ligadura tripla no CAVO; D- Secção do CAVO entre ovário e pinça; E- Método
alternativo; F- Ligadura em circunferência ao redor da pinça proximal; G- Apertando o fio de sutura no sulco de
tecido; H e I- Ligadura por transfixação; J- Abertura no ligamento largo (próximo a cérvix, adjacente à veia e
artéria uterinas); K-Segurando o ligamento largo; L- Tracionando o ligamento largo no sentido cranial até que
ele e o ligamento redondo sejam liberados; M- Aplicando a 1ª ligadura por transfixação; N- aplicando a 2ª
ligadura por transfixação; O- Fazendo a transecção do corpo uterino.
Fonte: Sicard; Fingland, 2008.
Indicar a administração de antibiótico e analgésico após a cirurgia, caso se faça necessário. É
importante limitar a atividade física e observar se há ocorrência de complicações ou hemorragias na
ferida cirúrgica. Em casos de cadelas com piometra, é comum a ocorrência de disfunção renal,
podendo apresentar azotemia, oligúria ou anúria, portanto deve-se monitorar a função renal e
manter a hidratação da paciente após a cirurgia. E É recomendada a diurese induzida com
administração intravenosa (IV) de fluido cristalóide por no mínimo 24 a 36h após a cirurgia. A
colocação de um cateter uretral auxilia a monitoração da produção urinária. A administração de
antibiótico de amplo espectro é fundamental em casos de piometra, para evitar o risco de toxemia
ou sepse, devendo ser aplicado durante a cirurgia e no pós-operatório (SICARD; FINGLAND, 2008).
Segundo Sicard; Fingland (2008), as complicações mais comuns que podem surgir no pósoperatório são:
Hemorragia: é a mais comum, principalmente em fêmeas que pesem mais de
25kg. Ocorre principalmente por erro de técnica, como por aperto insuficiente das
ligaduras, laceração do CAVO ao romper o ligamento suspensor, falha em ligar os
grandes vasos, laceração da artéria uterina (por tração excessiva do corpo uterino
e remoção prematura da pinça na ligadura). Pacientes com distúrbios de
coagulação (não tratados ou não identificados – ex: doença de Willebrand)
também podem apresentar hemorragia persistente. O risco de hemorragia pode
ser evitado através da aplicação da técnica corretamente, para isso é necessário
evitar sempre o excesso de confiança durante uma ovário-salpingo-histerectomia
de rotina.
Piometra de coto uterino: pode ocorrer quando não se remove uma porção de
corpo ou corno uterino e o animal apresenta alta concentração sérica de
progesterona, geralmente causada por tecido ovariano remanescente (causa
endógena) ou por administração de compostos a base de progesterona para
tratamento de dermatite (causa exógena).
Síndrome de tecido ovariano remanescente: causa cio recorrente e ocorre devido
à presença de tecido ovariano remanescente funcional. O tratamento se resume à
remoção do tecido ovariano remanescente. Caso não se consiga localizar o tecido
ovariano, localiza-se os dois ureteres e faça a ressecção dos pedículos de CAVO
bilaterais
remanescentes.
Recomenda-se
enviar o
tecido
para
exame
histopatológico.
Ligadura de ureter: mais provável
ocorrer quando a ovário-salpingo-
histerectomia está associada a hemorragia, piometra ou cesariana. Também pode
ocorrer quando a bexiga está distendida e o trígono e a junção ureterovesical
estão deslocados cranialmente. Esta complicação pode resultar em hidronefrose e
pielonefrite. Pode levar a realizar uma ureteronefrectomia. Para evitar que isto
ocorra, deve-se fazer uma aplicação cuidadosa de ligaduras no CAVO e no corpo
uterino.
Incontinência urinária: mais comum de ocorrer em fêmeas suscetíveis (são em
torno de 20% das fêmeas caninas), em razão de uma combinação de baixo teor de
estrógeno sistêmico e maior produção e secreção de FSH e LH. Nestes casos podese recomendar a administração cuidadosa de estrógenos exógenos ou αadrenérgicos. Algumas causas estruturais também podem estar envolvidas, como
aderência ou granuloma de coto uterino (compromete a função do esfíncter da
bexiga, ou uma condição mais rara que é a fístula vaginureteral decorrente de
ligadura de vagina e ureter.
Fístula e granuloma: pode ocorrer o desenvolvimento de fístula sublombar em
fêmeas caninas castradas, quando se utiliza fio de sutura não absorvível de
multifilamentos, como caprolactama polimerizada contaminada, para ligadura de
CAVO ou corpo uterino. O tratamento envolve celiotomia exploratória e remoção
dos fios de sutura.
Ganho de peso corporal: muitas fêmeas demonstram ganho de peso após a
ovário-salpingo-histerectomia e a causa disto é pouco compreendida.
Síndrome eunucóide: rara complicação identificada em cadelas de trabalho, após
ovário-salpingo-histerectomia, que envolve sintomas como menor grau de
agressividade, perda de interesse pelo trabalho e menor resistência.
Complicações relacionadas à celiotomia: automutilação da ferida cirúrgica;
formação de seroma; deiscência de sutura; esquecimento de compressas de gaze
na cavidade abdominal; laceração de baço ou bexiga.
3 CASO CLÍNICO
A paciente, da espécie canis familiaris ,SRD, de aproximadamente seis anos pesando 5.500kg,
porte pequeno e pelagem branca chegou à clínica para uma consulta dia 30 de outubro 2006.
Durante a anamnese, a ficou constatado que o animal havia acasalado em janeiro, tendo o coito
bruscamente interrompido no final ao jogarem água nos cães, apos nove meses não apresentava
sintoma de prenhez. Porém, nas últimas semanas a proprietária observou que o abdome da cadela
crescia rapidamente.
Durante o exame clinico foi observado abdome estava bastante distendido (Figuras 05 e 06),
temperatura corpórea normal, mucosas normocoradas e o tempo de perfusão normal. A cadela
mostrava cansaço ao se deslocar e visível desconforto com o volume abdominal, porém com apetite
normal.
Figura 05: Paciente demonstrando distensão do abdome.
Fonte: Própria autoria.
Figura 06: Paciente demonstrando distensão do abdome.
Fonte: Própria autoria.
Solicitado exame ultrassonográfico (Figura 07), onde ficou evidente que a dilatação uterina
era causada pela presença de massas em seu interior,sendo recomendada a laparotomia
exploratória.
Figura 07: Imagem utrassonográfica identificando a presença de
massas no útero.
Fonte: Própria autoria.
Laparotomizada no dia 09 de novembro de 2006, sob anestesia inalatória e epidural. o útero
apresentava-se distendido , com torção do corpo uterino e várias aderências (Figura 08 a13).
Figura 08: Início da cirurgia, exteriorização do corno uterino dilatado.
Fonte: Própria autoria.
Figura 09: Inicio da exteriorização de ambos os cornos uterinos.
Fonte: Própria autoria.
Figura 10: Exteriorização de todo o útero (observa-se várias aderências - setas).
Fonte: Própria autoria.
Figura 11: Torção uterina no corpo uterino (seta preta), próximo a cérvix (seta
azul).
Fonte: Própria autoria.
Figura 12: Visualização de todo útero exteriorizado, com a torção.
Fonte: Própria autoria.
Figura 13: Observação de várias aderências.
Fonte: Própria autoria.
Foi feita a ovário-salpingo-histerectomia (Figura 14).
Figura 14: Identificando o ovário e preparando a ligadura.
Fonte: Própria autoria.
Comparando-se o peso corpóreo no pré-operatório com o volume e o peso do útero
(2,500kg), após a cirurgia (Figura 15), deduz-se que o animal perdeu cerca de 45% do seu peso
corporal (Figura 16) o que indica uma incrível adaptabilidade do organismo.
Figura 15: O útero com seu conteúdo pesava 2,500 kg.
Fonte: Própria autoria.
Figura 16: Término da cirurgia.
Fonte: Própria autoria.
O útero continha muito líquido inflamatório e fetos macerados (ossos) (Figuras 17 a 19).
Figura 17: Exposição do conteúdo uterino.
Fonte: Própria autoria.
Figura 18: Conteúdo uterino – presença de fetos macerados (ossos).
Fonte: Própria autoria.
Figura 19: Conteúdo uterino – presença de fetos macerados (ossos).
Fonte: Própria autoria.
A cirurgia levou cerca de 2 horas, tendo se iniciado com uma incisão pré-retroumbilical na
linha media, seccionando se a linha alba para acessar a cavidade abdominal. Foi feita a ováriosalpingo-histerectomia, as ligaduras foram feitas com fio de algodão e as camadas muscular,
subcutânea e pele com pontos simples, separados. As aderências foram desfeitas através de divulsão
com tesoura romba.
O pós-operatório se deu na clínica com analgesia (cloridrato de tramadol), antibioticoterapia
(cefalexina) e reposição da volemia com soro ringer lactato. A cadela demonstrou ótima
recuperação.
4 DISCUSSÃO
Os autores Linde-Forsberg; Eneroth (2004), Nelson; Couto (2006), Sorribas (2006) e Wykes;
Olson (1996) definem a torção uterina como uma condição aguda, rara em cadelas e gatas, e que traz
riscos a vida, geralmente estando relacionada com o útero gravídico próximo ao final da gestação,
onde um ou ambos os cornos uterinos podem rotacionar ao longo do eixo longitudinal ou em torno
do outro corno, ocorrendo mais frequentemente em fêmeas agitadas e saltadoras. No caso clínico
estudado neste trabalho a rotação uterina ocorreu no corpo uterino, próximo à cérvix, e não nos
cornos uterinos, como é mais comumente relatado na literatura. A fêmea em estado de prenhes,
seus fetos estavam macerados, não sendo possível identificar há quanto tempo havia ocorrido a
torção.
Wykes; Olson (1996) afirmam que as principais causas de torção de útero estão relacionadas
com movimentos fetais ativos, contração uterina prematura, anormalidades do útero, estiramento
do ligamento ovariano próprio e excessiva atividade da fêmea no final da gestação. No caso do
presente estudo, não foi possível identificar o que causou a torção, porém é possível que se encaixe
no que relatam os autores, que tenha ocorrido no final da gestação, visto que os fetos macerados já
deviam estar bem formados antes de terem seu desenvolvimento interrompido, a deduzir pelo
tamanho de seus ossos, presentes no lúmen uterino. Mas também é possível que tenha ocorrido no
início da gestação, visto que o local onde ocorreu a torção foi próximo a cérvix, não interrompendo o
fluxo sanguíneo para os fetos, porém impedindo o nascimento.
Martins et al. (2007) e Sampaio et al. (2002) citam que os vasos do mesovário e mesométrio
ipsilaterais à torção sofrem colapso o que dá origem à lesão isquêmica da parede uterina e isso
ocorre principalmente quando a torção se dá nos cornos uterinos, pois a irrigação sanguínea
proveniente das artérias e veias que seguem por seus ligamentos fica prejudicada. Porém, neste
caso, não constatou-se isquemia no tecido uterino, visto que os vasos sanguíneos citados não
sofreram torção.
Ainda segundo Martins et al. (2007) e Sampaio et al. (2002), as torções uterinas podem ser
de diferentes graus e podem predispor um parto distócico ou ser consequência de um. Pelos dados
colhidos supomos que a torção ocorreu no corpo uterino, o que tanto pode ter sido no início da
gestação, neste caso sendo motivo de parto distócico, impedido a passagem dos fetos, ou pode ter
ocorrido no final da gestação em consequência da distocia.
De acordo com as publicações de Grooters (1998) e Sorribas (2006), nem sempre há sinais
clínicos aparentes, Quando há
estes são inespecíficos, incluindo distensão abdominal, dor
abdominal, descarga vaginal hemorrágica, pulso fraco, palidez das mucosas, rápida diminuição na
temperatura corporal e massa abdominal dura à palpação. No nosso estudo, a paciente apenas
apresentava distensão abdominal, incômodo por ela e consequente intolerância ao exercício.
Wykes; Olson (1996) lembram que pela torção uterina não oferecer sintomas específicos e a
ultrassonografia não fornecer exatidão sobre a patologia, o diagnóstico é frequentemente
estabelecido após
a laparotomia exploratória, no concordamos plenamente . Os sintomas
demonstrados pela paciente estavam relacionados a distensão abdominal, enquanto a
ultrassonografia demonstrou a presença de massas no lúmen uterino.
Os autores Bojrab (1996), Fossum (2001), Grooters (1998) e Sorribas (2006) afirmam que o
tratamento da torção uterina é a ovário-salpingo-histerectomia, pois o tecido uterino fica isquêmico
e geralmente se encontra desvitalizado. No caso clínico citado o tecido uterino encontrava-se
normal, sem áreas isquêmicas, visto que a torção ocorreu no corpo do útero, não causando grandes
prejuízos a vascularização.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A torção uterina é uma condição rara em cadelas, de difícil diagnóstico clínico, sendo
comumente confirmado através de laparotomia exploratória. Geralmente ocorre em úteros
gravídicos ou em casos de piometra ou hematometra, associados à intensa movimentação da fêmea,
que faz com que o útero gire em torno do se próprio eixo, sendo mais comum em um ou ambos os
cornos uterinos.
Existem raças mais propensas a ocorrências de distocias durante a gestação, e a distocia é
uma das causas que leva a torção do útero, sendo, portanto, importante suspeitar desta ocorrência
sempre que atender um caso de parto distócico.
Nunca deve-se usar ocitocina em fêmeas com parto distócico, pois se houver torção pode
levar a ruptura do útero, agravando ainda mais o quadro clínico e pondo em risco a vida da cadela.
O caso apresentado difere do que é citado na literatura consultada devido a torção ter
ocorrido no corpo uterino, fato não encontrado registrado na literatura consultada e que resultou
em quadro não tão agudo quanto normalmente seria o de uma torção uterina, visto que, por não
causar isquemia, não desenvolveu maiores problemas sistêmicos a paciente.
Com isso, desenvolve-se a suspeita de que a torção possa ter ocorrido logo após a cópula,
que foi interrompida de forma brusca, o que pode ter levado a ocorrência da torção no corpo do
útero, o que permitiu que a gestação ocorresse normalmente, porém impediu o nascimento dos
filhotes, levando os fetos a serem macerados no útero e com isso se desenvolvido o quadro de
distensão abdominal, que levou a proprietária a encaminhar a cadela à clínica veterinária.
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