aspectos na formação do caráter segundo aristóteles

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ASPECTOS NA FORMAÇÃO DO CARÁTER SEGUNDO ARISTÓTELES
Gilberto Carlos Schimanski (UNICENTRO)
Ruth Rieth Lenhoardt (Orientadora) – Dep. de Filosofia/UNICENTRO
e-mail: [email protected]
Palavras-chave: Aristóteles, ética, caráter.
Resumo: O presente trabalho fundamenta-se a partir do Projeto de Pesquisa
elaborado com o intuito de investigar os aspectos da formação do caráter na
pessoa humana segundo o pensamento ético de Aristóteles, tendo por base a
obra Ética a Nicômaco. O problema a ser tratado tem em seu bojo a
investigação da maneira como se constitui a formação do caráter na pessoa e
os princípios e fatores determinantes que culminarão no modo de agir de cada
um.
Introdução: Busca-se pontuar sob dois aspectos distintos, a saber: 1) A
educação do homem grego na visão de Aristóteles; 2) O hábito enquanto fator
determinante da ação. Todos os gregos tiveram em Homero o ideal de
educador, que, em suas obras, transmitia um modelo, baseado nos heróis
épicos e que de certo modo distava da sociedade do momento. W. Jaeger
descreve este mundo grego como sendo de uma classe, a nobreza,
caracterizada pelas linhagens, seus antepassados são de essência divina, o
que lhes dá direitos exclusivos sobre os demais, por exemplo: a posse da
terra; o fazer a justiça; o fazer a guerra. Porém a supremacia aristocrática,
assim entendida, se desenvolve mediante uma formação (paidéia), que
contempla disciplina educativa, muito rigorosa, em que a criança e o jovem
interiorizam uma norma coletiva, considerada o ideal desta classe. Nesse
sentido, só o nobre é digno de formação. Como conseqüência, o modo de
sentir, pensar e agir assemelham-se aos de um cavaleiro, exaltando a coragem
e a honra e, assim, o guerreiro poderia tornar-se modelo digno de ser imitado
pelas gerações futuras. Desta tradição, Aristóteles reterá a importância da
educação na formação do homem; a transcendência do ato sobre os costumes
e a visibilidade da ação moral. A doutrina ética de Aristóteles centraliza a
atenção e a preocupação de uma filosofia direcionada para uma atuação
prático-social, em outras palavras a filosofia opera não como simples teoria,
mas como ciência voltada para a práxis. Nessa perspectiva, indivíduo e
coletividade não são extremos ou pólos antagônicos e repulsivos, mas corpos
complementares e reciprocamente dependentes na realização dos magnos
valores do indivíduo e da coletividade. Segundo Aristóteles, as coisas que se
tem de aprender, aprende-se fazendo, neste sentido a presença de um
educador é imprescindível, a fim de formar lenta e progressivamente o
indivíduo, orientando-o segundo princípios éticos presentes no meio em que
vive. Outro ponto a destacar, é o fato de que há uma propensão inata no
indivíduo que o leva a imitar o outro em suas ações, imitar é natural aos
homens, é esta propensão inata presente na criança, que o educador deve
explorar, utilizando o prazer como leme, neste sentido, a cultura moral,
segundo Aristóteles, se faz por mimetismo, ou seja, do exterior para o interior.
Nota-se, neste contexto, a existência de um ambiente propício para formar
paulatinamente o caráter do indivíduo, considerando a educação segundo o
costume latente. Destacam-se ainda, duas formas de repetição, uma própria do
hábito, outra fruto da experiência, no entanto atuam de maneira
interdependentes, de modo que uma dá sustentação à outra e vice-versa.
Assim, hábito e experiência forjam o indivíduo dentro de padrões préestabelecidos pela cultura dominante.
De outro modo, as disposições morais nascem a partir de atividades
semelhantes a elas, ou seja, a qualidade das ações está intrinsecamente ligada
às atividades, o fato de uma ação ser desta ou daquela maneira, será
determinante para que o indivíduo torne-se desta ou daquela forma, por esta
razão deve-se atentar para a qualidade dos atos praticados, pois as
disposições morais correspondem às diferenças entre as atividades e,
segundo Aristóteles, não será desprezível a diferença se, desde a infância,
procede-se desta ou daquela maneira, ao contrário será decisivo para a
formação do indivíduo. Aristóteles substitui a idéia das tendências inatas pela
dos hábitos, ou seja, reconhece na ação humana caráter e eficácia
eminentemente positivos e ativos, que consistem precisamente na produção
dos hábitos que plasmam o próprio homem. Em certo sentido, o homem tornase responsável por si mesmo, ou seja, responsável pelo que será. Do próprio
homem depende ser bom ou mau. Em conclusão, ele é pai e filho ao mesmo
tempo de suas ações, as quais, depois de haver chegado a gerar hábitos, se
convertem em manifestações ou indícios deles, em outras palavras o homem
gera o homem, e igualmente por seus atos se gera também a si mesmo,
virtuoso ou viciado.
Materiais e métodos: A presente pesquisa tem por texto base a obra Ética a
Nicômaco, considerado o mais completo e de mais profundidade no tocante ao
estudo dos aspectos da ação humana, no pensamento aristotélico. Textos de
comentadores e autores voltados para o assunto em questão são utilizados
como apoio às leituras e reflexões, considerando aqueles mais relevantes na
construção do pensamento ético de Aristóteles. O método utilizado é a
pesquisa bibliográfica, centrada nas questões éticas.
Resultados e discussões: A princípio, as questões éticas, segundo Aristóteles,
dizem respeito ao homem e sua ação no mundo, esta ação tem origem
determinada, ou em outro sentido, podem ser explicadas dentro do contexto
em que está inserido o indivíduo. Existem fatores que são determinantes no
modo de agir, não se trata de mero condicionamento, mas antes um
assentimento por parte da razão humana que, primeiramente, consente com o
que lhe é proposto, e em conseqüência manifesta-se por meio da ação,
imprimindo seu caráter no meio coletivo. Apesar das inúmeras situações
internas e externas, a saber, os sentimentos, as paixões, a imposição forçada,
o medo, entre outros, pode o homem por meio do uso da razão, desvencilharse destas situações, agindo de modo consciente e com responsabilidade.
Nesse sentido, o homem é o princípio e autor de seus atos. Por tratar-se de um
assunto de grande envergadura filosófica, de modo nenhum pretende-se
esgotar as discussões em torno deste, antes procura-se novos elementos que
possam enriquecer a pesquisa, tornando-a profícua para o fim que se almeja.
Conclusões: Existe um princípio presente na ação que está sutilmente
escondido em cada pessoa, a ponto de determinar o que cada um faz. Trata-se
de um acostumar-se doce e progressivo e não uma repetição mecânica e
forçada. Considera-se os atos segundo os hábitos, ou seja, para cada ato
corresponde um hábito. Neste sentido, o caráter não tem apenas a função de
permitir ao indivíduo agir coerente e razoavelmente, é também sua base de
ajustamento à sociedade, o modo pelo qual será conhecido. O projeto de
pesquisa, ainda inconcluso, tende às águas mais profundas do pensamento
aristotélico, amparado na leitura de comentadores que, lançando um olhar a
partir do contexto da Grécia antiga, procuram desvelar o que este grande
filósofo pensou, adiante do seu tempo.
Referências:
Abbagnano, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000
Aristóteles. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2004.
Bittar, Eduardo C. B. Curso de Filosofia Aristotélica: leitura e interpretação do
pensamento Aristotélico. São Paulo: Manole, 2003.
Philippe, Marie-Dominique. Introdução à Filosofia de Aristóteles. São Paulo:
Paulus, 2002.
Reale, Giovanni. História da Filosofia. 8ª ed. São Paulo: Paulus, 2003.
Vergnières, Solange. Ética e Política em Aristóteles, phisys, ethos, nomos. São
Paulo: Paulus, 1998.
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