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TÍTULO: O IMPACTO DOS NBOMES, UMA NOVA CLASSE DE FENILETILAMINAS SUBSTITUÍDAS:
UMA REVISÃO DA LITERATURA
CATEGORIA: CONCLUÍDO
ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE
SUBÁREA: BIOMEDICINA
INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS
AUTOR(ES): DIEGO D'ALVIA
ORIENTADOR(ES): BIANCA CESTARI ZYCHAR
Resumo
NBOMes são potentes drogas alucinogênicas que têm, nos últimos anos, ganhado
prominência no mercado de substâncias ilícitas, frequentemente confundidas com a
dietilamida do ácido lisérgico (LSD) por sua apresentação e efeitos similares. Diversas
fatalidades foram associadas à casos de intoxicação por NBOMes, que apresentam
sintomas serotoninérgicos e simpatomiméticos como taquicardia, hipertensão,
confusão, agitação, hipertermia, ansiedade e convulsões. Neste trabalho foi revisado
conhecimentos farmacológicos e toxicológicos sobre esta classe de drogas, relatos de
intoxicações fatais e não-fatais e os métodos comumente usados no seu tratamento
clínico.
Palavras-chave:
alucinogênicos
NBOMe,
feniletilaminas,
drogas
de
abuso,
intoxicação,
1. Introdução
Drogas de abuso são entorpecentes—substâncias capazes de induzir
mudanças físicas ou psíquicas—que têm o potencial para o abuso, sendo elas ilícitas
ou não. No mundo, as drogas sociais mais usadas são o tabaco e o álcool, que de
acordo com a organização mundial da saúde (OMS), sendo atribuídas a estas 6 e 3.3
milhões de mortes por ano, respectivamente[1-2]. Já drogas ilícitas representam um
número menor, mas de suma importância em um mundo onde o seu uso é
frequentemente estigmatizado. O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime
estima que em 2014, cerca de 250 milhões de pessoas na faixa etária de 15 a 64 anos
usaram alguma droga ilícita, 29 milhões destes usuários sofrem de algum transtorno
mental relacionado ao uso de substâncias psicoativas, e que aproximadamente
207.400 mortes podem ser atribuídas ao uso destas drogas [3].
Novas
classes
de
drogas,
como
NBOMes,
potentes
substâncias
alucinogênicas, são capazes de alterar a cognição e percepção do usuário. Nos
últimos anos, NBOMes têm ganhado prominência entre usuários de psicodélicos, que
muitas vezes são levados a acreditar que estão tomando o alucinogênico LSD
(dietilamida do ácido lisérgico), e o número de casos de intoxicação e fatalidades
atribuídas ao abuso desta nova classe de drogas tem aumentado cada vez mais [4-6].
É imprescindível que o impacto da emergente presença dos NBOMes entre usuários
de drogas ilícitas e sua relevância para a saúde pública não sejam ignorados.
2. Objetivo
O presente trabalho de revisão da literatura teve como objetivo demonstrar a
importância da disseminação do conhecimento sobre esta nova classe de drogas,
NBOMes, com o intuito conscientizar usuários, otimizar diagnóstico e tratamento em
casos de intoxicação e diminuir o número fatalidades associadas ao seu abuso.
3. Metodologia
Foi realizada a revisão sistemática da bibliografia de artigos científicos nos
bancos de dados do PubMed, Google Academics, Scielo e Lilacs, e dados publicados
pela OMS e a Organização das Nações Unidas (ONU). Para a referida revisão foi
utilizado os seguintes descritores no idioma português: NBOMe, feniletilaminas,
drogas de abuso, intoxicação, alucinogênicos; em inglês: phenethylamines, substance
abuse, intoxication, hallucinogens. Os critérios utilizados para seleção dos artigos
foram: idiomas português e inglês; artigos completos; sem um limite temporal, mas
priorizando-se estudos dos últimos 8 (oito) anos.
4. Desenvolvimento
Criados em laboratórios acadêmicos como potentes agonistas de receptores
de serotonina A2, NBOMes são uma nova classe de substâncias psicoativas, que
desde 2010 tem ganhado prominência no mercado de drogas sociais como uma
potente alternativa à outras drogas aluncinogênicas como a dietilamida do ácido
lisérgico (LSD). Seus efeitos são caracterizados por sintomas de euforia, alucinações,
sensações corporais anormais, alterações emocionais e de consciência [7-8].
Os NBOMes são comumente comercializados de forma similar ao LSD, sendo
apresentados em papeis mata-borrão usados para absorver a substância diluída em
um solvente, cortados e vendidos em pequenos quadrados que representam doses
individuais (Figura 1), a usadas de forma bucal e sublingual. Existe grande
variabilidade entre cada dose; números relatados variam entre 500 e 1900 μg [7, 9] .
Figura 1. Folhas de papel mata-borrão contendo uma mistura de 25I-NBOMe, 25C-NBOMe e
25H-NBOMe. A primeira, à esquerda, tem dimensões de 19 x 19 cm e consiste em 900 doses,
enquanto a segunda tem dimensões de 6,5 x 6,5 cm contendo 100 doses. A da direita é um
fragmento de uma folha com um tamanho original de 19 x 19 com 900 doses. Cada uma tem
0,65 x 0,65 cm[7].
NBOMes são derivados da família 2C de feniletilaminas (Figura 2), formados
por substituições dos grupos funcionais metoxi nas posições 2 e 5, chamados assim
de feniletilaminas substituídas (Figura 3).
Figura 2. Estruturas químicas da feniletilamina, 2C-feniletilamina, 2 C-C e 25C-NBOMe[7]
Figura 3. Estruturas químicas do 25B-NBOMe e 25I-NBOMe[10]
NBOMes são potentes agonistas do receptor 5-HTA2 com alta seletividade 5-
HTA2/5-HTA1 e afinidade por receptores adrenérgicos α1 e TAAR1
[9].
A
psicofarmacologia de algumas substâncias psicodélicas como o LSD é atribuído à
ação agonista no referido receptor 5-HTA2, e o mesmo foi ligado a comportamentos
complexos como processos cognitivos e memória funcional, sendo considerado um
fator de importância em patologias mentais como esquizofrenia e depressão. [11]
Casos de intoxicação por NBOMes apresentam sintomas serotoninérgicos e
simpatomiméticos, como midríase, taquicardia, palpitações, ansiedade, confusão,
agitação, agressão, hipertensão, alucinações, hipertermia, delírio, desorientação e
convulsões [7].
Relatos de intoxicações por NBOMes geralmente envolvem pacientes do sexo
masculino, entre 14 e 29 anos, com apresentações clínicas similares à síndrome de
serotonina; comportamento bizarro, agitação severa e convulsões durando até 3 dias
[12].
Em um caso citado, o paciente demonstrou agitação, agressão, convulsões,
auto-mutilação, taquicardia, hipertensão, taquipnea, desaturação de oxigênio e
pirexia. Investigações clínicas reveleram que o mesmo sofria de acidose respiratória
e metabólica, níveis elevados de creatinofosfoquinase e alanina aminostransferase, e
função renal debilitada [12].
Fatalidades por abuso de NBOMes foram associadas à falhas orgânicas
sistêmicas subsequentes a paradas cardiopulmonares
[10,13].
Outro caso citado
descreve uma fatalidade por afogamento, provavelmente como consequência de
delírio ou confusão resultante dos efeitos psicofarmacológicos dos NBOMes [7].
5. Resultados
Foram selecionados para este trabalho 15 artigos, no idioma inglês, que
descreveram a relevância dos NBOMes e outras drogas de abuso à saúde pública e
relataram casos de intoxicação por esta classe de feniletilaminas substituídados,
através de estudos de casos e dados fornecidos pelo National Poison Data System,
sistema nacional de coleta de dados sobre intoxicações nos Estados Unidos.
Em um estudo observando 341 casos clínicos entre 1 de setembro de 2012 e
30 de setembro de 2014, foi citado 148 intoxicações por NBOMe e 193 intoxicações
por 2C nos Estados Unidos. A maioria dos casos envolviam homens (73,9%); a idade
mediana era de 18 anos. Efeitos clínicos similares foram relatados entre os dois
grupos de substâncias, incluindo taquicardia (45,2%), agitação/irritabilidade (44,3%),
alucinação/desilusão (32,0%), confusão (19,1%) e hipertensão (18,5%). Houve
maiores incidências de alucinação/desilusão, convulsão de episódio único e
administração de benzodiazepínicos entre os casos de intoxicação por NBOMe
(40,5%, 8,8% e 50,0% respectivamente) do que entre os casos de intoxicação por 2C
(25,4%, 3,1% e 32,6% respectivamente), possivelmente demonstrando os superiores
efeitos 5HTA2 agonistas dos NBOMes. Houve fatalidades em 2,3% dos casos, sem
notável diferença entre os dois grupos de substâncias analisadas (Tabela 1)[14].
Tabela 1. Efeitos clínicos comuns em casos de intoxicação por NBOMe e 2C relatados entre setembro
de 2012 e setembro de 2014 ao National Poison Data System (NPDS, EUA)[14]
Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados do NPDS, os quais estão sujeitos a atualização.
O National Poison Data System é um sistema de coleta de dados sobre
intoxicações nos Estados Unidos, que faz parte da AAPCC, American Association of
Poison Control Centers ou Associação Americana de Centros de Controle de
Intoxicação, uma rede de instalações médicas que têm como principal função ajudar
e informar a população Americana em casos de intoxicação. Todos os centros da
AAPCC seguem um sistema padrão de coleta de dados, que são transmitidos para o
NDPS a cada 8 minutos.
No Brasil, o Departamento de Informática do SUS
(DATASUS) e o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) coletam
apenas dados generalizados sobre intoxicações exógenas, e sistemas como o NDPS
têm grande valor cientifico ao fornecer dados específicos, sobre o tema abordado,
desta forma utilizamos esta ferramenta para colocar em discussão a distribuição de
uma nova classe de drogas que pode estar marcando sua presença em nosso país.
Na Tabela 2 é possível observar os principais tratamentos comuns em casos
de intoxicação por NBOMes e 2C relatados entre setembro de 2012 e setembro de
2014 ao National Poison Data System (NPDS, EUA).
Tabela 2. Tratamentos comuns em casos de intoxicação por NBOMes e 2C relatados entre setembro
de 2012 e setembro de 2014 ao National Poison Data System (NPDS, EUA). Benzodiazepínicos como
midazolam, administrados por via intravenosa, são o tratamento mais comum em casos de intoxicação
por NBOMe [13] .
Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados do DATASUS, os quais estão sujeitos a atualização.
Em outros casos, foram-se usados outros sedativos como opióides,
antipsicóticos,
bloqueadores neuromusculares
e
anestésicos como fentanil,
haloperidol, succinilcolinca e propofol na tentativa de controlar o paciente e evitar
traumatismo [4].
Em outra notificação, um homem americano de 23 anos tornou-se agitado e
combativo ao ser detido pela polícia militar. O indivíduo continuou resistindo enquanto
se encontrava algemado e forçado ao chão, apesar do uso de spray de pimenta e
taser pelos policiais. Em custódia dos policiais, o indivíduo começou a sofrer
dificuldades
respiratórias,
necessitando
procedimentos
de
reanimação
cardiopulmonar. Ele foi encaminhado para um hospital onde sua morte foi
pronunciada. Ao examinar o indivíduo e os resultados toxicológicos, o médico legista
declarou a causa de morte como intoxicação por 25C-NBOMe temporariamente
associada a delírio agitado e detenção forçada [15].
Já Rose (2013, p. 53) relata o caso de homem de 18 anos que foi levado ao
pronto-socorro depois de pular de um carro em movimento, onde demonstrou agitação
e alucinações severas. Ele apresentava taquicardia (150-160 bpm) e hipertensão
(150-170 mm Hg / 110 mg Hg), e necessitou-se de detenção física e tratamento por
administração intravenosa de lorazepam. Seus sintomas melhoraram gradualmente
dentro de 48 horas, mas ele continuou tendo episódios de agressividade. Exames
toxicológicos confirmaram a presença de 25I-NBOMe no sangue coletado do paciente
[12].
Os dados coletados demonstram os múltiplos efeitos deletérios dos NBOMes, e
ressaltam a importância de adotar medidas públicas para conter a proliferação destas
emergentes drogas e reduzir o número de fatalidades associadas ao seu uso.
6. Considerações finais
Desde 2010, a venda e o uso de NBOMes têm aumentado. Esta é uma classe
de drogas pouco conhecida, sem testes clínicos, sem DL50 comprovada, e com dados
limitados sobre seus efeitos farmacológicos. Nestes últimos anos foram relatadas
diversas fatalidades por seu abuso, e devido ao pequeno número de estudos feitos
sobre a relevância toxicológica destas drogas, há uma falta de conhecimento clínico
de como identificar o seu abuso e tratar os sintomas do mesmo. A disseminação de
informação sobre estas e outras novas drogas é de grande relevância para a saúde
pública, particularmente no Brasil onde as feniletilaminas têm ganhado espaço entre
usuários de drogas alucinogênicas e o número de estudos sobre o seu impacto é
profundamente limitado. Prezando a importância desta difusão de conhecimento, vale
também ressaltar a necessidade de uma ferramenta atualizada do SINAN e
DATASUS, bem como CEATOX (Centro de Assistência Toxicológica), para identificar
e notificar casos de intoxicações por substâncias emergentes entre usuários de
drogas sociais, uma vez que estas estratégias epidemiológicas devem e podem
nortear os serviços públicos de saúde bem como as políticas públicas de saúde a
conter a propagação das mesmas.
7. Fontes consultadas
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http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs339/en/
2. World Health Organization. Alcohol Fact Sheet, 2015. Disponível em:
http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs349/en/
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26318099
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em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26378133
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Other Dimethoxyphenyl-N-[(2-Methoxyphenyl) Methyl]Ethanamine Derivatives
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26378135
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