Dicas de Português – Zé Laranja O "POBREMA" É NOSSO Segundo Eliana Marquez Fonseca Fernandes, professora de Língua Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás, em se tratando de linguagem, não se pode falar em erro ou acerto, mas desvios à norma padrão. "O importante é estabelecer a comunicação. Para isso, usamos a língua em vários níveis, desde o supercuidado ou formal até o não‐cuidado ou não‐formal." "A gramática tradicional diz que, quando se fala 'nóis vai, nóis foi', isso não é português. Mas é sim. Em outro nível. Estudos mais recentes na área dizem que tais formas de expressão são corretas. Censurar ou debochar de quem faz uso delas é discriminação linguística." Para a professora, o domínio da norma culta não deve ser exigido da população de modo geral, principalmente de pessoas que têm baixo grau de escolaridade. "Quem tem obrigação de saber o português formal, falar e escrever de acordo com as regras são os professores, os jornalistas, os acadêmicos", diz. ("Diário da Manhã", Goiânia, 05.05.04. Adaptado.) 01‐ O texto expõe pontos de vista diferentes sobre a concepção de língua e de seu uso. a) Explique o ponto de vista da professora Eliana e da gramática tradicional, conforme apresentados. b) A professora Eliana afirma que censurar ou debochar de quem faz uso de formas não‐ padrão é discriminação linguística. Todavia, em sua fala, pode‐se entrever certa discriminação linguística. Transcreva o trecho em que isso ocorre e explique por quê. 02‐ O texto discute a questão da língua em sua função comunicativa, contrapondo usos mais informais a usos formais. A partir dessa informação, observe a frase a seguir: "A gente sabe que tem gente que escorrega no português". a) Indique em que nível de linguagem está a frase acima e justifique a sua resposta. b) Reescreva a frase em duas versões: uma informal e outra formal. 03‐ Observe a tira abaixo: Usando uma expressão idiomática, em seu sentido consagrado, pode‐se dizer que o personagem Dogberto tem a atitude de quem pretende vender gato por lebre. a) Explique qual a estratégia utilizada por ele, e que tipo de comportamento profissional ela reflete. b) Qual a figura de linguagem predominante nos comentários de Dogberto? 04‐ Quando uma sentença é estruturalmente ambígua, isto é, pode ser interpretada de duas maneiras diferentes, observa‐se a presença de elementos contextuais que favorecem uma das interpretações. Muitas vezes, porém, obtém‐se efeito humorístico, fazendo com que a sentença seja interpretada à luz de um contexto menos provável. É o que ocorre na tirinha a seguir. Interprete a tirinha com atenção e responda aos itens seguintes: a) Transcreva o segmento da primeira fala que a torna ambígua: b) Reescreva a primeira fala, inserindo‐lhe apenas uma forma verbal, de modo que a única interpretação possível seja a revelada na fala do 2º balão. c) Reescreva a primeira fala, inserindo‐lhe apenas uma forma verbal, de modo que a única interpretação possível seja a revelada na fala do 3º balão. 05‐ "Li por aí [...] que estão usando umas bactérias especializadas para degradar o óleo derramado. Alguém descobriu, ou criou, já que hoje se criam coisas vivas, uma bactéria que adora petróleo. Solução ideal. Pegam‐se alguns tonéis cheios dessas bactérias, despejam‐nos (os tonéis, não nós; quem não gosta da língua vá se entender com Camões, não tenho nada com isso) nas águas da Baía de Guanabara e pronto, dentro em pouco não sobrará óleo nenhum." RIBEIRO, João Ubaldo. A realidade, essa desconhecida. "O Globo". Rio de Janeiro, 06 ago. 2000, c. 1, p. 7. Na passagem anterior, o autor se vale de um comentário ‐ que aparece entre parênteses ‐ para evitar uma possível dupla interpretação que seus leitores poderiam dar ao que ele escreveu. Responda aos itens a seguir: a) Qual é a palavra que tornou ambígua a sentença do autor? b) Quais são os sentidos que poderiam ser atribuídos à sentença, se não houvesse o comentário esclarecedor? c) Explique GRAMATICALMENTE por que se tornou ambígua a sentença do autor, levando‐o a desfazer a ambigüidade com o comentário entre parênteses. 06‐ Em seu livro, José W. Vesentini diz que "é difícil calcular com exatidão a extensão da Floresta Amazônica já derrubada para o aproveitamento da madeira ou plantação de capim para a pecuária extensiva. Alguns autores estimam em apenas 7 ou 8% da biomassa original, outros chegam até 30%; mas calcula‐se que a cada ano ocorra um desmatamento de, no mínimo, 3 milhões de hectares" ("Brasil ‐ Sociedade & Espaço." São Paulo: Ática, 1996). A charge abaixo, do cartunista Angeli, foi publicada na "Folha de S. Paulo", de 15 maio. 2000. Bastardo. 1 Designativo de filho que nasceu de pais não casados. 2 Degeneração da espécie a que pertence. 3 Que se tornou diferente do tipo ordinário ou primitivo. (Michaelis ‐ "Moderno dicionário da língua portuguesa") a) Identifique uma informação que seja comum ao texto de Vesentini e à charge de Angeli. b) Considerando as definições do dicionário e o título "Dia da Mãe Natureza"!, explique por que a personagem da charge se autointitula "bastardo". 07‐ Observe o anúncio abaixo: Explique qual o recurso de linguagem utilizado pelo estabelecimento para que o anúncio chamasse a atenção dos consumidores? 08‐ Observe a tira abaixo: Construa um parágrafo apresentando sua interpretação da tira, bem como os elementos verbais e/ou não‐verbais responsáveis pela elaboração de sua resposta. 09‐ Observe a charge abaixo: Qual a temática nela retratada? O que ela sugere? 10‐ Em matéria publicada na revista "Carta Capital", em 2 ago. 2000, o jornalista Carlos Leonam informava seus leitores sobre a divulgação, pela Internet, do interesse dos EUA em transformar o Pantanal e a Amazônia em "área de controle internacional". Atentando para o vocabulário, veja abaixo a manchete e a submanchete desse texto e, em seguida, responda às questões. a) Nas frases acima, quais são as expressões cujo sentido está relacionado às palavras "interesse" e "cobiça"? b) Conforme o uso cotidiano dessas expressões, o que é possível inferir acerca da opinião do autor sobre o assunto do texto? 11‐ Compare o provérbio "Por fora bela viola, por dentro pão bolorento" com a seguinte mensagem publicitária de um empreendimento imobiliário: Por fora as mais belas árvores. Por dentro a melhor planta. a) Os recursos sonoros utilizados no provérbio mantêm‐se na mensagem publicitária? Justifique sua resposta. b) Aponte o jogo de palavras que ocorre no texto publicitário, mas não no provérbio. 12‐ Conversa no ônibus Sentaram‐se lado a lado um jovem publicitário e um velhinho muito religioso. O rapaz falava animadamente sobre sua profissão, mas notou que o assunto não despertava o mesmo entusiasmo no parceiro. Justificou‐se, quase desafiando, com o velho chavão: — A propaganda é a alma do negócio. — Sem dúvida, respondeu o velhinho. Mas sou daqueles que acham que o sujeito dessa frase devia ser O NEGÓCIO. a) A palavra ALMA tem o mesmo sentido para ambas as personagens? Justifique. b) Seguindo a indicação do velhinho, redija a frase na versão que a ele pareceu mais coerente. 13‐ Leia o seguinte texto: Os irmãos Villas Bôas não conseguiram criar, como queriam, outros parques indígenas em outras áreas. Mas o que criaram dura até hoje, neste país juncado de ruínas novas. a) Identifique o recurso expressivo de natureza semântica presente na expressão "ruínas novas". b) Que prática brasileira é criticada no trecho "país juncado (= coberto) de ruínas novas"? 14‐ Às seis da tarde Às seis da tarde Agora as mulheres choravam às seis da tarde no banheiro. as mulheres regressam do trabalho Não choravam por isso o dia se põe ou por aquilo os filhos crescem choravam porque o pranto o fogo espera subia e elas não podem garganta acima não querem mesmo se os filhos cresciam chorar na condução. com boa saúde se havia comida no fogo e se o marido lhes dava do bom e do melhor choravam porque no céu além do basculante o dia se punha porque uma ânsia uma dor uma gastura era só o que sobrava dos seus sonhos. (Marina Colasanti – Gargantas abertas) Basculante = um tipo de janela. Gastura = inquietação nervosa, aflição, mal‐estar. a) O texto faz ver que mudanças históricas corridas na situação de vida das mulheres não alteraram substancialmente sua condição subjetiva. Concorda com essa afirmação? Justifique sucintamente. b) No poema, o emprego dos tempos do imperfeito e do presente do indicativo deixa claro que apenas um deles é capaz de indicar ações repetidas, durativas ou habituais. Concorda com essa afirmação? Justifique sucintamente. 15‐ Americanos e russos se unem para salvar baleias no Ártico. Eis um episódio de época, mostrado na TV, nos anos 80, com toda a sua marca mitológica. Um dos mais primitivos povos da terra, os esquimós, lança um apelo que mobiliza as potências rivais, com sua técnica, em favor dos animais ameaçados de extinção. O pacifismo e a ecologia encontraram por fim uma narrativa modelar, que curiosamente inverte os termos da cumplicidade original, quando os animais é que auxiliavam os homens a enfrentar os perigos da natureza. Paulo Neves, "Viagem, espera". a) Destaque do texto os segmentos que concretizam o sentido de pacifismo e o de ecologia. b) "(...) os animais é que auxiliavam os homens a enfrentar os perigos da natureza". Reescreva a frase acima, de modo que fique expressa a inversão dos termos da cumplicidade original, a que se refere o autor. GABARITOS 01‐ a) Para a professora Eliana, não se pode falar de erro ou de acerto, mas de desvio à norma padrão. Para a gramática tradicional, o erro não é considerado, ou seja, falar ou escrever errado não é português. b) O trecho em que ocorre discriminação linguística seria "Quem tem obrigação de saber o português formal ... são os professores, os jornalistas, os acadêmicos", pois indica que a professora (a) censura essas categorias profissionais, como se eles tivessem obrigação de conhecer e usar as regras gramaticais adequadamente. (b) menospreza aqueles que têm baixo grau de escolaridade, como se els não tivessem obrigação ou condição de falar português adequadamente. 02‐ a) O trecho é informal. Justificativa: uso de "a gente" em lugar do “nós”, do verbo "ter" no sentido de haver e da palavra "escorrega". b) Formal: "Nós sabemos que há pessoas que (as quais) cometem desvios relacionados à língua portuguesa". Informal: "A gente sabe que tem gente que escorrega no português". 03‐ a) A estratégia de Dogberto consiste em tentar converter as informações negativas sobre as condições do imóvel em aspectos aparentemente positivos, o que revela um comportamento desonesto e mentiroso, típico de quem pretende ‘vender gato por lebre’. b) A figura de linguagem predominante é o eufemismo. 04‐ a) “como o meu pai”. b) Sonho em ser um grande general, como o meu pai foi. c) Sonho em ser um grande general, como o meu pai sonhou. 05‐ a) A palavra é o pronome NÓS. b) 1º sentido: “despejam alguns tonéis cheios dessas bactérias” 2º sentido: "nós seríamos despejados nas águas" c) A sentença torna‐se ambígua por causa do pronome NOS. Nesse caso seu uso é adequado, pois o verbo despejar termina com som nasal e o pronome oblíquo ‘os’ recebe o fonema nasal /n/, mas provoca a confusão em relação ao pronome ‘nos’, referente a ‘nós’. 06‐ a) Trata‐se do mesmo assunto: o desmatamento inescrupuloso das florestas brasileiras. b) O personagem se autointitula "bastardo" por ser indiferente à situação da natureza, diferentemente de seus ancestrais que, como ‘filhos’ da natureza, a valorizavam e preservavam. 07‐ O autor explora a polissemia da expressão idiomática ‘saco cheio’, a fim de criar uma relação paradoxal com o trecho seguinte ‘E muito feliz’ e, assim, chamar a atenção do leitor. A visão negativa de ‘ficar farto’ logo é transformada na idéia positiva de ‘encher as sacolas’ com as ofertas do supermercado. 08‐ A tira mostra que seres humanos genéricos concentram‐se para tentar definir sua condição sexual, a fim de que possam fazer sexo. A fala dos personagens no último quadrinho sugere que quem só sentiu vontade ‘de tomar aspirina’, esquivando‐se da relação sexual, assumiu o papel de mulher, já que elas, notadamente, tem esse comportamento de não estarem sempre dispostas a fazer sexo, diferentemente dos homens. 09‐ O tema da charge é a ineficiência dos centros de recuperação (FEBEM) e detenção (cadeias) em tentar ressocializar os criminosos. Ela sugere que tais centros, em vez de recuperar esses infratores, permitem que eles, uma vez lá dentro, frequentem a ‘escola do crime’ e tornem‐se ainda mais nocivos e perigosos à sociedade. 10‐ a) ‐ interesse: "na mira dos gringos" ‐ cobiça: "olho grande" b) É possível inferir que o jornalista se preocupa com a informação veiculada pela Internet, e faz de seu texto um alerta aos brasileiros. É preciso que nós cuidemos da Amazônia, do contrário, os EUA podem ser o novo dono. 11‐ a) Não. As rimas internas toantes (fora/viola, dentro/bolorento) estão presentes só no provérbio. Também, o provérbio é formado por duas redondilhas maiores, o que não ocorre na mensagem publicitária. b) Há um jogo polissêmico de palavras apenas no texto publicitário: relação entre "árvore" (produto da natureza) e "planta" ( vegetal / projeto arquitetônico). 12‐ a) Sim. O sentido é o mesmo para as duas personagens. O significado de "alma" no contexto é "essência". Para o jovem, a propaganda é fundamental para que um negócio dê certo. Já para o velhinho, se não houvesse o negócio, a publicidade perderia sua função. b) O negócio é a alma da propaganda. 13‐ a) A expressão "ruínas novas" parece conter um paradoxo ‐ ou, em outros termos, parece confirmar um oxímoro . Ruínas, no texto, nos dá uma idéia de "antiguidade", velharia", que é o oposto do adjetivo nova. O oxímoro ocorre na relação contraditória entre palavras de sentido antitético ou conflitivo. Acontece, no entanto, que a expressão pode ser entendida de outra forma, literal, pois uma ruína pode ser recente, nova. b) No texto, há uma crítica à incúria (falta de cuidado; desleixo, negligência) brasileira, que produz uma falta de conservação tanto do patrimônio material do país quanto de suas instituições. 14‐ a) Sim, pois, embora a mulher tenha conseguido vários avanços ao longo dos tempos, a angústia e a frustração ainda existem, uma vez que essas conquistas lhe custaram alguns sacrifícios, como o acúmulo da função laboral com a doméstica, bem como o de não poder participar diretamente da criação de seus filhos. b) Não, a afirmação não se justifica, pois tanto os verbos no pretérito imperfeito como os no presente, no texto, são indicativos de ações repetidas e habituais, dando uma idéia de que a condição feminina, com relação ao que foi tratado no texto, não mudou significativamente do passado para o presente. 15‐ a) "Americanos e russos se unem para salvar baleias do Ártico". OU “...apelo que mobiliza as potências rivais (...) em favor dos animais ameaçados de extinção.” b) "Os homens é que auxiliam os animais a enfrentar os perigos da natureza".