Arribas do Douro Norte

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Arribas do Douro
um compêndio geológico
09
4|5 setembro
Percurso:
Vila Real – Mogadouro – Bemposta – Fermoselle
Picote – Santo Adrião – Miranda do Douro – Vila Real
Organização:
Elisa Preto, Artur Sá e Francisco Robles
“Lagoaça, 29 de Outubro de 1956.
O Doiro entoirido pelas primeiras barragens. É
como se na minha própria aorta se formassem
aneurismas.”
(Miguel Torga, Diário VIII)
“Miranda do Douro, 2 de Maio de 1976.
PLANALTO
Alto céu, alta luz, alta pureza.
Ascensão da granítica aspereza
Dos homens e do chão.
Guiada pela mão
Da fome insatisfeita,
A teimosa charrua da vontade
Lavra e semeia as fragas da planura.
Mas a grande colheita
É de serenidade:
A paz azul em cada criatura.”
(Miguel Torga, Diário XII)
5
Introdução
Entre as províncias de Zamora e Salamanca, em Espanha, e os distritos de Bragança e da Guarda, em Portugal, localiza-se uma zona de
vales fluviais encaixados, cuja espinha dorsal é o rio Douro. Uma estreita faixa com cerca de 10 km de largura estende-se por mais de uma
centena de quilómetros, onde canhões fluviais de troços rectilíneos
alternam com meandros e vales abertos. O espectáculo deste enorme
canhão orográfico, profundo, extenso e selvagem, tem levado alguns a
referirem-se-lhe como Grand Canyon Ibérico (PNDI, 1998). As arribas
do Douro, como sempre têm sido designadas pelos habitantes dos
dois países ibéricos as encostas que o ladeiam, revelam uma paisagem
magnífica, que contrasta com a peneplanície da Meseta Ibérica. Nas
duas margens do Rio Douro a paisagem é protegida pela criação do
Parque Natural do Douro Internacional (PNDI) em Maio de 1998 (lado
português) e do Parque Natural de los Arribes del Duero (PNAD) em
Abril de 2002 (lado espanhol).
A excursão geológica que propomos no âmbito do projecto
“­Geologia no Verão 2009”, no ano em que se celebra o 10.º aniversário
do PNDI, procura divulgar locais de interesse geológico, paisagístico
e histórico-monumental da região. Pretendemos chamar a atenção
para as potencialidades do Património Natural e Cultural que, gerido
de forma integrada e sustentável, poderá, a médio e a longo prazo,
contribuir significativamente para o desenvolvimento desta região.
Nos dias 4 e 5 de Setembro a visita incidirá na Zona Norte dos Parques Naturais Douro Internacional/ Arribes del Duero, pertencente
aos concelhos de Mogadouro e Miranda do Douro, contemplando no
percurso a “travessia” pelo maciço polimetamórfico de Morais e uma
visita às minas de Santo Adrião, no concelho de Vimioso.
7
Caracterização geomorfológica e climática
A zona de fronteira onde o Rio Douro entra em Portugal corresponde a uma zona de menor influência atlântica, constituída na maior parte
por planaltos, de onde se destaca o Planalto Mirandês, com altitudes
entre 700 e 800 m, e o vale do Douro bastante encaixado, mostrando
algumas escarpas abruptas, sobretudo em rochas graníticas.
As condições orográficas favorecem um clima quase semi-árido
nesta região, onde o Verão e o Inverno são rigorosos. A prática da
agricultura extensiva de sequeiro, em regime de minifúndio, faz-se
em explorações de média a pequena dimensão, de tipo familiar. Nas
zonas de planalto predominam os cereais e forragens (lameiros) e a
produção animal, com destaque para as raças autóctones de bovinos
e asininos mirandeses.
Enquadramento geológico
Quando falamos de sedimentos marinhos(!) no Parque do Douro
Internacional, tanto os incrédulos como os menos versados em Geologia o mais que conseguem aceitar ou imaginar é que o mar pode ter
estado aí, cobrindo a geografia actual, de onde terá saído em virtude
de uma regressão marinha (explicável tanto pelo retrocesso do mar
como por uma elevação isostática do continente).
Nada mais distante da realidade!!!
A história destes materiais começa há mais de 510 milhões de
anos, quando os territórios precursores da Ibéria actual faziam parte
da plataforma continental marinha do desaparecido macrocontinente
Gondwana. Este aglutinava extensas zonas emersas e zonas imersas por
mares pouco profundos, hoje repartidas pela Europa, África, América do
8
Sul, Ásia (Arábia, Índia, Sudoeste da China), Oceania (Austrália e Nova
Zelândia) e Antártida. Tudo isto ocorreu antes da abertura dos actuais
oceanos, que desintegraram o supercontinente Pangea, posterior ao
Gondwana e maior do que este.
O nosso território de então (Ib no mapa palinspático da fig.1) estaria
unido à Bretanha francesa, situando-se em latitudes “paleoantárticas”,
muito próximas do Pólo Sul, permanecendo submerso sob mares
pouco profundos circundantes do Gondwana. Nessa altura ainda não
tinham aparecido as plantas terrestres, pelo que a parte emersa do
Gondwana seria um vasto continente ermo, com excepção para as
porções paleoequatoriais onde as formas vegetais primitivas e alguns
artrópodes aquáticos começavam a fazer as suas primeiras incursões
em terra firme. Os vertebrados estavam restringidos a formas escassas,
couraçadas ou não, de pequenos peixes amandibulados, limitados aos
mares quentes próximos do paleoequador.
Mapa palinspático da Terra há 490 M.a. (Adap. Stampfli & Borelli, 2002). Ib - Ibéria
9
A inexistência de uma cobertura vegetal que contivesse a erosão
permitia que as plataformas marinhas pouco profundas perigondwánicas fossem muitíssimo mais extensas do que o habitual nas plataformas
marinhas actuais, estimando-se casos como o da plataforma marinha da
região centro-ibérica que era quase plana e para a qual se estima que,
a 500 km da costa, tivesse uma profundidade máxima de 100-150 m.
Estas plataformas permaneceram com escassas variações até ao
Devónico médio (ca. 385 M.a.), altura em que a sedimentação começou a reflectir o influxo da aproximação do Gondwana às outras placas
continentais: a Laurentia, a Báltica e o microcontinente Avalónia, que
entretanto se tinha separado por um processo de rifting do Gondwana.
No Carbónico superior (ca. 320 M.a.), o Gondwana acaba por colidir
com a Laurusia (Laurentia + Báltica + Avalónia), dobrando-se então
todos os sedimentos acumulados nas plataformas marinhas de ambos
os macrocontinentes, durante o ciclo orogénico (ciclo formador de
montanhas) designado por Orogenia Hercínica ou Varisca.
Diversas etapas do ciclo de Wilson para a cadeia herciníca ou varisca (adap. Skinner et al., 2004)..
10
Como resultado desta orogenia assistiu-se à elevação e emersão dos
materiais até então depositados nos fundos oceânicos. Importa realçar
que os sedimentos mais antigos (os primeiros a depositarem-se), à
medida que outros se foram acumulando sobre eles formando uma
pilha ou coluna, transformaram-se em rochas sedimentares (os mais
superficiais) e metamórficas (os mais profundos) tais como quartzitos,
xistos e migmatitos. Nesses tempos, algumas rochas chegaram mesmo
a fundir-se formando magmas e noutros casos as rochas fundidas do
manto ascenderam e intruíram as rochas metamórficas mais profundas,
gerando um plutonismo intenso, do qual resultaram diversas rochas
granitóides. Este conjunto de rochas antigas está bem representado,
por granitos, migmatitos, quartzitos, xistos, gnaisses, no mapa geológico
simplificado das duas áreas protegidas PNDI e PNAD.
Durante o Mesozóico e Cenozóico decorre o ciclo alpino
cuja ­a ctividade tectónica persiste actualmente, como tem sido
evidenciado pelos registos sísmicos, históricos e actuais no Norte de
Portugal. No Cenozóico os limites do nosso território são muito próximos dos actuais. A sedimentação aparece limitada apenas a domínios
restritos, nomeadamente bacias continentais interiores controladas por
falhas activas, de que são exemplo os muitos depósitos de sedimentos
do Planalto Mirandês (Variz, Sanhoane, Sendim, etc.) com diversas
toponímias associadas como “Cascalho, Cascalheira, Seixo, Barrocal,
etc.”.
Este ciclo recente é responsável pela modelação do relevo, que
juntamente com a erosão de vertentes e o encaixe da rede hidrográfica
levou à actual configuração do rio Douro. O rio Douro, escavou um
profundo vale em rochas duras, manifestando-se um encaixe fluvial
progressivamente mais intenso nas Arribas, em que se produziu um
espectacular rejuvenescimento da paisagem (López Plaza et al., 2005).
O perfil geográfico do rio Douro (Fig. A) mostra que se passa de uma
11
Mapa geológico simplificado da região abrangida pelos Parques Naturais do Douro Internacional / Arribes del Duero. Adaptada da Carta Geológica de Portugal 1:500 000 (SGP, 1992) e do Mapa Geológico y
Minero de Castilla e León, 1:400 000 (1997)
altitude de 600 metros em Zamora para 120 metros em Barca de Alva
com um declive médio de 4 m/km.
Em termos geológicos verifica-se nas Arribas do Douro Internacional
uma mudança do sistema fluvial, evoluindo de uma bacia endorreica ou
fechada nas planícies terciárias para uma abertura ao atlântico, exorreica, derivada provavelmente da erosão remontante de algum rio que
atingiu a bacia endorreica (Fig. B) (Martín Serrano, 1991).
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Perfil longitudinal do rio Douro (A) e relacções entre os níveis de base da bacia durante as etapas endorreica e exorreica da sal evolução (B) (Martín Serrano 1991).
Caracterização florística
A flora desta paisagem regista, igualmente, a evolução geológica
recente referida, acompanhada de uma variação ambiental muito
intensa e constante. Neste sentido é possível observar nas Arribas
do Douro restos de floresta tropical atlântica, juntamente com flora
subestépica ou com diferentes tipos de vegetação esclerófila. Um dos
aspectos mais notórios regista-se no comportamento biogeográfico
actual, dominado por flora euroasiática e mediterrânica, com um
abundante elenco de endemismos e subendemismos ibéricos. Esta
complexa combinação florística reflecte as dramáticas transformações
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que a este nível aconteceram ao longo dos últimos 50 milhões de
anos, tansformando radicalmente uma flora laurântica primitiva num
complexo glaciar muito recente.
Alguns dos numerosos exemplos das alterações e respostas florísticas às intensas variações ambientais neogénicas: Silene scabriflora subsp. scabriflora, Acer monspessulanum, Saxifraga fragosoi, Plantago holosteum, Onosnis viscosa subsp. pedroi, Holcus annus subsp. Duriensis (Texto e fotos de António
Crespi).
O mosaico de habitats (lameiros, vinhas, bosques, cereal, etc.) confere a esta região elevada biodiversidade. Nas zonas de altitude média
domina o carvalho negral e nas zonas mais temperadas o carvalho cerquinho. A azinheira, conhecida como carrasco, predomina nos fundos
dos vales e nas vertentes voltadas a sul. São abundantes os bosques e
matorrais densos, destacando-se os bosques endémicos de zimbro. A
vegetação autóctone serve de refúgio a mamíferos de grande porte:
lobo, corço, javali, gato bravo, etc. As culturas dominantes nas encostas
dos vales são o olival, a vinha e a amêndoa, enquanto que no planalto
predomina o cereal (trigo, aveia, centeio) em rotação com pousios.
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Caracterização faunística
O grupo das aves é o que mais se destaca dentro da grande diversidade da fauna existente nesta região. O PNDI constitui a área do
país mais importante para as aves rupículas (aquelas que nidificam
em rochas, vulgarmente ditas fragas) (PNDI, 1998). Entre as espécies
mais comuns destacam-se o abutre do Egipto, símbolo do PNDI, a
cegonha-preta, o grifo, a águia-real, a águia de Bonelli, o falcão peregrino, a gralha de bico vermelho, o andorinhão real e o chasco preto.
Nas arribas hibernam também algumas aves que vêm de outras zonas
da península à procura de melhores temperaturas. Muitas das espécies estão protegidas e algumas delas em vias de extinção, pelo que é
imprescindível a protecção dos habitats que as sustentam, mediante
um adequado ordenamento do território.
Na área do PNDI estão assinaladas mais de 230 espécies de vertebrados, incluindo o lobo, o corço, o gato-bravo e o javali. Encontram-se
nesta região várias raças autóctones como a bovina mirandesa, asinina
de Terras de Miranda e a ovelha churra galega-mirandesa.
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ITINERÁRIO PREVISTO
Vila Real – Mogadouro – Bemposta – Fermoselle – Urrós
Picote – Santo Adrião – Miranda do Douro – Vila Real
Extracto da folha n.º 2 - Bragança, da Carta Militar de Portugal, na escala 1: 250 000, com as paragens
previstas
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Entre os principais aspectos de interesse nesta actividade destacam-se:
Interesse geológico:
Litologias metamórficas: gnaisses, metapelitos, xistos borra de
vinho, anfibolitos e rochas calcossilicatadas, assim como metacalcários e mármores, que têm associada uma extraordinária diversidade
mineralógica;
Leucogranitos de grão médio, de idade carbonífera, intruídos em
lâminas sub-horizontais. Granitos porfiróides de idade carbonífera de
Ifanes-Sayago e rochas intermédias associadas;
Litologias sedimentares: depósitos de cobertura de idade Miocénico;
Fracturação tardi-hercínica e alpina e escarpas verticais;
Meandros do Douro, encaixados e controlados tectonicamente, e
geomorfologia das albufeiras de Bemposta, Picote e Miranda do Douro.
Interesse biológico:
Bosques de zimbros e matos de azinheira e de carvalho cerquinho;
Aves rupícolas – cegonha-preta, grifo, abutre do Egipto, águia real,
águia de Bonelli, falcão peregrino, gralha de bico vermelho, chasco-preto;
Mamíferos – raças zootécnicas autóctones e espécies selvagens,
como o lobo, o javali, o corço ou a raposa.
Em St.ª Adrião destaca-se a maior área de calcários do N de Portugal
onde se reproduzem várias espécies de morcegos carvenícolas, entre
elas a colónia de criação do morcego-rato pequeno e cinco outras
espécies, a maioria em “perigo”.
Interesse histórico-cultural:
Castros, castelos, ermidas, capelas, pelourinhos, fontes, etc.;
Aldeias de Bemposta, Urrós e Picote;
Cidade de Miranda do Douro;
Vilas de Sendim e de Fermoselle;
Barragens de Bemposta, Picote, Miranda do Douro e Almendra.
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Breve descrição das paragens e aspectos a observar
1. Variz - Barreiros da Cerâmica
O corte nos barreiros da Cerâmica do Variz permite observar depósitos sedimentares de cobertura, de idade Miocénico, resultantes
do enchimento de um paleovale, cuja sedimentação terá ocorrido em
regime intermitente, numa sucessão de episódios fluviais. Estes assentam em discordância sobre os metapelitos (xistos borra de vinho),
pertencentes ao complexo alóctone inferior envolvente do Maciço de
Morais, provavelmente de idade silúrica (~430 Ma).
2. Sr.ª da Assunção (Serra da Castanheira)
Este local, situado a cerca de 1000 m de altitude, permite uma vista
deslumbrante sobre toda a região de Trás-os-Montes e da peneplanície
salamantina-zamorana.
É o ponto mais elevado dos “Cimos de Mogadouro” correspondendo
a um relevo de erosão diferencial modelado nos quartzitos de presumível idade ordovícica.
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Grupo durante uma visita na Geologia de
Verão 2007 admirando o planalto mirândes.
Penas Róias - Castelo e Fraga da Letra
Foi vila e sede de concelho, pertenceu à Coroa até inícios do século
XIII e foi doada, pela mão de D. Sancho I, à Ordem dos Templários. O
castelo de origem medieval é o cartão de visita da aldeia de Penas
Roias, monumento classificado como Imóvel de Interesse Nacional,
foi erguido em 1166, a mando de D. Afonso Henriques, para defesa
do povoado. A poucos metros do castelo destaca-se, ainda, a Fraga
da Letra, que preserva pinturas rupestres, possivelmente gravadas na
pedra com tinta vegetal. O pequeno abrigo de Penas Róias, ou “Penas
da Letra”, como é também conhecido pela população local, possui algumas das pinturas rupestres mais bem conservadas em Portugal. Foi
estudado por Carlos A. F. de Almeida e António M. Mourinho (1981).
Cronologicamente as pinturas foram muito possivelmente feitas entre
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o final da Idade do Bronze e a Época do Ferro (3000-2000 anos atrás).
O próprio nome da povoação Penas Róias, provavelmente tem a sua
origem em petras rúdeas, ou seja, “pedras avermelhadas”, fazendo
portanto referência às pinturas.
Castelo de Penas Róias e Fraga da Letra
(Fotos e texto de Mila Simões de Abreu e
Margarida Morais Santos, projecto
“Gravado no Tempo”).
3. Assentamento urbano e geologia (Urrós e Bemposta)
Muitos povos nas Arribas, mostram uma paisagem singular quando
interpretamos as suas formas, e compreendemos como os condicionalismos geológicos e físicos foram no passado determinantes para a
adaptação do Homem ao meio físico, bem como podem potenciar actividades futuras para uma maior integração e valorização desta região.
Os achados arqueológicos em Urrós indicam que se trata de uma
povoação de origem pré-histórica. O povoamento, no local onde se
encontra actualmente, deve datar da Idade Média. Encontram-se sepulturas de características paleo-cristãs cavadas na rocha junto à Igreja
Paroquial e junto das ruínas da capela de S. Fagundo (Mourinho, 1995).
A aldeia de Urrós representa um exemplo interessante de adaptação
humana ao ambiente natural. A aldeia localiza-se sobre o morro gra20
nítico e as bodegas, concentradas no lado Oeste da povoação no lugar
da Fonte Nova, são condicionadas em grande parte pela presença de
rochas xistentas e migmatíticas mais brandas, sendo mais raras a Este
do povo. Os terraços quaternários permitem no lugar da Fonte Nova
a existência de hortas férteis, onde se destacam as típicas cegonhas
que servem para extracção da água, bem como as pias graníticas. Para
completar este quadro tradicional, na encosta, encontram-se 3 pombais
sobre vinhas, e oliveiras.
Conjunto de hortas, bodegas, vinha e
oliveira, sucessivamente em sedimentos
quaternários, xistos e granitos.
A aldeia de Bemposta foi vila e sede de concelho até ao séc. XVIII,
com foral de D. Dinis em 1315 e novo foral de D. Manuel em 1512. A
povoação como a toponímia diz, está ”bem posta”, pois situa-se no
bordo junto ao contacto entre granito e o encaixante metassedimentar,
que causa um desnível bem marcado na paisagem e permite o aproveitamento para cereais e forragens na zona granítica e para vinha e
olival na zona xistenta. Para além disso, filões de quartzo instalados
em pequenas falhas atravessam o contacto e a aldeia, permitindo a
existência de várias nascentes e hortas férteis. Na aldeia aflora granito
porfíróide, de duas micas, muito deformado e contém raros encraves
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metassedimentares. Associam-se-lhe rochas mais escuras como granodioritos e tonalitos, que permitem em geral solos mais férteis. Tem
bolsadas e filões pegmatíticos com turmalina e aplito-pegmatíticos
com granada e turmalina.
No conjunto estes povos com as suas ruas, casas tradicionais típicas,
varandas, muros de pedra, arcos, pelourinhos, património religioso,
etc, bem merecem ser declarados, em conjunto, como Património de
Interesse Público.
Paisagem vista do miradouro de Santa
Bárbara e pelourinho de Bemposta.
4. Barragem de Bemposta
A barragem de Bemposta localiza-se a montante da confluência com
o rio Tormes, onde o rio depois de um troço aberto curvo encaixa mais
o seu vale num ramo NE-SW, condicionado por falha N70ºW. O vale é
aberto, de margens suaves cavado em rochas migmatíticas.
Do ponto de vista litológico ocorre uma série metassedimentar
muito heterogénea com zonas mais pelíticas e algumas rochas calcosilicatadas. Para além disso existem intrusões de granito de grão fino
muito deformado, com forte lineação de estiramento e dobras. Todo
o conjunto é cortado por pegmatitos discordantes.
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A visita ao interior da central hidroeléctrica, cuja barragem é do tipo
arco de gravidade aligeirado permite observar o amplo arco e o fundo
do antigo leito do rio, escavado na rocha migmatítica. A barragem está
em exploração desde 1964.
Exterior e interior da barragem de
Bemposta.
5. Fermoselle
Miradouro de Torrejón.
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Aspectos a observar:
Granito de grão médio a fino com encraves de origem restítica;
Enquadramento da cidade no meio das bolas de granito;
Migmatitos, que afloram sob a lâmina de granito de grão médio no
castelo de Doña Urraca;
Bodegas da localidade – condicionantes geológicas da sua instalação
e história.
6. Faia da Água Alta de Lamoso
Esta zona de elevado interesse geológico e geomorfológico situa-se
perto de Lamoso, um pouco antes da ribeira do mesmo nome desaguar
na ribeira de Bemposta.
Trata-se de uma cascata que se observa em grande parte do ano,
excepto na época estival. A sua formação obedece a um contraste
litológico entre uma lâmina granítica no topo e a rocha encaixante
metapelítica subjacente (xistos e migmatitos). A ausência de fracturas
longitudinais na Ribeira de Lamoso e a presença de um diaclasamento
subortogonal paralelo à Ribeira de Bemposta são factores que facilitaram o “salto” da água. Nas imediações existem antigos moinhos que
merecem ser reconstruídos.
Queda de água da Faia da Água Alta na ribeira de Lamoso e moinho abandonado na rib. de Bemposta.
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7. Miradouro de Picote – Peinha de l´Puio
Aspectos a observar:
Remanso do rio Douro, num meandro encaixado;
Dois tipos de granitos – granito porfiróide com silimanite e granito
equigranular fino;
O afloramento granítico da Penha do Puio situado no alto da escarpa do rio Douro, é um dos Locais de Interesse Geológico do tipo
panorama mais característicos das Arribas do Douro. Do local avistase a vasta superfície de aplanamento cenozóica, correspondente à
Superfície Fundamental da Meseta, entalhada pelo profundo vale em
canhão fluvial do Rio Douro, que neste local apresenta uma escarpa
de 250 m de altura. É bem expressivo o traçado do rio talhado na
rocha granítica, fortemente condicionado pela fracturação. O local de
grande beleza terá inspirado o Homem pré-histórico, que gravou nas
suas lajes figuras rupestres como a do Caçador de Picote. Na aldeia a
identificação das ruas faz-se em língua mirandesa e portuguesa. Algumas construções rurais típicas demonstram a estreita relação entre o
homem e a geologia local.
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8. Barragem de Picote
A barragem é do tipo abóbada de dupla curvatura. Trata-se da barragem mais antiga do troço internacional do Douro, em exploração
desde 1958. A arquitectura da barragem, as suas infraestruturas e o
bairro dos engenheiros no Barrocal possuem um enquadramento paisagístico exemplar, tendo sido a primeira barragem a ser proposta para
classificação pelo IPPAR, em Junho de 2002. É interessante observar o
estreito leito do rio Douro, controlado tectonicamente e a morfologia
granítica, incluíndo os domos do Barrocal.
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9. Metacalcários de São Pedro da Silva (Miranda do Douro)
Antiga pedreira instalada em afloramentos de metacalcários
intercalados com rochas vulcânicas básicas (xistos verdes) de idade
Kralodvoriano (Ordovícico Superior). Actualmente abandonada, foi
outrora fonte de calcário para os fornos de cal da região. Em frente
observam-se as antigas pedreiras de Santo Adrião onde foram descobertas diversas grutas revestidas de alabastro, cujas estalactites e
estalagmites foram vandalizadas.
10. Barragem de Miranda do Douro
O aproveitamento hidroeléctrico de Miranda do Douro consiste
numa barragem de tipo contrafortes e encontra-se em exploração
desde 1960.
Aspectos a observar:
Contactos granitos-xistos-gnaisses.
27
11. Miranda do Douro
“Miranda do Douro, 3 de Agosto [1947] – Até que enfim! Mas não
foi o menino Jesus da Cartolinha que vim ver, nem mesmo uma rua
quinhentista tal e qual como a deixaram os pedreiros manuelinos. Foi
o planalto transmontano, adusto, largo, arejado, guardado por esta
severa Sé de granito, erguida diante dos olhos castelhanos como a
cruz dos crentes alçada diante da tentação de Satanás.” (Miguel Torga,
Diário IV)
Importância histórica e monumental da cidade, com a Sé Catedral,
o Menino Jesus da Cartolinha e o Museu de Terras de Miranda. Em
termos etnográficos destacam-se os Pauliteiros de Miranda do Douro
e o Mirandês, língua com o estatuto de segunda língua oficial portuguesa.
Em termos geológicos destaca-se o Planalto granítico no maciço de
Ifanes e os ortognaisses ocelados e gnaisses finos com veios migmatíticos, alvo de diversas datações isotópicas recentes.
28
12. São João das Arribas (Aldeia Nova - Miranda do Douro)
O interesse paisagístico deste sítio emblemático, localizado num
antigo castro sobre o qual foi construída uma pequena capela, deve-se
ao canhão espectacular que se observa a montante do miradouro.
Aspectos a observar:
Morfologia granítica;
Granito de grão médio, biotítico-moscovítico, porfiróide, do maciço
de Ifanes-Sayago.
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vIAGEM DE BARCO: barragem de Bemposta a Picote
Objectivo: Este percurso para além de proporcionar aos participantes uma visita de rara beleza, permite uma experiência enriquecedora
relacionado diferentes aspectos geológicos e geomorfológicos do vale,
com a biodiversidade - aves de rapina e fauna aquática, vegetação
autóctone e a agricultura típica das Arribas do Douro, na zona do Planalto Mirandês, onde predominam a vinha e a oliveira em pequenos
socalcos nas zonas mais declivosas, bem como diversas espécies de
flora endémica.
Aspectos geológicos, geomorfológicos e paisagísticos de maior
interesse:
1. Na barragem da Bemposta, é interessante o enquadramento
paisagístico da própria barragem e do bairro habitacional e o impacto
social que esta teve na região, que é “esculpida” em rochas xistentas,
bastante migmatizadas (rochas xistentas que sofreram metamorfismo
de alto grau e iniciaram a fusão, gerando rochas mistas- ígneas e metamórficas) intruídas por algumas rochas filoneanas de tipo pegmatítico.
A colina do Castelo de Oleiros (castelo dos Mouros) destaca-se pela
forma bastante suave, limitada por duas ribeiras, que criam reentrâncias
acentuadas no rio.
2. As rochas graníticas que afloram em alguns cabeços, são de grão
médio e duas micas e atravessam por vezes as duas margens. Os afloramentos não são muito extensos e consistem em intrusões de tipo
tabular ou laminar (lacólitos), no meio de rochas xistentas. Na vegetação destaca-se a presença de zimbros (Juniperus oxicedrus) com alguns
povoamentos de extensão considerável e quase monoespecíficos.
3. No alinhamento do vértice geodésico de Cabeçudo conseguem
observar-se ruínas de antigos fornos de cal e uma bancada de rochas
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carbonatadas. Estes mármores foram explorados na década de 1930
para cal, sendo esta região popularmente conhecida por Caleiras,
devido a essa antiga actividade. O rio muda de direcção para NW-SE,
segundo a fracturação, fazendo um ângulo quase recto, ao intersectar
uma lentícula mais espessa de rocha granítica, que aflora na margem
espanhola, com paredes verticais, sendo designada na região como Faia
Amarela, observando-se um nítido diaclasamento vertical e subhorizontal do granito, formando capas que servem de suporte a ninhos de
andorinha da rocha e de cegonha preta.
4. O rio inflecte de novo para NE-SW com o vale bastante aberto,
apresentando reentrâncias, que cortam rochas metamórficas (xistos e
gnaisses). Ao intersectar o contacto com o maciço granítico de Picote, o
rio muda de novo de direcção descrevendo meandros encaixados condicionados pelas fracturas principais NE-SW e NNW-SSE, seguindo-se
um troço rectilíneo de direcção quase N-S, de tipo canhão fluvial com
paredes bastante verticais. Esta é também uma área muito propícia à
nidificação de aves, nomeadamente a cegonha preta, grifos e abutres
do Egipto.
5. De realçar a toponímia de Picão do Diabo, usada para uma parede
vertical, rectilínea, de altura superior a 150 metros, que divide a rocha
granítica, mostrando o claro alinhamento da falha, com continuidade
em ambas as margens. É visível material granítico, que terá sofrido
desprendimento recentemente, ao longo de diaclases verticais. Junto ao
cais de Picote na zona de Remanso, o rio sofre um novo desvio condicionado pela tectónica. Este local no sopé da Fraga do Puio tem grande
interesse, pois na encosta afloram para além de xistos e grauvaques,
rochas de natureza carbonatada e argilosa que foram exploradas pelo
Homem, para materiais de construção, olaria e fabrico de cal.
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