27ª Semana do Fazendeiro

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MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO
Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
27a SEMANA DO FAZENDEIRO
Agenda
outubro de 2005
EMARC - URUÇUCA
Editor: Miguel Antonio Moreno-Ruiz
Editoras Assistentes: Jacqueline C.C. do Amaral e Selenê Cristina Badaró
Editoração eletrônica: Jacqueline C.C. do Amaral e Selenê Cristina Badaró
Endereço para correspondência:
CEPLAC/CENEX/EMARC
Rua Dr. João Nascimento, s/n
45680-000 Uruçuca, Bahia, Brasil
Telefone: (73) 239 -2121
Fax: (73) 239 - 2221
Tiragem: 3000 exemplares
633.74063
S471
2005
SEMANA DO FAZENDEIRO, 27a, Uruçuca, 2005. Agenda.
Uruçuca, CEPLAC/CENEX/EMARC. 332p.
1. Theobroma cacao - Encontro. 2. Agricultura - Encontro. 3. Pecuária
- Encontro. I. Título
Apresentação
A Semana do Fazendeiro emerge para o cenário da agropecuária baiana,
regiões de atuação da CEPLAC, no transcurso dos anos 60. Trata-se de
evento voltado para o debate das questões atinentes à dinamização das
atividades agroeconômicas, mais especificamente as dimensões social,
econômica, política, ambiental e tecnológica.
Desde quando se articulam estes encontros constata-se a aplicação
do primado da articulação e interação entre agricultores, trabalhadores,
pesquisadores, extensionistas e empresários vinculados às áreas afins,
conjunto que responde pela cristalização das idéias, concepções,
conhecimentos e experiências explicitadas nas palestras e reuniões que
integram o conclave.
Ressalta-se que as temáticas em discussão sintonizam-se com a
perspectiva, sentimento ou imaginário do público alvo, assim sendo, aborda
assuntos pertinentes a agroecologia, relações de intercâmbio e trabalho,
recursos naturais renováveis, aspectos tecnológicos (cacauicultura,
apicultura, clonagem, palmiteiros, piscicultura, bovinocultura e outros),
administração rural, política de crédito, desenvolvimento sustentável e
agroindustrialização. Portanto, o evento tem por lema: agregar valor à
produção para melhorar a qualidade de vida.
O CENEX/CEPLAC propõe-se a entabular profícuo debate entre os
atores sociais que controlam os meios de produção, gerenciam,
administram, executam, pesquisam, orientam, capacitam ou interferem
na lógica dos agronegócios. Além desta vertente busca-se também apontar
soluções para os graves problemas que afligem ou conturbam o ambiente
de atuação do Órgão no Estado da Bahia.
Por fim, visa-se com a efeméride promover a revisão e adoção de
atitudes que redundem na construção do desenvolvimento agrosilvipastoril
em bases sustentáveis, centrado nos preceitos que encadeiam a
harmonização das relações homem, trabalho e natureza. Tais premissas
pressupõem a inclusão social, geração de emprego e renda, redução
das desigualdades, segurança alimentar, resgate da cidadania e
fortalecimento da democracia.
Comissâo Organizadora
Objetivos
♦ Promover a integração e intercâmbio entre produtores rurais,
expositores, estudantes, agroindustriais, técnicos e demais participantes;
♦ Difundir as modernas tecnologias e conhecimentos disponibilizados
para o desenvolvimento dos agronegócios;
♦ Incentivar o desenvolvimento da verticalização da produção como
agregadora de valor (renda) ao setor primário;
♦ Debater as novas técnicas de enxertia e manejo integrado de
cacaueiros clonados que devem ser adotadas;
♦ Discutir e recomendar a diversificação agropecuária como atividade
lucrativa e alternativa para a região cacaueira;
♦ Ensejar a utilização correta dos recursos naturais renováveis, através
do entendimento da importância destes fatores para a vida em equilíbrio;
♦ Apresentar as vantagens da agroindustrialização como suporte para
a diversificação agropecuária;
♦ Promover o fortalecimento do associativismo e cooperativismo;
♦ Difundir modelos de agricultura sustentável.
Índice
♦ Floricultura Tropical no Sul da Bahia
9
♦ Criação de Avestruz
17
♦ Sistemas Agroflorestais Alternativos Para o Plantio da Seringueira,
Cacaueiro e Culturas Temporárias
29
♦ Produção orgânica de leite na Mata Atlântica
36
♦ Aspectos Técnicos da Clonagem do Cacaueiro
47
♦ Uma Estratégia para Conservação e Desenvolvimento no Contexto Rural 51
da Região Cacaueira da Bahia
♦ Jardinagem e Paisagismo
53
♦ Aspectos Conjunturais e Estruturais do Mercado Internacional de Cacau 64
♦ Produção de Mudas: frutíferas e flores tropicais
89
♦ Manejo e Conservação do Solo e da Água na Região Cacaueira da Bahia. 103
Aspectos Básicos
♦ Frutiferas Potenciais Para a Região Sul da Bahia
113
♦ Fertilização do Cacaueiro
122
♦ Manejo Estratégico da Pastagem
125
♦ Reserva Legal: Aspectos Legais e Sustentabilidade da Propriedade Rural 136
♦ Análise-diagnóstico do Processo de Plantio de Mudas de Cacueiros
Propagadas por Estaquia
138
♦ Criação Racional de Peixes
146
♦ Manejo de doenças do cacaueiro
162
♦ Construção com Solo-Cimento
165
♦ Perspectivas Agronômicas do Dendê para o Sul da Bahia
170
♦ O Dendezeiro Como Cultura Energética Para os Trópicos Úmidos
175
♦ Fertirrigação do cacaueiro no Estado do Espírito Santo
178
♦ Apicultura comercial
186
♦ Farinha de Rochas Para os Cultivos Orgânicos ou Não
190
♦ Controle Biológico da Vassoura-de-bruxa do Cacaueiro
206
♦ Produção e Comercialização de Palmito de Pupunha (Bactris gasipaes 208
Kunth) in natura No Sistema de Integração da Inaceres Agrícola
♦ Associativismo, Sistemas Agroflorestais e Produção Orgânica:Uma
221
Estratégia para Conservação e Desenvolvimento no Contexto Rural da
Região Cacaueira da Bahia
♦ Ecoturismo e Direito Ambiental: Em Busca da Consolidação do
Desenvolvimento Turístico Sustentável
224
♦ Relação da Qualidade do Cacau no Mercado Atual e no Mundo
226
♦ A Obtenção de Bezerros de Boa Qualidade e a Produção de Leite
242
♦ Produção de Frutos dos Palmiteiros Juçara, Pupunha e Açaí
251
♦ Territórios Rurais Como Unidade de Planejamento das Políticas Públicas 261
♦ Criação de aves (galinhas) para produção de ovos e carne em sistema 272
de caipira
♦ Programa de Silvicultura com Espécies Arbóreas Nativas e Sistemas
Agroflorestais Sustentados na Mata AtlÂntica e Floresta AmazônicaPRONATIVA
284
♦ Perspectivas da Biotecnologia na Cacauicultura
286
♦ Agricultura de Baixo Uso de Insumos Externos e Agroecologia
291
♦ Formação Profissional Rural e Promoção Social no Campo
298
♦ Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável
305
♦ Tecnologia de Aplicação de Agroquímicos
309
♦ Sistemas Agroflorestais Como Uso Sustentável dos Solos: Conceito e 321
Classificação
FLORICULTURA TROPICAL NO SUL DA BAHIA
Narciso Bezerra de Freitas *
Considerações iniciais
A floricultura mundial apresenta uma movimentação financeira
anual da ordem de aproximadamente US$ 100 bilhões, com uma
área cultivada de 380.735 hectares. As exportações se encontram
em torno de US$ 9,4 bilhões, tendo a Holanda como principal
exportador e intermediador mundial, seguido pela Colômbia,
Alemanha e Itália.
O Brasil tem inexpressiva participação nas exportações mundiais,
contribuindo com pouco mais de 0,2%. No ano de 2003, as
exportações atingiram o patamar de US$ 19,4 milhões, sendo
superior ao ano anterior em 30,2% e de 64,1% em relação ao ano
2000. Apesar dessa pouca participação, o setor vem crescendo a
uma taxa acima de 20% ao ano, notadamente nos últimos anos,
quando passou a ter o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA) e de outras instituições e entidades
públicas e privadas, que vislumbram um futuro promissor para esse
importante segmento do agronegócio. Todas as ações da floricultura
nacional estão sob a responsabilidade do Instituto Brasileiro de
Floricultura (IBRAFLOR).
Vale salientar que em 23 de dezembro de 2003 foi criada e
instalada, no âmbito do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, a Câmara Setorial Nacional de Floricultura,
objetivando identificar os gargalos do setor, tais como comercialização,
definições de linhas de pesquisas, padronização, legislação, entre
* Engenheiro Agrônomo, MSc. em Agronomia/Fitotecnia, Fiscal Federal Agropecuário do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
9
outros, e buscar soluções junto aos órgãos e entidades competentes,
para definir planejamentos estratégicos que venham a implementar
o desenvolvimento da floricultura em todo o país, respeitando as
características e tendências de cada região.
A área cultivada com floricultura no Brasil está estimada em 5,2
mil hectares, onde trabalham em torno de 4.000 produtores,
abrangendo 304 municípios, organizados em 12 pólos de produção.
O tamanho médio das propriedade é de 3,5 hectares, agregando
em média quatro trabalhadores para cada hectare cultivado. O
estado de São Paulo é responsável por aproximadamente 75% da
produção nacional.
O Brasil é um país que tem o privilégio de ter um grande mercado
interno, o qual apresenta uma movimentação financeira da ordem
de US$ 750 milhões, com 28 centros atacadistas, aproximadamente
800 agentes atacadistas e 18.000 pontos de vendas. Nesse grande
mercado os produtos estão assim distribuídos: 50% para flores em
vasos, 40% para flores de corte e 10% para plantas ornamentais.
A geração de empregos é intensa, face à grande necessidade
do setor, totalizando 120 mil pessoas em toda a cadeia produtiva,
sendo 58 mil na produção, 4 mil na distribuição, 51 mil no comércio
varejista e 7 mil no segmento de apoio.
O IBRAFLOR instituiu no ano de 2000 o Programa Brasileiro de
Exportação de Flores e Plantas Ornamentais (Flora Brasilis),
objetivando implementar ações para o incremento das exportações
internacionais. Para o mercado interno foi recentemente criado o
Projeto Pólen, que tem como objetivo aumentar as vendas de flores
e plantas ornamentais, iniciado experimentalmente em São Paulo,
e devendo-se estender para todo os país.
As oportunidades de crescimento das exportações brasileiras são
muitas, tendo em vista a oferta de produtos considerados exóticos
e diferenciados, grande diversidade edafoclimática, com excelente
aptidão para a produção de flores e plantas ornamentais tradicionais
e tropicais. Aliado a esses fatores, a mão-de-obra é de baixo custo
relativo.
10
Apesar das perspectivas de crescimento das exportações,
algumas limitações se apresentam e que necessitam ser superadas.
De forma genérica tem-se: baixo consumo (US$ 4,70 per capita),
cadeia produtiva pouco profissional e exportações irrelevantes. Mais
especificamente tem-se: burocracia nas exportações, complexidade
das exigências fitossanitárias, falta de padronização de produtos e
embalagens, crédito insuficiente, falta de segurança nas operações
comerciais, infra-estrutura de apoio deficiente, irregularidade na
oferta de produtos de qualidade, fretes aéreos muito caros e falta
de uma cultura exportadora.
Os problemas existem, já foram detectados e estão sendo
envidados todos os esforços possíveis para canalização de soluções
e o IBRAFLOR tem avançado de forma célere em suas ações, agora
com apoio das instituições públicas e privadas afetas direta ou
indiretamente ao setor.
Características edafoclimáticas da Região Cacaueira
A região cacaueira baiana apresenta relevo desde planícies
litorâneas a morros com fortes ondulações, formada por solos desde
arenosos de baixa fertilidade natural até argilosos, tendo nesse meio
os solos do tipo CEPEC, que apresentam grande fertilidade natural.
A cobertura vegetal é remanescente da Mata Atlântica, ainda
preservada pela necessidade de sombreamento natural requerido
pela cultura do cacau. O clima varia do tropical ao sub-tropical, com
temperaturas médias de 25 a 27º C, luminosidade superior a 1.500
horas de luz/ano, umidade relativa do ar média de 70% e precipitação
pluviométrica superior aos 1.200 milímetros anuais, com excelente
distribuição ao longo do ano.
A localização geográfica da região cacaueira baiana é excelente
em relação aos mercados do Centro-Sul do Brasil e europeu, além
da infra-estrutura existente para os procedimentos de exportação.
Complementando a infra-estrutura regional, conta com excelentes
11
instituições de pesquisas, ensino e extensão rural, além de porto,
aeroporto e malha rodoviária por onde são escoadas as produções
da agroindústria ali estabelecida.
Sugestões para o desenvolvimento da floricultura tropical na
Região Cacaueira da Bahia
O Estado da Bahia, face à diversidade edafoclimática que
apresenta, tem um grande leque de opções para o estabelecimento
da floricultura, tais como flores e folhagens tradicionais e tropicais
de corte, flores e plantas em vaso, mudas de plantas ornamentais,
forrações e gramas. No caso específico da região cacaueira, as
características de clima e solo existentes atendem perfeitamente
aos requerimentos para a produção de flores e folhagens tropicais,
muitas das quais já existem vegetando de forma nativa entre os
cacaueiros, apresentando excelente qualidade.
As plantas que produzem flores tropicais são originárias das
florestas úmidas das regiões tropicais e sub-tropicais do planeta.
Dessa forma, os locais quentes e úmidos são os mais indicados,
onde as temperaturas variam entre 21º e 35º C, e a umidade relativa
do ar varia entre 60% e 80%.
Os solos ideais para o seu cultivo devem ser ligeiramente ácidos,
com pH entre 4,5 e 6,5, de boa fertilidade natural, textura entre o
arenoso e o argilo-arenoso, no entanto, com excelente drenagem.
Por serem espécies nativas das florestas tropicais e sub-tropicais
úmidas, requerem sombreamento em diferentes níveis, a depender
da espécie e/ou variedade, o que é comum na região cacaueira
baiana, face à necessidade imposta pelos cacaueiros para que
produzam satisfatoriamente.
O grande potencial da região cacaueira baiana deve ser
aproveitado para o estabelecimento da floricultura tropical de forma
comercial, que para tanto sugere-se:
12
Identificar, catalogar e multiplicar espécies nativas que
apresentam potencial econômico;
Implantação de um Banco Ativo de Germoplasma e/ou uma
coleção com espécies tropicais no Centro de Pesquisas do
Cacau (CEPEC/CEPLAC);
Inserir a floricultura de forma ampla nos ensino médio e
superior;
Implementar um programa de capacitação tecnológica e
gerencial;
Produção de Adubos Orgânicos;
Tecnologia de Produção em Flores Tropicais;
Tecnologia de Produção em Folhagens Tropicais;
Produção de Mudas de Plantas Ornamentais Tropicais;
Tecnologia de Pós-Colheita em Floricultura Tropical;
Pragas, Doenças e seus Controles;
Tecnologia em Embalagem;
Uso das Flores e Folhagens Tropicais;
Arte Floral;
Logística de Transporte e Procedimentos de Exportação;
Custos no Agronegócio da Floricultura Tropical;
Marketing e Comercialização;
Gerenciamento do Agronegócio da Floricultura Tropical;
Associativismo e Cooperativismo no Agronegócio da
Floricultura Tropical;
Realizar missões técnicas específicas nacionais e
internacionais, para conhecimento e transferência de
tecnologias, bem como o estabelecimento de intercâmbios
técnico e gerencial com outros estados e países onde já
existem cadeias produtivas profissionalizadas, cujo apoio
poderá ser evidenciado pelo MAPA, Sebrae/BA, SENAR/BA,
agentes financeiros oficiais, SENAC/BA, Federações da
Agricultura, do Comércio e da Indústria (FIEBA/CIN/
EUROCENTRO), entre outras instituições e entidades públicas
e/ou privadas afetas ao setor;
13
Implementação de um programa de pesquisas nos diversos
segmentos da cadeia produtiva da floricultura;
Incentivar o consumo de flores, folhagens e plantas ornamentais
tropicais;
Realizar eventos específicos em locais estratégicos de muita
movimentação de pessoas, com vistas à popularização das
flores e folhagens tropicais, divulgando as espécies e
mostrando as suas diferentes formas de uso;
Adequar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS) para ajudar os floricultores na produção e
escoamento do produto final, evitando a penalização com
valores elevados de impostos;
Implementar o crédito especializado nos agentes financeiros
para o segmento de flores e folhagens tropicais, com taxas
específicas e fixas, estabelecendo carência mínima de dois
anos, quando a maioria das espécies de flores e folhagens
tropicais inicia a estabilidade produtiva;
Estimular a introdução de novas espécies tropicais de flores e
folhagens, para aumentar a base genética e a oferta de novos
produtos;
Estimular o associativismo e o cooperativismo.
Floricultura tropical
A floricultura é o segmento do agronegócio que apresenta maior
retorno financeiro em menor tempo, tendo em vista que a média para
início da produção é de apenas quatro meses.
Compreendem a floricultura os cultivos de flores e folhagens de
corte, flores e folhagens em vaso, mudas de plantas ornamentais para
paisagismo, jardinagem, arborização, recomposição florestal,
implantação de banco ativo de germoplasma (BAG), cultivo de bonsai
(miniaturização de plantas) forrações e gramas.
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A floricultura tropical compreende a produção de flores e folhagens
de corte, rizomas e mudas de plantas de espécies naturalmente
originárias das regiões encravadas entre os Trópicos de Câncer e de
Capricórnio. Para o caso específico das flores tropicais, basicamente
se agrupam nas famílias que compõem a Ordem Zingiberales, porém
as características comerciais podem variar entre as famílias e até
mesmo entre as espécies e/ou variedades. A Ordem Zingiberales é
composta por oito famílias: Musaceae, Heliconiaceae,
Zingiberaceae, Lowiaceae, Strelitziaceae, Cannaceae, Costaceae
e Marantaceae. Seguem alguns exemplos de espécies por família:
Musaceae - Musa cocinea, M. ornata e M. velutina;
Heliconiaceae - Heliconia psittacorum, H. wagneriana, H.
chartacea;
Zingiberaceae - Alpinia purpurata, Zingiber spectabilis, Etlingera
elatior;
Lowiaceae - Orchydantha sp;
Strelitziaceae - Strelitzia reginae, Ravenala madagascariensis;
Cannaceae - Canna indica;
Costaceae - Costus barbatus, Tapaeinochilos ananassae;
Marantaceae - Calathea burle-marxii, C. lutea, C. crotalifera.
A produção comercial de espécies tropicais no Nordeste do Brasil
teve início no ano de 1994, logo após a realização de um congresso
em novembro de 1993, acontecido na cidade do Recife, Estado de
Pernambuco, sob a coordenação do Dr. Marcelo Ataíde, que
vislumbrou na floricultura tropical um negócio de grande perspectiva
comercial, tendo em vista que as condições edafoclimáticas da Zona
da Mata de Pernambuco se apresentavam perfeitamente compatíveis
para produção dessas espécies tropicais.
No ano de 1994 foram implantados cinco hectares e já no ano de
1998 a área de produção registrada era de 35 hectares. Hoje a área
estimada é de 120 hectares, fazendo de Pernambuco o primeiro
produtor nacional de flores tropicais.
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O Estado da Bahia apresenta um excelente potencial para a
produção em escala comercial para essas espécies tropicais, face
às características de clima e solo existentes. Uma vez que o
gerenciamento desse segmento do agronegócio seja realizado com
profissionalismo e os produtores tenham o apoio das instituições e
entidades competentes, sem sombra de dúvidas, a região cacaueira
poderá levar a Bahia ao primeiro lugar na produção de flores e
folhagens tropicais do Brasil.
Literatura consultada
Revista Floraculture International - agosto de 2005 - Batavia, Illinois/
USA.
Revista de Política Agrícola - Ano XIII, nº 4 - Brasília/DF (out/dez 2004);
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 74p.
CHAGAS, A. J. C. Floricultura Tropical na Zona da Mata de
Pernambuco. Recife: SEBRAE/PE, 2.000, 24p. (Empreendedor, 2).
CASTRO, C. E. F. Cadeia Produtiva das Flores e Plantas Ornamentais.
Revista Horticultura Ornamental, v.4, nº 1, p 1-6.
CASTRO, C. E. F. Helicônia para Exportação: aspectos técnicos da
produção. Brasília/DF: EMBRAPA-SPI (FRUPEX 16), 1995. 44p.
BERRY, F. & KRESS, W. J. Heliconia: An Identification Guide.
Washington: Smithsonian Institution, 1991. 334p.
LAMAS, A. M. Floricultura Tropical: técnicas de cultivo. Recife:
SEBARE/PE, 2001. 84p.
16
CRIAÇÃO DE AVESTRUZ
Eduardo Simões de Oliveira
Apresentação
O presente trabalho visa prioritariamente promover uma coletânea
de informações sobre a Criação de Avestruz, obtidas quando em
visitas a criatórios assistidos tecnicamente pela CEPLAC, pelas
declarações de outros criadores que tivemos oportunidade de
contatar, as informações ilustrativas de alguns criatórios, pioneiros
na introdução, com sucesso, desta magnífica ave da Família Ratita
(Aves não voadoras).
O contato inicial com a criação ocorreu a partir da busca de
Agricultores pôr orientações, sobre essa atividade e, possibilidade
de diversificar a pecuária, e as perspectivas desta nova opção.
Introdução
A criação de Avestruz iniciou-se no Brasil a partir dos anos de 95/
96, através da importação de diversas matrizes e filhotes (em numero
de 300), e face ao aumento vertiginoso de criadores, criou-se à
necessidade de um posicionamento pôr parte das autoridades
fiscalizadoras quanto ao controle sanitário destas criações, levando
a uma suspensão destas importações até a ocorrência de definições
sobre o adequado controle e suas manifestações na forma de lei
* Engenheiro Agrônomo, CEPLAC/CENEX/ Escritório Local de Una.
17
específica, passando a ter nova denominação de animal “Silvestre”
para animal “Exótico”, o que levaria num futuro próximo à
caracterização de animal “Zootécnico”, enquadrado ao “Plano
Nacional de Sanidade Avícola”, e por conseguinte com direito de
importação, desde que atendendo a legislação em vigor.
Histórico e Características
A Avestruz (Struthio Camelus sp.), é de origem Egípcia e depois
dispersando para a África, pertencente à família das “Ratitas” (aves
que não apresentam a capacidade de voar), que se caracterizam pôr
seu grande porte podendo atingir 2,8 m de altura e pesar acima de
150 kg, serem longevas atingindo até 70 anos e uma excelência
reprodutiva em torno de 40 anos, porém nunca perdendo a fertilidade.
O nome Struthio Camelus provém de duas importantes características
do avestruz, correr em zigue-zague para escapar de predadores
(Struthio) e ser altamente resistente à falta de água (Camelus).
O início do interesse comercial desta ave dista de muito tempo (épocas
Faraônica e Romana), visando única e exclusivamente à utilização de
suas plumas de características puramente ornamentais (perfeita
simetria e beleza), e as cascas dos ovos para transporte de água quando
em longas travessias no deserto e em face de elevada demanda de
plumas no século passado, aconteceu o incentivo para instalação de
criações domesticas, e como conseqüência provocou a redução das
populações naturais e os animais fruto destas criações iniciais de forma
extensiva não eram abatidos e sim utilizados para a retirada anual de
plumas para posterior exportação para Europa e Estados Unidos.
A débâcle (derrocada financeira) de Wall Street no inicio do século
XX, provocou uma diminuição da excitabilidade mercadológica das
plumas, levando a uma redução pôr muito tempo, do interesse pelas
criações, que só ocorreu após o advento das duas grandes guerras,
com a busca pôr uma alimentação alternativa de momento, levando a
pesquisa a identificar as qualidades positivas da carne de avestruz,
que apresenta em relação comparativa com as demais (bovina, suína
18
e frango) características bem mais saudáveis de gordura e colesterol
além de sabor similar à da bovina.
Com o descortinar da vantagem, de se consumir a cada vez mais,
uma alimentação comprovadamente saudável, iniciada na década de
sessenta, reiniciou-se os trabalhos em prol do desenvolvimento de
tecnologias racionais de criação de avestruz (Estrutiocultura), haja vista
a certeza quanto à valorização da carne, o reconhecimento das
qualidades majestosas de seu couro e o retorno da utilização das
plumas já historicamente conhecidas, tudo isto aliado à elevada
relação de rendimento, obtido pôr área deste produto, em nível de
criação (produtividade = Kg/ha) propiciando perspectivas ao criador,
de auferir interessantes rendimentos, pois toda carne comercializada
no presente momento, encontra fácil colocação no mercado, a preços
extremamente compensadores pôr quilo no mercado Mundial, e em
relação ao Brasil o mercado de São Paulo tem se apresentado como
potencial consumidor, o couro cotado em nosso mercado variando
entre R$700,00 a R$ 1.200,00 por unidade processada, sendo
utilizado pôr grandes Estilistas no mundo, na confecção de bolsas,
sapatos, cintos, casacos e outros, direcionado ao comercio de
pessoas de elevado poder aquisitivo, e as plumas de reconhecida
beleza e com característica de ser antimagnética, (sua eletrostática
amplia a capacidade de absorção de poeira, pôr isso limpa totalmente
as superfícies tratadas) comercializadas como adorno e para o fabrico
de espanadores de pó, com franca utilização na industria de aparelhos
elétricos e eletrônicos, variando seus preços entre R$ 10,00 a R$
90,00 por quilo a depender da utilização a ser dada.
Outro produto bastante interessante de comercialização, os ovos
não fertilizados vendidos para o fabrico de artesanato, na forma de
peças decorativas, atingindo excelente valor.
Raças Comerciais
Definem-se comercialmente três raças:
Black Neck – Pescoço Preto mais conhecido como African Black
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é um animal domesticado (Struthio Camelus Domesticus) fruto de
seleção empírica feita pêlos sul africanos ao longo dos últimos 150
anos.
Red Neck – Pescoço vermelho, é uma ave mais agressiva, que
pode chegar a atacar pessoas uma vez se sentindo ameaçada.
Blue Neck – Pescoço Azul, é uma ave também agressiva, não gosta
do convívio com pessoas nem com outras raças de avestruzes.
A classificação acima esta direcionada a cor da pele dos adultos,
porém todas as raças possuem como característica comum, a mesma
coloração de penas, sendo os machos predominantemente pretos
com a extremidade das plumas principais brancas e as fêmeas cinza
amarronzadas.
A raça Black Neck, também chamada de “African Black”, é na verdade
uma raça domesticada, que recebe preferência dos fornecedores de
plumas, enquanto a raça Blue Neck, tem como característica principal
seu grande porte, sua similaridade com a Red Neck.
Com o interesse crescente pela carne da avestruz, a tendência foi
o cruzamento entre raças, para a obtenção de um maior peso de abate,
surgindo então a raça “Blue Black”, que se apresenta como uma
melhoria genética, unificando características positivas de seus
elementos paternais (predecessores), tais como maior fertilidade e
precocidade (maior numero de ovos e inicio de postura precoce),
docilidade (manejo mais simples), alta densidade de plumas (maior
ganho com esta venda).
Sanidade
A característica de elevada rusticidade e longevidade da Avestruz,
leva aos pesquisadores pelo seu Histórico evolutivo, a considerar esta
ave o ser de maior capacidade imunológica do Reino animal,
justificando a elevada perenidade de sua raça, bem como a elevada
capacidade de adaptação a uma grande diversidade de
ecossistemas. O que não implica na falta de cuidados normais e
corriqueiros na condução do manejo de uma criação.
20
Medida fundamental para a manutenção da segurança sanitária
reside no total impedimento de criação de outras espécies de aves
na área, pois se apresentam como potenciais fontes de transmissão
de doenças infecto-contagiosas.
Outras medidas tais como, instalação de reservatórios de
higienização, também chamadas de “Rodolúvios”, na entrada dos
criatórios e reservatórios menores, os “Pedilúvios”, na entrada dos
piquetes e instalações gerais para higienização dos calçados dos
funcionários e visitantes que adentrem nos mesmos.
Acrescido dos cuidados normais de higiene (acima), deve-se
priorizar sempre o controle da água e dos alimentos servidos, os
cuidados quando da introdução de novos animais no plantel, criandose um esquema de quarentena (mínimo de 04 semanas de
isolamento). Na região cacaueira do Sul da Bahia, pelas suas
características de elevada umidade, evitar toda a possibilidade de
formação de alagamentos, poças e similares na área dos piquetes,
mantendo sempre uma condição mínima de drenagem. Evitar
transportar e manter junto, aves de idades e tamanhos diferentes,
precavendo-se contra traumatismos, evitando também o excesso de
tráfego e visitações no criatório, pois é característica marcante o
estresse causado pelas movimentações.
Com relação à sanidade é bom realçar que as vacinações, em
avestruzes ainda não é coisa totalmente definida, pois os resultados
laboratoriais podem acusar vírus patogênico, na amostra vacinal ou
amostra patogênica como resultado de exames, levando por tanto, a
não ser compulsória no Brasil a vacinação contra Newcastle, contra
influenza aviária o país não possui vacina, aliais, não existe nenhum
registro de vacina para avestruz e a Febre Hemorrágica Criméia
Congo, que tem no carrapato seu agente principal, não se apresentou,
no Brasil, nenhum caso.
Principais Doenças seus Sintomas Tratamento/Profilaxia
Influenza Aviária - Erradicada do Brasil, porém, o avestruz é
hospedeiro, apesar de não contrair a enfermidade, por isso o risco
21
para o plantel avícola brasileiro de importações descontroladas,
sugere-se a importação de ovos, pois isso reduz o risco de introdução
de novos patógenos de endo e ecto parasitos.
Newcastle – Como sintoma constata-se catarro, bronquite e
perturbações nervosas, às vezes com tosse e espirro, os ovos
apresentam casca fraca e forma irregular. A profilaxia reside no
isolamento das aves doentes e sacrifício das que apresentam
sintomas nervosos, desinfecção dos abrigos e queima das camas.
Doenças Diversas
São classificadas como doenças diversas, aquelas ocasionadas
pelo manejo inadequado da criação e são caracterizadas pela
apresentação das seguintes sintomatologias: Raquitismo, Rotação
tibiotarso, Impactação, Ingestão de corpos estranhos, traumatismos,
diarreias, verminoses.
O “raquitismo” é fruto de alimentação errônea sem o devido
balanceamento nutricional. “Rotação Tibiotarso” resultado de excesso
de proteína, fatores nutricionais, contaminações infecciosas, localização
errônea de cochos e qualidade de pisos. “Impactação” é proveniente
do consumo de alimentos impróprios que se acumulam no ventrículo,
pró-ventrículo e intestinos cessando a movimentação digestiva.
Ingestão de corpos estranhos e traumatismos relacionam-se ao
manejo e instalações inadequados, como por exemplo, os pisos
cimentados muito lisos que promovem escorregões com muita
facilidade, atentando também com relação ao piso de concreto que
o mesmo eleva muito a sensação de frio nas aves novas o que pode
gerar forte stress podendo levar até a morte do animal, por isso é
aconselhável o uso de campânula de aquecimento para o controle térmico.
1. Mercado (perspectivas)
Os mais variados tipos de carnes, sempre têm preferência quando
há sobra no orçamento familiar, destinado a ingestão de proteínas, a
carne bovina apresentando perspectiva de aumento de preço dado à
22
tendência dos criadores em reter os animais para forçar uma elevação
de seus valores atuais, quanto ao frango, os exportadores animados
pela desvalorização do Real, prevêem aumentos de exportações e
recuperação de mercados externos, a suinocultura beneficiada pelo
aumento tanto na taxa de desfrute, quanto no peso dos animais
abatidos, espera novo impulso nas exportações de carne
principalmente para a Argentina e Hong Kong, também pôr conta da
desvalorização da moeda brasileira ante o Dólar.
Apesar do consumo per capita de carnes no Brasil, vir se mantendo
constante nos últimos quatro anos, apresentando como dados os
seguintes: Carne bovina, 34 a 37 kg (01 porção de 90 g/dia), carne
suína, 09 a 10 kg, carne de frango 22 a 24 kg, carne de peixe 4,5 kg
levando a se prever que no caso da disponibilidade de outras carnes
nobres o mercado encontra-se aberto para aquisição, consumo e ou
exportação destas.
Consumo (perspectivas)
Espécie
Bovino
Frango
Suíno
Pescado
Avestruz 1% relação Boi
Avestruz 1% relação Todos
Consumo/carne
t/ano
5.895.000
3.969.000
1.585.000
700.000
58.950
114.490
Carne/animal
kg
240
0,96
60
1,2
30
30
Abate Anual
Cabeças
24.562.500
4.134.375.000
26.416.666
583.333
1.965.000
3.816.333
2. Mercado (perspectiva)
Imaginando acertadas as perspectivas do quadro acima, nos
obrigaria a estimar um rebanho previsto em 154 mil avestruzes (1%
em relação Boi) ou 298 mil avestruzes (1% em relação Todos), isto
sustentado no princípio da utilização de casais de aves e não o terno
(trio) quando se utiliza um macho para duas fêmeas (redução de 20%
23
da produtividade prevista), e numa produção média de 50 ovos pôr
ano com um percentual de fertilidade destes de 80%, percentual de
eclosão também de 80% e índice de mortalidade médio nos primeiros
três meses de 20%, ou seja em condições ótimas 50% de taxa de
desfrute.
Exemplo:
- 01 casal → 50 ovos/ano(80% fertilidade) → 40 ovos/férteis (80%
eclosão) → 32 pintos (20% índice mortalidade) → 25 filhotes (50%
Taxa de Desfrute).
Índices Técnicos
Postura
44 / 50 ovos
Fertilidade
73 / 80%
Incubação/Eclosão
80%
Mortalidade (nasc.)
15 / 20%
Taxa Desfrute
50%
20 % perdas
*
Distribuição do lucro, por animal
Discriminação
%
Couro
60
Carne
35
Plumas
5
Instalações
A característica principal das instalações, esta relacionada à
extrema simplicidade das mesmas, deve-se inicialmente construir
piquetes de dimensões de 1.000 m² (20m x 50m) podendo também
ser de 1400 m² (20m x 70m) utilizando-se de telas especiais
(campestres) com altura de 1,60m não devendo ser soldada as
24
emendas e sim costuradas, para promover a contenção e integridade
das aves, com a preocupação de se instalar corredores de dimensões
variando de 1,5m a 2,0m entre os piquetes que impossibilitem e ou
inviabilizem o contato direto entre as aves impedindo a ocorrência
de possíveis disputas (brigas), e no piquete instalar cochos de água,
ração e sal sem a necessidade de serem protegidos de intempéries
normais(sol e Chuva). Com o resultado do progresso de manejo dos
pastos efetuamos a redução dos piquetes segundo orientações dos
mais experientes para 800m² (20m x 40m) para acomodar um casal
de aves (400 m²/Cab.) e temos constatado considerável sobra de
forrageiras quando da rotação dos mesmos.
No caso de se optar pela cerca de arame liso, promover um
distanciamento entre os fios de 10,15 e 20 cm atentando para a altura
de 1,60m ou 1,80m.
Temos visto em outras propriedades a opção de se utilizar
unicamente 5 fios de arame liso distanciados a 25 cm apresentando
espaçamento entre mourões a cada 6 metros e balancins distanciados
a cada 1,5 metros, ficando para o futuro a responsabilidade de registrar
o sucesso ou fracasso da instalação.
Outra curiosidade interessante, está na formação de colônias de
animais em piquetes em numero de 02 com capacidade de abrigar
30 animais medindo [180 X 200 metros] cada um, deixando para este
tipo de colônia uma única sugestão, de se utilizar animais em
desenvolvimento, pois no caso deles se encontrarem em fase de
reprodução dificilmente se teria a certeza dos casais geradores e
fertilizadores dos ovos produzidos.
Nos piquetes implantar gramíneas resistentes ao pisoteio e de
porte baixo bem manejados e fertilizados, atentando para manter uma
altura mínima de pastejo.
No intuito de se promover a melhoria da qualidade nutritiva das
pastagens, introduzir leguminosas em consorcio com a gramínea,
optando por aquela que apresente característica de agressividade,
facilidade de implantação e pegamento, perenidade e disponibilidade
de se adquirirem mudas em nossa região, aliado ao excelente
25
potencial nutritivo do mesmo. O amendoim forrageiro registra índices
60 a 70 % de digestibilidade e 19% de proteína bruta.
Peculiaridades
Origem
África
Plumagem
Macho – Penas Pretas
Fêmea – Penas Cinza Amarronzadas
Altura
2,20m a 2,80m
Peso
110 kg a 150 kg
Alimentação
Pasto e Ração (concentrado)
Peso médio do ovo
1.230 g / 1.525 g
Produtividade Média
60 ovos / ano
Produção de Plumas
1,20 kg / ano
Carne
35 / 40 kg de carne limpa c/ 12 meses
Incubação
42 / 43 dias
Longevidade
Até 70 anos
Fertilidade Plena
Até 40 anos
Produção de couro
1,2 m²
Comparativa Pecuária x Avestruz x Ovino
Espécie
Bovino
Avestruz
Ovino
Gestação/Incubação (dias)
280 dias
42 dias
150 dias
Crias
01 bezerro
20/30 aves
1,5 cordeiro
Idade de abate
645 dias
407 dias
269 dias
kg de carne abate
240 kg
1.217 kg
30 kg
Couro (m )
3
24/36
0,75
Plumas (kg)
-
28/30
-
Vida economicamente ativa
10 anos
20 a 40 anos
5 anos
2
26
Valores Nutricionais Comparativos da Carne (100 g)
Gordura Protídeos Lipídeos Colesterol Calorias
(mg )
(mg)
(Kcal)
(mg )
(%)
Bovino
Suino
Frango
Avestruz
Peru
Javali
Ema
9,3
9,7
7,4
2,8
5,3
2,8
3,1
27
28
32
26
22
-
18
22
04
02
02
91
99
86
63
76
45
57
282
324
165
114
170
160
105
Ferro
(mg)
Proteína
(%)
3,0
1,1
1,2
3,2
1,8
2,1
-
29,9
29,3
28,9
26,9
29,3
22
22,9
Alimentação
No tocante a alimentação desta ave, deve-se considerar o consumo
de pedras/pedregulhos a serem ingeridos pelas aves até a
armazenagem total de 1,5 a 2,0 kg e localizadas no ventrículo, para
auxílio na digestão dos alimentos, que devido ao desgaste natural
destas pedras devem ser repostas.
A alimentação consiste basicamente de pasto (gramíneas e
leguminosas) além de ração balanceada.
1- Pastagens:
- Proporcionalmente as avestruzes pastam mais e com maior
eficiência do que o gado, tendo o hábito de pastejar similar ao das
ovelhas, privilegiando pastos baixos.
- Qualquer gramínea ou leguminosa é bem aceita. Quanto mais
nutritiva for a pastagem, menor o consumo de ração.
- Na ausência de pasto, deve-se fornecer capim elefante ou
Cameron picado.
2- Ração:
- Peletizada dá um melhor aproveitamento, menor desperdício e,
maior homogeneidade dos nutrientes e vitaminas.
- Como as necessidades nutricionais se modificam de acordo com
27
a idade, deve-se usar diferentes composições de ração para
acompanhar estas modificações.
- Existem no mercado rações específicas para avestruzes.
Consumo Médio de Ração
- 01 a 08 semanas de idade*
0,25 a 0,50 kg/cab/dia
- 09 a 16 semanas de idade
0,50 a 1,00 kg/cab/dia
- 17 a 24 semanas de idade
1,00 a 1,40 kg/cab/dia
- 25 a 42 semanas de idade
1,40 a 1,60 kg/cab/dia
- Acima de 42 semanas:
1,60 a 1,80 kg/cab/dia
Manejo
Captura / Contenção:
Ao se promover algum trato às aves, deve-se proceder a captura
utilizando-se do gancho apropriado para esta finalidade, de forma
nenhuma se deve utilizar cordas ou quaisquer outros instrumentos que
venha a dificultar a livre respiração destes ou promover traumatismos
ao longo do pescoço da ave, a operação deve ser rápida, colocandose um capuz que vede a passagem de luz, gerando um estado de
tranqüilidade ao animal, reduzindo as movimentações, atentando
sempre para que quando deste trabalho seja utilizado o mínimo de
duas pessoas para execução da tarefa, e em animais maiores e
muito pesados, trabalhar com o mínimo de três pessoas para capturar
e conter a ave, sempre imobilizando pêlos lados pois o chute frontal
pode gerar enorme perigo para quem lida com a ave.
Critérios básicos para ingressar na atividade
Quando da aquisição de animais além de consultar Profissionais
de reconhecida competência, deve visitar criatórios de sucesso para
observar a produtividade do plantel, manejo, consangüinidade,
defeitos genéticos, experiência do criador.
28
SISTEMAS AGROFLORESTAIS ALTERNATIVOS
PARA O PLANTIO DA SERINGUEIRA, CACAUEIRO E
CULTURAS TEMPORÁRIAS
José Raimundo Bonadie Marques
Wilson Reis Monteiro
Uilson Vanderlei Lopes
O sudeste baiano oferece condições altamente favoráveis para
a expansão do agronegócio borracha e com a vantagem de não
causar qualquer tipo de pressão sobre os remanescentes da Mata
Atlântica, dado o fato de não haver necessidade de incorporação
de novas áreas ao processo produtivo. A idéia básica é fomentar o
plantio da seringueira em sistema consorciado com o cacaueiro;
isto porque, nos últimos anos, o desenvolvimento de sistemas
agroflorestais (SAFs) tem sido bastante encorajado e cada vez mais
incorporado aos processos de produção como uma forma de
praticar uma agricultura ambientalmente correta, mais produtiva e
sustentável.
Dentro deste contexto, arranjos de plantio vêm sendo
desenvolvidos na CEPLAC para o plantio simultâneo de ambas as
culturas e, em especial, para a substituição do sombreamento
permanente (eritrinas) por seringueiras. Em qualquer das situações,
propõem-se alternativas de espaçamentos em que a densidade de
plantas pode variar conforme a topografia do terreno e o tamanho
da área.
CEPLAC/Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC). Caixa Postal 07, 45.600-970, Itabuna, Bahia,
Brasil. Fone e Fax: (73) 3214-3262, 3214-3204, e-mail: [email protected]
29
Variedades clonais de seringueira para sombreamento de
cacaueiros
É muito importante que seja feita a escolha correta de variedades
clonais de seringueira, pois estas serão determinantes para o sucesso
do SAF. O SIAL 893 constitui-se numa excelente opção, por apresentar
uma arquitetura de copa com ramificações laterais mais fechadas e
com baixa densidade foliar, o que proporciona um sombreamento de
melhor qualidade para o cacaueiro e permite o plantio em
espaçamentos mais adensados. E, além desse, há também dois
outros clones que estão para ser lançados (SIALs 839 e 1005) que
apresentam características similares. Ressalta-se, ainda, que todos
estes clones têm demonstrado superioridade aos anteriormente
plantados em relação à produção e resistência às principais
enfermidades foliares.
Possibilidades de estabelecimento de SAFs com cacaueiros
e seringueiras
A seringueira é uma espécie arbórea que, em algumas situações
pode atingir até 20 metros de altura, normalmente é plantada em
espaçamentos maiores e demora de sete a oito anos para entrar em
produção. Tudo isso evidencia a necessidade da adoção de
estratégias que venham promover um melhor uso da terra. Para tanto,
alguns arranjos de plantio estão sendo recomendados pela CEPLAC
para o estabelecimento dos SAFs, cujos detalhes serão apresentados
a seguir:
a) Introdução de cacaueiros híbridos sob seringais adultos Este sistema pioneiro originou-se por iniciativa dos próprios
produtores baianos, que decidiram introduzir cacaueiros sob o dossel
de seringais decadentes. O reduzido estande de seringueiras por área
favoreceu o desenvolvimento dos cacaueiros, dada a maior
penetração de luz. Atualmente, esta prática tem-se tornado bastante
comum entre os heveicultores da região sudeste baiana e estima-se
30
que aproximadamente 8.000 hectares estejam em sistema
consorciado com o cacaueiro. No entanto, muitos seringais foram
originalmente estabelecidos no espaçamento de 7,0 m x 3,0 m que
não se adequa para o consórcio, especialmente se o número de
plantas estiver próximo ao do original (476 plantas/ha). Além do mais,
se foram formados por clones com copa mais densa e com
ramificações laterais bastante desenvolvidas, proporcionando um
sombreamento excessivo para os cacaueiros.
b) Plantio simultâneo da seringueira e cacaueiro em renques
duplos – O plantio dos cacaueiros e das seringueiras deverá ser feito
simultaneamente e em faixas alternadas, com variadas opções de
espaçamento entre plantas dentro das faixas ocupadas por
cacaueiros ou por seringueiras. O arranjo de espaçamento a ser
adotado para ambas as culturas depende daquela que se quer
privilegiar, conforme indicado na tabela 1.
Tabela 1 - Dispositivo de plantio da seringueira em renques duplos e do cacaueiro
em filas quádruplas e quíntuplas.
Espaçamento
seringueira
Densidade
(plantas/ha)
Espaçamento
Cacaueiro
Densidade
(plantas/ha)
500
470
3,0 m x 3,0 m
3,0 m x 2,5 m
784
941
417
392
2,0 m x 3,0 m
3,0 m x 2,0 m
1042
1176
a) Privilegiando a seringueira
13,0 m x 3,0 m x 2,5 m
14,0 m x 3,0 m x 2,5 m
b) Privilegiando o cacaueiro
13,0 m x 3,0 m x 3,0 m
14,0 m x 3,0 m x 3,0 m
O custo inicial de implantação é relativamente alto e, por isso, a
intercalação com outras culturas de ciclo curto ou semiperene é
recomendável especialmente para pequenos agricultores. Estas
gerarão receitas adicionais que poderão ajudar na amortização dos
custos de manutenção das culturas principais, nos primeiros três anos.
31
Espécies, como por exemplo, milho, mandioca, mamão, banana da
prata e da terra, abacaxi, feijão, andu, entre outras, são perfeitamente
adequadas para esse tipo de sistema. A maioria delas também
proverá um sombreamento provisório bastante adequado aos
cacaueiros, além de manter a área livre de plantas invasoras,
eliminando a concorrência. No entanto, é bom salientar que a adoção
de culturas secundárias depende da experiência do produtor e do
mercado para sua comercialização.
Uma unidade demonstrativa usando este modelo encontra-se
estabelecida desde 1999 no Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC/
CEPLAC) e tem servido como instrumento de difusão e orientação
para extensionistas e produtores que têm interesse em adotar esse
sistema de cultivo. Este sistema de plantio, inclusive já vem sendo
explorado comercialmente por produtores e empresas privadas da
região, a exemplo da Fazenda Porto Seguro do grupo Agrícola
Cantagalo e das Fazendas Reunidas São George, apoiada pelo grupo
Almirante Cacau. Nessas últimas áreas, inúmeras combinações
enxerto x porta-enxerto de cacaueiros serão avaliadas e o plantio está
sendo realizado em solos com diferentes topografias, porém bastantes
representativos da região cacaueira baiana. Até mesmo os solos
hidromórficos com pouca opção de cultivo estão sendo considerados.
Uma vez que as seringueiras com maior capacidade de absorção de
água, podem funcionar como uma bomba d’água, melhorando as
condições gerais de cultivo para os cacaueiros, podendo se constituir
numa solução para o aproveitamento deste tipo de solos.
c) Substituição das eritrinas por seringueiras - Grande parte
dos cacauais baianos, em torno de 200 mil hectares (CENEX/
CEPLAC), estão sombreados com eritrinas. A substituição dessas
eritrinas por seringueira, espécie de alto valor econômico, está sendo
encorajada diante das perspectivas promissoras do mercado mundial
da borracha, além das informações tecnológicas que a CEPLAC dispõe
sobre o cultivo. É importante ainda ressaltar que a eliminação das eritrinas
não causará qualquer impacto ao meio ambiente, por ser uma espécie
exótica ao ecossistema cacaueiro e de baixo valor econômico.
32
Preferencialmente, a substituição deve ser feita em áreas onde há
irregularidades no sombreamento e de maneira a causar os menores
danos possíveis aos cacaueiros remanescentes, quer seja em lavouras
já renovadas ou em processo de renovação e também em lavouras
altamente atacadas por vassoura-de-bruxa.
No primeiro caso, a eliminação das eritrinas ou outras espécies
afins deve ser feita gradativamente, fazendo-se primeiramente a
retirada dos galhos laterais mais grossos. Deve-se ter sempre o
cuidado em manter o equilíbrio da planta para evitar danos maiores
pelo seu tombamento, deixando-se ao final, a planta com apenas o
fuste principal. Dependendo do fim a que se pretenda dar ao fuste,
este poderá ser derrubado manual ou quimicamente.
No segundo caso, as eritrinas poderão ser derrubadas, sem os
cuidados mencionados anteriormente, direcionando o tombamento
das mesmas para os locais da área com maior falha de cacaueiros.
Em ambas as situações a madeira deve ser aproveitada pelo
mercado regional na fabricação de caixotes para mamão e
hortaliças, caixão de defunto, forro entre outros usos, amortizando com
isso os custos da sua substituição.
É importante ressaltar que na implantação deste sistema misto
continuo, apenas os custos advindos do plantio das seringueiras e
remoção das eritrinas serão acrescidos. E estes sofrerão variações
em decorrência do espaçamento e do tipo de mudas a serem
utilizadas (Tabela 2).
A densidade populacional da seringueira poderá variar de 222 a
444 plantas por hectare e a mesma será estabelecida nas
entrelinhas dos cacaueiros remanescentes (Tabela. 3). A opção por
um ou outro espaçamento deve ser feita pelo produtor de acordo
com a disponibilidade dos recursos financeiros, topografia da área,
idade e densidade do cacaual, etc. Por outro lado, os custos de
manutenção não sofrerão muita alteração, uma vez que os tratos
culturais comumente dispensados aos cacaueiros atenderão de
maneira indireta e satisfatoriamente às exigências das
seringueiras.
33
Tabela 2 - Simulação do custo adicional da renovação de 1,0 ha de cacaueiros
com a substituição das eritrinas por seringueiras.
Estande da
seringueira
Plantas/ha
Seringueira*
R$
Cacau*
R$
Custo adicional da
substituição %
222
1.147,50
4.666,18
19,7
267
1.241,90
4.666,18
21,0
333
1.314,50
4.666,18
22,0
444
1.436,60
4.666,18
23,5
* custo da implantação das seringueiras mais a retirada das eritrinas.
** custo da renovação de cacaueiros considerando-se um estande de 600 plantas/ha
Tabela 3 - Dispositivo de plantio da seringueira em linhas simples e renques duplos.
Espaçamento
da seringueira
Plantas/hectare
Espaçamento
da seringueira
Plantas/hectare
9,0 m x 2,5 m
444
9,0 m x 3,0 m
370
12,0 m x 2,5 m
333
12,0 m x 3,0 m
277
15,0 m x 2,5 m
267
15,0 m x 3,0 m
222
15 m x 3,0 m x 2,5 m*
444
15 m x 3,0 m x 3,0 m*
370
*Apenas neste espaçamento em linhas duplas há redução do estande de cacaueiros
para 780 plantas/ha, nos demais será mantida a mesma densidade de 1111 plantas/ha.
Considerações finais
O Estado da Bahia poderá voltar a ocupar uma posição de
destaque mundial na produção de borracha e cacau, com a ampliação
da área plantada com seringueiras, em sobreposição às áreas de
cacau, que geralmente estão estabelecidas em solos de alta
fertilidade. Se por exemplo 40% das áreas de cacau formadas pelo
processo de derruba total forem consorciadas, isto irá representar
em uma expansão de 80 mil hectares de seringueiras, a um custo
34
extremamente reduzido, ou seja, no máximo até 30% a mais do custo
da implantação da lavoura de cacau solteiro. A produtividade desses
seringais será certamente superior à dos seringais solteiros
estabelecidos em solos de menor fertilidade, visto que estarão sendo
utilizados clones de alta produção e com maior resistência às
principais doenças. O mesmo acontecerá com os cacaueiros que
terão também as condições gerais de cultivo melhoradas.
A adoção desses sistemas irá garantir maiores oportunidades de
emprego e renda, devido ao maior uso de mão-de-obra nas diferentes
fases de desenvolvimento e com conseqüente fixação do homem no
campo, proporcionando melhorias nas condições gerais de vida à
comunidade local. Além do mais, estaremos explorando o potencial
de seqüestro de carbono atmosférico das duas culturas, pois se têm
registros de que as seringueiras retiram quantidades de CO 2
idênticas às essências florestais, inserindo-se perfeitamente dentro
do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
35
Produção orgânica de leite na Mata Atlântica
Cláudia de Paula Rezende
A atividade pecuária sempre foi relegada a áreas com topografia
acidentada, solos erodidos ou exauridos por queimadas freqüentes
ou super-pastejos. Conseqüentemente à disponibilidade de forragem
dessas áreas são muito baixas, apresentando grande incidência
de plantas invasoras. Nesse aspecto, se a atividade pecuária
desenvolvida nessas condições for fundamentada na produção de
corte e leite apenas através das forrageiras que compõem a
pastagem, tal atividade estará fadada ao fracasso. Aliado a falta de
forragem, que constitui a dieta básica dos animais, o baixo potencial
produtivo do rebanho, problemas de sanidade animal, falta de uma
política agrícola adequada, preços elevados dos insumos e a mão
de obra desqualificada, tornam-se obstáculos muitas vezes
intransponíveis para o produtor rural. No entanto, essas dificuldades
podem ser revertidas com o uso de tecnologia correta, que altere
decisivamente os índices de produtividade, a eficiência do processo
e traga retornos financeiros crescentes.
A comunidade cientifica tem contribuído de forma efetiva,
desenvolvendo e difundindo novas tecnologias com resultados
concretos e positivos no incremento da produtividade. Como
exemplo, a seleção de novos materiais genéticos promissores sejam
gramíneas ou leguminosas, aliadas às práticas adequadas de
manejo de solo e da pastagem, podem elevar os índices produtivos
do rebanho nacional. Inegavelmente tornado esse rebanho mais
Pesquisadora da Ceplac/Cepec - Km 22 da Rodovia Ilhéus-Itabuna, Caixa Postal 07 - 45600-000 Itabuna, Bahia. E-mail: [email protected]. Fone: (73) 3270-2264.
36
competitivo no mercado internacional. Não se questiona, que é mais
econômico produzir leite ou carne a pasto, e que o Brasil, reúne
características que propiciam essa atividade, no entanto, é
necessário ajustar práticas de manejo de pastagens, suplementação
alimentar, manejo reprodutivo e sanitário dos rebanhos, entre outras,
e adequá-las à relação custo-benefício da atividade.
As propriedades envolvidas com a produção de leite apresentam
de modo geral, uma superlotação animal nas pastagens e
conseqüentemente uma baixa disponibilidade de forragem tanto em
quantidade como qualidade. Com a superlotação há também o
comprometimento inicialmente da pastagem cultivada e
posteriormente da fertilidade do solo, o que culminará com uma
pastagem degradada e invadida por ervas daninhas, muitas dessas
tóxicas para o rebanho bovino. Sem alimentação ou alimentação
deficiente os animais se tornam subnutridos e conseqüentemente terão
baixos índices de eficiência reprodutiva e altas taxas de mortalidade,
sem considerar a baixa produtividade, que é na verdade, a maior
evidência da ineficiência da exploração em questão.
O clima é entre as condições naturais um dos mais importantes
fatores limitantes de produção, e pode ser considerado como o
regulador da produção animal ou seu limitador. O stress térmico
causa diretamente redução do consumo de alimento e
conseqüentemente a redução dos índices produtivos e reprodutivos
do rebanho leiteiro, primordialmente os de origem européia.
O ecossistema de tabuleiros costeiros se caracteriza por uma
topografia plana com boqueirões em V, água abundante de boa
qualidade, precipitação pluviométrica razoável sem estação seca
definida, invernos com temperaturas amenas. Na bovinocultura de
leite, por se tratar de rebanhos muitas vezes com elevado grau de
sangue europeu, as condições de clima podem vir a ser limitantes,
nesse aspecto, devesse considerar o cruzamento com animais de
maior rusticidade, como é o caso do zebu. De um modo geral as
características desse ecossistema são também de relevante
importância como fator incrementador de produtividade.
37
Logicamente por se tratar desse tipo de exploração alguns
condicionantes deverão inserir-se no sistema, tais como, áreas de
sombra para o rebanho, facilidades de acesso a água, pastejos
rotacionados com forrageiras de melhor qualidade, consórcio de
gramíneas com leguminosas, suplementação alimentar, manejo
sanitário mais criterioso, etc.
Outro aspecto importante a ressaltar seria a forma de favorecer
adequados índices produtivos e reprodutivos com o uso mínimo de
agentes químicos. A crescente conscientização da sociedade com
respeito à preservação ambiental, acompanhada da preocupação
com a segurança alimentar dos produtos consumidos, têm conduzido
a uma transformação gradual dos sistemas de produção,
processamento, comercialização e consumo de alimentos de origem
animal. A produção agroecológica ou orgânica em pecuária,
baseada principalmente nos princípios de sustentabilidade
ambiental, econômica e social, apresenta-se, neste caso, como uma
alternativa viável ao sistema convencional utilizado. No Brasil existe
uma grande demanda em transformar os sistemas de produção
pecuária convencional em sistemas orgânicos, tornado o país
potencialmente líder no setor.
Com relação à alimentação do rebanho em um sistema de
produção orgânica, o consórcio de gramíneas e leguminosas na
pastagem é prática recomendada, garantindo a diversificação de
espécies vegetais no ecossistema. Conseqüentemente a produção
de leite poderá ser incrementada com introdução de leguminosas
nas pastagens e estabelecimento de sistemas silvipastoris nas
propriedades, evitando-se assim o uso de adubos químicos e
preservando o meio ambiente.
Na produção orgânica de leite a alimentação das vacas deve ser
produzida, majoritariamente, sem agrotóxicos (é permitido incluir
apenas 15% a 30% de produtos não orgânicos na composição das
rações) e a medicação dos animais tem que ser natural.
A conversão dos sistemas de manejo convencional tradicional
para o orgânico (Tabela 1), segundo as literaturas revisadas tem que
38
Tabela 1: Procedimentos técnicos para produção orgânico animal.
Procedimentos
Atividades
Recomendados
Restritos
Auto-suficiência
alimentar orgânica;
forragens frescas,
silagem ou fenação
produzidas na
propriedade ou de
fazendas orgânicas;
Nutrição e
Tratamento
veterinário
Aquisição de
alimentos não
orgânicos,
equivalente a até
20% do total da
matéria seca para
animais
monogástricos e
15%para
ruminantes;
Aditivos naturais
para ração e silagem
(algas, plantas
medicinais,
aromáticas, soro de
leite, leveduras,
cereais, outros
farelos);
Aditivos, óleos
essenciais,
suplementos
vitamínicos,
aminoácidos e
sais minerais (de
forma
controlada);
Mineralização com
sal marinho;
Suplementos
vitamínicos (óleo de
fígado de peixe e
levedura);
Agentes
etiológicos
dinamizados
(nosódios ou
bioterápicos);
Homeopatia,
fitoterapia e
acupuntura;
Amochamento e
castração.
São obrigatórias as
vacinas
estabelecidas
por lei, e
recomendadas as
vacinações para as
doenças mais
comuns a cada
região
39
Proibidos
Uso de aditivos,
estimulantes
sintéticos;
Promotores de
crescimento;
Uréia;
Restos de
abatedouros;
Aminoácidos
sintéticos;
Transferência
de embriões;
Descorna e
outras
mutilações;
Presença de
animais
geneticamente
modificados.
Continuação da Tabela 1
Procedimentos
Atividades
Recomendados
Raças animais
adaptadas à
região, raças
rústicas;
Aquisição de
matrizes de
criadores
orgânicos;
Proibidos
Raças exóticas
não adaptadas;
Raças exóticas
não adaptadas;
Bezerros podem
ser adquiridos
de criadores
convencionais
até 30 dias;
Estabulação
permanente de
animais;
Inseminação
artificial sob
controle;
Animais de fora
devem ficar
em quarentena;
Manejo do
rebanho e
instalações
Restritos
Separação dos
bezerros por
barreiras
Instalações
adequadas para o
conforto e saúde
dos animais, fácil
acesso à água,
alimentos e
pastagens;
Espaço adequado
à movimentação;
Número de
animais por área
não deve afetar os
padrões de
comportamento;
Criações de
preferência em
regime extensivo
ou semi-extensivo,
com abrigos;
Monta natural para
Reprodução;
Desmame natural.
40
Confinamento e
imobilização
prolongados;
Instalações fora
dos padrões;
Manejo
inadequado que
levem animais
ao sofrimento,
estresse e
alterações de
comportamento
Continuação da Tabela 1
Procedimentos
Atividades
Recomendados
Restritos
Fogo controlado
para limpeza de
pastagens;
Uso de técnicas de
manejo e
conservação de
solo e água;
Pastoreio
permanente
sob condições
satisfatórias;
Nutrição das
pastagens de
acordo com as
recomendações;
Manejo de
Pastagens
Estabelecimento
de pastagem em
solos
encharcados,
rasos
ou pedregosos.
Controle de
pragas,
doenças e
invasoras
das pastagens de
acordo com as
normas;
Pastagens mistas
de gramíneas,
leguminosas e
outras plantas
(diversificação);
Pastoreio rotativo
racional, com
divisão de
piquetes;
Manter solo
coberto, evitando
pisoteio excessivo;
Rodízio de animais
de exigências e
hábitos
alimentares
Fonte : Arenales, 2001; Darolt, 2002.
41
Proibidos
Monocultura de
forrageiras;
Queimadas
regulares;
Superlotação de
pastos;
Uso de agrotóxicos
e adubação
mineral de alta
solubilidade
nas pastagens.
ser gradual, e no mínimo levaria dois anos. Nos procedimentos
técnicos de produção orgânica animal (Tabela 1), se observa que
algumas práticas embora não indicadas podem ser usadas nesse
período, até o completo estabelecimento do sistema de produção
orgânica.
Na produção de leite utilizando leguminosas consorciadas com
gramíneas foram observados aumentos na ordem de 20% e 12% na
produção de leite de vacas do rebanho comercial da estação da
Ceplac, em Itabela-Ba, mantidas em pastejo rotacionado em
pastagens de B. dictyoneura consorciada com amendoim forrageiro
cv. Belmonte e em pastagens exclusivas de B. brizantha cv. Marandu
e B. decumbens, respectivamente. Lascano (1994) também
apresenta resultados similares, onde a inclusão de A. pintoi em
pastagens de gramíneas promoveu acréscimos de 17 a 20% na
produção de leite. Esses resultados têm variado com o valor nutritivo
da leguminosa utilizada no consórcio. Gonzalez et al. (1996), não
verificaram efeito da consorciação de capim-estrela africana com
D. ovalifolium, mas quando consorciado com A.pintoi, obtiveram
produções superiores em 1,1 a 1,3 kg de leite/vaca/dia, em relação
à pastagem de estrela exclusiva (Tabela 2).
Tabela 2. Produção de leite em pastagens de capim-estrela africana ( Cynodon
nlemfuensis) monocultivo e consorciado com Arachis pintoi ou Desmodium ovalifolium.
Produção
C. estrela +
A. pintoi
Capim estrela
C. estrela + D.
ovalifolium
1990
kg/vaca/dia
7,7
kg/ha/dia*
22,3
b
8,8a
25,5
7,6b
22,0
1991-1992
kg/vaca/dia
9,5
kg/ha/dia*
22,8
b
10,9a
25,9
* Lotação de 2,9 UA e 2,4 UA 1990 e 1991/92, respectivamente.
Fonte: Gonzalez et al., 1996.
42
9,4b
22,6
Em um sistema silvipastoril a presença de leguminosas arbóreas
é importante na retenção de água, ciclagem de nutrientes e na
conservação do próprio solo. Bem como ser uma opção forrageira
de alimentação para bovinos, principalmente na época crítica do
ano. Entre as leguminosas arbóreas e arbustivas que podem fazer
parte da alimentação de ruminantes pode-se fazer menção da
Cratylia argentea, Leucaena leucocephala e Gliricidia sepium.
Estudos realizados na Embrapa Gado de Leite indicaram que a
gliricidia e a amoreira foram às forrageiras de maior potencial,
seguido pela leucena e pelas espécies de estilosantes e cratilia
(Tabela 3). As espécies avaliadas podem ser utilizadas em sistemas
silvipastoris, contribuindo para o fornecimento de energia/proteína
aos animais (Aroeira et al., 2003). Em Cuba Hernandez et al., (1998)
mostram que a produção de leite de um sistema de produção a pasto
aumentou em 3.557 L/ha/ano, quando se explorou, na propriedade,
um sistema multiestratificado (Gráfico 1).
Na Colômbia, Murgueitio (2000) observou que com o uso de
sistema silvipastoril, incrementou a produção de leite de 10.585 para
12.702 L/ha/ano. O teor de matéria orgânica no solo de 1,6%
aumentou para 2,6%, simplesmente com a introdução de Prosopis
juliflora e Leucaena leucocephala, numa pastagem de capim-estrela
(Tabela 4).
Tabela 3. Teores de matéria seca (MS), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em
detergente ácido (FDA), proteína (PB) e digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS),
de diferentes espécies.
Espécies
S. guianensis
G. sepium
L. leucocephala
C. argêntea
M. alba
MS
FDN
FDA
Celulose
Lignina
DIVMS
PB
33,3
54,9
38,4
27,0
10,8
52,5
11,8
24,8
44,8
27,9
16,1
12,2
60,5
19,6
24,3
42,6
28,3
16,2
12,7
56,2
28,9
45,5
59,0
36,6
18,1
16,7
48,3
21,4
43,6
45,3
29,6
20,5
6,4
60,0
14,8
Fonte: Aroeira et al. (2003).
43
Gráfico 1. Incrementos na produção de leite com introdução de espécies.
Tabela 4. Indicadores técnicos e ambientais de um sistema silvipastoril ( C.
plectostachyus + L. leucocepha + Prosopis juliflora) x pastagem de capim-estrela.
Capim-estrela
+Nitrogênio
Sistema
Silvipastoril
Carga animal (vacas/ha)
4,0
4,8
Produção de leite (kg/vaca/dia)
9,5
9,5
Produção de leite (kg/ha)
10.585
12.702
Adubação (uréia) (kg/ha)
400
0
16.000
12.000
Indicadores
Água consumida (m3/ha/ano
Pássaros (nº de espécies)
Matéria orgânica do solo (0 - 10 cm) (%)
Fonte: Murgueitio (2000).
44
?
46
1,6
2,8
Considerações finais
A agricultura orgânica, incluindo o filão pecuário, registrou em 2002,
crescimento de 50%, garantindo uma receita aproximada de R$250
milhões no mesmo período. Os produtos obtidos a partir de uma
exploração orgânica deverão ter um valor agregado mais elevado,
permitindo a melhor remuneração das unidades produtoras e,
conseqüentemente, eliminado a ameaça de má utilização dos
recursos naturais existentes.
Maximizar a produção sem causar nenhum prejuízo ao ecossistema
é um dos maiores desafios dos estudiosos das mais várias áreas,
incluindo a agropecuária. A utilização do consórcio entre leguminosas
e gramíneas e a formação de sistemas silvipastoris são alternativas
promissoras e que apresentam excelentes resultados No entanto é
importante se atentar para a escolha das forrageiras e adequá-las a
um manejo que propicie a persistência e auto-sustentabilidade dos
sistemas adotados.
É possível produzir leite a partir de um modelo economicamente
viável, socialmente justo e ambientalmente correto, fundamentado em
tecnologias concretas, e que favoreçam a maior integração entre o
homem e a natureza.
Referências Bibliográficas
ARENALES, M. C. Produção Orgânica de Carne Bovina. Ed. Centro
de Produções Técnicas, 2001.
AROEIRA, L. J.M., CARNEIRO, E.C., PACIULLO, D.S.C., MAURICIO,
R.M., ALVIM, M.J., XAVIER, D.F. Composição química, digestibilidade
e fracionamento do nitrogênio e dos carboidratos de algumas espécies
forrageiras. Pasturas tropicales, Cali, v.25, n.1, p.33-37, 2003.
AROEIRA, L.J.M., PACIULLO, D.S.C. Produção de leite a pasto.
45
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.25, n.22, pp.56-63, 2004.
DAROLT, M.R. Pecuária Orgânica: procedimentos básicos para um
bom manejo da criação. Planeta Orgânico, Seção Trabalhos
Disponíveis em: <http:www.planetaorganico.com.Br/daroltpec.htm>.
2002.
HERNANDEZ, D., CARBALLO, M., REYES, F., MENDONZA, C.
Exploración de un sistema sivopastoril multiasociado para la
producción de leche. In: TALLER SIVOPASTORIL LOS ÁRBORES Y
ARBUSTOS EN LA GANDERIA, 3., 1998, Matanzas. MEMORIAS...
Matanzas:EEPF “Hatuey”, 1998. p.214.
GONZALEZ, M.S., NEURKVAN, L.M., ROMERO, F. et al. Producción
de leche en pasturas de estrella africana (Cynodon nlemfuensis) solo
y asociado con Arachis pintoi o Desmodium ovalifolium. Pasturas
Tropicales, v.18, n.1, p.2-12, 1996.
LASCANO, C.E. Nutritive value and animal production of forage Arachis.
In: KERRIDGE, P.C.; HARDY, B., (eds). Biology and agronomy of forage
Arachis. 1994 Cali, Colômbia: CIAT, 1994, p.109-121.
MURGUEITIO, E. Sistemas agroforestales para la producción
ganadera en Colombia. In: POMAREDA C., STEINFELD, H.
Intensificación de la ganadería en Centro América – Beneficios
económicos y ambientales. São José, Costa rica: CATIE/FAO/SIDE.
2000. P. 219-242.
46
ASPECTOS TÉCNICOS DA CLONAGEM DO
CACAUEIRO
Antonio Eduardo de Souza Magno
Milton José da Conceição
Assim como as vantagens proporcionadas na heveicultura,
citricultura, bananicultura, e agora no reflorestamento, a clonagem
comercial de cacaueiros vem trazendo para a cacauicultura
sulbaiana, excelentes resultados positivos, pois além de amenizar
os malefícios da Vassoura-de-bruxa, está proporcionando o aumento
dos rendimentos da mão de obra e produtividade dos plantios. A
possibilidade de se transferir os atributos agronômicos de uma planta
para uma coleção (plantio) vem trazendo enormes mudanças nos
paradigmas da cultura do cacau no Sul da Bahia.
A partir de 1997 a CEPLAC formou 40 Jardins Clonais em 20
municípios da região cacaueira, com o objetivo de fomentar a
distribuição dos cinco primeiros clones por ela recomendados (TSH
1188, 565 e 516, CEPEC 42 e EET 397). Havia uma preocupação
com a incompatibilidade sexual daqueles materiais, pois todos eram
autoimcompatíveis, porém intercompatíveis. Para que essas plantas
pudessem expressar todo o seu potencial de produção seria
necessário estabelece-las em campo, obedecendo a um modelo de
disposição de tal maneira, para que funcionasse de forma satisfatória
a intercompatibilidade ou cruzamento. Foi adotado um sistema onde
cada clone teria uma cor específica, com o objetivo de facilitar ao
Engenheiro Agrônomo - CEPLAC/CENEX/SERAT, Fone: (073) 3214-3326
E-mail: [email protected] e [email protected]
47
produtor a memorização do desenho que seria instalado em suas
áreas comerciais.
Com os conhecimentos sobre a seleção de plantas resistentes à
Vassoura-de-bruxa na própria fazenda, transferidos pela CEPLAC,
muitos produtores por iniciativa e risco próprio, fizeram clonagem em
áreas comerciais utilizando plantas de sua fazenda e de outras que
simplesmente no momento estavam apresentando uma aparente
resistência à Vassoura-de-bruxa. No afã de garantirem a viabilidade
do sistema radicular de suas plantas doentes, não se preocuparam
com os aspectos da produtividade/rendimento, compatibilidade
sexual, porte e precocidade na produção, dos materiais que estavam
sendo instalados em suas áreas comerciais.
Em virtude do exposto, muitas fazendas estão com áreas clonadas
significativas, apresentando resultados insatisfatórios, que não
atendem às expectativas esperadas de produção, devido
principalmente aos materiais botânicos por eles selecionados, a
disposição espacial inadequada das plantas no momento de sua
instalação, falta de ajuste do sombreamento e ao manejo incorreto
dispensado às plantas.
ASPECTOS TÉCNICOS
Clones autocompatíveis - No processo de aperfeiçoamento da
clonagem do cacaueiro, a introdução dos materiais botânicos
autocompatíveis irá reduzir os problemas da incompatibilidade
sexual, quando distribuídos de forma criteriosa com os materiais
botânicos autoincompatíveis.
Sombreamento - O ajuste do sombreamento provisório e
definitivo com a retirada de árvores auto-sombreadas e o plantio
em áreas abertas de essências florestais que atendam aos aspectos
agronômicos, ecológicos e econômicos, proporciona um ambiente
com luminosidade adequada, que protege os cacaueiros e estabiliza
48
as condições microambientais do cultivo, traduzindo numa maior
possibilidade das plantas clonadas expressarem seu potencial de
produção.
Remoção de vassouras - A remoção das vassouras vegetativas
nas áreas clonadas é uma prática por demais necessária e deve
obedecer ao calendário agrícola (Jan/Fev; Abr/Mai; Jul/Ago e Out/Nov),
que a depender das variações climáticas, poderá ser alterado. O
controle eficiente das ervas daninhas deve ser realizado pelo menos
duas vezes por ano, com o uso de herbicidas, verificando previamente
o teste de vazão do equipamento e conseqüentemente a dosagem
recomendada.
Poda - A poda deve ser realizada de dentro para fora das
plantas, eliminando-se os ramos que se cruzam, porém sem deixar
espaços que possam dar entrada de luz sobre o caule da planta e
o terreno. Com isso, evita-se uma necrose do caule, pela incidência
direta da luz solar e a maior infestação de ervas daninhas na área.
Quando a poda é realizada de forma excessiva, leva a eliminação
de ramos produtivos o que causa um aumento e freqüência de
lançamentos foliares reduzindo consequentemente a produção de
frutos. Porém quando a poda deixa de ser realizada, ocorre um
excesso de folhas e surgimento de palmas de água ou chupadeiras,
que proporciona competição na planta e entre plantas deixandoas com altura acima do desejado, bem como fora do espaço
delimitado. A atividade fotossintética é reduzida nas folhas do
interior das copas, que por receberem pouca luz, começam a atuar
como drenos e não como fonte de acúmulo de reservas necessárias
para a produção de frutos.
Novos métodos e materiais para enxertia – A cada dia está
ocorrendo uma evolução no aperfeiçoamento dos métodos de enxertia
e na utilização de materiais que estão aumentando o rendimento da
mão de obra, do índice de pegamento/brotação e da redução dos
49
custos. A exemplo do saco usado para o sorvete “geladinho” como
câmara úmida e no amarrio das enxertias feitas principalmente em
mudas, através do método da garfagem de topo e lateral.
Decepa/Recepa - No processo de enxertia comercial deverá ser
dado um manejo de podas na planta velha que proporcione uma
entrada de luz adequada e necessária para o desenvolvimento do
enxerto, desse modo haverá uma convivência das duas plantas (o
conjunto) por um determinado período. Somente deve-se retirar/
recepar a planta velha quando a produção do enxerto for igual ou
superior ao conjunto quando da instalação do enxerto.
50
UMA ESTRATÉGIA PARA CONSERVAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO NO CONTEXTO RURAL DA
REGIÃO CACAUEIRA DA BAHIA
Joaquim Blanes, Luis Lima, Walter Lima
Marcelo Araujo, Luis de Lima
A Mata Atlântica é considerada uma das áreas de maior prioridade
para a conservação do planeta, devido a sua diversidade Biológica e
elevado grau de ameaça. No município de Una, sul do estado da Bahia,
localiza-se a Reserva Biológica de Una (REBIO), unidade de
conservação federal de proteção integral, criada através do decreto
85463 do ano de 1980. Embora o Decreto Federal determinasse uma
área de 11400 hectares (ha), até o ano de 1999, somente 7022ha
haviam sido adquiridos pelo executivo federal, com o apoio de
organizações internacionais. A regularização do restante da área
decretada deverá estar concluída até o final de 2004.
Intervindo de forma abrangente, o IESB vem propondo políticas
públicas, desenvolvendo metodologias e ferramentas de análise
ambiental, fomentando a implementação de alternativas econômicas
na utilização dos recursos naturais e capacitando pessoas locais,
através de parcerias com instituições de pesquisa, ONG’s locais e
nacionais, universidades e agências governamentais.
Neste processo, identificou-se a necessidade de fortalecer a
organização das associações comunitárias rurais, como etapa
indispensável para uma efetiva conservação dos recursos naturais e
promoção de bases para o desenvolvimento sustentável. Também,
era crítica a realidade da comercialização de produtos agrícolas dos
Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia
Caixa Postal 84, Ilhéus – Bahia CEP 45652-180
51
pequenos e médios produtores tradicionais e assentados pela reforma
agrária, a presença de uma rede de comercialização primitiva, onde
o produtor distante geograficamente e com pequena quantidade e
grande variedades de produto era presa fácil para atravessadores
experientes.
A Produção Orgânica e as Oportunidades para a Região
Cacaueira da Bahia
O diferencial da produção orgânica está na oferta de produtos
saudáveis (livre de agrotóxicos), na possibilidade de atender mercados
diferenciados (onde consumidores estão dispostos a pagarem um
sobre-preço como prêmio à qualidade dos produtos), nas relações
justas de produção e na preservação ambiental.
A Região Cacaueira da Bahia apresenta um contexto bastante
favorável para consolidação de um pólo de Agricultura Orgânica
Agroflorestal, observando especialmente os aspectos da conservação
da biodiversidade e produção familiar, como pode ser observado nos
diversos aspectos abaixo enumerados:
1. A meso-região cacaueira, com 51 municípios, concentra mais
de 80% da produção de cacau do estado e da sua área cultivada,
cerca de 350 mil hectares, 70%, estão implantadas sob mata raleada
(cabruca), conforme CEPLAC/CENEX (1999);
2. Regra geral a partir de 1984, quando se deu a restrição aos
financiamentos para o cacau, houve uma redução na aplicação de
agrotóxicos. Além disso, dentre os diversos aspectos negativos
apresentados pela enfermidade vassoura de bruxa, a não
recomendação comercial de agentes químicos para o seu controle,
revela-se como positivo, desmotivando a aplicação de pesticidas e
estimulando as pesquisas na área de controle biológico;
3. Associa-se estes elementos ao grau máximo de interesse
conservacionista atribuído a este ecossistema, destacando-se os
projetos: “Reserva da Biosfera da Mata Atlântica” e “Corredores
Ecológicos” em fase de implementação.
52
JARDINAGEM E PAISAGISMO
Noemia Pinheiro de Almeida *
Acontece quando a gente gosta muito de alguém: às vezes nos
falta a palavra exata, nenhuma frase é capaz de expressar o que
sentimos. Nessas horas, em que um gesto é muito mais significativo,
deixe que as flores falem por você. Presentear com flores é sempre
uma demonstração de bom gosto e sensibilidade. Principalmente se
você oferece um vaso formado com suas próprias mãos. E é
fascinante escolher o tipo de planta que melhor combina com a pessoa
que você vai presentear. Exemplo de algumas:
Nome vulgar
Nome científico
Lilium longiflorum
Lilium híbrido
Calceolaria crenatiflora
Primula
Begonia tuberhybrida
Begonia semperflorens
Begônia rieger
Acalypha hispida
Pentas lanceolata
Streptocarpus
Clivia miniata
Crysanthemum morifolium
Sinningia apeciosa
Senecio
Cyclamen persicum
Hibiscus rosa sisensis
Lírio
Lírio tigrado
Calceolária
Prímula
Begônia tuberosa
Begônia sempre florida
Begônia rieger
Rabo de gato
Cacho de estrelas
Prímula do cabo
Clívia
Crisântemo
Gloxínia
Cinerária
Ciclame
Hibisco chinês
* Técnica em agropecuária - paisagista
53
Até para decorar sua casa, mesmo que não disponha de amplas
janelas e a luminosidade não seja a ideal, você pode viver cercado
de verde e beleza. E, por favor, nem pense naquelas abomináveis
plantas de plástico. Existe um número grande de plantas que se
contentam com um mínimo de claridade para sobreviver. E, mais do
que isso, não exigem muitos cuidados, permanecendo anos e anos
sempre bonitas e saudáveis. São folhagens maravilhosas, de todos
os tipos, tamanhos e formatos onde citaremos abaixo:
Nome vulgar
Nome científico
Espatifilo
Spathiphyllum
Casca de melancia
Maranta leuconeura
Dracena listrada
Dracaena deremensis
Cordiline verde
Cordyline terminalis
Esmeralda crespa
Peperomia caperata
Pitosporo anão
Pittosporum tobira
Clorofito
Chlorophytum comosum
Babosa
Aloe arborescens
Lança de são jorge
Sanseviera cylinfrica
Folha de violino
Philodendron panduraeforme
Fátsia japonesa
Fatsia japonica
Comigo ninguém poda
Dieffenbachia picta
Sonho de beberrão
Hatiora salicornioides
Bolsa de pastor
Rhoeo spathacea
Anturio
Anturium
ESTRANHAS BELEZAS
O reino vegetal caracteriza-se por suas empolgantes belezas e seus
profundos mistérios. Não existem, é verdade, aquela feroz planta
carnívora; mas muitas espécies se aproximam muito disso: devoram
insetos que caem em suas malhas.Outras, como a espatélia,
produzem um estranho perfume, que lembra o cheiro da carne em
54
decomposição, para atrair as moscas, responsáveis pela fecundação
das flores. E há aquelas de aparência estranha, às vezes bizarra, mas
que dão um efeito extraordinário na decoração de sua casa.
Nome vulgar
Nome científico
Drósera (carnívora)
Drosera rotundifolia
Cebola trepadeira (estranha e fascinante)
Bowiea volubilis
Dionaea muscipula
Dionéia (carnívora)
Folha de veludo (estranha)
Kalanchoe beharensis
Sensitiva (estranha)
Mimosa pudica
Pérola verde (estranha-forma de bolinha)
Senecio rowleyanus
Estapélia (suculenta c/ flor cheiro
desagradável e atrai moscas)
Stapelia nobilis
Avelós(líquido leitoso e cáustico)
Euphorbia tirucalli
Planta hélice (estranha)
Crassula falcata
Trevo dourado(nervuras douradas)
Oxalis corymbosa
Aspargo zigue zague (diferente)
Aspargus retrofractus
FLORA TROPICAL
Se você pretende viver num ambiente exuberante e tropical, não
deve esquecer das bromélias. Nativas do continente americano, elas
são facilmente encontráveis nas matas brasileiras ou nos sertões do
interior, onde são mais conhecidas pelo nome indígena ”caraguatá”,
ou pelas variações “craguatá” ou “gravatá”. As bromélias apresentam
folhas modificadas de colorido intenso e florescem na primavera e no
verão. Para que elas não percam sua graça, tente colocá-las num
lugar que seja o mais parecido possível com seu habitat natural: ou
seja, onde tenha muita luz, calor e umidade. Alguns exemplos:
55
Nome vulgar
Nome científico
Neoregelia carolinae
Aechmea Black Jack
Aechmea chantinii
Aechmea fasciata
Aechmea Foster Favorite Favorite
Ananas comosus variegatus
Cryptanthus !It!
Cryptanthus zonatus
Dykia brevifolia
Tillandsia cyanea
Illbergia pyramidalis
Vrisea splendens
Carolina tricolor
Aechméia negra
Planta urna
Aechméia prateada
Aechméia favorita
Abacaxi ornamental
Estrela da terra
Estrela rajada
Díquia
Tilândsia
Bibérgia
Espada flamejante
O jardim tropical, estilo brasileiro é amplamente divulgado pelo
mundo, abaixo outras plantas usadas neste tipo de paisagismo.
Nome vulgar
Nome científico
Dypsis decary
Delonix regia
Platycerium bifurcatum
Nelumbo nucifera
Agave vilmoriniana
Agave angustyifolia
Mussaenda alícia
Pleomele
Heliconia bihai
Philodendron speciosum
Beaucarnea recurvata
Encephalartos ferox
Nephrolepis cordifolia
Cycas revoluta
Podranea ricasoliana
Cocos nucifera
Palmeira triângulo
Flamboyant
Chifre de veado
Flores de lótus
Agave retorcida
Agave americano
Mussenda
Dracena malaia
Pássaro de fogo
Filodendro imperial
Pata de elefante ou nolina
Sagu de espinho
Samambaia de metro
Cica
Trepadeira sete léguas
Coqueiro da Bahia
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Continuação
Nome vulgar
Nome científico
Spathiphyllum wallisii
Sabal marítima
Phoenix roebelinii
Syngonium podophyllum
Agave
Jatropha podagrica
Furcraea gigantea
Impatiens walleriana
Licuala grandis
Crinun procerum
Ciperus papirus
Ipomoea pupurea
Arundina bambusifolia
Bougainvillea spectabilis
Davalia fejeensis
Alpinia purpurata
Heliconia collinsiana
Musa coccinea
Heliconia psittacorum
Ixora coccinea
Philodendron scandens
Dracaena marginata Tricolor
Pritchardia pacifica
Dracaena fragrans massangeana
Syngonium podophyllum
Anthurium andreanum
Codiaeum variegatum
Roystonea oleracea
Rhapis excelsa
Dypsis lutescens
Icas circinalis
Cicas revoluta
Philodendron bipinnatifidum
Lírio da Paz
Palmeira Sabal
Palmeira Fênix
Singônio
Agave estrela
Momoninha
Piteira
Maria sem vergonha
Palmeira leque
Crino
Papiro
Ipomea
Orquidea bambu
Buganvile
Renda portuguesa
Alpínia/bastão de príncipe
Helicônia pêndula
Bananeira vermelha
Heliconia papagaio
Ixora
Filodendro brasil
Dracena tricolor
Palmeira leque de fiji
Dracena/ pau d! água
Singônio
Anturio
Cróton
Palmeira imperial
Palmeira ráfis
Palmeira areca bambu
Palmeira cica
Cica de porte menor
Guaimbé
57
Continuação
Nome vulgar
Nome científico
Pandanus veitchi
Crinun x powelli !Roseum!
Cordyline terminalis
Sansevieria trifasciata
Bulbine frutescens
Acalypha reptans
Brunfelsia uniflora
Patchystachys lutea
Hibiscus rosa-sinensis
Thunbergia erecta
Galphimia brasiliensis
Monstera deliciosa
Ravenala madagascariensis
Etlingera elatior
Heliconia bihai
Costus spiralis
Heliconia velloziana
Heliconia rostrata
Dicksonia sellowiana
Allamanda cathartica
Pândano
Açucena gigante
Dracaena Cordiline
Espada de São Jorge
Cebolinha
Acalifa rabo de gato
Manacá de cheiro
Camarão amarelo
Hibiscus
Tumbergia azul
Triális/resedá amarelo
Costela de adão
Bananeira leque/árvore do viajante
Bastão do imperador/gengibre-tocha
Helicônia pássaro de fogo
Cana branca
Caetê
Trança de cigana
Samambaiaçu
Alamanda
JARDIM SUSPENSO
Se você dispõe de pouco espaço para suas plantas, pense na
possibilidade de um jardim suspenso. Mas há outras opções: basta
ter um terraço com treliça ou então um pátio protegido por vidro ou
ainda um corredor bem iluminado - em todos esses casos as plantas
suspensas também ficarão lindas. E o que plantar?Experimente os
gerânios pendentes, as alamandas, buganvílias. Todas essas espécies
produzem muitas flores intensamente coloridas, quando a iluminação
é boa - elas ficam ótimas, por exemplo, junto a uma janela. Você
58
precisará cuidar um pouco mais delas: por ficarem suspensas, elas
costumam ressecar bastante.
COMO CUIDAR DE PENDENTES:
Qualquer planta, por mais bem cuidada que seja, um dia começa a
apresentar queda de folhas. Para manter as plantas sempre viçosas
e com ramos densos e uniformes, uma boa solução é podar os ramos
que crescem junto à borda do vaso. Mesmo que isso lhe pareça
drástico, saiba que é um excelente remédio para que a folhagem
revigore, tornando-se novamente cheia e espessa.
Se preferir uma medida menos radical, faça a poda por etapas.
Comece retirando 1/3 dos ramos. Quando as folhas novas brotarem,
pode mais 1/3, e assim por diante, até que a planta esteja totalmente
recuperada. Quando a folhagem ficar rala no topo do vaso, uma solução
é podar a ponta dos ramos mais compridos e enterrá-los novamente
no vaso, no meio dos galhos já enraizados. Os caules pelados ficarão
encobertos e o aspecto geral da folhagem melhorará. Também as
trepadeiras que crescem apoiadas em tutores costumam apresentar
problema de queda de folhas, principalmente na base, próximo ao
solo.Nesse caso, você pode deixar a planta crescer até uns 20 a 30cm
acima do tutor e depois orientá-la em direção à terra do vaso,
amarrando-a no tutor. Isso não só recobrirá os ramos desnudos como
acelerará o crescimento da planta. Para que a poda seja realmente
eficaz, revigorando a aparência geral da folhagem, é importante que
você leve em consideração as novas exigências da planta.
LUZ: quando podada, a trepadeira necessita de uma quantidade
de luz ligeiramente maior, para desenvolver-se com mais rapidez. Isto
ocorre porque as folhas restantes - em menor número - terão de captar
a energia suficiente para o crescimento da planta.
ADUBAÇÃO: na época da poda, procure adubar com mais
freqüência sua trepadeira. Depois que o crescimento tiver voltado ao
ritmo normal, volte também à quantidade habitual de adubo.
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ÁGUA: ao contrário do que ocorre com a quantidade de luz e adubo,
a planta podada necessita de menos água. Mantenha-a ligeiramente
úmida, mas evite as regas em excesso.
AS QUATRO ESTAÇÕES
PRIMAVERA
Grama
A estação é caracterizada pelo aumento de temperatura e também
pelo início das chuvas, esse fato favorece o aparecimento de doenças
fúngicas no gramado: ferrugem, podridão de raízes, mancha cinzenta
da folha, queima, etc. para combate-las faça pulverizações com calda
bordaleza, deixando um espaço de uma semana entre uma e outra
aplicação; 08 g de uréia, diluída em água e aplicada com regador,
em cada m2 de grama, vai deixá-la com um bom visual.
Nesta época proliferam ervas que concorrem com as gramas
ornamentais: trevo, picão-preto, serralha, dente de leão e até tiririca,
todas devem ser erradicadas arrancando-se uma a uma, com a raiz,
utilizando uma ferramenta própria chamada firmino. O corte da grama
pode ser mais baixo: 2 cm de altura.
Árvores e arbustos
Estão em franco desenvolvimento, por isso os meses de
outubro, novembro e dezembro são favoráveis á fertilização mediante
adubos foliares, especialmente aqueles cuja fórmula é enriquecida
com micronutrientes.
Floríferas
As flores murchas devem ser eliminadas, para estimular o
aparecimento das novas.Nessa época podem ser semeadas:
begônias, portulacas e zínias e reproduzidas por estacas: camarõesvermelhos, alamandas, cinerárias, dracenas, brincos de princesa e
camélias.
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Doenças fúngicas
Antracnose, ferrugem, míldio, requeima e outras que atacam
antúrios, gerânios, prímulas e hortênsias podem ser combatidas com
sulfato de cobre.
VERÃO
Grama
Nunca apare a grama quando estiver molhada e cuide para que as
facas do cortador manual (elétrico ou à gasolina) estejam afiadas,
caso contrário às folhas serão mastigadas facilitando a ocorrência
de doenças. Repita a adubação com uréia.
Trepadeiras
Devem ser, quando escandentes ou volúveis, conduzidas com
amarrilhos para subirem nas treliças e pérgolas.
Floríferas
A maria-sem-vergonha, cravinha, cóleus, tagetes e dálias são
semeadas nesta estação e as espirradeiras podem ser reproduzidas
por estacas. Húmus de minhoca pode ser aplicado nos canteiros junto
com substrato, para melhor incorporação ao solo, afofe a terra com
uma enxadinha e use 02 kg de cada por m2.
Regas
Devem ser abundantes, por causa das altas temperaturas a
transpiração é maior.
Pragas
Com chuva e calor as plantas estão repletas de brotos tenros e
atraentes para os pulgões, que podem ser exterminados com calda
de fumo, cochonilhas desaparecem usando-se água e sabão ou
pulverizando-se com óleo mineral.
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Plantas de interior
Nas regiões frias levar os vasos para o ar livre em local de meia
sombra para as plantas se revitalizarem.
Ervas aromáticas
Estação indicada para secá-las, mas cuidado, na sombra e
protegidas da umidade.
OUTONO
Grama
Com a estiagem o corte deve ser alto, 3 a 4cm; com uma camada
foliar maior a umidade se conserva melhor. Uma aplicação de 30g de
cloreto de potássio por m2 vai proporcionar-lhe maior resistência
contra as doenças.
De 15 em 15 dias, passe um rastelo, superficialmente, para retirar
folhas e raízes mortas.
Árvores
No pomar podar após a queda das folhas.
Floríferas
É época de semear prímulas, anêmonas, alisso e amores perfeitos.
A estação também é propícia para reproduzir jasmins-do-cabo, cóleus
e gerânios por estacas, e multiplicar por divisão de touceiras
agapantos, gérberas, hemerocalis, clorofitos e violetas-de-cheiro.
Doenças e pragas
Nessa época podem aparecer aranhas imperceptíveis a olho nu,
são ácaros que se instalam na parte inferior das folhas, enrolando
suas bordas e deixando-as com o aspecto vítreo, até amarelarem e
caírem.Uma pulverização com produtos a base de enxofre é a
solução, pois eles têm ação antiparasitária e também combatem, o
62
oídio que afeta: azaléias, resedás e calanchôes, deixando suas folhas
acinzentadas antes de caírem prematuramente e os cancros que
ferem os troncos das roseiras, gardênias e outros arbustos.
INVERNO
Grama
Espere o mês de agosto para colocar a camada de cobertura, que
deve ter 40% de terra vegetal, 30% de areia, 30% de substrato e
também 01 kg de húmus de minhoca, 200g de torta de mamona e
100g de farinha de ossos por m2. Aproveite para fazer uma aeração
no gramado.
Árvores e arbustos
Galhos e folhas secas fornecem ótima matéria orgânica, use esses
detritos como cobertura nos canteiros.Não aplique fertilizante
respeitando os meses de dormência.
Muitas plantas hibernam por completo, especialmente as
caducifólias, portanto ramos inúteis e mal formados devem ser
suprimidos através de podas, utilizando tesouras e serrotes
apropriados.
Floríferas
No mês de agosto podem ser multiplicados por estacas as
hortênsias, sete léguas, bicos de papagaio, gerânios, dracenas,
hibiscos, jasmim-amarelo e muitas outras.
63
PRODUÇÃO DE MUDAS: frutíferas e flores
tropicais
Carlos Josafá de Oliveira
“Produzir mudas como agronegócio é mais uma receita agregada
ao produtor”.
Existem duas maneiras de propagação de mudas:
1. REPRODUÇÃO - propagação sexuada, via seminal, por
semente.
2. MULTIPLICAÇÃO - propagação vegetativa ou assexuada,
utiliza-se partes da planta.
Para formação e desenvolvimento das plantas reproduzidas por
sementes é necessário que o pólen (gameta masculino) fecunde o
óvulo (gameta feminino) contido no ovário da flor. Como resultado
dessa polinização, o ovário se transformará em um fruto com suas
respectivas sementes. Estas sementes plantadas darão plantas
cujas flores, no momento da formação dos gametas: masculino
(pólen) e feminino (óvulo) os caracteres hereditários dos pais
normalmente se separam. Daí, se propagarmos por sementes uma
planta frutífera de reconhecido valor pelas finas qualidades de seus
frutos, dificilmente conseguiremos descendentes que produzam
frutos idênticos. Ao contrário, se multiplicarmos a mesma planta
frutífera através de enxertos ou outro método de propagação
Engo. Agro. CEPLAC/CENEX/EMARC-URUCUCA.
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vegetativa, conseguiremos produzir descendentes cujos frutos irão
ter as mesmas qualidades finas da planta mãe.
Fenômeno da incompatibilidade sexual – há plantas frutíferas, como
o cacaueiro, que apresentam o fenômeno da incompatibilidade sexual,
isto é, plantas da mesma espécie se cruzam mas não dão frutos. São
plantas incompatíveis, que podem ser: a) Auto-incompatíveis – quando
não há fecundação no cruzamento entre as flores da mesma planta.
b) Interincompatíveis – quando não há fecundação no cruzamento entre
flores de uma planta com outra. Do mesmo modo, se propagarmos
por sementes uma dessas plantas, de reconhecido valor pelas
excelentes qualidades de seus frutos, boa produtividade e elevado
grau de tolerância à vassoura-de-bruxa, dificilmente iremos conseguir
descendentes com essas mesmas qualidades.
Todavia, através da propagação vegetativa, conseguiremos
transferir integralmente para os descendentes (plantas filhas), os
mesmos caracteres genéticos da planta mãe. Existem entre os
cacaueiros plantas compatíveis: a) Autocompatíveis – há fecundação
no cruzamento entre flores da mesma planta. b) Intercompatíveis – há
fecundação no cruzamento entre flores de uma e outra planta. Neste
caso, se propagarmos uma dessas plantas, pelos dois métodos,
reprodução ou multiplicação, os descendentes serão idênticos à
planta que lhes deu origem. No caso específico do cacaueiro, a
propagação vegetativa com a utilização dos ramos plagiotrópicos
(palmas) é vantajosa pela redução do porte da planta favorecendo a
colheita e o fácil manejo.
De modo geral, a maioria das plantas frutíferas, de importância
comercial, é propagada vegetativamente, para assegurar a carga
genética da planta mãe ou planta matriz aos seus descendentes.
ALGUNS CONCEITOS:
• Muda – material de propagação vegetal de qualquer gênero,
espécie ou cultivar, proveniente de reprodução sexuada ou assexuada,
que tenha finalidade específica de plantio.
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• Muda-de-torrão – muda com as raízes envolvidas por porção
de terra devidamente acondicionada.
• Muda-de-raíz-nua – muda com raízes expostas, devidamente
acondicionadas.
• Viveiro – área convenientemente demarcada para a produção
de mudas.
• Viveiro a céu aberto - área livre demarcada para o plantio de
mudas.
• Viveiro rústico – com cobertura e laterais protegidas com
material rústico (folhas de palmeiras etc.).
• Planta matriz – planta original com bons atributos genéticos de
onde se extrai as hastes (garfos e borbulhas) para a propagação
vegetativa.
• Propagação vegetativa – processo de reprodução assexuada.
• Produtor de mudas – pessoa física ou jurídica que produza
sementes ou mudas por meio de semeadura ou plantio, assistido por
um responsável técnico.
• Enxertia – método de propagação vegetativa para substituição
da copa de uma planta visando a melhoria genética.
• Porta-enxerto ou cavalo – parte da enxertia que fornece as
raízes.
• Enxerto ou cavaleiro – parte superir da enxertia que fornece a
copa.
• Clone – planta ou conjunto de plantas geneticamente iguais à
planta matriz.
• Estaquia – método de propagação vegetativa pelo enraizamento
de estacas.
• Estaca – parte caulinar(pedaços do caule) usada para
enraizamento.
• Alporquia – processo de multiplicação de plantas por
enraizamento dos ramos antes de serem destacados da planta matriz
ou planta-mãe.
• Pé-franco – muda obtida de semente, estaca ou raiz, sem o uso
de enxertia.
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• Muda seminal – originária de semente.
• Muda clonal – originária de um clone.
RENASEM – Registro Nacional de Sementes e Mudas:
Instituído no MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento pelo Art. Nº 7 da Lei Nº 10.711 de 5 de agosto de
2003, dispõe sobre os critérios legais para a produção de mudas a
nível nacional.
• Validade do Registro - 3 anos
• Comunicação para alterações - 30 dias
• Cancelamento automático - 60 dias após o vencimento.
ISENÇÃO DO REGISTRO - Art. Nº 8: ficam isentos da inscrição
no RENASEM os agricultores familiares, os assentados da reforma
agrária e os indígenas que multipliquem sementes ou mudas para a
distribuição, troca ou comercialização entre si.
ALGUNS CRITÉRIOS DA LEI: o material de propagação
(vegetativa ou seminal) de qualquer gênero, espécie ou cultivar, para
a produção de mudas, deverá ser proveniente de planta matriz, jardim
clonal ou borbulheira, previamente inscrita no órgão fiscalizador.
O Art. 5º atribui competência aos Estados para elaborar normas e
procedimentos relativos à produção de sementes e mudas, exercer
fiscalização do comércio estadual.
O processo de produção de mudas compreende as seguintes
etapas:
•
•
•
•
•
Obtenção da planta básica
Obtenção da planta matriz
Instalação do jardim clonal
Instalação de borbulheira
Produção da muda
67
PROPAGAÇÃO SEMINAL DE FRUTÍFERAS EM VIVEIRO
a) Preparo do germinador: escolher um canteiro ou parte do
canteiro, tendo como substrato, areia lavada grossa misturada com
pó de serra úmidos. Sementes sadias, a depender do tamanho,
distribuir em sulcos rasos ou espalhadas cobrindo-as levemente com
o substrato. Logo após proceder a rega com o auxílio do regador.
Regar de 2 em 2 dias, não regar em período chuvoso.
b) Transplantio - Após a germinação, em torno de 25 a 30 dias,
transferir as mudinhas (plântulas) para as sacolas plásticas.
SUBSTRATO PARA AS MUDAS
Terriço - a qualidade do terriço é essencial para o bom
desenvolvimento das mudas. Merece atenção especial porque é
desse material que as novas plantas vão retirar os nutrientes para os
seus primeiros 90 a 120 dias de vida. A depender da origem, deve
ser tratado e fertilizado tecnicamente. O lixo urbano de 5 anos pode
ser utilizado como terriço, todavia merece cuidados fitossanitários,
uma vez que, constitui fonte de inoculo de nematóides do gênero
Meloidogyne spp, são vermes microscópicos, parasitas de raízes das
plantas cultivadas. Há uma recomendação agroecológica com cinzas
de madeira para o tratamento: misturar bem as cinzas ao terriço em
proporções adequadas. Solos pobres de barranco devem ser
fertilizados tecnicamente.
COMO FERTILIZAR UM TERRIÇO TECNICAMENTE
Em experiências com os nossos alunos do curso de
Agropecuária da Emarc-UR alcançamos bons resultados com
o seguinte preparo:
• 1000 litros de terriço (50 latas);
• 01 kg da fórmula 4-14-8 (ou similar que guarde a mesma relação
1-3-2);
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• Composto orgânico na proporção de 5:2 (se enriquecido c/
fósforo: 5:1).
Obs: Para facilitar o manejo, trabalhamos com porções de 250.
PROPAGAÇÃO VEGETATIVA EM VIVEIROS
ESTAQUIA - multiplicação por enraizamento de estacas. O Instituto
Biofábrica de Cacau utiliza o fitormonio industrializado, Ácido
Indolbutírico (pó branco) como indutor de raízes para a produção de
mudas de cacau e outras espécies botânicas.
RECEITA AGROECOLÓGICA PARA INDUÇÃO DE RAÍZES
Naturalmente, as plantas possuem o fitormonio Indolbutírico para a
formação específica de suas raízes. Porém, é sabido que as
gramíneas dandá e tiririca, concentram quantidades mais elevadas
dessa substância. O viveirista Arnor, do Viveiro II de Plantas
Ornamentais, funcionário da Emarc-Ur nos apresenta a seguinte
Receita:
MATERIAIS: 1kg de Dandá ou Tiririca, 250 ml Álcool cereal, 1L
Água;
PROCEDIMENTO: Moer ou macerar bem os bulbos (batatinhas)
com as folhas e colocar na água durante 48 horas, em seguida, coar
e colocar no álcool;
DURAÇÃO: 30 dias
USO: imersão da estaca até a metade durante uns 2 minutos.
PROPAGAÇÃO DE MUDAS RESISTENTES DE FRUTÍFERAS
• Abacaxizeiro. Propagação em campo.
O abacaxizeiro é propagado assexuadamente através de seus
órgãos vegetativos.
No cultivo da abacaxi, a sanidade do material de plantio assume
grande importância, uma vez que, a fusariose e a cochonilha
constituem os principais problemas fitossanitários dessa cultura.
69
Tipos de mudas:
a) Rebentos - ramos foliáceos que se desenvolve de gemas
encontradas na parte subterrânea do caule.
b) Rebentões –ramos foliáceos que surgem de gemas encontradas
na zona entre o caule e o pedúnculo.
c) Ramos foliáceos que crescem de gemas do pedúnculo, logo
abaixo do fruto.
A EMBRAPA/Cruz das Almas-BA lançou em 2003, o Abacaxi
Imperial resistente à doença fusariose (apodrecimento do fruto)
causada pelo fungo Fusarium subglutinans, responsável pelas perdas
de produção do país, superiores a 80%.
BIOFABRICA DA EMBRAPA:
Endereço para contato: Rua Embrapa S/N. Cx Postal 007.
CEP. 44380-000 Cruz das Almas/BA.
Telefax. (75)3621-2584
E-mail: maurí[email protected]
• Bananeira - propagação em campo
Tipos de mudas:
a) Chifrinho - com 50cm
b) Chifre – com 80cm
c) Chifre-de-veado - de 80cm a 1,0m
d) Pedaços de 1 kg de rizoma
e) Pedacinhos triangulares extraídos do rizoma
Mudas de cultivares de bananeiras resistentes a Sigatoka
negra, Sigatoka amarela e ao Mal-do-panamá:
1. Caipira
3. Thap maeo
5. Fhia 01
2. Pakovan Ken
4. Fhia 18
6. Tropical
PRODUÇÃO DE FLORES TROPICAIS
A floricultura mundial movimenta, em sua cadeia produtiva, mais
de 50 bilhões de dólares. Nesse mercado, as flores tropicais
70
representam apenas 5%, o que evidencia um grande espaço para
ser ocupado. Pela beleza de suas cores,exoticidade de suas formas
e maior durabilidade nos vasos, fizeram com que saíssem de apenas
uma atividade prazerosa dos jardins, para se tornarem um agronegócio
com grandes perspectivas.Os países importadores têm mostrado
grande receptividade e interesse.
Exemplos das mais preferidas:
Heliconias – multiplicação por bulbos, dispensa o replantio.
Floração: o ano todo. Folhagem de porte alto, dependendo da
variedade, pode atingir até 2,5m de altura. Produz flores exóticas com
cores que variam de amarela, vermelha ou combinadas entre si.
Forma touceiras. Adapta-se a qualquer clima, mas prefere calor e
umidade. Originária da América do Sul. Nome vulgar: banana-do-mato.
Algumas variedades: Heliconia wagneriana; Heliconia rostrata;
Heliconia bihai; Heliconia rauliniana etc.
Bastão do Imperador (Etlingera elatior) - multiplicação por bulbos
e rebentos foliares. Folhagem alta produz lindos cachos de flores
vermelhos. Características de clima similar as heliconias.
Bastão-de-príncipe – similar ao bastão-do-imperador, porém, de
porte baixo e flores cor de rosa.
Musas – multiplicação por rizomas. Destacam-se as espécies
Ensete ventricosum pela exuberância de suas folhas e Musa veluntina
com as flores rosa encarnado.
Costus - multiplicação por rizomas. Vulgarmente conhecida como
cana-de-macaco, tem destaque nos jardins de todo o Brasil as
espécies Costus spicatus SW, hastes de 0,80m, flores amarelas e a
Costus cobra, de hastes compridas com nós e entre-nós coloridos
de verde, branco e vermelho.
Sorvete (Zingíber spectalis) – família das Zingiberáceas, a mesma
do Costus, destaca-se pela exuberância de suas flores globosas no
ápice das hastes, tomando a forma de um sorvete. Dá um toque
especial nos arranjos ornamentais junto as heliconias. Multiplicação
por bulbo
71
Antúrio (Anthurium spp) – destaca-se pelas folhas verdebrilhantes, de limbo geralmente cordiforme e variadas matizes das
flores de inflorescência tipo espádice ereto (sub-tipo da espiga). Entre
as espécies nativas e cultivadas no Brasil encontram-se: A.belleum
Schott; A. harrisii Don; A. radicans Koch; A. regale Linden; A.
scandens Engl e A.scherzerianum Schott, sendo a espécie A.
andreanum Linder, a mais comum no Brasil. Multiplicação por estacas.
Desenvolvem-se abrigadas do sol e dos ventos.
FOLHAGENS
Destacam-se as Cordylines, Dracenas, Pandanos e Filodendros.
Dracenas – multiplicação por enraizamento. Corta-se a haste 30
ou 40cm do broto terminal, elimina-se as 3 folhas inferiores e colocase num vaso com água para enraizar. Após o enraizamento, transportase para o vaso definitivo com composto orgânico umedecido.
Cordiline ou dracena-rosada (Cordyline sp) – multiplicação
igual às dracenas.
Filodendro (Philodendron selloum) – outros nomes vulgares imbé
ou cipó-de-imbé. Multiplica-se por estacas.
As folhagens normalmente preferem lugares claros, mas protegidas
da incidência direta da luz solar.
RECEITAS DE PREPARO DE SOLOS PARA PLANTAS
ORNAMENTAIS
1. Mistura Universal – uma receita que segundo os paisagistas,
satisfaz as necessidades do maior número de plantas:
7 partes de terra argilosa preta
3 partes de esterco curtido ou composto orgânico
2 partes de areia grossa
Podendo aperfeiçoa-la adicionando em cada 5 kg da mistura acima
os seguintes ingredientes:
• ½ colherinha de giz moído ou calcário (exceto para as azáleas
que preferem solo ácido)
72
• 2 colherinhas de farinha de ossos ou 1 de cinzas de ossos
• 2 colherinhas de superfosfato simples
• 1 colherinha de sulfato de potássio ou cloreto de potássio.
Obs.: dispensar o potássio se o composto orgânico teve em sua
composição fragmentos do pseudocaule inteiro com as folhas de
bananeira.
2. Receita de preparo de solos para as plantas tropicais em
geral:
• 2 partes de areia lavada grossa
• 1 parte de argila solta
• 1 parte de terra preta
• 1 parte de composto orgânico ou esterco curtido ou ½ parte de
húmus de minhoca.
Para cada 5 kg da mistura, adicionar os seguintes ingredientes:
• 1 colher-de-sopa de carvão em pedacinhos
• 1 colherinha de giz moído ou calcário
3. Receita para roseiras – preparo de canteiros:
• Os canteiros devem ser preparados com 8 dias de antecedência
do plantio.
• Fofar a terra 30 a 40 cm de profundidade.
• Misturar 10 a 15 kg de esterco curtido ou 5 a 7,5 kg de húmus de
minhoca por metro quadrado (m2).
• Completar a adubação, misturando bem 100 a 200 gramas de
farinha de ossos ou 50 gramas de cinzas de ossos.
Obs.: Além de roseiras, este preparo de canteiros serve também
para bulbos e plantas tropicais diversas.
Cuidados com as mudas: Conservar as mudas de roseiras na
sombra até a hora do plantio e plantar o mais rápido possível.
73
Espaçamento das mudas: de acordo com as variedades.
• Roseiras de menor porte - 30 a 50cm
• Roseiras de maior porte - 70cm, 1,0 a 2,0m
Plantio das mudas de roseiras:
• Abrir as covas com 30cm de profundidade;
• Colocar a muda na cova, enchendo-a com terra aos poucos
apertando levemente junto às raízes e logo após, regar bem. Se a
muda for de torrão basta retirar a sacola plástica que a envolve e
plantar. Se as mudas forem de raiz nua, ao retirar a embalagem
que protege as raízes, mergulha-las em água por 2 a 3 minutos. Ao
colocar a muda na cova, localizar o ponto do enxerto, deixando-o a
1cm acima do solo. Nos meses quentes, proteger as mudas recém
plantadas, durante 15 a 20 dias, com folhas de palmeiras ou ramos
de folhagens. Regar diariamente, de preferência à tarde com o sol
mais frio, até o início da floração. Depois só nos dias quentes.
Roseiras não gostam muito de água. Manter a terra do canteiro
sempre fofa e livre de plantas invasoras. Importante: Assim que surgir
as primeiras folhas, fazer uma aplicação do fungicida Dithane - 45 a
0,02%, pois nesse período o ataque de doenças é mais severo.
ESTAQUIA EM PLANTAS DE INTERIOR
• plantas de interior - São as plantas umbrófilas, do interior da
casa, amigas da sombra.
Cortar o broto terminal a 8 ou 10cm abaixo de uma junta de folhas,
deixando-se 3 a 4 folhas no topo. Colocar as estacas para enraizar
numa parte do canteiro, usando-se como substrato, composto orgânico
puro, sem terra. Fazer o enterrio até a metade do ramo, firmar
ligeiramente e logo após, molhar o composto. Usar um pauzinho roliço
para fazer as covas. Protegê-las da luz direta e da ação dos ventos.
Logo que começarem a crescer, podem ser retiradas e envasadas
individualmente.
74
PRODUÇÃO DE MUDAS DE CACAU
1. Construção do viveiro (rústico ou de alvenaria)
a) Localização: próximo à água e fácil acesso
b) Piso: plano ou declive até 5%
c) Boa drenagem: utilizar areia lavada grossa – mínimo 2cm. Para
Viveiros de alvenaria, usar, se possível, brita e areia grossa nos lastros
dos canteiros, 5 a 10cm da primeira e 10 a 15cm da segunda.
d) Sentido: Norte-Sul
2. Preparo de terriço
Para solos pobres de barranco até 60cm de profundidade. Misturar
em 1000 litros (recomendação da Ceplac):
• 1 kg de calcário dolomítico (o calcário deve ser bem misturado
até desaparecer a coloração branca);
• 4 kg de Superfosfato simples;
• 25 gramas de FTE BR-12.
Outra mistura de terriço experimentada na Emarc-Ur com
bons resultados:
Para 1000 litros de solo pobre, misturar:
• 1 kg da fórmula 5-15-10 ou 4-14-8, que guardam a mesma relação
1:3:2;
• Esterco de gado curtido ou composto orgânico simples na
proporção de 5:2;
• Esterco de galinha ou composto orgânico enriquecido com
fósforo na proporção de 5:1.
ENXERTIA DE CACAU EM VIVEIROS
Dado o fácil domínio, os tipos de enxertia mais usados pelos
produtores são:
75
a) Garfagem de topo em fenda cheia: neste caso, o diâmetro
do enxerto deve ser compatível com o diâmetro do porta-enxerto.
b) Garfagem de topo em meia-fenda: o diâmetro do enxerto é
mais fino que o do porta-enxerto.
Tamanho dos garfos: condicionado ao número de gemas, mínimo
de 2 e máximo de 4. (Gemas – são as pequenas estruturas no canto
da folha, ou seja, na axila foliar).
Tempo de realização de cada enxerto: em torno de 30
segundos, para evitar oxidação da seiva.
Fitossanidade: descartar garfos praguejados e doentios. No corte
do bisel é comum observar-se algumas estrias castanho-escuras que
são sintomas da doença fúngica Lasiodiplodia. A cigarrinha-dosramos, por sua vez, deixa os ramos inchados com fendilhamentos
ressecados. Garfos com esses danos devem ser eliminados.
COLETA DE HASTES OU VERGÔNTEAS
a) As hastes devem ser colhidas de clones ou matrizes certificadas,
oficialmente recomendadas de jardins clonais devidamente
credenciados.
b) As hastes devem ser colhidas nas horas mais frescas do dia,
pela manhã ou à tarde.
c) Conservação das hastes: Parafinar 1 a 2cm das extremidades
para evitar a desidratação. Acondiciona-las em papel jornal umedecido
e transportar em caixas de isopor.
PORTA-ENXERTOS - Com o advento da doença mal-do-facão,
no Sul da Bahia, a Ceplac passou a recomendar sete clones
descendentes do clone IMC, tolerantes ao fungo Ceratocystes
fimbriata, causador da doença: TSH – 1188; CEPEC – 42; TSA –
654; TSA – 792; TSA – 656; TSH – 774 e TSH – 565
O clone LC TEEN 37 A, oficializado pela Ceplac o ano passado
76
(2004), na 26ª Semana do Fazendeiro, constitui uma nova base
genética originária do Equador. Segundo informação de Didie
Clement em um Seminário no auditório do Cepec, no dia 26/09/2005,
esse clone é resistente à doença Monília.
Padrões de muda seminal de cacau estabelecidos pela
Delegacia Federal de Agricultura da bahia – DFA
• Tamanho e desenvolvimento uniforme
• Aspecto fitossanitário saudável
• Apresentação de 5 a 8 folhas maduras
• Caule apresentando 0,7 a 1,0cm na altura do nó cotiledonar
• Idade de 4 a 6 meses
• Sistema radicular normal sem exposição das raízes
77
MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
NA REGIÃO CACAUEIRA DA BAHIA.
ASPECTOS BÁSICOS
Quintino Reis de Araújo1,2
Arlicélio Paiva2
Reflexão Inicial
A relação que existe entre solo e planta é de completa dependência
um do outro. O solo serve para dar sustentação às plantas e funciona
como um reservatório de água e nutrientes necessários para a vida
das plantas. Por outro lado, as plantas promovem a cobertura do solo
e fornecem matéria orgânica que é importante para a formação e
conservação do solo.
O solo é composto por pequenos espaços vazios, chamados de
poros. Os poros de tamanho maiores são conhecidos como
macroporos e os de menor tamanho, de microporos. Eles
desempenham funções específicas no solo, os microporos servem
para armazenar água, enquanto que os macroporos são responsáveis
pela drenagem da água, pela entrada e saída dos gases no solo e
pela penetração das raízes das plantas.
Assim sendo, é de extrema importância que as técnicas adotadas
para o cultivo de plantas não promovam a alteração na porosidade
do solo. No entanto, sempre ocorrem mudanças, a mais comum é o
aumento da quantidade de microporos e a diminuição de
macroporos. Com isso, a velocidade de infiltração da água no solo
1
2
CEPLAC / Centro de Pesquisa do Cacau. [email protected]
UESC / Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais. [email protected]
78
fica mais lenta e a água passa a se acumular na superfície, provocando
o escoamento que é conhecido como enxurrada. Esse escoamento
superficial é um importante fator que provoca erosão.
A erosão é o processo de desgaste acelerado do solo, provocado
pela utilização de técnicas inadequadas para o cultivo. Ela provoca o
empobrecimento do solo e a perda da capacidade produtiva com o
passar dos tempos. Além disso, ela é responsável por importantes
desajustes ambientais. Um deles é o transporte de terra para dentro
dos rios que, muitas vezes, provoca a sua morte. Outro impacto
importante é a poluição dos mananciais, que compromete a qualidade
da água para consumo humano e animal.
Conservação do Solo e da Água
O solo é um recurso natural que deve ser utilizado como patrimônio
da coletividade, independente do seu uso ou posse. É um dos
componentes vitais do meio ambiente e constitui o substrato natural
para o desenvolvimento das plantas.
A ciência da conservação do solo e da água preconiza um conjunto
de medidas, objetivando a manutenção ou recuperação das condições
físicas, químicas e biológicas do solo, estabelecendo critérios para o
uso e manejo das terras, de forma a não comprometer sua capacidade
produtiva. Estas medidas visam proteger o solo, prevenindo-o dos
efeitos danosos da erosão aumentando a disponibilidade de água,
de nutrientes e da atividade biológica do solo, criando condições
adequadas ao desenvolvimento das plantas.
Do ponto de vista da conservação do solo, a ocorrência de chuvas
fortes em uma determinada região é preocupante, pois essas chuvas
têm um alto potencial de desgaste dos solos. Na região cacaueira da
Bahia é muito comum a ocorrência de chuvas intensas, donde se pode
concluir que é uma região que pode ocorrer erosão, dependendo
apenas do tipo de uso do solo. O impacto das gotas das chuvas fortes
sobre a superfície de um solo sem cobertura vegetal, provoca a
79
separação das partículas de argila, silte e areia. As partículas
individualizadas que são transportadas pela água para dentro do solo,
estacionam no interior dos macroporos e provocam o entupimento.
Como os macroporos são responsáveis pela infiltração da água,
começa a ocorrer um acúmulo de água na superfície, resultando em
enxurrada e conseqüente erosão. Portanto, as aparentemente
inofensivas gotas de chuva são as principais responsáveis pelo
desgaste dos solos sem cobertura vegetal.
Diante disso, o agricultor deve se empenhar ao máximo para
manter a cobertura vegetal do solo, uma vez que ela amortece o
choque das gotas de chuva contra a superfície do solo, diminuindo
os riscos de ocorrência de erosão. Essa cobertura pode ser feita
por intermédio da preservação das florestas, pelas culturas agrícolas,
pelas plantas de cobertura e/ou pela adição de restos de plantações.
Outro componente importante na ocorrência de erosão é a
topografia do terreno. Em locais muito declivosos, a possibilidade
de ocorrer erosão é muito maior do que em locais mais planos. A
região cacaueira da Bahia tem extensas áreas declivosas, as quais
são susceptíveis à erosão. O declive acentuado favorece a uma
maior velocidade de escoamento das águas e conseqüente
aumento da capacidade de transporte de terras para as partes mais
baixas do relevo.
Nesse contexto, pode-se afirmar que, por apresentar a maior parte
das terras ocupadas por sistemas agroflorestais, nos quais o cacau
é a cultura de interesse econômico principal, a região cacaueira da
Bahia possui uma boa estratégia para evitar a erosão, uma vez que
as plantas que compõem o agroecossistema funcionam como
amortecedores do choque das gotas de chuva sobre o solo.
No entanto, isso não significa que o cacauicultor possa ficar
despreocupado com a erosão. Em visitas freqüentes feitas em
diversas fazendas de cacau da região, engenheiros agrônomos que
trabalham com manejo e conservação do solo, têm observado a
ocorrência de erosão laminar em áreas declivosas. Nessas áreas,
a cobertura do solo proporcionada pelo cacau, juntamente com as
80
demais plantas que compõem os sistemas agroflorestais, não é
suficiente para evitar a erosão. Desse modo, o cacauicultor deverá
introduzir uma técnica de conservação do solo para aumentar a
resistência do solo contra a erosão, evitando assim o seu
empobrecimento. Faz-se necessário conhecer e adotar algumas
técnicas conservacionistas que são eficientes para o controle da erosão.
Nos últimos tempos, a região sul da Bahia passou por uma
mudança muito importante no uso de seus solos, em decorrência
da crise estabelecida na lavoura cacaueira. A alteração mais
significativa foi a substituição da cabruca por áreas de pastagem,
de fruteira e de café, entre outros. Essas modificações ocorridas
têm gerado preocupações com relação à conservação do solo, pois,
até então, os agricultores não viam necessidade de se adotar técnicas
conservacionistas, uma vez que a proteção do solo promovida pelo
sistema cabruca é mais eficiente do que os outros tipos de usos
que surgiram.
As pastagens bem manejadas, nas quais se utilizam o sistema
de rotação de pastos, a associação com plantas leguminosas, a
calagem e a adubação, contribuem para a conservação dos solos,
pois promovem a cobertura dos solos por intermédio das gramíneas
e pelo fornecimento de matéria orgânica. No entanto, em boa parte
das terras ocupadas por pastagens na região cacaueira, o que se
observa é o pastoreio excessivo, no qual, os animais cortam o capim
rente à superfície do solo, levando a uma completa degradação dos
pastos e deixando o solo exposto à erosão. Para piorar a situação, a
técnica mais utilizada no manejo de pastagens degradadas é o uso
indiscriminado do fogo.
Com a diversificação dos cultivos ocorrida na região, houve um
aumento das áreas ocupadas por fruteiras e café. Como essas
plantações naturalmente promovem uma menor cobertura do solo
quando comparadas com o sistema cabruca, ocorreu, possivelmente,
um aumento das perdas de solo por erosão. Entretanto, essas perdas
podem ser minimizadas com a adoção de técnicas eficientes de
controle da erosão.
81
A Queimada e o Solo
Existe uma ilusão de que a terra fica mais fértil depois de queimada.
O que ocorre na realidade é que os nutrientes que seriam adicionados
aos poucos, ao solo, pela decomposição da matéria orgânica, passam
a ficar disponíveis de uma só vez nas cinzas. Com isso, esses
nutrientes são levados embora pelas chuvas e o resultado é um solo
muito mais pobre do que antes de ser queimado. Além disso, existem
diversas recomendações que devem ser seguidas, com o objetivo
de se fazer uma queimada controlada. Para isso, os agricultores
devem procurar informações nos órgãos especializados.
A natureza demonstra que os ambientes, nos quais a queimada
ocorre como um fenômeno natural (provocado por descarga elétrica,
por fricção entre corpos), apresentam-se, de modo geral, com solos
empobrecidos, com conseqüentes deficiências nutricionais, pH
inadequado, altos teores de elementos tóxicos. Dentre as
conseqüências negativas advindas da queimada estão: a destruição
dos organismos do solo, a queima da matéria orgânica, volatilização
de alguns nutrientes, liberação de CO2 para a atmosfera, diminuição
da infiltração e retenção de água, aumento da susceptibilidade do
solo à erosão, redução da capacidade produtiva dos terrenos e
desequilíbrios no meio ambiente. Os efeitos do fogo têm sido mais
desastrosos, quando decorrentes de queimadas mal conduzidas e
aplicadas continuamente. Tem-se verificado que em áreas
prejudicadas pelo fogo, como parte de um manejo deficiente, as
culturas revelam queda de produtividade e os pastos diminuem sua
capacidade de suporte. Os prejuízos ambientais decorrentes do fogo
têm sido mais intensos, destacadamente, em áreas de relevo
acidentado e muito inclinado.
Tipos mais Comuns de Erosão
Erosão por Salpicamento: é provocada pelo choque das gotas
de chuva contra a superfície do solo descoberto. Com o choque, as
82
partículas do solo ficam separadas umas das outras e entopem os
poros. Nas áreas mais declivosas ocorre uma maior quantidade de
terra transportada.
Erosão Laminar: é o tipo de erosão mais importante que existe.
Na maioria das vezes, o agricultor não percebe a sua ocorrência e
quando ela é notada, os estragos já foram feitos. Por isso, é
considerada como a mais perigosa das erosões. Esse tipo de erosão
se caracteriza por retirar finas camadas ou lâminas de solo, daí o
nome laminar. O agricultor deve ficar atento no surgimento de certos
sinais de ocorrência dessa erosão, como o aparecimento de raízes e
pedras na superfície do solo cultivados com culturas permanentes,
como são os casos do cacau, do café e de certas fruteiras.
Erosão em Sulco: é o tipo de erosão que mais chama atenção
do homem. Porém, provoca menos desgaste do que a erosão laminar.
Locais declivosos e com solo descoberto é favorável a ocorrência
desse tipo de erosão.
Erosão em Voçoroca: esse tipo de erosão provoca um grande
impacto visual. A sua origem é a erosão em sulco não controlada. É
muito cara e difícil de ser controlada. Em áreas de ocorrência de
voçoroca fica impossibilitado o uso de máquinas e equipamentos
agrícolas.
Planejamento Conservacionista
A solução dos problemas decorrentes da erosão não depende
da ação isolada de um produtor. A erosão produz efeitos negativos
para o conjunto dos produtores rurais e para as comunidades urbanas.
Um plano de uso, manejo e conservação do solo e da água deve
contar com o envolvimento efetivo do produtor, do técnico, dos
dirigentes e da comunidade.
83
Dentre os princípios fundamentais do planejamento de uso das
terras, destaca-se um maior aproveitamento das águas das chuvas.
Evitando-se perdas excessivas por escoamento superficial, podemse criar condições para que a água pluvial se infiltre no solo. Isto,
além de garantir o suprimento de água para as culturas, criações e
comunidades, previne a erosão, evita inundações e assoreamento
dos rios, assim como abastece os lençóis freáticos que alimentam
os cursos de água.
Uma cobertura vegetal adequada assume importância fundamental
para a diminuição do impacto das gotas de chuva. Há redução da
velocidade das águas que escoam sobre o terreno, possibilitando
maior infiltração de água no solo e, diminuição do carreamento das
suas partículas.
Principais Técnicas de Conservação do Solo
Práticas Vegetativas
Florestamento e
reflorestamento
Plantas de cobertura
Cobertura morta
Rotação de culturas
Formação e manejo
de pastagem
Cultura em faixa
Faixa de bordadura
Quebra vento e
bosque sombreador
Cordão vegetativo
permanente
Manejo do mato e
alternância de
capinas
Práticas Edáficas
Cultivo de acordo
com a capacidade
de uso da terra
Controle do fogo
Adubação: verde,
química, orgânica
Calagem
Práticas Mecânicas
Preparo do solo e
plantio em nível
Distribuição
adequada dos
caminhos
Sulcos e camalhões
em pastagens
Enleiramento em
contorno
Terraceamento
Subsolagem
Irrigação e drenagem
84
Cultivo de acordo com a capacidade de uso
As terras devem ser utilizadas em função da sua aptidão agrícola,
que pressupõe a disposição adequada de florestas / reservas, cultivos
perenes, cultivos anuais, pastagens etc, racionalizando, assim, o
aproveitamento do potencial das áreas e sua conservação.
Plantio em Contorno:
É conhecido também como plantio em curva de nível. Neste método
todas as operações de preparo do terreno, balizamento, semeadura
e outras, são realizadas em curva de nível. No cultivo em nível ou
contorno criam-se obstáculos à descida da enxurrada, diminuindo a
velocidade de arraste, e aumentando a infiltração d’água no solo.
Este pode ser considerado um dos princípios básicos, constituindose em uma das medidas mais eficientes na conservação do solo e
da água. Essa técnica não pode ser usada isoladamente,
principalmente em locais de topografia acidentada e regiões de
chuvas intensas, devendo vir junto com outras técnicas para a maior
eficiência conservacionista.
A escolha dos métodos / práticas de prevenção à erosão é feita
em função dos aspectos ambientais e sócio-econômicos de cada
propriedade e região. Cada prática, aplicada isoladamente, previne
o problema de maneira parcial. Para uma prevenção adequada da
erosão, faz-se necessária a adoção simultânea de um conjunto de
práticas.
Adubação Verde e Plantas de Cobertura
A adubação verde consiste na incorporação de plantas ao solo.
Essas plantas são especialmente cultivadas para esse fim e são
cortadas na época da floração para serem enterradas. Nessa época
é onde ocorre o maior armazenamento de nutrientes nas plantas.
85
As plantas de cobertura são cultivadas com o objetivo de proteger
o solo contra a erosão. Elas não são cortadas, nem incorporadas ao
solo, permanecem durante todo o seu ciclo cobrindo-o.
As espécies mais comuns são: feijão-de-porco, mucuna, crotalária,
cudzu, amendoim forrageiro, guandu, feijão-de-corda, calopogônio,
leucena, entre outras.
Tanto a adubação verde quanto as plantas de cobertura são
importantes para a melhoria das propriedades do solo. Os solos ficam
mais ricos em nutrientes, especialmente em nitrogênio. Esse
enriquecimento ocorre por intermédio da adição de resíduos orgânicos
ou pela associação com microorganismos. Com o passar dos anos,
aumenta o teor de matéria orgânica nos solos cultivados por essas
plantas e melhora as propriedades físicas, como a infiltração e
armazenamento de água, entrada e saída de gases no solo e
penetração das raízes das plantas. Além disso, essas plantas podem
controlar as ervas daninhas e alguns tipos de pragas e doenças. Antes
de adotar essas técnicas, o agricultor deve se informar com os órgãos
oficiais para saber quais as espécies mais indicadas para a região, a
disponibilidade de sementes e o hábito de crescimento dessas plantas.
Cordão de Vegetação Permanente
São plantas cultivadas em fileira (cordão), dispostas em curva de
nível, com uma largura aproximada de um a dois metros. É uma técnica
eficiente no controle de erosão em áreas declivosas. As plantas
utilizadas no cordão devem ter um retorno econômico para o
agricultor. As espécies mais utilizadas são cana-de-açúcar, capim
elefante, capim santo, capim colonião, entre outras. A depender do
grau e do comprimento do declive, o agricultor pode plantar mais de
um cordão na sua área.
Cobertura Morta:
São restos de vegetais utilizados para cobrir o solo e evitar a
ocorrência de erosão. Essa técnica evita a perda excessiva de água
86
do solo mediante a evaporação. O exemplo mais conhecido na região
é o do cacau “bate folha”. Outro bom exemplo de cobertura morta é o
das folhas cortadas das bananeiras.
Palavras Finais
A história da humanidade está intimamente ligada à história de
uso da terra. A conservação do solo e da água mantém a riqueza
(capacidade produtiva) das terras, melhora o rendimento das culturas
e garante um ambiente equilibrado, para a atual e as futuras gerações.
Os agricultores, como protagonistas desta história, têm um papel
fundamental na construção de uma vida saudável.
87
FRUTIFERAS POTENCIAIS PARA A REGIÃO SUL DA BAHIA
Célio Kersul do Sacramento1
José Basilio Vieira Leite2
INTRODUÇÃO
A região sul da Bahia apresenta condições de clima e de solo
favoráveis ao cultivo de diversas frutíferas entretanto, o investimento
em fruticultura depende do conhecimento técnico para manejo racional
da cultura e conhecimento do mercado, por isso, torna-se necessário
um planejamento cuidadoso antes da implantação.
Para decidir o que plantar, o produtor deve se informar previamente
sobre o comportamento da espécie frutífera na região, o tamanho do
mercado comprador, e a localização desse mercado. É importante
saber também qual é a produtividade, qual a época de produção,
quem está produzindo e os preços obtidos, a oscilação de preços no
mercado qual o nível de tecnologia, principais pragas e doenças,
infraestrutura necessária. No caso do investimento em fruticultura,
considerando a perecibilidade das frutas, quanto maior a possibilidade
de uso da fruta, menor será o risco. Desse modo, uma fruta que possa
ser consumida ao natural mas que também possa ser utilizada para
fazer doces, licores, vinho e outros produtos torna-se mais vendável
do que uma fruta com pouca utilidade.
1
Engº Agrônomo, DSc. Professor Titular do DCAA da Universidade Estadual de Santa Cruz.
Engº Agrônomo, MSc. Pesquisador. CEPLAC/CEPEC
2
88
Atualmente as agroindústrias locais estão expandindo seus
mercados e colocando seus produtos em outros estados e até no
exterior, portanto haverá necessidade de regularidade na produção
de frutas para atender a demanda.
Para reduzir os riscos de comercialização o produtor deve sempre
que possível associar-se a outros produtores para a formação de
volume de comercialização. O associativismo, quando bem conduzido
reduz os custos de produção e comercialização.
Outro fator a ser considerado é a diversificação de plantios,
utilizando sempre que possível, cultivos em sistemas agroflorestais,
os quais favorecem a conservação do solo e reduzem os ricos da
monocultura.
É importante lembrar que existe disponibilidade de tecnologia de
produção com qualidade da maioria das frutas conhecidas, portanto
o produtor deve sempre consultar um profissional ou se informar
através de cursos antes de iniciar o investimento.
É importante lembrar, que tomada a decisão de cultivar uma
determinada frutífera deve-se trabalhar sempre com mudas de
qualidade genética e fitossanitária. Na atividade agrícola a qualidade
da muda é o principal aspecto a ser observado.
Considerando-se que as frutas são perecíveis recomenda-se que
o produtor verifique sempre a possibilidade de fornecimento para
agroindústrias próximas à propriedade.
Feitas essas considerações apresentamos abaixo informações
sobre algumas frutíferas com potencial de cultivo na região sul da Bahia,
tecendo comentários a respeito do manejo e do mercado:
Abacaxi: A propagação é feita com rebentos, rebentões e coroa
os quais podem ser obtidos em plantios comerciais em bom estado
fitossanitário.Atualmente mudas produzidas em tubetes são as mais
seguras tanto em qualidade genética quanto fitossanitaria. Novas
variedades de abacaxi, tolerantes a doenças, estão sendo lançadas
pelas empresas de pesquisa. São necessárias de 30.000 a 50.000
mudas para cada hectare, dependendo do espaçamento utilizado. O
uso da indução floral com a aplicação de regulador de crescimento
89
uniformiza a frutificação e permite direcionar a colheita para épocas
de preços mais favoráveis.
Em termos de mercado a região sul da Bahia sofre grande
concorrência com outros estados do nordeste, principalmente a
Paraíba, onde as condições são mais favoráveis ao cultivo dessa
frutífera. O abacaxi, além do consumo ao natural é bastante utilizado
pelas agroindústrias de polpa e doces.
Açaí - O açaizeiro é uma palmeira introduzida da região amazônica
cujos frutos estão tendo bastante aceitação no mercado nacional e
internacional. O açaizeiro serve também como fonte de palmito,
embora seja inferior ao palmito da pupunha. O açaizeiro pode ser
cultivado em mata rala e em terrenos com problemas de drenagem. A
planta é propagada por sementes e o espaçamento de plantio é de 4
m, com a condução de 3 a 4 plantas por touceira e começa a produzir
a partir do quarto ano. A comercialização dos frutos ainda é pequena
ou seja, há poucos compradores, entretanto existe um mercado
potencial nos grandes centros do sul e sudeste do Brasil.
Banana - Apesar do ótimo clima, a região sul da Bahia não produz
banana de qualidade, devido principalmente à falta de tecnologia,
qualidade e volume de produção. Além disso, os grandes centros
consumidores como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais e os
estados do sul preferem as bananas nanicas, sendo abastecidos por
plantios dos próprios estados. Desse modo, a comercialização fica
restrita às feiras livres, com um preço extremamente baixo devido ao
excesso de ofertas. A bananeira pode ser utilizada na implantação de
frutíferas que necessitem inicialmente de sombra (cacaueiro,
cupuaçuzeiro, mangostanzeiro). A banana pode ser usada na
fabricação de doces, licores, cristalizados e purê.
Cajá - Não há plantios comerciais de cajá no Brasil, somente
exploração extrativista, entretanto trata-se de uma espécie ideal para
utilização em sistemas agroflorestais juntamente com plantas que
90
toleram sombreamento como cacaueiro, cupuaçuzeiro e outras
frutíferas. O espaçamento deve ser acima de 15 m. A cajazeira pode
ser multiplicada por sementes mas leva de 8 a 10 anos para iniciar a
frutificação. Desse modo recomenda-se o plantio com estacas de
1,0 m de comprimento e 5 cm de diâmetro.
Cupuaçu - O cupuaçuzeiro comporta-se muito bem na região sul
da Bahia, é bastante rústico e produz durante 10 meses do ano. As
mudas podem ser feitas por sementes, as quais devem ser coletadas
em plantas produtivas e com diferentes épocas de produção. O
espaçamento mínimo recomendado para o cupuaçuzeiro é de 6 x 6
m e pode ser consorciado com outras plantas mais altas. Cada planta
produz em média 40 frutos. O fruto é colhido quando cai no chão e
pode ser vendido, despolpado manualmente ou mecanicamente em
despolpadeiras. A polpa serve para suco, sorvetes, geleia, doces,
cristalizados e compota. As sementes são utilizadas para fazer o
cupulate e também usadas para fabricação de cremes.
Goiaba - A goiabeira frutifica bem na região sul da Bahia, entretanto
a qualidade dos frutos e a produtividade são inferiores quando
comparadas com o cultivo de outras regiões de clima mais favorável.
A goiaba pode ser propagada por sementes, estaquia e enxertia.
Atualmente o melhor método de propagação é a estaquia herbácea.
O espaçamento médio é de 5 m. A produção inicia-se a partir do 2º
ano e pode alcançar até 40 toneladas por hectare. A região sul da
Bahia sofre grande concorrência com as áreas produtores do Vale
do São Francisco e alguns estados nordestinos. A fruta é utilizada
para fazer goiaba, suco, sorvete, doces e cristalizado.
Graviola - A gravioleira comporta-se bem na região sul da Bahia e
é bastante rentável entretanto necessita de atenção especial ao seu
cultivo, devido principalmente à quantidade de pragas e doenças. As
mudas podem ser propagadas por enxertia ou por sementes e o
91
espaçamento mínimo é de 5 x 5 m. Para cada hectare cultivado há
necessidade diária de 1,5 a 2,0 homens e mais uma pessoa para
trabalhar no despolpamento. Caso não haja alguma agroindústria por
perto, a propriedade precisa dispor de eletricidade, água limpa, galpão
de beneficiamento com todos equipamentos necessários ao
despolpamento, embalagem e conservação da polpa. A polpa tem
ampla utilização na fabricação de sorvetes, geleia, doces, cristalizado
e compotas.
Laranja - Nas condições tropicais úmidas as laranjeira não
produzem frutos de boa qualidade, geralmente os teores de açúcar e
de acidez são baixos para atender as exigências da industrialização
e não apresentam visual de casca amarela típico das frutas cítricas.
Além disso, no estado da Bahia, há regiões estritamente citríciolas
como Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus, as quais abastecem
todo o estado da Bahia. Desse modo não há como competir em
qualidade e produtividade com as frutas cítricas produzidas em outros
estados do sudeste. Para a implantação de um pomar de laranja as
plantas cítricas são progadas via enxertia, estas devem ser provenientes
de viveiristas credenciados. O espaçamento entre plantas varia de 4 a
6 m e a produção comercial começa a partir do 4º ano.
Mamão - Essa frutífera demanda bastante tecnologia e grande
investimento para se obter alta produtividade e qualidade dos frutos.
Para pequenos produtores o mercado está restrito às feiras uma
vez que, as grandes redes de supermercados são abastecidas por
grandes produtores do extremo sul. Desse modo, o mamão pode
ser cultivado nas entre linhas, no início da implantação de pomares
de outras fruteiras. O espaçamento mínimo para o mamoeiro é 2 x 2
m. Vale lembrar que o mamoeiro não tolera sombra, portanto, no
caso de consorciação deve-se plantar primeiro o mamoeiro e depois
as outras culturas.. A produtividade pode alcançar 40 toneladas por
hectare, quando se usa alta tecnologia. As sementes podem ser
adquiridas em casas comerciais ou em pomares da região,
92
lembrando que ocorre redução da produção e da qualidade quando
se utilizam sementes de procedência duvidosa. Além do consumo
ao natural o mamão serve para fabricação de suco, purê, doces e
cristalizados.
Mangostão ou mangostin - O mangostanzeiro é uma opção
interessante para a região tropical pois apresenta grande
rentabilidade devido ao alto preço dos seus frutos. Entretanto a planta
começa a produzir somente a partir do 8o ano e a muda precisa de 2
anos para o plantio. A muda é formada por sementes em sacos de
polietileno de 40 cm de altura e 25 cm de diâmetro com espessura
de 12 micras. O espaçamento mínimo a ser utilizado é 10 x 10 m.
Durante os primeiro quatro anos o mangostanzeiro deve ser cultivado
à sombra a qual deve ser raleada gradativamente. A produção de
plantas adultas está em torno de 600 frutos selecionados.
Considerando o seleto mercado dessa fruta recomenda-se que os
plantios sejam estabelecidos próximos de outros pomares comerciais
para formação de volume de produção. Atualmente a comercialização
do mangostão é feito através de 1 ou 2 cooperativas. Os frutos são
utilizados somente para consumo ao natural.
Maracujá - O maracujazeiro é uma planta bastante precoce e
bastante produtiva, entretanto o preço dos frutos é historicamente
baixo nos períodos de safra (novembro a julho). No período de agosto
a novembro (época de preços melhores) quase não ocorre produção
na região sul da Bahia. O investimento inicial de implantação de um
pomar de maracujá é bastante alto e o plantio precisa ser renovado
a cada 2,5 anos. Os espaçamentos não mecanizados podem ser
de 2,5 m entre plantas e 2,5 a 3,0 metros entre fileiras. A melhor
época de plantio é no mês de maio, pois a produção começa a partir
de novembro. A colheita é feita duas a três vezes por semana e desse
modo há necessidade de um mercado comprador próximo do plantio,
devido a perecibilidade dos frutos. Os frutos tem ampla utilização
nas agroindústrias de suco.
93
Pitanga - A pitanga tem ampla utilização na confecção de sucos,
sorvetes, geleias, licores. Não existem variedades bem definidas de
pitangueira mas, o produtor deve estar atento para a qualidade dos
frutos os quais devem apresentar mais de 6 ºBrix (açucar). Essa
qualidade só tem sido verificada nas pitangas roxas. O espaçamento
mínimo para a pitangueira deve ser 4 m. Nas condições do sul da
Bahia a safra principal ocorre entre outubro e novembro e uma entre
safra em maio e abril. Devido a perecibilidade dos frutos recomendase que os plantios sejam próximos a agroindustrias.
Rambutão - É uma frutífera originaria da Ásia que está sendo
cultivada em pequenas áreas de alguns municípios baianos e
encontra-se ainda em expansão na região. Produz uma fruta bastante
vistosa e gostosa, com grande potencial de exportação, entretanto
ainda não há variedades selecionadas e as plantas são propagadas
por sementes podendo ser masculinas ou hermafroditas (flores com
dois sexos). O espaçamento mínimo recomendado é 8 x 8m para
plantas propagadas por sementes. A produção vai de abril a agosto
na região sul da Bahia. Os frutos são comercializados principalmente
nos grandes centros urbanos.
NOÇÕES GERAIS SOBRE FRUTICULTURA
Plantio
O plantio é normalmente efetuado na época das chuvas ou em
qualquer época onde existe a possibilidade de irrigação. No caso de
plantas que produzem antes de 1 ano de campo, como o maracujá e
mamão, há épocas mais favoráveis de plantio visando a produção
em períodos de preços mais compensadores. Na maioria das
frutíferas utilizam-se covas de 40x40x40 centímetros as quais devem
ser preenchidas com terra da superfície, 10 litros de esterco curtido
de gado e, adubo conforme a recomendação da análise de solo.
Os espaçamentos variam de acordo com cada espécie e com os
94
tratos culturais a serem utilizados: manual ou mecânico.
No plantio de frutíferas perenes recomenda-se intercalar outros
cultivos ou fruteiras para exploração comercial durante o período de
crescimento vegetativo da frutífera principal. O mamão, abacaxi,
maracujá e a melancia são exemplos de frutas que podem ser
cultivadas entre as linhas do cultivo principal.
Poda
Algumas frutíferas precisam de poda de condução, poda de
formação, poda de limpeza e poda de frutificação. Cada planta
apresenta um tipo e uma época apropriada de poda.
As podas de condução e de formação são feitas visando manter a
planta numa forma e altura favoráveis aos tratos culturais. A maioria
das fruteiras enxertadas é mantida com alturas entre 2 e 3 metros.
Adubação
A adubação das frutíferas deve ser feita baseada na análise de
solo e análise foliar. A analise do solo deve ser efetuada antes do
plantio para verificar a fertilidade do solo e a necessidade da aplicação
de adubo e calcário. Recomenda-se nova análise de solo a cada dois
anos, sendo as amostras retiradas na projeção da copa e entre as
linhas de plantio. Em algumas espécies de frutíferas a análise do solo
deve ser complementada com a análise foliar.
TRATOS CULTURAIS
Controle de plantas daninhas: Após o plantio as plantas devem
ser mantidas sem ervas daninhas (mato). O mato pode ser controlado
com capinas, roçagem ou aplicação de herbicidas, entretanto o solo
não deve ser mantido totalmente descoberto pois isso aumenta a
temperatura do solo. Recomenda-se o plantio de leguminosas ou
cobertura morta.
Irrigação: Em locais onde a chuva não bem distribuída há
95
necessidade de se manter a umidade do solo através da irrigação
pois longos períodos sem chuvas causam atraso no crescimento das
plantas, queda de flores e queda de frutos
Controle de doenças e pragas: O clima úmido favorece o
aparecimento de doenças, desse modo, devem ser efetuadas
aplicações de fungicidas preventivamente. As pragas devem ser
monitoradas e em caso de danos econômicos devem ser controladas
com aplicações de inseticidas específicos ou com armadilhas.
Desbaste ou raleamento: Quando uma planta produz muitos frutos
durante uma safra pode haver produção de frutas pequenas as quais
recebem menores preços no mercado. Quando isso acontece o
produtor deve fazer um desbaste no início de crescimento deixando
na planta o número de frutos necessários para produzir frutos com
tamanho preferido pelo mercado.
Indução de floração: Algumas plantas podem ser estimuladas a
florescer permitindo a produção de frutos na época de melhores
preços. O produtor deve procurar orientação de um técnico para o
conhecimento e aplicação dessas tecnologias.
Colheita, transporte e beneficiamento: Os frutos devem ser
colhidos no grau certo de maturação visando o mercado consumidor.
A colheita, transporte e beneficiamento dos frutos devem ser feitos
com o máximo de cuidado para evitar ferimentos que vão causar
entradas de doenças e apodrecimento dos frutos. Após a colheita, as
frutas devem ser sempre mantidas em locais frescos e arejados, se
possível refrigerados para manter a qualidade por maior tempo.
96
FERTILIZAÇÃO DO CACAUEIRO
Rafael Edgardo Chepote
Edson Lopes Reis
As recomendações atuais de corretivos e fertilizantes na cultura
do cacaueiro no Sul da Bahia, consideram o grau e distribuição do
sombreamento, o estado fitossanitário da plantação e as
características físico-químicas do solo, tais como textura, profundidade
efetiva, drenagem, pH, H++ Al3+, P disponível e bases trocáveis de K+
Ca2+ e Mg2+. Pesquisas desenvolvidas recentemente pela Seção de
Solos e Nutrição de Plantas (CEPEC/SENUP) com corretivos e
fertilizantes, tem apresentado embasamento técnico-científico para
atualização das recomendações de corretivos e fertilizantes no
cacaueiro no Sul da Bahia.
O uso de corretivos em solos além de corrigir a acidez dos mesmos
e eliminar a toxidez de alumínio e manganês, visa também o
suprimento de cálcio e magnésio ao solo . Os critérios da calagem
na cultura do cacau no Sul da Bahia, baseiam-se na elevação dos
teores de cálcio e magnésio para 3,0 cmol c/dm 3 em solos
Latossolos distróficos e na redução da saturação de alumínio para
valores de 30% em solos Argissolos distrófiscos e Aluviais argilosos
distróficos. Desta maneira as quantidades totais de corretivos a
serem aplicadas ao ano dependem da textura do solo. Solos de
textura argilosa, aplicar-se-á até 2000 kg ha -1 ano-1; e solos de
textura franco, a quantidade total de calcário a ser aplicada será
de até 1000 kg ha-1 ano-1.
O uso de gesso agrícola (sulfato de cálcio diidratado-CaSO42H2O)
visa a melhoria do ambiente radicular do cacaueiro nas camadas
subsuperficiais (20 a 40cm), quando os teores de Ca2+ ≤ 0,4 cmolc
dm3) e elevados teores de alumínio (> 0,5 cmolc dm3 de Al3+ e/ou
Pesquisadores da Seção de Solos e Nutrição de Plantas (CEPEC/SENUP).
97
saturação por Al3+ ≥ 30% ), este é o caso dos solos Aluviais Argiloso
distróficos de Linhares e Argissolos distrófiscos do Sul da Bahia.
A adubação do cacaueiro baseia-se nas doses de nitrogênio,
determinadas em ensaios de campo e nos níveis críticos de fósforo e
potássio disponíveis que proporcionam maior desenvolvimento e
produção do cacaueiro. Desta maneira disponibilizaram-se doze
formulações (Tabela 1) com as respectivas quantidades de nutrientes
por hectare e doses de fertilizantes a serem utilizados. Essas doses
de fertilizantes originam-se dos resultados analíticos da análise do
solo, aplicadas durante o primeiro, segundo e terceiro ano, que
correspondem, respectivamente, a 1/3, 1/2, 2/3 da dose total indicada
a partir do terceiro ano de idade.
As doses recomendadas por planta, deverão ser fracionadas em
três aplicações/ano, para os dois primeiros anos, a partir de 60 dias
após o plantio e em duas aplicações por ano nos anos subseqüentes.
As doses de fertilizantes devem ser aplicadas em cobertura, em círculo
para áreas planas e em meio círculo para as áreas acidentadas, num
raio de 20, 30 e 50 cm respectivamente para o 20, 60 e 100 mês ; 70,
90 e 100 cm para os 14o , 180 e 220 mês de idade, 120, 140 e 150
cm para 260, 300 e 340 meses. A partir do 360 mês a aplicação será
em faixas laterais ás plantas medindo 150 cm de largura.
Nas atuais recomendações de corretivos e fertilizantes na cultura
do cacaueiro no Sul da Bahia, também são apresentadas a adubação
orgânica a base de composto de casca do fruto do cacau e de esterco
de curral, na presença e ausência de adubos minerais, adubação com
micronutrientes e adubação foliar.
Como técnica para monitoramento do estado nutricional do
cacaueiro, a diagnose foliar, é utilizada, recomendando-se coletar
a terceira folha a partir do ápice de um lançamento recém
amadurecido, na meia altura da copa da planta. A época de coleta
é no verão (dezembro a janeiro) evitando-se o período de
lançamento. Coletar quatro folhas por planta (uma em cada
quadrante), percorrendo-se uma área homogênea. Num total de
dez cacaueiro por amostra composta.
98
Tabela 1- Quantidade de nutrientes, composição e doses de fertilizantes a serem
utilizadas em plantações de cacaueiro, a partir do terceiro ano de idade.
FÓSFORO DISPONÍVEL
FAIXA
mg/dm
3
BAIXA
MÉDIA
ALTA
MUITO ALTA
<9
9 a 16
17 a 30
>30
< 0,10
BAIXA
-1
Nutriente Kg ha
N P2O5 K2O
60 - 90 - 60
N P2O5 K2O
60 - 60 - 60
16 - 24 - 16
18 - 18 - 18
N P2O5 K2O
60 - 30 - 60
N P2O5 K2O
60 - 00 – 60
Composição %
20 - 10 - 20
25 - 00 – 25
380
340
300
240
N P2O5 K2O
60 - 30 - 30
N P2O5 K2O
60 - 00 – 30
0,10 a 0,25
MÉDIA
Cmolc/dm 3
-1
Nutriente Kg ha
N P2O5 K2O
60 - 90 - 30
N P2O5 K2O
60 - 60 - 30
18 - 27 - 09
22 - 22 - 11
Composição %
26 - 13 - 13
32 - 00 – 16
-1
Mistura Kg ha
340
270
230
190
N P2O5 K2O
60 - 30 - 00
N P2O5 K2O
60 - 00 – 00
> 0,25
-1
Nutriente Kg ha
ALTA
POTÁSSIO DISPONÍVEL
-1
Mistura Kg ha
N P2O5 K2O
60 - 90 - 00
N P2O5 K2O
60 - 60 - 00
22- 33 - 00
27 - 27 - 00
Composição %
34 - 17 - 00
45 - 00 – 00
-1
Mistura Kg ha
270
220
180
140
Fonte: Cabala, Santana e Santana, 1984, modificado pela Equipe Técnica da Seção de
Solos e Nutrição de Plantas, 2005.
A diagnose foliar é uma técnica complementar da análise do solo
para otimizar o uso de fertilizantes e melhorar o estado nutricional do
cacaueiro e conseqüentemente, aumentar a produtividade das lavouras.
Estas recomendações têm por objetivos subsidiar técnicos e
produtores na aplicação de corretivos e fertilizantes nas lavouras
cacaueiras do Sul da Bahia.
99
MANEJO ESTRATÉGICO DA PASTAGEM
José Marques Pereira
INTRODUÇÃO
À exemplo do que acontece no Brasil, a produção de leite e de
carne no sudoeste da Bahia é feita predominantemente à pasto. Além
de ser a fonte de alimentação mais econômica, esse sistema de
produção tem credenciado o país na exportação de carne e seus
derivados, gerando expectativas para que o volume exportado em
2005 atinja oito bilhões de dólares, com crescimento de 25% em
relação ao ano anterior.
O sudoeste da Bahia apresenta condições edafoclimáticas ideais
para produção a pasto. Em adição à tecnologia disponível
representada principalmente pela disponibilidade de genótipos de
forrageiras e de técnicas de manejo das pastagens, qualidade
genética do rebanho e controle sanitário, já conferem à pecuária
regional potencial para obtenção de elevados índices de produtividade.
Infelizmente a produtividade média regional ainda é baixa. A
produção de leite por vaca embora tenha experimentado melhoras,
ainda está entre 800 a 1000 litros/vaca/lactação, correspondendo a
1000 kg de leite/ha/ano. Quanto ao gado de corte a produtividade
está entre 5 a 6 @/ha/ano. Esses índices são ainda insignificantes e
bem abaixo da potencialidade tecnológica e dos agrossistemas
pastoris que compõem a região. Dispõem-se de tecnologias
zootécnica e de gerenciamento da produção, suficiente para obtenção
Pesquisador da Ceplac/Cepec - Rodovia Ilhéus-Itabuna, km 22, Cx. Postal 07, 45600-970 - Itabuna,
BA. E-mail: [email protected]
100
de cerca de 6.480 kg de leite/ha/ano, para gado de leite e 20 @ de
carcaça/ha/ano para o gado de corte. Em explorações mais intensivas
a tecnologia disponível potencializa o alcance de respectivamente
21.500 kg de leite/ha/ano e 35 @ de carcaça/ha/ano. Resta analisar
os fatores que limitam, a adoção dessas técnicas por um número
maior de produtores de modo a melhorarem sua renda.
ESCOLHA DA FORRAGEIRA
A produtividade da pecuária à pasto está diretamente relacionada
com o potencial da forrageira, sua adaptabilidade ao ecossistema e
principalmente com o manejo adotado. As forrageiras, quanto à sua
exigência nutricional e conseqüentemente resposta à adubação
podem ser classificadas em três grupos, apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 – Classificação das forrageiras quanto à exigência nutricional.
Grupos
Grupo 1: elevada exigência nutricional
Forrageiras
Capins: elefante, tifton, coastcross,
tanzânia, mombaça, colonião.
Leguminosas:soja perene, leucena.
Grupo 2: Média exigência nutricional
Capins: braquiarão ou marandu,
xaraés, jaraguá, ruziziensis, braquiáriade-brejo, estrela africana.
Leguminosas: centrocema, siratro, ,
tropical, guandu, amendoim forrageiro.
Grupo 3: Baixa exigência nutricional
Capins: gordura, braquiária comum (B.
decumbens), humidicola, B.
dictyoneura, andropogon.
Leguminosas: stylozanthes (mineirão),
desmodium cv. Itabela, calopogônio,
cudzu tropical.
101
É fundamental que na fazenda sejam atribuídas às áreas mais
férteis forrageiras mais exigentes e produtivas. O plantio de
forrageiras mais exigentes em solos pobres implica
necessariamente na adubação da pastagem para que não haja
queda de produtividade seguida da sua degradação. O capimhumidicola estabelecido em solo de tabuleiros costeiros necessitaria
pouquíssima adubação fosfatada para produzir satisfatoriamente,
já o capim-braquiarão (marandu), nessas mesmas condições,
necessitaria de calagem, maior dosagem de fósforo, além nitrogênio
e potássio.
Além da exigência nutricional outro fator importante na escolha da
forrageira é a sua adaptabilidade às condições de excessiva umidade
do solo e capacidade de cobertura do solo. Para áreas sujeitas a
alagamento deve-se preferir os capins, braquiaria-de-brejo, capimbengo, humidicola e estrela africana, ordenados de acordo com o
nível de tolerância. Áreas com topografia muito acidentada, devem
preferentemente ser deixadas como áreas de reserva permanente.
Nas áreas medianamente acidentadas devem ser utilizadas
forrageiras estoloníferas/decumbentes como é o caso de alguns
capins dos gêneros Brachiaria (decumbens e humidicola) e do
Cynodon (coastcross, tifton).
Na história da pecuária brasileira tem sido comum a substituição
de forrageiras mais exigentes em fertilidade de solos, portanto mais
produtivas, por forrageiras menos exigentes, a medida que se
observa a queda da fertilidade do solo. Com isso acontece um
verdadeiro retrocesso, com redução de produtividade, sem evitar
que com o passar do tempo, ocorra a degradação da pastagem.
Nesse caso é preferível não substituir a forrageira, mas sim proceder
a reposição dos nutrientes, seguida do manejo adequado da
pastagem. O mais grave também acontece, substituir forrageira de
baixa exigência nutricional em pastagens degradadas por outra mais
exigente sem o correspondente uso de fertilizante e manejo
adequado.
102
MANEJO DA PASTAGEM
O correto manejo das pastagens é fundamental para garantir a
produtividade sustentável do sistema de produção e do agronegócio.
Atrelados ao bom manejo estão a conservação dos recursos
ambientais, evitando ou minimizando os impactos negativos da
erosão, compactação e baixa infiltração de água no solo, de
ocorrência comum em áreas mal manejadas e/ou degradadas. O
manejo incorreto das pastagens é o principal responsável pela alta
proporção de pastagens degradadas observada em todas as
regiões do Brasil.
O princípio básico do bom manejo é manter o equilíbrio entre
a taxa de lotação e a taxa de acúmulo de massa forrageira, ou
seja, a oferta de forragem (quantidade e qualidade). Para atender
esse pré-requisito é necessário compreender a dinâmica dos
componentes do ecossistema de pastagem: forrageira (potencial
produtivo, taxa de crescimento, adaptabilidade), solo (fertilidade,
textura, topografia) clima, animal (comportamento ingestivo, taxa de
lotação). A taxa de lotação, o número de cabeças/ha, novilhos/ha,
vacas/ha ou UA/ha ( UA= unidade animal = 450 kg de PV), deve variar
dentro e entre estações do ano em função da oferta de forragem. Essa
oferta depende da taxa de crescimento das forrageiras que por sua
vez, varia em função do clima (chuva, temperatura, radiação solar). No
sudoeste da Bahia observa-se variação nas taxas de crescimento entre
estação e nas diferentes ecoregiões. Na ecoregião de Itapetinga
observa-se um período seco bem definido. Na ecoregião do extremo
sul observa-se um inverno chuvoso, mas as baixas temperaturas
observadas nesse período (junho a agosto), reduzem a taxa de
crescimento das forrageiras (Tabela 2) sugerindo redução na taxa de
lotação ou suplementação com volumoso nesse período.
No manejo das pastagens existem basicamente dois sistemas
de pastejo: o pastejo contínuo (lotação contínua) e o pastejo
rotacionado (lotação rotacionada). Os demais são derivações do
pastejo rotacionado, tais como pastejo alternado, pastejo diferido,
etc. Esses sistemas de pastejo estão representados na Figura 1.
103
Tabela 2 - Taxa de crescimento observada para gramíneas e leguminosas
forrageiras no extremo sul da Bahia.
Forrageiras
Mínima precipitação
Kg/ha/dia
Máxima precipitação
Kg/ha/dia
Gramínea(1)
37,9
91,5
Leguminosas(2)
13,3
41,7
(1)
Média de 5 espécies ou cultivares.
Média de 5 espécies ou cultivares.
Fonte: PEREIRA, et al. (1995)
(2)
Fonte: Adaptado de RODRIGUES e REIS (1997). Pastejo limite = pastejo alternado
Figura 1 - Sistemas de pastejo mais utilizados.
104
Tanto no pastejo continuo como no rotacionado pode-se se obter
boas produções desde que se respeite a taxa de crescimento das
forrageiras, ou seja a oferta de forragem. Aliás, em baixas lotações
ou em explorações extensivas, pouca diferença tem sido observada
entre pastejo rotacionado e contínuo. Já em sistemas intensivos com
elevados níveis de adubação e com forrageiras com elevado potencial
produtivo, é imprescindível o uso do pastejo rotacionado, por
apresentar maior aproveitamento da forragem produzida (eficiência
de pastejo), maior aproveitamento do adubo utilizado e
conseqüentemente maior produtividade animal.
No pastejo contínuo torna-se mais difícil o ajuste da taxa de lotação
em função da oferta de forragem. O ideal nesse sistema, em termos
práticos, seria a manutenção da pastagem em uma altura constante
(área foliar uniforme) ou seja, o animal estaria consumindo quantidade
de forragem correspondente ao consumo da forrageira mais as
perdas. Na prática, isso pode ser difícil principalmente em sistemas
com aplicação de níveis elevados de insumos, onde a dificuldade de
manter esse equilíbrio é maior ainda. A manutenção dos capins
braquiarão/xaraés, decumbens e humidicola com altura de
respectivamente 40, 30 e 25 cm em pastejo contínuo pode ser
recomendada. O que se observa em geral no campo, é que o produtor
pratica um misto de sistemas, contínuo, alternado e às vezes
rotacionado, não sistematizado. No entanto, na última década tem
aumentado muito o uso de pastejo com lotação rotacionada,
principalmente com a adoção de forrageiras mais produtivas e com o
uso da adubação
Na implantação do sistema de pastejo com lotação rotacionada
torna-se necessário determinar: o período de descanso (PD), o período
de ocupação (PO) e o número e tamanho dos piquetes. O período de
descanso é o tempo que o piquete fica sem animais para possibilitar
a rebrotação da forrageira (capim ou leguminosa) após o pastejo. A
duração do PD, varia com a forrageira, com estação do ano
(condições climáticas) e com o nível de adubação utilizado. No período
seco ou de menor precipitação as forrageiras crescem menos, então
105
o PD deveria ser maior. No período chuvoso seria menor. Se escolher
o período chuvoso para definir o PD (mais curto), deve-se preparar
para retirar parte dos animais do sistema, no período seco (ou de
inverno) ou suplementa-los com volumoso produzido fora do sistema.
Em regiões com período seco definido, quanto maior for a taxa de
lotação no período das águas maior será a necessidade de
suplementação com volumoso no período seco. Se escolher o PD
em função do período seco (PD mais longo), deve-se diferir alguns
piquetes por um ou dois ciclos de pastejo e armazenar o excedente
de forragem desses piquetes para o período seco. Na região sudoeste
da Bahia, principalmente na região cacaueira e do extremo sul,
geralmente se toma como base o período de maior crescimento das
forrageiras e suplementa os animais no período mais crítico, com
volumoso produzido fora do sistema. O importante é que ao final do
PD a forrageira tenha atingido a taxa máxima de acúmulo de forragem
e que a forragem em oferta tenha um bom valor nutritivo.
Conforme se deduz, o PD é muito variável e a rigor deve ser
estudado para cada caso ou unidade de produção. O número de
dias estipulado é na verdade em função da quantidade e da qualidade
da forragem acumulada no período. Se o período for mais curto podese ter baixa produção e a planta não ter ainda tido tempo suficiente
para recuperar suas reserva. Se for muito longo o capim fica
excessivamente maduro, com baixo valor nutritivo (muita fibra, baixa
digestibilidade, baixo teor protéico). Nessa ocasião a taxa de
crescimento é muito baixa ou nula, nenhuma folha nova vai mais surgir
e a quantidade de folhas senescentes (velhas ou mortas), tende a
aumentar. O manejo da pastagem portanto, deve ter uma certa
flexibilidade, sem perder de vista a sua praticidade.
Uma forma prática de se definir o PD ideal é tomar como base a
altura do pasto a ser atingida no final do período. Se não for atingida,
o PD deve ser reajustado. Para o sul da Bahia, à luz da experiência
acumulada, poderia se sugerir para os principais grupos de forrageiras
cultivadas, os períodos de descansos e altura do pasto para a entrada
e saída dos animais no piquete, detalhadas na Tabela 3.
106
Tabela 3 - Período de descanso e altura do pasto na entrada e na saída dos
animais em pastejo com lotação rotacionado sugeridos para os principais grupos
de forrageiras.
Forrageiras
Capim-elefante
Colonião, tanzânia, mombaça
Braquiarão, xaraés
Brachiaria decumbens
Capim humidicola, tifton 85,
coastcross, estrela africana
Altura do pasto (cm)
Período de
descanso (dias)
Entrada
Saída
36
110 - 120
40 - 50
70 - 80
40 - 50
30 - 40
20 - 30
30 - 40
20 - 25
15 - 20
10 - 12
36
36
28
21 - 28
O período de ocupação (PO), é o tempo que os animais ficam
pastejando em cada piquete. A sua duração deve ser compatível com
a oferta de forragem acumulada e esta é realmente quem define a
taxa de lotação pretendida. Na definição do período de ocupação
também deve ser observado o resíduo pós-pastejo, que deve ser
adequado para garantir a rebrotação no período de descanso seguinte.
Sugestões sobre alturas de resíduos para algumas forrageiras são
apresentadas na Tabela 3. O PO nunca deve exceder a 7 dias. O
ideal é que fique entre 1 e 3 dias para gado de leite e 3 a 5 dias para
gado de corte, dependendo da intensidade e do potencial de produção
dos animais. O gado de leite é mais sensível a períodos de ocupação
mais longos, pois a medida que passam os dias a produção de leite
cai. Assim, para vacas com produção acima de 12 kg de leite/dia, o
ideal é adotar PO de 1 dia.
O tamanho do piquete depende do número de animais definido
em função da oferta de forragem, do período de ocupação e da área
total disponível para o sistema. A área dos piquetes não deve ser
necessariamente a mesma. O importante é que a disponibilidade de
forragem dentro do piquete, ou seja a área útil. Piquetes com
topografia muita acidentada ou com áreas alagadas, pedras, etc.
107
devem ser maiores. Deve-se fazer uma divisão agronômica/
zootécnica da pastagem e não uma divisão meramente
topográfica. O número de piquetes quando se tem somente um lote
por sistema de pastejo é calculado pelo quociente do PD pelo PO,
somado a 1. O uso de mais de um lote em um mesmo sistema de
pastejo é mais difícil de ajustar, devendo ser evitado.
Deve-se preferir piquetes na forma quadrada ou retangular, com a
largura mínima igual a um terço do comprimento. O planejamento do
sistema deve ser feito por técnico especializado em manejo de
pastagem. Corredores, bebedouros, cochos saleiros ou para
suplementação, áreas de descanso, devem ser alocados de modo a
reduzir e tornar o mais cômodo possível o percurso dos animais. Em
área acidentada, os corredores devem ser projetados cortando o
declive, a fim de evitar a erosão e amenizar o esforço dos animais.
Isso se torna mais importante ainda em gado leiteiro, onde a posição
do estábulo/sala de ordenha deve também ser levada em
consideração no planejamento do sistema de partejo. Uma vaca
leiteira deixa de produzir cerca de 0,5 litro de leite/dia para cada
quilometro percorrido em terreno plano. Em área acidentada essa
redução pode triplicar. O arranjo de sistema de partejo com lotação
rotacionada mais utilizado é aquele que adota uma área de descanso
(do piquete do animal), onde são alocados os bebedouros (ou
aproveitamento de corpos de água naturais), cochos saleiros, com
livre acesso dos animais a partir do piquete que estão utilizando. De
acordo o tamanho dos piquetes e área total do sistema pode haver
de uma a várias áreas de descanso.
O nível de produtividade obtido no sistema de partejo está
diretamente relacionado com a fertilidade do solo ou com o nível de
adubação adotado e com o potencial de resposta da forrageira. Para
forragens do grupo 1 (Tabela 1) o nível de fósforo no solo deve ser
mantido em no mínimo 10 ppm. Utilizando-se os capins elefante e
braquiarão e com adubação de 160 kg/ha de N, 60 kg/ha de K2O e
160 kg/ha de P 2O 5, em um sistema de pastejo com lotação
rotacionada (3 x 36 dias), na Essul/Ceplac, Itabela, obteve-se taxas
108
de lotação, ganhos de peso diário e ganho de peso/ha de
respectivamente, 4,6 e 4,1 UA/ha, 359 a 456 g/nov/dia e 785 e 756
kg/ha, no período de 385 dias (PEREIRA, et al. 2005). Níveis de N
de 200/300 kg possibilitam a obtenção de 1000 kg/ha de PV ou
33 @/ha.
No entanto, com bom manejo e com baixos níveis de nutrientes
pode-se obter produções bem superiores à média regional.
Adubação de 20 kg/ha de P2O5 e 90 kg/ha de N em pastagens de
B. humidicola, em solos quartzosos (Faz. Barra dos Manguinhos,
Ilhéus, BA) e de tabuleiros costeiros do sul da Bahia (Ceplac/Essul,
Itabela) possibilitaram respectivamente a obtenção de 20 kg de
leite/ha/dia e de 16 a 24 @/ha (PEREIRA et al., 1996). Na
consorciação dessa gramínea ou do Brachiaria dictyoneura com
amendoim forrageiro cv Belmonte, sem adubação nitrogenada,
obteve-se produção semelhante com o uso de novilhos de corte
(SANTANA et al., 1998).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a adoção de manejo estratégico das pastagens é possível
elevar consideravelmente a sua produtividade e manter a
sustentabilidade do sistema de produção. O uso de adubação implica
no refinamento maior desse manejo, a fim de aumentar a eficiência
do adubo aplicado.
Na condução de qualquer sistema deve ser respeitada a variação
na taxa de crescimento da forrageira, adequando a taxa de lotação
ao acumulo de forragem promovido por esse crescimento. A definição
das varáveis de manejo mencionada deve ter uma certa flexibilidade
para ser ajustado de acordo com as peculiaridades de cada
forrageira, condições edafoclimáticas da região e intensividade do
sistema de produção.
109
LITERATURA CITADA
RODRIGUES, R. de A. R. Conceituação e modalidades de sistemas
intensivos de pastejo rotacionado. In: Simpósio sobre manejo de
pastagem, 14. 1997, Piracicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ. p. 1-24.
PEREIRA, J. M.; REZENDE, C. de P. e MORENO, M. A. R. Pastagens
no ecossistema Mata Atlântica: Atualidades e perspectivas. In:
Reunião da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Simpósio: Produção
Animal e o Foco no Agronegócio. 42, 2005, Goiânia. Anais... Goiânia,
SBZ. p. 36-55.
PEREIRA, J. M.; MORENO, R. M. A.; CANTARUTTI, R. B. et al.
Crescimento e produtividade estacional de germoplasma forrageiro.
In: Ceplac/Cepec (ed.) Informe de Pesquisa – 1987/1990. Ilhéus:
Ceplac, 1995, p. 307-309.
PEREIRA, J. M.; SANTANA, J. R. de, & REZENDE, C. de P. Alternativa
para aumentar o aporte de nitrogênio em pastagens formadas por
capim humidícola. In: Reunião da Sociedade Brasileira de Zootecnia,
39, 1996, Fortaleza. Anais... Fortaleza: SBZ, 1996, p. 38-40.
SANTANA, J. R. de; PEREIRA, J. M.; REZENDE, C. de P. Avaliação
da consorciação de Brachiaria dictyoneura Slopz. Com Arachis pintoi
Kaprov & Gregory. sob pastejo. In: Reunião da Sociedade Brasileira
de Zootecnia, 35. 1998. Botucatu. Anais... Botucatu: SBZ, 1998, p.
406-408.
110
RESERVA LEGAL: aspectos legais e
sustentabilidade da propriedade rural
Yuri Mello1
Kátia Curvelo Bispo2
Como dita a Constituição Federal artº 225 - Todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo, e essencial á sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e á coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações. Entretanto, a realidade nos mostra os
obstáculos que ainda se interpõem na definição das prioridades
inerentes ao cumprimento desse artigo de forma a não subjugar, muito
menos colocar à margem tentativas voltadas para a melhoria e controle
da qualidade ambiental.
Tendo em vista a construção de uma nova relação homem natureza no processo de apropriação e utilização do meio natural a
Reserva Legal deverá ser utilizada como ferramenta efetivamente
capaz de disciplinar e viabilizar uma intervenção no caminho da
sustentabilidade. Para tanto, se faz necessário, o conhecimento dos
processos de planejamento para a implantação, suas atribuições,
normas a que se destina , vantagens e benefícios de forma a subsidiar
as informações necessárias para a sua criação, sendo esta a
proposta deste trabalho.
Para a utilização da área com ênfase no manejo sustentado a
vegetação destinada a compor a reserva legal poderá ser utilizada
mediante um plano de manejo que tenha por finalidade a
sustentabilidade, obedecendo a normas técnicas-científicas
1
MP/Ba - Coordenador do Núcleo Mata Atlântica do Ministério Público da Bahia
Eng. Agrônoma - Mestranda em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente - UESC/PRODEMA
2
111
respaldadas pelo regulamento. Em se tratando de pequenas
propriedades, sendo estas, estabelecidas por agricultura familiar ou
não, poderão ser incluídos plantios consorciados e que se prestem a
uma atividade de subsistência.
A localização da reserva, sua aprovação e uma suposta
compensação com área de preservação permanente são de
prioridade e competência de órgãos licenciados, e, fica condicionada
a obrigatoriedade de inscrição no registro de imóveis, havendo
isenção de pagamento na averbação para as pequenas propriedades
ou de posse rural familiar. A reserva legal em condomínio poderá ser
estabelecida, desde que corresponda ao percentual legal em
vinculação para cada imóvel.
112
ANÁLISE-DIAGNÓSTICO DO PROCESSO DE
PLANTIO DE MUDAS DE CACUEIROS
PROPAGADAS POR ESTAQUIA
Paulo Cesar Lima Marrocos1
George Andrade Sodré2
1. INTRODUÇÃO
O cacaueiro tem sua origem envolta por mitologias e lendas, reza
uma lenda que: o deus asteca Quetzalcoalt (senhor da lua prateada e
dos ventos gelados), com intenção de oferecer aos mortais algo que
lhes enchesse de energia e prazer, foi aos campos luminosos do reino
dos Filhos do Sol para de lá furtar as sementes da árvore sagrada.
Desta forma, fantástica, as sementes do cacaueiro teriam surgido na
região dos Astecas e aí frutificado, dando origem à árvore.
Não que isso seja função da lenda, mas, o cultivo do cacaueiro
constituiu-se num dos raros casos entre as espécies perenes
cultivadas em que a reprodução seminal superou a propagação
vegetativa (DIAS, 1993). Além disso, por estar associado à
religiosidade, foi inicialmente cultivado por sacerdotes e,
posteriormente, por agricultores interessados em estabelecer lavouras
comerciais de cacaueiros, especialmente na Bahia.
1
Pesquisador CEPLAC/CEPEC Km 22 Rodovia Ilhéus Itabuna, Ilhéus, CEP: 45.650-000. E-mail:
[email protected]. Prof. Adjunto UESC/DFCH.
2
Pesquisador CEPLAC/CEPEC Km 22 Rodovia Ilhéus Itabuna, Ilhéus, CEP: 45.650-000. E-mail:
[email protected]. Prof. UESC/DCAA.
113
2. HISTÓRICO DA PRODUÇÃO DE MUDAS
Nos primeiros plantios de cacaueiros realizados na região Sul da
Bahia, no final do século XIX, foram utilizadas sementes vindas do
estado do Pará. Como o facão era o instrumento utilizado na abertura
de covas para disposição das sementes direto no campo os plantios
eram denominados: a bico de facão. Somente na década de 70 a
produção de mudas passou a ser realizada em viveiros com utilização
de sacolas plásticas.
A produção de mudas de Theobroma cacao L. por estaquia foi,
inicialmente, testada na década de 30 (PYKE, 1933), e utilizada em
escala comercial em Trinidad, nas décadas de 30 e 40. Entretanto,
algum tempo depois, muitas das áreas plantadas com clones, foram
substituídas por híbridos multiplicados por sementes.
A produção de mudas de cacaueiros por estaquia foi descrita e
testada na Bahia por (FOWLER, 1955). Contudo, os estudos de PYKE
(1933) em Trinidad e de ALVIM (1953) foram, também, importantes
para compreensão dos mecanismos fisiológicos que envolvem o
enraizamento de estacas. Outros estudos foram desenvolvidos em
Turrialba, Costa Rica e Pichilingue no Equador (ALVIM, 2000).
No Brasil, por diferentes motivos, o uso da técnica de enraizamento
do cacaueiro foi abandonado nos últimos 40 anos. Um deles foi o
advento do material híbrido na década de 70 que redirecionou os
plantios para sementes melhoradas (SENA-GOMES et al., 2000).
Com o surgimento da vassoura-de-bruxa e a seleção de variedades
clonais tolerantes à doença, houve necessidade de se recorrer
novamente às técnicas de enraizamento.
3. O INSTITUTO BIOFÁBRICA DE CACAU
A propagação vegetativa com uso de estaquia, em grande escala,
somente foi iniciada em 1999 pelo Instituto Biofábrica de Cacau (IBC),
utilizando protocolo de produção de mudas de eucalipto das
empresas florestais, com adaptações às condições morfofisiológicas
114
do cacaueiro. O Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC), da
CEPLAC, tem dado suporte técnico-científico ao IBC desde sua
implantação.
O IBC, localizado no município de Ilhéus-BA, entre as coordenadas
geográficas 14o 38’ S e 39o 15’ W, é uma instituição social sem fins
lucrativos, criada em 1999 pelo Governo do Estado da Bahia. Nessa
unidade, são produzidas mudas de cacaueiros por via vegetativa
utilizando diferentes clones tolerantes a doenças.
Estimativas feitas pelo IBC permitem sinalizar que
aproximadamente 5.000 ha de cacaueiros estão sendo cultivados no
Estado da Bahia, com utilização de mudas clonais propagadas por
estacas enraizadas em tubetes. A Tabela 1 mostra a capacidade
produtiva do IBC e, revela seu potencial de uso para a diversificação
agrícola.
Tabela 1 - Produtos gerados pelo Instituto Biofábrica de Cacau no período de
2001 - 2003.
Cultivo
Mudas
Garfos
Total
Cacau
Essências Florestais
Bananeira (resistente a Sigatoka Negra)
Fruteiras Tropicais
Café Conilon
Dendê Tenera
5.232.000
1.505.000
575.000
113.000
500.000
78.000
2.700.000
-
7.932.000
1.505.000
575.000
113.000
500.000
78.000
Total
8.003.000
2.700.000
10.703.000
Fonte: IBC (2004)
Para consolidar o Programa de Recuperação da Lavoura
Cacaueira, que prevê a renovação de 300 mil hectares, será
necessário produzir e disponibilizar grande quantidade de material
vegetal tolerante. Nesse contexto, a produção de mudas e todas as
atividades que permitam elevar o seu rendimento assumem
fundamental importância.
115
4. O PROBLEMA DO PROCESSO DE PLANTIO DE MUDAS
PROPAGADAS POR ESTAQUIA
4.1. Importância do planejamento
O início de um trabalho de planejamento para recomposição do
estande de roças de cacau e/ou implantação de novas lavouras, com
uso de mudas propagadas por estaquia, compreende uma fase de
diagnóstico da infra-estrutura do imóvel e das condições edafoclimáticas da área destinada ao plantio. Portanto, algumas perguntas
devem ser formuladas e respondidas por ocasião da elaboração do
planejamento:
- Qual a estratégia a ser utilizada para aumentar a produção de
cacau da empresa? Formação de novas áreas (implantação) ou
elevação do número de cacaueiros para 1100 plantas por hectare
(recomposição do estande)?
- Qual das áreas disponíveis apresenta características topográficas
e edáficas (declividade, profundidade efetiva, textura, afloramentos
rochosos, etc) favoráveis à conservação dos solos, ao aumento da
eficiência de mão-de-obra e à produção do cacaueiro?
Conseqüentemente, alguns critérios devem ser estabelecidos para
tomada de decisão quando houver necessidade de formação de novas
áreas e/ou recomposição de estandes: aspecto da área
(sombreamento provisório, sombreamento definitivo); acesso; relevo
(declividade, situação); solos (profundidade, textura e abertura de covas).
5. TECNOLOGIA DISPONÍVEL
5.1. Sombreamentos provisório e definitivo:
Adequar o sombreamento provisório e definitivo, pelo menos seis
meses antes da época planejada para plantio, é essencial para reduzir
a condição de estresse imposta às mudas por ocasião do transplante
para as covas e nas primeiras semanas de campo. Quando o
sombreamento definitivo for muito denso, deve-se atentar para o fato
116
de que mudas propagadas por estaquia são mais sensíveis a
situações de competição quando há dominância de cacaueiros adultos
ou árvores de sombra ao seu redor. Convém lembrar que para adequar
(reduzir) sombreamento, caso isso seja necessário, deve-se verificar
junto a Superintendência de Desenvolvimento Florestal e Unidades
de Conservação (SFC) a autorização para eliminação de árvores.
5.2. Acesso e distância do imóvel até a unidade de produção
de mudas:
Acessos ruins e grandes distâncias implicam num maior tempo
para transporte das mudas da unidade de produção até o imóvel.
Nestes casos, devem-se transportar as mudas nos horários do dia
com temperaturas mais amenas.
5.3. Transporte
Mesmo não sendo considerada uma etapa do processo de
produção, o transporte das mudas da unidade de produção para a
propriedade requer uma série de cuidados sem os quais o sucesso
do plantio de mudas clonais ficará comprometido.
O transporte é geralmente feito por caminhões ou automóvel
utilitário com a parte superior e as laterais protegidas contra chuva
e ventos. Devem-se também equipar os veículos com grades para
acomodação das bandejas. Uma pesquisa, realizada com 137
produtores de cacau, revelou que quase 40% dos produtores
transportam as mudas, do IBC até o imóvel, em horário inadequado,
evidenciando a necessidade de orientação (Tabela 2).
Tabela 2 - Tipo de transporte e, horário utilizado pelos produtores para transportar
as mudas de cacaueiros, produzidas por estaquia, do IBC até o imóvel.
Tipo de Transporte Freqüência
Carro Próprio
Caminhão terceirizado
Outro*
59
63
15
%
Hora Transporte
Freqüência
%
43,1
46,0
10,9
06:00 às 10:00 h
10:00 às 16:00 h
Após as 16:00 h
66
54
17
48,2
39,4
12,4
* Carro alugado por prefeituras.
117
Durante o dia, os melhores períodos para transporte são definidos
até às 9h e a partir das 16 h. O transporte feito entre as 10h e 16h em
dias quentes aumenta a transpiração das plantas e a perda de água
do substrato, reduzindo a porcentagem de sobrevivência,
principalmente quando se faz plantio direto. Assim, dias mais úmidos,
com temperaturas entre 22oC e 25ºC, e chuvas de pequena
intensidade são desejáveis durante o transporte. Em distâncias
superiores a 100 km, recomenda-se irrigar as mudas a cada 2 horas.
6. PLANTIO OU TRANSPLANTIO?
Portanto, para que o plantio de mudas propagadas por estaquia
obtenha sucesso, as condições de campo devem ser adequadas
(umidade do solo, sombreamento, abertura de covas e adubação),
sendo que se as mudas tiverem idade entre cinco e seis meses, podese recomendar o plantio direto no campo (MARROCOS et al., 2003).
Essa opção apresenta como vantagem economia de tempo e recursos
pelo fato de não ser necessário preparar viveiros e conduzirem mudas
em recipientes de peso e volume superiores ao do tubete. Além disso,
evita a ocorrência de injúria aos sistemas radiculares ocorridas,
normalmente, durante a repicagem para sacolas plásticas.
Entretanto, para os casos em que há necessidade do transplante
de mudas para sacolas plásticas (dimensões: 16 x 40 x 08cm), os
dados de SODRÉ et al. (2004: não publicados) mostrados na Tabela 3,
evidenciam que as mudas têm um maior crescimento e
desenvolvimento com uso de substratos orgânicos, isoladamente ou
incorporados ao solo. Contudo, deve-se ter cuidado com a origem do
material para evitar o surgimento de doenças.
È recomendável, também, que os produtores plantem clones já
identificados como autocompatíveis. Sendo que, deve-se atentar
para a não utilização de um grande número de clones na formação
de novas áreas. Os plantios devem ser formados de modo a que
cada gleba utilize no máximo seis clones com vigor semelhante,
sendo que pelo menos a metade seja intercompatível com a outra
metade.
118
Tabela 3 - Diâmetro e altura do caule, matéria seca da parte aérea (MSPA), matéria seca
de raízes (MSR) e área foliar de mudas de cacau propagadas por estaquia em tubete e
repicadas aos 90 dias para diferentes substratos.
Diâmetro
(mm)
Altura
(cm)
Solo
Serrragem
Composto Casca Cacau
Solo + Serragem
Solo + Composto Casca Cacau
Serragem + Composto Casca Cacau
1,12c
1,40a
1,29ab
1,25b
1,41a
1,40a
C.V (%)
4,51
Tratamentos
Matéria seca (g)
MSPA
MSR
60,0b
79,6a
65,3b
77,3a
79,1a
77,8a
34,92c
69,28a
45,56d
58,30b
56,73b
64,90a
2,68b
4,94a
3,45ab
5,55a
4,49ab
5,47ab
5,57
6,15
19,10
Área foliar
(cm2)
3474,96c
9656,77a
5967,01b
8005,62a
8249,47a
9630,38a
10,53
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Student-Newman-Keuls,
(SNK) a 5% de probabilidade.
7. ÉPOCA DE PLANTIO
A época de plantio está relacionada com o conteúdo de água no
solo, característica essa que responde na maioria dos casos pelo
sucesso do plantio de mudas clonais. Na região cacaueira do sul do
estado da Bahia, a melhor época ocorre no início da estação chuvosa
de inverno (meses de junho a agosto). Plantio de cacaueiros em
outras épocas dependerão muitas vezes de chuvas, irrigação
complementar, situação da área (declive), posicionamento em
relação ao sol, tamanho da cova e existência de sombreamento
adequado.
MARROCOS et al. (2004, dados não publicados) observaram que
muitos produtores não têm prática no manejo das mudas clonais,
ocorrendo problemas no transporte, na acomodação das mudas na
fazenda antes e durante o processo de plantio. Assim, a depender
do manejo, das condições climáticas e do sombreamento da área,
os índices de sobrevivência das mudas são bastante reduzidos.
119
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não se pretendeu nesse trabalho esgotar o conhecimento sobre o
processo de produção de mudas do cacaueiro, visto tratar-se de uma
mudança de paradigma na cacauicultura. Contudo, espera-se ter
levantado o estado da arte do tema e, se possível sugerido idéias
para fortalecimento da cultura no Brasil, buscando o retorno à posição
de primeiro produtor mundial de amêndoas secas, alcançado no final
da década de 70.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVIM, P. T. Nuevos propagadores para el enraizamiento de estacas
de cacao. Centro Interamericano del Cacao, Turrialba, Costa Rica,
Cacao, 2(47- 48):1-2. 1953.
ALVIM, P. T. Fatores fisiológicos associados com a propagação bem
sucedida de cacau por enraizamento de estacas. In: Pereira, J. L. et
al. (eds). Atualização sobre Produção Massal de Propágulos de Cacau
geneticamente melhorado. Atas, BA, Ilhéus. 1998, p 90-91, 2000.
DIAS, L.A.S. Propagação vegetativa vs reprodução seminal em cacau.
In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência, 45. Anais. Recife: SBPC, 1993. p.19.
FOWLER, R. L. Propagação de cacau por meio de estacas. Escritório
técnico de Agricultura- ETA Brasil - Estados Unidos Avulso IL. n 3 , 1955.
PYKE, E. E. The vegetative propagation of cacao. II. Softwood cuttings.
Annual Report on Cacao Research, 2, 3-9, 1933.
MARROCOS, P.C.L. et al. Normas para o plantio de mudas de
cacaueiros propagadas por estaquia: atualização. Ilhéus: CEPLAC. 28p.
SENA-GOMES, A. R. et al. Avanços na propagação clonal do
cacaueiro no Sudeste da Bahia. In: Pereira, J. L. et al. (eds). Atualização
sobre Produção Massal de Propágulos de Cacau geneticamente
melhorado. Atas, BA, Ilhéus. 1998, p 85-89, 2000.
120
MANEJO DE DOENÇAS DO CACAUEIRO
José Luiz Bezerra
Marival Lopes de Oliveira
O manejo das fitomoléstias, compreende a utilização de princípios
e práticas que visam aumentar o vigor do hospedeiro, reduzir o inóculo
do patógeno e tornar o ambiente desfavorável à multiplicação e
disseminação do patógeno e à infecção do hospedeiro.
No caso do cacaueiro, a ênfase dada a cada princípio varia com a
natureza de cada doença, assim:
Exclusão – Compreende o uso de medidas imperativas para evitar
que doenças inexistentes sejam introduzidas em uma dada região.
Este é o caso da monilíase na Bahia, no momento, como foram os
casos da vassoura-de-bruxa e do mal-do-facão, no passado.
Pressupõe a adoção de medidas restritivas quanto à movimentação
de materiais botânicos (mudas, sementes, etc.) e a necessidade de
observação da legislação quarentenária.
Erradicação - Abrange desde a eliminação apenas das plantas
infectadas ou mortas até a erradicação da cultura na região afetada.
Tal medida é fundamental, por exemplo, no controle do mal-do-facão
causado pelo fungo Ceratocystis fimbriata e das doenças de raiz
ocasionadas por Rosellinia spp. e Ganoderma philippii.
Proteção - Compreende a interposição de barreiras, química ou
biológica, por exemplo, entre o patógeno e a planta hospedeira. Este,
por exemplo, é o princípio mais utilizado no controle da podridão-parda
do cacaueiro. A adoção de defensivos químicos hoje em dia, em
função das preocupações com o meio ambiente, envolve a escolha
Pesquisadores CEPLAC/CEPEC/SEFIT
121
criteriosa de produtos eficazes e com baixa persistência no ambiente,
bem como, a utilização de métodos de aplicação adequados, além
de cuidados quanto à proteção do aplicador. A legislação fitossanitária
obriga o uso de receituário agronômico, vedando a utilização de
produtos não registrados para a cultura alvo. Os conhecimentos
epidemiológicos sobre cada doença são indispensáveis na definição
do período de aplicação, otimizando as épocas de início e conclusão
das aplicações.
Resistência - Seria a medida ideal de controle das doenças de
plantas, por ser mais durável, eficiente e de baixo custo para o
produtor. É a base do atual manejo integrado da vassoura-de-bruxa.
Por outro lado, o desenvolvimento de variedades resistentes requer
grandes investimentos em pesquisa, tanto em instalações e
equipamentos quanto em recursos humanos, demandando bastante
tempo na condução das pesquisas. Na cacauicultura existe grande
necessidade de realização de pesquisas visando a seleção e
desenvolvimento de variedades com resistências à monilíase, ao maldo-facão e à podridão parda. Algumas pesquisas já em curso
precisam ser mais estimuladas.
Terapia - consiste na remoção cirúrgica das partes afetadas da
planta. É eficiente no controle dos cancros causados por Phytophthora
spp. e Lasiodiplodia theobromae. O uso de fungicidas sistêmicos
com a finalidade de interromper o processo infeccioso se enquadra
neste princípio. O fungicida sistêmico Folicur recomendado no controle
da vassoura-de-bruxa, por exemplo, atua como protetor e como
sistêmico (erradicante).
A sanificação é uma prática muito importante no manejo integrado
consistindo na eliminação dos restos vegetais e partes mortas ou
doentes das plantas que vão servir como fontes de inóculo para o
surgimento das epidemias de doenças, como são os casos dos
casqueiros para a podridão parda e das vassouras secas para a
vassoura-de-bruxa. O enterrio deste material é desejável no caso da
vassoura-de-bruxa, evitando a esporulação do fungo e facilitando sua
degradação, porém, nem sempre recomendado para a podridão122
parda, uma vez que as espécies de Phytophthora crescem e se
multiplicam no solo. Teoricamente, a cobertura dos restos vegetais
teria o mesmo papel, impedindo a esporulação de Crinipellis
perniciosa desde que fosse permanente. A aplicação de uréia nos
casqueiros impede a esporulação de C. perniciosa e Phytophthora
spp., mas também atrasa a decomposição da matéria orgânica. O
manejo deste material através da compostagem seria o mais
indicado, não tendo contra - indicações.
O controle biológico, consistindo na utilização de microrganismos
antagonistas atuando sobre o patógeno, reduz as fontes de inóculo e
pode proteger o hospedeiro contra as infecções. É um método que
pode ser incluído no manejo integrado, exigindo porém, conhecimento
suficiente do modo de ação, sobrevivência e persistência do
antagonista no ambiente. É o caso do TRICOVAB, fungicida biológico
desenvolvido pela CEPLAC, contendo o fungo Trichoderma
stromaticum, que vem sendo usado com sucesso para reduzir o
potencial de inóculo de C. perniciosa nas plantações de cacau.
O controle cultural corresponde àquelas práticas que visam a
sanificação das plantações. Deve fazer parte da rotina das
propriedades agrícolas.
Assim o modelo geral do manejo integrado das principais doenças
do cacaueiro abrangeria:
1- Plantio do melhor material botânico disponível, respeitando-se
as medidas exclusionárias;
2- Solo, sombreamento e adubação adequados;
3- Controle das plantas invasoras;
4- Condução apropriada das plantas: formação da copa e
eliminação de chupões;
5- Sanificação da plantação;
6- Utilização dos princípios fitopatológicos adequados a cada
situação, inclusive os controles biológico e cultural;
7- Inspeção fitossanitária sistemática e permanente na plantação;
8- Treinamento da mão-de-obra.
123
CONSTRUÇÃO COM SOLO CIMENTO
Efren de Moura Ferreira Filho
O solo-cimento é um material alternativo de baixo custo, obtido
pela mistura de solo, cimento e um pouco de água, em proporções
adequadas. No início, essa mistura parece uma “farofa” úmida e
que, após compactação e cura, ela endurece e com o tempo ganha
consistência e durabilidade suficiente para diversas aplicações no
meio rural e urbano.
O solo-cimento é uma evolução de materiais de construção do
passado, como o barro e a taipa. Só que as colas naturais, de
características muito variáveis, foram substituídas por um produto
industrializado e de qualidade controlada: o cimento.
O uso do solo-cimento no Brasil vem, desde 1948, ajudando na
satisfação de tais necessidades, encontrando-se hoje já bastante
difundido.
A presente comunicação relata aspectos técnico-econômicosociais de alguns anos de trabalho com esta modalidade de
construção na CEPLAC/EMARC-URUÇUCA.
Nesses 26 anos de experiência na região cacaueira, destacamse obras no meio rural e urbano, em particular a construção de uma
creche com 1.200 m2 em Juçari-BA, sendo a segunda maior obra
em solo-cimento no Brasil.
A técnica do solo-cimento é aplicada às construções das
populações de baixa renda e foi introduzida na comunidade da região
cacaueira, por seu baixo custo e pela facilidade de assimilação
do sistema construtivo.
*
Eng°. Agrimensor, Técnico em Assuntos Educacionais (Escola Média de Agropecuária
Regional da CEPLAC/EMARC – URUÇUCA – BAHIA).
124
CAMPO DE APLICAÇÃO
Aplica-se a construção de solo-cimento em: construção de
paredes monolíticas, tijolos, pavimento e o solo ensacado.
As paredes monolíticas são compactadas no próprio local, em
camadas sucessivas, no sentido vertical, com auxílio de formas e
guias. O processo de produção assemelha-se ao sistema antigo de
taipa, formando painéis inteiriços, sem juntas horizontais.
Os tijolos de solo-cimento são produzidos em prensas,
dispensando a queima em fornos. Eles só precisam ser umedecidos,
para que se tornem resistentes. Além de grande resistência, outra
vantagem desse tijolo é o seu excelente aspecto.
Os pavimentos também são compactados no local, com auxílio
de fôrmas, mas em uma única camada. Eles constituem placas
maciças, totalmente apoiadas no chão.
O solo-cimento ensacado resulta da “farofa” úmida, colocada em
sacos, que funciona com fôrma. Depois de ter a sua boca costurada,
esses sacos são colocados na posição de uso, onde são
imediatamente compactados individualmente.
VANTAGENS
O solo-cimento vem se consagrando como tecnologia alternativa
por oferecer o principal componente da mistura – o solo – em
abundância na natureza, e geralmente disponível no local da obra ou
próximo a ela.
O processo construtivo do solo-cimento é muito simples, podendo
ser assimilado por mão de obra não qualificada.
Apresenta boas condições de conforto, comparáveis às
construções de alvenaria de tijolos e ou blocos cerâmicos, não
oferecendo condições para instalações e proliferações de insetos
nocivos à saúde pública, atendendo às condições mínimas de
habitabilidade.
125
É um material de boa resistência e perfeita impermeabilidade,
resistindo ao desgaste do tempo e à umidade, facilitando a sua
conservação.
A aplicação do chapisco, emboço e reboco são dispensáveis,
devido ao acabamento liso das paredes monolíticas, em virtude da
perfeição das faces (paredes) prensadas e a impermeabilidade do
material, necessitando aplicar uma simples pintura com tinta à base
de cimento, aumentando mais a sua impermeabilidade, assim como
o aspecto visual, conforto e higiene.
SOLO-CIMENTO - MATERIAIS CONSTITUINTES
SOLO
O uso do solo no local da obra é sempre a solução mais econômica.
Entretanto, se ele não servir, é necessário fazer a correção
granulométrica no solo encontrado (70% de areia grossa e 30 % de
silte e argila) misturando uniformemente e peneirados, obtendo-se o
mesmo resultado ou então procurar um solo adequado em outro local,
denominado jazida, contanto que este local fique o mais próximo
possível da obra, por questões econômicas.
Os solos adequados são os chamados de solos arenosos, ou seja,
aqueles que apresentam uma quantidade de areia na faixa de 60% a
80 % da massa total da amostra considerada.
O proporcionamento dos constituintes é função do tipo de solo
escolhido.
O Estudo Técnico – Dosagem das Misturas de Solo-Cimento –
Normas de Dosagem e Métodos de Ensaio, da ABCP (Associação
Brasileira de Cimento Portland), através de diferentes parâmetros
relativos ao solo, tais como sua granulometria, índices físicos, etc.,
define os teores de cimento que aplicam aos diferentes tipos de solos.
Os resultados finais são obtidos através de ensaios de resistências à
compressão simples e de durabilidade por molhagem e secagem.
O resultado final do estudo de dosagem é apresentado na forma
de teor de cimento (relação entre a quantidade de cimento e a de
126
solo seco, em massa). Este teor, muitas vezes de pouca utilidade
para fins de obra, pode ser transformado em traço volumétrico, por
exemplo: 1 parte de cimento para 12 a 15 partes de solo, em volume.
Quando o volume de obra é pequeno, existem testes práticos para
a avaliação das características granulométricas de um solo. Alguns
deles são: teste da caixa e o da garrafa.
PREPARO DO SOLO-CIMENTO
Dosagem solo-cimento
Nas obras de pequeno porte é usado um traço padrão entre 1 para
12 até 1 para 15 (uma parte do cimento para outras partes de areia),
que é um solo arenoso aprovado pelos testes práticos. Em obras de
grande porte, o solo-cimento chega a ser produzido em usinas de
misturas. Em obras de pequeno porte, a mistura é manual. Betoneira
não serve para preparar o solo-cimento.
Mistura Manual do solo-cimento
a) Passe o solo por uma peneira de malha ABNT 4,8 mm;
b) Esparrame o solo sobre uma superfície lisa e impermeável,
formando uma camada de 20cm a 30cm. Espalhe o cimento sobre o
solo peneirado e revolva-o bem, até que a mistura fique com uma
coloração uniforme, sem manchas de solo ou de cimento;
c) Espalhe a mistura numa camada de 20cm a 30cm de espessura,
adicione água aos poucos (usando um regador com “chuveiro”) sobre
a superfície e misture novamente. Os componentes do solo-cimento
podem ser misturados até que o material pareça uma “farofa” úmida,
de coloração uniforme da cor do solo utilizado, embora levemente
escurecida, devido à presença da água. Na prática, a umidade da
mistura é verificada através de procedimentos simplificados,
baseados na coesão apresentada pela massa fresca. Quando a
amostra está seca, não existe a formação de um bolo compacto, com
marca nítida dos dedos em relevo, ao apertarmos na mão a massa
de forma energética. Outro método complementar muito utilizado
127
consiste em deixar cair o bolo formado, de uma altura
aproximadamente de um metro, sobre o chão. No impacto o bolo
deverá se desmanchar, não formando uma massa única e compacta.
Se houver excesso de água, a massa manterá úmida e rígida após o
impacto, fato não desejável. A mistura do solo-cimento começa a
endurecer rapidamente, por isso, ele deve ser usado, no máximo, duas
horas após o preparo. Portanto, evite preparar mais solo-cimento que
possa utilizar nesse intervalo de tempo.
FERRAMENTAS NECESSÁRIAS
Básicas: cavador, enxada, enxadete, regador, pá, picareta, cordão
de nylon, martelo, escala numérica, serrote, colher de pedreiro, balde,
nível de bolha, mangueira de nível, esquadro, carro de mão, prumo,
peneira com malha de 4,8mm.
Especiais: formas para compactação de paredes e para estacas
de concreto, com parafusos específicos.
COMENTÁRIOS FINAIS
As possibilidades de aplicação do solo-cimento na área rural e
urbana estão longe de serem esgotadas.
Por ser um processo de fácil assimilação por qualquer pessoa,
utilizando somente materiais locais, não necessitando de energia de
qualquer natureza para sua produção, nem mesmo animal, a
tecnologia de solo-cimento certamente se constitui no processo que
permitirá uma verdadeira revolução nas construções rurais e urbanas
brasileiras, pois associa um baixo custo a uma elevada qualidade.
A EMARC-URUÇUCA dispõe de informações específicas sobre
as diferentes aplicações do solo-cimento, disponibilizando-se para
fornecer maiores detalhes das técnicas construtivas.
128
PERSPECTIVAS AGRONÔMICAS DO DENDÊ PARA
O SUL DA BAHIA
Jonas de Souza
Até o início da década de sessenta, a exploração comercial do
dendê no Brasil se limitava, apenas, à exploração extrativista dos
centenários dendezais subespontâneos existentes na Bahia. À época,
a oferta de matéria-prima atendia satisfatoriamente a demanda do
setor de extração do óleo de palma, cuja produção era comercializada
para fins alimentares, principalmente como ingrediente na elaboração
de vários pratos típicos da culinária baiana, contudo ha registros de
esporádicas exportações de pequena quantidade de óleo de palma
para a Europa para fins medicinais.
O processo de extração então utilizado era tipicamente artesanal
e os equipamentos disponíveis utilizados eram o primitivo pilão de
madeira, o rodão a tração animal e, mais recentemente o rodão
mecanizado, que é uma versão simplificada do digestor das grandes
usinas de extração. Embora plena de pontos frágeis, mas em
conformidade com a realidade da época, a atividade tinha uma
importância sócio-econômica muito grande, pois se constituía num
importante fator de geração de emprego e renda para a região.
Com o advento das indústrias de processamento do dendê, através
da implantação de três unidades industriais de grande porte, foi criada
uma expectativa muito grande com relação ao incremento e melhoria
das condições de comercialização do dendê em cacho, o que
provocou a desativação definitiva de grande número de rodões, pois
para o produtor era mais vantagem financeiramente vender o seu
produto do que processá-lo.
Pesquisador e Diretor do Centro de pesquisas do Cacau/ CEPLAC
129
A atividade entrou em crescente processo de decadência motivada
pela complicada relação de mercado estabelecida entre os
fornecedores de dendê em cacho e o setor industrial.
Contrariando as justas expectativas, contribuíram para a indesejável
situação as divergências de interesses não discutidas
convenientemente pelas partes envolvidas, os mitos sobre o dendê
que foram criados e alimentados até hoje, a falta de informação e
assistência técnica e a ausência de uma política de governo
direcionada para o desenvolvimento da cultura do dendê.
Na tentativa de buscar a auto suficiência na disponibilidade de
matéria-prima proveniente da produção própria, as indústrias
começaram a investir na implantação de dendezais de cultivo, em
escala de ‘’plantation’’ formados com linhagens consideradas
geneticamente melhoradas do híbrido tenera, cuja expectativa do
potencial de produção de cachos era superior a 15 t/ha/ano e de 2 a
4 toneladas de óleo por ha/ano.
Apesar de todos os esforços dispendidos os resultados foram
frustrantes e diametralmente opostos aos resultados obtidos em
outras partes do mundo, onde a dendeicultura é atividade econômica
vitoriosa.
Na Bahia a dendeicultura é uma atividade estigmatizada pela baixa
produtividade, enquanto no Pará os níveis tecnológicos e os sucessos
alcançados são comparáveis aos melhores do mundo.
A situação se torna mais inaceitável quando o dendê, entre todas
as oleaginosas exploradas comercialmente é considerado a mais
importante e o seu principal óleo, o de palma, é o mais desejado no
mercado mundial.
A falta de mentalidade empresarial talvez seja responsável pelo
mau desempenho da dendeicultura baiana, a deficiência de
assistência técnica e uso de tecnologia na condução do setor
agrícola, reforçando esta tese podemos tomar como exemplo os
resultados excelentes registrados no Pará onde na maioria das
plantações foi usado o mesmo material genético usado na Bahia. Na
experiência do Pará é normal a presença de profissionais
130
especializados nos diversos segmentos da dendeicultura o que
seguramente é o responsável pela diferença de produtividade obtida.
O Estado da Bahia possui uma diversidade edafo-climática
excepcional para o cultivo do dendezeiro, com uma disponibilidade de
área da ordem de 854.000 hectares em áreas litorâneas que se
estendem desde o Recôncavo Baiano até os Tabuleiros do Sul da Bahia.
Esta disponibilidade aliada à existência no país de uma demanda
insatisfeita da ordem de 200 mil toneladas de óleo de dendê; de
importações que se situam entre 100 e 150 mil toneladas, além do
aspecto ambiental-ecológico, possibilitando a recomposição do espaço
florestal em processo adiantado de degradação, por “florestas de cultivo”;
econômico-social, proporcionando aumento da renda regional e
criação de novos empregos, e finalmente estratégico, buscando
através da agricultura integrada o caminho de desenvolvimento
harmonizando os recursos da terra com os valores humanos.
Estas terras estão distribuídas em quatro pólos (Nazaré/Santo Amaro,
Valença/Itacaré, Ilhéus /Canavieiras e Belmonte/Prado), situados na
Região do Recôncavo Baiano e Tabuleiros Costeiros do Sul da Bahia.
A maior parte da produção de óleo de dendê no Estado da Bahia
é proveniente dos dendezais subespontâneos que somam cerca de
28.000 hectares concentrados no Polo Valença/Camamú, formados
por palmeiras de baixa produtividade, cuja produção é explorada de
forma extrativista.
A área de dendezais de cultivo é insignificante ante o potencial
existente e representa, apenas, cerca de oito mil hectares, 0,9% da
área total disponível, onde estão incluídos os plantios das principais
indústrias de extração como OLDESA, em Nazaré, OPALMA, em
Taperoá e de alguns produtores independentes. A produtividade
desses dendezais é igualmente baixa, além de apresentarem precário
estado fitossanitário mesmo em se tratando de culturas formadas com
sementes de linhagens melhoradas do híbrido Tenera. O reconhecido
desempenho negativo desses plantios tem como principais causas a
idade avançada das plantas, os tratos culturais inadequados
dispensados à cultura, desde a formação dos viveiros, durante a
131
formação e manutenção dos plantios e, finalmente, os procedimentos
incorretos de colheita e pós-colheita quando ocorrem significativas
perdas tanto no rendimento da matéria-prima quanto na qualidade
do produto final.
A despeito das condições favoráveis encontradas na Bahia tanto
em recursos naturais adequados quanto em infra-estrutura disponível
como elétrica, viária e portuária para escoamento da produção,
disponibilidade de mão-de-obra braçal, disponibilidade de tecnologia,
facilidade de aquisição de insumos, a dendeicultura baiana é uma
atividade estagnada e já apresentando claros sinais de decadência.
Com base no reconhecido potencial da Bahia para a cultura do
dendê, da demonstração de interesse do atual governo pelo assunto
e do promissor mercado mundial de óleos vegetais, onde o próprio
mercado brasileiro apresenta uma demanda reprimida, é oportuno
pensar em prover a Bahia de condições adequadas para que ela
possa conquistar uma pequena fatia desse gigantesco mercado de
óleos vegetais e, dessa forma, contribuir para a diminuição desse
injustificável déficit que pesa muito no equilíbrio financeiro do país
com as importações dos derivados de dendê para atender os grandes
consumidores nacionais.
O projeto de revitalização da dendeicultura baiana busca atingir
os seguinte objetivos:
Incrementar e modernizar a dendeicultura estadual, tornando-a
competitiva;
Contribuir, através da agroindustrialização do dendê para
diversificar a economia das regiões produtoras;
Criar condições que contribuam para a fixação do homem no
meio rural;
Criar alternativas para elevar os níveis de emprego e renda do
meio rural;
Contribuir para elevar a receita dos tributos estaduais e
municipais;
Colaborar no aproveitamento racional dos recursos naturais
disponíveis.
132
O atingimento dos objetivos fundamenta-se nos seguintes critérios:
Elevação acelerada e compatível do consumo nacional e mundial
dos derivados do dendê;
Disponibilidade de áreas com infra-estrutura adequada como
energia, comunicação, estradas, proximidades dos portos e dos
mercados de insumos e dos produtores de matéria-prima;
Possibilidade e capacidade de mobilização dos recursos
financeiros para execução do projeto, através do apoio crediticio
do BNB;
Disponibilidade de sementes selecionadas no mercado nacional
(CEPLAC/EMBRAPA) e possibilidade de uso do potencial disponível
no mercado internacional;
Capacidade de mobilizar e despertar o interesse dos
agricultores e empresários na produção e processamento do dendê
através de projetos economicamente viáveis;
Gerar número compatível de empregos com a disponibilidade
de mão-de-obra local sem concorrer com as demais atividades da
agropecuária;
Poder gerar impactos a nível de renda, empregos e tributos que
justifiquem a mobilização do apoio oficial.
133
O DENDEZEIRO COMO CULTURA ENERGÉTICA
PARA OS TRÓPICOS ÚMIDOS
Jonas de Souza
As reservas mundiais de petróleo conhecidas, diminuem à medida
que o tempo passa, a produção em larga escala de energia a partir
da biomassa torna-se cada vez mais importante, especialmente nos
países tropicais com abundante disponibilidade de área, água e
energia solar. O dendezeiro representa hoje a melhor chance de
sucesso em função do seu alto potencial de produção por unidade de
área, chegando a mais de 5 toneladas de óleo por hectare/ano.
O Brasil é o pais que apresenta as melhores condições em função
da alta disponibilidade de terras aptas para o seu cultivo, localizadas
na região amazônica e na região da mata atlântica no estado da
Bahia e do completo conhecimento da tecnologia de produção de
óleo a partir desta palmeira e possui mais de 70 milhões de hectares
com condições de solo e clima adequados ao seu cultivo. Por outro
lado, esta é a uma espécie perene que, como a floresta, garante
conservação ambiental e produção sustentada.
Somente na Região Sudeste da Bahia, que depende quase que
exclusivamente da monocultura do cacau, há cerca de 1 milhão de
hectares, remanescentes da mata atlântica, próprios à cultura do
dendezeiro, com potencial de produção de 4 a 6 milhões de toneladas
de óleo, equivalentes a aproximadamente 25 milhões de barris de
petróleo por ano, ou mais de 65 mil barris diários. Cem mil empregos
diretos poderiam ser criados somente no setor agrícola.
Pesquisador e Diretor do Centro de pesquisas do Cacau/ CEPLAC
134
Como em todo cultivo arbóreo perene, a implantação de dendezais
não é um projeto de maturação econômica imediata, pois a palmeira
começa a produzir a partir do 3° ano e atinge o seu pleno potencial a
partir de sétimo ano de campo. A consorciação de espécies vegetais
de ciclo curto, oferece amplas possibilidades de antecipação de renda
e rápida remuneração do capital, além de incentivar a criação de novos
pólos de produção de alimentos.
Experimento conduzido na Estação Experimental Lemos Maia, em
Una, demonstrou a ampla possibilidade de produção de combustíveis
de biomassa e alimentos a partir da combinação de culturas no
processo de estabelecimento de dendezais. Os intercultivos abacaxi,
mandioca e pimenta do reino foram plantados nas estrelinhas do
dendezeiro (7,8m). Estes cultivos promoveram renda a curto prazo,
com recuperação e remuneração antecipadas do capital investido. O
abacaxi foi o mais eficiente intercultivo proporcionando um ponto de
nivelamento econômico (receita bruta igual à despesa bruta) em um
período inferior a dois anos. A mandioca reduziu, no mesmo período
50% do investimento total de capital no plantio misto, além de reduzir
os custos com o controle de ervas daninhas.
As culturas intercalares aceleraram ainda o crescimento do
dendezeiro, em seus estágios iniciais de estabelecimento e,
posteriormente promoveram maiores produções de cachos por ha
em relação ao cultivo tradicional.
O dendezeiro como cultura alimentícia e ou/energética, pode se
constituir em um empreendimento estratégico e de alta viabilidade
econômica. No caso especifico da produção de biocombustíveis,
cultivar dendê em sistemas agroflorestais é um projeto de resultados
duradouros – provavelmente mais baratos – do que perfurar poços
de petróleo no Brasil.
Uma rápida análise destes números conduz à evidente conclusão
de que a alternativa dos óleos vegetais não pode ser desprezada
como real contribuição ao equilíbrio das contas do país, a geração
de empregos e a produção de alimentos. É importante ressaltar que
a substituição do óleo diesel por óleos vegetais transesterificados
135
não requer qualquer modificação nos motores de ciclo diesel e que a
produção destes óleos pode ser realizada em pequena escala e
próxima aos locais de consumo.
A CEPLAC, através do CEPEC testou três intercultivos bem
sucedidos, mas são muitas as oportunidades de plantio combinado
de dendezeiros e espécies vegetais produtoras de alimentos, fibras
e até outras fontes de matéria prima para combustíveis. Em sua fase
produtiva o dendezeiro poderá ainda se consorciar a animais para
produção de carne, como bovinos e ovinos deslanados, sendo, para
isto, necessárias algumas pesquisas visando a produção combinada
de forrageiras tolerantes à sombra.
136
CONTROLE BIOLÓGICO DA VASSOURA-DEBRUXA DO CACAUEIRO
Givaldo Rocha Niella*
O controle biológico de pragas e doenças é uma técnica bastante
utilizada em várias partes do mundo. Um exemplo é o Clanosan,
desenvolvido pela empresa americana Igene Company e é originado
da casca de crustáceos marinhos, atua contra nematóides em
qualquer estágio de infecção. Outro exemplo é o Agrocin, uma bactéria
( Agrobacterium radiobacter ) usada contra outra bactéria a
Agrobacterium tumefaciens, uma bactéria que ataca diversas culturas
como roseiras e tomateiros, causando engrossamento desuniforme
do caule. No nordeste brasileiro utiliza-se um fungo chamado
Metarhizium no controle da broca da cana-de-açúcar. O controle
biológico não se atem apenas a utilizar microorganismos, um exemplo
disto é a utilização de extrato das folhas, frutos e sementes da árvore
chamada Nim (Azadiracha indica) no controle de diversos insetos
pragas do cafeeiro. O TRICOVAB é o nome comercial do fungo
chamado cientificamente Trichoderma stromaticum o qual é utilizado
no controle biológico do fungo da vassoura-de-bruxa do cacaueiro
(Crinipellis perniciosa) desenvolvido pela CEPLAC e utilizado pelos
produtores de cacau do sudeste da Bahia e norte do Espírito Santo
desde 1999. Este produto deve ser utilizado como parte componente
do controle integrado desta doença. Isto significa que aplicar o
Tricovab sozinho não irá resolver o problema. É preciso saber que
este produto não funciona para combater a podridão parda, nem tem
qualquer efeito quando aplicado nos frutos verdes. Trata-se de um
Prof. Dr. (Fitopatologista) Centro de Pesquisas do Cacau - Cepec/Ceplac, Bahia. [email protected];
fone (73) 3214-3283
206
fungo natural do solo, e como tal alimenta-se de material em
decomposição ou seco, mas que tenha umidade suficiente para a
sua sobrevivência. Este produto deve ser aplicado somente no período
chuvoso do ano, no caso do sudeste da Bahia, de maio a agosto,
sobre todo material vegetativo infectado removido e casqueiros
deixados no solo. Deve-se aplicar 40 gramas dos esporos (conídios)
do Tricovab por hectare e por aplicação, num total de quatro aplicações
por hectare/ano. O intervalo de aplicação é de trinta dias e o preparo
da calda deve ser feito diluindo-se um pacotinho contendo 40 gramas
em óleo vegetal a 1% e acrescentando-se um pouco de água, coar
em tecido fino (evitar tecido de algodão, pois retém os esporos) e
completar até atingir o volume estabelecido pelo teste de vazão. O
volume de água a ser utilizado dependerá da calibragem e bico
utilizados no pulverizador costal manual (teste de vazão). É muito
importante lembrar que o Tricovab não é um fungicida tradicional, é
um produto biológico e como tal deve ser utilizado o mais
rapidamente possível devendo ficar sob refrigeração de 6 a 8 ºC
(geladeira) no máximo até seis meses, após este período a
qualidade do produto cai muito. Com a nova formulação (apenas os
esporos sem o arroz) reduziu-se bastante o volume a ser
transportado, passando-se de dois quilos para apenas 40 gramas
a quantidade a ser aplicada por hectare.
207
PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE PALMITO
DE PUPUNHA (Bactris gasipaes Kunth) IN NATURA
NO SISTEMA DE INTEGRAÇÃO DA INACERES
AGRÍCOLA
Manoel Aboboreira Neto1
José Marcelo O. Pimentel2
1. Introdução
O cultivo da Pupunheira com o objetivo de comercializar as hastes
de palmito é uma atividade recente tanto no Brasil quanto no mundo.
Em países como Costa Rica esta atividade foi desenvolvida a partir do
final da década de 70 e no Brasil só na última década com a implantação
de várias áreas, principalmente nos estados do Pará, Bahia e São
Paulo. Esta nova estratégia de produção, aliada a outras ações fruto
da rigorosa legislação ambiental e sanitária fez com que negócio
palmito começasse a perder o caráter de atividade extremamente
extrativista e a se transformar em um agronegócio viável.
O cultivo de palmito para a produção de hastes é um tipo de
negócio que precisa ter uma correta planificação visando,
principalmente, adequar-se ao sistema de comercialização. Não
basta apenas ter um excelente produto, é necessário também ter
1.Eng. Agrônomo - Gerente Agrícola da INACERES – [email protected]
2. Eng. Agrônomo – Supervisor de Integração da INACERES [email protected]
208
opções onde vender sua produção por um preço remunerador e
assegurar uma constância na entrega, pois neste cultivo, realiza-se a
colheita periodicamente com intervalos de 20 a 45 dias.
Existe na Bahia, um novo modelo que busca atender a todos os
que desejam incluir a exploração do palmito cultivado de Pupunha
como mais uma atividade na sua fazenda e na busca de aumento de
sua renda, sem necessidade de implantar as etapas de
industrialização, logística, comercialização e marketing. É o sistema
de Integração, onde produtores e indústria formam a cadeia produtiva
do palmito, que tem também, outros importantes participantes como
Bancos, Governo do Estado e Empresas de Pesquisa e de Projetos
e Assistência Técnica.
2. Sistema de integração no cultivo de palmito
Principais ações das indústrias e produtores e os processos do
sistema de Integração:
2.1. Indústria
Comprar toda a produção de palmito dos Produtores Integrados,
assegurando-lhe o pagamento por haste nos preços do mercado
regional e nos prazos acertados
2.2. Produtores
Implantar sua lavoura de palmito e comercializar sua produção junto
a Indústria Integradora. A base fundamental é a produtividade e a
qualidade
209
2.3. Processos
Sementes
Para facilitar a disponibilidade de sementes em qualidade e
quantidades adequadas, a INACERES adquire as sementes, realiza
o processo de germinação e repassa as plântulas selecionadas e
classificadas para os Integrados.
Estima-se uma oferta de sementes de palmito de Pupunheira sem
espinhos, produzidas no Sul da Bahia, superior a 10 toneladas por
ano. Além disso, no Norte do Brasil (Acre, Rondônia e Pará) pode-se
adquirir quantidades superiores a 30 toneladas de sementes
certificadas, por ano.
A Inaceres tem um campo de produção de sementes na Fazenda
São João em UNA, com capacidade para produzir oito toneladas por
ano. Estas sementes são destinadas aos produtores Integrados.
Capacitação
Produtores e trabalhadores recebem treinamento sobre todas as
etapas de produção do cultivo. Esta capacitação é realizada,
principalmente, pela INACERES para os seus integrados.
Assistência Técnica
Este processo é um dos pilares do sistema. A INACERES fornece
Assistência Técnica periódica para seus produtores Integrados em
todas as etapas de produção (preparação do solo, plantio, manejo,
colheita).
As empresas que realizam os projetos também fornecem
assistência técnica para os produtores.
Práticas culturais
Como toda atividade agrícola faz-se necessário à realização de
práticas culturais como controle de ervas, adubação, replantio, controle
210
Colheita
Os Integrados realizam a colheita nas datas acertadas com a
Indústria.
Coleta de palmito na propriedade
Coletar o palmito na propriedade do Integrado é uma ação da
INACERES. O processo é organizado de tal forma que o palmito seja
coletado a tempo suficiente de ser processado, sem que haja perdas
de qualidade.
Cronograma de implantação
As atividades são programadas em função da oferta de sementes
ou mudas. As sementes oriundas da região Sul da Bahia estão
disponíveis para serem germinadas entre os meses de junho e
setembro. As sementes provenientes do Norte do Brasil estão
disponíveis entre fevereiro e abril.
Sabendo que são necessários entre 5 e 6 meses para a obtenção
de mudas a partir da repicagem para os saquinhos, as mudas
formadas com sementes oriundas do Sul da Bahia ficam disponíveis
para o plantio no primeiro semestre do ano, enquanto as que são
provenientes do Norte do Brasil estão prontas na metade do segundo
semestre.
Financiamento
Os Bancos oficiais dispõem de linhas de crédito para financiar os
produtores que desejam implantar suas lavouras de palmito.
Logicamente, atendendo as regras básicas do sistema de crédito
vigente no país.
As indústrias integradoras assessoram o produtor na busca do
crédito junto aos Bancos oficiais para implantação de sua lavoura;
211
Preocupados com a dificuldade de crédito para pequenos e micro
produtores, a cadeia Produtiva do Palmito criou com recursos das
indústrias integradoras um FUNDO DE AVAL para garantir o
financiamento de projetos destes agricultores. Com isso dispensa as
garantias reais, uma vez que na sua grande maioria, estes produtores
já não dispunham de lastro para financiar novas atividades.
A INACERES tem um sistema de financiamento próprio. Com este
sistema todas as mudas são financiadas, que representa a maior parte
do financiamento, e também financia as adubações do 1º e 2º ano,
sobrando apenas o preparo do solo e manejo do cultivo. O pagamento
é sempre feito em palmito, e esta amortização só inicia dois anos
após o plantio em parcelas cuja quantidade de hastes entregues, não
comprometem a manutenção do cultivo.
Contrato
Produtores e indústria firma contrato de integração que visa
disciplinar os processos descritos anteriormente.
3. Aspectos técnicos da produção de palmito cultivado
O palmito cultivado de Pupunheira se desenvolve muito bem nas
regiões onde a precipitação pluviométrica é superior a 1.600 mm e
bem distribuída ao longo do ano. Altitudes inferiores a 900 msnm;
solos de texturas franca arenosa, franca argilosa ou arena argilosa;
pH acima de 4,5 e máximo de 6,5; boa drenagem e profundidade
superior a 0,50 m.
3.1. Formação de Mudas
O viveiro deve ser projetado considerando que 1 m2 de área permite
a formação de 70 a 80 mudas. Devido à forma de desenvolvimento
do sistema foliar, faz-se necessário uma separação entre os saquinhos
212
dentro do canteiro. Uma forma prática é ordenar os saquinhos em
dois grupos de tríplices fileiras separadas por um vão de 20 cm.
Na região do Sul da Bahia, as plântulas (sementes germinadas)
precisam de sombreamento na sua etapa inicial de desenvolvimento.
Isto ocorre até o terceiro ou quarto mês após o transplante para os
saquinhos. O uso de telas tipo ráfia que permitem um sombreamento
de 30% tem sido muito eficiente, permitindo um rápido crescimento
das mudas. Após este período inicia-se o processo de aclimatação,
ou seja, a retirada gradativa da sombra permitindo no final a completa
exposição das mudas ao sol.
De forma geral o substrato deve ter a seguinte composição:
20 a 30 % de material orgânico de qualidade (esterco,
composto, etc);
10 % de casca de café, arroz ou outro material seco;
60 a 70 % de solo (preferencialmente de textura franca,
arenosa ou areno-argilosa);
Calcário Dolomítico (4,5 kg/m3);
Fertilizante Osmocote (2 kg/m3) ou a Fórmula A (1,2 kg/m3);
Superfostato Triplo (1,2 kg/m3);
Para preparar este substrato é necessário que os materiais de
grande volume estejam secos. Os saquinhos devem ter as dimensões
14 cm X 20 cm X 0,10 mm.
A aplicação de água pode ser realizada através de regador ou sistema
de irrigação. Estima-se um consumo de até 3 mm/dia em períodos de
alta evapotranspiração, na fase final de produção das mudas.
Algumas enfermidades que podem ocorrer em plantas
enviveiradas: Podridão do talo e raízes (Fusarium sp); Podridão de
plântulas (Pythium sp. e Rizoctonia sp.); Antracnose (Colletotrichum
sp.); Mancha parda (Mycosphaerella sp.); Podridão da flecha
(Phytophthora sp. e Erwinia sp.). Entretanto, são controladas com
ações preventivas como:
O viveiro deve ser construído em local de fácil drenagem e entre
os canteiros devem ser construídos drenos para a retirada completa
do excesso de água;
213
As sementes germinadas devem ser tratadas antes de serem
transplantadas;
Após o transplante, usar serragem grossa (maravalha), desde
que seja nova, para proteger o substrato de salpicado da chuva e o
desenvolvimento de ervas;
Realizar aplicações preventivas de fungicidas.
As principais pragas que atacam as mudas nos viveiros são os
ratos e eventualmente os gafanhotos. O controle é realizado mediante
a utilização de iscas para ratos e a catação de gafanhotos.
Durante o desenvolvimento das mudas pode-se aplicar um
fertilizante foliar completo (macro e micronutrientes) e
bioestimulantes.
As mudas estão aptas para serem plantadas definitivamente no
campo quando apresentarem um diâmetro do coleto superior a 1
cm, tenham um bom vigor e livres de enfermidades e pragas.
3.2. Preparo da Área
A legislação ambiental deve ser respeitada e o plantio deve ser
realizado em áreas onde não seja necessária a supressão de
espécies arbóreas e preferencialmente em áreas de pastagens ou
de cultivos anteriores. Por tratar-se de uma espécie heliófila não deve
ser cultivada em áreas com sombreamento.
Densidade de plantio
Os primeiros trabalhos relacionados com a busca de uma
densidade ideal para palmito de Pupunheira, ocorreram na Costa Rica
no início da década de oitenta. (Zamora y Vargas 1985).
A evolução para novas densidades de plantio surgiu a partir da
demanda do mercado consumidor que optava por consumir palmitos
mais finos. Além disso, segundo Vargas, 2000, as opções de maior
rentabilidade estavam associadas às maiores densidades.
214
Na região Sul da Bahia, a densidade de 7.200 plantas por hectare
tem produzido bons resultados econômicos e é hoje a mais utilizada
para a implantação de novas áreas. O espaçamento usado é 1,85 m
(entre linhas) x 0,75 m (entre plantas).
Implantação
O preparo da área pode ser manual ou mecanizado. As principais
atividades são:
Limpeza da área (roçar ou arar e gradear);
Aplicação de corretivo do solo (fosfatos, calcários);
Balizamento (utiliza-se apenas 160 balizas por hectare)
Trilhamento (apenas nas linhas de plantio);
Coveamento (25 cm x 30 cm);
Distribuição de mudas;
Aplicação de fertilizante (Superf. Triplo ou Fórmula A). A
dosagem varia de acordo ao solo.
Plantio;
Recoleta de sacos plásticos;
Manutenção
Após a implantação as principais atividades são o controle de ervas,
fertilização, monitoramento e controle de pragas e enfermidades.
Controle de ervas
As principais técnicas utilizadas no controle de ervas são:
coberturas vivas, uso localizado de herbicidas, roçagem e capina.
Sendo esta última, apenas nos três primeiros meses após a
implantação do cultivo. Após o início da colheita, ocorre uma redução
significativa no controle de ervas, uma vez que as folhas e parte das
cascas do palmito formam uma cobertura morta. A densidade de
plantio é outro fator importante que contribui na redução da incidência
215
de ervas. Atualmente o uso de coberturas vivas tem sido implementado
e o resultado tem sido significativos com (Hydrocotile leucocephala),
Mucuna sp (arbustiva).
Fertilização
Deve ser realizada de acordo com resultado das análises de solo.
A aplicação pode ser fracionada em quatro vezes por ano. O local de
aplicação do fertilizante varia de acordo ao desenvolvimento do cultivo.
Inicia-se com a aplicação ao redor da planta, a aproximadamente 20
cm. Após um ano de desenvolvimento, pode-se aplicar o fertilizante
na área total da planta, uma vez que as raízes absorventes encontramse amplamente distribuídas nesta área. Os principais fertilizantes
utilizados são Cloreto de Potássio, Superfosfato Simples/Triplo, Uréia
e micronutrientes. É importante ressaltar que a fertilização deve
contemplar o equilíbrio nutricional da planta. Excesso de fertilizantes
aplicados no solo ou mal quantificados provoca desequilíbrio entre
os nutrientes e conseqüentemente induzem perdas tanto para a
nutrição da planta quanto no aumento dos custos.
Controle de pragas
As principais pragas que atacam a lavoura estabelecida são:
√ Falsa Broca da bananeira (Metmasius hemipterus Sericeus);
A larva e o adulto atacam as touceiras (cepas) e plantas em
desenvolvimento. Neste mesmo local ocorre o desenvolvimento das
outras etapas do ciclo de vida do inseto, como ovo e pupa.
O controle desta praga é realizado conjuntamente contra o
Rhynchophorus.
√ Bicudo do Coqueiro (Rhynchophorus palmarum Linne);
A larva ataca principalmente o rizoma sob a superfície ou na região
do coleto das plantas fazendo galerias em direção ao centro do rizoma
provocando a perda do palmito e a morte da planta. Além disso, são
216
transmissores de enfermidades fúngicas.
O adulto ataca a touceira após o corte, depositando ovos e sugando
a seiva. Tem sido registrada a presença do adulto atacando entre as
inserções das folhas com o talo.
Ambos os insetos são controlados mediante dois métodos:
O uso de armadilhas com feromônio: As armadilhas são
semelhantes àquelas usadas na cultura do coqueiro. Utiliza-se um
galão plástico com duas aberturas laterais (5 cm x 10 cm) amarrado
em uma estaca à altura de 0,80 cm do solo. Na parte interna do galão
prende-se o feromônio. No seu interior acrescentam-se pequenos
pedaços de palmito ou cana-de-açúcar e finalmente aplica-se um
inseticida (Sevin a 1%) sobre este material. Semanalmente troca-se
o material no interior da armadilha. O feromônio tem duração média
de 60 a 90 dias. A quantidade de armadilhas varia de acordo ao grau
de infestação, podendo ter 4 armadilhas para cada hectare até 1 para
cada 5 hectares.
A aplicação dos fungos Beauveria e Metarrizium deve ser
realizada no período de baixa temperatura e alta umidade. Realizar a
seguinte operação para cada produto: colocar 1 kg do produto
comercial em 10 litros de água. Misturar e após 15 minutos retirar a
parte líquida e colocar em outro recipiente. No balde com o resíduo
deve ser novamente acrescentar água e coar com uma peneira plástica
e também ser colocado junto do recipiente. Após esta ação descartar
o resíduo, aplicando-o no substrato. Usar desta solução, 200 ml para
cada 20 litros de água. A aplicação deve ser direcionada para o toco
colhido, bainhas e restos de colheita no campo. Realizar duas
aplicações por ano em cada área. A transmissão do fungo ocorre
também através das moscas do gênero Drosophila (mosca presente
nos processos de fermentação natural).
√ Besouro Rinoceronte (Strategus sp.);
A larva é facilmente encontrada em madeira em decomposição. O
adulto perfura o solo abrindo galerias e ataca o rizoma.
Pode ser controlado cavando as galerias e eliminando o adulto.
217
Manejo de enfermidades
√ Podridão Basal (Phytophthora palmivora)
Produz morte das folhas centrais e apodrecimento do meristema
apical. A principal medida de controle é evitar o uso de substrato cujo
solo tenha sido oriundo de áreas de cacau, além disso, manter as
plantas bem nutridas e livres de ervas.
√ Podridão mole (Erwinia chrysanthemi)
Causa o apodrecimento do meristema apical, provocando a morte
das folhas centrais. A lesão apresenta-se úmida e com forte cheiro de
podridão. Algumas medidas de controle são: drenagem e nutrição
equilibrada.
Colheita
A partir dos 14 meses após o plantio no campo começa a colheita.
Esta é realizada a cada intervalo de 20 a 45 dias em uma mesma
área. A planta deve ser colhida quando estiver no seu melhor estado
de maturação. Esta condição se observa através do diâmetro basal
(verificado entre 10 a 15 centímetros do solo, devendo esta planta ter
um diâmetro mínimo de 10 centímetros) e das disposições das três
últimas folhas a uma altura de aproximadamente 1,70 metros.
A haste colhida deve ter um comprimento final mínimo de 65 e
máximo de 75 centímetros e apresentar uma base (maçã ou gema)
com 10 cm de comprimento e ter duas capas protetoras. O palmito
não deverá permanecer exposto ao sol depois de colhido.
A produtividade média por hectare é de 8,5 mil hastes/ano, podendo
superar 10 mil hastes/ha/ano, de acordo ao manejo realizado.
A produtividade média por touceira de 1,5 hastes/planta é uma
realidade nos cultivos bem manejados no Sul da Bahia.
4. Breve análise financeira
Investimento médio inicial por hectare (Ano 1): R$: 6.045,00
218
Custo médio anual por hectare (a partir do Ano 2): R$ 1.680,00
Receita bruta média anual por hectare (a partir do 3º ano de
colheita): R$ 4.675,00
Uma análise direta permite expressar que se trata de uma atividade
com alto rendimento por hectare, superior a muitas atividades que
hoje são exploradas comercialmente. É sem dúvida um importante
cultivo que pode gerar renda e liquidez, inclusive para os produtores
de cacau que tem durante o ano uma entressafra muitas vezes superior
a cinco meses ficando descapitalizados e tendo que obter recursos
externos neste período.
Uma maior profundidade na análise financeira dependerá de
variáveis como taxa de juros e prazo de carência. Entretanto, o cultivo
de palmito é viável e destaca-se por apresentar durante todo o ano
um bom fluxo de caixa.
5. Considerações finais
Atualmente no Sul da Bahia existem empresas que industrializam
palmito e são credenciadas pela ANVISA. A área de produção
estimada de palmito é de 2.983 hectares. (Rodrigues, 2003). Apesar
destes dados, houve um incremento de área superior a 350 hectares,
influenciado principalmente pelo sistema de Integração da
INACERES.
A meta das empresas que fazem parte da Cadeia Produtiva do
Palmito é comprar e industrializar palmito de 10 mil hectares oriundos
de produtores INTEGRADOS. Na cidade de Uruçuca, no estado da
Bahia, está instalada e em funcionamento uma das mais modernas
fábricas de processamento de palmito do mundo.
O programa de Integração da INACERES teve início no ano de
2002 com apenas quatro produtores integrados. Após três anos, em
agosto de 2005, a empresa registra parceria com 86 produtores que
juntos totalizam uma área de 308 hectares de palmito.
O sistema de Integração da Cadeia Produtiva do Palmito visa
atender aquelas associações de produtores oriundas dos programas
219
de assentamento do Governo, associações de produtores, pequenos,
médios e grandes empresários. Trata-se de uma alternativa para o
Sul da Bahia e difere de muitas outras por ter os distintos processos
coordenados para que os envolvidos (Integrados e Empresa
Integradora) possam produzir e obter seus lucros a partir de seus
investimentos, ter constância na entrega e principalmente no
recebimento dos pagamentos pela produção comercializada ao longo
de todo o ano.
220
ASSOCIATIVISMO, SISTEMAS
AGROFLORESTAIS E PRODUÇÃO ORGÂNICA:
UMA ESTRATÉGIA PARA CONSERVAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO NO CONTEXTO RURAL DA
REGIÃO CACAUEIRA DA BAHIA
Joaquim Blanes
Luis Lima
Walter Lima
Marcelo Araujo
Luis de Lima
A Mata Atlântica é considerada uma das áreas de maior prioridade
para a conservação do planeta, devido a sua diversidade Biológica e
elevado grau de ameaça. No município de Una, sul do estado da Bahia,
localiza-se a Reserva Biológica de Una (REBIO), unidade de
conservação federal de proteção integral, criada através do decreto
85463 do ano de 1980. Embora o Decreto Federal determinasse uma
área de 11400 hectares (ha), até o ano de 1999, somente 7022ha
haviam sido adquiridos pelo executivo federal, com o apoio de
organizações internacionais. A regularização do restante da área
decretada deverá estar concluída até o final de 2004.
Intervindo de forma abrangente, o IESB vem propondo políticas
públicas, desenvolvendo metodologias e ferramentas de análise
Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia, Caixa Postal 84, Ilhéus, Bahia
45652-180
221
CEP
ambiental, fomentando a implementação de alternativas econômicas
na utilização dos recursos naturais e capacitando pessoas locais,
através de parcerias com instituições de pesquisa, ONG’s locais e
nacionais, universidades e agências governamentais.
Neste processo, identificou-se a necessidade de fortalecer a
organização das associações comunitárias rurais, como etapa
indispensável para uma efetiva conservação dos recursos naturais e
promoção de bases para o desenvolvimento sustentável. Também,
era crítica a realidade da comercialização de produtos agrícolas dos
pequenos e médios produtores tradicionais e assentados pela reforma
agrária, a presença de uma rede de comercialização primitiva, onde
o produtor distante geograficamente e com pequena quantidade e
grande variedades de produto era presa fácil para atravessadores
experientes.
A Produção Orgânica e as Oportunidades para a Região
Cacaueira da Bahia
O diferencial da produção orgânica está na oferta de produtos
saudáveis (livre de agrotóxicos), na possibilidade de atender mercados
diferenciados (onde consumidores estão dispostos a pagarem um
sobre-preço como prêmio à qualidade dos produtos), nas relações
justas de produção e na preservação ambiental.
A Região Cacaueira da Bahia apresenta um contexto bastante
favorável para consolidação de um pólo de Agricultura Orgânica
Agroflorestal, observando especialmente os aspectos da conservação
da biodiversidade e produção familiar, como pode ser observado nos
diversos aspectos abaixo enumerados:
1. A meso-região cacaueira, com 51 municípios, concentra mais
de 80% da produção de cacau do estado e da sua área cultivada,
cerca de 350 mil hectares, 70%, estão implantadas sob mata raleada
(cabruca), conforme CEPLAC/CENEX (1999);
2. Regra geral a partir de 1984, quando se deu a restrição aos
financiamentos para o cacau, houve uma redução na aplicação de
222
agrotóxicos. Além disso, dentre os diversos aspectos negativos
apresentados pela enfermidade vassoura de bruxa, a não
recomendação comercial de agentes químicos para o seu controle,
revela-se como positivo, desmotivando a aplicação de pesticidas e
estimulando as pesquisas na área de controle biológico;
3. Associa-se estes elementos ao grau máximo de interesse
conservacionista atribuído a este ecossistema, destacando-se os
projetos: “Reserva da Biosfera da Mata Atlântica” e “Corredores
Ecológicos” em fase de implementação.
223
ECOTURISMO E DIREITO AMBIENTAL:
EM BUSCA DA CONSOLIDAÇÃO DO
DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO SUSTENTÁVEL
Thiana de Souza Cairo 1
As mudanças de paradigmas verificadas no mundo moderno, como
a aceleração da informação e de tecnologia, direcionam os países a
prosperarem economicamente na busca de um desenvolvimento
socioeconômico sustentável, com ênfase na qualidade de vida e na
garantia dos direitos fundamentais do cidadão, tais como: saúde,
educação, alimentação, habitação e lazer. Neste contexto, o turismo
desponta, no setor de serviços, com um papel relevante não só na
esfera econômica, como também, nos âmbitos social, cultural e
ambiental. Um novo modelo econômico de desenvolvimento da
civilização vem se delineando fundamentado na sustentabilidade dos
recursos naturais, para que os mesmos perdurem às gerações futuras.
Para tanto, faz-se mister criar bases que possibilitem a consecução
dos objetivos do uso racional e sustentável, partindo-se inicialmente
da construção de uma estrutura educacional voltada às necessidades
locais, buscando a minimização do impacto ambiental, resultante da
atividade turística. O Direito na busca incessante de dirimir os conflitos
existentes no meio social vem ao encontro com a premissa de
preservação e conservação do ambiente natural, reconhecendo a
relevância deste para a saúde e bem estar do ser humano. Neste
1 Mestre em Cultura & Turismo (UESC/UFBA) Economista. Advogada. Professora do Departamento
de Economia da Universidade Estadual de Santa Cruz e de Direito da Faculdade de Tecnologia e
Ciências. E-mail: [email protected].
224
sentido, objetivou-se neste artigo demonstrar a relevância do Direito
Ambiental enquanto um instrumento indispensável para a
consolidação do desenvolvimento turístico sustentável e, em
especial, na modalidade do Ecoturismo. Para tanto, utilizou-se nos
procedimentos metodológicos, uma pesquisa bibliográfica para a
discussão teórica e dados secundários de fontes diversas como
artigos, monografias, dissertações, revistas, entre outros, bem como
fontes doutrinárias e legislações no âmbito da Ciência Jurídica.
Outrossim, é de grande interesse e relevância o debate nesta esfera
proposta, uma vez que estabelecidos alguns parâmetros acerca do
Turismo e do Direito Ambiental, poder-se-á traçar suas principais
peculiaridades, sua esfera de atuação e sua importância no contexto
amplo da atividade turística. Ademais, a observância dos princípios
do Direito Ambiental e o conhecimento de determinados remédios
constitucionais para a defesa do meio ambiente, constituem
instrumentos indispensáveis para a consolidação da vertente do
Ecoturismo de forma sustentável.
225
PRODUÇÃO DE FRUTOS DOS PALMITEIROS
JUÇARA, PUPUNHA E AÇAÍ
Maria das Graças C. Parada Costa Silva1
Introdução
As palmeiras juçara (Euterpe edulis Mart), a pupunheira (Bactris
gasipaes Kunt) e o açaizeiro (Euterpe oleracea Marth), são as três
principais palmeiras produtoras de palmito e apresentam a
particularidade de também produzir frutos de alto valor nutritivo e
econômico.
Porém, o maior consumo dos frutos dessas palmeiras,
principalmente a pupunha e o açaí, ocorre nas regiões onde elas são
nativas.
O uso da polpa dos frutos da juçara ainda está sendo fomentado,
mas já tem grande aceitação no sul e sudeste do Brasil, como Santa
Catarina, Paraná e São Paulo. Na Bahia o seu consumo ainda é
incipiente, por falta de esclarecimento da população local sobre esta
possibilidade, haja vista que a juçara era conhecida apenas como
produtora de palmito. No entanto, análises realizadas pelo Laboratório
de Tecidos Vegetais da Ceplac por Silva et al. (2004) atestaram o
1
Engenheira Agrônoma, MSc Ceplac/Cepec/Sefop . Km 22 Rod Ilhéus/tabuna, Itabuna,
Bahia.Caixa Postal 07, 45600-970, [email protected]
226
valor nutritivo do fruto da juçara, comparado ao do açaí como mostram
as tabelas abaixo:
Tabela 1. Composição mineral da polpa dos frutos de açaí e juçara, na Matéria
Seca.
Elementos minerais
Espécies
açaí
Juçara
P
K
(g/kg)
(g/kg)
1,4ª
b
0,8
b
7,4
12,1ª
Ca
Mg
(g/kg)
(g/kg)
Fe
(mg/kg)
4,8ª
4,3ª
1,4ª
1,5ª
328,5
559,6ª
b
Zn
(mg/kg)
b
10,1
12,2ª
Cu
(mg/kg)
Mn
(mg/kg)
20,4ª
b
14,0
34,3ª
43,4ª
Fonte: Ceplac/Cepec/Sefis, 2004
P= fósforo; K= potássio; Ca= cálcio; Mg= magnésio; Fe=ferro; Zn=zinco; Cu= cobre; Mn =
manganês.
Tabela 2. Características químicas da polpa de açaí e juçara na matéria seca.
Características química
Espécies
PH
Proteína
g/kg
Açucares tot.
g/kg
Açaí
Juçara
4,8ª
4,7ª
77,6ª
67,2b
10,2b
12,08ª
Lipídio
g/kg
130,90b
137,80ª
Caloria
Kcal/100g
152,93
155,74
Fonte: Ceplac/ Cepec/Sefis
Pesquisas realizadas por outros autores, constaram teor de
antocianina, pigmento presente em ambos frutos, em maior
quantidade na juçara (Iaderoza et al. 1992). Esse pigmento pertence
à família dos flavonoides, que possui função antioxidante e antiradicalar que asseguram uma melhor circulação sanguínea e protegem
o organismo contra o acúmulo de placas de gordura. As antocianinas
possuem ainda capacidade de adiar as perdas de memória, da
coordenação motora, perda da visão e diminuem os efeitos do mal
de Alzheimer (Rogez et al. 2000).
A bebida feita com o fruto do açaí, conhecido popularmente como
“vinho de açaí”, é largamente consumido pelos habitantes da região
227
norte do Brasil onde é nativa, e, com a divulgação de suas propriedades
nutritivas e energéticas o uso da polpa de açaí generalizou-se em todo
o país e o cultivo do açaizeiro e o processamento do seu fruto, já ocorrem
em vários estados brasileiros, principalmente no sul da Bahia. A polpa
de açaí hoje é produto de exportação para os EEUU.
O fruto da pupunheira, conhecido como pupunha, é largamente
consumido na região amazônica e em outros países da América do
Sul e da América Central, onde é encontrada em estado nativo. Embora
o palmito seja atualmente o principal produto da pupunha em termos
econômicos, nas regiões de origem, o fruto continua sendo o principal
produto de consumo.
Características botânicas e usos dos frutos da juçara,
açaízeiro e pupunheira na alimentação
1. Juçara
A juçara é uma palmeira unicaule, não produz perfilhos, o que
significa que a extração do palmito implica no sacrifício da planta.
Essa atividade quando é realizada sem critérios ou sem cuidados
com a sustentabilidade ambiental, pode comprometer a continuidade
da espécie e de vários animais que se alimentam de seus frutos.
Quando feita desta forma, essa atividade tem o nome de extrativismo,
e é considerado crime ambiental, previsto na Lei de Crimes Ambientais
- Lei 9.605 de fevereiro de 1998. Em curto prazo, uma possibilidade
de agregar recursos financeiros aos remanescentes florestais onde
existe juçara, seria a colheita de frutos para produção de polpa.
O uso pode ser feito da mesma maneira que a polpa de açaí: puro
ou misturado com outras polpas de frutas regionais, com granola,
guaraná em pó, como sorvete, entre outros. Em lanchonetes no eixo
Ilhéus-Itabuna, a polpa de juçara já é ofertada, porém em pequeno
volume, devido à escassez do fruto. Segundo os distribuidores, está
tendo grande aceitação, chamando atenção para o sabor mais
adocicado que o de açaí.
228
A extração da polpa e os cuidados pós-colheita seguem os
mesmos procedimentos realizados para a extração da polpa de açaí,
descritos a seguir.
2. Açaí
O açaizeiro é uma palmeira que produz inúmeros perfilhos formando
touceiras, que são manejadas para a extração de palmito. Face à
pressão dos órgãos ambientais, vários projetos de manejo sustentável
dos açaizais estão sendo implementados no Pará, visando
principalmente à produção de frutos, que além do alto consumo local,
(no meio rural o açaí é consumido três vezes ao dia) tornou-se produto
de exportação para vários estados do Brasil e para o exterior do país.
A polpa de açaí é consumida pelos habitantes da região amazônica
com farinha de mandioca ou tapioca, com peixe frito, no feitio de
sorvetes, pudins, doces, entre outros, porém, sempre o açaí puro, sem
misturar com outras frutas como é usado nas regiões sul e sudeste
do país. Nestas regiões, a preferência é o açaí misturado com granola,
banana, guaraná, originando o “açaí na tigela”, ou como suco, sempre
misturado com outras polpas mais conhecidas.
Procedimentos do processamento da polpa:
1. colheita dos cachos
2. debulhamento dos frutos;
3. lavagem em água corrente e de boa qualidade;
4. imersão em água morna (40º C) por 15 minutos para
amolecimento da polpa;
5. despolpamento em maquinário apropriado, ou, quando em
pequenas quantidades, em liquidificador sem o cortador de hélice ou
em peneira de malha grossa, amassando manualmente os frutos. O
tempo de batimento não deve ser demorado (4 a 6 minutos), para
evitar alteração na qualidade da polpa;
6. se a extração for manual o produto deve ser coado; as
despolpadeiras mecânicas possuem sistema de filtragem e o produto
já sai isento de impurezas;
229
7. o produto obtido deve ser usado imediatamente ou conservado
sob congelamento.
3. Pupunha
A pupunheira também é uma palmeira que perfilha e pode chegar
a 20 metros de altura. No Brasil, na região amazônica e no Peru,
Costa Rica, Equador, Colômbia, entre outros da América Tropical, a
pupunha é muito apreciada e consumida, constituindo-se em valoroso
alimento para esses povos.
A pupunha é um fruto carnoso, muito rico em nutrientes,
principalmente em caroteno, precursor da vitamina A e não pode ser
consumido cru, porque possui uma enzima, que inibe a digestão das
proteínas, e um ácido que irrita a mucosa da boca. Normalmente é
consumido simplesmente cozido com água e sal, podendo ser
acompanhado de manteiga, maionese, mel e geléia. Pode ser usada
como legume, em ensopados, em sopas, vitaminas, entre outros.
Como farinha, é usada nos feitios de diversas iguarias domésticas.
Procedimentos para se obter a farinha, em nível caseiro.
1. Lavar os frutos em água de boa qualidade
2. Abrir os frutos em bandas para sacar as sementes;
3. Descasca-los e coloca-los para cozinhar por aproximadamente
30 minutos.
4. Após o cozimento, colocar os frutos para escorrer a água e
para esfriar.
5. Se o fruto estiver muito úmido, devem ser colocados para secar
um pouco ao sol ou em forno médio a mínimo, por 5 a 10 minutos.
6. Passar o fruto no moinho ou no ralo, peneirando em seguida,
se quiser um produto fino tipo amido de milho. Está pronta para ser
usada em feitios de bolo, pão, paçoca, canjica, mingaus, entre outros.
Para uso imediato da farinha, sem necessidade de secagem, devese utilizar frutos mais secos, não muito maduros e evitar cozimento
excessivo.
230
Procedimentos para se obter a farinha com grande quantidade de
frutos
1. Abrir os frutos para sacar as sementes
2. Lavá-los em água de boa qualidade
3. Ralar os frutos cozidos no mesmo maquinário usado para a
obtenção da farinha de mandioca.
4. Levar a massa ralada para secar em forno de farinha de
mandioca em temperatura branda por 40 a 45 minutos, mexendo
continuamente para não embolar.
5. Peneirar a massa seca para separar as cascas e outras
impurezas, que podem ser fornecidas para animais de pequeno porte
(galinha);
6. Esfriar e armazenar a farinha em vasilhames hermeticamente
fechados.
Como manejar os palmiteiros para produção de frutos
1. JUÇARA
Como a juçara é nativa da Mata Atlântica, os frutos são encontrados
naturalmente nas populações que ainda existem nos remanescentes
florestais da região. Um dos cuidados que se deve ter, após a extração
da polpa, é em repor as sementes nas áreas onde os frutos foram
colhidos. As sementes podem ser semeadas na mata a lanço, ou em
pequenas covas abertas com a ponta do facão, em local não muito
sombreado para permitir o desenvolvimento mais rápido da planta.
2. AÇAÍ / PUPUNHA
1. Sementes: devem ser sadias de boa qualidade. A semeadura
é realizada em canteiros compostos de areia e serragem curtida, em
partes iguais, em local protegido da luz solar, próximo a água para
facilitar a rega, que deve ser diária. A germinação inicia-se 30 dias
após a semeadura (para a pupunha) e em poucos dias para o açaí.
231
2. Preparo da muda: os sacos de polietileno, com capacidade
de 2 kg, devem ser cheios com terriço de boa qualidade ou
enriquecido com esterco de gado, na proporção de 1 parte para 3 de
solo. Podem ser mantidas sob sombra de uma árvore frondosa ou
em viveiro, com cobertura de palha ou outro tipo de cobertura.
3. A transferência da plântula para o saco de polietileno deve
ocorrer antes do lançamento da segunda folha. Dois meses após essa
transferência, adubar as mudas com pulverização ou regas, utilizando
uma solução de 50 g de uréia para 10 litros de água. Aos 90 e 120
dias, pulverizar com uma solução de 50 g de uréia e 30 g de cloreto
de potássio, para 10 litros de água.
4. As mudas devem ser mantidas sem ervas daninhas, e isentas
de pragas e doenças; o produtor tem que estar atento a qualquer sinal
de anormalidade, e chamar um técnico para diagnosticar e indicar o
defensivo apropriado.
5. Após 4 a 6 meses de viveiro, as mudas estão aptas para serem
transplantadas. Um mês antes, porém, faz-se um raleamento na
cobertura do viveiro, para adaptação das mudas às condições do
campo.
6. O plantio é realizado em época de chuva, com mudas sadias e
vigorosas, apresentando altura entre 30 a 40 cm, com 5 a 6 folhas.
7. A área do plantio deve estar limpa e balizada no espaçamento
de 4 x 4, para o açaí, se for plantio solteiro ou de acordo com o
espaçamento do consorte, de maneira que o plantio não fique muito
adensado para não prejudicar a produção de frutos. A pupunha deve
ser plantada a pleno sol, no espaçamento 5 x 5 m (400 plantas / ha)
estimando-se uma produção de até 20 ton de frutos / ha. É possível o
plantio em Sistemas Agroflorestais com cacau, cupuaçu, entre outras,
onde a pupunha entra como sombreamento para os consortes e o
espaçamento será de acordo com a espécie consorciada. Podem
ser implantados nas linhas de cultivo, inicialmente, inhame, batata
doce, mandioca e outros cultivos de ciclo curto.
8. As covas, na dimensão de 40 x 40 x 40 cm, devem ser
adubadas com 100 g de superfosfato triplo colocado ao fundo.
232
Misturar na terra retirada dos primeiros 20 cm, 5 litros de matéria
orgânica e reencher a cova com essa mistura, 30 dias antes do plantio.
9. A adubação deve ser realizada de acordo com os resultados
da análise do solo. Mas, pesquisas realizadas na Ceplac (Reis, 1997),
indicam as seguintes recomendações para a pupunheira, que por falta
de resultado de pesquisa para o açaizeiro, o autor supra citado
recomenda a mesma tabela, para as condições de solos regionais.
(Tabelas 3 e 4):
Tabela 3. Adubação de pupunheira nos três primeiros anos de desenvolvimento
FERTILIZANTES
(g / planta)
IDADE DAS PLANTAS
(meses)
2
4
8
12
Uréia
20
20
40
40
Superfosfato triplo
Cloreto de potássio
20
20
Fonte: Ceplac/Cepec.1997
16
40
100
20
20
40
-
24
40
20
28
60
100
20
34
60
20
Tabela 4. critérios para adubação da pupunheira em produção.
NUTRIENTES
(kg / ha)
IDADE DAS PLANTAS
(meses)
40
46
52
58
64
70
150
150
150
150
150
150
200
100
-
200
100
-
200
100
-
50
25
50
25
50
25
50
25
50
25
50
25
Nitrogênio (N)
Fósforo (P2O 5)
Mehlich (mg/dm 3): < 5
6 – 16
Potássio (K2O)
Mehlich (cmol/dm 3): <0,09
0,10 – 0,25
Fonte: Ceplac/Cepec. 1997
1. Algumas pragas e doenças ocorrem no plantio, e mais uma
vez o produtor deve consultar um técnico ao primeiro sinal de
anormalidade nas pupunheiras.
2. Nos plantios de frutos de pupunha, deixar além da planta matriz,
2 a 3 perfilhos por touceira, que serão cortados para extração de
233
palmito à medida que apresentarem o diâmetro adequado. Quando
a planta matriz apresentar altura que dificulte a colheita dos frutos,
deve-se planejar deixar esses perfilhos para produzir frutos, em uma
possível substituição da planta matriz. Esse processo é seguido
continuamente, ao longo do ciclo reprodutivo da espécie.
3. Nos plantios de produção de frutos de açaí, a partir de dois
anos de campo, retirar o excesso de perfilhos nas touceiras,
eliminando os mais fracos e os mal formados, deixando 3 perfilhos
por touceira de tamanhos diferentes, bem distribuídos ao redor da
planta, além da planta matriz, que deve ser mantida até que a sua
altura dificulte a colheita. Quando isto acontecer, deve-se planejar o
corte da planta matriz e simultaneamente, deixar que novos perfilhos,
em número máximo de 4 (um por ano), se desenvolvam para a
substituição dos perfilhos antigos. Todos os perfilhos potencialmente
produzirão frutos, em número médio de 3 cachos por perfilho, pesando
de 1,5 a 2 Kg de frutos / cacho. Se o produtor optar em produzir fruto
e palmito no mesmo cultivo, o recomendável é deixar 4 a 6 perfilhos
para serem manejados para palmito.
4. Colheita: a pupunha começa a produzir frutos a partir de 3,5 a
4 anos de campo. As primeiras produções geralmente apresentam
muitos frutos partenocárpicos, (sem sementes), sendo alguns de
coloração verde e de aspecto alongado e outros com aparência de
fruto normal. Porém, com o tempo, a tendência é diminuir essa
incidência, pois os insetos que fazem a polinização começam a ser
colonizados na área, que aliada ao manejo adequado do plantio,
promoverão a fecundação e o desenvolvimento de frutos normais. Os
cachos devem ser aparados com lona para evitar contaminação e
perdas de frutos no impacto com o solo.
5. A colheita do açaí começa após 3,5 a 4 anos de campo, a
depender do sombreamento do plantio. A pleno sol inicia mais cedo.
Os cachos também devem ser aparados com lona.
6. Tanto o fruto de pupunha como o de açaí são bastante
perecíveis, principalmente o açaí, que mesmo sob refrigeração não
se conserva por mais de 12 horas, sob pena de alteração da cor e do
234
sabor. A pupunha não deve ultrapassar 24 horas de colhida, em
temperatura ambiente, pois como é muito amilácea, pode ocorrer o
processo de fermentação.
Literatura consultada
IADEROZA, M. et al. Antocyanins from fruits of açaí (Euterpe oleracea,
Mart) and juçara (Euterpe edulis mart). Tropical Science, London,
England, 32, p. 41-46, 1992.
REIS, E. L. Adubação da Pupunheira para produção de palmito no
Sul da Bahia. Folder. Ceplac / Cepec, 1997.
ROGEZ, H. Açaí: Preparo, Composição e Melhoramento da
Conservação. Belém, EDUFPA, 2000, 313 p.
SILVA, M. G. C. P. C., BARRETTO, W. S. & SERÔDIO, M. H.
Caracterização Química da Polpa dos Frutos de Juçara e de Açaí. In
XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA. Florianópolis,
Santa Catarina, 22 a 26 de novembro de 2004. Anais... CD ROOM,
Florianópolis, SC, 2004.
235
TERRITÓRIOS RURAIS COMO UNIDADE DE
PLANEJAMENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
Elieser Barros Correia*
Introdução
O enfoque territorial é uma estratégia essencialmente integradora
de espaços, atores sociais, agentes, mercados e políticas públicas
de intervenção, e tem na equidade, no respeito à diversidade, na
solidariedade, na justiça social, no sentimento de pertencimento, na
valorização da cultura local e na inclusão social, as bases fundamentais
para conquista da cidadania.
O objetivo dessa construção, que só se concretiza mediante amplo
processo democrático, é identificar e conceber os territórios a partir
da composição de identidades regionais como elemento aglutinador
e promotor do desenvolvimento rural sustentável.
Realçam-se como desafios dessa estratégia, a promoção e apoio
ao processo de desenvolvimento de competências humanas e
institucionais nos espaços concebidos como territórios, articulando a
construção e implementação de políticas públicas através da
elaboração participativa de Planos de Desenvolvimento Territoriais
Sustentável, tendo como enfoque o fortalecimento das comunidades
rurais, com ênfase na agricultura familiar.
A adoção da abordagem territorial como referência conceitual nos
processos de desenvolvimento rural sustentável constitui premissa
fundamental para a concepção desse espaço enquanto unidade de
planejamento, bem como do seu reconhecimento como instrumento
de descentralização e de autogestão de políticas públicas.
*Msc em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente
Chefe do Centro de Extensão da CEPLAC
236
Conceito de Território
Várias são as concepções existentes. A assimilação que os atores
do desenvolvimento territorial na Bahia possuem deste conceito levam
a compreensão de território como a área geográfica de atuação de
um projeto político-institucional, que se constrói a partir da articulação
de instituições em torno de objetivos e métodos de desenvolvimento
comuns. Partindo-se deste entendimento político, desenvolvem-se
projetos produtivos, sociais, culturais e ambientais, normalmente
orientados ou liderados por um projeto dominante ou idéia-guia.
O território, enquanto espaço socialmente organizado, configurase no ambiente político institucional onde se mobilizam os atores
regionais em prol do seu projeto (ou seus projetos, mesmo que
encerrem conflitos de interesses) de desenvolvimento. O principal
objetivo é a geração de relações de cooperação positivas e
transformadoras do tecido social. (ROCHA; SCHEFLER e COUTO,
2004).
Território e Territorialidade
A discussão acerca de território começa com as acepções do
termo. Originário do latim territorium, adjetivo derivado de territorialis
que significa pedaço de terra apropriada, este sentido era-lhe atribuído
antes do século XVIII. Nos anos 1920, os termos território e
territorialidade transferem-se do domínio político-administrativo para
o da etologia, adquirindo status de conceito científico, deixando de
ser uma qualidade jurídica para transformar-se num sistema de
comportamento dos animais. No campo da etologia, o território está
associado à demarcação e dominação de lugar, à extensão e limites,
enquanto territorialidade é definida como a conduta de um organismo
para tomar posse de seu território e defender-se contra os membros
de sua própria espécie. Em geografia, Milton Santos refere-se ao
território, como sendo “(...) o chão da população, isto é sua identidade,
o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território
é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais
e da vida, sobre os quais ele influi.” (SANTOS, 2000, p. 96).
237
Um Espaço de Planejamento do Desenvolvimento Rural
Busca-se um consenso em que o Estado deve ser gerido como
um espaço público, onde a participação da sociedade seja um
instrumento básico de decisão sobre os rumos e prioridades do
desenvolvimento. A democratização dos órgãos públicos, a
transparência administrativa, a participação popular nos conselhos,
câmaras e nos orçamentos são elementos balizadores do
planejamento territorial.
Na análise de Sepúlveda (2003), in (SEI, 2004) o território surge
como foco do desenvolvimento rural sustentável. Parte-se de um
conjunto de aspectos diagnosticáveis do território que compreendem:
a) as características da economia rural da região; b) a
heterogeneidade espacial e socioeconômica do setor rural; c) a
diversidade institucional e política dos espaços locais; d) a variedade
de oportunidades e possibilidades regionais; e) as diferenças
ecológicas entre as unidades territoriais; f) as interligações entre essas
unidades e o restante da economia. Deriva dessa compreensão, a
formulação de políticas que garantam o desenvolvimento e corrijam
as desigualdades rurais. Além da coesão social, o desenvolvimento
rural prescinde da coesão territorial, ressaltam (Rocha; Schefler e
Couto, 2004).
Sepúlveda aponta ainda o caráter institucional-multidisciplinar do
desenvolvimento territorial. Este se revela importante na definição e
condução das políticas públicas territoriais, que devem conter
objetivos múltiplos e promover um sistema participativo de base. O
enfoque territorial para o desenvolvimento apresenta uma nova
concepção onde os aspectos ambientais, econômicos, sociais,
histórico-cultural, político e institucional interagem no espaço do
território. A economia rural não é mais puramente agrícola, e, sim
compreende o conjunto de atividades agrícolas e não-agrícolas
regionais e dos recursos naturais da região (SEPÚLVEDA, 2003).
Abramovay (2001b e 2003) sugere que o território possui, antes
de tudo, um tecido social, com relações de bases históricas e políticas
que vão além da análise econômica. À dimensão territorial do
238
desenvolvimento somam-se as já estudadas dimensões temporais
(ciclos econômicos) e setoriais (a exemplo dos complexos
agroindustriais). Citando os estudos de Casarotto Filho e Pires (1998),
o autor lembra que a formação de um território – ou pacto territorial –
deve responder a cinco pré-requisitos: 1) mobilizar os atores em torno
de uma idéia-guia; 2) contar com o apoio desses atores, não apenas
na execução, mas na própria elaboração do projeto; 3) definir um
projeto orientado ao desenvolvimento das atividades de um território;
4) realizar o projeto em um tempo definido; e 5) criar uma entidade
gerenciadora que expresse a unidade entre os protagonistas do pacto
territorial.
Uma estratégia para o planejamento de desenvolvimento territorial
sustentável deve estar fundada num processo de implantação e
consolidação de metodologias que se completa em dois momentos:
um de apoio à auto-organização, formação dos fóruns e planejamento
dos territórios; e outro de desenvolvimento das capacidades territoriais
e articulação interinstitucional de políticas públicas.
Diagrama da Construção Sistêmica do Desenvolvimento Territorial
Contexto
Inclusão social,
Eqüidade entre
acesso universal e de
qualidade dos
serviços públicos,
valorização cultural
e étnica, com
apropriação dos
resultados do
eno
Econômica
territórios e
municípios,
desenvolvimento
regional e local.
Dimensão Ambiental
Estratégia do
Desenvolvimento
Territorial
Estabilidade
econômica, geração
de emprego e renda,
ampliação dos
investimentos e da
produtividade e,
conquista de
mercados com
redução dos riscos.
Harmonia entre
desenvolvimento e
meio ambiente,
sustentabilidade
ambiental.
Abordagem eot
Fortalecimento da
cidadania, respeito
aos direitos
humanos e gestão
participativa das
políticas públicas.
239
Territórios Baianos
Enquanto estratégia do Governo Federal para fortalecimento do
Campo brasileiro, a Secretaria de Desenvolvimento Territorial do
Ministério do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA) animou um
processo de divisão da Bahia, com a participação do Governo do
Estado, organizações sociais e outras instituições, em 23 potenciais
territórios rurais. Desses, seis situados na área de atuação da
CEPLAC.
Paralelamente ao trabalho da SDT, a Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) firmou três Projetos de
Cooperação Técnica (TCP) com o Governo Federal, visando apoiar
a implementação do Programa Fome Zero (PFZ). A junção das
experiências avaliadas como replicáveis, permitiu à FAO montar uma
metodologia de desenvolvimento territorial, que se assemelha à da
SDT. Da mesma forma, outras instituições, governamentais e nãogovernamentais, têm trabalhado com metodologias semelhantes para
o desenvolvimento territorial.
Essas metodologias foram discutidas no âmbito da Coordenação
Estadual dos Territórios da Bahia (CET) com o objetivo de se montar
uma metodologia de referência para o desenvolvimento de territórios
rurais, que deve ser usada pelos outros parceiros dos territórios.
Explicando: além dos territórios apoiados pela SDT, outros territórios
estão sendo ou serão apoiados por instituições parceiras, que
precisam de uma metodologia para implementar as ações. É o caso
do projeto FAO/MDA (UTF/BRA/057) que vem implementando essa
metodologia de referência no território do Sertão do São Francisco.
Da mesma forma a CEPLAC vem utilizando dessa metodologia nos
territórios de Itapetinga, Médio Rio das Contas, Vale do Jiquiriçá e
Extremo Sul. Outras instituições como CODEVASF, Governo da
Bahia, Banco do Nordeste e DNOCS têm sinalizado com a intenção
de usar essa metodologia em outros territórios baianos.
Para se atingir o desenvolvimento almejado, tem-se trabalhado
duas linhas estratégicas de atuação: a linha política, que deve ser
240
entendida como ação-meio para alcance do desenvolvimento, e a
linha técnica, que é a ação-fim.
Na linha política, deve-se buscar a articulação e o entendimento
das instituições locais e outras externas ao território em torno de
objetivos e métodos comuns de desenvolvimento. Espera-se que a
concertação institucional permita que (1) seja formado um fórum para
defender politicamente o desenvolvimento do território e que (2) se
definam responsabilidades para as instituições envolvidas,
considerando-se suas competências e áreas de atuação. Estas
responsabilidades devem estar colocadas em um Plano de
Desenvolvimento Territorial Sustentável (PDTS).
Na linha técnica, deve-se estimular três processos: diagnósticos
participativos nas comunidades; capacitação dos assentados da
reforma agrária, agricultores familiares e de outras categorias
fragilizadas, nas áreas temáticas de maior demanda identificadas nos
diagnósticos; e elaboração, implementação e acompanhamento de
projetos pilotos, de apoio à capacitação (aprender fazendo) e que
possam ser replicados a partir das decisões do fórum.
Tabela Resumo da Metodologia de Referência
1
Linha
Política
2
3
Linha
Técnica
4
Atividades
Organização de oficina preparatória para formação
do Fórum territorial, formação do Fórum,
organização das reuniões do Fórum, elaboração do
Plano de Desenvolvimento Sustentável Territorial
(PDST).
Animação do Fórum, elaboração de pautas e atas,
apoio na elaboração do PDST
Diagnóstico + capacitação/ projetos pilotos
Diagnóstico gerado com dados secundários e
identificação, caracterização e classificação das
experiências existentes
241
Executor
Instituição Animadora, contratada
por dois anos
Consultor Mediador, contratado por
dois anos
De duas a oito Instituições
Executoras, contratadas por dois
anos.
Instituição de Pesquisa, contratada
por cinco meses
Territorialização Rural
Bahia, 2004
P E R N A M B U C O
Barragem de Itaparica
Barr de
radi
A A OA
1
P
10
1
F
1
S
11
S
0
01
0
1
1
1
0
R
1
1
AAOR
0
0
G
1
0
0
M
Sertão Produtivo
Pieonte do Paraguau
acia do acuípe
Pieonte
Seirido ordeste
greste de lagoinaslitoral orte
Portal do Sertão
itria da onuista
Recncavo
eui
acia do Rio orrente
C
E
0
O
rec
elo ico
apada iaantina
Sisal
Sul
aio Sul
treo Sul
tapetinga
ale do euiri
Sertão do São rancisco
este aiano
acia do Parairi
A
A
0
Municípios Pertecentes a Região Metropolitana de Salvador (RMS).
EPRO
ANO
iite dos erritrios
ota erritrios a sere conteplados pela Metodologia de Reerncia de esenvolviento
erritorial Rural.
onte oordenaão stadual dos erritrios ().
242
Territórios Rurais Apoiados
Bahia, 2004
R A
O
Barragem de Itaparica
Barr de
radi
ALAOAS
P
10
F
S
S
0
01
0
R
0
SALVADOR
0
G
0
0
M
Territórios financiados pela Secretária de Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministério do
Desenvolvimento rário (MD)
01 - lrecê, 02 - Velho Chico, 03 - Chapada Diamantina, 04 ial, 0 - l e 0 - aio l
0
E
0 -
C
Territórios financiados pela omisso ectiva para a avora acaeira ()
tremo l, 0 - tapetina, 0 - Vale do eiri, 22- ei
A
A
0
10 -
O
Território financiado pela raniao das aes nidas para ricltra e limentao () e
pela Secretária da ricltra amiliar (S) do Ministério do Desenvolvimento rário (MD)
erto do o rancico
SRO
SAO
Territórios sem entes inanciadores definidos
imite dos Territórios
ota Territórios omoloados para implementao da Metodoloia omm de Desenvolvimento
onte oordenao stadal dos Territórios (T)
243
Figura dos Territórios situados na área de atuação da CEPLAC na Bahia
TERRITORIALIDADE NO ÂMBITO
DE ATUAÇÃO DA CEPLAC
TERRITÓRIOS SUL BAIANOS:
Santa Inês
09 - Vale do Jiquiriçá
06 - Baixo Sul
22 - Médio Rio das Contas
05 - Litoral Sul
14º00
08 - Itapetinga
07 - Extremo-Sul
Ubaira
Mutuipe
Cravolândia
Pres. Tancredo Neves.
Itaquara
Cairú
Jaguaquara
Gandú
W. Guimarães
Nilo
Peçanha
Norte
Ituberá
Itamarí
Jequié
39º00
39º30 Taperoá
Teolândia
40º00
Lafaete Coutinho
Ipiraí
Apuarema
Nova Biá
Igrapiuna
Camamú
Jitaúna
14º00
Maraú
Aiquara
Manoel
Vitorino
Ipiaú
Itagí
Ibirapitanga
B do Rocha.
Ubatã
Gongogi
Itagibá
(107 Municípios
Itacaré
Ubaitaba
Aurelino Leal
Dário Meira
Boa Nova
Itapitanga
Uruçuca
Coarací
Itajuipe
Almadina
Iguaí
Barro Preto
Ibicuí
Ilhéus
Itabuna
Floresta
Azul
Firmino
Alves
Ibicaraí
Itapé
Sta. C.
Vitória
Itororó
ATLÂNTICO
Nova
Canaã
Caatiba
Buerarema
S. José Vitória
Itajú
Colônia
Juçarí
Itambé
Arataca
Una
Itapetinga
Pau
Brasil
15º00
Sta.
Luzia
Camacã
Macaraní
Itarantin
Mascote
Maiquinique
Canavieiras
Potiraguá
Belmonte
Itapebí
16º00
Itagimirim
Sat. Cruz Cabrália
Eunápolis
Guaratinga.
OCEAN O
Porto Seguro
Itabela
LEGENDA
Jucuruçú
SDT-MDA
CEPLAC
COMPILAÇÃO:
A
A
CPLACCPCP
Itamarajú
Itanhém
Medeiros
Neto
Prado
Vereda
Alcobaça
Lajedão
Ibirapuã
Caravelas
Nova Viçosa
40º30’
40º00’
39º30
Mucurí
40º00
244
39º00
Desafios
O plano plurianual da CEPLAC para 2005/2007, consideradas as
dimensões econômicas, sociais e ambientais no contexto da
territorialidade de sua atuação, indicou trabalhar ações capazes de
promover a “Inclusão social e redução das desigualdades
sociais” e o “Crescimento com geração de emprego e renda,
ambientalmente sustentável com redução das desigualdades”,
Mega-Objetivos Estratégicos do Projeto BRASIL DE TODOS, do
Governo Federal.
Para tanto a intervenção institucional nos seus territórios se dará
mediante os seguintes desafios:
Incorporar a Visão do Desenvolvimento Territorial
Implementar metodologia que viabilize captar demandas dos
diferentes segmentos da população rural, em especial,
d
a
Agricultura Familiar;
Propiciar a participação efetiva das comunidades na definição
e implementação das políticas públicas
Fortalecer a organização social e da produção numa
perspectiva Integral e, de Cadeias Produtivas.
Literatura consultada
ABRAMOVAY, Ricardo. Ruralidade e desenvolvimento territorial.
Gazeta Mercantil, São Paulo, p. A-3, 15 abr. 2001a.
ABRAMOVAY, Ricardo. Sete desafios para o desenvolvimento
territorial. Disponível em: www.banf.org.br. Acesso em: 04 set. 2005.
COMISSÃO EXECUTIVA DO PLANO DA LAVOURA CACAUEIRA –
CEPLAC. Diretrizes para a Programação 2005. Ilhéus: CEPLAC/
245
SUBES, 2004, 23p.
COUTO FILHO, Vitor Athayde; SILVA Dr. Jeová Torres e GAVÍNIA
Lydda. (Org.). Desenvolvimento Territorial na Bahia: (Cartilha/CD/
DVD). 2005
ROCHA, Alynson dos S. ; SCHEFLER, Maria de L. M. e COUTO, Vitor
de Athayde. Organização Social e Desenvolvimento Territorial: reflexos
sobre a experiência dos CMDRS na região de Irecê – Ba. In
SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA
BAHIA. Análise Territorial da Bahia Rural. Salvador: SEI, 2004, 222p.
(série estudos e pesquisas, 71).
SABOURIN, Eric. Planejamento municipal. Brasília: Embrapa, 1999,
124p.
SANTOS, Milton. Território e sociedade: entrevista com Milton Santos.
São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000.
SEPÚLVEDA, Sérgio. Desarrollo rural sostenible: enfoque territorial.
[19—?].
SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA
BAHIA. Análise Territorial da Bahia Rural. Salvador: SEI, 2004, 222p.
(série estudos e pesquisas, 71).
246
CRIAÇÃO DE AVES (GALINHAS) PARA PRODUÇÃO
DE OVOS E CARNE EM SISTEMA DE CAIPIRA
Gilton Ramos de Argôlo1
Dionisio José de Lima2
A produção avícola brasileira passou por um processo de
transformação nos últimos anos se destacando com uma avicultura
competitiva no mercado.
As mudanças de hábitos alimentares de uma significativa parcela
da população, notadamente de maior poder aquisitivo, vem ampliando
a procura por alimentos cuja origem seja uma produção mais natural.
A “velha” galinha conhecida como “pé duro ou caipira” dos terreiros
com potencial produtivo de apenas 50 a 80 ovos por ano existe em
mais de 80% das propriedades rurais e tem contribuindo para
melhorar a alimentação das famílias e muitas vezes auxiliando como
parte da renda na economia familiar.
O programa de seleção das aves para serem criadas em sistema
caipira, procurou encontrar um ponto de equilíbrio entre o passado e
o futuro e entre a rusticidade e a produtividade, apresentando aves
com potencial de produção de 270 a 300 ovos ao ano e também
aves especializadas para produção de carne com a vantagem da
comercialização de um produto diferenciado com melhor remuneração
por parte do mercado consumidor.
1
2
M. Sc. Engenheiro Agronômo - CARE do Brasil.
Téc. Agrícola / Economista - CONSULCOOP.
247
No sistema de produção proposto a escolha do tipo da ave a ser
criada é de fundamental importância, e para promover a máxima
capacidade produtiva da ave, além de outros aspectos como nutrição,
ambiência, sanidade e manejo.
Classificação das aves de acordo a sua função econômica:
√ Para produção de ovos (poedeiras).
√ Para produção de carne (corte).
√ Dupla aptidão.
Tabela sobre consumo de ração para ave de postura.
Idade
(semanas)
Peso / ave
(gramas)
Consumo / dia
(gramas)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
17
18
22
30
73
70
140
220
300
380
470
570
660
750
830
910
990
1070
1150
1230
1410
1500
1840
1950
2090
12
19
26
32
38
41
45
48
51
54
56
58
60
63
67
78
84
107
113
108
Acumulado
(quilos)
0,084
0,217
0,399
0,623
0,889
1,176
1,491
1,827
2,184
2,562
2,954
3,360
3,780
4,221
4,690
5,740
6,328
9,114
15,393
48,895
Revista: Escala Rural – Ano III- Nº 18
Na região Cacaueira, em alguns criatórios, as aves têm
apresentado as características de textura e sabor na carne que o
mercado regional deseja aos 120 dias de vida, daí ser muito
importante o manejo alimentar.
248
Tabela sobre consumo de ração para produção de carne – “ave tipo pesada”.
Critório
Tipo de
ração
Confinado 1º dia
até o abate
Comercial 3100 kcal
Livre 30º dia
até o abate
Caipira 2850 kcal
Idade
(dias)
Peso Vivo
(g)
Total de
Ração KG
Idade
(dias)
Peso Vivo
(g)
Total de
Ração KG
28
35
42
49
70
84
90
280
930
1180
1445
2210
2485
2730
0,980
1,740
2,350
3,110
5,750
6,760
8,160
28
35
42
49
70
84
90
598
818
1038
1271
1950
2175
2402
1,052
1,480
2,070
2,790
5,050
6,120
7,206
Fonte: Avifran
Com investimentos relativamente baixos e instalações de fácil
construção com simples técnica de manejo, a criação em sistema
caipira tem se mostrado lucrativo, principalmente, para pequenos
produtores, pois tem a vantagem da comercialização de um produto
diferenciado com boa procura e melhor valor de comercialização.
Esse sistema de criação é simples, as aves devem ter dietas
mistas, compostas de ração balanceada, complementada com
produtos da região e pasto de boa qualidade para que possa ser
direcionada como alimentação suplementar, pois a alimentação
convencional chega a representar hoje cerca de 89% dos custos de
produção (planilha em anexo).
As aves devem ser soltas durante o dia para que possam ciscar,
tomar sol, com isto se exercitam, em fim terem uma vida natural e
mais saudável.
Para iniciar nesse sistema de criação é necessário procurar um
profissional da área para que possa lhes orientar.
Quando for planejar as instalações, elas devem oferecer: conforto
ambiental, condições ideais de manejo, proteção contra predadores,
cuidados estes que não devem ser ignorados sob pena de
comprometer todo o projeto.
249
Chegada dos pintos:
√ antes do recebimento dos pintos, certificar-se que o galpão e os
equipamentos estão limpos e em boas condições de funcionamento;
√ abasteça com água com açúcar (50 gramas/litro de água) e ligue
a fonte de calor antes de soltar os pintos no circulo;
√ observar o comportamento dos pintos (vê ilustração);
√ manter atualizado os registros na ficha de controle zootécnico (em anexo).
Manejo básico
Mesmo sendo resistentes e geneticamente selecionadas para
serem criadas em sistema semi-intensivo, estas aves têm como
fundamental os bons cuidados principalmente no primeiro mês.
Adquirida as aves, é preciso respeitar uma rotina de trato que
assegure seu crescimento rápido e saudável. Uma primeira
recomendação é evitar o estresse das aves e adaptar a estrutura do
criatório a cada etapa de seu desenvolvimento. Tudo deve mudar
gradativamente e o que nunca deve faltar é:
√ limpeza do ambiente;
√ temperatura adequada;
√ disponibilidade de água limpa, fresca e de ração específica.
Na chegada das aves com um dia, depois de soltá-las devem
receber água com “açúcar” (50 gramas/litro de água) para hidratar e
aumentar a sua energia e a partir daí colocar a ração.
Para uma boa criação, é fundamental selecionar os pintos que estão
sendo incorporados ao plantel como:
peso de 40 a 45 g. O mínimo aceitável é 35 g. independente
da linhagem ou raça;
pluma sedosa e seca;
olhos vivos;
tamanho e cor uniformes;
pele dos pés brilhante, nunca seca ou rachada;
sem defeitos, com pés tortos, bicos cruzados, aspecto apático.
Nos primeiros dias, o principal inimigo da criação capaz de
exterminá-la é a falta ou excesso de calor. As aves ainda não
250
desenvolveram a capacidade de controlar a temperatura do seu corpo,
por isso ficam inteiramente sujeitas às variações externas. Um pintinho
nasce com 39,8ºC e cabe ao criador atenuar as diferenças entre as
temperaturas do corpo e a do meio ambiente. Essa medida se faz
com campânulas elétricas ou a gás, indicados para lotes de até 500
pintinhos. Tome como referência à fonte de calor e calcule no chão
um raio de 1,20 m para erguer um círculo de retenção das aves que
pode ser feito com folha de compensado (tipo eucatex) e deve ter
uma altura de aproximadamente 0,60 m.
O comportamento da ninhada dirá se a temperatura dentro do círculo
está ou não adequada. Pintinhos amontoados junto à lâmpada e
piando indica calor insuficiente. Ao contrário, se permanecerem
distante da campânula, mas piando, há excesso. Bom sinal é vê-los
regularmente distribuídos, em silêncio, alimentando-se normalmente.
Figura 1- Pintos com frio - Figura 2 - Pintos com Figura 3 - Corrente de Figura 4 - Ideal.
Amontoados.
calor - Afastados da ar. Pintos agrupados. Pintos distribuídos
fonte.
uniformemente em
torno do circulo.
Situação de conforto.
Por volta do 14º dia a penugem cai e surgem as penas que
constituem um bom isolante térmico. O círculo de proteção não é mais
necessário. Dependendo da época do ano, a campânula também
poderá ser desativada – primeiro durante o dia, depois à noite.
A alimentação nessa primeira fase muda também gradativamente,
tudo em função da idade e do tipo da ave a ser criada. Ela pode
decidir a falência ou a rentabilidade do negocio. A Alimentação
Convencional representa cerca de 89% dos custos variáveis com a
avicultura; é simplesmente insuportável para o pequeno criador. Como
contornar? Existem algumas possibilidades!
251
Produzir a própria ração – essa alternativa só é válida para criações
acima de 500 cabeças, e antes de tudo é necessário que se faça
“muita conta” para avaliar se é ou não viável.
Manejo das aves para produção de ovos
Para iniciar a criação de aves para produção de ovos, o produtor
deve escolher com que tipo de ave ele vai trabalhar em seu aviário,
associada à preferência do mercado consumidor. Essa ave deve ter:
baixa mortalidade, resistência a doenças, baixa relação entre consumo
de ração e postura de ovos, além de uma capacidade para postura
acima de 240 ovos/ano com boa capacidade de pigmentação da gema.
A fase inicial ou fase de cria é a mais sensível da criação, vai desde
o primeiro dia até a 6ª (sexta) semana de vida.
A fase de recria vai da 7ª até a 18ª semana é onde ocorre um
grande crescimento das aves sendo determinante para a qualidade
da futura poedeira.
Fase de pré-postura vai da 19ª até a 23ª semana.
Fase de postura vai da 24ª até a 70ª semana, quando devem ser
descartadas.
Tabela: O ciclo de produção de ovos.
IDADE (EM SEMANAS)
PRODUÇÃO DE OVOS
De 17ª A 18ª
De 19ª a 20ª
De 28ª a 30ª
De 45ª a 70ª
Acima de 70ª
5 A 10%
50%
Mais de 90%
Ocorre decréscimo na produção
Descarte
Critérios para seleção de poedeiras produtivas
Galinha em produção apresenta:
crista e barbelas grandes de aspecto sedoso e coloração
vermelha.
cloaca oval e alargada e úmida.
distância entre ossos da pelve de 3 a 4 dedos.
abdômen macio.
252
Galinha fora de produção apresenta:
♦ crista e barbelas pequenas, secas e escurecidas.
♦ cloaca estreita, circular, pálida e seca.
♦ distância entre os ossos da pelve de apenas 2 dedos.
♦ abdômen duro e pequeno.
A presença dos galos é muito importante, apesar de comerem
mais que as galinhas e não botarem ovo, pois as galinhas se
comportam mais tranqüilas, “ficam mais felizes” e isso tem importância
fundamental também no aspecto sanitário, visto que o estresse é
reconhecidamente um fator predisponente para doenças que acabam
causando grandes prejuízos na avicultura.
Manejo Alimentar – a parte nutricional é um dos fatores que mais
interferem no resultado produtivo do lote.
Todo o programa alimentar de aves está baseado na função, idade
e peso dos animais, assim deve-se fornecer uma ração especifica
para cada período de desenvolvimento das aves. O aproveitamento
de restos de horta e cascas de frutas na alimentação das “galinhas”
criadas em sistema caipira é recomendável, desde que esses restos
sejam oferecidos como complementação à ração balanceada e não
como dieta principal das aves.
Tabela : Relaciona a função econômica, idade e tipo de ração que deve ser fornecida
as aves.
Alimentação Por Idade
Tipo de Ração
A) Aves para corte
1 a 30 dias
31 a 42 dias
43 ao abate
Ração Inicial
Ração de crescimento, engorda.
Ração de acabamento.
B) Aves para postura
1 a 10 semanas
11 a 18 semanas
Mais de 19 semanas
Ração para pintinhas.
Ração para frangas.
Ração para postura.
Revista: Escala Rural – Ano III- Nº 18
253
A alimentação vegetal pode suprir cerca de 25% das exigências
nutricionais das aves. Os vegetais crescem recebendo a energia do
sol, e estão repletos de caroteno, vitaminas, minerais e força vital. As
ingestões de gramíneas, leguminosas e outras fontes vegetais fornecem
vitaminas e minerais as aves, coferindo-lhes resistência às doenças e
modificando a qualidade de seus ovos tornando suas gemas mais
vermelhas e ricas em vitamina A e com melhor valor comercial.
Coleta e classificação dos ovos:
Os ninhos devem ser usados exclusivamente na fase adulta das
aves em postura, são muito importantes para garantir ovos de boa
qualidade, mais limpos e com menor riscos de contaminação. Eles
devem ser mais altos que o piso, com aproximadamente 40
centímetros de largura, 30 de altura e 30 de profundidade, com uma
boa “cama” sedo suficiente para abrigar de quatro a cinco galinhas.
Os ninhos têm a função de proporcionar um local macio e
aconchegante para a postura dos ovos. Cerca de 60 a 70% da postura
é realizada pela manhã. Existe a necessidade de realizar a maior
parte da coleta dos ovos neste período, para que eles não fiquem
acumulados nos ninhos e possam quebrar ou trincar. Durante a coleta,
é aconselhável que os ovos sejam colocados em bandejas plásticas
ou de papelão com a extremidade mais fina voltada para baixo, pois
a utilização de baldes ou cestas, ocasionam um alto índice de ovos
trincados e quebrados, apesar da casca do tipo caipira ser mais
resistente. Após a coleta, os ovos devem seguir para a sala de
classificação, onde serão limpos a seco com uso de uma esponja.
Por se tratar de um produto perecível, deve-se observar o período de
consumo do ovo, que gira em torno de 15 a 25 dias.
Sanidade – O melhor remédio é a prevenção e o criador deve
saber que aves bem alimentadas e com bom manejo são mais
resistentes.
A prevenção das doenças é de grande importância na manutenção
da saúde das aves, que consiste em um conjunto de praticas que
envolvem higiene, profilaxia e combate sistemático a endo e
254
ectoparasitas, para isso procure o méd. veterinário na sua região para
indicar o melhor calendário destas, em função da realidade
epidemiológica onde está localizada a sua criação. As vacinas são
estritamente necessárias para garantir a saúde das aves.
A verminose, também se constitui num sério problema nas criações
mal orientadas.
As aves são também atacadas por ectoparasitos que lhes ataca a
plumagem ou roubando-lhes o sangue e veiculando as doenças.
No sistema semi-intensivo, o ambiente deve ser menos estressante
que numa granja convencional, pois as aves interagem com as forças
da natureza, que as torna mais saudáveis.
Tabela: Cronograma de Vacinações.
Idade
(Dias)
1º
10º
Vacina
Aplicação
BOUBA
Punção na membrana da asa intramuscular
MAREK
(feita no incubatório)
NEW CASTLE
Intra-ocular, intra-nasal
(ou na água de bebida não clorada)
21º
BOUBA AVIÁRIA
Escarificação na coxa (só no caso de não ter sido feito no 1º dia
de vida) ou punção na membrana da asa
35º
NEW CASTLE
Intra-ocular, intranasal, água de bebida (não clorada)
63º
BOUBA AVIARIA
Escarificação na coxa ou punção na membrana da asa
De 4 em 4 meses
NEW CASTLE
Intra-ocular, intra-nasal, água de bebida (não clorada)
Fonte: Escala Rural – ANO III – Nº 18. (adaptado).
Existem vários fatores que podem afetar negativamente o sistema
de produção:
a) construção e ou formato inadequada de comedouros e
bebedouros;
b) condições péssimas da “cama” como material inadequado e
úmido;
255
c)
d)
e)
f)
g)
h)
superlotação;
baixa ventilação;
temperaturas altas (desconforto térmico);
número insuficiente de comedouros e bebedouros;
controle da sanidade ignorado;
falhas no manejo.
Plantel: 300 aves para produção de ovos.
Especificação
Um
Quant
Galpão 6X10 (alvenaria)*
Bebedor tipo rosca
Bebedor tipo pendular
Comedouro tipo bandeja
Comedouro tipo tubular
Ninhos
Campânula
m2
un
un
un
un
um
un
60
4
5
4
10
60
1
SUBTOTAL
cab.
300
Aves
Ração inicial 6,4kgx300
Ração postura 100gx300x365
Milho grão 20gx300x365
Vacina new castle
Vacina bouba (frasco com 100 doses)
Outros medicamentos
Butijão com gás
Cal (saco de 50 kg.
Vermífugo
Mão-de-Obra (2 h / dia x 540 dias) (1,5 ano)
P. unt. P. total
R$
R$
50 3.000,00
6
24
25
125
6
24
30
300
3
180
100
100
79,93
0,64
3,33
0,64
7,99
4,79
2,66
R$ 3.753,00
2,2
660
100,00%
4,96
%
kg
1920 0,9
kg
10.950 0,9
kg
730
0,5
frasco
4
8,5
frasco
3
8
1.728,00
9.855,00Total ração
365
89,69
34
0,25
24
0,18
20
0,15
un
1
35
35
0,26
un
10
5
50
0,37
sachê
10
2
20
0,15
hora
1
540
540
4,06
SUBTOTAL R$13.321,00 100,00%
TOTAL GERAL
R$ 17.084,00
Instalações R$ 3.753,00 / 5 lotes = R$ 750,60
Custo Variável
R$ 13.321,00
Custo total
R$ 14.081,60
Produção de ovos: 280 AVES X 270 0V0S = 75.600 OU 6.300 Dúzias.
Custo do Ovo – R$ 14.081,60 / 6.300 dz. = R$ 2,23 + R$ 0,10 de embalagem =
R$ 2,33dz.
Receitas:
Ovos: 6.300 dz. X R$ 3,00
= R$ 18.900,00
256
Descarte: 280 aves X R$ 8,00 = R$ 2.240,00
TOTAL = R$ 21.140,00
Despesas Totais = R$ 17.064,00
LUCRO (receitas – despesas) = R$ 4.076,00 / 12 meses = R$ 339,66 / mês
(Lotes 1)
LOTE 2
RECEITA
DESPESAS
LUCRO =
= R$ 21.140,00
= R$ 13.311,00
R$ 7.829,00 / 12 meses = R$ 652,41 / mês
Projeto de avicultura – sistema caipira
Plantel: 300 aves para produção de carne
Especificação
Un
Quant
Galpão 5 x 9 (alvenaria)*
Bebedor tipo rosca
Bebedor tipo pendular
Comedouro tipo bandeja
Comedouro tipo tubular
Lança chama
Campânula
Aves
Ração 6,0 kg X 300
Vacina new castle
Cal (50 kg)
Outros medicamentos
Butijão com gás
Vermífugo
Mão-de-obra (2 h / dia = 200hs)
P. un. R$
P. total R$
2.250,00
24,00
125,00
24,00
300,00
40,00
100,00
510,00
1.620,00
17,00
50,00
20,00
35,00
10,00
200,00
m2
un
un
un
un
un
un
Cab.
Kg
Frasco
Saco
45
04
05
04
10
1
01
300
1.800
2
10
50,00
6,00
25,00
6,00
30,00
40,00
100,00
1,70
0,9
8,50
5,00
Um
Sachê
Hora
1
05
200
35,00
2,00
1,00
Instalações 2.863,00 / 10 anos = R$ 286,30 / ano / 3 lotes = R$ 95,43 / lote
Custo de R$ 2.863,00 + R$ 95,43 = R$ 2.959,43 / 300 aves = R$ 9,86 / ave com
2,2 kg de PV ou R$ 4,48 / kg de PV.
Nota: Preço de mercado regional é de R$ 12,00 a ave, gerando um lucro de R$
2,14 / ave.
257
Ficha para controle zootécnico das aves - Galpão Nº _____
TIPO:_________________________ MÊS:________________ ANO:_________
DATA DE RECEBIMENTO:
DIA
EXISTE
MORTE
SAÍDA ABATE
Nº DE AVES:
DIST. DE
RAÇÃO
PRODUÇÃO
DE OVOS
CONTROLE SANITÁRIO.
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
Total:
G.R.A.
OBSERVAÇÕES:________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
258
PROGRAMA DE SILVICULTURA COM ESPÉCIES
ARBÓREAS NATIVAS E SISTEMAS
AGROFLORESTAIS SUSTENTADOS NA MATA
ATLÂNTICA E FLORESTA AMAZÔNICA - PRONATIVA
Kazuiyuki Nakayama *
Caio Marcio V. Cordeiro de Almeida **
Fernando Antônio Teixeira Mendes***
As razões principais para a implantação do PRONATIVA são:
obrigatoriedade de reflorestar a reserva legal e áreas de preservação
permanente, interesse empresarial crescente sobre os mercados de
madeira e produtos arbóreos tropicais, demanda crescente por
serviços florestais-ambientais, segmentos sociais na sociedade
favoráveis às políticas públicas florestais sustentadas, estimativa de
90 milhões de hectares de solos desflorestados e degradados
exigindo recuperação e maior disponibilidade de financiamento interno
e externo para reflorestamentos, GTI, 2005.
O PRONATIVA visa ampliar as produções agrossilvipastoris e
industriais sustentadas, conciliar produção, industrialização e
conservação ambiental, aumentar as riquezas local e regional, garantir
a viabilidade econômica e equidade social de processos de produção
e de gestão.
A implantação estratégica do PRONATIVA envolverá os Ministérios
da Agricultura e Abastecimento, do Meio Ambiente, do
*Ceplac/Cepec, - [email protected]; **Ceplac/Supoc/Rondonia,
[email protected]; ***Ceplac/Supor/Para - [email protected].
259
Desenvolvimento Agrário, da Ciência e Tecnologia, do
Desenvolvimento Social e Combate a Fome e do Desenvolvimento,
Industria, Comércio Exterior, através dos seus órgãos executivos, bem
como de governos estaduais, municipais e a sociedade civil
organizada.
O PRONATIVA inclui ações de fomento a agrosilviprodução industrial,
assistência técnica e extensão rural, certificação, crédito e
financiamento, organização local das cadeias produtivas,
desenvolvimento de tecnologias agrosilvipastoris, educação florestalambiental e recuperação de bacias hidrográficas.
Palavras-chaves: reflorestamento, árvores nativas, madeira, reserva legal, áreas de
preservação permanente.
GTI, 2005 - Portaria Interministerial MMA/MAPA/MCT/MDA nº 296,
de 02.12.2004
260
AGRICULTURA DE BAIXO USO DE INSUMOS
EXTERNOS E AGROECOLOGIA
João Antonio Firmato de Almeida
A visão agroecológica
Os ecossistemas atualmente existentes são o resultado de milhões
de anos de “ensaio e erro” no processo de coevolução de um enorme
número de espécies. Nesse processo, as espécies não sustentáveis
foram eliminadas, possivelmente por não se adaptarem às condições
climáticas, por serem excessivamente suscetíveis a pragas e doenças,
por não serem capazes de obter alimentos e energia suficiente ou
simplesmente por que não puderam competir com as espécies mais
eficientes. Assim, os ecossistemas estão sempre em mudança, à
medida que prossegue esse processo de seleção natural.
A ecologia, enquanto ciência biológica, é o estudo das relações
entre os organismos e seu ambiente. Apesar da grande diversidade
de ecossistemas que, felizmente, ainda existem, foi possível
identificarem-se alguns princípios e processos básicos comuns. A
ecologia pode oferecer importantes percepções para o estudo dos
sistemas agrícolas que, por força ou por escolha, também sofrem
mudanças constantes e se adaptam a restrições em função do
ambiente. A fusão de ciências que constitui a nova ciência da
agroecologia procura combinar elementos tanto da ciência agrícola
como da ecologia convencionais. Compreendendo os princípios que
fundamentam essa nova ciência os princípios agroecológicos podem
Técnico em Agropecuária CEPLAC/CENEX-Núcleo de Agroecologia
261
ser aplicados para criar sistemas agrícolas de baixo uso de insumos
externos.
Nichos ecológicos para a diversidade funcional
Um dos conceitos centrais da ecologia é o de nicho: refere-se à
função ou ao papel de um dado organismo no ecossistema,
conjuntamente com os recursos de que esse organismo depende,
que são também os fatores que vão determinar as suas chances de
sobrevivência e seus efeitos positivos ou negativos sobre outros
componentes. Um nicho pode ser ocupado por mais de uma espécie,
e cada uma delas pode ajudar a criar as condições de sobrevivência
para as outras. Podem também existir nichos vazios, ou
temporariamente vazios, o que significa que há recursos locais
subutilizados e que existem oportunidades no sistema para o
surgimento de novos componentes.
Os agroecossistemas que abrangem muitos nichos distintos, cada
um deles ocupado por muitas espécies diferentes – em outras
palavras, agroecossistema com alto grau de diversidade – serão,
provavelmente, mais estáveis do que aqueles compostos por apenas
uma espécie (uma monocultura, por exemplo). Por conseguinte,
redundam em maior segurança para o agricultor. No entanto, a
diversidade não leva necessariamente à estabilidade: pode até causar
instabilidade, se os componentes não forem bem escolhidos. É o
caso, por exemplo, de algumas espécies arbóreas, que são
hospedeiras de insetos e doenças prejudiciais à lavoura; ou o caso
em que há competição entre culturas agrícolas, animais domésticos
e árvores por mão de obra, nutrientes ou água (Dover & Talbot, 1987).
No entanto, se for possível alcançar a diversidade funcional através
da combinação de espécies animais e vegetais que tenham
características complementares e que estejam envolvidas em
interações sinérgicas positivas, então serão aprimoradas não apenas
a estabilidade como também a produtividade dos sistemas agrícolas
de baixo uso de insumos externos.
262
A complementaridade nos agroecossistemas
Dentro do sistema de produção de um estabelecimento agrícola,
os componentes se complementam quando realizam diferentes
funções (produtivas, reprodutivas, de proteção, sociais) e quando
preenchem diferentes nichos ecológicos, espaciais, econômicos ou
organizacionais. É o caso, por exemplo, dos componentes que
aproveitam:
diferentes camadas de solo (plantas com enraizamento
superficial ou profundo);
diferentes graus de absorção dos nutrientes (plantas com maior
ou menor necessidade de determinados elementos, que absorvem
ou não nutrientes residuais ou nutrientes com maior ou menor
eficiência);
diferentes intensidades de luz (plantas que preferem a sombra
ou a claridade);
diferentes níveis de umidade do ar (maior ou menor
necessidade de umidade, maior ou menor resistência ao vento);
diferentes graus de umidade do solo (maiores ou menores
necessidades);
solos de diferentes qualidades (mais ou menos pedregosos,
profundos, declivosos, ou férteis; com maior ou menor umidade; com
diferentes graus de resistência ao encharcamento);
biomassa não diretamente utilizável pelos humanos (ervas
infestantes, restos de cultura, insetos, folhas de plantas lenhosas);
diferentes tipos de mão de obra, em diferentes períodos;
diferentes mercados (culturas agrícolas com diferentes graus
de risco no mercado, produtos fora de época, gado);
diferentes necessidades da família.
A sinergia nos agroecossitemas
Diz-se que os componentes do sistema de produção do
estabelecimento agrícola interagem sinergicamente quando eles, além
de cumprirem sua função primária, levam à melhoria das condições
para outros componentes do sistema, através, por exemplo:
263
da produção de microclimas favoráveis;
da produção de substâncias químicas que estimulem os
componentes desejáveis ou suprimam os prejudiciais (efeitos
alelopáticos das secreções das raízes ou das coberturas mortas);
da redução das populações de pragas (por exemplo, plantios
consorciados, plantas usadas como armadilha);
do controle de ervas infestantes;
da produção de medicamentos (tanto para os humanos como
para os animais de criação) ou de pesticidas e repelentes de origem
vegetal;
da produção e da mobilização de nutrientes (por exemplo,
fixação de nitrogênio ou simbiose das micorrizas);
da produção de biomassa ou resíduos vegetais que sirvam
para alimentação animal ou para a nutrição mineral das plantas;
da produção de cobertura sobre o solo ou de estruturas
radiculares que aprimorem a conservação da água e do solo;
dos sistemas radiculares profundos que aprimoram a
reciclagem de água e nutrientes perdidos por causa da lixiviação ou
que estejam fora do alcance das plantas cultivadas;
do uso da tração animal.
As funções sinérgicas dos componentes também podem ser
exemplificadas através de : faixas de plantio em nível, que conservam
o solo e a água, e que, ao mesmo tempo, produzem alimentos e
forragem; quebra-ventos ao redor de campos de plantio, que os
protegem contra os animais e o vento, e que, ao mesmo tempo,
produzem combustível, alimentos, forragens e remédios. Plantas e
animais que cumprem várias funções como, por exemplo, espécies
de capim que são usados em terraço e também para produção de
forragem ou animais que fornecem esterco, leite e tração servem
também como reserva de capital, sendo muito importante nesse sentido.
A exploração mais completa possível dessa diversidade de funções
resulta em sistemas de produção de estabelecimentos agrícolas
complexos e integrados, que fazem uso ótimo dos recursos e dos
insumos disponíveis. O desafio é descobrir-se qual a combinação de
264
plantas, animais e insumos levam à maior produtividade, segurança
e conservação de recursos, dadas as restrições de terra, trabalho e
capital.
Princípios da ecologia
Redes
Em todas as escalas da natureza, encontramos sistemas vivos
alojados dentro de outros sistemas vivos – redes dentro de redes. Os
limites entre esses sistemas não são limites de separação, mas limites
de identidade. Todos os sistemas vivos comunicam-se uns com os
outros e partilham seus recursos, transpondo seus limites.
Ciclos
Todos os organismos vivos, para permanecerem vivos, têm de
alimentar-se de fluxo contínuo de matéria e energia tiradas do ambiente
em que vivem: e todos os organismos vivos produzem resíduos
continuamente. Entretanto, um ecossistema, considerado em seu
todo, não gera resíduo nenhum, pois o resíduo de uma espécie é o
alimento da outra. Assim, a matéria circula continuamente dentro da
teia da vida.
Energia solar
É a energia solar, transformada em energia química pela
fotossíntese das plantas verdes, que move todos os ciclos ecológicos.
Alianças (parcerias)
As trocas de energia e de recursos materiais num ecossistema
são sustentadas por uma cooperação generalizada. A vida não tomou
conta do planeta pela violência, mas pela cooperação, pela formação
de parcerias e pela organização em redes.
265
Diversidade
Os ecossistemas alcançam a estabilidade e a capacidade de
recuperar-se dos desequilíbrios por meio da riqueza e da
complexidade de suas teias ecológicas. Quanto maior a
biodiversidade de um ecossistema, maior a sua resistência e
capacidade de recuperação.
Equilíbrio dinâmico
Um ecossistema é uma rede flexível, em permanente flutuação.
Sua flexibilidade é uma conseqüência dos múltiplos elos e anéis de
realimentação que mantêm o sistema num estado de equilíbrio
dinâmico. Nenhuma variável chega sozinha a um valor máximo; todas
as variáveis flutuam em torno do seu valor ótimo.
Literatura consultada
ALTIERE, M. Agroecologia. Rio de Janeiro, PTA/FASE, 1989.
CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas ciência para uma vida
sustentável. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora
Cultrix, 2002.
CHABOUSSOU, F. Plantas Doentes Pelo Uso de Agrotóxicos teoria
da trofobiose. Tradução de Maria José Guazzelli. Porto Alegre: Editora
L&PM, 1ª ed., 1987.
GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: Processos Ecológicos em
Agricultura Sustentável. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2ª ed.,
2001.
KHATOUNIAN, Carlos A. A Reconstrução Ecológica da Agricultura.
Botucatu: Agroecológica, 2001.
266
PASCHOAL, Adilson D. Produção Orgânica de Alimentos: agricultura
sustentável para o século XX e XI. Piracicaba: PCLQ/USP, 1ª edição,
1994.
PRIMAVESI, A. M. Manejo Ecológico do Solo: a agricultura em regiões
tropicais. São Paulo, Editora Nobel, 1ª edição, 1979.
REIJNTJES, Coen. Agricultura Para o Futuro: uma introdução a
agricultura sustentável e de baixo uso de insumos externos. Coen
Reijntjes, Bertus Haverkort, Ann Waters-Bayer. Tradução John Cunha
Comeford. Rio de Janeiro: AS-PTA/FASE, 1994.
267
FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E
PROMOÇÃO SOCIAL NO CAMPO
Joaquim Cardoso Filho
Existe um grande consenso, atual e moderno, sobre a
essencialidade da educação profissional para a modernização e o
desenvolvimento das atividades econômicas. Pois, experiências bem
sucedidas mostram que somente com a profissionalização e
atualização adequadas, das pessoas envolvidas no processo, é
possível se agregar valores econômico e social aos produtos e
serviços, continuadamente.
Se nos setores industrial e de serviços essa premissa é tão
verdadeira, é fácil perceber a sua importância para o setor agrícola,
onde as tecnologias requerem adaptações e ajustes às condições
físicas, ambientais, econômicas e sociais do local da produção. O
solo, o clima, a topografia, o relevo, a disponibilidade de recursos
financeiros, dinâmica econômica, o grau de escolaridade, a cultura e
muitas outras variáveis afetam as capacidades e possibilidades de
aperfeiçoamento dos métodos produtivos tradicionais e adoção de
novas técnicas. Logo, sem profissionalização a agropecuária não terá
qualquer oportunidade de progresso. Nestes termos, evidencia-se a
necessidade de estruturação e implementação de um adequado
Programa de Formação Profissional Rural - FPR e Promoção Social
Superintendente do SENAR-AR/BA
268
– PS no Campo, para que a agropecuária baiana possa maximizar
os seus benefícios, tão promissores, em função de tantas vantagens
comparativas encontradas no Estado da Bahia.
Entende-se por FPR um conjunto de ações que contemplam
conteúdos de conhecimentos e experiências, concernentes a
profissionalização dos trabalhadores e produtores rurais, visando,
principalmente, melhorar a qualidade e produtividade do trabalho. Já
a PS relaciona – se com a procura de melhor qualidade de vida dos
produtores e trabalhadores, envolvendo suas famílias, a perspectiva
de consciência crítica e participação na vida comunitária. São
normalmente, relacionadas com: Saúde; Alimentação e Nutrição;
Organização Comunitária; Cultura; Esporte e Lazer; Educação; entre
outras atividades.
Conceitualmente, a Formação Profissional Rural e a Promoção
Social no Campo são processos educativos, vinculados à realidade
do meio rural, destinados ao desenvolvimento do homem, como
cidadão e como trabalhador, numa perspectiva de crescimento e bem
estar social. Precisam atender exigências fundamentais, tais como:
ser democrático, adequar-se ao permanente processo de mudança
do mundo contemporâneo, vincular-se, diretamente, ao mercado de
trabalho, associar-se à informação e à orientação profissionais,
centrar-se em uma ocupação, adequar-se ao nível tecnológico da
ocupação, possuir identidades e características próprias, objetivos
profissionalizantes e conteúdos ocupacionais centrados no processo
de trabalho; resultar em ganhos para o trabalhador; implicar em
aumento da produtividade no trabalho; contemplar também como
conteúdos os relativos à preservação e conservação do meio
ambiente. Evidencia-se, então, que a FPR e PS devem assentar-se
em processo gradual, continuado e permanente de adaptação,
transformação e evolução das pessoas inseridas num contexto
socioeconômico – político – cultural. A FPR deve adequar-se à sua
natureza, sem que nunca possa ser dada como concluída ou esgotada.
Ao contrário, estará sempre sendo requerida, de forma mais
enriquecida e ajustada ao mercado de trabalho, com toda sua
269
dinâmica. Pois, é através da Educação Profissional que se pode
aprender, tornando – se diferente, ou seja, formando novos hábitos,
idéias, atitudes, preferências e destrezas, o que provoca novos modos
de pensar, agir e sentir, resultando em mudanças/transformação.
Igualmente evolutiva precisa ser a Promoção Social no Campo.
Para cada situação diagnosticada, retratando as reais
necessidades do público e do mercado de trabalho, deve
corresponder uma programação de Formação Profissional em termos
de qualificação, aperfeiçoamento, atualização e especialização.
Somente assim, é possível quantificar qualificar e temporizar,
adequadamente, a ação educadora.
Também, é fundamental que os alcances da Formação Profissional
Rural e da Promoção Social no campo sejam significativos,
abrangendo a maior parcela possível da população rural especialmente
a economicamente ativa, para que se possam alcançar impactos
econômicos e sociais expressivos.
Os dados, acima, destacam requisitos fundamentais para a
profissionalização dos produtores e trabalhadores rurais, envolvidos
na agropecuária e agroindústria baiana, tais como: conteúdos
ocupacionais e programáticos adequados e atualizados, continuidade
e permanência do processo educativo, carga horária e grau de
envolvimento dos beneficiários Isto evidência o imenso desafio, que
se encontra no Estado para que seja possível chegar a índices
aceitáveis de tais requisitos. Visto que ainda se tem muito que fazer
para o ajustes e adaptação de conteúdos ocupacionais e
programáticos às condições especificas da Bahia. Igualmente, há
muito que se realizar no oferecimento de treinamentos, com cargas
horárias adequadas, envolvendo números significativos de produtores
e trabalhadores rurais, em condições continuas e permanentes. Para
se ter uma ligeira idéia do tamanho dessas limitações vale destacar
que os treinamentos oferecidos aos produtores e trabalhadores rurais,
em todo o Estado, no ano de 2004, não atingiram a marca de 6.000,
nos quais, menos de 2.000 ultrapassam a carga horária de 08 horas.
No total de treinamentos foram envolvidas 108.000 pessoas. Destas,
270
3.000 participaram de novos eventos, a título de reforço, com vistas
ao aperfeiçoamento, atualização e especialização. Tais dados
mostram que seriam necessários 20 anos para que fosse possível
oferecer um único treinamento, insuficiente em todos os seus aspectos,
para atender a demanda de mais de dois milhões de pessoas, incluindo
produtores e trabalhadores rurais. Resulta a certeza que, nestas
condições, tais treinamentos não atingirão nenhum impacto, podendo
inclusive, provocarem ou estimularem contradições, conflitos e prejuízos.
A título de exemplo comparativo a média de carga horária exigida
pelo setor industrial para que um operário seja considerado preparado
é, em média, de 600 horas, não sendo considerado aceitável abaixo
de 400 horas.
Se comparados estes dados com o que se realiza nos setores
industrial e de serviço fica fácil perceber a ausência de compreensão
adequada da necessidade de profissionalização para o setor primário,
ou melhor, da essencialidade da agropecuária para o desenvolvimento
sustentado do Estado.
Vale salientar, que significativa quantidade de treinamentos
destinados aos setores secundário e terciário, são custeados com
recursos governamentais.
A formação Profissionalização Rural e Promoção Social no campo
é atribuída ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR,
com base na Lei nº 8.315, de 23/12/91.
Para desenvolver esta função o SENAR estabeleceu premissas
básicas que regem e norteiam suas ações, voltadas ao “Homem
Rural”, visando contribuir para sua profissionalização, sua integração
na sociedade, melhoria da sua qualidade vida e para seu pleno
exercício da cidadania. Seus princípios e diretrizes evidenciam o
homem no seu contexto funcional e familiar, inserido numa atividade
econômica que precisa adequar-se ao perfil educacional demandado
pelo mercado. Por principio, suas ações atendem as exigências
fundamentais, envolvidas na FPR, já explicitadas anteriormente.
A proposta do SENAR é promover a Formação Profissional Rural
e Promoção Social no Campo dos produtores e trabalhadores,
271
objetivando melhor desempenho nas suas ocupações e oferta de novas
oportunidades de ingresso no mercado de trabalho atual e futuro.
Assim, o seu trabalho tem como referencial a Estrutura Ocupacional
do Meio Rural, organizada por Linhas de Ação, Áreas Ocupacionais
e Ocupações. Para sistematização deste trabalho, envolvendo os três
setores da economia, estabeleceu-se, como marco orientador, 08
linhas de ação, compostas por 22 áreas ocupacionais, com a
identificação de 157 ocupações. Para cada uma dessas ocupações
são detalhados os objetivos e as condições à realização do trabalho,
as tarefas a serem seguidas pelo profissional, os mercados de
trabalho mais adequados ao seu exercício, as condições para seu
desempenho, estabelecendo-se os requisitos prévios aos treinandos.
A partir da análise criteriosa das reais necessidades do público e
do mercado de trabalho define-se a natureza do treinamento, que pode
ser qualificação, aperfeiçoamento, atualização e especialização. Na
qualificação propõe-se capacitar o individuo para o exercício de uma
ocupação nova. No aperfeiçoamento visa-se melhorar o desempenho
do trabalhador que já exerce a ocupação. Na atualização objetiva-se
oferecer novos conhecimentos e/ou habilidades. Na especialização
pretende-se aprofundar conhecimentos na área específica de uma
ocupação.
Para melhor compreender os conceitos acima, vale considerar
exemplos de: Setor da Economia, Linha de Ação, Área Ocupacional
e Ocupação, respectivamente, tais como: Primário, Agricultura,
Fruticultura e Trabalhador na Fruticultura Básica. Entre as 157
ocupações, listadas no âmbito Nacional, o SENAR – Bahia identificou
72 que ocorrem, com freqüência, no Estado entre as quais trabalha,
sistematicamente, com 47.
Os resultados obtidos pelo SENAR, no Estado da Bahia, no período
de 1999 a 2004, atingiram a marca de 14.001 cursos, sendo 11.739
de FPR e 2.262 de PS. Foram envolvidos 218.564 participantes,
aprovados e certificados. Tais resultados, constam na Tabela 1, com
detalhamento anual. A carga horária média dos cursos do SENAR
corresponde a 28 horas, oscilando entre 16 e 40 horas por curso.
272
Tabela 1 – Treinamentos e cursos realizados no Estado da Bahia – Período 1999 a
2004.
Além dos resultados acima merecem destaque 647 cursos,
destinados a complementação da Educação Profissional, constante
do Projeto especifico, baseado em metodologia e estratégias
FPRde 192 horas de PS
próprias e inéditas, que consiste no oferecimento
alfabetização, complementadas por Nº
40Eventos
horas de
Part.Formação
Nº Eventos
Profissional. A maior diferença desse
Projeto
é
que
as
turmas
são
1999
1.091
16.133
540
formadas por pessoas dedicadas2000
a uma mesma
ocupação,
o
que
1.932
29.125
711
enseja uma excepcional oportunidade
de
aplicação
do
Método
Paulo
2001
1.472
22.475
465
Freire. Nestes cursos foram alfabetizados quase 15.000
2002
2.513
38.066
235
trabalhadores rurais.
2003
2.366cursos
37.264
Vale ressaltar, ainda a ocorrência de 1.557
realizados 196
na
2004
2.365sobre37.908
Região Cacaueira da Bahia, exclusivamente,
o Controle 115
da
Vassoura de Bruxa do Cacaueiro, beneficiando
21.900
trabalhadores
11.739
180.971
2.262
rurais, conforme a Tabela 2.
Para execução de sua missão o SENAR conta com dotação
orçamentária, oriunda, proporcionalmente, da arrecadação do INSS,
decorrente dos recolhimentos específicos da agricultura e
agroindústria. Todavia, tais recursos se mostram insuficientes para o
atendimento das necessidades, conforme dados a analise, já
explicitados anteriormente. Mesmo, somando todos os recursos
273
Part.
9.302
11.57
7.491
3.506
3.653
2.021
37.54
Tabela 2 – Cursos e treinamentos realizados sobre Controle de
Vassoura de Bruxa do Cacaueiro – Período 1999 a 2004.
Nº Cursos
Nº de trabalhadores
1999
136
1.626
2000
285
3.826
2001
297
4.321
2002
318
4.554
2003
206
2.963
2004
315
4.611
Total
1.557
21.901
captados nos convênios e contratos, junto a Instituições
Governamentais e privadas, as disponibilidades do SENAR-AR/BA
mostram-se insignificantes para atendimentos de metas satisfatórias
na FPR e PS, no Estado.
Assim, vê-se claramente a necessidade urgente de revisão de
conceitos e decisões, com o objetivo de desenhar e implementar um
Programa de Profissionalização de Produtores e Trabalhadores
Rurais, com base em ações multi-institucionais integrais, envolvendo
Governos Estadual e Municipais, além do setor privado.
274
AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
Aurélio José Antunes de Carvalho
Atualmente estou engajado no Plano de Desenvolvimento
Sustentável do Município de Amargosa – BA, denominado PEGADAS.
Identificaram-se com este plano que as maiores demandas das
populações rurais são: energia elétrica, água encanada, estradas,
médico (saúde) e segurança. Somente após instigar acerca do que é
produzido nas roças e de como se processam os produtos é que
salta a demanda por assistência técnica rural. Tais demandas refletem
a busca por qualidade de vida centrada no atendimento de
necessidades básicas. Outro aspecto importante que, muitas vezes,
somente é externalizado após uma “prosa” mais prolongada é a falta
de lazer. Neste ponto surge muito a necessidade de campo de futebol
e a de construção de igrejas, identificado como marco de civilidade
de uma comunidade. Tal situação reflete a realidade da agricultura
familiar no Nordeste, que em geral é colocada como espaço residual
das políticas públicas, motivado principalmente pela identificação do
rural e da ruralidade como marco da pobreza e política clientelista
associada.
Portanto, pensar a agricultura familiar inserida no Desenvolvimento
Sustentável, conforme definição abaixo expressa, é, antes de tudo,
situar-se na lógica dos atores sociais presentes no campo e nos
movimentos que promovem uma nova ressignificação do homem e
da mulher do campo. Visualizá-los como elementos dotados de
inventividade, tecnologias e cultura próprias, sujeitos que planejam
alternativas de melhorias na qualidade de vida. Participando, portanto,
Engenheiro Agrônomo, MS em Ciências Agrárias, Assessor Técnico da Prefeitura
Municipal de Amargosa
275
de instâncias do controle social da coisa pública, a fim de sejam
estendidas ao meio rural uma infra-estrutura que o Estado tem o
compromisso de oferecer, mas que somente será efetivada se seus
atores principais (os agricultores e agricultoras) ousarem participar
enquanto protagonista da agricultura familiar.
Por sua vez, há um sem número de definições para Desenvolvimento
Sustentável (DS). No entanto, o que nos interessa é que, em seu bojo,
garanta desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental, que
seja capaz de assegurar a divisão da riqueza produzida pelo homem,
bem como estabeleça nas suas bases um ambiente sadio para
usufruto das gerações presentes e futuras.
Guilherme Dias, professor da USP, divide a agricultura em duas: a
Patronal e a Familiar. Esta última tem pontos de interseção com o
D.S. muito maiores, uma vez que a segunda se processa com maior
eficiência energética, menor demanda de insumos externos, maior
diversificação inter e intra-específica dos cultivos produzidos, maior
empregabilidade, sem contar que normalmente as maiores
concentrações de agricultores familiares estão localizados em áreas
de menor fertilidade natural dos solos.
A partir dos anos 90, ganha força o tema multifuncionalidade da
agricultura que, segundo Maluf (2003), é tomada como um “novo olhar”
sobre a agricultura familiar que pretende analisar a interação entre
famílias rurais e territórios na dinâmica de reprodução social,
considerando os modos de vida das famílias na sua integralidade e
não apenas seus componentes econômicos. Sob esta abordagem
a agricultura familiar amplia seus horizontes, ganha uma resignificância
e re-significação, pois incorpora seu papel social. Adquire-se um
reconhecimento institucional da importância socioeconômica e política
das unidades de produção agrícola não-regidas pelo modelo
produtivista, na direção, portanto, de um modelo de desenvolvimento
econômico e social mais amplo.
Por sua vez, a agricultura patronal, baseada nos moldes da
modernização conservadora, calcada no trinômio: crédito –
mecanização – agroquímicos, além da exclusão social, promove um
276
passivo ambiental do desflorestamento de grandes áreas, perda de
solo, redução da biodiversidade, poluição e redução do volume de
corpos d’água. Sem falar que a sociedade brasileira tem arcado com
o enorme custo para sustentar este sistema, que inclui sucessivas
anistias de dívidas. Apenas dez multinacionais do setor receberam
R$ 4,35 bilhões do Banco do Brasil em 2003, enquanto que o Plano
de Safra de 2003-2004 prevê o repasse de 4,5 bilhões para toda
agricultura familiar, que conta com 3,7 milhões de estabelecimentos,
segundo César Benjamin.
Por seu turno, a agricultura familiar é capaz de contribuir ou mesmo
se constituir num componente de projeto nacional de desenvolvimento
sustentável. Pesquisas realizadas por Maluf et al (2003) destacam
quatro expressões da multifuncionalidade da agricultura familiar que
confirma a assertiva exposta acima:
1. Garante reprodução socioeconômica das famílias rurais;
2. Promove a segurança alimentar das próprias famílias e da
sociedade;
3. Mantém o tecido social e cultural;
4. Preservação dos recursos naturais e da paisagem rural.
Esta tendência de agricultura familiar é acrescida de novos espaços
que os atores sociais promotores da Agricultura familiar tem
conquistado, mesmo que ainda de forma tênue. Pode-se exemplificar:
1. participação cidadã nos Conselhos nas diversas instâncias,
sendo os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural
Sustentáveis, um lócus de ação bastante rico;
2. a formulação da proposta da educação básica no campo, como
forma de construir uma pedagogia engajada, focada na formação de
uma identidade positiva da ruralidade, referenciando-se ao campo
como local digno e de qualidade de vida.
Neste contexto, a superação da identidade rural negativa há de
ser conquistada, focando precipuamente no jovem e na criança. Assim,
a resolução 001/2002 do Conselho Nacional de Educação aponta
para uma educação do campo, enquanto Política da Educação
Nacional, estando inserido na luta pela desconstrução de um
277
imaginário depreciativo dos povos do campo, norteando um projeto
sustentável para a agricultura familiar, por meio da valorização da
cultura do povo da roça. Entende-se por roça não apenas espaço de
plantio ou modo desmerecedor, mas revestir o sentido da palavra roça
enquanto como habitat, como local onde pessoas que vivem no campo
relacionam entre si e o ambiente, como constróem suas estratégia,
suas tecnologias que garantem a sobrevivência das pessoas e
convivência com as condições locais.
Porquanto, várias são as trincheiras de luta da construção de uma
agricultura familiar que seja capaz de superar a pobreza rural,
alicerçada com bases agroecológicas de produção e que influam nas
políticas públicas de modo mais impactante e que sejam capazes de
alcançar o Desenvolvimento Sustentável.
Neste aspecto, salienta-se a importância de os técnicos que atuam
no meio rural em órgãos públicos ou ONGs, em Universidades e
órgãos oficiais de pesquisa e extensão somarem forças e orientarem
suas ações no apoio ao projeto sustentável de desenvolvimento da
agricultura familiar. Afinal, é esta agricultura responsável pela geração
de empregos e comida, pela fixação do homem no campo e pela
produção de uma cultura rica que produz tecnologias próprias, as quais
carecem de aprimoramento.
Literatura consultada
Maluf, R. S. (orgs.). Para além da produção: multifuncionalidade e
agricultura familiar. R. Janeiro, Ed. Mauad, 2003.
BENJAMIN, César. A Questão agrária no Brasil: Das Sesmarias ao
Agronegócio. SEAGRO/SC. Florianópolis/SC, 2004
BRASIL, Educação básica do campo. Resolução 001/2002 – Câmara
de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. Brasília –
DF, 2002.
278
TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE
AGROQUÍMICOS
Antonio Zózimo de Matos Costa1
José Louis Pereira1
Jackson de Oliveira César3
Luis Carlos Lima1
Juarez Duarte dos Santos2
Tecnologia de aplicação de agroquímicos é o emprego de todos
os conhecimentos científicos que proporcionem a correta colocação
do produto biologicamente ativo no alvo, em quantidade necessária,
de forma econômica, com o mínimo de contaminação ambiental.
Os agroquímicos devem exercer a sua ação sobre um determinado
organismo que se deseja controlar. Quer seja ele um inseto, uma planta
daninha, um fungo ou uma bactéria.
O sucesso de um programa de tratamento fitossanitário, na
agricultura, depende fundamentalmente de produto de eficiência
comprovada e de uma tecnologia desenvolvida para a sua aplicação,
ficando ainda condicionado ao momento de realização e à influência
dos fatores meteorológicos, biológicos e agronômicos incontroláveis.
A utilização de agroquímicos é influenciada por vários fatores, dentre
eles destacam-se o clima, o hospedeiro, o alvo biológico, o ingrediente
ativo e o veiculo utilizado no produto. O clima tem um grande efeito
Pesquisadores CEPLAC/CEPEC/SEFIT1, Professor EMARC/URUÇUCA2, Pesquisador
EBDA3
279
tanto sobre a ocorrência de pragas e doenças como também na
eficiência obtida após a aplicação de um determinado produto. É
aconselhável que as pulverizações com agroquímicos sejam
realizadas nas horas mais frescas do dia, a fim de evitar a evaporação
rápida do produto aplicado. Também, consegue-se aplicações mais
eficientes com velocidade de vento inferior a 2,0 m/seg. Na prática,
velocidade entre 2,0 e 3,1 m/seg. as folhas das árvores são
ligeiramente agitadas. Deve-se interromper a pulverização quando o
valor da velocidade ultrapassar 3,0 m/seg (Matuo,1990).
Segundo os modernos conceitos de aplicação de agroquímicos,
quatro são os pontos a serem considerados, como fundamentais, para
se obter pleno êxito na preservação das colheitas, mediante a
neutralização do ataque de pragas e patógenos e anulando-se a
competição por parte das plantas invasoras:
Timing: O chamado timing (ou momento oportuno) consiste na
ocasião ideal para a aplicação de um agroquímico. Não implica em
qualquer custo adicional, a observação do timing possibilita a ação
do produto na oportunidade em que o agente biológico lhe esteja mais
vulnerável - e quando os custos dos danos causados seria igual ou
maior que o do tratamento.
Cobertura: Para obtenção do máximo efeito biológico sobre o
agente causador dos danos, é necessário que o equipamento de
pulverização esteja muito bem ajustado, de forma a proporcionar uma
cobertura mínima e uniforme do alvo (solo ou superfícies foliares)
objetivado.
Dose: Fator indispensável na aplicação de qualquer agroquímico,
a manutenção da dose certa em todo o processo, assegura economia:
a dose excessiva, além de provocar danos à cultura pela
fitotoxicidade, naturalmente eleva os custos. A dose correta assegura
a maior eficiência no controle, inclusive com a garantia de efeito
residual previsto, o que não se obtém quando das aplicações em
subdoses.
Segurança: Durante a aplicação de um agroquímico, qualquer que
seja sua classe toxicológica, todas as precauções devem ser tomadas
280
para que não haja contaminação do operador, cuidando-se para que
o meio ambiente (mananciais, fauna e flora) seja preservado de
qualquer agressão.
A forma de aplicação de agroquímicos mais utilizada nas culturas
é a líquida. Nesse tipo de aplicação, o tamanho da gota é um dos
mais importantes fatores para a eficácia do controle. O tamanho da
gota aplicada é diretamente relacionado à penetração do produto, à
uniformidade de distribuição e à efetividade de deposição (Alonso,
1998).
A água é o diluente mais comum nas aplicações por via líquida.
Entretanto, apresenta duas fortes limitações:
Tensão superficial – a água apresenta alta tensão superficial.
Isso faz com que a gota depositada numa superfície permaneça
esférica, fazendo com que tenha pouca superfície de contato. Para
neutralizar o efeito da tensão superficial, adiciona-se um agente
tensoativo ou sufactante, para a gota se espalhar facilmente na
superfície, molhando mais a área. Algumas formulações já apresentam
agentes molhantes, emulsionantes incorporados, porém na sua
ausência torna-se necessária a adição de agentes tensoativos,
conhecidos como espalhantes adesivos, para melhorar a perfomace
da aplicação.
Evaporação – a superfície do líquido é enormemente
aumentada quando fragmentada em pequenas gotas. A água é um
líquido volátil e pode se evaporar no trajeto entre o pulverizador e o
alvo visado.
Em dias de alta temperatura o fenômeno da evaporação das gotas
de pulverização é bastante problemático, agravando-se principalmente
nos dias secos. As aplicações com gotas médias a pequenas, muitas
vezes não chegam a atingir o alvo, evaporando antes.
Na aplicação de agroquímicos por via líquida, o tamanho da gota é
um dos mais importantes fatores para a eficácia do controle. O
tamanho da gota aplicada é diretamente relacionado à penetração
do produto, à uniformidade de distribuição e à efetividade da
deposição.
281
O bico é a peça final do pulverizador e tem por função formar gotas.
Na maioria das vezes, a vazão do pulverizador é estabelecida pela
vazão do bico (ou pela somatória das vazões dos bicos, quando
existirem vários). Assim, além de ser responsável pela qualidade das
gotas formadas, é também uma peça chave na vazão do equipamento.
Os principais bicos utilizados são: o bico cone, que trabalha com altas
pressões 150 a 300 lbf², e forma gotas de 50 µm a 300µm, sendo, de
modo geral usado principalmente na aplicação de fungicidas,
inseticidas e adubos foliares. Já o bico leque trabalha com pressões
menores, 30 a 60 lbf pol², gerando gotas de 300 a 500 µm, sendo
recomendado para aplicação de herbicidas (Alonso, 1998; Matuo,
1990).
Volume de Aplicação
A tendência atual é reduzir o volume de líquido aplicado, o que leva
a necessidade de gotas menores para melhor cobertura. Resultados
de estudos mais recentes tem demonstrado que partículas em torno
de 80 a 100 micra favorecem o mais alto índice de uniformidade de
deposição, para a maioria das velocidades do ar.
A pulverização a baixo volume utiliza um volume médio da ordem
de 60 micra. Ressalta-se que pouca ou nenhuma deposição é feita
com partículas menores que 30 micra. Por outro lado, gotas muito
grandes acarretam desperdício de agroquímico, os quais são
depositados em excesso nas superfícies externas das plantas, não
atingindo os pontos internos da copa (alvos). A redução do volume de
líquidos leva à necessidade de uma tecnologia mais apurada, tanto
da parte do construtor do equipamento, quanto da parte do técnico
em aplicação.
Na aplicação via líquida, é usual classificar o produto em função do
volume de calda aplicado por hectare.
Nas tabelas 1 e 2, são apresentadas as diferentes classes de
aplicação via líquida, segundo alguns autores.
282
Tabela 1 – Categoria de aplicação via líquida segundo ASAE (Standard
S 327/1974), adaptado para sistema métrico.
Designações
Volume (litro/hectare)
Ultra – ultra baixo volume (U – UBV)
Ultra – ultra baixo volume (U – UBV)
Ultra baixo volume (UBV)
Baixo volume (BV)
Médio volume (MV)
Alto volume (AV)
< 0,5
< 0,5
0,5 – 5
5 – 50
50 – 500
> 500
Tabela 2 – Categoria de aplicação via líquida segundo MATTHEWS (1979)
Designação
Volume (litro/hectare)
culturas de campo
Volume alto
Volume médio
Volume baixo
Volume muito baixo
Volume ultra - baixo
> 600
200 - 600
50 - 200
5-5
<5
culturas arbóreas
> 1000 volume
500 - 1000
200 - 500
50 - 200
< 50
Vê-se que não há concordância nos limites de classes entre
propostas. Entretanto, a proposta de MATTHEWS, é a que parece
reunir maior número de adeptos.
Atualmente existe um consenso entre os principais pesquisadores
que a denominação “volume alto” seja dada à aplicação feita até além
da capacidade de retenção das folhas, de tal modo que haja
escorrimento. Nesse tipo de aplicação, o depósito de produto químico
é proporcional à concentração da calda utilizada e independente do
volume. Portanto, a indicação de dosagem para cada modalidade de
alto volume ou mais corretamente volume alto, é mencionada via
concentração. Por exemplo: 300 gr/100 litros de água ou 0,3%.
Em contrapartida ao volume alto, o volume ultrabaixo ou ultrabaixo
volume é hoje definido como volume o volume mínimo por unidade de
área para alcançar um controle, independentemente de um limite.
É importante saber que o volume de aplicação L/ha não tem
influência direta no resultado biológico, pois a quantidade de veículo
283
de aplicação – água, óleo, etc... por unidade de área tem finalidade
única de diluir, transportar e facilitar a distribuição do ingrediente ativo
sobre a superfície alvo (solo, plantas), com a cobertura requerida.
A água e seus efeitos sobre os agroquímicos
É muito comum o atendimento de reclamações de que os
tratamentos não apresentaram o resultado esperado, sendo provável
que na maioria das vezes são casos em que as águas utilizadas
contêm minerais (sais), que concorrem com os produtos,
comprometendo a eficácia destes.
PH
O que é?
O ph é uma medida de acidez ou de alcalinidade de uma solução
numa escala que vai de 0 a 14.
Como se mede?
O valor do pH vai depender da concentração relativa dos íons
hidrogênio e hidroxilas que possui a solução. A presença de mais
quantidade relativa de íons hidrogênio vai resultar em uma solução
com reação ácida, e no caso de mais íons hidroxilas darão como
resultado uma reação alcalina.
Portanto, uma solução com pH menor de que 7 é ácida, igual a 7
é neutra e maior que 7 é alcalina. Estas leituras são obtidas através
de pH gametro, papel tornassol, kit de reação.
Problemas que a água pode causar.
Por exemplo: uma cipermetrina dissolvida em água com pH 9,0
perde em 2 horas 55% do seu princípio ativo e em 24 horas 90%.
Sendo o principal problema o que se denomina de hidrólise alcalina,
que é uma reação química, que ocorre quando temos uma solução
alcalina onde os grupos de hidroxilas combinam-se com os principios
ativos, os quais perderão o seu poder de ação.
284
Tabela de insumos e pH ideais
Dureza da água
O que é?
É a quantidade de Carbonato de Cálcio (CaCO3) dissolvido na
água, classifica-se como:
ppm de CaCO3
0 - 15
15 - 50
50 - 100
100 - 200
>200
Classificação
Muito branda
Branda
Ligeiramente dura
Dura
Muito dura
Estes íons que podem causar incompatibilidade quando se usar
misturas de diferentes produtos no tanque de pulverização.
Ions
Poder desativador do
glifosate
Muito severo
Severo
Moderado
Nenhum
Ferro (Fé+++) e Alumínio (Al+++)
Cálcio (Ca++) e Zinco (Zn++)
Magnésio (Mg++)
Potássio (K+)
Em vários estudos realizados demonstrou-se que a absorção do
glifosate máxima se dá em pH 3,2 decrescendo a pH 5,0.
Porém, a atividade do glifosate vai depender mais da qualidade
de água do que do pH. A dureza da água é a principal razão da
desativação do glifosate e não precisamente o pH.
Como se mede?
Para determinar a dureza da água é necessário que se faça
análise da dureza cálcica em laboratório.
Quando um glifosate é acrescentado a um tanque de água, vaise dissociar nos seus componentes iônicos em equilíbrio com os
outros íons.
285
Se o produtor conhecer a dureza da água, poderá calcular a
percentagem de glifosate que vai inativar-se por ação do cálcio,
utilizando a seguinte fórmula:
VAHA X DUREZA Ca X 0,00047 = % COMPLEXADO
DOSE DE GLIFOSATE
Onde:
VAHA: Volume de água em litros por hectare.
DUREZA Ca: Dureza da água baseando no cálcio em ppm,
geralmente as análises de laboratório dão resultados em ppm de
CaCO3, por isso faz-se necessário fazer uma transformação (ppm
Ca para ppm de CaCO3) exemplo: 817,50 ppm de CaCO divide-se
por 2,5 igual a 327 ppm de Ca.
DOSE DE GLIFOSATE: ingrediente ativo em quilogramas por
hectare.
Cálculo da Inativação
a) dose de ativo: 1 kg/ha –1(2,08 L/ha –1)
volume: 130 L/ha –1
dureza: 327 ppm Ca
130 X 327 x 0,00047 = 19,97%
1
Perda de 19,97%, ou seja 20% do glifosate será inutilizado,
portanto deverá ser aumentada a dosagem em 20% para 1.2 kg de
sal ha – 1 (2,5 L/ha – 1)
286
Sugestões:
Analisar a água em termos de dureza cálcica e medir o pH;
Reduzir o volume de calda, sem prejudicar a cobertura;
Acondicionar a água, e o uso de produtos específicos para
seqüestrar cátions e reduzir o pH para valores ideais;
Não preparar a calda de pulverização antecipada.
Argila em suspensão
Outro aspecto a ser considerado é a limpeza da água que será
utilizada na calda de pulverização. A água deve ser limpa, livre de
matéria orgânica (água estancada) e argila. Tanto a terra quanto à
matéria orgânica irão reagir com glifosate e o desativará, pelo qual
haverá menor quantidade de principio ativo livre para ser absorvido
pelas plantas que se deseja controlar.
Cuidados durante o preparo e aplicação dos produtos fitossanitários
√ Evitar a contaminação ambiental - preservar a natureza;
√ Utilizar equipamento de proteção individual - EPI (macacão de
PVC, luvas e botas de borracha, óculos protetores e máscara contra
eventuais vapores). Em caso de contaminação substituí-los
imediatamente.
√ Não trabalhar sozinho quando manusear produtos tóxicos.
√ Não permitir a presença de crianças e pessoas estranhas ao
local de trabalho;
√ Preparar o produto em local fresco e ventilado, nunca ficando
a frente do vento;
√ Ler atentamente e seguir as instruções e recomendações
indicadas no rótulo dos produtos;
√ Evitar inalação, respingo e contato com os produtos;
√ Não beber, comer ou fumar durante o manuseio e a aplicação
dos tratamentos;
√ Preparar somente a quantidade de calda necessária à
aplicação a ser consumida numa mesma jornada de trabalho;
√ Aplicar sempre as doses recomendadas:
287
√ Evitar pulverizar nas horas quentes do dia, contra o vento e em
dias de vento forte ou chuvosos;
√ Não aplicar produtos próximos à fonte de água, riachos, lagos, etc;
√ Não desentupir bicos, orifícios, válvulas, tubulações com a boca;
√ Guardar os produtos em embalagens bem fechadas, em locais
seguros, fora do alcance de crianças e animais domésticos e
afastados de alimentos ou ração animal.
√ Mantenha o produto em sua embalagem original;
√ Não reutilize embalagens vazias.
Cuidados com embalagens de agroquímicos
É imprescindível fazer a tríplice lavagem e a inutilização das
embalagens, após a utilização dos produtos, não permitindo que
possam ser utilizadas para outros fins. É necessário observar a
legislação para o descarte de embalagens. As embalagens, após
tríplice lavagem, devem ser destinadas a uma central de recolhimento
para reciclagem.
Identificação e correção de possíveis defeitos
I – Dificuldade para o funcionamento
VERIFICAR
CAUSAS
Registro de combustível
Fechado
Alavanca do acelerador
Na posição 0
Tanque de combustível
Vazio
Combustível
Má qualidade
Mistura incorreta de gasolina e óleo
Carburador
Filtro de ar obstruído
Motor afogado
Tubulação de combustível obstruída
Filtro de gasolina sujo
Agulha da bóia emperrada ou mal ajustada
288
Continuação
Falha elétrica na ignição
Vela úmida ou suja
Carbonização no eletrodo da vela
Magneto isolado por água, óleo, etc.
Falha mecânica na ignição
Cabo de ignição quebrado
Terminal solto
Calibração incorreta do eletrodo da vela
Falta de compressão
Cilindro seco
Vazamento pelas juntas do bloco ou retentores
Vela solta
Anéis, pistão ou cilindros com desgaste
Motor travado
Anéis quebrados e presos nas canaletas
Cilindro escoriado
Pistão escoriado
II – Instabilidade de rotação
VERIFICAR
Carburador
CAUSAS
Afogado
Agulha da bóia e aceleração mal ajustadas
Gicleur parcialmente obstruído
III – Falta de rotação (motor falhando)
VERIFICAR
Gasolina
CAUSAS
Água na gasolina
Impurezas
Mistura incorreta de gasolina e óleo
Carburador
Impurezas no carburador
Tubulação de combustível parcialmente obstruída
Tampa do tanque com respiro obstruído
Sistema de ignição
Abertura do eletrodo da vela incorreta
Cabo de vela rompido ou terminal danificado
Cabo de ignição solto
Escapamento
Obstruído
289
IV – Ruídos internos
VERIFICAR
Carbonização
Sistema mecânico
CAUSAS
Gasolina com baixa octanagem
Acúmulo de resíduos na cabeça do pistão (carvão)
Desgaste no colo da biela
Rolamentos gastos
Anéis do pistão folgados
Anéis rompidos
Ventilador solto
Volante do magneto solto
Corpo estranho no magneto
V – Super aquecimento
VERIFICAR
Lubrificação
Mecânica
CAUSAS
Mistura incorreta de óleo e gasolina
Óleo não recomendado
Canalizador de ar obstruído
Aletas de refrigeração rompidas
Aletas obstruídas
Carvão na câmara de combustão
Excesso de rotação (acima de 7.000 rpm)
Literatura consultada
ALONSO, A. dos S. Equipamentos e tecnologia de aplicação de
defensivos. In.: MEDEIROS, C. A. B.; RASEIRA, M. do C. B. A cultura
do pessegueiro. Brasília: Embrapa - SPI, 1998. p. 296-317.
MATUO, T. Técnicas de aplicação de defensivos. Jaboticabal: Funep,
1990. 139 p.
SISTEMAS AGROFLORESTAIS COMO USO
SUSTENTÁVEL DOS SOLOS: CONCEITO E
CLASSIFICAÇÃO
Manfred Willy Muller
Os Sistemas Agroflorestais (SAF’s) são reconhecidamente
modelos de exploração de solos que mais se aproximam
ecologicamente da floresta natural e, por isso, considerados como
importante alternativa de uso sustentado do ecossistema tropical
úmido (Almeida, Müller e Sena-Gomes, 2002; Brandy et al., 1994;
Canto et al., 1992; Huxley, 1983; Nair, 1993; Müller, Sena-Gomes e
Almeida, 2002). A importância da utilização de Sistemas Agroflorestais
fica mais evidente, quando constatamos a existência de extensas
áreas improdutivas em conseqüência da degradação resultante,
principalmente, da prática do cultivo itinerante, reconhecidamente uma
modalidade de exploração não sustentável dos solos. A pecuarização
é outra realidade na exploração de terras no Brasil sendo, em geral,
uma atividade resultante da implantação de grandes projetos,
principalmente na Amazônia, mas não somente naquela região, a qual
promove a elevação do índice de desemprego e representa grande
risco de degradação ambiental.
Eng° Agro., Ph.D., Ceplac/Cepec/Esomi. E-mail: [email protected]
291
Existe atualmente na literatura uma grande variedade de termos
empregados para conceituar práticas que combinam espécies
florestais com culturas agrícolas e/ou com a pecuária. Também há
uma grande confusão no uso da terminologia agroflorestal no Brasil.
Muitos confundem sistemas agroflorestais com consorciação de
cultivos. Resumidamente pode-se dizer que todo SAF é uma
consorciação de cultivos, contudo o inverso nem sempre é verdadeiro.
Na verdade Agrofloresta é um termo novo para uma prática bastante
antiga já utilizada pelos indígenas. King e Chandler (1978)
conceituaram os SAF’s como sendo os “Sistemas sustentáveis de
uso da terra que combinam, de maneira simultânea ou em seqüência,
a produção de cultivos agrícolas com plantações de árvores frutíferas
ou florestais e/ou animais, utilizando a mesma unidade de terra e
aplicando técnicas de manejo que são compatíveis com as práticas
culturais da população local”. Este conceito talvez seja o mais
adequado para caracterizar os SAF’s porque faz alusão ao fator
sustentabilidade, adotabilidade e, também, a classificação temporal
dos sistemas agroflorestais. Esta definição implica que: a) SAF envolve
normalmente duas ou mais espécies de plantas (ou plantas e animais),
onde pelo menos uma delas é lenhosa; b) SAF tem sempre dois ou
mais produtos e; c) mesmo o mais simples SAF é sempre mais
complexo, ecologicamente (na sua estrutura e função) e
economicamente, do que os sistemas de monocultivos (Nair, 1993).
Existem muitas classificações dos sistemas agroflorestais (Nair,
1993; Dubois et al., 1997; Montagnini at al., 1992). Baseada nos
aspectos estruturais, funcionais, sócio-econômicos e ecológicos os
SAFs podem-se classificar em:
1. Quanto ao aspecto estrutural: a. considerando a natureza dos
componentes: Sistemas Silviagrícolas, Sistemas Silvipastoris,
Sistemas Agrossilvipastoris. À parte “florestal” da palavra agroflorestal
não quer dizer que a espécie arbórea do sistema deva ser uma espécie
da floresta ou uma espécie madeireira. Na Amazônia, por exemplo,
muitos desses sistemas têm apenas árvores frutíferas e cultivos
perenes. b. considerando o arranjo dos componentes: quanto ao
arranjo espacial podem ser Sistemas Contínuos, Sistemas Zonais e
292
Sistemas Mistos; quanto ao arranjo temporal temos Sistemas
Seqüenciais e Sistemas Simultâneos.
2. Quanto a sua função: a. Sistemas Agroflorestais de Produção
e; b. Sistemas agroflorestais de proteção.
3. Quanto ao aspecto sócio-econômico: a. Sistemas
Agroflorestais Comerciais; b. Sistemas Agroflorestais Intermediários
e; c. Sistemas Agroflorestais de Subsistência.
4. Quanto aos aspectos ecológicos: a. considerando a
localização geográfica (Saf trópicos úmidos, Saf planalto central, etc.);
b. considerando a situação topográfica (Saf terra firme, Saf várzea,
etc.) e; c. considerando o cultivo econômico (Saf seringueira, Saf
cacau, Saf dendê, etc.).
A sustentabilidade é uma característica inerente aos sistemas
agroflorestais, pois estão alicerçados em princípios básicos que
envolvem aspectos ecológicos, econômicos e sociais. Todo método
ou sistema de uso da terra somente será sustentável se for capaz de
manter o seu potencial produtivo também para gerações futuras. Além
disso, os SAF’s para serem considerados sustentáveis devem
envolver os aspectos sociais, econômicos e ecológicos, isto é
necessitam que sejam socialmente justos, economicamente viáveis
e ecologicamente corretos.
Função social: Os SAF’s quando implantados em um determinado
local ou região, possuem uma importante função social, a de fixação
do homem ao campo devido principalmente ao aumento da demanda
de mão-de-obra e sem sazonalidade, ou seja, a sua distribuição é
mais uniforme durante o ano (os tratos culturais e colheita ocorrem
em épocas diferentes), e da melhoria das condições de vida,
promovida pela diversidade de produção (produtos agrícolas, florestais
e animais). A conservação das espécies arbóreas medicinais e
frutíferas, também é uma importante função social dos SAF’s (Müller
et al., 2003 e 2003).
Os sistemas agroflorestais, quando comparados aos monocultivos,
geralmente produzem maior número de serviços e produtos para o
consumo humano tendo em vista, principalmente, a utilização de
293
grande diversidade de espécies florestais arbóreas e arbustivas, e
pelas diferentes alternativas de consorciação com espécies agrícolas
e/ou animais, em uma mesma área de terra.
Função econômica: A alternância da produção ao longo do ano
e a diversificação de produtos conferem aos SAF’s fluxo de caixa
mais favorável, principalmente pelas receitas obtidas com os cultivos
intercalares de ciclo curto; maiores lucros por unidade de área cultivada
e maior estabilidade econômica pela redução dos riscos e incertezas
de mercado. Neste caso, a escolha das espécies utilizadas nos SAF’s
deve apoiar-se em um estudo de mercado para detectar os produtos
de maior aceitação e venda em determinadas épocas do ano.
Os sistemas agroflorestais, pela diversidade de culturas
necessitando para o seu manejo uma gama variada de mão-de-obra
e, também, pelo fato de a maioria das culturas perenes utilizadas
serem produtoras de matéria prima (madeira, látex, resinas, gomas,
corantes, etc.) ou de alimentos (óleos, palmito, frutas, etc.), que podem
demandar industrialização imediata, geram maiores oportunidades
de emprego no meio rural.
Função ecológica: A característica mais importante dos SAF’s
parece ser a estabilidade ou sustentabilidade ecológica. Esta
sustentabilidade resulta da diversidade biológica promovida pela
presença de diferentes espécies vegetais e/ou animais, que exploram
nichos diversificados dentro do sistema. A multiestratificação diferenciada
de grande diversidade de espécies de múltiplos usos, que exploram os
diferentes perfis verticais e horizontais da paisagem nos SAF’s, otimizam
o máximo aproveitamento da energia solar (Macedo, 2000).
Como importância ambiental dos SAF’s pode ser citada: proteção
contra erosão e degradação dos solos, conservação dos
remanescentes florestais, conservação das espécies arbóreas de
valor ecológico (proteção e alimentação à fauna, espécies endêmicas
e espécies em extinção), conservação de nascentes e cursos d’água,
substituição das matas ciliares mantendo a função de proteção e,
atuação de corredores ecológicos interligando fragmentos florestais
(Müller et al., 2002 e 2003).
294
Uma das vantagens mais conhecidas da agrofloresta é o seu
potencial para conservar o solo e manter sua fertilidade e
produtividade. As espécies arbóreas, normalmente por possuírem
raízes mais longas que exploram maior volume de solo, são capazes
de absorverem nutrientes e água que os cultivos agrícolas não
conseguiriam, uma vez que, geralmente, suas raízes absorventes estão
concentradas na camada superior do solo até 20 cm de profundidade.
O dossel de copas formado pela diversidade de espécies vegetais
proporciona cobertura de solo através da deposição de camada densa
de material orgânico, gerada continuamente pela queda de folhas e
ramos das diferentes culturas. Isso aumenta a proteção do solo contra
a erosão, diminui o escorrimento superficial da água de chuva
aumentando o seu tempo de infiltração, reduz a temperatura do solo,
aumenta a quantidade de matéria orgânica e, conseqüentemente,
melhora as suas propriedades químicas, físicas e biológicas.
A Tabela 1 demonstra a importância dos SAFs na função de
proteção contra perda de solo por erosão. Os dados são
provenientes de quatro tipos de cobertura do solo durante a
exploração da terra (sem cobertura, cultivo intensivo - mandioca e
milho -, cultivos perenes - SAFs - e floresta nativa) em um Ultisol
com 7% de declividade na Costa do Marfim. Observa-se que a perda
de solo nos cultivos perenes é baixa e praticamente igual à floresta
nativa (Tabela 1).
Tabela 1. Perdas de solo por erosão em Ultisol com 7% de declividade na
Costa do Marfim.
Cobertura
Erosão (t/ha/ano)
Solo exposto (sem vegetação)
Cultivo de milho
Cultivo de mandioca
Cultivos perenes* (SAFs)
Floresta nativa
125
92
32
0,3
0,1
Fonte: Ollagnier et al. (1978).
295
Isto é particularmente relevante nos trópicos onde os solos são, em
geral, mais pobres e menos produtivos, comparados aos de zona
temperada. A tabela 2 mostra a distribuição dos principais grupos de
solos nos três continentes tropicais. Os oxisols e ultisols, que predominam
nos solos dos trópicos úmidos, constituindo, em média, 41% dos solos
tropicais e chegando a representar 55% dos solos tropicais do continente
americano, são solos altamente lixiviados, possuem baixo teor de bases
trocáveis, baixa reserva de nutriente, alto teor de alumínio e baixa
disponibilidade de fósforo (Sanchez, 1976). Os solos de moderada a
alta fertilidade (Alfisols, Vertisols, Mollisols e Andisols) constituem,
em média, somente 23% dos solos tropicais (Tabela 2).
Tabela 2. Distribuição geográfica das ordens de solo nos trópicos, baseado nos
solos dominantes do mapeamento da FAO na escala de 1:5 milhões.
Solos
Oxisols
Ultisols
Entisols
Inceptisols
Andisols
Alfisols
Vertisols
Aridisols
Mollisols
Histosols
Spodosols
Total
América tropical
1
%
Área
África tropical
1
Área
%
Ásia tropical
1
Área
%
Total
1
Área
%
502
320
124
204
31
183
20
30
65
4
10
33,6
21,4
8,3
13,7
2,1
12,3
1,3
2,0
4,4
0,2
0,7
316
135
282
156
1
198
46
1
0
5
3
27,6
11,8
24,7
13,7
0,1
17,3
4,0
0,1
0
0,4
0,3
15
294
168
172
11
178
97
56
9
27
7
1,4
28,4
16,2
16,6
1,1
17,4
9,3
5,4
0,9
2,6
0,7
833
749
574
532
43
559
163
87
74
36
20
22,7
20,4
15,7
14,5
1,2
15,2
4,4
2,4
2,0
1,0
0,5
1.493
100,0
1.143
100,0
1.034
100,0
3.670
100,0
1 Área em ha x 106
Fonte: Szott at al., (1991).
Os supostos efeitos (benéficos e adversos) das árvores nos
sistemas agroflorestais são (Nair, 1993):
Efeitos benéficos
1. Adição ao solo
Manutenção ou aumento da matéria orgânica
296
Fixação de nitrogênio
Absorção de nutrientes (reciclagem de nutrientes)
Deposição atmosférica de nutrientes
Exsudação de substâncias promotoras de crescimento na
rizosfera
2. Redução de perdas pelo solo
Proteção contra erosão
Recuperação de nutrientes (reciclagem de nutrientes)
3. Efeito sobre propriedades físicas do solo
Modificação de temperaturas extremas do solo
4. Efeito sobre propriedades químicas do solo
Redução da acidez
Redução da salinidade
Redução da perda de MO do solo por oxidação (efeito do
sombreamento)
Efeitos adversos
Perda de MO e nutrientes por colheita (espécie madeireira)
Competição por nutrientes a água entre as espécies arbóreas
e os cultivos agrícolas
Produção de substâncias inhibidoras de germinação e
crescimento
Um aspecto que deve ser enfatizado em Sistemas Agroflorestais
é a ciclagem de nutrientes, especialmente os de fácil lixiviação como
cálcio (Ca), potássio (K) e enxofre (S). O cultivo consorciado tem a
vantagem de retirar estes nutrientes das camadas mais profundas do
solo e devolvê-los à superfície pela queda das folhas e ramos das
espécies arbóreas, os quais tornam-se nutrientes disponíveis às
plantas após a decomposição da matéria orgânica e posterior
mineralização.
No sistema solo-planta, os nutrientes da planta estão em um “status”
contínuo de transferência dinâmica. As plantas absorvem os nutrientes
do solo e os usam nos processos metabólicos. As partes da planta
que retornam ao solo, como folhas mortas, ramos e raízes, formam o
297
“litter” ou biomassa que por ação da atividade de microorganismos
do solo se decompõem e liberam os nutrientes para serem absorvidos
novamente pelas plantas. Em uma visão mais restrita, ciclagem de
nutrientes refere-se a esta contínua transferência de nutrientes do solo
para planta e de volta para o solo. No aspecto mais amplo, ciclagem
de nutrientes envolve a transferência continua de nutrientes dentro dos
diferentes componentes do ecossistema, incluindo processos tais
como intemperização de minerais, atividades da biota do solo e outras
transformações que ocorrem na biosfera, atmosfera, litosfera e
hidrosfera (Nair, 1993).
Nos SAF’s a utilização de espécies florestais ou frutíferas que
interagem simbioticamente com bactérias do gênero Rhizobium,
contribui para, além na ciclagem normal de outros elementos, também
para aumentar a quantidade de nitrogênio no solo. Na tabela 3 podese observar a importância da ciclagem de nutrientes em áreas de cacau
sombreadas com espécies nitrificadoras. Para comparação, foi incluída
na tabela 3 a necessidade da planta para repor os nutrientes retirados
da área por ação da lixiviação e colheita dos frutos. Observa-se que a
quantidade de nutrientes aportados (N, P, K, Ca e Mg) pela litter
produzido por qualquer uma das três espécies é sempre maior do que
o total de nutrientes removidos pela colheita dos frutos e por lixiviação.
Naturalmente que existe outra fonte de remoção de nutrientes muito
importante que não consta do Quadro 2 que é à parte de nutrientes
utilizado para a formação de órgãos e tecidos da planta. De qualquer
forma, mesmo que os nutrientes aportados pela biomassa não se
igualem às exportadas (lixiviação e colheita) e utilizadas
(metabolizção) pela planta, que seria o ideal, mas pelo menos reduzem
bastante a necessidade de importação destes elementos para a área.
Os sistemas agroflorestais podem ser considerados como uma das
alternativas de manejo racional dos recursos naturais renováveis que
equacionam os principais problemas da agricultura e de seus impactos
negativos sobre o meio ambiente, assim como oferecem possibilidades
para amenizar e/ou solucionar as dificuldades financeiras de grande
parte dos agricultores brasileiros (Tsukamoto Filho, 1999).
298
Atualmente o mundo se preocupa com a sustentabilidade e
preconiza como alternativa viável para atingir o desenvolvimento
sustentável, os sistemas agroflorestais. Desta forma os SAFs passaram
a fazer parte de diretrizes centrais de desenvolvimento rural sustentável
pelo potencial de serem implantados em áreas já degradadas,
reincorporando-as ao processo produtivo e minimizando, assim, o
desmatamento sobre florestas primárias. São uma opção estratégica
para pequenos produtores por causa da baixa demanda de insumos,
ao maior rendimento líquido por unidade de área em comparação com
sistemas convencionais de produção e por fornecerem inúmeros
serviços sócio-ambientais. Esses serviços podem ser valorados, e
convertidos em créditos ambientais, propiciando agregar valor à
propriedade agrícola (Gandara e Kageyama, 2001).
O avanço dos SAFs a partir da experimentação empírica por
agricultores e, mais recentemente, a partir de experimentos formais
denominados científicos, vem mostrando que os sistemas mais
complexos, imitando as florestas naturais, utilizando o conceito de
biodiversidade e sucessão ecológica, apontam para novos
horizontes a agricultura nos trópicos.
Tabela 3. Produção de biomassa, teores de nutrientes aportados por algumas
espécies componentes de SAFs com o cacaueiro e quantidade de nutrientes
removidos através da colheita de frutos de cacau e lixiviação.
Espécie
Produção de
Biomassa
Teor de nutrientes na Biomassa
(kg / ha / ano)
(t / ha / ano)
5,0
N
P
K
Ca
Mg
174,9
8,8
53,6
163,3
53,7
Cordia alliodora
3,4
114,8
13,9
65,5
124,8
50,3
Gliricidia sepium
10,5
333,0
20,0
176,0
140,0
42,0
Colheita de frutos
34,0
3,0
24,5
6,0
6,5
Lixiviação
40,0
0,5
1,5
45,0
21,5
Total
74,0
3,5
26,0
51,0
28,0
Erythrina poeppigiana
1
Remoção de nutrientes
1. Frutos equivalentes a 1.000 kg de amêndoas secas
299
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