MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira 27a SEMANA DO FAZENDEIRO Agenda outubro de 2005 EMARC - URUÇUCA Editor: Miguel Antonio Moreno-Ruiz Editoras Assistentes: Jacqueline C.C. do Amaral e Selenê Cristina Badaró Editoração eletrônica: Jacqueline C.C. do Amaral e Selenê Cristina Badaró Endereço para correspondência: CEPLAC/CENEX/EMARC Rua Dr. João Nascimento, s/n 45680-000 Uruçuca, Bahia, Brasil Telefone: (73) 239 -2121 Fax: (73) 239 - 2221 Tiragem: 3000 exemplares 633.74063 S471 2005 SEMANA DO FAZENDEIRO, 27a, Uruçuca, 2005. Agenda. Uruçuca, CEPLAC/CENEX/EMARC. 332p. 1. Theobroma cacao - Encontro. 2. Agricultura - Encontro. 3. Pecuária - Encontro. I. Título Apresentação A Semana do Fazendeiro emerge para o cenário da agropecuária baiana, regiões de atuação da CEPLAC, no transcurso dos anos 60. Trata-se de evento voltado para o debate das questões atinentes à dinamização das atividades agroeconômicas, mais especificamente as dimensões social, econômica, política, ambiental e tecnológica. Desde quando se articulam estes encontros constata-se a aplicação do primado da articulação e interação entre agricultores, trabalhadores, pesquisadores, extensionistas e empresários vinculados às áreas afins, conjunto que responde pela cristalização das idéias, concepções, conhecimentos e experiências explicitadas nas palestras e reuniões que integram o conclave. Ressalta-se que as temáticas em discussão sintonizam-se com a perspectiva, sentimento ou imaginário do público alvo, assim sendo, aborda assuntos pertinentes a agroecologia, relações de intercâmbio e trabalho, recursos naturais renováveis, aspectos tecnológicos (cacauicultura, apicultura, clonagem, palmiteiros, piscicultura, bovinocultura e outros), administração rural, política de crédito, desenvolvimento sustentável e agroindustrialização. Portanto, o evento tem por lema: agregar valor à produção para melhorar a qualidade de vida. O CENEX/CEPLAC propõe-se a entabular profícuo debate entre os atores sociais que controlam os meios de produção, gerenciam, administram, executam, pesquisam, orientam, capacitam ou interferem na lógica dos agronegócios. Além desta vertente busca-se também apontar soluções para os graves problemas que afligem ou conturbam o ambiente de atuação do Órgão no Estado da Bahia. Por fim, visa-se com a efeméride promover a revisão e adoção de atitudes que redundem na construção do desenvolvimento agrosilvipastoril em bases sustentáveis, centrado nos preceitos que encadeiam a harmonização das relações homem, trabalho e natureza. Tais premissas pressupõem a inclusão social, geração de emprego e renda, redução das desigualdades, segurança alimentar, resgate da cidadania e fortalecimento da democracia. Comissâo Organizadora Objetivos ♦ Promover a integração e intercâmbio entre produtores rurais, expositores, estudantes, agroindustriais, técnicos e demais participantes; ♦ Difundir as modernas tecnologias e conhecimentos disponibilizados para o desenvolvimento dos agronegócios; ♦ Incentivar o desenvolvimento da verticalização da produção como agregadora de valor (renda) ao setor primário; ♦ Debater as novas técnicas de enxertia e manejo integrado de cacaueiros clonados que devem ser adotadas; ♦ Discutir e recomendar a diversificação agropecuária como atividade lucrativa e alternativa para a região cacaueira; ♦ Ensejar a utilização correta dos recursos naturais renováveis, através do entendimento da importância destes fatores para a vida em equilíbrio; ♦ Apresentar as vantagens da agroindustrialização como suporte para a diversificação agropecuária; ♦ Promover o fortalecimento do associativismo e cooperativismo; ♦ Difundir modelos de agricultura sustentável. Índice ♦ Floricultura Tropical no Sul da Bahia 9 ♦ Criação de Avestruz 17 ♦ Sistemas Agroflorestais Alternativos Para o Plantio da Seringueira, Cacaueiro e Culturas Temporárias 29 ♦ Produção orgânica de leite na Mata Atlântica 36 ♦ Aspectos Técnicos da Clonagem do Cacaueiro 47 ♦ Uma Estratégia para Conservação e Desenvolvimento no Contexto Rural 51 da Região Cacaueira da Bahia ♦ Jardinagem e Paisagismo 53 ♦ Aspectos Conjunturais e Estruturais do Mercado Internacional de Cacau 64 ♦ Produção de Mudas: frutíferas e flores tropicais 89 ♦ Manejo e Conservação do Solo e da Água na Região Cacaueira da Bahia. 103 Aspectos Básicos ♦ Frutiferas Potenciais Para a Região Sul da Bahia 113 ♦ Fertilização do Cacaueiro 122 ♦ Manejo Estratégico da Pastagem 125 ♦ Reserva Legal: Aspectos Legais e Sustentabilidade da Propriedade Rural 136 ♦ Análise-diagnóstico do Processo de Plantio de Mudas de Cacueiros Propagadas por Estaquia 138 ♦ Criação Racional de Peixes 146 ♦ Manejo de doenças do cacaueiro 162 ♦ Construção com Solo-Cimento 165 ♦ Perspectivas Agronômicas do Dendê para o Sul da Bahia 170 ♦ O Dendezeiro Como Cultura Energética Para os Trópicos Úmidos 175 ♦ Fertirrigação do cacaueiro no Estado do Espírito Santo 178 ♦ Apicultura comercial 186 ♦ Farinha de Rochas Para os Cultivos Orgânicos ou Não 190 ♦ Controle Biológico da Vassoura-de-bruxa do Cacaueiro 206 ♦ Produção e Comercialização de Palmito de Pupunha (Bactris gasipaes 208 Kunth) in natura No Sistema de Integração da Inaceres Agrícola ♦ Associativismo, Sistemas Agroflorestais e Produção Orgânica:Uma 221 Estratégia para Conservação e Desenvolvimento no Contexto Rural da Região Cacaueira da Bahia ♦ Ecoturismo e Direito Ambiental: Em Busca da Consolidação do Desenvolvimento Turístico Sustentável 224 ♦ Relação da Qualidade do Cacau no Mercado Atual e no Mundo 226 ♦ A Obtenção de Bezerros de Boa Qualidade e a Produção de Leite 242 ♦ Produção de Frutos dos Palmiteiros Juçara, Pupunha e Açaí 251 ♦ Territórios Rurais Como Unidade de Planejamento das Políticas Públicas 261 ♦ Criação de aves (galinhas) para produção de ovos e carne em sistema 272 de caipira ♦ Programa de Silvicultura com Espécies Arbóreas Nativas e Sistemas Agroflorestais Sustentados na Mata AtlÂntica e Floresta AmazônicaPRONATIVA 284 ♦ Perspectivas da Biotecnologia na Cacauicultura 286 ♦ Agricultura de Baixo Uso de Insumos Externos e Agroecologia 291 ♦ Formação Profissional Rural e Promoção Social no Campo 298 ♦ Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável 305 ♦ Tecnologia de Aplicação de Agroquímicos 309 ♦ Sistemas Agroflorestais Como Uso Sustentável dos Solos: Conceito e 321 Classificação FLORICULTURA TROPICAL NO SUL DA BAHIA Narciso Bezerra de Freitas * Considerações iniciais A floricultura mundial apresenta uma movimentação financeira anual da ordem de aproximadamente US$ 100 bilhões, com uma área cultivada de 380.735 hectares. As exportações se encontram em torno de US$ 9,4 bilhões, tendo a Holanda como principal exportador e intermediador mundial, seguido pela Colômbia, Alemanha e Itália. O Brasil tem inexpressiva participação nas exportações mundiais, contribuindo com pouco mais de 0,2%. No ano de 2003, as exportações atingiram o patamar de US$ 19,4 milhões, sendo superior ao ano anterior em 30,2% e de 64,1% em relação ao ano 2000. Apesar dessa pouca participação, o setor vem crescendo a uma taxa acima de 20% ao ano, notadamente nos últimos anos, quando passou a ter o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e de outras instituições e entidades públicas e privadas, que vislumbram um futuro promissor para esse importante segmento do agronegócio. Todas as ações da floricultura nacional estão sob a responsabilidade do Instituto Brasileiro de Floricultura (IBRAFLOR). Vale salientar que em 23 de dezembro de 2003 foi criada e instalada, no âmbito do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a Câmara Setorial Nacional de Floricultura, objetivando identificar os gargalos do setor, tais como comercialização, definições de linhas de pesquisas, padronização, legislação, entre * Engenheiro Agrônomo, MSc. em Agronomia/Fitotecnia, Fiscal Federal Agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 9 outros, e buscar soluções junto aos órgãos e entidades competentes, para definir planejamentos estratégicos que venham a implementar o desenvolvimento da floricultura em todo o país, respeitando as características e tendências de cada região. A área cultivada com floricultura no Brasil está estimada em 5,2 mil hectares, onde trabalham em torno de 4.000 produtores, abrangendo 304 municípios, organizados em 12 pólos de produção. O tamanho médio das propriedade é de 3,5 hectares, agregando em média quatro trabalhadores para cada hectare cultivado. O estado de São Paulo é responsável por aproximadamente 75% da produção nacional. O Brasil é um país que tem o privilégio de ter um grande mercado interno, o qual apresenta uma movimentação financeira da ordem de US$ 750 milhões, com 28 centros atacadistas, aproximadamente 800 agentes atacadistas e 18.000 pontos de vendas. Nesse grande mercado os produtos estão assim distribuídos: 50% para flores em vasos, 40% para flores de corte e 10% para plantas ornamentais. A geração de empregos é intensa, face à grande necessidade do setor, totalizando 120 mil pessoas em toda a cadeia produtiva, sendo 58 mil na produção, 4 mil na distribuição, 51 mil no comércio varejista e 7 mil no segmento de apoio. O IBRAFLOR instituiu no ano de 2000 o Programa Brasileiro de Exportação de Flores e Plantas Ornamentais (Flora Brasilis), objetivando implementar ações para o incremento das exportações internacionais. Para o mercado interno foi recentemente criado o Projeto Pólen, que tem como objetivo aumentar as vendas de flores e plantas ornamentais, iniciado experimentalmente em São Paulo, e devendo-se estender para todo os país. As oportunidades de crescimento das exportações brasileiras são muitas, tendo em vista a oferta de produtos considerados exóticos e diferenciados, grande diversidade edafoclimática, com excelente aptidão para a produção de flores e plantas ornamentais tradicionais e tropicais. Aliado a esses fatores, a mão-de-obra é de baixo custo relativo. 10 Apesar das perspectivas de crescimento das exportações, algumas limitações se apresentam e que necessitam ser superadas. De forma genérica tem-se: baixo consumo (US$ 4,70 per capita), cadeia produtiva pouco profissional e exportações irrelevantes. Mais especificamente tem-se: burocracia nas exportações, complexidade das exigências fitossanitárias, falta de padronização de produtos e embalagens, crédito insuficiente, falta de segurança nas operações comerciais, infra-estrutura de apoio deficiente, irregularidade na oferta de produtos de qualidade, fretes aéreos muito caros e falta de uma cultura exportadora. Os problemas existem, já foram detectados e estão sendo envidados todos os esforços possíveis para canalização de soluções e o IBRAFLOR tem avançado de forma célere em suas ações, agora com apoio das instituições públicas e privadas afetas direta ou indiretamente ao setor. Características edafoclimáticas da Região Cacaueira A região cacaueira baiana apresenta relevo desde planícies litorâneas a morros com fortes ondulações, formada por solos desde arenosos de baixa fertilidade natural até argilosos, tendo nesse meio os solos do tipo CEPEC, que apresentam grande fertilidade natural. A cobertura vegetal é remanescente da Mata Atlântica, ainda preservada pela necessidade de sombreamento natural requerido pela cultura do cacau. O clima varia do tropical ao sub-tropical, com temperaturas médias de 25 a 27º C, luminosidade superior a 1.500 horas de luz/ano, umidade relativa do ar média de 70% e precipitação pluviométrica superior aos 1.200 milímetros anuais, com excelente distribuição ao longo do ano. A localização geográfica da região cacaueira baiana é excelente em relação aos mercados do Centro-Sul do Brasil e europeu, além da infra-estrutura existente para os procedimentos de exportação. Complementando a infra-estrutura regional, conta com excelentes 11 instituições de pesquisas, ensino e extensão rural, além de porto, aeroporto e malha rodoviária por onde são escoadas as produções da agroindústria ali estabelecida. Sugestões para o desenvolvimento da floricultura tropical na Região Cacaueira da Bahia O Estado da Bahia, face à diversidade edafoclimática que apresenta, tem um grande leque de opções para o estabelecimento da floricultura, tais como flores e folhagens tradicionais e tropicais de corte, flores e plantas em vaso, mudas de plantas ornamentais, forrações e gramas. No caso específico da região cacaueira, as características de clima e solo existentes atendem perfeitamente aos requerimentos para a produção de flores e folhagens tropicais, muitas das quais já existem vegetando de forma nativa entre os cacaueiros, apresentando excelente qualidade. As plantas que produzem flores tropicais são originárias das florestas úmidas das regiões tropicais e sub-tropicais do planeta. Dessa forma, os locais quentes e úmidos são os mais indicados, onde as temperaturas variam entre 21º e 35º C, e a umidade relativa do ar varia entre 60% e 80%. Os solos ideais para o seu cultivo devem ser ligeiramente ácidos, com pH entre 4,5 e 6,5, de boa fertilidade natural, textura entre o arenoso e o argilo-arenoso, no entanto, com excelente drenagem. Por serem espécies nativas das florestas tropicais e sub-tropicais úmidas, requerem sombreamento em diferentes níveis, a depender da espécie e/ou variedade, o que é comum na região cacaueira baiana, face à necessidade imposta pelos cacaueiros para que produzam satisfatoriamente. O grande potencial da região cacaueira baiana deve ser aproveitado para o estabelecimento da floricultura tropical de forma comercial, que para tanto sugere-se: 12 Identificar, catalogar e multiplicar espécies nativas que apresentam potencial econômico; Implantação de um Banco Ativo de Germoplasma e/ou uma coleção com espécies tropicais no Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC/CEPLAC); Inserir a floricultura de forma ampla nos ensino médio e superior; Implementar um programa de capacitação tecnológica e gerencial; Produção de Adubos Orgânicos; Tecnologia de Produção em Flores Tropicais; Tecnologia de Produção em Folhagens Tropicais; Produção de Mudas de Plantas Ornamentais Tropicais; Tecnologia de Pós-Colheita em Floricultura Tropical; Pragas, Doenças e seus Controles; Tecnologia em Embalagem; Uso das Flores e Folhagens Tropicais; Arte Floral; Logística de Transporte e Procedimentos de Exportação; Custos no Agronegócio da Floricultura Tropical; Marketing e Comercialização; Gerenciamento do Agronegócio da Floricultura Tropical; Associativismo e Cooperativismo no Agronegócio da Floricultura Tropical; Realizar missões técnicas específicas nacionais e internacionais, para conhecimento e transferência de tecnologias, bem como o estabelecimento de intercâmbios técnico e gerencial com outros estados e países onde já existem cadeias produtivas profissionalizadas, cujo apoio poderá ser evidenciado pelo MAPA, Sebrae/BA, SENAR/BA, agentes financeiros oficiais, SENAC/BA, Federações da Agricultura, do Comércio e da Indústria (FIEBA/CIN/ EUROCENTRO), entre outras instituições e entidades públicas e/ou privadas afetas ao setor; 13 Implementação de um programa de pesquisas nos diversos segmentos da cadeia produtiva da floricultura; Incentivar o consumo de flores, folhagens e plantas ornamentais tropicais; Realizar eventos específicos em locais estratégicos de muita movimentação de pessoas, com vistas à popularização das flores e folhagens tropicais, divulgando as espécies e mostrando as suas diferentes formas de uso; Adequar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para ajudar os floricultores na produção e escoamento do produto final, evitando a penalização com valores elevados de impostos; Implementar o crédito especializado nos agentes financeiros para o segmento de flores e folhagens tropicais, com taxas específicas e fixas, estabelecendo carência mínima de dois anos, quando a maioria das espécies de flores e folhagens tropicais inicia a estabilidade produtiva; Estimular a introdução de novas espécies tropicais de flores e folhagens, para aumentar a base genética e a oferta de novos produtos; Estimular o associativismo e o cooperativismo. Floricultura tropical A floricultura é o segmento do agronegócio que apresenta maior retorno financeiro em menor tempo, tendo em vista que a média para início da produção é de apenas quatro meses. Compreendem a floricultura os cultivos de flores e folhagens de corte, flores e folhagens em vaso, mudas de plantas ornamentais para paisagismo, jardinagem, arborização, recomposição florestal, implantação de banco ativo de germoplasma (BAG), cultivo de bonsai (miniaturização de plantas) forrações e gramas. 14 A floricultura tropical compreende a produção de flores e folhagens de corte, rizomas e mudas de plantas de espécies naturalmente originárias das regiões encravadas entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio. Para o caso específico das flores tropicais, basicamente se agrupam nas famílias que compõem a Ordem Zingiberales, porém as características comerciais podem variar entre as famílias e até mesmo entre as espécies e/ou variedades. A Ordem Zingiberales é composta por oito famílias: Musaceae, Heliconiaceae, Zingiberaceae, Lowiaceae, Strelitziaceae, Cannaceae, Costaceae e Marantaceae. Seguem alguns exemplos de espécies por família: Musaceae - Musa cocinea, M. ornata e M. velutina; Heliconiaceae - Heliconia psittacorum, H. wagneriana, H. chartacea; Zingiberaceae - Alpinia purpurata, Zingiber spectabilis, Etlingera elatior; Lowiaceae - Orchydantha sp; Strelitziaceae - Strelitzia reginae, Ravenala madagascariensis; Cannaceae - Canna indica; Costaceae - Costus barbatus, Tapaeinochilos ananassae; Marantaceae - Calathea burle-marxii, C. lutea, C. crotalifera. A produção comercial de espécies tropicais no Nordeste do Brasil teve início no ano de 1994, logo após a realização de um congresso em novembro de 1993, acontecido na cidade do Recife, Estado de Pernambuco, sob a coordenação do Dr. Marcelo Ataíde, que vislumbrou na floricultura tropical um negócio de grande perspectiva comercial, tendo em vista que as condições edafoclimáticas da Zona da Mata de Pernambuco se apresentavam perfeitamente compatíveis para produção dessas espécies tropicais. No ano de 1994 foram implantados cinco hectares e já no ano de 1998 a área de produção registrada era de 35 hectares. Hoje a área estimada é de 120 hectares, fazendo de Pernambuco o primeiro produtor nacional de flores tropicais. 15 O Estado da Bahia apresenta um excelente potencial para a produção em escala comercial para essas espécies tropicais, face às características de clima e solo existentes. Uma vez que o gerenciamento desse segmento do agronegócio seja realizado com profissionalismo e os produtores tenham o apoio das instituições e entidades competentes, sem sombra de dúvidas, a região cacaueira poderá levar a Bahia ao primeiro lugar na produção de flores e folhagens tropicais do Brasil. Literatura consultada Revista Floraculture International - agosto de 2005 - Batavia, Illinois/ USA. Revista de Política Agrícola - Ano XIII, nº 4 - Brasília/DF (out/dez 2004); Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 74p. CHAGAS, A. J. C. Floricultura Tropical na Zona da Mata de Pernambuco. Recife: SEBRAE/PE, 2.000, 24p. (Empreendedor, 2). CASTRO, C. E. F. Cadeia Produtiva das Flores e Plantas Ornamentais. Revista Horticultura Ornamental, v.4, nº 1, p 1-6. CASTRO, C. E. F. Helicônia para Exportação: aspectos técnicos da produção. Brasília/DF: EMBRAPA-SPI (FRUPEX 16), 1995. 44p. BERRY, F. & KRESS, W. J. Heliconia: An Identification Guide. Washington: Smithsonian Institution, 1991. 334p. LAMAS, A. M. Floricultura Tropical: técnicas de cultivo. Recife: SEBARE/PE, 2001. 84p. 16 CRIAÇÃO DE AVESTRUZ Eduardo Simões de Oliveira Apresentação O presente trabalho visa prioritariamente promover uma coletânea de informações sobre a Criação de Avestruz, obtidas quando em visitas a criatórios assistidos tecnicamente pela CEPLAC, pelas declarações de outros criadores que tivemos oportunidade de contatar, as informações ilustrativas de alguns criatórios, pioneiros na introdução, com sucesso, desta magnífica ave da Família Ratita (Aves não voadoras). O contato inicial com a criação ocorreu a partir da busca de Agricultores pôr orientações, sobre essa atividade e, possibilidade de diversificar a pecuária, e as perspectivas desta nova opção. Introdução A criação de Avestruz iniciou-se no Brasil a partir dos anos de 95/ 96, através da importação de diversas matrizes e filhotes (em numero de 300), e face ao aumento vertiginoso de criadores, criou-se à necessidade de um posicionamento pôr parte das autoridades fiscalizadoras quanto ao controle sanitário destas criações, levando a uma suspensão destas importações até a ocorrência de definições sobre o adequado controle e suas manifestações na forma de lei * Engenheiro Agrônomo, CEPLAC/CENEX/ Escritório Local de Una. 17 específica, passando a ter nova denominação de animal “Silvestre” para animal “Exótico”, o que levaria num futuro próximo à caracterização de animal “Zootécnico”, enquadrado ao “Plano Nacional de Sanidade Avícola”, e por conseguinte com direito de importação, desde que atendendo a legislação em vigor. Histórico e Características A Avestruz (Struthio Camelus sp.), é de origem Egípcia e depois dispersando para a África, pertencente à família das “Ratitas” (aves que não apresentam a capacidade de voar), que se caracterizam pôr seu grande porte podendo atingir 2,8 m de altura e pesar acima de 150 kg, serem longevas atingindo até 70 anos e uma excelência reprodutiva em torno de 40 anos, porém nunca perdendo a fertilidade. O nome Struthio Camelus provém de duas importantes características do avestruz, correr em zigue-zague para escapar de predadores (Struthio) e ser altamente resistente à falta de água (Camelus). O início do interesse comercial desta ave dista de muito tempo (épocas Faraônica e Romana), visando única e exclusivamente à utilização de suas plumas de características puramente ornamentais (perfeita simetria e beleza), e as cascas dos ovos para transporte de água quando em longas travessias no deserto e em face de elevada demanda de plumas no século passado, aconteceu o incentivo para instalação de criações domesticas, e como conseqüência provocou a redução das populações naturais e os animais fruto destas criações iniciais de forma extensiva não eram abatidos e sim utilizados para a retirada anual de plumas para posterior exportação para Europa e Estados Unidos. A débâcle (derrocada financeira) de Wall Street no inicio do século XX, provocou uma diminuição da excitabilidade mercadológica das plumas, levando a uma redução pôr muito tempo, do interesse pelas criações, que só ocorreu após o advento das duas grandes guerras, com a busca pôr uma alimentação alternativa de momento, levando a pesquisa a identificar as qualidades positivas da carne de avestruz, que apresenta em relação comparativa com as demais (bovina, suína 18 e frango) características bem mais saudáveis de gordura e colesterol além de sabor similar à da bovina. Com o descortinar da vantagem, de se consumir a cada vez mais, uma alimentação comprovadamente saudável, iniciada na década de sessenta, reiniciou-se os trabalhos em prol do desenvolvimento de tecnologias racionais de criação de avestruz (Estrutiocultura), haja vista a certeza quanto à valorização da carne, o reconhecimento das qualidades majestosas de seu couro e o retorno da utilização das plumas já historicamente conhecidas, tudo isto aliado à elevada relação de rendimento, obtido pôr área deste produto, em nível de criação (produtividade = Kg/ha) propiciando perspectivas ao criador, de auferir interessantes rendimentos, pois toda carne comercializada no presente momento, encontra fácil colocação no mercado, a preços extremamente compensadores pôr quilo no mercado Mundial, e em relação ao Brasil o mercado de São Paulo tem se apresentado como potencial consumidor, o couro cotado em nosso mercado variando entre R$700,00 a R$ 1.200,00 por unidade processada, sendo utilizado pôr grandes Estilistas no mundo, na confecção de bolsas, sapatos, cintos, casacos e outros, direcionado ao comercio de pessoas de elevado poder aquisitivo, e as plumas de reconhecida beleza e com característica de ser antimagnética, (sua eletrostática amplia a capacidade de absorção de poeira, pôr isso limpa totalmente as superfícies tratadas) comercializadas como adorno e para o fabrico de espanadores de pó, com franca utilização na industria de aparelhos elétricos e eletrônicos, variando seus preços entre R$ 10,00 a R$ 90,00 por quilo a depender da utilização a ser dada. Outro produto bastante interessante de comercialização, os ovos não fertilizados vendidos para o fabrico de artesanato, na forma de peças decorativas, atingindo excelente valor. Raças Comerciais Definem-se comercialmente três raças: Black Neck – Pescoço Preto mais conhecido como African Black 19 é um animal domesticado (Struthio Camelus Domesticus) fruto de seleção empírica feita pêlos sul africanos ao longo dos últimos 150 anos. Red Neck – Pescoço vermelho, é uma ave mais agressiva, que pode chegar a atacar pessoas uma vez se sentindo ameaçada. Blue Neck – Pescoço Azul, é uma ave também agressiva, não gosta do convívio com pessoas nem com outras raças de avestruzes. A classificação acima esta direcionada a cor da pele dos adultos, porém todas as raças possuem como característica comum, a mesma coloração de penas, sendo os machos predominantemente pretos com a extremidade das plumas principais brancas e as fêmeas cinza amarronzadas. A raça Black Neck, também chamada de “African Black”, é na verdade uma raça domesticada, que recebe preferência dos fornecedores de plumas, enquanto a raça Blue Neck, tem como característica principal seu grande porte, sua similaridade com a Red Neck. Com o interesse crescente pela carne da avestruz, a tendência foi o cruzamento entre raças, para a obtenção de um maior peso de abate, surgindo então a raça “Blue Black”, que se apresenta como uma melhoria genética, unificando características positivas de seus elementos paternais (predecessores), tais como maior fertilidade e precocidade (maior numero de ovos e inicio de postura precoce), docilidade (manejo mais simples), alta densidade de plumas (maior ganho com esta venda). Sanidade A característica de elevada rusticidade e longevidade da Avestruz, leva aos pesquisadores pelo seu Histórico evolutivo, a considerar esta ave o ser de maior capacidade imunológica do Reino animal, justificando a elevada perenidade de sua raça, bem como a elevada capacidade de adaptação a uma grande diversidade de ecossistemas. O que não implica na falta de cuidados normais e corriqueiros na condução do manejo de uma criação. 20 Medida fundamental para a manutenção da segurança sanitária reside no total impedimento de criação de outras espécies de aves na área, pois se apresentam como potenciais fontes de transmissão de doenças infecto-contagiosas. Outras medidas tais como, instalação de reservatórios de higienização, também chamadas de “Rodolúvios”, na entrada dos criatórios e reservatórios menores, os “Pedilúvios”, na entrada dos piquetes e instalações gerais para higienização dos calçados dos funcionários e visitantes que adentrem nos mesmos. Acrescido dos cuidados normais de higiene (acima), deve-se priorizar sempre o controle da água e dos alimentos servidos, os cuidados quando da introdução de novos animais no plantel, criandose um esquema de quarentena (mínimo de 04 semanas de isolamento). Na região cacaueira do Sul da Bahia, pelas suas características de elevada umidade, evitar toda a possibilidade de formação de alagamentos, poças e similares na área dos piquetes, mantendo sempre uma condição mínima de drenagem. Evitar transportar e manter junto, aves de idades e tamanhos diferentes, precavendo-se contra traumatismos, evitando também o excesso de tráfego e visitações no criatório, pois é característica marcante o estresse causado pelas movimentações. Com relação à sanidade é bom realçar que as vacinações, em avestruzes ainda não é coisa totalmente definida, pois os resultados laboratoriais podem acusar vírus patogênico, na amostra vacinal ou amostra patogênica como resultado de exames, levando por tanto, a não ser compulsória no Brasil a vacinação contra Newcastle, contra influenza aviária o país não possui vacina, aliais, não existe nenhum registro de vacina para avestruz e a Febre Hemorrágica Criméia Congo, que tem no carrapato seu agente principal, não se apresentou, no Brasil, nenhum caso. Principais Doenças seus Sintomas Tratamento/Profilaxia Influenza Aviária - Erradicada do Brasil, porém, o avestruz é hospedeiro, apesar de não contrair a enfermidade, por isso o risco 21 para o plantel avícola brasileiro de importações descontroladas, sugere-se a importação de ovos, pois isso reduz o risco de introdução de novos patógenos de endo e ecto parasitos. Newcastle – Como sintoma constata-se catarro, bronquite e perturbações nervosas, às vezes com tosse e espirro, os ovos apresentam casca fraca e forma irregular. A profilaxia reside no isolamento das aves doentes e sacrifício das que apresentam sintomas nervosos, desinfecção dos abrigos e queima das camas. Doenças Diversas São classificadas como doenças diversas, aquelas ocasionadas pelo manejo inadequado da criação e são caracterizadas pela apresentação das seguintes sintomatologias: Raquitismo, Rotação tibiotarso, Impactação, Ingestão de corpos estranhos, traumatismos, diarreias, verminoses. O “raquitismo” é fruto de alimentação errônea sem o devido balanceamento nutricional. “Rotação Tibiotarso” resultado de excesso de proteína, fatores nutricionais, contaminações infecciosas, localização errônea de cochos e qualidade de pisos. “Impactação” é proveniente do consumo de alimentos impróprios que se acumulam no ventrículo, pró-ventrículo e intestinos cessando a movimentação digestiva. Ingestão de corpos estranhos e traumatismos relacionam-se ao manejo e instalações inadequados, como por exemplo, os pisos cimentados muito lisos que promovem escorregões com muita facilidade, atentando também com relação ao piso de concreto que o mesmo eleva muito a sensação de frio nas aves novas o que pode gerar forte stress podendo levar até a morte do animal, por isso é aconselhável o uso de campânula de aquecimento para o controle térmico. 1. Mercado (perspectivas) Os mais variados tipos de carnes, sempre têm preferência quando há sobra no orçamento familiar, destinado a ingestão de proteínas, a carne bovina apresentando perspectiva de aumento de preço dado à 22 tendência dos criadores em reter os animais para forçar uma elevação de seus valores atuais, quanto ao frango, os exportadores animados pela desvalorização do Real, prevêem aumentos de exportações e recuperação de mercados externos, a suinocultura beneficiada pelo aumento tanto na taxa de desfrute, quanto no peso dos animais abatidos, espera novo impulso nas exportações de carne principalmente para a Argentina e Hong Kong, também pôr conta da desvalorização da moeda brasileira ante o Dólar. Apesar do consumo per capita de carnes no Brasil, vir se mantendo constante nos últimos quatro anos, apresentando como dados os seguintes: Carne bovina, 34 a 37 kg (01 porção de 90 g/dia), carne suína, 09 a 10 kg, carne de frango 22 a 24 kg, carne de peixe 4,5 kg levando a se prever que no caso da disponibilidade de outras carnes nobres o mercado encontra-se aberto para aquisição, consumo e ou exportação destas. Consumo (perspectivas) Espécie Bovino Frango Suíno Pescado Avestruz 1% relação Boi Avestruz 1% relação Todos Consumo/carne t/ano 5.895.000 3.969.000 1.585.000 700.000 58.950 114.490 Carne/animal kg 240 0,96 60 1,2 30 30 Abate Anual Cabeças 24.562.500 4.134.375.000 26.416.666 583.333 1.965.000 3.816.333 2. Mercado (perspectiva) Imaginando acertadas as perspectivas do quadro acima, nos obrigaria a estimar um rebanho previsto em 154 mil avestruzes (1% em relação Boi) ou 298 mil avestruzes (1% em relação Todos), isto sustentado no princípio da utilização de casais de aves e não o terno (trio) quando se utiliza um macho para duas fêmeas (redução de 20% 23 da produtividade prevista), e numa produção média de 50 ovos pôr ano com um percentual de fertilidade destes de 80%, percentual de eclosão também de 80% e índice de mortalidade médio nos primeiros três meses de 20%, ou seja em condições ótimas 50% de taxa de desfrute. Exemplo: - 01 casal → 50 ovos/ano(80% fertilidade) → 40 ovos/férteis (80% eclosão) → 32 pintos (20% índice mortalidade) → 25 filhotes (50% Taxa de Desfrute). Índices Técnicos Postura 44 / 50 ovos Fertilidade 73 / 80% Incubação/Eclosão 80% Mortalidade (nasc.) 15 / 20% Taxa Desfrute 50% 20 % perdas * Distribuição do lucro, por animal Discriminação % Couro 60 Carne 35 Plumas 5 Instalações A característica principal das instalações, esta relacionada à extrema simplicidade das mesmas, deve-se inicialmente construir piquetes de dimensões de 1.000 m² (20m x 50m) podendo também ser de 1400 m² (20m x 70m) utilizando-se de telas especiais (campestres) com altura de 1,60m não devendo ser soldada as 24 emendas e sim costuradas, para promover a contenção e integridade das aves, com a preocupação de se instalar corredores de dimensões variando de 1,5m a 2,0m entre os piquetes que impossibilitem e ou inviabilizem o contato direto entre as aves impedindo a ocorrência de possíveis disputas (brigas), e no piquete instalar cochos de água, ração e sal sem a necessidade de serem protegidos de intempéries normais(sol e Chuva). Com o resultado do progresso de manejo dos pastos efetuamos a redução dos piquetes segundo orientações dos mais experientes para 800m² (20m x 40m) para acomodar um casal de aves (400 m²/Cab.) e temos constatado considerável sobra de forrageiras quando da rotação dos mesmos. No caso de se optar pela cerca de arame liso, promover um distanciamento entre os fios de 10,15 e 20 cm atentando para a altura de 1,60m ou 1,80m. Temos visto em outras propriedades a opção de se utilizar unicamente 5 fios de arame liso distanciados a 25 cm apresentando espaçamento entre mourões a cada 6 metros e balancins distanciados a cada 1,5 metros, ficando para o futuro a responsabilidade de registrar o sucesso ou fracasso da instalação. Outra curiosidade interessante, está na formação de colônias de animais em piquetes em numero de 02 com capacidade de abrigar 30 animais medindo [180 X 200 metros] cada um, deixando para este tipo de colônia uma única sugestão, de se utilizar animais em desenvolvimento, pois no caso deles se encontrarem em fase de reprodução dificilmente se teria a certeza dos casais geradores e fertilizadores dos ovos produzidos. Nos piquetes implantar gramíneas resistentes ao pisoteio e de porte baixo bem manejados e fertilizados, atentando para manter uma altura mínima de pastejo. No intuito de se promover a melhoria da qualidade nutritiva das pastagens, introduzir leguminosas em consorcio com a gramínea, optando por aquela que apresente característica de agressividade, facilidade de implantação e pegamento, perenidade e disponibilidade de se adquirirem mudas em nossa região, aliado ao excelente 25 potencial nutritivo do mesmo. O amendoim forrageiro registra índices 60 a 70 % de digestibilidade e 19% de proteína bruta. Peculiaridades Origem África Plumagem Macho – Penas Pretas Fêmea – Penas Cinza Amarronzadas Altura 2,20m a 2,80m Peso 110 kg a 150 kg Alimentação Pasto e Ração (concentrado) Peso médio do ovo 1.230 g / 1.525 g Produtividade Média 60 ovos / ano Produção de Plumas 1,20 kg / ano Carne 35 / 40 kg de carne limpa c/ 12 meses Incubação 42 / 43 dias Longevidade Até 70 anos Fertilidade Plena Até 40 anos Produção de couro 1,2 m² Comparativa Pecuária x Avestruz x Ovino Espécie Bovino Avestruz Ovino Gestação/Incubação (dias) 280 dias 42 dias 150 dias Crias 01 bezerro 20/30 aves 1,5 cordeiro Idade de abate 645 dias 407 dias 269 dias kg de carne abate 240 kg 1.217 kg 30 kg Couro (m ) 3 24/36 0,75 Plumas (kg) - 28/30 - Vida economicamente ativa 10 anos 20 a 40 anos 5 anos 2 26 Valores Nutricionais Comparativos da Carne (100 g) Gordura Protídeos Lipídeos Colesterol Calorias (mg ) (mg) (Kcal) (mg ) (%) Bovino Suino Frango Avestruz Peru Javali Ema 9,3 9,7 7,4 2,8 5,3 2,8 3,1 27 28 32 26 22 - 18 22 04 02 02 91 99 86 63 76 45 57 282 324 165 114 170 160 105 Ferro (mg) Proteína (%) 3,0 1,1 1,2 3,2 1,8 2,1 - 29,9 29,3 28,9 26,9 29,3 22 22,9 Alimentação No tocante a alimentação desta ave, deve-se considerar o consumo de pedras/pedregulhos a serem ingeridos pelas aves até a armazenagem total de 1,5 a 2,0 kg e localizadas no ventrículo, para auxílio na digestão dos alimentos, que devido ao desgaste natural destas pedras devem ser repostas. A alimentação consiste basicamente de pasto (gramíneas e leguminosas) além de ração balanceada. 1- Pastagens: - Proporcionalmente as avestruzes pastam mais e com maior eficiência do que o gado, tendo o hábito de pastejar similar ao das ovelhas, privilegiando pastos baixos. - Qualquer gramínea ou leguminosa é bem aceita. Quanto mais nutritiva for a pastagem, menor o consumo de ração. - Na ausência de pasto, deve-se fornecer capim elefante ou Cameron picado. 2- Ração: - Peletizada dá um melhor aproveitamento, menor desperdício e, maior homogeneidade dos nutrientes e vitaminas. - Como as necessidades nutricionais se modificam de acordo com 27 a idade, deve-se usar diferentes composições de ração para acompanhar estas modificações. - Existem no mercado rações específicas para avestruzes. Consumo Médio de Ração - 01 a 08 semanas de idade* 0,25 a 0,50 kg/cab/dia - 09 a 16 semanas de idade 0,50 a 1,00 kg/cab/dia - 17 a 24 semanas de idade 1,00 a 1,40 kg/cab/dia - 25 a 42 semanas de idade 1,40 a 1,60 kg/cab/dia - Acima de 42 semanas: 1,60 a 1,80 kg/cab/dia Manejo Captura / Contenção: Ao se promover algum trato às aves, deve-se proceder a captura utilizando-se do gancho apropriado para esta finalidade, de forma nenhuma se deve utilizar cordas ou quaisquer outros instrumentos que venha a dificultar a livre respiração destes ou promover traumatismos ao longo do pescoço da ave, a operação deve ser rápida, colocandose um capuz que vede a passagem de luz, gerando um estado de tranqüilidade ao animal, reduzindo as movimentações, atentando sempre para que quando deste trabalho seja utilizado o mínimo de duas pessoas para execução da tarefa, e em animais maiores e muito pesados, trabalhar com o mínimo de três pessoas para capturar e conter a ave, sempre imobilizando pêlos lados pois o chute frontal pode gerar enorme perigo para quem lida com a ave. Critérios básicos para ingressar na atividade Quando da aquisição de animais além de consultar Profissionais de reconhecida competência, deve visitar criatórios de sucesso para observar a produtividade do plantel, manejo, consangüinidade, defeitos genéticos, experiência do criador. 28 SISTEMAS AGROFLORESTAIS ALTERNATIVOS PARA O PLANTIO DA SERINGUEIRA, CACAUEIRO E CULTURAS TEMPORÁRIAS José Raimundo Bonadie Marques Wilson Reis Monteiro Uilson Vanderlei Lopes O sudeste baiano oferece condições altamente favoráveis para a expansão do agronegócio borracha e com a vantagem de não causar qualquer tipo de pressão sobre os remanescentes da Mata Atlântica, dado o fato de não haver necessidade de incorporação de novas áreas ao processo produtivo. A idéia básica é fomentar o plantio da seringueira em sistema consorciado com o cacaueiro; isto porque, nos últimos anos, o desenvolvimento de sistemas agroflorestais (SAFs) tem sido bastante encorajado e cada vez mais incorporado aos processos de produção como uma forma de praticar uma agricultura ambientalmente correta, mais produtiva e sustentável. Dentro deste contexto, arranjos de plantio vêm sendo desenvolvidos na CEPLAC para o plantio simultâneo de ambas as culturas e, em especial, para a substituição do sombreamento permanente (eritrinas) por seringueiras. Em qualquer das situações, propõem-se alternativas de espaçamentos em que a densidade de plantas pode variar conforme a topografia do terreno e o tamanho da área. CEPLAC/Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC). Caixa Postal 07, 45.600-970, Itabuna, Bahia, Brasil. Fone e Fax: (73) 3214-3262, 3214-3204, e-mail: [email protected] 29 Variedades clonais de seringueira para sombreamento de cacaueiros É muito importante que seja feita a escolha correta de variedades clonais de seringueira, pois estas serão determinantes para o sucesso do SAF. O SIAL 893 constitui-se numa excelente opção, por apresentar uma arquitetura de copa com ramificações laterais mais fechadas e com baixa densidade foliar, o que proporciona um sombreamento de melhor qualidade para o cacaueiro e permite o plantio em espaçamentos mais adensados. E, além desse, há também dois outros clones que estão para ser lançados (SIALs 839 e 1005) que apresentam características similares. Ressalta-se, ainda, que todos estes clones têm demonstrado superioridade aos anteriormente plantados em relação à produção e resistência às principais enfermidades foliares. Possibilidades de estabelecimento de SAFs com cacaueiros e seringueiras A seringueira é uma espécie arbórea que, em algumas situações pode atingir até 20 metros de altura, normalmente é plantada em espaçamentos maiores e demora de sete a oito anos para entrar em produção. Tudo isso evidencia a necessidade da adoção de estratégias que venham promover um melhor uso da terra. Para tanto, alguns arranjos de plantio estão sendo recomendados pela CEPLAC para o estabelecimento dos SAFs, cujos detalhes serão apresentados a seguir: a) Introdução de cacaueiros híbridos sob seringais adultos Este sistema pioneiro originou-se por iniciativa dos próprios produtores baianos, que decidiram introduzir cacaueiros sob o dossel de seringais decadentes. O reduzido estande de seringueiras por área favoreceu o desenvolvimento dos cacaueiros, dada a maior penetração de luz. Atualmente, esta prática tem-se tornado bastante comum entre os heveicultores da região sudeste baiana e estima-se 30 que aproximadamente 8.000 hectares estejam em sistema consorciado com o cacaueiro. No entanto, muitos seringais foram originalmente estabelecidos no espaçamento de 7,0 m x 3,0 m que não se adequa para o consórcio, especialmente se o número de plantas estiver próximo ao do original (476 plantas/ha). Além do mais, se foram formados por clones com copa mais densa e com ramificações laterais bastante desenvolvidas, proporcionando um sombreamento excessivo para os cacaueiros. b) Plantio simultâneo da seringueira e cacaueiro em renques duplos – O plantio dos cacaueiros e das seringueiras deverá ser feito simultaneamente e em faixas alternadas, com variadas opções de espaçamento entre plantas dentro das faixas ocupadas por cacaueiros ou por seringueiras. O arranjo de espaçamento a ser adotado para ambas as culturas depende daquela que se quer privilegiar, conforme indicado na tabela 1. Tabela 1 - Dispositivo de plantio da seringueira em renques duplos e do cacaueiro em filas quádruplas e quíntuplas. Espaçamento seringueira Densidade (plantas/ha) Espaçamento Cacaueiro Densidade (plantas/ha) 500 470 3,0 m x 3,0 m 3,0 m x 2,5 m 784 941 417 392 2,0 m x 3,0 m 3,0 m x 2,0 m 1042 1176 a) Privilegiando a seringueira 13,0 m x 3,0 m x 2,5 m 14,0 m x 3,0 m x 2,5 m b) Privilegiando o cacaueiro 13,0 m x 3,0 m x 3,0 m 14,0 m x 3,0 m x 3,0 m O custo inicial de implantação é relativamente alto e, por isso, a intercalação com outras culturas de ciclo curto ou semiperene é recomendável especialmente para pequenos agricultores. Estas gerarão receitas adicionais que poderão ajudar na amortização dos custos de manutenção das culturas principais, nos primeiros três anos. 31 Espécies, como por exemplo, milho, mandioca, mamão, banana da prata e da terra, abacaxi, feijão, andu, entre outras, são perfeitamente adequadas para esse tipo de sistema. A maioria delas também proverá um sombreamento provisório bastante adequado aos cacaueiros, além de manter a área livre de plantas invasoras, eliminando a concorrência. No entanto, é bom salientar que a adoção de culturas secundárias depende da experiência do produtor e do mercado para sua comercialização. Uma unidade demonstrativa usando este modelo encontra-se estabelecida desde 1999 no Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC/ CEPLAC) e tem servido como instrumento de difusão e orientação para extensionistas e produtores que têm interesse em adotar esse sistema de cultivo. Este sistema de plantio, inclusive já vem sendo explorado comercialmente por produtores e empresas privadas da região, a exemplo da Fazenda Porto Seguro do grupo Agrícola Cantagalo e das Fazendas Reunidas São George, apoiada pelo grupo Almirante Cacau. Nessas últimas áreas, inúmeras combinações enxerto x porta-enxerto de cacaueiros serão avaliadas e o plantio está sendo realizado em solos com diferentes topografias, porém bastantes representativos da região cacaueira baiana. Até mesmo os solos hidromórficos com pouca opção de cultivo estão sendo considerados. Uma vez que as seringueiras com maior capacidade de absorção de água, podem funcionar como uma bomba d’água, melhorando as condições gerais de cultivo para os cacaueiros, podendo se constituir numa solução para o aproveitamento deste tipo de solos. c) Substituição das eritrinas por seringueiras - Grande parte dos cacauais baianos, em torno de 200 mil hectares (CENEX/ CEPLAC), estão sombreados com eritrinas. A substituição dessas eritrinas por seringueira, espécie de alto valor econômico, está sendo encorajada diante das perspectivas promissoras do mercado mundial da borracha, além das informações tecnológicas que a CEPLAC dispõe sobre o cultivo. É importante ainda ressaltar que a eliminação das eritrinas não causará qualquer impacto ao meio ambiente, por ser uma espécie exótica ao ecossistema cacaueiro e de baixo valor econômico. 32 Preferencialmente, a substituição deve ser feita em áreas onde há irregularidades no sombreamento e de maneira a causar os menores danos possíveis aos cacaueiros remanescentes, quer seja em lavouras já renovadas ou em processo de renovação e também em lavouras altamente atacadas por vassoura-de-bruxa. No primeiro caso, a eliminação das eritrinas ou outras espécies afins deve ser feita gradativamente, fazendo-se primeiramente a retirada dos galhos laterais mais grossos. Deve-se ter sempre o cuidado em manter o equilíbrio da planta para evitar danos maiores pelo seu tombamento, deixando-se ao final, a planta com apenas o fuste principal. Dependendo do fim a que se pretenda dar ao fuste, este poderá ser derrubado manual ou quimicamente. No segundo caso, as eritrinas poderão ser derrubadas, sem os cuidados mencionados anteriormente, direcionando o tombamento das mesmas para os locais da área com maior falha de cacaueiros. Em ambas as situações a madeira deve ser aproveitada pelo mercado regional na fabricação de caixotes para mamão e hortaliças, caixão de defunto, forro entre outros usos, amortizando com isso os custos da sua substituição. É importante ressaltar que na implantação deste sistema misto continuo, apenas os custos advindos do plantio das seringueiras e remoção das eritrinas serão acrescidos. E estes sofrerão variações em decorrência do espaçamento e do tipo de mudas a serem utilizadas (Tabela 2). A densidade populacional da seringueira poderá variar de 222 a 444 plantas por hectare e a mesma será estabelecida nas entrelinhas dos cacaueiros remanescentes (Tabela. 3). A opção por um ou outro espaçamento deve ser feita pelo produtor de acordo com a disponibilidade dos recursos financeiros, topografia da área, idade e densidade do cacaual, etc. Por outro lado, os custos de manutenção não sofrerão muita alteração, uma vez que os tratos culturais comumente dispensados aos cacaueiros atenderão de maneira indireta e satisfatoriamente às exigências das seringueiras. 33 Tabela 2 - Simulação do custo adicional da renovação de 1,0 ha de cacaueiros com a substituição das eritrinas por seringueiras. Estande da seringueira Plantas/ha Seringueira* R$ Cacau* R$ Custo adicional da substituição % 222 1.147,50 4.666,18 19,7 267 1.241,90 4.666,18 21,0 333 1.314,50 4.666,18 22,0 444 1.436,60 4.666,18 23,5 * custo da implantação das seringueiras mais a retirada das eritrinas. ** custo da renovação de cacaueiros considerando-se um estande de 600 plantas/ha Tabela 3 - Dispositivo de plantio da seringueira em linhas simples e renques duplos. Espaçamento da seringueira Plantas/hectare Espaçamento da seringueira Plantas/hectare 9,0 m x 2,5 m 444 9,0 m x 3,0 m 370 12,0 m x 2,5 m 333 12,0 m x 3,0 m 277 15,0 m x 2,5 m 267 15,0 m x 3,0 m 222 15 m x 3,0 m x 2,5 m* 444 15 m x 3,0 m x 3,0 m* 370 *Apenas neste espaçamento em linhas duplas há redução do estande de cacaueiros para 780 plantas/ha, nos demais será mantida a mesma densidade de 1111 plantas/ha. Considerações finais O Estado da Bahia poderá voltar a ocupar uma posição de destaque mundial na produção de borracha e cacau, com a ampliação da área plantada com seringueiras, em sobreposição às áreas de cacau, que geralmente estão estabelecidas em solos de alta fertilidade. Se por exemplo 40% das áreas de cacau formadas pelo processo de derruba total forem consorciadas, isto irá representar em uma expansão de 80 mil hectares de seringueiras, a um custo 34 extremamente reduzido, ou seja, no máximo até 30% a mais do custo da implantação da lavoura de cacau solteiro. A produtividade desses seringais será certamente superior à dos seringais solteiros estabelecidos em solos de menor fertilidade, visto que estarão sendo utilizados clones de alta produção e com maior resistência às principais doenças. O mesmo acontecerá com os cacaueiros que terão também as condições gerais de cultivo melhoradas. A adoção desses sistemas irá garantir maiores oportunidades de emprego e renda, devido ao maior uso de mão-de-obra nas diferentes fases de desenvolvimento e com conseqüente fixação do homem no campo, proporcionando melhorias nas condições gerais de vida à comunidade local. Além do mais, estaremos explorando o potencial de seqüestro de carbono atmosférico das duas culturas, pois se têm registros de que as seringueiras retiram quantidades de CO 2 idênticas às essências florestais, inserindo-se perfeitamente dentro do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). 35 Produção orgânica de leite na Mata Atlântica Cláudia de Paula Rezende A atividade pecuária sempre foi relegada a áreas com topografia acidentada, solos erodidos ou exauridos por queimadas freqüentes ou super-pastejos. Conseqüentemente à disponibilidade de forragem dessas áreas são muito baixas, apresentando grande incidência de plantas invasoras. Nesse aspecto, se a atividade pecuária desenvolvida nessas condições for fundamentada na produção de corte e leite apenas através das forrageiras que compõem a pastagem, tal atividade estará fadada ao fracasso. Aliado a falta de forragem, que constitui a dieta básica dos animais, o baixo potencial produtivo do rebanho, problemas de sanidade animal, falta de uma política agrícola adequada, preços elevados dos insumos e a mão de obra desqualificada, tornam-se obstáculos muitas vezes intransponíveis para o produtor rural. No entanto, essas dificuldades podem ser revertidas com o uso de tecnologia correta, que altere decisivamente os índices de produtividade, a eficiência do processo e traga retornos financeiros crescentes. A comunidade cientifica tem contribuído de forma efetiva, desenvolvendo e difundindo novas tecnologias com resultados concretos e positivos no incremento da produtividade. Como exemplo, a seleção de novos materiais genéticos promissores sejam gramíneas ou leguminosas, aliadas às práticas adequadas de manejo de solo e da pastagem, podem elevar os índices produtivos do rebanho nacional. Inegavelmente tornado esse rebanho mais Pesquisadora da Ceplac/Cepec - Km 22 da Rodovia Ilhéus-Itabuna, Caixa Postal 07 - 45600-000 Itabuna, Bahia. E-mail: [email protected]. Fone: (73) 3270-2264. 36 competitivo no mercado internacional. Não se questiona, que é mais econômico produzir leite ou carne a pasto, e que o Brasil, reúne características que propiciam essa atividade, no entanto, é necessário ajustar práticas de manejo de pastagens, suplementação alimentar, manejo reprodutivo e sanitário dos rebanhos, entre outras, e adequá-las à relação custo-benefício da atividade. As propriedades envolvidas com a produção de leite apresentam de modo geral, uma superlotação animal nas pastagens e conseqüentemente uma baixa disponibilidade de forragem tanto em quantidade como qualidade. Com a superlotação há também o comprometimento inicialmente da pastagem cultivada e posteriormente da fertilidade do solo, o que culminará com uma pastagem degradada e invadida por ervas daninhas, muitas dessas tóxicas para o rebanho bovino. Sem alimentação ou alimentação deficiente os animais se tornam subnutridos e conseqüentemente terão baixos índices de eficiência reprodutiva e altas taxas de mortalidade, sem considerar a baixa produtividade, que é na verdade, a maior evidência da ineficiência da exploração em questão. O clima é entre as condições naturais um dos mais importantes fatores limitantes de produção, e pode ser considerado como o regulador da produção animal ou seu limitador. O stress térmico causa diretamente redução do consumo de alimento e conseqüentemente a redução dos índices produtivos e reprodutivos do rebanho leiteiro, primordialmente os de origem européia. O ecossistema de tabuleiros costeiros se caracteriza por uma topografia plana com boqueirões em V, água abundante de boa qualidade, precipitação pluviométrica razoável sem estação seca definida, invernos com temperaturas amenas. Na bovinocultura de leite, por se tratar de rebanhos muitas vezes com elevado grau de sangue europeu, as condições de clima podem vir a ser limitantes, nesse aspecto, devesse considerar o cruzamento com animais de maior rusticidade, como é o caso do zebu. De um modo geral as características desse ecossistema são também de relevante importância como fator incrementador de produtividade. 37 Logicamente por se tratar desse tipo de exploração alguns condicionantes deverão inserir-se no sistema, tais como, áreas de sombra para o rebanho, facilidades de acesso a água, pastejos rotacionados com forrageiras de melhor qualidade, consórcio de gramíneas com leguminosas, suplementação alimentar, manejo sanitário mais criterioso, etc. Outro aspecto importante a ressaltar seria a forma de favorecer adequados índices produtivos e reprodutivos com o uso mínimo de agentes químicos. A crescente conscientização da sociedade com respeito à preservação ambiental, acompanhada da preocupação com a segurança alimentar dos produtos consumidos, têm conduzido a uma transformação gradual dos sistemas de produção, processamento, comercialização e consumo de alimentos de origem animal. A produção agroecológica ou orgânica em pecuária, baseada principalmente nos princípios de sustentabilidade ambiental, econômica e social, apresenta-se, neste caso, como uma alternativa viável ao sistema convencional utilizado. No Brasil existe uma grande demanda em transformar os sistemas de produção pecuária convencional em sistemas orgânicos, tornado o país potencialmente líder no setor. Com relação à alimentação do rebanho em um sistema de produção orgânica, o consórcio de gramíneas e leguminosas na pastagem é prática recomendada, garantindo a diversificação de espécies vegetais no ecossistema. Conseqüentemente a produção de leite poderá ser incrementada com introdução de leguminosas nas pastagens e estabelecimento de sistemas silvipastoris nas propriedades, evitando-se assim o uso de adubos químicos e preservando o meio ambiente. Na produção orgânica de leite a alimentação das vacas deve ser produzida, majoritariamente, sem agrotóxicos (é permitido incluir apenas 15% a 30% de produtos não orgânicos na composição das rações) e a medicação dos animais tem que ser natural. A conversão dos sistemas de manejo convencional tradicional para o orgânico (Tabela 1), segundo as literaturas revisadas tem que 38 Tabela 1: Procedimentos técnicos para produção orgânico animal. Procedimentos Atividades Recomendados Restritos Auto-suficiência alimentar orgânica; forragens frescas, silagem ou fenação produzidas na propriedade ou de fazendas orgânicas; Nutrição e Tratamento veterinário Aquisição de alimentos não orgânicos, equivalente a até 20% do total da matéria seca para animais monogástricos e 15%para ruminantes; Aditivos naturais para ração e silagem (algas, plantas medicinais, aromáticas, soro de leite, leveduras, cereais, outros farelos); Aditivos, óleos essenciais, suplementos vitamínicos, aminoácidos e sais minerais (de forma controlada); Mineralização com sal marinho; Suplementos vitamínicos (óleo de fígado de peixe e levedura); Agentes etiológicos dinamizados (nosódios ou bioterápicos); Homeopatia, fitoterapia e acupuntura; Amochamento e castração. São obrigatórias as vacinas estabelecidas por lei, e recomendadas as vacinações para as doenças mais comuns a cada região 39 Proibidos Uso de aditivos, estimulantes sintéticos; Promotores de crescimento; Uréia; Restos de abatedouros; Aminoácidos sintéticos; Transferência de embriões; Descorna e outras mutilações; Presença de animais geneticamente modificados. Continuação da Tabela 1 Procedimentos Atividades Recomendados Raças animais adaptadas à região, raças rústicas; Aquisição de matrizes de criadores orgânicos; Proibidos Raças exóticas não adaptadas; Raças exóticas não adaptadas; Bezerros podem ser adquiridos de criadores convencionais até 30 dias; Estabulação permanente de animais; Inseminação artificial sob controle; Animais de fora devem ficar em quarentena; Manejo do rebanho e instalações Restritos Separação dos bezerros por barreiras Instalações adequadas para o conforto e saúde dos animais, fácil acesso à água, alimentos e pastagens; Espaço adequado à movimentação; Número de animais por área não deve afetar os padrões de comportamento; Criações de preferência em regime extensivo ou semi-extensivo, com abrigos; Monta natural para Reprodução; Desmame natural. 40 Confinamento e imobilização prolongados; Instalações fora dos padrões; Manejo inadequado que levem animais ao sofrimento, estresse e alterações de comportamento Continuação da Tabela 1 Procedimentos Atividades Recomendados Restritos Fogo controlado para limpeza de pastagens; Uso de técnicas de manejo e conservação de solo e água; Pastoreio permanente sob condições satisfatórias; Nutrição das pastagens de acordo com as recomendações; Manejo de Pastagens Estabelecimento de pastagem em solos encharcados, rasos ou pedregosos. Controle de pragas, doenças e invasoras das pastagens de acordo com as normas; Pastagens mistas de gramíneas, leguminosas e outras plantas (diversificação); Pastoreio rotativo racional, com divisão de piquetes; Manter solo coberto, evitando pisoteio excessivo; Rodízio de animais de exigências e hábitos alimentares Fonte : Arenales, 2001; Darolt, 2002. 41 Proibidos Monocultura de forrageiras; Queimadas regulares; Superlotação de pastos; Uso de agrotóxicos e adubação mineral de alta solubilidade nas pastagens. ser gradual, e no mínimo levaria dois anos. Nos procedimentos técnicos de produção orgânica animal (Tabela 1), se observa que algumas práticas embora não indicadas podem ser usadas nesse período, até o completo estabelecimento do sistema de produção orgânica. Na produção de leite utilizando leguminosas consorciadas com gramíneas foram observados aumentos na ordem de 20% e 12% na produção de leite de vacas do rebanho comercial da estação da Ceplac, em Itabela-Ba, mantidas em pastejo rotacionado em pastagens de B. dictyoneura consorciada com amendoim forrageiro cv. Belmonte e em pastagens exclusivas de B. brizantha cv. Marandu e B. decumbens, respectivamente. Lascano (1994) também apresenta resultados similares, onde a inclusão de A. pintoi em pastagens de gramíneas promoveu acréscimos de 17 a 20% na produção de leite. Esses resultados têm variado com o valor nutritivo da leguminosa utilizada no consórcio. Gonzalez et al. (1996), não verificaram efeito da consorciação de capim-estrela africana com D. ovalifolium, mas quando consorciado com A.pintoi, obtiveram produções superiores em 1,1 a 1,3 kg de leite/vaca/dia, em relação à pastagem de estrela exclusiva (Tabela 2). Tabela 2. Produção de leite em pastagens de capim-estrela africana ( Cynodon nlemfuensis) monocultivo e consorciado com Arachis pintoi ou Desmodium ovalifolium. Produção C. estrela + A. pintoi Capim estrela C. estrela + D. ovalifolium 1990 kg/vaca/dia 7,7 kg/ha/dia* 22,3 b 8,8a 25,5 7,6b 22,0 1991-1992 kg/vaca/dia 9,5 kg/ha/dia* 22,8 b 10,9a 25,9 * Lotação de 2,9 UA e 2,4 UA 1990 e 1991/92, respectivamente. Fonte: Gonzalez et al., 1996. 42 9,4b 22,6 Em um sistema silvipastoril a presença de leguminosas arbóreas é importante na retenção de água, ciclagem de nutrientes e na conservação do próprio solo. Bem como ser uma opção forrageira de alimentação para bovinos, principalmente na época crítica do ano. Entre as leguminosas arbóreas e arbustivas que podem fazer parte da alimentação de ruminantes pode-se fazer menção da Cratylia argentea, Leucaena leucocephala e Gliricidia sepium. Estudos realizados na Embrapa Gado de Leite indicaram que a gliricidia e a amoreira foram às forrageiras de maior potencial, seguido pela leucena e pelas espécies de estilosantes e cratilia (Tabela 3). As espécies avaliadas podem ser utilizadas em sistemas silvipastoris, contribuindo para o fornecimento de energia/proteína aos animais (Aroeira et al., 2003). Em Cuba Hernandez et al., (1998) mostram que a produção de leite de um sistema de produção a pasto aumentou em 3.557 L/ha/ano, quando se explorou, na propriedade, um sistema multiestratificado (Gráfico 1). Na Colômbia, Murgueitio (2000) observou que com o uso de sistema silvipastoril, incrementou a produção de leite de 10.585 para 12.702 L/ha/ano. O teor de matéria orgânica no solo de 1,6% aumentou para 2,6%, simplesmente com a introdução de Prosopis juliflora e Leucaena leucocephala, numa pastagem de capim-estrela (Tabela 4). Tabela 3. Teores de matéria seca (MS), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), proteína (PB) e digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS), de diferentes espécies. Espécies S. guianensis G. sepium L. leucocephala C. argêntea M. alba MS FDN FDA Celulose Lignina DIVMS PB 33,3 54,9 38,4 27,0 10,8 52,5 11,8 24,8 44,8 27,9 16,1 12,2 60,5 19,6 24,3 42,6 28,3 16,2 12,7 56,2 28,9 45,5 59,0 36,6 18,1 16,7 48,3 21,4 43,6 45,3 29,6 20,5 6,4 60,0 14,8 Fonte: Aroeira et al. (2003). 43 Gráfico 1. Incrementos na produção de leite com introdução de espécies. Tabela 4. Indicadores técnicos e ambientais de um sistema silvipastoril ( C. plectostachyus + L. leucocepha + Prosopis juliflora) x pastagem de capim-estrela. Capim-estrela +Nitrogênio Sistema Silvipastoril Carga animal (vacas/ha) 4,0 4,8 Produção de leite (kg/vaca/dia) 9,5 9,5 Produção de leite (kg/ha) 10.585 12.702 Adubação (uréia) (kg/ha) 400 0 16.000 12.000 Indicadores Água consumida (m3/ha/ano Pássaros (nº de espécies) Matéria orgânica do solo (0 - 10 cm) (%) Fonte: Murgueitio (2000). 44 ? 46 1,6 2,8 Considerações finais A agricultura orgânica, incluindo o filão pecuário, registrou em 2002, crescimento de 50%, garantindo uma receita aproximada de R$250 milhões no mesmo período. Os produtos obtidos a partir de uma exploração orgânica deverão ter um valor agregado mais elevado, permitindo a melhor remuneração das unidades produtoras e, conseqüentemente, eliminado a ameaça de má utilização dos recursos naturais existentes. Maximizar a produção sem causar nenhum prejuízo ao ecossistema é um dos maiores desafios dos estudiosos das mais várias áreas, incluindo a agropecuária. A utilização do consórcio entre leguminosas e gramíneas e a formação de sistemas silvipastoris são alternativas promissoras e que apresentam excelentes resultados No entanto é importante se atentar para a escolha das forrageiras e adequá-las a um manejo que propicie a persistência e auto-sustentabilidade dos sistemas adotados. É possível produzir leite a partir de um modelo economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto, fundamentado em tecnologias concretas, e que favoreçam a maior integração entre o homem e a natureza. Referências Bibliográficas ARENALES, M. C. Produção Orgânica de Carne Bovina. Ed. Centro de Produções Técnicas, 2001. AROEIRA, L. J.M., CARNEIRO, E.C., PACIULLO, D.S.C., MAURICIO, R.M., ALVIM, M.J., XAVIER, D.F. Composição química, digestibilidade e fracionamento do nitrogênio e dos carboidratos de algumas espécies forrageiras. Pasturas tropicales, Cali, v.25, n.1, p.33-37, 2003. AROEIRA, L.J.M., PACIULLO, D.S.C. Produção de leite a pasto. 45 Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.25, n.22, pp.56-63, 2004. DAROLT, M.R. Pecuária Orgânica: procedimentos básicos para um bom manejo da criação. Planeta Orgânico, Seção Trabalhos Disponíveis em: <http:www.planetaorganico.com.Br/daroltpec.htm>. 2002. HERNANDEZ, D., CARBALLO, M., REYES, F., MENDONZA, C. Exploración de un sistema sivopastoril multiasociado para la producción de leche. In: TALLER SIVOPASTORIL LOS ÁRBORES Y ARBUSTOS EN LA GANDERIA, 3., 1998, Matanzas. MEMORIAS... Matanzas:EEPF “Hatuey”, 1998. p.214. GONZALEZ, M.S., NEURKVAN, L.M., ROMERO, F. et al. Producción de leche en pasturas de estrella africana (Cynodon nlemfuensis) solo y asociado con Arachis pintoi o Desmodium ovalifolium. Pasturas Tropicales, v.18, n.1, p.2-12, 1996. LASCANO, C.E. Nutritive value and animal production of forage Arachis. In: KERRIDGE, P.C.; HARDY, B., (eds). Biology and agronomy of forage Arachis. 1994 Cali, Colômbia: CIAT, 1994, p.109-121. MURGUEITIO, E. Sistemas agroforestales para la producción ganadera en Colombia. In: POMAREDA C., STEINFELD, H. Intensificación de la ganadería en Centro América – Beneficios económicos y ambientales. São José, Costa rica: CATIE/FAO/SIDE. 2000. P. 219-242. 46 ASPECTOS TÉCNICOS DA CLONAGEM DO CACAUEIRO Antonio Eduardo de Souza Magno Milton José da Conceição Assim como as vantagens proporcionadas na heveicultura, citricultura, bananicultura, e agora no reflorestamento, a clonagem comercial de cacaueiros vem trazendo para a cacauicultura sulbaiana, excelentes resultados positivos, pois além de amenizar os malefícios da Vassoura-de-bruxa, está proporcionando o aumento dos rendimentos da mão de obra e produtividade dos plantios. A possibilidade de se transferir os atributos agronômicos de uma planta para uma coleção (plantio) vem trazendo enormes mudanças nos paradigmas da cultura do cacau no Sul da Bahia. A partir de 1997 a CEPLAC formou 40 Jardins Clonais em 20 municípios da região cacaueira, com o objetivo de fomentar a distribuição dos cinco primeiros clones por ela recomendados (TSH 1188, 565 e 516, CEPEC 42 e EET 397). Havia uma preocupação com a incompatibilidade sexual daqueles materiais, pois todos eram autoimcompatíveis, porém intercompatíveis. Para que essas plantas pudessem expressar todo o seu potencial de produção seria necessário estabelece-las em campo, obedecendo a um modelo de disposição de tal maneira, para que funcionasse de forma satisfatória a intercompatibilidade ou cruzamento. Foi adotado um sistema onde cada clone teria uma cor específica, com o objetivo de facilitar ao Engenheiro Agrônomo - CEPLAC/CENEX/SERAT, Fone: (073) 3214-3326 E-mail: [email protected] e [email protected] 47 produtor a memorização do desenho que seria instalado em suas áreas comerciais. Com os conhecimentos sobre a seleção de plantas resistentes à Vassoura-de-bruxa na própria fazenda, transferidos pela CEPLAC, muitos produtores por iniciativa e risco próprio, fizeram clonagem em áreas comerciais utilizando plantas de sua fazenda e de outras que simplesmente no momento estavam apresentando uma aparente resistência à Vassoura-de-bruxa. No afã de garantirem a viabilidade do sistema radicular de suas plantas doentes, não se preocuparam com os aspectos da produtividade/rendimento, compatibilidade sexual, porte e precocidade na produção, dos materiais que estavam sendo instalados em suas áreas comerciais. Em virtude do exposto, muitas fazendas estão com áreas clonadas significativas, apresentando resultados insatisfatórios, que não atendem às expectativas esperadas de produção, devido principalmente aos materiais botânicos por eles selecionados, a disposição espacial inadequada das plantas no momento de sua instalação, falta de ajuste do sombreamento e ao manejo incorreto dispensado às plantas. ASPECTOS TÉCNICOS Clones autocompatíveis - No processo de aperfeiçoamento da clonagem do cacaueiro, a introdução dos materiais botânicos autocompatíveis irá reduzir os problemas da incompatibilidade sexual, quando distribuídos de forma criteriosa com os materiais botânicos autoincompatíveis. Sombreamento - O ajuste do sombreamento provisório e definitivo com a retirada de árvores auto-sombreadas e o plantio em áreas abertas de essências florestais que atendam aos aspectos agronômicos, ecológicos e econômicos, proporciona um ambiente com luminosidade adequada, que protege os cacaueiros e estabiliza 48 as condições microambientais do cultivo, traduzindo numa maior possibilidade das plantas clonadas expressarem seu potencial de produção. Remoção de vassouras - A remoção das vassouras vegetativas nas áreas clonadas é uma prática por demais necessária e deve obedecer ao calendário agrícola (Jan/Fev; Abr/Mai; Jul/Ago e Out/Nov), que a depender das variações climáticas, poderá ser alterado. O controle eficiente das ervas daninhas deve ser realizado pelo menos duas vezes por ano, com o uso de herbicidas, verificando previamente o teste de vazão do equipamento e conseqüentemente a dosagem recomendada. Poda - A poda deve ser realizada de dentro para fora das plantas, eliminando-se os ramos que se cruzam, porém sem deixar espaços que possam dar entrada de luz sobre o caule da planta e o terreno. Com isso, evita-se uma necrose do caule, pela incidência direta da luz solar e a maior infestação de ervas daninhas na área. Quando a poda é realizada de forma excessiva, leva a eliminação de ramos produtivos o que causa um aumento e freqüência de lançamentos foliares reduzindo consequentemente a produção de frutos. Porém quando a poda deixa de ser realizada, ocorre um excesso de folhas e surgimento de palmas de água ou chupadeiras, que proporciona competição na planta e entre plantas deixandoas com altura acima do desejado, bem como fora do espaço delimitado. A atividade fotossintética é reduzida nas folhas do interior das copas, que por receberem pouca luz, começam a atuar como drenos e não como fonte de acúmulo de reservas necessárias para a produção de frutos. Novos métodos e materiais para enxertia – A cada dia está ocorrendo uma evolução no aperfeiçoamento dos métodos de enxertia e na utilização de materiais que estão aumentando o rendimento da mão de obra, do índice de pegamento/brotação e da redução dos 49 custos. A exemplo do saco usado para o sorvete “geladinho” como câmara úmida e no amarrio das enxertias feitas principalmente em mudas, através do método da garfagem de topo e lateral. Decepa/Recepa - No processo de enxertia comercial deverá ser dado um manejo de podas na planta velha que proporcione uma entrada de luz adequada e necessária para o desenvolvimento do enxerto, desse modo haverá uma convivência das duas plantas (o conjunto) por um determinado período. Somente deve-se retirar/ recepar a planta velha quando a produção do enxerto for igual ou superior ao conjunto quando da instalação do enxerto. 50 UMA ESTRATÉGIA PARA CONSERVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO NO CONTEXTO RURAL DA REGIÃO CACAUEIRA DA BAHIA Joaquim Blanes, Luis Lima, Walter Lima Marcelo Araujo, Luis de Lima A Mata Atlântica é considerada uma das áreas de maior prioridade para a conservação do planeta, devido a sua diversidade Biológica e elevado grau de ameaça. No município de Una, sul do estado da Bahia, localiza-se a Reserva Biológica de Una (REBIO), unidade de conservação federal de proteção integral, criada através do decreto 85463 do ano de 1980. Embora o Decreto Federal determinasse uma área de 11400 hectares (ha), até o ano de 1999, somente 7022ha haviam sido adquiridos pelo executivo federal, com o apoio de organizações internacionais. A regularização do restante da área decretada deverá estar concluída até o final de 2004. Intervindo de forma abrangente, o IESB vem propondo políticas públicas, desenvolvendo metodologias e ferramentas de análise ambiental, fomentando a implementação de alternativas econômicas na utilização dos recursos naturais e capacitando pessoas locais, através de parcerias com instituições de pesquisa, ONG’s locais e nacionais, universidades e agências governamentais. Neste processo, identificou-se a necessidade de fortalecer a organização das associações comunitárias rurais, como etapa indispensável para uma efetiva conservação dos recursos naturais e promoção de bases para o desenvolvimento sustentável. Também, era crítica a realidade da comercialização de produtos agrícolas dos Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia Caixa Postal 84, Ilhéus – Bahia CEP 45652-180 51 pequenos e médios produtores tradicionais e assentados pela reforma agrária, a presença de uma rede de comercialização primitiva, onde o produtor distante geograficamente e com pequena quantidade e grande variedades de produto era presa fácil para atravessadores experientes. A Produção Orgânica e as Oportunidades para a Região Cacaueira da Bahia O diferencial da produção orgânica está na oferta de produtos saudáveis (livre de agrotóxicos), na possibilidade de atender mercados diferenciados (onde consumidores estão dispostos a pagarem um sobre-preço como prêmio à qualidade dos produtos), nas relações justas de produção e na preservação ambiental. A Região Cacaueira da Bahia apresenta um contexto bastante favorável para consolidação de um pólo de Agricultura Orgânica Agroflorestal, observando especialmente os aspectos da conservação da biodiversidade e produção familiar, como pode ser observado nos diversos aspectos abaixo enumerados: 1. A meso-região cacaueira, com 51 municípios, concentra mais de 80% da produção de cacau do estado e da sua área cultivada, cerca de 350 mil hectares, 70%, estão implantadas sob mata raleada (cabruca), conforme CEPLAC/CENEX (1999); 2. Regra geral a partir de 1984, quando se deu a restrição aos financiamentos para o cacau, houve uma redução na aplicação de agrotóxicos. Além disso, dentre os diversos aspectos negativos apresentados pela enfermidade vassoura de bruxa, a não recomendação comercial de agentes químicos para o seu controle, revela-se como positivo, desmotivando a aplicação de pesticidas e estimulando as pesquisas na área de controle biológico; 3. Associa-se estes elementos ao grau máximo de interesse conservacionista atribuído a este ecossistema, destacando-se os projetos: “Reserva da Biosfera da Mata Atlântica” e “Corredores Ecológicos” em fase de implementação. 52 JARDINAGEM E PAISAGISMO Noemia Pinheiro de Almeida * Acontece quando a gente gosta muito de alguém: às vezes nos falta a palavra exata, nenhuma frase é capaz de expressar o que sentimos. Nessas horas, em que um gesto é muito mais significativo, deixe que as flores falem por você. Presentear com flores é sempre uma demonstração de bom gosto e sensibilidade. Principalmente se você oferece um vaso formado com suas próprias mãos. E é fascinante escolher o tipo de planta que melhor combina com a pessoa que você vai presentear. Exemplo de algumas: Nome vulgar Nome científico Lilium longiflorum Lilium híbrido Calceolaria crenatiflora Primula Begonia tuberhybrida Begonia semperflorens Begônia rieger Acalypha hispida Pentas lanceolata Streptocarpus Clivia miniata Crysanthemum morifolium Sinningia apeciosa Senecio Cyclamen persicum Hibiscus rosa sisensis Lírio Lírio tigrado Calceolária Prímula Begônia tuberosa Begônia sempre florida Begônia rieger Rabo de gato Cacho de estrelas Prímula do cabo Clívia Crisântemo Gloxínia Cinerária Ciclame Hibisco chinês * Técnica em agropecuária - paisagista 53 Até para decorar sua casa, mesmo que não disponha de amplas janelas e a luminosidade não seja a ideal, você pode viver cercado de verde e beleza. E, por favor, nem pense naquelas abomináveis plantas de plástico. Existe um número grande de plantas que se contentam com um mínimo de claridade para sobreviver. E, mais do que isso, não exigem muitos cuidados, permanecendo anos e anos sempre bonitas e saudáveis. São folhagens maravilhosas, de todos os tipos, tamanhos e formatos onde citaremos abaixo: Nome vulgar Nome científico Espatifilo Spathiphyllum Casca de melancia Maranta leuconeura Dracena listrada Dracaena deremensis Cordiline verde Cordyline terminalis Esmeralda crespa Peperomia caperata Pitosporo anão Pittosporum tobira Clorofito Chlorophytum comosum Babosa Aloe arborescens Lança de são jorge Sanseviera cylinfrica Folha de violino Philodendron panduraeforme Fátsia japonesa Fatsia japonica Comigo ninguém poda Dieffenbachia picta Sonho de beberrão Hatiora salicornioides Bolsa de pastor Rhoeo spathacea Anturio Anturium ESTRANHAS BELEZAS O reino vegetal caracteriza-se por suas empolgantes belezas e seus profundos mistérios. Não existem, é verdade, aquela feroz planta carnívora; mas muitas espécies se aproximam muito disso: devoram insetos que caem em suas malhas.Outras, como a espatélia, produzem um estranho perfume, que lembra o cheiro da carne em 54 decomposição, para atrair as moscas, responsáveis pela fecundação das flores. E há aquelas de aparência estranha, às vezes bizarra, mas que dão um efeito extraordinário na decoração de sua casa. Nome vulgar Nome científico Drósera (carnívora) Drosera rotundifolia Cebola trepadeira (estranha e fascinante) Bowiea volubilis Dionaea muscipula Dionéia (carnívora) Folha de veludo (estranha) Kalanchoe beharensis Sensitiva (estranha) Mimosa pudica Pérola verde (estranha-forma de bolinha) Senecio rowleyanus Estapélia (suculenta c/ flor cheiro desagradável e atrai moscas) Stapelia nobilis Avelós(líquido leitoso e cáustico) Euphorbia tirucalli Planta hélice (estranha) Crassula falcata Trevo dourado(nervuras douradas) Oxalis corymbosa Aspargo zigue zague (diferente) Aspargus retrofractus FLORA TROPICAL Se você pretende viver num ambiente exuberante e tropical, não deve esquecer das bromélias. Nativas do continente americano, elas são facilmente encontráveis nas matas brasileiras ou nos sertões do interior, onde são mais conhecidas pelo nome indígena ”caraguatá”, ou pelas variações “craguatá” ou “gravatá”. As bromélias apresentam folhas modificadas de colorido intenso e florescem na primavera e no verão. Para que elas não percam sua graça, tente colocá-las num lugar que seja o mais parecido possível com seu habitat natural: ou seja, onde tenha muita luz, calor e umidade. Alguns exemplos: 55 Nome vulgar Nome científico Neoregelia carolinae Aechmea Black Jack Aechmea chantinii Aechmea fasciata Aechmea Foster Favorite Favorite Ananas comosus variegatus Cryptanthus !It! Cryptanthus zonatus Dykia brevifolia Tillandsia cyanea Illbergia pyramidalis Vrisea splendens Carolina tricolor Aechméia negra Planta urna Aechméia prateada Aechméia favorita Abacaxi ornamental Estrela da terra Estrela rajada Díquia Tilândsia Bibérgia Espada flamejante O jardim tropical, estilo brasileiro é amplamente divulgado pelo mundo, abaixo outras plantas usadas neste tipo de paisagismo. Nome vulgar Nome científico Dypsis decary Delonix regia Platycerium bifurcatum Nelumbo nucifera Agave vilmoriniana Agave angustyifolia Mussaenda alícia Pleomele Heliconia bihai Philodendron speciosum Beaucarnea recurvata Encephalartos ferox Nephrolepis cordifolia Cycas revoluta Podranea ricasoliana Cocos nucifera Palmeira triângulo Flamboyant Chifre de veado Flores de lótus Agave retorcida Agave americano Mussenda Dracena malaia Pássaro de fogo Filodendro imperial Pata de elefante ou nolina Sagu de espinho Samambaia de metro Cica Trepadeira sete léguas Coqueiro da Bahia 56 Continuação Nome vulgar Nome científico Spathiphyllum wallisii Sabal marítima Phoenix roebelinii Syngonium podophyllum Agave Jatropha podagrica Furcraea gigantea Impatiens walleriana Licuala grandis Crinun procerum Ciperus papirus Ipomoea pupurea Arundina bambusifolia Bougainvillea spectabilis Davalia fejeensis Alpinia purpurata Heliconia collinsiana Musa coccinea Heliconia psittacorum Ixora coccinea Philodendron scandens Dracaena marginata Tricolor Pritchardia pacifica Dracaena fragrans massangeana Syngonium podophyllum Anthurium andreanum Codiaeum variegatum Roystonea oleracea Rhapis excelsa Dypsis lutescens Icas circinalis Cicas revoluta Philodendron bipinnatifidum Lírio da Paz Palmeira Sabal Palmeira Fênix Singônio Agave estrela Momoninha Piteira Maria sem vergonha Palmeira leque Crino Papiro Ipomea Orquidea bambu Buganvile Renda portuguesa Alpínia/bastão de príncipe Helicônia pêndula Bananeira vermelha Heliconia papagaio Ixora Filodendro brasil Dracena tricolor Palmeira leque de fiji Dracena/ pau d! água Singônio Anturio Cróton Palmeira imperial Palmeira ráfis Palmeira areca bambu Palmeira cica Cica de porte menor Guaimbé 57 Continuação Nome vulgar Nome científico Pandanus veitchi Crinun x powelli !Roseum! Cordyline terminalis Sansevieria trifasciata Bulbine frutescens Acalypha reptans Brunfelsia uniflora Patchystachys lutea Hibiscus rosa-sinensis Thunbergia erecta Galphimia brasiliensis Monstera deliciosa Ravenala madagascariensis Etlingera elatior Heliconia bihai Costus spiralis Heliconia velloziana Heliconia rostrata Dicksonia sellowiana Allamanda cathartica Pândano Açucena gigante Dracaena Cordiline Espada de São Jorge Cebolinha Acalifa rabo de gato Manacá de cheiro Camarão amarelo Hibiscus Tumbergia azul Triális/resedá amarelo Costela de adão Bananeira leque/árvore do viajante Bastão do imperador/gengibre-tocha Helicônia pássaro de fogo Cana branca Caetê Trança de cigana Samambaiaçu Alamanda JARDIM SUSPENSO Se você dispõe de pouco espaço para suas plantas, pense na possibilidade de um jardim suspenso. Mas há outras opções: basta ter um terraço com treliça ou então um pátio protegido por vidro ou ainda um corredor bem iluminado - em todos esses casos as plantas suspensas também ficarão lindas. E o que plantar?Experimente os gerânios pendentes, as alamandas, buganvílias. Todas essas espécies produzem muitas flores intensamente coloridas, quando a iluminação é boa - elas ficam ótimas, por exemplo, junto a uma janela. Você 58 precisará cuidar um pouco mais delas: por ficarem suspensas, elas costumam ressecar bastante. COMO CUIDAR DE PENDENTES: Qualquer planta, por mais bem cuidada que seja, um dia começa a apresentar queda de folhas. Para manter as plantas sempre viçosas e com ramos densos e uniformes, uma boa solução é podar os ramos que crescem junto à borda do vaso. Mesmo que isso lhe pareça drástico, saiba que é um excelente remédio para que a folhagem revigore, tornando-se novamente cheia e espessa. Se preferir uma medida menos radical, faça a poda por etapas. Comece retirando 1/3 dos ramos. Quando as folhas novas brotarem, pode mais 1/3, e assim por diante, até que a planta esteja totalmente recuperada. Quando a folhagem ficar rala no topo do vaso, uma solução é podar a ponta dos ramos mais compridos e enterrá-los novamente no vaso, no meio dos galhos já enraizados. Os caules pelados ficarão encobertos e o aspecto geral da folhagem melhorará. Também as trepadeiras que crescem apoiadas em tutores costumam apresentar problema de queda de folhas, principalmente na base, próximo ao solo.Nesse caso, você pode deixar a planta crescer até uns 20 a 30cm acima do tutor e depois orientá-la em direção à terra do vaso, amarrando-a no tutor. Isso não só recobrirá os ramos desnudos como acelerará o crescimento da planta. Para que a poda seja realmente eficaz, revigorando a aparência geral da folhagem, é importante que você leve em consideração as novas exigências da planta. LUZ: quando podada, a trepadeira necessita de uma quantidade de luz ligeiramente maior, para desenvolver-se com mais rapidez. Isto ocorre porque as folhas restantes - em menor número - terão de captar a energia suficiente para o crescimento da planta. ADUBAÇÃO: na época da poda, procure adubar com mais freqüência sua trepadeira. Depois que o crescimento tiver voltado ao ritmo normal, volte também à quantidade habitual de adubo. 59 ÁGUA: ao contrário do que ocorre com a quantidade de luz e adubo, a planta podada necessita de menos água. Mantenha-a ligeiramente úmida, mas evite as regas em excesso. AS QUATRO ESTAÇÕES PRIMAVERA Grama A estação é caracterizada pelo aumento de temperatura e também pelo início das chuvas, esse fato favorece o aparecimento de doenças fúngicas no gramado: ferrugem, podridão de raízes, mancha cinzenta da folha, queima, etc. para combate-las faça pulverizações com calda bordaleza, deixando um espaço de uma semana entre uma e outra aplicação; 08 g de uréia, diluída em água e aplicada com regador, em cada m2 de grama, vai deixá-la com um bom visual. Nesta época proliferam ervas que concorrem com as gramas ornamentais: trevo, picão-preto, serralha, dente de leão e até tiririca, todas devem ser erradicadas arrancando-se uma a uma, com a raiz, utilizando uma ferramenta própria chamada firmino. O corte da grama pode ser mais baixo: 2 cm de altura. Árvores e arbustos Estão em franco desenvolvimento, por isso os meses de outubro, novembro e dezembro são favoráveis á fertilização mediante adubos foliares, especialmente aqueles cuja fórmula é enriquecida com micronutrientes. Floríferas As flores murchas devem ser eliminadas, para estimular o aparecimento das novas.Nessa época podem ser semeadas: begônias, portulacas e zínias e reproduzidas por estacas: camarõesvermelhos, alamandas, cinerárias, dracenas, brincos de princesa e camélias. 60 Doenças fúngicas Antracnose, ferrugem, míldio, requeima e outras que atacam antúrios, gerânios, prímulas e hortênsias podem ser combatidas com sulfato de cobre. VERÃO Grama Nunca apare a grama quando estiver molhada e cuide para que as facas do cortador manual (elétrico ou à gasolina) estejam afiadas, caso contrário às folhas serão mastigadas facilitando a ocorrência de doenças. Repita a adubação com uréia. Trepadeiras Devem ser, quando escandentes ou volúveis, conduzidas com amarrilhos para subirem nas treliças e pérgolas. Floríferas A maria-sem-vergonha, cravinha, cóleus, tagetes e dálias são semeadas nesta estação e as espirradeiras podem ser reproduzidas por estacas. Húmus de minhoca pode ser aplicado nos canteiros junto com substrato, para melhor incorporação ao solo, afofe a terra com uma enxadinha e use 02 kg de cada por m2. Regas Devem ser abundantes, por causa das altas temperaturas a transpiração é maior. Pragas Com chuva e calor as plantas estão repletas de brotos tenros e atraentes para os pulgões, que podem ser exterminados com calda de fumo, cochonilhas desaparecem usando-se água e sabão ou pulverizando-se com óleo mineral. 61 Plantas de interior Nas regiões frias levar os vasos para o ar livre em local de meia sombra para as plantas se revitalizarem. Ervas aromáticas Estação indicada para secá-las, mas cuidado, na sombra e protegidas da umidade. OUTONO Grama Com a estiagem o corte deve ser alto, 3 a 4cm; com uma camada foliar maior a umidade se conserva melhor. Uma aplicação de 30g de cloreto de potássio por m2 vai proporcionar-lhe maior resistência contra as doenças. De 15 em 15 dias, passe um rastelo, superficialmente, para retirar folhas e raízes mortas. Árvores No pomar podar após a queda das folhas. Floríferas É época de semear prímulas, anêmonas, alisso e amores perfeitos. A estação também é propícia para reproduzir jasmins-do-cabo, cóleus e gerânios por estacas, e multiplicar por divisão de touceiras agapantos, gérberas, hemerocalis, clorofitos e violetas-de-cheiro. Doenças e pragas Nessa época podem aparecer aranhas imperceptíveis a olho nu, são ácaros que se instalam na parte inferior das folhas, enrolando suas bordas e deixando-as com o aspecto vítreo, até amarelarem e caírem.Uma pulverização com produtos a base de enxofre é a solução, pois eles têm ação antiparasitária e também combatem, o 62 oídio que afeta: azaléias, resedás e calanchôes, deixando suas folhas acinzentadas antes de caírem prematuramente e os cancros que ferem os troncos das roseiras, gardênias e outros arbustos. INVERNO Grama Espere o mês de agosto para colocar a camada de cobertura, que deve ter 40% de terra vegetal, 30% de areia, 30% de substrato e também 01 kg de húmus de minhoca, 200g de torta de mamona e 100g de farinha de ossos por m2. Aproveite para fazer uma aeração no gramado. Árvores e arbustos Galhos e folhas secas fornecem ótima matéria orgânica, use esses detritos como cobertura nos canteiros.Não aplique fertilizante respeitando os meses de dormência. Muitas plantas hibernam por completo, especialmente as caducifólias, portanto ramos inúteis e mal formados devem ser suprimidos através de podas, utilizando tesouras e serrotes apropriados. Floríferas No mês de agosto podem ser multiplicados por estacas as hortênsias, sete léguas, bicos de papagaio, gerânios, dracenas, hibiscos, jasmim-amarelo e muitas outras. 63 PRODUÇÃO DE MUDAS: frutíferas e flores tropicais Carlos Josafá de Oliveira “Produzir mudas como agronegócio é mais uma receita agregada ao produtor”. Existem duas maneiras de propagação de mudas: 1. REPRODUÇÃO - propagação sexuada, via seminal, por semente. 2. MULTIPLICAÇÃO - propagação vegetativa ou assexuada, utiliza-se partes da planta. Para formação e desenvolvimento das plantas reproduzidas por sementes é necessário que o pólen (gameta masculino) fecunde o óvulo (gameta feminino) contido no ovário da flor. Como resultado dessa polinização, o ovário se transformará em um fruto com suas respectivas sementes. Estas sementes plantadas darão plantas cujas flores, no momento da formação dos gametas: masculino (pólen) e feminino (óvulo) os caracteres hereditários dos pais normalmente se separam. Daí, se propagarmos por sementes uma planta frutífera de reconhecido valor pelas finas qualidades de seus frutos, dificilmente conseguiremos descendentes que produzam frutos idênticos. Ao contrário, se multiplicarmos a mesma planta frutífera através de enxertos ou outro método de propagação Engo. Agro. CEPLAC/CENEX/EMARC-URUCUCA. 64 vegetativa, conseguiremos produzir descendentes cujos frutos irão ter as mesmas qualidades finas da planta mãe. Fenômeno da incompatibilidade sexual – há plantas frutíferas, como o cacaueiro, que apresentam o fenômeno da incompatibilidade sexual, isto é, plantas da mesma espécie se cruzam mas não dão frutos. São plantas incompatíveis, que podem ser: a) Auto-incompatíveis – quando não há fecundação no cruzamento entre as flores da mesma planta. b) Interincompatíveis – quando não há fecundação no cruzamento entre flores de uma planta com outra. Do mesmo modo, se propagarmos por sementes uma dessas plantas, de reconhecido valor pelas excelentes qualidades de seus frutos, boa produtividade e elevado grau de tolerância à vassoura-de-bruxa, dificilmente iremos conseguir descendentes com essas mesmas qualidades. Todavia, através da propagação vegetativa, conseguiremos transferir integralmente para os descendentes (plantas filhas), os mesmos caracteres genéticos da planta mãe. Existem entre os cacaueiros plantas compatíveis: a) Autocompatíveis – há fecundação no cruzamento entre flores da mesma planta. b) Intercompatíveis – há fecundação no cruzamento entre flores de uma e outra planta. Neste caso, se propagarmos uma dessas plantas, pelos dois métodos, reprodução ou multiplicação, os descendentes serão idênticos à planta que lhes deu origem. No caso específico do cacaueiro, a propagação vegetativa com a utilização dos ramos plagiotrópicos (palmas) é vantajosa pela redução do porte da planta favorecendo a colheita e o fácil manejo. De modo geral, a maioria das plantas frutíferas, de importância comercial, é propagada vegetativamente, para assegurar a carga genética da planta mãe ou planta matriz aos seus descendentes. ALGUNS CONCEITOS: • Muda – material de propagação vegetal de qualquer gênero, espécie ou cultivar, proveniente de reprodução sexuada ou assexuada, que tenha finalidade específica de plantio. 65 • Muda-de-torrão – muda com as raízes envolvidas por porção de terra devidamente acondicionada. • Muda-de-raíz-nua – muda com raízes expostas, devidamente acondicionadas. • Viveiro – área convenientemente demarcada para a produção de mudas. • Viveiro a céu aberto - área livre demarcada para o plantio de mudas. • Viveiro rústico – com cobertura e laterais protegidas com material rústico (folhas de palmeiras etc.). • Planta matriz – planta original com bons atributos genéticos de onde se extrai as hastes (garfos e borbulhas) para a propagação vegetativa. • Propagação vegetativa – processo de reprodução assexuada. • Produtor de mudas – pessoa física ou jurídica que produza sementes ou mudas por meio de semeadura ou plantio, assistido por um responsável técnico. • Enxertia – método de propagação vegetativa para substituição da copa de uma planta visando a melhoria genética. • Porta-enxerto ou cavalo – parte da enxertia que fornece as raízes. • Enxerto ou cavaleiro – parte superir da enxertia que fornece a copa. • Clone – planta ou conjunto de plantas geneticamente iguais à planta matriz. • Estaquia – método de propagação vegetativa pelo enraizamento de estacas. • Estaca – parte caulinar(pedaços do caule) usada para enraizamento. • Alporquia – processo de multiplicação de plantas por enraizamento dos ramos antes de serem destacados da planta matriz ou planta-mãe. • Pé-franco – muda obtida de semente, estaca ou raiz, sem o uso de enxertia. 66 • Muda seminal – originária de semente. • Muda clonal – originária de um clone. RENASEM – Registro Nacional de Sementes e Mudas: Instituído no MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento pelo Art. Nº 7 da Lei Nº 10.711 de 5 de agosto de 2003, dispõe sobre os critérios legais para a produção de mudas a nível nacional. • Validade do Registro - 3 anos • Comunicação para alterações - 30 dias • Cancelamento automático - 60 dias após o vencimento. ISENÇÃO DO REGISTRO - Art. Nº 8: ficam isentos da inscrição no RENASEM os agricultores familiares, os assentados da reforma agrária e os indígenas que multipliquem sementes ou mudas para a distribuição, troca ou comercialização entre si. ALGUNS CRITÉRIOS DA LEI: o material de propagação (vegetativa ou seminal) de qualquer gênero, espécie ou cultivar, para a produção de mudas, deverá ser proveniente de planta matriz, jardim clonal ou borbulheira, previamente inscrita no órgão fiscalizador. O Art. 5º atribui competência aos Estados para elaborar normas e procedimentos relativos à produção de sementes e mudas, exercer fiscalização do comércio estadual. O processo de produção de mudas compreende as seguintes etapas: • • • • • Obtenção da planta básica Obtenção da planta matriz Instalação do jardim clonal Instalação de borbulheira Produção da muda 67 PROPAGAÇÃO SEMINAL DE FRUTÍFERAS EM VIVEIRO a) Preparo do germinador: escolher um canteiro ou parte do canteiro, tendo como substrato, areia lavada grossa misturada com pó de serra úmidos. Sementes sadias, a depender do tamanho, distribuir em sulcos rasos ou espalhadas cobrindo-as levemente com o substrato. Logo após proceder a rega com o auxílio do regador. Regar de 2 em 2 dias, não regar em período chuvoso. b) Transplantio - Após a germinação, em torno de 25 a 30 dias, transferir as mudinhas (plântulas) para as sacolas plásticas. SUBSTRATO PARA AS MUDAS Terriço - a qualidade do terriço é essencial para o bom desenvolvimento das mudas. Merece atenção especial porque é desse material que as novas plantas vão retirar os nutrientes para os seus primeiros 90 a 120 dias de vida. A depender da origem, deve ser tratado e fertilizado tecnicamente. O lixo urbano de 5 anos pode ser utilizado como terriço, todavia merece cuidados fitossanitários, uma vez que, constitui fonte de inoculo de nematóides do gênero Meloidogyne spp, são vermes microscópicos, parasitas de raízes das plantas cultivadas. Há uma recomendação agroecológica com cinzas de madeira para o tratamento: misturar bem as cinzas ao terriço em proporções adequadas. Solos pobres de barranco devem ser fertilizados tecnicamente. COMO FERTILIZAR UM TERRIÇO TECNICAMENTE Em experiências com os nossos alunos do curso de Agropecuária da Emarc-UR alcançamos bons resultados com o seguinte preparo: • 1000 litros de terriço (50 latas); • 01 kg da fórmula 4-14-8 (ou similar que guarde a mesma relação 1-3-2); 68 • Composto orgânico na proporção de 5:2 (se enriquecido c/ fósforo: 5:1). Obs: Para facilitar o manejo, trabalhamos com porções de 250. PROPAGAÇÃO VEGETATIVA EM VIVEIROS ESTAQUIA - multiplicação por enraizamento de estacas. O Instituto Biofábrica de Cacau utiliza o fitormonio industrializado, Ácido Indolbutírico (pó branco) como indutor de raízes para a produção de mudas de cacau e outras espécies botânicas. RECEITA AGROECOLÓGICA PARA INDUÇÃO DE RAÍZES Naturalmente, as plantas possuem o fitormonio Indolbutírico para a formação específica de suas raízes. Porém, é sabido que as gramíneas dandá e tiririca, concentram quantidades mais elevadas dessa substância. O viveirista Arnor, do Viveiro II de Plantas Ornamentais, funcionário da Emarc-Ur nos apresenta a seguinte Receita: MATERIAIS: 1kg de Dandá ou Tiririca, 250 ml Álcool cereal, 1L Água; PROCEDIMENTO: Moer ou macerar bem os bulbos (batatinhas) com as folhas e colocar na água durante 48 horas, em seguida, coar e colocar no álcool; DURAÇÃO: 30 dias USO: imersão da estaca até a metade durante uns 2 minutos. PROPAGAÇÃO DE MUDAS RESISTENTES DE FRUTÍFERAS • Abacaxizeiro. Propagação em campo. O abacaxizeiro é propagado assexuadamente através de seus órgãos vegetativos. No cultivo da abacaxi, a sanidade do material de plantio assume grande importância, uma vez que, a fusariose e a cochonilha constituem os principais problemas fitossanitários dessa cultura. 69 Tipos de mudas: a) Rebentos - ramos foliáceos que se desenvolve de gemas encontradas na parte subterrânea do caule. b) Rebentões –ramos foliáceos que surgem de gemas encontradas na zona entre o caule e o pedúnculo. c) Ramos foliáceos que crescem de gemas do pedúnculo, logo abaixo do fruto. A EMBRAPA/Cruz das Almas-BA lançou em 2003, o Abacaxi Imperial resistente à doença fusariose (apodrecimento do fruto) causada pelo fungo Fusarium subglutinans, responsável pelas perdas de produção do país, superiores a 80%. BIOFABRICA DA EMBRAPA: Endereço para contato: Rua Embrapa S/N. Cx Postal 007. CEP. 44380-000 Cruz das Almas/BA. Telefax. (75)3621-2584 E-mail: maurí[email protected] • Bananeira - propagação em campo Tipos de mudas: a) Chifrinho - com 50cm b) Chifre – com 80cm c) Chifre-de-veado - de 80cm a 1,0m d) Pedaços de 1 kg de rizoma e) Pedacinhos triangulares extraídos do rizoma Mudas de cultivares de bananeiras resistentes a Sigatoka negra, Sigatoka amarela e ao Mal-do-panamá: 1. Caipira 3. Thap maeo 5. Fhia 01 2. Pakovan Ken 4. Fhia 18 6. Tropical PRODUÇÃO DE FLORES TROPICAIS A floricultura mundial movimenta, em sua cadeia produtiva, mais de 50 bilhões de dólares. Nesse mercado, as flores tropicais 70 representam apenas 5%, o que evidencia um grande espaço para ser ocupado. Pela beleza de suas cores,exoticidade de suas formas e maior durabilidade nos vasos, fizeram com que saíssem de apenas uma atividade prazerosa dos jardins, para se tornarem um agronegócio com grandes perspectivas.Os países importadores têm mostrado grande receptividade e interesse. Exemplos das mais preferidas: Heliconias – multiplicação por bulbos, dispensa o replantio. Floração: o ano todo. Folhagem de porte alto, dependendo da variedade, pode atingir até 2,5m de altura. Produz flores exóticas com cores que variam de amarela, vermelha ou combinadas entre si. Forma touceiras. Adapta-se a qualquer clima, mas prefere calor e umidade. Originária da América do Sul. Nome vulgar: banana-do-mato. Algumas variedades: Heliconia wagneriana; Heliconia rostrata; Heliconia bihai; Heliconia rauliniana etc. Bastão do Imperador (Etlingera elatior) - multiplicação por bulbos e rebentos foliares. Folhagem alta produz lindos cachos de flores vermelhos. Características de clima similar as heliconias. Bastão-de-príncipe – similar ao bastão-do-imperador, porém, de porte baixo e flores cor de rosa. Musas – multiplicação por rizomas. Destacam-se as espécies Ensete ventricosum pela exuberância de suas folhas e Musa veluntina com as flores rosa encarnado. Costus - multiplicação por rizomas. Vulgarmente conhecida como cana-de-macaco, tem destaque nos jardins de todo o Brasil as espécies Costus spicatus SW, hastes de 0,80m, flores amarelas e a Costus cobra, de hastes compridas com nós e entre-nós coloridos de verde, branco e vermelho. Sorvete (Zingíber spectalis) – família das Zingiberáceas, a mesma do Costus, destaca-se pela exuberância de suas flores globosas no ápice das hastes, tomando a forma de um sorvete. Dá um toque especial nos arranjos ornamentais junto as heliconias. Multiplicação por bulbo 71 Antúrio (Anthurium spp) – destaca-se pelas folhas verdebrilhantes, de limbo geralmente cordiforme e variadas matizes das flores de inflorescência tipo espádice ereto (sub-tipo da espiga). Entre as espécies nativas e cultivadas no Brasil encontram-se: A.belleum Schott; A. harrisii Don; A. radicans Koch; A. regale Linden; A. scandens Engl e A.scherzerianum Schott, sendo a espécie A. andreanum Linder, a mais comum no Brasil. Multiplicação por estacas. Desenvolvem-se abrigadas do sol e dos ventos. FOLHAGENS Destacam-se as Cordylines, Dracenas, Pandanos e Filodendros. Dracenas – multiplicação por enraizamento. Corta-se a haste 30 ou 40cm do broto terminal, elimina-se as 3 folhas inferiores e colocase num vaso com água para enraizar. Após o enraizamento, transportase para o vaso definitivo com composto orgânico umedecido. Cordiline ou dracena-rosada (Cordyline sp) – multiplicação igual às dracenas. Filodendro (Philodendron selloum) – outros nomes vulgares imbé ou cipó-de-imbé. Multiplica-se por estacas. As folhagens normalmente preferem lugares claros, mas protegidas da incidência direta da luz solar. RECEITAS DE PREPARO DE SOLOS PARA PLANTAS ORNAMENTAIS 1. Mistura Universal – uma receita que segundo os paisagistas, satisfaz as necessidades do maior número de plantas: 7 partes de terra argilosa preta 3 partes de esterco curtido ou composto orgânico 2 partes de areia grossa Podendo aperfeiçoa-la adicionando em cada 5 kg da mistura acima os seguintes ingredientes: • ½ colherinha de giz moído ou calcário (exceto para as azáleas que preferem solo ácido) 72 • 2 colherinhas de farinha de ossos ou 1 de cinzas de ossos • 2 colherinhas de superfosfato simples • 1 colherinha de sulfato de potássio ou cloreto de potássio. Obs.: dispensar o potássio se o composto orgânico teve em sua composição fragmentos do pseudocaule inteiro com as folhas de bananeira. 2. Receita de preparo de solos para as plantas tropicais em geral: • 2 partes de areia lavada grossa • 1 parte de argila solta • 1 parte de terra preta • 1 parte de composto orgânico ou esterco curtido ou ½ parte de húmus de minhoca. Para cada 5 kg da mistura, adicionar os seguintes ingredientes: • 1 colher-de-sopa de carvão em pedacinhos • 1 colherinha de giz moído ou calcário 3. Receita para roseiras – preparo de canteiros: • Os canteiros devem ser preparados com 8 dias de antecedência do plantio. • Fofar a terra 30 a 40 cm de profundidade. • Misturar 10 a 15 kg de esterco curtido ou 5 a 7,5 kg de húmus de minhoca por metro quadrado (m2). • Completar a adubação, misturando bem 100 a 200 gramas de farinha de ossos ou 50 gramas de cinzas de ossos. Obs.: Além de roseiras, este preparo de canteiros serve também para bulbos e plantas tropicais diversas. Cuidados com as mudas: Conservar as mudas de roseiras na sombra até a hora do plantio e plantar o mais rápido possível. 73 Espaçamento das mudas: de acordo com as variedades. • Roseiras de menor porte - 30 a 50cm • Roseiras de maior porte - 70cm, 1,0 a 2,0m Plantio das mudas de roseiras: • Abrir as covas com 30cm de profundidade; • Colocar a muda na cova, enchendo-a com terra aos poucos apertando levemente junto às raízes e logo após, regar bem. Se a muda for de torrão basta retirar a sacola plástica que a envolve e plantar. Se as mudas forem de raiz nua, ao retirar a embalagem que protege as raízes, mergulha-las em água por 2 a 3 minutos. Ao colocar a muda na cova, localizar o ponto do enxerto, deixando-o a 1cm acima do solo. Nos meses quentes, proteger as mudas recém plantadas, durante 15 a 20 dias, com folhas de palmeiras ou ramos de folhagens. Regar diariamente, de preferência à tarde com o sol mais frio, até o início da floração. Depois só nos dias quentes. Roseiras não gostam muito de água. Manter a terra do canteiro sempre fofa e livre de plantas invasoras. Importante: Assim que surgir as primeiras folhas, fazer uma aplicação do fungicida Dithane - 45 a 0,02%, pois nesse período o ataque de doenças é mais severo. ESTAQUIA EM PLANTAS DE INTERIOR • plantas de interior - São as plantas umbrófilas, do interior da casa, amigas da sombra. Cortar o broto terminal a 8 ou 10cm abaixo de uma junta de folhas, deixando-se 3 a 4 folhas no topo. Colocar as estacas para enraizar numa parte do canteiro, usando-se como substrato, composto orgânico puro, sem terra. Fazer o enterrio até a metade do ramo, firmar ligeiramente e logo após, molhar o composto. Usar um pauzinho roliço para fazer as covas. Protegê-las da luz direta e da ação dos ventos. Logo que começarem a crescer, podem ser retiradas e envasadas individualmente. 74 PRODUÇÃO DE MUDAS DE CACAU 1. Construção do viveiro (rústico ou de alvenaria) a) Localização: próximo à água e fácil acesso b) Piso: plano ou declive até 5% c) Boa drenagem: utilizar areia lavada grossa – mínimo 2cm. Para Viveiros de alvenaria, usar, se possível, brita e areia grossa nos lastros dos canteiros, 5 a 10cm da primeira e 10 a 15cm da segunda. d) Sentido: Norte-Sul 2. Preparo de terriço Para solos pobres de barranco até 60cm de profundidade. Misturar em 1000 litros (recomendação da Ceplac): • 1 kg de calcário dolomítico (o calcário deve ser bem misturado até desaparecer a coloração branca); • 4 kg de Superfosfato simples; • 25 gramas de FTE BR-12. Outra mistura de terriço experimentada na Emarc-Ur com bons resultados: Para 1000 litros de solo pobre, misturar: • 1 kg da fórmula 5-15-10 ou 4-14-8, que guardam a mesma relação 1:3:2; • Esterco de gado curtido ou composto orgânico simples na proporção de 5:2; • Esterco de galinha ou composto orgânico enriquecido com fósforo na proporção de 5:1. ENXERTIA DE CACAU EM VIVEIROS Dado o fácil domínio, os tipos de enxertia mais usados pelos produtores são: 75 a) Garfagem de topo em fenda cheia: neste caso, o diâmetro do enxerto deve ser compatível com o diâmetro do porta-enxerto. b) Garfagem de topo em meia-fenda: o diâmetro do enxerto é mais fino que o do porta-enxerto. Tamanho dos garfos: condicionado ao número de gemas, mínimo de 2 e máximo de 4. (Gemas – são as pequenas estruturas no canto da folha, ou seja, na axila foliar). Tempo de realização de cada enxerto: em torno de 30 segundos, para evitar oxidação da seiva. Fitossanidade: descartar garfos praguejados e doentios. No corte do bisel é comum observar-se algumas estrias castanho-escuras que são sintomas da doença fúngica Lasiodiplodia. A cigarrinha-dosramos, por sua vez, deixa os ramos inchados com fendilhamentos ressecados. Garfos com esses danos devem ser eliminados. COLETA DE HASTES OU VERGÔNTEAS a) As hastes devem ser colhidas de clones ou matrizes certificadas, oficialmente recomendadas de jardins clonais devidamente credenciados. b) As hastes devem ser colhidas nas horas mais frescas do dia, pela manhã ou à tarde. c) Conservação das hastes: Parafinar 1 a 2cm das extremidades para evitar a desidratação. Acondiciona-las em papel jornal umedecido e transportar em caixas de isopor. PORTA-ENXERTOS - Com o advento da doença mal-do-facão, no Sul da Bahia, a Ceplac passou a recomendar sete clones descendentes do clone IMC, tolerantes ao fungo Ceratocystes fimbriata, causador da doença: TSH – 1188; CEPEC – 42; TSA – 654; TSA – 792; TSA – 656; TSH – 774 e TSH – 565 O clone LC TEEN 37 A, oficializado pela Ceplac o ano passado 76 (2004), na 26ª Semana do Fazendeiro, constitui uma nova base genética originária do Equador. Segundo informação de Didie Clement em um Seminário no auditório do Cepec, no dia 26/09/2005, esse clone é resistente à doença Monília. Padrões de muda seminal de cacau estabelecidos pela Delegacia Federal de Agricultura da bahia – DFA • Tamanho e desenvolvimento uniforme • Aspecto fitossanitário saudável • Apresentação de 5 a 8 folhas maduras • Caule apresentando 0,7 a 1,0cm na altura do nó cotiledonar • Idade de 4 a 6 meses • Sistema radicular normal sem exposição das raízes 77 MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA NA REGIÃO CACAUEIRA DA BAHIA. ASPECTOS BÁSICOS Quintino Reis de Araújo1,2 Arlicélio Paiva2 Reflexão Inicial A relação que existe entre solo e planta é de completa dependência um do outro. O solo serve para dar sustentação às plantas e funciona como um reservatório de água e nutrientes necessários para a vida das plantas. Por outro lado, as plantas promovem a cobertura do solo e fornecem matéria orgânica que é importante para a formação e conservação do solo. O solo é composto por pequenos espaços vazios, chamados de poros. Os poros de tamanho maiores são conhecidos como macroporos e os de menor tamanho, de microporos. Eles desempenham funções específicas no solo, os microporos servem para armazenar água, enquanto que os macroporos são responsáveis pela drenagem da água, pela entrada e saída dos gases no solo e pela penetração das raízes das plantas. Assim sendo, é de extrema importância que as técnicas adotadas para o cultivo de plantas não promovam a alteração na porosidade do solo. No entanto, sempre ocorrem mudanças, a mais comum é o aumento da quantidade de microporos e a diminuição de macroporos. Com isso, a velocidade de infiltração da água no solo 1 2 CEPLAC / Centro de Pesquisa do Cacau. [email protected] UESC / Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais. [email protected] 78 fica mais lenta e a água passa a se acumular na superfície, provocando o escoamento que é conhecido como enxurrada. Esse escoamento superficial é um importante fator que provoca erosão. A erosão é o processo de desgaste acelerado do solo, provocado pela utilização de técnicas inadequadas para o cultivo. Ela provoca o empobrecimento do solo e a perda da capacidade produtiva com o passar dos tempos. Além disso, ela é responsável por importantes desajustes ambientais. Um deles é o transporte de terra para dentro dos rios que, muitas vezes, provoca a sua morte. Outro impacto importante é a poluição dos mananciais, que compromete a qualidade da água para consumo humano e animal. Conservação do Solo e da Água O solo é um recurso natural que deve ser utilizado como patrimônio da coletividade, independente do seu uso ou posse. É um dos componentes vitais do meio ambiente e constitui o substrato natural para o desenvolvimento das plantas. A ciência da conservação do solo e da água preconiza um conjunto de medidas, objetivando a manutenção ou recuperação das condições físicas, químicas e biológicas do solo, estabelecendo critérios para o uso e manejo das terras, de forma a não comprometer sua capacidade produtiva. Estas medidas visam proteger o solo, prevenindo-o dos efeitos danosos da erosão aumentando a disponibilidade de água, de nutrientes e da atividade biológica do solo, criando condições adequadas ao desenvolvimento das plantas. Do ponto de vista da conservação do solo, a ocorrência de chuvas fortes em uma determinada região é preocupante, pois essas chuvas têm um alto potencial de desgaste dos solos. Na região cacaueira da Bahia é muito comum a ocorrência de chuvas intensas, donde se pode concluir que é uma região que pode ocorrer erosão, dependendo apenas do tipo de uso do solo. O impacto das gotas das chuvas fortes sobre a superfície de um solo sem cobertura vegetal, provoca a 79 separação das partículas de argila, silte e areia. As partículas individualizadas que são transportadas pela água para dentro do solo, estacionam no interior dos macroporos e provocam o entupimento. Como os macroporos são responsáveis pela infiltração da água, começa a ocorrer um acúmulo de água na superfície, resultando em enxurrada e conseqüente erosão. Portanto, as aparentemente inofensivas gotas de chuva são as principais responsáveis pelo desgaste dos solos sem cobertura vegetal. Diante disso, o agricultor deve se empenhar ao máximo para manter a cobertura vegetal do solo, uma vez que ela amortece o choque das gotas de chuva contra a superfície do solo, diminuindo os riscos de ocorrência de erosão. Essa cobertura pode ser feita por intermédio da preservação das florestas, pelas culturas agrícolas, pelas plantas de cobertura e/ou pela adição de restos de plantações. Outro componente importante na ocorrência de erosão é a topografia do terreno. Em locais muito declivosos, a possibilidade de ocorrer erosão é muito maior do que em locais mais planos. A região cacaueira da Bahia tem extensas áreas declivosas, as quais são susceptíveis à erosão. O declive acentuado favorece a uma maior velocidade de escoamento das águas e conseqüente aumento da capacidade de transporte de terras para as partes mais baixas do relevo. Nesse contexto, pode-se afirmar que, por apresentar a maior parte das terras ocupadas por sistemas agroflorestais, nos quais o cacau é a cultura de interesse econômico principal, a região cacaueira da Bahia possui uma boa estratégia para evitar a erosão, uma vez que as plantas que compõem o agroecossistema funcionam como amortecedores do choque das gotas de chuva sobre o solo. No entanto, isso não significa que o cacauicultor possa ficar despreocupado com a erosão. Em visitas freqüentes feitas em diversas fazendas de cacau da região, engenheiros agrônomos que trabalham com manejo e conservação do solo, têm observado a ocorrência de erosão laminar em áreas declivosas. Nessas áreas, a cobertura do solo proporcionada pelo cacau, juntamente com as 80 demais plantas que compõem os sistemas agroflorestais, não é suficiente para evitar a erosão. Desse modo, o cacauicultor deverá introduzir uma técnica de conservação do solo para aumentar a resistência do solo contra a erosão, evitando assim o seu empobrecimento. Faz-se necessário conhecer e adotar algumas técnicas conservacionistas que são eficientes para o controle da erosão. Nos últimos tempos, a região sul da Bahia passou por uma mudança muito importante no uso de seus solos, em decorrência da crise estabelecida na lavoura cacaueira. A alteração mais significativa foi a substituição da cabruca por áreas de pastagem, de fruteira e de café, entre outros. Essas modificações ocorridas têm gerado preocupações com relação à conservação do solo, pois, até então, os agricultores não viam necessidade de se adotar técnicas conservacionistas, uma vez que a proteção do solo promovida pelo sistema cabruca é mais eficiente do que os outros tipos de usos que surgiram. As pastagens bem manejadas, nas quais se utilizam o sistema de rotação de pastos, a associação com plantas leguminosas, a calagem e a adubação, contribuem para a conservação dos solos, pois promovem a cobertura dos solos por intermédio das gramíneas e pelo fornecimento de matéria orgânica. No entanto, em boa parte das terras ocupadas por pastagens na região cacaueira, o que se observa é o pastoreio excessivo, no qual, os animais cortam o capim rente à superfície do solo, levando a uma completa degradação dos pastos e deixando o solo exposto à erosão. Para piorar a situação, a técnica mais utilizada no manejo de pastagens degradadas é o uso indiscriminado do fogo. Com a diversificação dos cultivos ocorrida na região, houve um aumento das áreas ocupadas por fruteiras e café. Como essas plantações naturalmente promovem uma menor cobertura do solo quando comparadas com o sistema cabruca, ocorreu, possivelmente, um aumento das perdas de solo por erosão. Entretanto, essas perdas podem ser minimizadas com a adoção de técnicas eficientes de controle da erosão. 81 A Queimada e o Solo Existe uma ilusão de que a terra fica mais fértil depois de queimada. O que ocorre na realidade é que os nutrientes que seriam adicionados aos poucos, ao solo, pela decomposição da matéria orgânica, passam a ficar disponíveis de uma só vez nas cinzas. Com isso, esses nutrientes são levados embora pelas chuvas e o resultado é um solo muito mais pobre do que antes de ser queimado. Além disso, existem diversas recomendações que devem ser seguidas, com o objetivo de se fazer uma queimada controlada. Para isso, os agricultores devem procurar informações nos órgãos especializados. A natureza demonstra que os ambientes, nos quais a queimada ocorre como um fenômeno natural (provocado por descarga elétrica, por fricção entre corpos), apresentam-se, de modo geral, com solos empobrecidos, com conseqüentes deficiências nutricionais, pH inadequado, altos teores de elementos tóxicos. Dentre as conseqüências negativas advindas da queimada estão: a destruição dos organismos do solo, a queima da matéria orgânica, volatilização de alguns nutrientes, liberação de CO2 para a atmosfera, diminuição da infiltração e retenção de água, aumento da susceptibilidade do solo à erosão, redução da capacidade produtiva dos terrenos e desequilíbrios no meio ambiente. Os efeitos do fogo têm sido mais desastrosos, quando decorrentes de queimadas mal conduzidas e aplicadas continuamente. Tem-se verificado que em áreas prejudicadas pelo fogo, como parte de um manejo deficiente, as culturas revelam queda de produtividade e os pastos diminuem sua capacidade de suporte. Os prejuízos ambientais decorrentes do fogo têm sido mais intensos, destacadamente, em áreas de relevo acidentado e muito inclinado. Tipos mais Comuns de Erosão Erosão por Salpicamento: é provocada pelo choque das gotas de chuva contra a superfície do solo descoberto. Com o choque, as 82 partículas do solo ficam separadas umas das outras e entopem os poros. Nas áreas mais declivosas ocorre uma maior quantidade de terra transportada. Erosão Laminar: é o tipo de erosão mais importante que existe. Na maioria das vezes, o agricultor não percebe a sua ocorrência e quando ela é notada, os estragos já foram feitos. Por isso, é considerada como a mais perigosa das erosões. Esse tipo de erosão se caracteriza por retirar finas camadas ou lâminas de solo, daí o nome laminar. O agricultor deve ficar atento no surgimento de certos sinais de ocorrência dessa erosão, como o aparecimento de raízes e pedras na superfície do solo cultivados com culturas permanentes, como são os casos do cacau, do café e de certas fruteiras. Erosão em Sulco: é o tipo de erosão que mais chama atenção do homem. Porém, provoca menos desgaste do que a erosão laminar. Locais declivosos e com solo descoberto é favorável a ocorrência desse tipo de erosão. Erosão em Voçoroca: esse tipo de erosão provoca um grande impacto visual. A sua origem é a erosão em sulco não controlada. É muito cara e difícil de ser controlada. Em áreas de ocorrência de voçoroca fica impossibilitado o uso de máquinas e equipamentos agrícolas. Planejamento Conservacionista A solução dos problemas decorrentes da erosão não depende da ação isolada de um produtor. A erosão produz efeitos negativos para o conjunto dos produtores rurais e para as comunidades urbanas. Um plano de uso, manejo e conservação do solo e da água deve contar com o envolvimento efetivo do produtor, do técnico, dos dirigentes e da comunidade. 83 Dentre os princípios fundamentais do planejamento de uso das terras, destaca-se um maior aproveitamento das águas das chuvas. Evitando-se perdas excessivas por escoamento superficial, podemse criar condições para que a água pluvial se infiltre no solo. Isto, além de garantir o suprimento de água para as culturas, criações e comunidades, previne a erosão, evita inundações e assoreamento dos rios, assim como abastece os lençóis freáticos que alimentam os cursos de água. Uma cobertura vegetal adequada assume importância fundamental para a diminuição do impacto das gotas de chuva. Há redução da velocidade das águas que escoam sobre o terreno, possibilitando maior infiltração de água no solo e, diminuição do carreamento das suas partículas. Principais Técnicas de Conservação do Solo Práticas Vegetativas Florestamento e reflorestamento Plantas de cobertura Cobertura morta Rotação de culturas Formação e manejo de pastagem Cultura em faixa Faixa de bordadura Quebra vento e bosque sombreador Cordão vegetativo permanente Manejo do mato e alternância de capinas Práticas Edáficas Cultivo de acordo com a capacidade de uso da terra Controle do fogo Adubação: verde, química, orgânica Calagem Práticas Mecânicas Preparo do solo e plantio em nível Distribuição adequada dos caminhos Sulcos e camalhões em pastagens Enleiramento em contorno Terraceamento Subsolagem Irrigação e drenagem 84 Cultivo de acordo com a capacidade de uso As terras devem ser utilizadas em função da sua aptidão agrícola, que pressupõe a disposição adequada de florestas / reservas, cultivos perenes, cultivos anuais, pastagens etc, racionalizando, assim, o aproveitamento do potencial das áreas e sua conservação. Plantio em Contorno: É conhecido também como plantio em curva de nível. Neste método todas as operações de preparo do terreno, balizamento, semeadura e outras, são realizadas em curva de nível. No cultivo em nível ou contorno criam-se obstáculos à descida da enxurrada, diminuindo a velocidade de arraste, e aumentando a infiltração d’água no solo. Este pode ser considerado um dos princípios básicos, constituindose em uma das medidas mais eficientes na conservação do solo e da água. Essa técnica não pode ser usada isoladamente, principalmente em locais de topografia acidentada e regiões de chuvas intensas, devendo vir junto com outras técnicas para a maior eficiência conservacionista. A escolha dos métodos / práticas de prevenção à erosão é feita em função dos aspectos ambientais e sócio-econômicos de cada propriedade e região. Cada prática, aplicada isoladamente, previne o problema de maneira parcial. Para uma prevenção adequada da erosão, faz-se necessária a adoção simultânea de um conjunto de práticas. Adubação Verde e Plantas de Cobertura A adubação verde consiste na incorporação de plantas ao solo. Essas plantas são especialmente cultivadas para esse fim e são cortadas na época da floração para serem enterradas. Nessa época é onde ocorre o maior armazenamento de nutrientes nas plantas. 85 As plantas de cobertura são cultivadas com o objetivo de proteger o solo contra a erosão. Elas não são cortadas, nem incorporadas ao solo, permanecem durante todo o seu ciclo cobrindo-o. As espécies mais comuns são: feijão-de-porco, mucuna, crotalária, cudzu, amendoim forrageiro, guandu, feijão-de-corda, calopogônio, leucena, entre outras. Tanto a adubação verde quanto as plantas de cobertura são importantes para a melhoria das propriedades do solo. Os solos ficam mais ricos em nutrientes, especialmente em nitrogênio. Esse enriquecimento ocorre por intermédio da adição de resíduos orgânicos ou pela associação com microorganismos. Com o passar dos anos, aumenta o teor de matéria orgânica nos solos cultivados por essas plantas e melhora as propriedades físicas, como a infiltração e armazenamento de água, entrada e saída de gases no solo e penetração das raízes das plantas. Além disso, essas plantas podem controlar as ervas daninhas e alguns tipos de pragas e doenças. Antes de adotar essas técnicas, o agricultor deve se informar com os órgãos oficiais para saber quais as espécies mais indicadas para a região, a disponibilidade de sementes e o hábito de crescimento dessas plantas. Cordão de Vegetação Permanente São plantas cultivadas em fileira (cordão), dispostas em curva de nível, com uma largura aproximada de um a dois metros. É uma técnica eficiente no controle de erosão em áreas declivosas. As plantas utilizadas no cordão devem ter um retorno econômico para o agricultor. As espécies mais utilizadas são cana-de-açúcar, capim elefante, capim santo, capim colonião, entre outras. A depender do grau e do comprimento do declive, o agricultor pode plantar mais de um cordão na sua área. Cobertura Morta: São restos de vegetais utilizados para cobrir o solo e evitar a ocorrência de erosão. Essa técnica evita a perda excessiva de água 86 do solo mediante a evaporação. O exemplo mais conhecido na região é o do cacau “bate folha”. Outro bom exemplo de cobertura morta é o das folhas cortadas das bananeiras. Palavras Finais A história da humanidade está intimamente ligada à história de uso da terra. A conservação do solo e da água mantém a riqueza (capacidade produtiva) das terras, melhora o rendimento das culturas e garante um ambiente equilibrado, para a atual e as futuras gerações. Os agricultores, como protagonistas desta história, têm um papel fundamental na construção de uma vida saudável. 87 FRUTIFERAS POTENCIAIS PARA A REGIÃO SUL DA BAHIA Célio Kersul do Sacramento1 José Basilio Vieira Leite2 INTRODUÇÃO A região sul da Bahia apresenta condições de clima e de solo favoráveis ao cultivo de diversas frutíferas entretanto, o investimento em fruticultura depende do conhecimento técnico para manejo racional da cultura e conhecimento do mercado, por isso, torna-se necessário um planejamento cuidadoso antes da implantação. Para decidir o que plantar, o produtor deve se informar previamente sobre o comportamento da espécie frutífera na região, o tamanho do mercado comprador, e a localização desse mercado. É importante saber também qual é a produtividade, qual a época de produção, quem está produzindo e os preços obtidos, a oscilação de preços no mercado qual o nível de tecnologia, principais pragas e doenças, infraestrutura necessária. No caso do investimento em fruticultura, considerando a perecibilidade das frutas, quanto maior a possibilidade de uso da fruta, menor será o risco. Desse modo, uma fruta que possa ser consumida ao natural mas que também possa ser utilizada para fazer doces, licores, vinho e outros produtos torna-se mais vendável do que uma fruta com pouca utilidade. 1 Engº Agrônomo, DSc. Professor Titular do DCAA da Universidade Estadual de Santa Cruz. Engº Agrônomo, MSc. Pesquisador. CEPLAC/CEPEC 2 88 Atualmente as agroindústrias locais estão expandindo seus mercados e colocando seus produtos em outros estados e até no exterior, portanto haverá necessidade de regularidade na produção de frutas para atender a demanda. Para reduzir os riscos de comercialização o produtor deve sempre que possível associar-se a outros produtores para a formação de volume de comercialização. O associativismo, quando bem conduzido reduz os custos de produção e comercialização. Outro fator a ser considerado é a diversificação de plantios, utilizando sempre que possível, cultivos em sistemas agroflorestais, os quais favorecem a conservação do solo e reduzem os ricos da monocultura. É importante lembrar que existe disponibilidade de tecnologia de produção com qualidade da maioria das frutas conhecidas, portanto o produtor deve sempre consultar um profissional ou se informar através de cursos antes de iniciar o investimento. É importante lembrar, que tomada a decisão de cultivar uma determinada frutífera deve-se trabalhar sempre com mudas de qualidade genética e fitossanitária. Na atividade agrícola a qualidade da muda é o principal aspecto a ser observado. Considerando-se que as frutas são perecíveis recomenda-se que o produtor verifique sempre a possibilidade de fornecimento para agroindústrias próximas à propriedade. Feitas essas considerações apresentamos abaixo informações sobre algumas frutíferas com potencial de cultivo na região sul da Bahia, tecendo comentários a respeito do manejo e do mercado: Abacaxi: A propagação é feita com rebentos, rebentões e coroa os quais podem ser obtidos em plantios comerciais em bom estado fitossanitário.Atualmente mudas produzidas em tubetes são as mais seguras tanto em qualidade genética quanto fitossanitaria. Novas variedades de abacaxi, tolerantes a doenças, estão sendo lançadas pelas empresas de pesquisa. São necessárias de 30.000 a 50.000 mudas para cada hectare, dependendo do espaçamento utilizado. O uso da indução floral com a aplicação de regulador de crescimento 89 uniformiza a frutificação e permite direcionar a colheita para épocas de preços mais favoráveis. Em termos de mercado a região sul da Bahia sofre grande concorrência com outros estados do nordeste, principalmente a Paraíba, onde as condições são mais favoráveis ao cultivo dessa frutífera. O abacaxi, além do consumo ao natural é bastante utilizado pelas agroindústrias de polpa e doces. Açaí - O açaizeiro é uma palmeira introduzida da região amazônica cujos frutos estão tendo bastante aceitação no mercado nacional e internacional. O açaizeiro serve também como fonte de palmito, embora seja inferior ao palmito da pupunha. O açaizeiro pode ser cultivado em mata rala e em terrenos com problemas de drenagem. A planta é propagada por sementes e o espaçamento de plantio é de 4 m, com a condução de 3 a 4 plantas por touceira e começa a produzir a partir do quarto ano. A comercialização dos frutos ainda é pequena ou seja, há poucos compradores, entretanto existe um mercado potencial nos grandes centros do sul e sudeste do Brasil. Banana - Apesar do ótimo clima, a região sul da Bahia não produz banana de qualidade, devido principalmente à falta de tecnologia, qualidade e volume de produção. Além disso, os grandes centros consumidores como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais e os estados do sul preferem as bananas nanicas, sendo abastecidos por plantios dos próprios estados. Desse modo, a comercialização fica restrita às feiras livres, com um preço extremamente baixo devido ao excesso de ofertas. A bananeira pode ser utilizada na implantação de frutíferas que necessitem inicialmente de sombra (cacaueiro, cupuaçuzeiro, mangostanzeiro). A banana pode ser usada na fabricação de doces, licores, cristalizados e purê. Cajá - Não há plantios comerciais de cajá no Brasil, somente exploração extrativista, entretanto trata-se de uma espécie ideal para utilização em sistemas agroflorestais juntamente com plantas que 90 toleram sombreamento como cacaueiro, cupuaçuzeiro e outras frutíferas. O espaçamento deve ser acima de 15 m. A cajazeira pode ser multiplicada por sementes mas leva de 8 a 10 anos para iniciar a frutificação. Desse modo recomenda-se o plantio com estacas de 1,0 m de comprimento e 5 cm de diâmetro. Cupuaçu - O cupuaçuzeiro comporta-se muito bem na região sul da Bahia, é bastante rústico e produz durante 10 meses do ano. As mudas podem ser feitas por sementes, as quais devem ser coletadas em plantas produtivas e com diferentes épocas de produção. O espaçamento mínimo recomendado para o cupuaçuzeiro é de 6 x 6 m e pode ser consorciado com outras plantas mais altas. Cada planta produz em média 40 frutos. O fruto é colhido quando cai no chão e pode ser vendido, despolpado manualmente ou mecanicamente em despolpadeiras. A polpa serve para suco, sorvetes, geleia, doces, cristalizados e compota. As sementes são utilizadas para fazer o cupulate e também usadas para fabricação de cremes. Goiaba - A goiabeira frutifica bem na região sul da Bahia, entretanto a qualidade dos frutos e a produtividade são inferiores quando comparadas com o cultivo de outras regiões de clima mais favorável. A goiaba pode ser propagada por sementes, estaquia e enxertia. Atualmente o melhor método de propagação é a estaquia herbácea. O espaçamento médio é de 5 m. A produção inicia-se a partir do 2º ano e pode alcançar até 40 toneladas por hectare. A região sul da Bahia sofre grande concorrência com as áreas produtores do Vale do São Francisco e alguns estados nordestinos. A fruta é utilizada para fazer goiaba, suco, sorvete, doces e cristalizado. Graviola - A gravioleira comporta-se bem na região sul da Bahia e é bastante rentável entretanto necessita de atenção especial ao seu cultivo, devido principalmente à quantidade de pragas e doenças. As mudas podem ser propagadas por enxertia ou por sementes e o 91 espaçamento mínimo é de 5 x 5 m. Para cada hectare cultivado há necessidade diária de 1,5 a 2,0 homens e mais uma pessoa para trabalhar no despolpamento. Caso não haja alguma agroindústria por perto, a propriedade precisa dispor de eletricidade, água limpa, galpão de beneficiamento com todos equipamentos necessários ao despolpamento, embalagem e conservação da polpa. A polpa tem ampla utilização na fabricação de sorvetes, geleia, doces, cristalizado e compotas. Laranja - Nas condições tropicais úmidas as laranjeira não produzem frutos de boa qualidade, geralmente os teores de açúcar e de acidez são baixos para atender as exigências da industrialização e não apresentam visual de casca amarela típico das frutas cítricas. Além disso, no estado da Bahia, há regiões estritamente citríciolas como Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus, as quais abastecem todo o estado da Bahia. Desse modo não há como competir em qualidade e produtividade com as frutas cítricas produzidas em outros estados do sudeste. Para a implantação de um pomar de laranja as plantas cítricas são progadas via enxertia, estas devem ser provenientes de viveiristas credenciados. O espaçamento entre plantas varia de 4 a 6 m e a produção comercial começa a partir do 4º ano. Mamão - Essa frutífera demanda bastante tecnologia e grande investimento para se obter alta produtividade e qualidade dos frutos. Para pequenos produtores o mercado está restrito às feiras uma vez que, as grandes redes de supermercados são abastecidas por grandes produtores do extremo sul. Desse modo, o mamão pode ser cultivado nas entre linhas, no início da implantação de pomares de outras fruteiras. O espaçamento mínimo para o mamoeiro é 2 x 2 m. Vale lembrar que o mamoeiro não tolera sombra, portanto, no caso de consorciação deve-se plantar primeiro o mamoeiro e depois as outras culturas.. A produtividade pode alcançar 40 toneladas por hectare, quando se usa alta tecnologia. As sementes podem ser adquiridas em casas comerciais ou em pomares da região, 92 lembrando que ocorre redução da produção e da qualidade quando se utilizam sementes de procedência duvidosa. Além do consumo ao natural o mamão serve para fabricação de suco, purê, doces e cristalizados. Mangostão ou mangostin - O mangostanzeiro é uma opção interessante para a região tropical pois apresenta grande rentabilidade devido ao alto preço dos seus frutos. Entretanto a planta começa a produzir somente a partir do 8o ano e a muda precisa de 2 anos para o plantio. A muda é formada por sementes em sacos de polietileno de 40 cm de altura e 25 cm de diâmetro com espessura de 12 micras. O espaçamento mínimo a ser utilizado é 10 x 10 m. Durante os primeiro quatro anos o mangostanzeiro deve ser cultivado à sombra a qual deve ser raleada gradativamente. A produção de plantas adultas está em torno de 600 frutos selecionados. Considerando o seleto mercado dessa fruta recomenda-se que os plantios sejam estabelecidos próximos de outros pomares comerciais para formação de volume de produção. Atualmente a comercialização do mangostão é feito através de 1 ou 2 cooperativas. Os frutos são utilizados somente para consumo ao natural. Maracujá - O maracujazeiro é uma planta bastante precoce e bastante produtiva, entretanto o preço dos frutos é historicamente baixo nos períodos de safra (novembro a julho). No período de agosto a novembro (época de preços melhores) quase não ocorre produção na região sul da Bahia. O investimento inicial de implantação de um pomar de maracujá é bastante alto e o plantio precisa ser renovado a cada 2,5 anos. Os espaçamentos não mecanizados podem ser de 2,5 m entre plantas e 2,5 a 3,0 metros entre fileiras. A melhor época de plantio é no mês de maio, pois a produção começa a partir de novembro. A colheita é feita duas a três vezes por semana e desse modo há necessidade de um mercado comprador próximo do plantio, devido a perecibilidade dos frutos. Os frutos tem ampla utilização nas agroindústrias de suco. 93 Pitanga - A pitanga tem ampla utilização na confecção de sucos, sorvetes, geleias, licores. Não existem variedades bem definidas de pitangueira mas, o produtor deve estar atento para a qualidade dos frutos os quais devem apresentar mais de 6 ºBrix (açucar). Essa qualidade só tem sido verificada nas pitangas roxas. O espaçamento mínimo para a pitangueira deve ser 4 m. Nas condições do sul da Bahia a safra principal ocorre entre outubro e novembro e uma entre safra em maio e abril. Devido a perecibilidade dos frutos recomendase que os plantios sejam próximos a agroindustrias. Rambutão - É uma frutífera originaria da Ásia que está sendo cultivada em pequenas áreas de alguns municípios baianos e encontra-se ainda em expansão na região. Produz uma fruta bastante vistosa e gostosa, com grande potencial de exportação, entretanto ainda não há variedades selecionadas e as plantas são propagadas por sementes podendo ser masculinas ou hermafroditas (flores com dois sexos). O espaçamento mínimo recomendado é 8 x 8m para plantas propagadas por sementes. A produção vai de abril a agosto na região sul da Bahia. Os frutos são comercializados principalmente nos grandes centros urbanos. NOÇÕES GERAIS SOBRE FRUTICULTURA Plantio O plantio é normalmente efetuado na época das chuvas ou em qualquer época onde existe a possibilidade de irrigação. No caso de plantas que produzem antes de 1 ano de campo, como o maracujá e mamão, há épocas mais favoráveis de plantio visando a produção em períodos de preços mais compensadores. Na maioria das frutíferas utilizam-se covas de 40x40x40 centímetros as quais devem ser preenchidas com terra da superfície, 10 litros de esterco curtido de gado e, adubo conforme a recomendação da análise de solo. Os espaçamentos variam de acordo com cada espécie e com os 94 tratos culturais a serem utilizados: manual ou mecânico. No plantio de frutíferas perenes recomenda-se intercalar outros cultivos ou fruteiras para exploração comercial durante o período de crescimento vegetativo da frutífera principal. O mamão, abacaxi, maracujá e a melancia são exemplos de frutas que podem ser cultivadas entre as linhas do cultivo principal. Poda Algumas frutíferas precisam de poda de condução, poda de formação, poda de limpeza e poda de frutificação. Cada planta apresenta um tipo e uma época apropriada de poda. As podas de condução e de formação são feitas visando manter a planta numa forma e altura favoráveis aos tratos culturais. A maioria das fruteiras enxertadas é mantida com alturas entre 2 e 3 metros. Adubação A adubação das frutíferas deve ser feita baseada na análise de solo e análise foliar. A analise do solo deve ser efetuada antes do plantio para verificar a fertilidade do solo e a necessidade da aplicação de adubo e calcário. Recomenda-se nova análise de solo a cada dois anos, sendo as amostras retiradas na projeção da copa e entre as linhas de plantio. Em algumas espécies de frutíferas a análise do solo deve ser complementada com a análise foliar. TRATOS CULTURAIS Controle de plantas daninhas: Após o plantio as plantas devem ser mantidas sem ervas daninhas (mato). O mato pode ser controlado com capinas, roçagem ou aplicação de herbicidas, entretanto o solo não deve ser mantido totalmente descoberto pois isso aumenta a temperatura do solo. Recomenda-se o plantio de leguminosas ou cobertura morta. Irrigação: Em locais onde a chuva não bem distribuída há 95 necessidade de se manter a umidade do solo através da irrigação pois longos períodos sem chuvas causam atraso no crescimento das plantas, queda de flores e queda de frutos Controle de doenças e pragas: O clima úmido favorece o aparecimento de doenças, desse modo, devem ser efetuadas aplicações de fungicidas preventivamente. As pragas devem ser monitoradas e em caso de danos econômicos devem ser controladas com aplicações de inseticidas específicos ou com armadilhas. Desbaste ou raleamento: Quando uma planta produz muitos frutos durante uma safra pode haver produção de frutas pequenas as quais recebem menores preços no mercado. Quando isso acontece o produtor deve fazer um desbaste no início de crescimento deixando na planta o número de frutos necessários para produzir frutos com tamanho preferido pelo mercado. Indução de floração: Algumas plantas podem ser estimuladas a florescer permitindo a produção de frutos na época de melhores preços. O produtor deve procurar orientação de um técnico para o conhecimento e aplicação dessas tecnologias. Colheita, transporte e beneficiamento: Os frutos devem ser colhidos no grau certo de maturação visando o mercado consumidor. A colheita, transporte e beneficiamento dos frutos devem ser feitos com o máximo de cuidado para evitar ferimentos que vão causar entradas de doenças e apodrecimento dos frutos. Após a colheita, as frutas devem ser sempre mantidas em locais frescos e arejados, se possível refrigerados para manter a qualidade por maior tempo. 96 FERTILIZAÇÃO DO CACAUEIRO Rafael Edgardo Chepote Edson Lopes Reis As recomendações atuais de corretivos e fertilizantes na cultura do cacaueiro no Sul da Bahia, consideram o grau e distribuição do sombreamento, o estado fitossanitário da plantação e as características físico-químicas do solo, tais como textura, profundidade efetiva, drenagem, pH, H++ Al3+, P disponível e bases trocáveis de K+ Ca2+ e Mg2+. Pesquisas desenvolvidas recentemente pela Seção de Solos e Nutrição de Plantas (CEPEC/SENUP) com corretivos e fertilizantes, tem apresentado embasamento técnico-científico para atualização das recomendações de corretivos e fertilizantes no cacaueiro no Sul da Bahia. O uso de corretivos em solos além de corrigir a acidez dos mesmos e eliminar a toxidez de alumínio e manganês, visa também o suprimento de cálcio e magnésio ao solo . Os critérios da calagem na cultura do cacau no Sul da Bahia, baseiam-se na elevação dos teores de cálcio e magnésio para 3,0 cmol c/dm 3 em solos Latossolos distróficos e na redução da saturação de alumínio para valores de 30% em solos Argissolos distrófiscos e Aluviais argilosos distróficos. Desta maneira as quantidades totais de corretivos a serem aplicadas ao ano dependem da textura do solo. Solos de textura argilosa, aplicar-se-á até 2000 kg ha -1 ano-1; e solos de textura franco, a quantidade total de calcário a ser aplicada será de até 1000 kg ha-1 ano-1. O uso de gesso agrícola (sulfato de cálcio diidratado-CaSO42H2O) visa a melhoria do ambiente radicular do cacaueiro nas camadas subsuperficiais (20 a 40cm), quando os teores de Ca2+ ≤ 0,4 cmolc dm3) e elevados teores de alumínio (> 0,5 cmolc dm3 de Al3+ e/ou Pesquisadores da Seção de Solos e Nutrição de Plantas (CEPEC/SENUP). 97 saturação por Al3+ ≥ 30% ), este é o caso dos solos Aluviais Argiloso distróficos de Linhares e Argissolos distrófiscos do Sul da Bahia. A adubação do cacaueiro baseia-se nas doses de nitrogênio, determinadas em ensaios de campo e nos níveis críticos de fósforo e potássio disponíveis que proporcionam maior desenvolvimento e produção do cacaueiro. Desta maneira disponibilizaram-se doze formulações (Tabela 1) com as respectivas quantidades de nutrientes por hectare e doses de fertilizantes a serem utilizados. Essas doses de fertilizantes originam-se dos resultados analíticos da análise do solo, aplicadas durante o primeiro, segundo e terceiro ano, que correspondem, respectivamente, a 1/3, 1/2, 2/3 da dose total indicada a partir do terceiro ano de idade. As doses recomendadas por planta, deverão ser fracionadas em três aplicações/ano, para os dois primeiros anos, a partir de 60 dias após o plantio e em duas aplicações por ano nos anos subseqüentes. As doses de fertilizantes devem ser aplicadas em cobertura, em círculo para áreas planas e em meio círculo para as áreas acidentadas, num raio de 20, 30 e 50 cm respectivamente para o 20, 60 e 100 mês ; 70, 90 e 100 cm para os 14o , 180 e 220 mês de idade, 120, 140 e 150 cm para 260, 300 e 340 meses. A partir do 360 mês a aplicação será em faixas laterais ás plantas medindo 150 cm de largura. Nas atuais recomendações de corretivos e fertilizantes na cultura do cacaueiro no Sul da Bahia, também são apresentadas a adubação orgânica a base de composto de casca do fruto do cacau e de esterco de curral, na presença e ausência de adubos minerais, adubação com micronutrientes e adubação foliar. Como técnica para monitoramento do estado nutricional do cacaueiro, a diagnose foliar, é utilizada, recomendando-se coletar a terceira folha a partir do ápice de um lançamento recém amadurecido, na meia altura da copa da planta. A época de coleta é no verão (dezembro a janeiro) evitando-se o período de lançamento. Coletar quatro folhas por planta (uma em cada quadrante), percorrendo-se uma área homogênea. Num total de dez cacaueiro por amostra composta. 98 Tabela 1- Quantidade de nutrientes, composição e doses de fertilizantes a serem utilizadas em plantações de cacaueiro, a partir do terceiro ano de idade. FÓSFORO DISPONÍVEL FAIXA mg/dm 3 BAIXA MÉDIA ALTA MUITO ALTA <9 9 a 16 17 a 30 >30 < 0,10 BAIXA -1 Nutriente Kg ha N P2O5 K2O 60 - 90 - 60 N P2O5 K2O 60 - 60 - 60 16 - 24 - 16 18 - 18 - 18 N P2O5 K2O 60 - 30 - 60 N P2O5 K2O 60 - 00 – 60 Composição % 20 - 10 - 20 25 - 00 – 25 380 340 300 240 N P2O5 K2O 60 - 30 - 30 N P2O5 K2O 60 - 00 – 30 0,10 a 0,25 MÉDIA Cmolc/dm 3 -1 Nutriente Kg ha N P2O5 K2O 60 - 90 - 30 N P2O5 K2O 60 - 60 - 30 18 - 27 - 09 22 - 22 - 11 Composição % 26 - 13 - 13 32 - 00 – 16 -1 Mistura Kg ha 340 270 230 190 N P2O5 K2O 60 - 30 - 00 N P2O5 K2O 60 - 00 – 00 > 0,25 -1 Nutriente Kg ha ALTA POTÁSSIO DISPONÍVEL -1 Mistura Kg ha N P2O5 K2O 60 - 90 - 00 N P2O5 K2O 60 - 60 - 00 22- 33 - 00 27 - 27 - 00 Composição % 34 - 17 - 00 45 - 00 – 00 -1 Mistura Kg ha 270 220 180 140 Fonte: Cabala, Santana e Santana, 1984, modificado pela Equipe Técnica da Seção de Solos e Nutrição de Plantas, 2005. A diagnose foliar é uma técnica complementar da análise do solo para otimizar o uso de fertilizantes e melhorar o estado nutricional do cacaueiro e conseqüentemente, aumentar a produtividade das lavouras. Estas recomendações têm por objetivos subsidiar técnicos e produtores na aplicação de corretivos e fertilizantes nas lavouras cacaueiras do Sul da Bahia. 99 MANEJO ESTRATÉGICO DA PASTAGEM José Marques Pereira INTRODUÇÃO À exemplo do que acontece no Brasil, a produção de leite e de carne no sudoeste da Bahia é feita predominantemente à pasto. Além de ser a fonte de alimentação mais econômica, esse sistema de produção tem credenciado o país na exportação de carne e seus derivados, gerando expectativas para que o volume exportado em 2005 atinja oito bilhões de dólares, com crescimento de 25% em relação ao ano anterior. O sudoeste da Bahia apresenta condições edafoclimáticas ideais para produção a pasto. Em adição à tecnologia disponível representada principalmente pela disponibilidade de genótipos de forrageiras e de técnicas de manejo das pastagens, qualidade genética do rebanho e controle sanitário, já conferem à pecuária regional potencial para obtenção de elevados índices de produtividade. Infelizmente a produtividade média regional ainda é baixa. A produção de leite por vaca embora tenha experimentado melhoras, ainda está entre 800 a 1000 litros/vaca/lactação, correspondendo a 1000 kg de leite/ha/ano. Quanto ao gado de corte a produtividade está entre 5 a 6 @/ha/ano. Esses índices são ainda insignificantes e bem abaixo da potencialidade tecnológica e dos agrossistemas pastoris que compõem a região. Dispõem-se de tecnologias zootécnica e de gerenciamento da produção, suficiente para obtenção Pesquisador da Ceplac/Cepec - Rodovia Ilhéus-Itabuna, km 22, Cx. Postal 07, 45600-970 - Itabuna, BA. E-mail: [email protected] 100 de cerca de 6.480 kg de leite/ha/ano, para gado de leite e 20 @ de carcaça/ha/ano para o gado de corte. Em explorações mais intensivas a tecnologia disponível potencializa o alcance de respectivamente 21.500 kg de leite/ha/ano e 35 @ de carcaça/ha/ano. Resta analisar os fatores que limitam, a adoção dessas técnicas por um número maior de produtores de modo a melhorarem sua renda. ESCOLHA DA FORRAGEIRA A produtividade da pecuária à pasto está diretamente relacionada com o potencial da forrageira, sua adaptabilidade ao ecossistema e principalmente com o manejo adotado. As forrageiras, quanto à sua exigência nutricional e conseqüentemente resposta à adubação podem ser classificadas em três grupos, apresentados na Tabela 1. Tabela 1 – Classificação das forrageiras quanto à exigência nutricional. Grupos Grupo 1: elevada exigência nutricional Forrageiras Capins: elefante, tifton, coastcross, tanzânia, mombaça, colonião. Leguminosas:soja perene, leucena. Grupo 2: Média exigência nutricional Capins: braquiarão ou marandu, xaraés, jaraguá, ruziziensis, braquiáriade-brejo, estrela africana. Leguminosas: centrocema, siratro, , tropical, guandu, amendoim forrageiro. Grupo 3: Baixa exigência nutricional Capins: gordura, braquiária comum (B. decumbens), humidicola, B. dictyoneura, andropogon. Leguminosas: stylozanthes (mineirão), desmodium cv. Itabela, calopogônio, cudzu tropical. 101 É fundamental que na fazenda sejam atribuídas às áreas mais férteis forrageiras mais exigentes e produtivas. O plantio de forrageiras mais exigentes em solos pobres implica necessariamente na adubação da pastagem para que não haja queda de produtividade seguida da sua degradação. O capimhumidicola estabelecido em solo de tabuleiros costeiros necessitaria pouquíssima adubação fosfatada para produzir satisfatoriamente, já o capim-braquiarão (marandu), nessas mesmas condições, necessitaria de calagem, maior dosagem de fósforo, além nitrogênio e potássio. Além da exigência nutricional outro fator importante na escolha da forrageira é a sua adaptabilidade às condições de excessiva umidade do solo e capacidade de cobertura do solo. Para áreas sujeitas a alagamento deve-se preferir os capins, braquiaria-de-brejo, capimbengo, humidicola e estrela africana, ordenados de acordo com o nível de tolerância. Áreas com topografia muito acidentada, devem preferentemente ser deixadas como áreas de reserva permanente. Nas áreas medianamente acidentadas devem ser utilizadas forrageiras estoloníferas/decumbentes como é o caso de alguns capins dos gêneros Brachiaria (decumbens e humidicola) e do Cynodon (coastcross, tifton). Na história da pecuária brasileira tem sido comum a substituição de forrageiras mais exigentes em fertilidade de solos, portanto mais produtivas, por forrageiras menos exigentes, a medida que se observa a queda da fertilidade do solo. Com isso acontece um verdadeiro retrocesso, com redução de produtividade, sem evitar que com o passar do tempo, ocorra a degradação da pastagem. Nesse caso é preferível não substituir a forrageira, mas sim proceder a reposição dos nutrientes, seguida do manejo adequado da pastagem. O mais grave também acontece, substituir forrageira de baixa exigência nutricional em pastagens degradadas por outra mais exigente sem o correspondente uso de fertilizante e manejo adequado. 102 MANEJO DA PASTAGEM O correto manejo das pastagens é fundamental para garantir a produtividade sustentável do sistema de produção e do agronegócio. Atrelados ao bom manejo estão a conservação dos recursos ambientais, evitando ou minimizando os impactos negativos da erosão, compactação e baixa infiltração de água no solo, de ocorrência comum em áreas mal manejadas e/ou degradadas. O manejo incorreto das pastagens é o principal responsável pela alta proporção de pastagens degradadas observada em todas as regiões do Brasil. O princípio básico do bom manejo é manter o equilíbrio entre a taxa de lotação e a taxa de acúmulo de massa forrageira, ou seja, a oferta de forragem (quantidade e qualidade). Para atender esse pré-requisito é necessário compreender a dinâmica dos componentes do ecossistema de pastagem: forrageira (potencial produtivo, taxa de crescimento, adaptabilidade), solo (fertilidade, textura, topografia) clima, animal (comportamento ingestivo, taxa de lotação). A taxa de lotação, o número de cabeças/ha, novilhos/ha, vacas/ha ou UA/ha ( UA= unidade animal = 450 kg de PV), deve variar dentro e entre estações do ano em função da oferta de forragem. Essa oferta depende da taxa de crescimento das forrageiras que por sua vez, varia em função do clima (chuva, temperatura, radiação solar). No sudoeste da Bahia observa-se variação nas taxas de crescimento entre estação e nas diferentes ecoregiões. Na ecoregião de Itapetinga observa-se um período seco bem definido. Na ecoregião do extremo sul observa-se um inverno chuvoso, mas as baixas temperaturas observadas nesse período (junho a agosto), reduzem a taxa de crescimento das forrageiras (Tabela 2) sugerindo redução na taxa de lotação ou suplementação com volumoso nesse período. No manejo das pastagens existem basicamente dois sistemas de pastejo: o pastejo contínuo (lotação contínua) e o pastejo rotacionado (lotação rotacionada). Os demais são derivações do pastejo rotacionado, tais como pastejo alternado, pastejo diferido, etc. Esses sistemas de pastejo estão representados na Figura 1. 103 Tabela 2 - Taxa de crescimento observada para gramíneas e leguminosas forrageiras no extremo sul da Bahia. Forrageiras Mínima precipitação Kg/ha/dia Máxima precipitação Kg/ha/dia Gramínea(1) 37,9 91,5 Leguminosas(2) 13,3 41,7 (1) Média de 5 espécies ou cultivares. Média de 5 espécies ou cultivares. Fonte: PEREIRA, et al. (1995) (2) Fonte: Adaptado de RODRIGUES e REIS (1997). Pastejo limite = pastejo alternado Figura 1 - Sistemas de pastejo mais utilizados. 104 Tanto no pastejo continuo como no rotacionado pode-se se obter boas produções desde que se respeite a taxa de crescimento das forrageiras, ou seja a oferta de forragem. Aliás, em baixas lotações ou em explorações extensivas, pouca diferença tem sido observada entre pastejo rotacionado e contínuo. Já em sistemas intensivos com elevados níveis de adubação e com forrageiras com elevado potencial produtivo, é imprescindível o uso do pastejo rotacionado, por apresentar maior aproveitamento da forragem produzida (eficiência de pastejo), maior aproveitamento do adubo utilizado e conseqüentemente maior produtividade animal. No pastejo contínuo torna-se mais difícil o ajuste da taxa de lotação em função da oferta de forragem. O ideal nesse sistema, em termos práticos, seria a manutenção da pastagem em uma altura constante (área foliar uniforme) ou seja, o animal estaria consumindo quantidade de forragem correspondente ao consumo da forrageira mais as perdas. Na prática, isso pode ser difícil principalmente em sistemas com aplicação de níveis elevados de insumos, onde a dificuldade de manter esse equilíbrio é maior ainda. A manutenção dos capins braquiarão/xaraés, decumbens e humidicola com altura de respectivamente 40, 30 e 25 cm em pastejo contínuo pode ser recomendada. O que se observa em geral no campo, é que o produtor pratica um misto de sistemas, contínuo, alternado e às vezes rotacionado, não sistematizado. No entanto, na última década tem aumentado muito o uso de pastejo com lotação rotacionada, principalmente com a adoção de forrageiras mais produtivas e com o uso da adubação Na implantação do sistema de pastejo com lotação rotacionada torna-se necessário determinar: o período de descanso (PD), o período de ocupação (PO) e o número e tamanho dos piquetes. O período de descanso é o tempo que o piquete fica sem animais para possibilitar a rebrotação da forrageira (capim ou leguminosa) após o pastejo. A duração do PD, varia com a forrageira, com estação do ano (condições climáticas) e com o nível de adubação utilizado. No período seco ou de menor precipitação as forrageiras crescem menos, então 105 o PD deveria ser maior. No período chuvoso seria menor. Se escolher o período chuvoso para definir o PD (mais curto), deve-se preparar para retirar parte dos animais do sistema, no período seco (ou de inverno) ou suplementa-los com volumoso produzido fora do sistema. Em regiões com período seco definido, quanto maior for a taxa de lotação no período das águas maior será a necessidade de suplementação com volumoso no período seco. Se escolher o PD em função do período seco (PD mais longo), deve-se diferir alguns piquetes por um ou dois ciclos de pastejo e armazenar o excedente de forragem desses piquetes para o período seco. Na região sudoeste da Bahia, principalmente na região cacaueira e do extremo sul, geralmente se toma como base o período de maior crescimento das forrageiras e suplementa os animais no período mais crítico, com volumoso produzido fora do sistema. O importante é que ao final do PD a forrageira tenha atingido a taxa máxima de acúmulo de forragem e que a forragem em oferta tenha um bom valor nutritivo. Conforme se deduz, o PD é muito variável e a rigor deve ser estudado para cada caso ou unidade de produção. O número de dias estipulado é na verdade em função da quantidade e da qualidade da forragem acumulada no período. Se o período for mais curto podese ter baixa produção e a planta não ter ainda tido tempo suficiente para recuperar suas reserva. Se for muito longo o capim fica excessivamente maduro, com baixo valor nutritivo (muita fibra, baixa digestibilidade, baixo teor protéico). Nessa ocasião a taxa de crescimento é muito baixa ou nula, nenhuma folha nova vai mais surgir e a quantidade de folhas senescentes (velhas ou mortas), tende a aumentar. O manejo da pastagem portanto, deve ter uma certa flexibilidade, sem perder de vista a sua praticidade. Uma forma prática de se definir o PD ideal é tomar como base a altura do pasto a ser atingida no final do período. Se não for atingida, o PD deve ser reajustado. Para o sul da Bahia, à luz da experiência acumulada, poderia se sugerir para os principais grupos de forrageiras cultivadas, os períodos de descansos e altura do pasto para a entrada e saída dos animais no piquete, detalhadas na Tabela 3. 106 Tabela 3 - Período de descanso e altura do pasto na entrada e na saída dos animais em pastejo com lotação rotacionado sugeridos para os principais grupos de forrageiras. Forrageiras Capim-elefante Colonião, tanzânia, mombaça Braquiarão, xaraés Brachiaria decumbens Capim humidicola, tifton 85, coastcross, estrela africana Altura do pasto (cm) Período de descanso (dias) Entrada Saída 36 110 - 120 40 - 50 70 - 80 40 - 50 30 - 40 20 - 30 30 - 40 20 - 25 15 - 20 10 - 12 36 36 28 21 - 28 O período de ocupação (PO), é o tempo que os animais ficam pastejando em cada piquete. A sua duração deve ser compatível com a oferta de forragem acumulada e esta é realmente quem define a taxa de lotação pretendida. Na definição do período de ocupação também deve ser observado o resíduo pós-pastejo, que deve ser adequado para garantir a rebrotação no período de descanso seguinte. Sugestões sobre alturas de resíduos para algumas forrageiras são apresentadas na Tabela 3. O PO nunca deve exceder a 7 dias. O ideal é que fique entre 1 e 3 dias para gado de leite e 3 a 5 dias para gado de corte, dependendo da intensidade e do potencial de produção dos animais. O gado de leite é mais sensível a períodos de ocupação mais longos, pois a medida que passam os dias a produção de leite cai. Assim, para vacas com produção acima de 12 kg de leite/dia, o ideal é adotar PO de 1 dia. O tamanho do piquete depende do número de animais definido em função da oferta de forragem, do período de ocupação e da área total disponível para o sistema. A área dos piquetes não deve ser necessariamente a mesma. O importante é que a disponibilidade de forragem dentro do piquete, ou seja a área útil. Piquetes com topografia muita acidentada ou com áreas alagadas, pedras, etc. 107 devem ser maiores. Deve-se fazer uma divisão agronômica/ zootécnica da pastagem e não uma divisão meramente topográfica. O número de piquetes quando se tem somente um lote por sistema de pastejo é calculado pelo quociente do PD pelo PO, somado a 1. O uso de mais de um lote em um mesmo sistema de pastejo é mais difícil de ajustar, devendo ser evitado. Deve-se preferir piquetes na forma quadrada ou retangular, com a largura mínima igual a um terço do comprimento. O planejamento do sistema deve ser feito por técnico especializado em manejo de pastagem. Corredores, bebedouros, cochos saleiros ou para suplementação, áreas de descanso, devem ser alocados de modo a reduzir e tornar o mais cômodo possível o percurso dos animais. Em área acidentada, os corredores devem ser projetados cortando o declive, a fim de evitar a erosão e amenizar o esforço dos animais. Isso se torna mais importante ainda em gado leiteiro, onde a posição do estábulo/sala de ordenha deve também ser levada em consideração no planejamento do sistema de partejo. Uma vaca leiteira deixa de produzir cerca de 0,5 litro de leite/dia para cada quilometro percorrido em terreno plano. Em área acidentada essa redução pode triplicar. O arranjo de sistema de partejo com lotação rotacionada mais utilizado é aquele que adota uma área de descanso (do piquete do animal), onde são alocados os bebedouros (ou aproveitamento de corpos de água naturais), cochos saleiros, com livre acesso dos animais a partir do piquete que estão utilizando. De acordo o tamanho dos piquetes e área total do sistema pode haver de uma a várias áreas de descanso. O nível de produtividade obtido no sistema de partejo está diretamente relacionado com a fertilidade do solo ou com o nível de adubação adotado e com o potencial de resposta da forrageira. Para forragens do grupo 1 (Tabela 1) o nível de fósforo no solo deve ser mantido em no mínimo 10 ppm. Utilizando-se os capins elefante e braquiarão e com adubação de 160 kg/ha de N, 60 kg/ha de K2O e 160 kg/ha de P 2O 5, em um sistema de pastejo com lotação rotacionada (3 x 36 dias), na Essul/Ceplac, Itabela, obteve-se taxas 108 de lotação, ganhos de peso diário e ganho de peso/ha de respectivamente, 4,6 e 4,1 UA/ha, 359 a 456 g/nov/dia e 785 e 756 kg/ha, no período de 385 dias (PEREIRA, et al. 2005). Níveis de N de 200/300 kg possibilitam a obtenção de 1000 kg/ha de PV ou 33 @/ha. No entanto, com bom manejo e com baixos níveis de nutrientes pode-se obter produções bem superiores à média regional. Adubação de 20 kg/ha de P2O5 e 90 kg/ha de N em pastagens de B. humidicola, em solos quartzosos (Faz. Barra dos Manguinhos, Ilhéus, BA) e de tabuleiros costeiros do sul da Bahia (Ceplac/Essul, Itabela) possibilitaram respectivamente a obtenção de 20 kg de leite/ha/dia e de 16 a 24 @/ha (PEREIRA et al., 1996). Na consorciação dessa gramínea ou do Brachiaria dictyoneura com amendoim forrageiro cv Belmonte, sem adubação nitrogenada, obteve-se produção semelhante com o uso de novilhos de corte (SANTANA et al., 1998). CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a adoção de manejo estratégico das pastagens é possível elevar consideravelmente a sua produtividade e manter a sustentabilidade do sistema de produção. O uso de adubação implica no refinamento maior desse manejo, a fim de aumentar a eficiência do adubo aplicado. Na condução de qualquer sistema deve ser respeitada a variação na taxa de crescimento da forrageira, adequando a taxa de lotação ao acumulo de forragem promovido por esse crescimento. A definição das varáveis de manejo mencionada deve ter uma certa flexibilidade para ser ajustado de acordo com as peculiaridades de cada forrageira, condições edafoclimáticas da região e intensividade do sistema de produção. 109 LITERATURA CITADA RODRIGUES, R. de A. R. Conceituação e modalidades de sistemas intensivos de pastejo rotacionado. In: Simpósio sobre manejo de pastagem, 14. 1997, Piracicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ. p. 1-24. PEREIRA, J. M.; REZENDE, C. de P. e MORENO, M. A. R. Pastagens no ecossistema Mata Atlântica: Atualidades e perspectivas. In: Reunião da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Simpósio: Produção Animal e o Foco no Agronegócio. 42, 2005, Goiânia. Anais... Goiânia, SBZ. p. 36-55. PEREIRA, J. M.; MORENO, R. M. A.; CANTARUTTI, R. B. et al. Crescimento e produtividade estacional de germoplasma forrageiro. In: Ceplac/Cepec (ed.) Informe de Pesquisa – 1987/1990. Ilhéus: Ceplac, 1995, p. 307-309. PEREIRA, J. M.; SANTANA, J. R. de, & REZENDE, C. de P. Alternativa para aumentar o aporte de nitrogênio em pastagens formadas por capim humidícola. In: Reunião da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 39, 1996, Fortaleza. Anais... Fortaleza: SBZ, 1996, p. 38-40. SANTANA, J. R. de; PEREIRA, J. M.; REZENDE, C. de P. Avaliação da consorciação de Brachiaria dictyoneura Slopz. Com Arachis pintoi Kaprov & Gregory. sob pastejo. In: Reunião da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 35. 1998. Botucatu. Anais... Botucatu: SBZ, 1998, p. 406-408. 110 RESERVA LEGAL: aspectos legais e sustentabilidade da propriedade rural Yuri Mello1 Kátia Curvelo Bispo2 Como dita a Constituição Federal artº 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, e essencial á sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e á coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Entretanto, a realidade nos mostra os obstáculos que ainda se interpõem na definição das prioridades inerentes ao cumprimento desse artigo de forma a não subjugar, muito menos colocar à margem tentativas voltadas para a melhoria e controle da qualidade ambiental. Tendo em vista a construção de uma nova relação homem natureza no processo de apropriação e utilização do meio natural a Reserva Legal deverá ser utilizada como ferramenta efetivamente capaz de disciplinar e viabilizar uma intervenção no caminho da sustentabilidade. Para tanto, se faz necessário, o conhecimento dos processos de planejamento para a implantação, suas atribuições, normas a que se destina , vantagens e benefícios de forma a subsidiar as informações necessárias para a sua criação, sendo esta a proposta deste trabalho. Para a utilização da área com ênfase no manejo sustentado a vegetação destinada a compor a reserva legal poderá ser utilizada mediante um plano de manejo que tenha por finalidade a sustentabilidade, obedecendo a normas técnicas-científicas 1 MP/Ba - Coordenador do Núcleo Mata Atlântica do Ministério Público da Bahia Eng. Agrônoma - Mestranda em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente - UESC/PRODEMA 2 111 respaldadas pelo regulamento. Em se tratando de pequenas propriedades, sendo estas, estabelecidas por agricultura familiar ou não, poderão ser incluídos plantios consorciados e que se prestem a uma atividade de subsistência. A localização da reserva, sua aprovação e uma suposta compensação com área de preservação permanente são de prioridade e competência de órgãos licenciados, e, fica condicionada a obrigatoriedade de inscrição no registro de imóveis, havendo isenção de pagamento na averbação para as pequenas propriedades ou de posse rural familiar. A reserva legal em condomínio poderá ser estabelecida, desde que corresponda ao percentual legal em vinculação para cada imóvel. 112 ANÁLISE-DIAGNÓSTICO DO PROCESSO DE PLANTIO DE MUDAS DE CACUEIROS PROPAGADAS POR ESTAQUIA Paulo Cesar Lima Marrocos1 George Andrade Sodré2 1. INTRODUÇÃO O cacaueiro tem sua origem envolta por mitologias e lendas, reza uma lenda que: o deus asteca Quetzalcoalt (senhor da lua prateada e dos ventos gelados), com intenção de oferecer aos mortais algo que lhes enchesse de energia e prazer, foi aos campos luminosos do reino dos Filhos do Sol para de lá furtar as sementes da árvore sagrada. Desta forma, fantástica, as sementes do cacaueiro teriam surgido na região dos Astecas e aí frutificado, dando origem à árvore. Não que isso seja função da lenda, mas, o cultivo do cacaueiro constituiu-se num dos raros casos entre as espécies perenes cultivadas em que a reprodução seminal superou a propagação vegetativa (DIAS, 1993). Além disso, por estar associado à religiosidade, foi inicialmente cultivado por sacerdotes e, posteriormente, por agricultores interessados em estabelecer lavouras comerciais de cacaueiros, especialmente na Bahia. 1 Pesquisador CEPLAC/CEPEC Km 22 Rodovia Ilhéus Itabuna, Ilhéus, CEP: 45.650-000. E-mail: [email protected]. Prof. Adjunto UESC/DFCH. 2 Pesquisador CEPLAC/CEPEC Km 22 Rodovia Ilhéus Itabuna, Ilhéus, CEP: 45.650-000. E-mail: [email protected]. Prof. UESC/DCAA. 113 2. HISTÓRICO DA PRODUÇÃO DE MUDAS Nos primeiros plantios de cacaueiros realizados na região Sul da Bahia, no final do século XIX, foram utilizadas sementes vindas do estado do Pará. Como o facão era o instrumento utilizado na abertura de covas para disposição das sementes direto no campo os plantios eram denominados: a bico de facão. Somente na década de 70 a produção de mudas passou a ser realizada em viveiros com utilização de sacolas plásticas. A produção de mudas de Theobroma cacao L. por estaquia foi, inicialmente, testada na década de 30 (PYKE, 1933), e utilizada em escala comercial em Trinidad, nas décadas de 30 e 40. Entretanto, algum tempo depois, muitas das áreas plantadas com clones, foram substituídas por híbridos multiplicados por sementes. A produção de mudas de cacaueiros por estaquia foi descrita e testada na Bahia por (FOWLER, 1955). Contudo, os estudos de PYKE (1933) em Trinidad e de ALVIM (1953) foram, também, importantes para compreensão dos mecanismos fisiológicos que envolvem o enraizamento de estacas. Outros estudos foram desenvolvidos em Turrialba, Costa Rica e Pichilingue no Equador (ALVIM, 2000). No Brasil, por diferentes motivos, o uso da técnica de enraizamento do cacaueiro foi abandonado nos últimos 40 anos. Um deles foi o advento do material híbrido na década de 70 que redirecionou os plantios para sementes melhoradas (SENA-GOMES et al., 2000). Com o surgimento da vassoura-de-bruxa e a seleção de variedades clonais tolerantes à doença, houve necessidade de se recorrer novamente às técnicas de enraizamento. 3. O INSTITUTO BIOFÁBRICA DE CACAU A propagação vegetativa com uso de estaquia, em grande escala, somente foi iniciada em 1999 pelo Instituto Biofábrica de Cacau (IBC), utilizando protocolo de produção de mudas de eucalipto das empresas florestais, com adaptações às condições morfofisiológicas 114 do cacaueiro. O Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC), da CEPLAC, tem dado suporte técnico-científico ao IBC desde sua implantação. O IBC, localizado no município de Ilhéus-BA, entre as coordenadas geográficas 14o 38’ S e 39o 15’ W, é uma instituição social sem fins lucrativos, criada em 1999 pelo Governo do Estado da Bahia. Nessa unidade, são produzidas mudas de cacaueiros por via vegetativa utilizando diferentes clones tolerantes a doenças. Estimativas feitas pelo IBC permitem sinalizar que aproximadamente 5.000 ha de cacaueiros estão sendo cultivados no Estado da Bahia, com utilização de mudas clonais propagadas por estacas enraizadas em tubetes. A Tabela 1 mostra a capacidade produtiva do IBC e, revela seu potencial de uso para a diversificação agrícola. Tabela 1 - Produtos gerados pelo Instituto Biofábrica de Cacau no período de 2001 - 2003. Cultivo Mudas Garfos Total Cacau Essências Florestais Bananeira (resistente a Sigatoka Negra) Fruteiras Tropicais Café Conilon Dendê Tenera 5.232.000 1.505.000 575.000 113.000 500.000 78.000 2.700.000 - 7.932.000 1.505.000 575.000 113.000 500.000 78.000 Total 8.003.000 2.700.000 10.703.000 Fonte: IBC (2004) Para consolidar o Programa de Recuperação da Lavoura Cacaueira, que prevê a renovação de 300 mil hectares, será necessário produzir e disponibilizar grande quantidade de material vegetal tolerante. Nesse contexto, a produção de mudas e todas as atividades que permitam elevar o seu rendimento assumem fundamental importância. 115 4. O PROBLEMA DO PROCESSO DE PLANTIO DE MUDAS PROPAGADAS POR ESTAQUIA 4.1. Importância do planejamento O início de um trabalho de planejamento para recomposição do estande de roças de cacau e/ou implantação de novas lavouras, com uso de mudas propagadas por estaquia, compreende uma fase de diagnóstico da infra-estrutura do imóvel e das condições edafoclimáticas da área destinada ao plantio. Portanto, algumas perguntas devem ser formuladas e respondidas por ocasião da elaboração do planejamento: - Qual a estratégia a ser utilizada para aumentar a produção de cacau da empresa? Formação de novas áreas (implantação) ou elevação do número de cacaueiros para 1100 plantas por hectare (recomposição do estande)? - Qual das áreas disponíveis apresenta características topográficas e edáficas (declividade, profundidade efetiva, textura, afloramentos rochosos, etc) favoráveis à conservação dos solos, ao aumento da eficiência de mão-de-obra e à produção do cacaueiro? Conseqüentemente, alguns critérios devem ser estabelecidos para tomada de decisão quando houver necessidade de formação de novas áreas e/ou recomposição de estandes: aspecto da área (sombreamento provisório, sombreamento definitivo); acesso; relevo (declividade, situação); solos (profundidade, textura e abertura de covas). 5. TECNOLOGIA DISPONÍVEL 5.1. Sombreamentos provisório e definitivo: Adequar o sombreamento provisório e definitivo, pelo menos seis meses antes da época planejada para plantio, é essencial para reduzir a condição de estresse imposta às mudas por ocasião do transplante para as covas e nas primeiras semanas de campo. Quando o sombreamento definitivo for muito denso, deve-se atentar para o fato 116 de que mudas propagadas por estaquia são mais sensíveis a situações de competição quando há dominância de cacaueiros adultos ou árvores de sombra ao seu redor. Convém lembrar que para adequar (reduzir) sombreamento, caso isso seja necessário, deve-se verificar junto a Superintendência de Desenvolvimento Florestal e Unidades de Conservação (SFC) a autorização para eliminação de árvores. 5.2. Acesso e distância do imóvel até a unidade de produção de mudas: Acessos ruins e grandes distâncias implicam num maior tempo para transporte das mudas da unidade de produção até o imóvel. Nestes casos, devem-se transportar as mudas nos horários do dia com temperaturas mais amenas. 5.3. Transporte Mesmo não sendo considerada uma etapa do processo de produção, o transporte das mudas da unidade de produção para a propriedade requer uma série de cuidados sem os quais o sucesso do plantio de mudas clonais ficará comprometido. O transporte é geralmente feito por caminhões ou automóvel utilitário com a parte superior e as laterais protegidas contra chuva e ventos. Devem-se também equipar os veículos com grades para acomodação das bandejas. Uma pesquisa, realizada com 137 produtores de cacau, revelou que quase 40% dos produtores transportam as mudas, do IBC até o imóvel, em horário inadequado, evidenciando a necessidade de orientação (Tabela 2). Tabela 2 - Tipo de transporte e, horário utilizado pelos produtores para transportar as mudas de cacaueiros, produzidas por estaquia, do IBC até o imóvel. Tipo de Transporte Freqüência Carro Próprio Caminhão terceirizado Outro* 59 63 15 % Hora Transporte Freqüência % 43,1 46,0 10,9 06:00 às 10:00 h 10:00 às 16:00 h Após as 16:00 h 66 54 17 48,2 39,4 12,4 * Carro alugado por prefeituras. 117 Durante o dia, os melhores períodos para transporte são definidos até às 9h e a partir das 16 h. O transporte feito entre as 10h e 16h em dias quentes aumenta a transpiração das plantas e a perda de água do substrato, reduzindo a porcentagem de sobrevivência, principalmente quando se faz plantio direto. Assim, dias mais úmidos, com temperaturas entre 22oC e 25ºC, e chuvas de pequena intensidade são desejáveis durante o transporte. Em distâncias superiores a 100 km, recomenda-se irrigar as mudas a cada 2 horas. 6. PLANTIO OU TRANSPLANTIO? Portanto, para que o plantio de mudas propagadas por estaquia obtenha sucesso, as condições de campo devem ser adequadas (umidade do solo, sombreamento, abertura de covas e adubação), sendo que se as mudas tiverem idade entre cinco e seis meses, podese recomendar o plantio direto no campo (MARROCOS et al., 2003). Essa opção apresenta como vantagem economia de tempo e recursos pelo fato de não ser necessário preparar viveiros e conduzirem mudas em recipientes de peso e volume superiores ao do tubete. Além disso, evita a ocorrência de injúria aos sistemas radiculares ocorridas, normalmente, durante a repicagem para sacolas plásticas. Entretanto, para os casos em que há necessidade do transplante de mudas para sacolas plásticas (dimensões: 16 x 40 x 08cm), os dados de SODRÉ et al. (2004: não publicados) mostrados na Tabela 3, evidenciam que as mudas têm um maior crescimento e desenvolvimento com uso de substratos orgânicos, isoladamente ou incorporados ao solo. Contudo, deve-se ter cuidado com a origem do material para evitar o surgimento de doenças. È recomendável, também, que os produtores plantem clones já identificados como autocompatíveis. Sendo que, deve-se atentar para a não utilização de um grande número de clones na formação de novas áreas. Os plantios devem ser formados de modo a que cada gleba utilize no máximo seis clones com vigor semelhante, sendo que pelo menos a metade seja intercompatível com a outra metade. 118 Tabela 3 - Diâmetro e altura do caule, matéria seca da parte aérea (MSPA), matéria seca de raízes (MSR) e área foliar de mudas de cacau propagadas por estaquia em tubete e repicadas aos 90 dias para diferentes substratos. Diâmetro (mm) Altura (cm) Solo Serrragem Composto Casca Cacau Solo + Serragem Solo + Composto Casca Cacau Serragem + Composto Casca Cacau 1,12c 1,40a 1,29ab 1,25b 1,41a 1,40a C.V (%) 4,51 Tratamentos Matéria seca (g) MSPA MSR 60,0b 79,6a 65,3b 77,3a 79,1a 77,8a 34,92c 69,28a 45,56d 58,30b 56,73b 64,90a 2,68b 4,94a 3,45ab 5,55a 4,49ab 5,47ab 5,57 6,15 19,10 Área foliar (cm2) 3474,96c 9656,77a 5967,01b 8005,62a 8249,47a 9630,38a 10,53 Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Student-Newman-Keuls, (SNK) a 5% de probabilidade. 7. ÉPOCA DE PLANTIO A época de plantio está relacionada com o conteúdo de água no solo, característica essa que responde na maioria dos casos pelo sucesso do plantio de mudas clonais. Na região cacaueira do sul do estado da Bahia, a melhor época ocorre no início da estação chuvosa de inverno (meses de junho a agosto). Plantio de cacaueiros em outras épocas dependerão muitas vezes de chuvas, irrigação complementar, situação da área (declive), posicionamento em relação ao sol, tamanho da cova e existência de sombreamento adequado. MARROCOS et al. (2004, dados não publicados) observaram que muitos produtores não têm prática no manejo das mudas clonais, ocorrendo problemas no transporte, na acomodação das mudas na fazenda antes e durante o processo de plantio. Assim, a depender do manejo, das condições climáticas e do sombreamento da área, os índices de sobrevivência das mudas são bastante reduzidos. 119 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Não se pretendeu nesse trabalho esgotar o conhecimento sobre o processo de produção de mudas do cacaueiro, visto tratar-se de uma mudança de paradigma na cacauicultura. Contudo, espera-se ter levantado o estado da arte do tema e, se possível sugerido idéias para fortalecimento da cultura no Brasil, buscando o retorno à posição de primeiro produtor mundial de amêndoas secas, alcançado no final da década de 70. 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVIM, P. T. Nuevos propagadores para el enraizamiento de estacas de cacao. Centro Interamericano del Cacao, Turrialba, Costa Rica, Cacao, 2(47- 48):1-2. 1953. ALVIM, P. T. Fatores fisiológicos associados com a propagação bem sucedida de cacau por enraizamento de estacas. In: Pereira, J. L. et al. (eds). Atualização sobre Produção Massal de Propágulos de Cacau geneticamente melhorado. Atas, BA, Ilhéus. 1998, p 90-91, 2000. DIAS, L.A.S. Propagação vegetativa vs reprodução seminal em cacau. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, 45. Anais. Recife: SBPC, 1993. p.19. FOWLER, R. L. Propagação de cacau por meio de estacas. Escritório técnico de Agricultura- ETA Brasil - Estados Unidos Avulso IL. n 3 , 1955. PYKE, E. E. The vegetative propagation of cacao. II. Softwood cuttings. Annual Report on Cacao Research, 2, 3-9, 1933. MARROCOS, P.C.L. et al. Normas para o plantio de mudas de cacaueiros propagadas por estaquia: atualização. Ilhéus: CEPLAC. 28p. SENA-GOMES, A. R. et al. Avanços na propagação clonal do cacaueiro no Sudeste da Bahia. In: Pereira, J. L. et al. (eds). Atualização sobre Produção Massal de Propágulos de Cacau geneticamente melhorado. Atas, BA, Ilhéus. 1998, p 85-89, 2000. 120 MANEJO DE DOENÇAS DO CACAUEIRO José Luiz Bezerra Marival Lopes de Oliveira O manejo das fitomoléstias, compreende a utilização de princípios e práticas que visam aumentar o vigor do hospedeiro, reduzir o inóculo do patógeno e tornar o ambiente desfavorável à multiplicação e disseminação do patógeno e à infecção do hospedeiro. No caso do cacaueiro, a ênfase dada a cada princípio varia com a natureza de cada doença, assim: Exclusão – Compreende o uso de medidas imperativas para evitar que doenças inexistentes sejam introduzidas em uma dada região. Este é o caso da monilíase na Bahia, no momento, como foram os casos da vassoura-de-bruxa e do mal-do-facão, no passado. Pressupõe a adoção de medidas restritivas quanto à movimentação de materiais botânicos (mudas, sementes, etc.) e a necessidade de observação da legislação quarentenária. Erradicação - Abrange desde a eliminação apenas das plantas infectadas ou mortas até a erradicação da cultura na região afetada. Tal medida é fundamental, por exemplo, no controle do mal-do-facão causado pelo fungo Ceratocystis fimbriata e das doenças de raiz ocasionadas por Rosellinia spp. e Ganoderma philippii. Proteção - Compreende a interposição de barreiras, química ou biológica, por exemplo, entre o patógeno e a planta hospedeira. Este, por exemplo, é o princípio mais utilizado no controle da podridão-parda do cacaueiro. A adoção de defensivos químicos hoje em dia, em função das preocupações com o meio ambiente, envolve a escolha Pesquisadores CEPLAC/CEPEC/SEFIT 121 criteriosa de produtos eficazes e com baixa persistência no ambiente, bem como, a utilização de métodos de aplicação adequados, além de cuidados quanto à proteção do aplicador. A legislação fitossanitária obriga o uso de receituário agronômico, vedando a utilização de produtos não registrados para a cultura alvo. Os conhecimentos epidemiológicos sobre cada doença são indispensáveis na definição do período de aplicação, otimizando as épocas de início e conclusão das aplicações. Resistência - Seria a medida ideal de controle das doenças de plantas, por ser mais durável, eficiente e de baixo custo para o produtor. É a base do atual manejo integrado da vassoura-de-bruxa. Por outro lado, o desenvolvimento de variedades resistentes requer grandes investimentos em pesquisa, tanto em instalações e equipamentos quanto em recursos humanos, demandando bastante tempo na condução das pesquisas. Na cacauicultura existe grande necessidade de realização de pesquisas visando a seleção e desenvolvimento de variedades com resistências à monilíase, ao maldo-facão e à podridão parda. Algumas pesquisas já em curso precisam ser mais estimuladas. Terapia - consiste na remoção cirúrgica das partes afetadas da planta. É eficiente no controle dos cancros causados por Phytophthora spp. e Lasiodiplodia theobromae. O uso de fungicidas sistêmicos com a finalidade de interromper o processo infeccioso se enquadra neste princípio. O fungicida sistêmico Folicur recomendado no controle da vassoura-de-bruxa, por exemplo, atua como protetor e como sistêmico (erradicante). A sanificação é uma prática muito importante no manejo integrado consistindo na eliminação dos restos vegetais e partes mortas ou doentes das plantas que vão servir como fontes de inóculo para o surgimento das epidemias de doenças, como são os casos dos casqueiros para a podridão parda e das vassouras secas para a vassoura-de-bruxa. O enterrio deste material é desejável no caso da vassoura-de-bruxa, evitando a esporulação do fungo e facilitando sua degradação, porém, nem sempre recomendado para a podridão122 parda, uma vez que as espécies de Phytophthora crescem e se multiplicam no solo. Teoricamente, a cobertura dos restos vegetais teria o mesmo papel, impedindo a esporulação de Crinipellis perniciosa desde que fosse permanente. A aplicação de uréia nos casqueiros impede a esporulação de C. perniciosa e Phytophthora spp., mas também atrasa a decomposição da matéria orgânica. O manejo deste material através da compostagem seria o mais indicado, não tendo contra - indicações. O controle biológico, consistindo na utilização de microrganismos antagonistas atuando sobre o patógeno, reduz as fontes de inóculo e pode proteger o hospedeiro contra as infecções. É um método que pode ser incluído no manejo integrado, exigindo porém, conhecimento suficiente do modo de ação, sobrevivência e persistência do antagonista no ambiente. É o caso do TRICOVAB, fungicida biológico desenvolvido pela CEPLAC, contendo o fungo Trichoderma stromaticum, que vem sendo usado com sucesso para reduzir o potencial de inóculo de C. perniciosa nas plantações de cacau. O controle cultural corresponde àquelas práticas que visam a sanificação das plantações. Deve fazer parte da rotina das propriedades agrícolas. Assim o modelo geral do manejo integrado das principais doenças do cacaueiro abrangeria: 1- Plantio do melhor material botânico disponível, respeitando-se as medidas exclusionárias; 2- Solo, sombreamento e adubação adequados; 3- Controle das plantas invasoras; 4- Condução apropriada das plantas: formação da copa e eliminação de chupões; 5- Sanificação da plantação; 6- Utilização dos princípios fitopatológicos adequados a cada situação, inclusive os controles biológico e cultural; 7- Inspeção fitossanitária sistemática e permanente na plantação; 8- Treinamento da mão-de-obra. 123 CONSTRUÇÃO COM SOLO CIMENTO Efren de Moura Ferreira Filho O solo-cimento é um material alternativo de baixo custo, obtido pela mistura de solo, cimento e um pouco de água, em proporções adequadas. No início, essa mistura parece uma “farofa” úmida e que, após compactação e cura, ela endurece e com o tempo ganha consistência e durabilidade suficiente para diversas aplicações no meio rural e urbano. O solo-cimento é uma evolução de materiais de construção do passado, como o barro e a taipa. Só que as colas naturais, de características muito variáveis, foram substituídas por um produto industrializado e de qualidade controlada: o cimento. O uso do solo-cimento no Brasil vem, desde 1948, ajudando na satisfação de tais necessidades, encontrando-se hoje já bastante difundido. A presente comunicação relata aspectos técnico-econômicosociais de alguns anos de trabalho com esta modalidade de construção na CEPLAC/EMARC-URUÇUCA. Nesses 26 anos de experiência na região cacaueira, destacamse obras no meio rural e urbano, em particular a construção de uma creche com 1.200 m2 em Juçari-BA, sendo a segunda maior obra em solo-cimento no Brasil. A técnica do solo-cimento é aplicada às construções das populações de baixa renda e foi introduzida na comunidade da região cacaueira, por seu baixo custo e pela facilidade de assimilação do sistema construtivo. * Eng°. Agrimensor, Técnico em Assuntos Educacionais (Escola Média de Agropecuária Regional da CEPLAC/EMARC – URUÇUCA – BAHIA). 124 CAMPO DE APLICAÇÃO Aplica-se a construção de solo-cimento em: construção de paredes monolíticas, tijolos, pavimento e o solo ensacado. As paredes monolíticas são compactadas no próprio local, em camadas sucessivas, no sentido vertical, com auxílio de formas e guias. O processo de produção assemelha-se ao sistema antigo de taipa, formando painéis inteiriços, sem juntas horizontais. Os tijolos de solo-cimento são produzidos em prensas, dispensando a queima em fornos. Eles só precisam ser umedecidos, para que se tornem resistentes. Além de grande resistência, outra vantagem desse tijolo é o seu excelente aspecto. Os pavimentos também são compactados no local, com auxílio de fôrmas, mas em uma única camada. Eles constituem placas maciças, totalmente apoiadas no chão. O solo-cimento ensacado resulta da “farofa” úmida, colocada em sacos, que funciona com fôrma. Depois de ter a sua boca costurada, esses sacos são colocados na posição de uso, onde são imediatamente compactados individualmente. VANTAGENS O solo-cimento vem se consagrando como tecnologia alternativa por oferecer o principal componente da mistura – o solo – em abundância na natureza, e geralmente disponível no local da obra ou próximo a ela. O processo construtivo do solo-cimento é muito simples, podendo ser assimilado por mão de obra não qualificada. Apresenta boas condições de conforto, comparáveis às construções de alvenaria de tijolos e ou blocos cerâmicos, não oferecendo condições para instalações e proliferações de insetos nocivos à saúde pública, atendendo às condições mínimas de habitabilidade. 125 É um material de boa resistência e perfeita impermeabilidade, resistindo ao desgaste do tempo e à umidade, facilitando a sua conservação. A aplicação do chapisco, emboço e reboco são dispensáveis, devido ao acabamento liso das paredes monolíticas, em virtude da perfeição das faces (paredes) prensadas e a impermeabilidade do material, necessitando aplicar uma simples pintura com tinta à base de cimento, aumentando mais a sua impermeabilidade, assim como o aspecto visual, conforto e higiene. SOLO-CIMENTO - MATERIAIS CONSTITUINTES SOLO O uso do solo no local da obra é sempre a solução mais econômica. Entretanto, se ele não servir, é necessário fazer a correção granulométrica no solo encontrado (70% de areia grossa e 30 % de silte e argila) misturando uniformemente e peneirados, obtendo-se o mesmo resultado ou então procurar um solo adequado em outro local, denominado jazida, contanto que este local fique o mais próximo possível da obra, por questões econômicas. Os solos adequados são os chamados de solos arenosos, ou seja, aqueles que apresentam uma quantidade de areia na faixa de 60% a 80 % da massa total da amostra considerada. O proporcionamento dos constituintes é função do tipo de solo escolhido. O Estudo Técnico – Dosagem das Misturas de Solo-Cimento – Normas de Dosagem e Métodos de Ensaio, da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), através de diferentes parâmetros relativos ao solo, tais como sua granulometria, índices físicos, etc., define os teores de cimento que aplicam aos diferentes tipos de solos. Os resultados finais são obtidos através de ensaios de resistências à compressão simples e de durabilidade por molhagem e secagem. O resultado final do estudo de dosagem é apresentado na forma de teor de cimento (relação entre a quantidade de cimento e a de 126 solo seco, em massa). Este teor, muitas vezes de pouca utilidade para fins de obra, pode ser transformado em traço volumétrico, por exemplo: 1 parte de cimento para 12 a 15 partes de solo, em volume. Quando o volume de obra é pequeno, existem testes práticos para a avaliação das características granulométricas de um solo. Alguns deles são: teste da caixa e o da garrafa. PREPARO DO SOLO-CIMENTO Dosagem solo-cimento Nas obras de pequeno porte é usado um traço padrão entre 1 para 12 até 1 para 15 (uma parte do cimento para outras partes de areia), que é um solo arenoso aprovado pelos testes práticos. Em obras de grande porte, o solo-cimento chega a ser produzido em usinas de misturas. Em obras de pequeno porte, a mistura é manual. Betoneira não serve para preparar o solo-cimento. Mistura Manual do solo-cimento a) Passe o solo por uma peneira de malha ABNT 4,8 mm; b) Esparrame o solo sobre uma superfície lisa e impermeável, formando uma camada de 20cm a 30cm. Espalhe o cimento sobre o solo peneirado e revolva-o bem, até que a mistura fique com uma coloração uniforme, sem manchas de solo ou de cimento; c) Espalhe a mistura numa camada de 20cm a 30cm de espessura, adicione água aos poucos (usando um regador com “chuveiro”) sobre a superfície e misture novamente. Os componentes do solo-cimento podem ser misturados até que o material pareça uma “farofa” úmida, de coloração uniforme da cor do solo utilizado, embora levemente escurecida, devido à presença da água. Na prática, a umidade da mistura é verificada através de procedimentos simplificados, baseados na coesão apresentada pela massa fresca. Quando a amostra está seca, não existe a formação de um bolo compacto, com marca nítida dos dedos em relevo, ao apertarmos na mão a massa de forma energética. Outro método complementar muito utilizado 127 consiste em deixar cair o bolo formado, de uma altura aproximadamente de um metro, sobre o chão. No impacto o bolo deverá se desmanchar, não formando uma massa única e compacta. Se houver excesso de água, a massa manterá úmida e rígida após o impacto, fato não desejável. A mistura do solo-cimento começa a endurecer rapidamente, por isso, ele deve ser usado, no máximo, duas horas após o preparo. Portanto, evite preparar mais solo-cimento que possa utilizar nesse intervalo de tempo. FERRAMENTAS NECESSÁRIAS Básicas: cavador, enxada, enxadete, regador, pá, picareta, cordão de nylon, martelo, escala numérica, serrote, colher de pedreiro, balde, nível de bolha, mangueira de nível, esquadro, carro de mão, prumo, peneira com malha de 4,8mm. Especiais: formas para compactação de paredes e para estacas de concreto, com parafusos específicos. COMENTÁRIOS FINAIS As possibilidades de aplicação do solo-cimento na área rural e urbana estão longe de serem esgotadas. Por ser um processo de fácil assimilação por qualquer pessoa, utilizando somente materiais locais, não necessitando de energia de qualquer natureza para sua produção, nem mesmo animal, a tecnologia de solo-cimento certamente se constitui no processo que permitirá uma verdadeira revolução nas construções rurais e urbanas brasileiras, pois associa um baixo custo a uma elevada qualidade. A EMARC-URUÇUCA dispõe de informações específicas sobre as diferentes aplicações do solo-cimento, disponibilizando-se para fornecer maiores detalhes das técnicas construtivas. 128 PERSPECTIVAS AGRONÔMICAS DO DENDÊ PARA O SUL DA BAHIA Jonas de Souza Até o início da década de sessenta, a exploração comercial do dendê no Brasil se limitava, apenas, à exploração extrativista dos centenários dendezais subespontâneos existentes na Bahia. À época, a oferta de matéria-prima atendia satisfatoriamente a demanda do setor de extração do óleo de palma, cuja produção era comercializada para fins alimentares, principalmente como ingrediente na elaboração de vários pratos típicos da culinária baiana, contudo ha registros de esporádicas exportações de pequena quantidade de óleo de palma para a Europa para fins medicinais. O processo de extração então utilizado era tipicamente artesanal e os equipamentos disponíveis utilizados eram o primitivo pilão de madeira, o rodão a tração animal e, mais recentemente o rodão mecanizado, que é uma versão simplificada do digestor das grandes usinas de extração. Embora plena de pontos frágeis, mas em conformidade com a realidade da época, a atividade tinha uma importância sócio-econômica muito grande, pois se constituía num importante fator de geração de emprego e renda para a região. Com o advento das indústrias de processamento do dendê, através da implantação de três unidades industriais de grande porte, foi criada uma expectativa muito grande com relação ao incremento e melhoria das condições de comercialização do dendê em cacho, o que provocou a desativação definitiva de grande número de rodões, pois para o produtor era mais vantagem financeiramente vender o seu produto do que processá-lo. Pesquisador e Diretor do Centro de pesquisas do Cacau/ CEPLAC 129 A atividade entrou em crescente processo de decadência motivada pela complicada relação de mercado estabelecida entre os fornecedores de dendê em cacho e o setor industrial. Contrariando as justas expectativas, contribuíram para a indesejável situação as divergências de interesses não discutidas convenientemente pelas partes envolvidas, os mitos sobre o dendê que foram criados e alimentados até hoje, a falta de informação e assistência técnica e a ausência de uma política de governo direcionada para o desenvolvimento da cultura do dendê. Na tentativa de buscar a auto suficiência na disponibilidade de matéria-prima proveniente da produção própria, as indústrias começaram a investir na implantação de dendezais de cultivo, em escala de ‘’plantation’’ formados com linhagens consideradas geneticamente melhoradas do híbrido tenera, cuja expectativa do potencial de produção de cachos era superior a 15 t/ha/ano e de 2 a 4 toneladas de óleo por ha/ano. Apesar de todos os esforços dispendidos os resultados foram frustrantes e diametralmente opostos aos resultados obtidos em outras partes do mundo, onde a dendeicultura é atividade econômica vitoriosa. Na Bahia a dendeicultura é uma atividade estigmatizada pela baixa produtividade, enquanto no Pará os níveis tecnológicos e os sucessos alcançados são comparáveis aos melhores do mundo. A situação se torna mais inaceitável quando o dendê, entre todas as oleaginosas exploradas comercialmente é considerado a mais importante e o seu principal óleo, o de palma, é o mais desejado no mercado mundial. A falta de mentalidade empresarial talvez seja responsável pelo mau desempenho da dendeicultura baiana, a deficiência de assistência técnica e uso de tecnologia na condução do setor agrícola, reforçando esta tese podemos tomar como exemplo os resultados excelentes registrados no Pará onde na maioria das plantações foi usado o mesmo material genético usado na Bahia. Na experiência do Pará é normal a presença de profissionais 130 especializados nos diversos segmentos da dendeicultura o que seguramente é o responsável pela diferença de produtividade obtida. O Estado da Bahia possui uma diversidade edafo-climática excepcional para o cultivo do dendezeiro, com uma disponibilidade de área da ordem de 854.000 hectares em áreas litorâneas que se estendem desde o Recôncavo Baiano até os Tabuleiros do Sul da Bahia. Esta disponibilidade aliada à existência no país de uma demanda insatisfeita da ordem de 200 mil toneladas de óleo de dendê; de importações que se situam entre 100 e 150 mil toneladas, além do aspecto ambiental-ecológico, possibilitando a recomposição do espaço florestal em processo adiantado de degradação, por “florestas de cultivo”; econômico-social, proporcionando aumento da renda regional e criação de novos empregos, e finalmente estratégico, buscando através da agricultura integrada o caminho de desenvolvimento harmonizando os recursos da terra com os valores humanos. Estas terras estão distribuídas em quatro pólos (Nazaré/Santo Amaro, Valença/Itacaré, Ilhéus /Canavieiras e Belmonte/Prado), situados na Região do Recôncavo Baiano e Tabuleiros Costeiros do Sul da Bahia. A maior parte da produção de óleo de dendê no Estado da Bahia é proveniente dos dendezais subespontâneos que somam cerca de 28.000 hectares concentrados no Polo Valença/Camamú, formados por palmeiras de baixa produtividade, cuja produção é explorada de forma extrativista. A área de dendezais de cultivo é insignificante ante o potencial existente e representa, apenas, cerca de oito mil hectares, 0,9% da área total disponível, onde estão incluídos os plantios das principais indústrias de extração como OLDESA, em Nazaré, OPALMA, em Taperoá e de alguns produtores independentes. A produtividade desses dendezais é igualmente baixa, além de apresentarem precário estado fitossanitário mesmo em se tratando de culturas formadas com sementes de linhagens melhoradas do híbrido Tenera. O reconhecido desempenho negativo desses plantios tem como principais causas a idade avançada das plantas, os tratos culturais inadequados dispensados à cultura, desde a formação dos viveiros, durante a 131 formação e manutenção dos plantios e, finalmente, os procedimentos incorretos de colheita e pós-colheita quando ocorrem significativas perdas tanto no rendimento da matéria-prima quanto na qualidade do produto final. A despeito das condições favoráveis encontradas na Bahia tanto em recursos naturais adequados quanto em infra-estrutura disponível como elétrica, viária e portuária para escoamento da produção, disponibilidade de mão-de-obra braçal, disponibilidade de tecnologia, facilidade de aquisição de insumos, a dendeicultura baiana é uma atividade estagnada e já apresentando claros sinais de decadência. Com base no reconhecido potencial da Bahia para a cultura do dendê, da demonstração de interesse do atual governo pelo assunto e do promissor mercado mundial de óleos vegetais, onde o próprio mercado brasileiro apresenta uma demanda reprimida, é oportuno pensar em prover a Bahia de condições adequadas para que ela possa conquistar uma pequena fatia desse gigantesco mercado de óleos vegetais e, dessa forma, contribuir para a diminuição desse injustificável déficit que pesa muito no equilíbrio financeiro do país com as importações dos derivados de dendê para atender os grandes consumidores nacionais. O projeto de revitalização da dendeicultura baiana busca atingir os seguinte objetivos: Incrementar e modernizar a dendeicultura estadual, tornando-a competitiva; Contribuir, através da agroindustrialização do dendê para diversificar a economia das regiões produtoras; Criar condições que contribuam para a fixação do homem no meio rural; Criar alternativas para elevar os níveis de emprego e renda do meio rural; Contribuir para elevar a receita dos tributos estaduais e municipais; Colaborar no aproveitamento racional dos recursos naturais disponíveis. 132 O atingimento dos objetivos fundamenta-se nos seguintes critérios: Elevação acelerada e compatível do consumo nacional e mundial dos derivados do dendê; Disponibilidade de áreas com infra-estrutura adequada como energia, comunicação, estradas, proximidades dos portos e dos mercados de insumos e dos produtores de matéria-prima; Possibilidade e capacidade de mobilização dos recursos financeiros para execução do projeto, através do apoio crediticio do BNB; Disponibilidade de sementes selecionadas no mercado nacional (CEPLAC/EMBRAPA) e possibilidade de uso do potencial disponível no mercado internacional; Capacidade de mobilizar e despertar o interesse dos agricultores e empresários na produção e processamento do dendê através de projetos economicamente viáveis; Gerar número compatível de empregos com a disponibilidade de mão-de-obra local sem concorrer com as demais atividades da agropecuária; Poder gerar impactos a nível de renda, empregos e tributos que justifiquem a mobilização do apoio oficial. 133 O DENDEZEIRO COMO CULTURA ENERGÉTICA PARA OS TRÓPICOS ÚMIDOS Jonas de Souza As reservas mundiais de petróleo conhecidas, diminuem à medida que o tempo passa, a produção em larga escala de energia a partir da biomassa torna-se cada vez mais importante, especialmente nos países tropicais com abundante disponibilidade de área, água e energia solar. O dendezeiro representa hoje a melhor chance de sucesso em função do seu alto potencial de produção por unidade de área, chegando a mais de 5 toneladas de óleo por hectare/ano. O Brasil é o pais que apresenta as melhores condições em função da alta disponibilidade de terras aptas para o seu cultivo, localizadas na região amazônica e na região da mata atlântica no estado da Bahia e do completo conhecimento da tecnologia de produção de óleo a partir desta palmeira e possui mais de 70 milhões de hectares com condições de solo e clima adequados ao seu cultivo. Por outro lado, esta é a uma espécie perene que, como a floresta, garante conservação ambiental e produção sustentada. Somente na Região Sudeste da Bahia, que depende quase que exclusivamente da monocultura do cacau, há cerca de 1 milhão de hectares, remanescentes da mata atlântica, próprios à cultura do dendezeiro, com potencial de produção de 4 a 6 milhões de toneladas de óleo, equivalentes a aproximadamente 25 milhões de barris de petróleo por ano, ou mais de 65 mil barris diários. Cem mil empregos diretos poderiam ser criados somente no setor agrícola. Pesquisador e Diretor do Centro de pesquisas do Cacau/ CEPLAC 134 Como em todo cultivo arbóreo perene, a implantação de dendezais não é um projeto de maturação econômica imediata, pois a palmeira começa a produzir a partir do 3° ano e atinge o seu pleno potencial a partir de sétimo ano de campo. A consorciação de espécies vegetais de ciclo curto, oferece amplas possibilidades de antecipação de renda e rápida remuneração do capital, além de incentivar a criação de novos pólos de produção de alimentos. Experimento conduzido na Estação Experimental Lemos Maia, em Una, demonstrou a ampla possibilidade de produção de combustíveis de biomassa e alimentos a partir da combinação de culturas no processo de estabelecimento de dendezais. Os intercultivos abacaxi, mandioca e pimenta do reino foram plantados nas estrelinhas do dendezeiro (7,8m). Estes cultivos promoveram renda a curto prazo, com recuperação e remuneração antecipadas do capital investido. O abacaxi foi o mais eficiente intercultivo proporcionando um ponto de nivelamento econômico (receita bruta igual à despesa bruta) em um período inferior a dois anos. A mandioca reduziu, no mesmo período 50% do investimento total de capital no plantio misto, além de reduzir os custos com o controle de ervas daninhas. As culturas intercalares aceleraram ainda o crescimento do dendezeiro, em seus estágios iniciais de estabelecimento e, posteriormente promoveram maiores produções de cachos por ha em relação ao cultivo tradicional. O dendezeiro como cultura alimentícia e ou/energética, pode se constituir em um empreendimento estratégico e de alta viabilidade econômica. No caso especifico da produção de biocombustíveis, cultivar dendê em sistemas agroflorestais é um projeto de resultados duradouros – provavelmente mais baratos – do que perfurar poços de petróleo no Brasil. Uma rápida análise destes números conduz à evidente conclusão de que a alternativa dos óleos vegetais não pode ser desprezada como real contribuição ao equilíbrio das contas do país, a geração de empregos e a produção de alimentos. É importante ressaltar que a substituição do óleo diesel por óleos vegetais transesterificados 135 não requer qualquer modificação nos motores de ciclo diesel e que a produção destes óleos pode ser realizada em pequena escala e próxima aos locais de consumo. A CEPLAC, através do CEPEC testou três intercultivos bem sucedidos, mas são muitas as oportunidades de plantio combinado de dendezeiros e espécies vegetais produtoras de alimentos, fibras e até outras fontes de matéria prima para combustíveis. Em sua fase produtiva o dendezeiro poderá ainda se consorciar a animais para produção de carne, como bovinos e ovinos deslanados, sendo, para isto, necessárias algumas pesquisas visando a produção combinada de forrageiras tolerantes à sombra. 136 CONTROLE BIOLÓGICO DA VASSOURA-DEBRUXA DO CACAUEIRO Givaldo Rocha Niella* O controle biológico de pragas e doenças é uma técnica bastante utilizada em várias partes do mundo. Um exemplo é o Clanosan, desenvolvido pela empresa americana Igene Company e é originado da casca de crustáceos marinhos, atua contra nematóides em qualquer estágio de infecção. Outro exemplo é o Agrocin, uma bactéria ( Agrobacterium radiobacter ) usada contra outra bactéria a Agrobacterium tumefaciens, uma bactéria que ataca diversas culturas como roseiras e tomateiros, causando engrossamento desuniforme do caule. No nordeste brasileiro utiliza-se um fungo chamado Metarhizium no controle da broca da cana-de-açúcar. O controle biológico não se atem apenas a utilizar microorganismos, um exemplo disto é a utilização de extrato das folhas, frutos e sementes da árvore chamada Nim (Azadiracha indica) no controle de diversos insetos pragas do cafeeiro. O TRICOVAB é o nome comercial do fungo chamado cientificamente Trichoderma stromaticum o qual é utilizado no controle biológico do fungo da vassoura-de-bruxa do cacaueiro (Crinipellis perniciosa) desenvolvido pela CEPLAC e utilizado pelos produtores de cacau do sudeste da Bahia e norte do Espírito Santo desde 1999. Este produto deve ser utilizado como parte componente do controle integrado desta doença. Isto significa que aplicar o Tricovab sozinho não irá resolver o problema. É preciso saber que este produto não funciona para combater a podridão parda, nem tem qualquer efeito quando aplicado nos frutos verdes. Trata-se de um Prof. Dr. (Fitopatologista) Centro de Pesquisas do Cacau - Cepec/Ceplac, Bahia. [email protected]; fone (73) 3214-3283 206 fungo natural do solo, e como tal alimenta-se de material em decomposição ou seco, mas que tenha umidade suficiente para a sua sobrevivência. Este produto deve ser aplicado somente no período chuvoso do ano, no caso do sudeste da Bahia, de maio a agosto, sobre todo material vegetativo infectado removido e casqueiros deixados no solo. Deve-se aplicar 40 gramas dos esporos (conídios) do Tricovab por hectare e por aplicação, num total de quatro aplicações por hectare/ano. O intervalo de aplicação é de trinta dias e o preparo da calda deve ser feito diluindo-se um pacotinho contendo 40 gramas em óleo vegetal a 1% e acrescentando-se um pouco de água, coar em tecido fino (evitar tecido de algodão, pois retém os esporos) e completar até atingir o volume estabelecido pelo teste de vazão. O volume de água a ser utilizado dependerá da calibragem e bico utilizados no pulverizador costal manual (teste de vazão). É muito importante lembrar que o Tricovab não é um fungicida tradicional, é um produto biológico e como tal deve ser utilizado o mais rapidamente possível devendo ficar sob refrigeração de 6 a 8 ºC (geladeira) no máximo até seis meses, após este período a qualidade do produto cai muito. Com a nova formulação (apenas os esporos sem o arroz) reduziu-se bastante o volume a ser transportado, passando-se de dois quilos para apenas 40 gramas a quantidade a ser aplicada por hectare. 207 PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE PALMITO DE PUPUNHA (Bactris gasipaes Kunth) IN NATURA NO SISTEMA DE INTEGRAÇÃO DA INACERES AGRÍCOLA Manoel Aboboreira Neto1 José Marcelo O. Pimentel2 1. Introdução O cultivo da Pupunheira com o objetivo de comercializar as hastes de palmito é uma atividade recente tanto no Brasil quanto no mundo. Em países como Costa Rica esta atividade foi desenvolvida a partir do final da década de 70 e no Brasil só na última década com a implantação de várias áreas, principalmente nos estados do Pará, Bahia e São Paulo. Esta nova estratégia de produção, aliada a outras ações fruto da rigorosa legislação ambiental e sanitária fez com que negócio palmito começasse a perder o caráter de atividade extremamente extrativista e a se transformar em um agronegócio viável. O cultivo de palmito para a produção de hastes é um tipo de negócio que precisa ter uma correta planificação visando, principalmente, adequar-se ao sistema de comercialização. Não basta apenas ter um excelente produto, é necessário também ter 1.Eng. Agrônomo - Gerente Agrícola da INACERES – [email protected] 2. Eng. Agrônomo – Supervisor de Integração da INACERES [email protected] 208 opções onde vender sua produção por um preço remunerador e assegurar uma constância na entrega, pois neste cultivo, realiza-se a colheita periodicamente com intervalos de 20 a 45 dias. Existe na Bahia, um novo modelo que busca atender a todos os que desejam incluir a exploração do palmito cultivado de Pupunha como mais uma atividade na sua fazenda e na busca de aumento de sua renda, sem necessidade de implantar as etapas de industrialização, logística, comercialização e marketing. É o sistema de Integração, onde produtores e indústria formam a cadeia produtiva do palmito, que tem também, outros importantes participantes como Bancos, Governo do Estado e Empresas de Pesquisa e de Projetos e Assistência Técnica. 2. Sistema de integração no cultivo de palmito Principais ações das indústrias e produtores e os processos do sistema de Integração: 2.1. Indústria Comprar toda a produção de palmito dos Produtores Integrados, assegurando-lhe o pagamento por haste nos preços do mercado regional e nos prazos acertados 2.2. Produtores Implantar sua lavoura de palmito e comercializar sua produção junto a Indústria Integradora. A base fundamental é a produtividade e a qualidade 209 2.3. Processos Sementes Para facilitar a disponibilidade de sementes em qualidade e quantidades adequadas, a INACERES adquire as sementes, realiza o processo de germinação e repassa as plântulas selecionadas e classificadas para os Integrados. Estima-se uma oferta de sementes de palmito de Pupunheira sem espinhos, produzidas no Sul da Bahia, superior a 10 toneladas por ano. Além disso, no Norte do Brasil (Acre, Rondônia e Pará) pode-se adquirir quantidades superiores a 30 toneladas de sementes certificadas, por ano. A Inaceres tem um campo de produção de sementes na Fazenda São João em UNA, com capacidade para produzir oito toneladas por ano. Estas sementes são destinadas aos produtores Integrados. Capacitação Produtores e trabalhadores recebem treinamento sobre todas as etapas de produção do cultivo. Esta capacitação é realizada, principalmente, pela INACERES para os seus integrados. Assistência Técnica Este processo é um dos pilares do sistema. A INACERES fornece Assistência Técnica periódica para seus produtores Integrados em todas as etapas de produção (preparação do solo, plantio, manejo, colheita). As empresas que realizam os projetos também fornecem assistência técnica para os produtores. Práticas culturais Como toda atividade agrícola faz-se necessário à realização de práticas culturais como controle de ervas, adubação, replantio, controle 210 Colheita Os Integrados realizam a colheita nas datas acertadas com a Indústria. Coleta de palmito na propriedade Coletar o palmito na propriedade do Integrado é uma ação da INACERES. O processo é organizado de tal forma que o palmito seja coletado a tempo suficiente de ser processado, sem que haja perdas de qualidade. Cronograma de implantação As atividades são programadas em função da oferta de sementes ou mudas. As sementes oriundas da região Sul da Bahia estão disponíveis para serem germinadas entre os meses de junho e setembro. As sementes provenientes do Norte do Brasil estão disponíveis entre fevereiro e abril. Sabendo que são necessários entre 5 e 6 meses para a obtenção de mudas a partir da repicagem para os saquinhos, as mudas formadas com sementes oriundas do Sul da Bahia ficam disponíveis para o plantio no primeiro semestre do ano, enquanto as que são provenientes do Norte do Brasil estão prontas na metade do segundo semestre. Financiamento Os Bancos oficiais dispõem de linhas de crédito para financiar os produtores que desejam implantar suas lavouras de palmito. Logicamente, atendendo as regras básicas do sistema de crédito vigente no país. As indústrias integradoras assessoram o produtor na busca do crédito junto aos Bancos oficiais para implantação de sua lavoura; 211 Preocupados com a dificuldade de crédito para pequenos e micro produtores, a cadeia Produtiva do Palmito criou com recursos das indústrias integradoras um FUNDO DE AVAL para garantir o financiamento de projetos destes agricultores. Com isso dispensa as garantias reais, uma vez que na sua grande maioria, estes produtores já não dispunham de lastro para financiar novas atividades. A INACERES tem um sistema de financiamento próprio. Com este sistema todas as mudas são financiadas, que representa a maior parte do financiamento, e também financia as adubações do 1º e 2º ano, sobrando apenas o preparo do solo e manejo do cultivo. O pagamento é sempre feito em palmito, e esta amortização só inicia dois anos após o plantio em parcelas cuja quantidade de hastes entregues, não comprometem a manutenção do cultivo. Contrato Produtores e indústria firma contrato de integração que visa disciplinar os processos descritos anteriormente. 3. Aspectos técnicos da produção de palmito cultivado O palmito cultivado de Pupunheira se desenvolve muito bem nas regiões onde a precipitação pluviométrica é superior a 1.600 mm e bem distribuída ao longo do ano. Altitudes inferiores a 900 msnm; solos de texturas franca arenosa, franca argilosa ou arena argilosa; pH acima de 4,5 e máximo de 6,5; boa drenagem e profundidade superior a 0,50 m. 3.1. Formação de Mudas O viveiro deve ser projetado considerando que 1 m2 de área permite a formação de 70 a 80 mudas. Devido à forma de desenvolvimento do sistema foliar, faz-se necessário uma separação entre os saquinhos 212 dentro do canteiro. Uma forma prática é ordenar os saquinhos em dois grupos de tríplices fileiras separadas por um vão de 20 cm. Na região do Sul da Bahia, as plântulas (sementes germinadas) precisam de sombreamento na sua etapa inicial de desenvolvimento. Isto ocorre até o terceiro ou quarto mês após o transplante para os saquinhos. O uso de telas tipo ráfia que permitem um sombreamento de 30% tem sido muito eficiente, permitindo um rápido crescimento das mudas. Após este período inicia-se o processo de aclimatação, ou seja, a retirada gradativa da sombra permitindo no final a completa exposição das mudas ao sol. De forma geral o substrato deve ter a seguinte composição: 20 a 30 % de material orgânico de qualidade (esterco, composto, etc); 10 % de casca de café, arroz ou outro material seco; 60 a 70 % de solo (preferencialmente de textura franca, arenosa ou areno-argilosa); Calcário Dolomítico (4,5 kg/m3); Fertilizante Osmocote (2 kg/m3) ou a Fórmula A (1,2 kg/m3); Superfostato Triplo (1,2 kg/m3); Para preparar este substrato é necessário que os materiais de grande volume estejam secos. Os saquinhos devem ter as dimensões 14 cm X 20 cm X 0,10 mm. A aplicação de água pode ser realizada através de regador ou sistema de irrigação. Estima-se um consumo de até 3 mm/dia em períodos de alta evapotranspiração, na fase final de produção das mudas. Algumas enfermidades que podem ocorrer em plantas enviveiradas: Podridão do talo e raízes (Fusarium sp); Podridão de plântulas (Pythium sp. e Rizoctonia sp.); Antracnose (Colletotrichum sp.); Mancha parda (Mycosphaerella sp.); Podridão da flecha (Phytophthora sp. e Erwinia sp.). Entretanto, são controladas com ações preventivas como: O viveiro deve ser construído em local de fácil drenagem e entre os canteiros devem ser construídos drenos para a retirada completa do excesso de água; 213 As sementes germinadas devem ser tratadas antes de serem transplantadas; Após o transplante, usar serragem grossa (maravalha), desde que seja nova, para proteger o substrato de salpicado da chuva e o desenvolvimento de ervas; Realizar aplicações preventivas de fungicidas. As principais pragas que atacam as mudas nos viveiros são os ratos e eventualmente os gafanhotos. O controle é realizado mediante a utilização de iscas para ratos e a catação de gafanhotos. Durante o desenvolvimento das mudas pode-se aplicar um fertilizante foliar completo (macro e micronutrientes) e bioestimulantes. As mudas estão aptas para serem plantadas definitivamente no campo quando apresentarem um diâmetro do coleto superior a 1 cm, tenham um bom vigor e livres de enfermidades e pragas. 3.2. Preparo da Área A legislação ambiental deve ser respeitada e o plantio deve ser realizado em áreas onde não seja necessária a supressão de espécies arbóreas e preferencialmente em áreas de pastagens ou de cultivos anteriores. Por tratar-se de uma espécie heliófila não deve ser cultivada em áreas com sombreamento. Densidade de plantio Os primeiros trabalhos relacionados com a busca de uma densidade ideal para palmito de Pupunheira, ocorreram na Costa Rica no início da década de oitenta. (Zamora y Vargas 1985). A evolução para novas densidades de plantio surgiu a partir da demanda do mercado consumidor que optava por consumir palmitos mais finos. Além disso, segundo Vargas, 2000, as opções de maior rentabilidade estavam associadas às maiores densidades. 214 Na região Sul da Bahia, a densidade de 7.200 plantas por hectare tem produzido bons resultados econômicos e é hoje a mais utilizada para a implantação de novas áreas. O espaçamento usado é 1,85 m (entre linhas) x 0,75 m (entre plantas). Implantação O preparo da área pode ser manual ou mecanizado. As principais atividades são: Limpeza da área (roçar ou arar e gradear); Aplicação de corretivo do solo (fosfatos, calcários); Balizamento (utiliza-se apenas 160 balizas por hectare) Trilhamento (apenas nas linhas de plantio); Coveamento (25 cm x 30 cm); Distribuição de mudas; Aplicação de fertilizante (Superf. Triplo ou Fórmula A). A dosagem varia de acordo ao solo. Plantio; Recoleta de sacos plásticos; Manutenção Após a implantação as principais atividades são o controle de ervas, fertilização, monitoramento e controle de pragas e enfermidades. Controle de ervas As principais técnicas utilizadas no controle de ervas são: coberturas vivas, uso localizado de herbicidas, roçagem e capina. Sendo esta última, apenas nos três primeiros meses após a implantação do cultivo. Após o início da colheita, ocorre uma redução significativa no controle de ervas, uma vez que as folhas e parte das cascas do palmito formam uma cobertura morta. A densidade de plantio é outro fator importante que contribui na redução da incidência 215 de ervas. Atualmente o uso de coberturas vivas tem sido implementado e o resultado tem sido significativos com (Hydrocotile leucocephala), Mucuna sp (arbustiva). Fertilização Deve ser realizada de acordo com resultado das análises de solo. A aplicação pode ser fracionada em quatro vezes por ano. O local de aplicação do fertilizante varia de acordo ao desenvolvimento do cultivo. Inicia-se com a aplicação ao redor da planta, a aproximadamente 20 cm. Após um ano de desenvolvimento, pode-se aplicar o fertilizante na área total da planta, uma vez que as raízes absorventes encontramse amplamente distribuídas nesta área. Os principais fertilizantes utilizados são Cloreto de Potássio, Superfosfato Simples/Triplo, Uréia e micronutrientes. É importante ressaltar que a fertilização deve contemplar o equilíbrio nutricional da planta. Excesso de fertilizantes aplicados no solo ou mal quantificados provoca desequilíbrio entre os nutrientes e conseqüentemente induzem perdas tanto para a nutrição da planta quanto no aumento dos custos. Controle de pragas As principais pragas que atacam a lavoura estabelecida são: √ Falsa Broca da bananeira (Metmasius hemipterus Sericeus); A larva e o adulto atacam as touceiras (cepas) e plantas em desenvolvimento. Neste mesmo local ocorre o desenvolvimento das outras etapas do ciclo de vida do inseto, como ovo e pupa. O controle desta praga é realizado conjuntamente contra o Rhynchophorus. √ Bicudo do Coqueiro (Rhynchophorus palmarum Linne); A larva ataca principalmente o rizoma sob a superfície ou na região do coleto das plantas fazendo galerias em direção ao centro do rizoma provocando a perda do palmito e a morte da planta. Além disso, são 216 transmissores de enfermidades fúngicas. O adulto ataca a touceira após o corte, depositando ovos e sugando a seiva. Tem sido registrada a presença do adulto atacando entre as inserções das folhas com o talo. Ambos os insetos são controlados mediante dois métodos: O uso de armadilhas com feromônio: As armadilhas são semelhantes àquelas usadas na cultura do coqueiro. Utiliza-se um galão plástico com duas aberturas laterais (5 cm x 10 cm) amarrado em uma estaca à altura de 0,80 cm do solo. Na parte interna do galão prende-se o feromônio. No seu interior acrescentam-se pequenos pedaços de palmito ou cana-de-açúcar e finalmente aplica-se um inseticida (Sevin a 1%) sobre este material. Semanalmente troca-se o material no interior da armadilha. O feromônio tem duração média de 60 a 90 dias. A quantidade de armadilhas varia de acordo ao grau de infestação, podendo ter 4 armadilhas para cada hectare até 1 para cada 5 hectares. A aplicação dos fungos Beauveria e Metarrizium deve ser realizada no período de baixa temperatura e alta umidade. Realizar a seguinte operação para cada produto: colocar 1 kg do produto comercial em 10 litros de água. Misturar e após 15 minutos retirar a parte líquida e colocar em outro recipiente. No balde com o resíduo deve ser novamente acrescentar água e coar com uma peneira plástica e também ser colocado junto do recipiente. Após esta ação descartar o resíduo, aplicando-o no substrato. Usar desta solução, 200 ml para cada 20 litros de água. A aplicação deve ser direcionada para o toco colhido, bainhas e restos de colheita no campo. Realizar duas aplicações por ano em cada área. A transmissão do fungo ocorre também através das moscas do gênero Drosophila (mosca presente nos processos de fermentação natural). √ Besouro Rinoceronte (Strategus sp.); A larva é facilmente encontrada em madeira em decomposição. O adulto perfura o solo abrindo galerias e ataca o rizoma. Pode ser controlado cavando as galerias e eliminando o adulto. 217 Manejo de enfermidades √ Podridão Basal (Phytophthora palmivora) Produz morte das folhas centrais e apodrecimento do meristema apical. A principal medida de controle é evitar o uso de substrato cujo solo tenha sido oriundo de áreas de cacau, além disso, manter as plantas bem nutridas e livres de ervas. √ Podridão mole (Erwinia chrysanthemi) Causa o apodrecimento do meristema apical, provocando a morte das folhas centrais. A lesão apresenta-se úmida e com forte cheiro de podridão. Algumas medidas de controle são: drenagem e nutrição equilibrada. Colheita A partir dos 14 meses após o plantio no campo começa a colheita. Esta é realizada a cada intervalo de 20 a 45 dias em uma mesma área. A planta deve ser colhida quando estiver no seu melhor estado de maturação. Esta condição se observa através do diâmetro basal (verificado entre 10 a 15 centímetros do solo, devendo esta planta ter um diâmetro mínimo de 10 centímetros) e das disposições das três últimas folhas a uma altura de aproximadamente 1,70 metros. A haste colhida deve ter um comprimento final mínimo de 65 e máximo de 75 centímetros e apresentar uma base (maçã ou gema) com 10 cm de comprimento e ter duas capas protetoras. O palmito não deverá permanecer exposto ao sol depois de colhido. A produtividade média por hectare é de 8,5 mil hastes/ano, podendo superar 10 mil hastes/ha/ano, de acordo ao manejo realizado. A produtividade média por touceira de 1,5 hastes/planta é uma realidade nos cultivos bem manejados no Sul da Bahia. 4. Breve análise financeira Investimento médio inicial por hectare (Ano 1): R$: 6.045,00 218 Custo médio anual por hectare (a partir do Ano 2): R$ 1.680,00 Receita bruta média anual por hectare (a partir do 3º ano de colheita): R$ 4.675,00 Uma análise direta permite expressar que se trata de uma atividade com alto rendimento por hectare, superior a muitas atividades que hoje são exploradas comercialmente. É sem dúvida um importante cultivo que pode gerar renda e liquidez, inclusive para os produtores de cacau que tem durante o ano uma entressafra muitas vezes superior a cinco meses ficando descapitalizados e tendo que obter recursos externos neste período. Uma maior profundidade na análise financeira dependerá de variáveis como taxa de juros e prazo de carência. Entretanto, o cultivo de palmito é viável e destaca-se por apresentar durante todo o ano um bom fluxo de caixa. 5. Considerações finais Atualmente no Sul da Bahia existem empresas que industrializam palmito e são credenciadas pela ANVISA. A área de produção estimada de palmito é de 2.983 hectares. (Rodrigues, 2003). Apesar destes dados, houve um incremento de área superior a 350 hectares, influenciado principalmente pelo sistema de Integração da INACERES. A meta das empresas que fazem parte da Cadeia Produtiva do Palmito é comprar e industrializar palmito de 10 mil hectares oriundos de produtores INTEGRADOS. Na cidade de Uruçuca, no estado da Bahia, está instalada e em funcionamento uma das mais modernas fábricas de processamento de palmito do mundo. O programa de Integração da INACERES teve início no ano de 2002 com apenas quatro produtores integrados. Após três anos, em agosto de 2005, a empresa registra parceria com 86 produtores que juntos totalizam uma área de 308 hectares de palmito. O sistema de Integração da Cadeia Produtiva do Palmito visa atender aquelas associações de produtores oriundas dos programas 219 de assentamento do Governo, associações de produtores, pequenos, médios e grandes empresários. Trata-se de uma alternativa para o Sul da Bahia e difere de muitas outras por ter os distintos processos coordenados para que os envolvidos (Integrados e Empresa Integradora) possam produzir e obter seus lucros a partir de seus investimentos, ter constância na entrega e principalmente no recebimento dos pagamentos pela produção comercializada ao longo de todo o ano. 220 ASSOCIATIVISMO, SISTEMAS AGROFLORESTAIS E PRODUÇÃO ORGÂNICA: UMA ESTRATÉGIA PARA CONSERVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO NO CONTEXTO RURAL DA REGIÃO CACAUEIRA DA BAHIA Joaquim Blanes Luis Lima Walter Lima Marcelo Araujo Luis de Lima A Mata Atlântica é considerada uma das áreas de maior prioridade para a conservação do planeta, devido a sua diversidade Biológica e elevado grau de ameaça. No município de Una, sul do estado da Bahia, localiza-se a Reserva Biológica de Una (REBIO), unidade de conservação federal de proteção integral, criada através do decreto 85463 do ano de 1980. Embora o Decreto Federal determinasse uma área de 11400 hectares (ha), até o ano de 1999, somente 7022ha haviam sido adquiridos pelo executivo federal, com o apoio de organizações internacionais. A regularização do restante da área decretada deverá estar concluída até o final de 2004. Intervindo de forma abrangente, o IESB vem propondo políticas públicas, desenvolvendo metodologias e ferramentas de análise Instituto de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia, Caixa Postal 84, Ilhéus, Bahia 45652-180 221 CEP ambiental, fomentando a implementação de alternativas econômicas na utilização dos recursos naturais e capacitando pessoas locais, através de parcerias com instituições de pesquisa, ONG’s locais e nacionais, universidades e agências governamentais. Neste processo, identificou-se a necessidade de fortalecer a organização das associações comunitárias rurais, como etapa indispensável para uma efetiva conservação dos recursos naturais e promoção de bases para o desenvolvimento sustentável. Também, era crítica a realidade da comercialização de produtos agrícolas dos pequenos e médios produtores tradicionais e assentados pela reforma agrária, a presença de uma rede de comercialização primitiva, onde o produtor distante geograficamente e com pequena quantidade e grande variedades de produto era presa fácil para atravessadores experientes. A Produção Orgânica e as Oportunidades para a Região Cacaueira da Bahia O diferencial da produção orgânica está na oferta de produtos saudáveis (livre de agrotóxicos), na possibilidade de atender mercados diferenciados (onde consumidores estão dispostos a pagarem um sobre-preço como prêmio à qualidade dos produtos), nas relações justas de produção e na preservação ambiental. A Região Cacaueira da Bahia apresenta um contexto bastante favorável para consolidação de um pólo de Agricultura Orgânica Agroflorestal, observando especialmente os aspectos da conservação da biodiversidade e produção familiar, como pode ser observado nos diversos aspectos abaixo enumerados: 1. A meso-região cacaueira, com 51 municípios, concentra mais de 80% da produção de cacau do estado e da sua área cultivada, cerca de 350 mil hectares, 70%, estão implantadas sob mata raleada (cabruca), conforme CEPLAC/CENEX (1999); 2. Regra geral a partir de 1984, quando se deu a restrição aos financiamentos para o cacau, houve uma redução na aplicação de 222 agrotóxicos. Além disso, dentre os diversos aspectos negativos apresentados pela enfermidade vassoura de bruxa, a não recomendação comercial de agentes químicos para o seu controle, revela-se como positivo, desmotivando a aplicação de pesticidas e estimulando as pesquisas na área de controle biológico; 3. Associa-se estes elementos ao grau máximo de interesse conservacionista atribuído a este ecossistema, destacando-se os projetos: “Reserva da Biosfera da Mata Atlântica” e “Corredores Ecológicos” em fase de implementação. 223 ECOTURISMO E DIREITO AMBIENTAL: EM BUSCA DA CONSOLIDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO SUSTENTÁVEL Thiana de Souza Cairo 1 As mudanças de paradigmas verificadas no mundo moderno, como a aceleração da informação e de tecnologia, direcionam os países a prosperarem economicamente na busca de um desenvolvimento socioeconômico sustentável, com ênfase na qualidade de vida e na garantia dos direitos fundamentais do cidadão, tais como: saúde, educação, alimentação, habitação e lazer. Neste contexto, o turismo desponta, no setor de serviços, com um papel relevante não só na esfera econômica, como também, nos âmbitos social, cultural e ambiental. Um novo modelo econômico de desenvolvimento da civilização vem se delineando fundamentado na sustentabilidade dos recursos naturais, para que os mesmos perdurem às gerações futuras. Para tanto, faz-se mister criar bases que possibilitem a consecução dos objetivos do uso racional e sustentável, partindo-se inicialmente da construção de uma estrutura educacional voltada às necessidades locais, buscando a minimização do impacto ambiental, resultante da atividade turística. O Direito na busca incessante de dirimir os conflitos existentes no meio social vem ao encontro com a premissa de preservação e conservação do ambiente natural, reconhecendo a relevância deste para a saúde e bem estar do ser humano. Neste 1 Mestre em Cultura & Turismo (UESC/UFBA) Economista. Advogada. Professora do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Santa Cruz e de Direito da Faculdade de Tecnologia e Ciências. E-mail: [email protected]. 224 sentido, objetivou-se neste artigo demonstrar a relevância do Direito Ambiental enquanto um instrumento indispensável para a consolidação do desenvolvimento turístico sustentável e, em especial, na modalidade do Ecoturismo. Para tanto, utilizou-se nos procedimentos metodológicos, uma pesquisa bibliográfica para a discussão teórica e dados secundários de fontes diversas como artigos, monografias, dissertações, revistas, entre outros, bem como fontes doutrinárias e legislações no âmbito da Ciência Jurídica. Outrossim, é de grande interesse e relevância o debate nesta esfera proposta, uma vez que estabelecidos alguns parâmetros acerca do Turismo e do Direito Ambiental, poder-se-á traçar suas principais peculiaridades, sua esfera de atuação e sua importância no contexto amplo da atividade turística. Ademais, a observância dos princípios do Direito Ambiental e o conhecimento de determinados remédios constitucionais para a defesa do meio ambiente, constituem instrumentos indispensáveis para a consolidação da vertente do Ecoturismo de forma sustentável. 225 PRODUÇÃO DE FRUTOS DOS PALMITEIROS JUÇARA, PUPUNHA E AÇAÍ Maria das Graças C. Parada Costa Silva1 Introdução As palmeiras juçara (Euterpe edulis Mart), a pupunheira (Bactris gasipaes Kunt) e o açaizeiro (Euterpe oleracea Marth), são as três principais palmeiras produtoras de palmito e apresentam a particularidade de também produzir frutos de alto valor nutritivo e econômico. Porém, o maior consumo dos frutos dessas palmeiras, principalmente a pupunha e o açaí, ocorre nas regiões onde elas são nativas. O uso da polpa dos frutos da juçara ainda está sendo fomentado, mas já tem grande aceitação no sul e sudeste do Brasil, como Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Na Bahia o seu consumo ainda é incipiente, por falta de esclarecimento da população local sobre esta possibilidade, haja vista que a juçara era conhecida apenas como produtora de palmito. No entanto, análises realizadas pelo Laboratório de Tecidos Vegetais da Ceplac por Silva et al. (2004) atestaram o 1 Engenheira Agrônoma, MSc Ceplac/Cepec/Sefop . Km 22 Rod Ilhéus/tabuna, Itabuna, Bahia.Caixa Postal 07, 45600-970, [email protected] 226 valor nutritivo do fruto da juçara, comparado ao do açaí como mostram as tabelas abaixo: Tabela 1. Composição mineral da polpa dos frutos de açaí e juçara, na Matéria Seca. Elementos minerais Espécies açaí Juçara P K (g/kg) (g/kg) 1,4ª b 0,8 b 7,4 12,1ª Ca Mg (g/kg) (g/kg) Fe (mg/kg) 4,8ª 4,3ª 1,4ª 1,5ª 328,5 559,6ª b Zn (mg/kg) b 10,1 12,2ª Cu (mg/kg) Mn (mg/kg) 20,4ª b 14,0 34,3ª 43,4ª Fonte: Ceplac/Cepec/Sefis, 2004 P= fósforo; K= potássio; Ca= cálcio; Mg= magnésio; Fe=ferro; Zn=zinco; Cu= cobre; Mn = manganês. Tabela 2. Características químicas da polpa de açaí e juçara na matéria seca. Características química Espécies PH Proteína g/kg Açucares tot. g/kg Açaí Juçara 4,8ª 4,7ª 77,6ª 67,2b 10,2b 12,08ª Lipídio g/kg 130,90b 137,80ª Caloria Kcal/100g 152,93 155,74 Fonte: Ceplac/ Cepec/Sefis Pesquisas realizadas por outros autores, constaram teor de antocianina, pigmento presente em ambos frutos, em maior quantidade na juçara (Iaderoza et al. 1992). Esse pigmento pertence à família dos flavonoides, que possui função antioxidante e antiradicalar que asseguram uma melhor circulação sanguínea e protegem o organismo contra o acúmulo de placas de gordura. As antocianinas possuem ainda capacidade de adiar as perdas de memória, da coordenação motora, perda da visão e diminuem os efeitos do mal de Alzheimer (Rogez et al. 2000). A bebida feita com o fruto do açaí, conhecido popularmente como “vinho de açaí”, é largamente consumido pelos habitantes da região 227 norte do Brasil onde é nativa, e, com a divulgação de suas propriedades nutritivas e energéticas o uso da polpa de açaí generalizou-se em todo o país e o cultivo do açaizeiro e o processamento do seu fruto, já ocorrem em vários estados brasileiros, principalmente no sul da Bahia. A polpa de açaí hoje é produto de exportação para os EEUU. O fruto da pupunheira, conhecido como pupunha, é largamente consumido na região amazônica e em outros países da América do Sul e da América Central, onde é encontrada em estado nativo. Embora o palmito seja atualmente o principal produto da pupunha em termos econômicos, nas regiões de origem, o fruto continua sendo o principal produto de consumo. Características botânicas e usos dos frutos da juçara, açaízeiro e pupunheira na alimentação 1. Juçara A juçara é uma palmeira unicaule, não produz perfilhos, o que significa que a extração do palmito implica no sacrifício da planta. Essa atividade quando é realizada sem critérios ou sem cuidados com a sustentabilidade ambiental, pode comprometer a continuidade da espécie e de vários animais que se alimentam de seus frutos. Quando feita desta forma, essa atividade tem o nome de extrativismo, e é considerado crime ambiental, previsto na Lei de Crimes Ambientais - Lei 9.605 de fevereiro de 1998. Em curto prazo, uma possibilidade de agregar recursos financeiros aos remanescentes florestais onde existe juçara, seria a colheita de frutos para produção de polpa. O uso pode ser feito da mesma maneira que a polpa de açaí: puro ou misturado com outras polpas de frutas regionais, com granola, guaraná em pó, como sorvete, entre outros. Em lanchonetes no eixo Ilhéus-Itabuna, a polpa de juçara já é ofertada, porém em pequeno volume, devido à escassez do fruto. Segundo os distribuidores, está tendo grande aceitação, chamando atenção para o sabor mais adocicado que o de açaí. 228 A extração da polpa e os cuidados pós-colheita seguem os mesmos procedimentos realizados para a extração da polpa de açaí, descritos a seguir. 2. Açaí O açaizeiro é uma palmeira que produz inúmeros perfilhos formando touceiras, que são manejadas para a extração de palmito. Face à pressão dos órgãos ambientais, vários projetos de manejo sustentável dos açaizais estão sendo implementados no Pará, visando principalmente à produção de frutos, que além do alto consumo local, (no meio rural o açaí é consumido três vezes ao dia) tornou-se produto de exportação para vários estados do Brasil e para o exterior do país. A polpa de açaí é consumida pelos habitantes da região amazônica com farinha de mandioca ou tapioca, com peixe frito, no feitio de sorvetes, pudins, doces, entre outros, porém, sempre o açaí puro, sem misturar com outras frutas como é usado nas regiões sul e sudeste do país. Nestas regiões, a preferência é o açaí misturado com granola, banana, guaraná, originando o “açaí na tigela”, ou como suco, sempre misturado com outras polpas mais conhecidas. Procedimentos do processamento da polpa: 1. colheita dos cachos 2. debulhamento dos frutos; 3. lavagem em água corrente e de boa qualidade; 4. imersão em água morna (40º C) por 15 minutos para amolecimento da polpa; 5. despolpamento em maquinário apropriado, ou, quando em pequenas quantidades, em liquidificador sem o cortador de hélice ou em peneira de malha grossa, amassando manualmente os frutos. O tempo de batimento não deve ser demorado (4 a 6 minutos), para evitar alteração na qualidade da polpa; 6. se a extração for manual o produto deve ser coado; as despolpadeiras mecânicas possuem sistema de filtragem e o produto já sai isento de impurezas; 229 7. o produto obtido deve ser usado imediatamente ou conservado sob congelamento. 3. Pupunha A pupunheira também é uma palmeira que perfilha e pode chegar a 20 metros de altura. No Brasil, na região amazônica e no Peru, Costa Rica, Equador, Colômbia, entre outros da América Tropical, a pupunha é muito apreciada e consumida, constituindo-se em valoroso alimento para esses povos. A pupunha é um fruto carnoso, muito rico em nutrientes, principalmente em caroteno, precursor da vitamina A e não pode ser consumido cru, porque possui uma enzima, que inibe a digestão das proteínas, e um ácido que irrita a mucosa da boca. Normalmente é consumido simplesmente cozido com água e sal, podendo ser acompanhado de manteiga, maionese, mel e geléia. Pode ser usada como legume, em ensopados, em sopas, vitaminas, entre outros. Como farinha, é usada nos feitios de diversas iguarias domésticas. Procedimentos para se obter a farinha, em nível caseiro. 1. Lavar os frutos em água de boa qualidade 2. Abrir os frutos em bandas para sacar as sementes; 3. Descasca-los e coloca-los para cozinhar por aproximadamente 30 minutos. 4. Após o cozimento, colocar os frutos para escorrer a água e para esfriar. 5. Se o fruto estiver muito úmido, devem ser colocados para secar um pouco ao sol ou em forno médio a mínimo, por 5 a 10 minutos. 6. Passar o fruto no moinho ou no ralo, peneirando em seguida, se quiser um produto fino tipo amido de milho. Está pronta para ser usada em feitios de bolo, pão, paçoca, canjica, mingaus, entre outros. Para uso imediato da farinha, sem necessidade de secagem, devese utilizar frutos mais secos, não muito maduros e evitar cozimento excessivo. 230 Procedimentos para se obter a farinha com grande quantidade de frutos 1. Abrir os frutos para sacar as sementes 2. Lavá-los em água de boa qualidade 3. Ralar os frutos cozidos no mesmo maquinário usado para a obtenção da farinha de mandioca. 4. Levar a massa ralada para secar em forno de farinha de mandioca em temperatura branda por 40 a 45 minutos, mexendo continuamente para não embolar. 5. Peneirar a massa seca para separar as cascas e outras impurezas, que podem ser fornecidas para animais de pequeno porte (galinha); 6. Esfriar e armazenar a farinha em vasilhames hermeticamente fechados. Como manejar os palmiteiros para produção de frutos 1. JUÇARA Como a juçara é nativa da Mata Atlântica, os frutos são encontrados naturalmente nas populações que ainda existem nos remanescentes florestais da região. Um dos cuidados que se deve ter, após a extração da polpa, é em repor as sementes nas áreas onde os frutos foram colhidos. As sementes podem ser semeadas na mata a lanço, ou em pequenas covas abertas com a ponta do facão, em local não muito sombreado para permitir o desenvolvimento mais rápido da planta. 2. AÇAÍ / PUPUNHA 1. Sementes: devem ser sadias de boa qualidade. A semeadura é realizada em canteiros compostos de areia e serragem curtida, em partes iguais, em local protegido da luz solar, próximo a água para facilitar a rega, que deve ser diária. A germinação inicia-se 30 dias após a semeadura (para a pupunha) e em poucos dias para o açaí. 231 2. Preparo da muda: os sacos de polietileno, com capacidade de 2 kg, devem ser cheios com terriço de boa qualidade ou enriquecido com esterco de gado, na proporção de 1 parte para 3 de solo. Podem ser mantidas sob sombra de uma árvore frondosa ou em viveiro, com cobertura de palha ou outro tipo de cobertura. 3. A transferência da plântula para o saco de polietileno deve ocorrer antes do lançamento da segunda folha. Dois meses após essa transferência, adubar as mudas com pulverização ou regas, utilizando uma solução de 50 g de uréia para 10 litros de água. Aos 90 e 120 dias, pulverizar com uma solução de 50 g de uréia e 30 g de cloreto de potássio, para 10 litros de água. 4. As mudas devem ser mantidas sem ervas daninhas, e isentas de pragas e doenças; o produtor tem que estar atento a qualquer sinal de anormalidade, e chamar um técnico para diagnosticar e indicar o defensivo apropriado. 5. Após 4 a 6 meses de viveiro, as mudas estão aptas para serem transplantadas. Um mês antes, porém, faz-se um raleamento na cobertura do viveiro, para adaptação das mudas às condições do campo. 6. O plantio é realizado em época de chuva, com mudas sadias e vigorosas, apresentando altura entre 30 a 40 cm, com 5 a 6 folhas. 7. A área do plantio deve estar limpa e balizada no espaçamento de 4 x 4, para o açaí, se for plantio solteiro ou de acordo com o espaçamento do consorte, de maneira que o plantio não fique muito adensado para não prejudicar a produção de frutos. A pupunha deve ser plantada a pleno sol, no espaçamento 5 x 5 m (400 plantas / ha) estimando-se uma produção de até 20 ton de frutos / ha. É possível o plantio em Sistemas Agroflorestais com cacau, cupuaçu, entre outras, onde a pupunha entra como sombreamento para os consortes e o espaçamento será de acordo com a espécie consorciada. Podem ser implantados nas linhas de cultivo, inicialmente, inhame, batata doce, mandioca e outros cultivos de ciclo curto. 8. As covas, na dimensão de 40 x 40 x 40 cm, devem ser adubadas com 100 g de superfosfato triplo colocado ao fundo. 232 Misturar na terra retirada dos primeiros 20 cm, 5 litros de matéria orgânica e reencher a cova com essa mistura, 30 dias antes do plantio. 9. A adubação deve ser realizada de acordo com os resultados da análise do solo. Mas, pesquisas realizadas na Ceplac (Reis, 1997), indicam as seguintes recomendações para a pupunheira, que por falta de resultado de pesquisa para o açaizeiro, o autor supra citado recomenda a mesma tabela, para as condições de solos regionais. (Tabelas 3 e 4): Tabela 3. Adubação de pupunheira nos três primeiros anos de desenvolvimento FERTILIZANTES (g / planta) IDADE DAS PLANTAS (meses) 2 4 8 12 Uréia 20 20 40 40 Superfosfato triplo Cloreto de potássio 20 20 Fonte: Ceplac/Cepec.1997 16 40 100 20 20 40 - 24 40 20 28 60 100 20 34 60 20 Tabela 4. critérios para adubação da pupunheira em produção. NUTRIENTES (kg / ha) IDADE DAS PLANTAS (meses) 40 46 52 58 64 70 150 150 150 150 150 150 200 100 - 200 100 - 200 100 - 50 25 50 25 50 25 50 25 50 25 50 25 Nitrogênio (N) Fósforo (P2O 5) Mehlich (mg/dm 3): < 5 6 – 16 Potássio (K2O) Mehlich (cmol/dm 3): <0,09 0,10 – 0,25 Fonte: Ceplac/Cepec. 1997 1. Algumas pragas e doenças ocorrem no plantio, e mais uma vez o produtor deve consultar um técnico ao primeiro sinal de anormalidade nas pupunheiras. 2. Nos plantios de frutos de pupunha, deixar além da planta matriz, 2 a 3 perfilhos por touceira, que serão cortados para extração de 233 palmito à medida que apresentarem o diâmetro adequado. Quando a planta matriz apresentar altura que dificulte a colheita dos frutos, deve-se planejar deixar esses perfilhos para produzir frutos, em uma possível substituição da planta matriz. Esse processo é seguido continuamente, ao longo do ciclo reprodutivo da espécie. 3. Nos plantios de produção de frutos de açaí, a partir de dois anos de campo, retirar o excesso de perfilhos nas touceiras, eliminando os mais fracos e os mal formados, deixando 3 perfilhos por touceira de tamanhos diferentes, bem distribuídos ao redor da planta, além da planta matriz, que deve ser mantida até que a sua altura dificulte a colheita. Quando isto acontecer, deve-se planejar o corte da planta matriz e simultaneamente, deixar que novos perfilhos, em número máximo de 4 (um por ano), se desenvolvam para a substituição dos perfilhos antigos. Todos os perfilhos potencialmente produzirão frutos, em número médio de 3 cachos por perfilho, pesando de 1,5 a 2 Kg de frutos / cacho. Se o produtor optar em produzir fruto e palmito no mesmo cultivo, o recomendável é deixar 4 a 6 perfilhos para serem manejados para palmito. 4. Colheita: a pupunha começa a produzir frutos a partir de 3,5 a 4 anos de campo. As primeiras produções geralmente apresentam muitos frutos partenocárpicos, (sem sementes), sendo alguns de coloração verde e de aspecto alongado e outros com aparência de fruto normal. Porém, com o tempo, a tendência é diminuir essa incidência, pois os insetos que fazem a polinização começam a ser colonizados na área, que aliada ao manejo adequado do plantio, promoverão a fecundação e o desenvolvimento de frutos normais. Os cachos devem ser aparados com lona para evitar contaminação e perdas de frutos no impacto com o solo. 5. A colheita do açaí começa após 3,5 a 4 anos de campo, a depender do sombreamento do plantio. A pleno sol inicia mais cedo. Os cachos também devem ser aparados com lona. 6. Tanto o fruto de pupunha como o de açaí são bastante perecíveis, principalmente o açaí, que mesmo sob refrigeração não se conserva por mais de 12 horas, sob pena de alteração da cor e do 234 sabor. A pupunha não deve ultrapassar 24 horas de colhida, em temperatura ambiente, pois como é muito amilácea, pode ocorrer o processo de fermentação. Literatura consultada IADEROZA, M. et al. Antocyanins from fruits of açaí (Euterpe oleracea, Mart) and juçara (Euterpe edulis mart). Tropical Science, London, England, 32, p. 41-46, 1992. REIS, E. L. Adubação da Pupunheira para produção de palmito no Sul da Bahia. Folder. Ceplac / Cepec, 1997. ROGEZ, H. Açaí: Preparo, Composição e Melhoramento da Conservação. Belém, EDUFPA, 2000, 313 p. SILVA, M. G. C. P. C., BARRETTO, W. S. & SERÔDIO, M. H. Caracterização Química da Polpa dos Frutos de Juçara e de Açaí. In XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA. Florianópolis, Santa Catarina, 22 a 26 de novembro de 2004. Anais... CD ROOM, Florianópolis, SC, 2004. 235 TERRITÓRIOS RURAIS COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS Elieser Barros Correia* Introdução O enfoque territorial é uma estratégia essencialmente integradora de espaços, atores sociais, agentes, mercados e políticas públicas de intervenção, e tem na equidade, no respeito à diversidade, na solidariedade, na justiça social, no sentimento de pertencimento, na valorização da cultura local e na inclusão social, as bases fundamentais para conquista da cidadania. O objetivo dessa construção, que só se concretiza mediante amplo processo democrático, é identificar e conceber os territórios a partir da composição de identidades regionais como elemento aglutinador e promotor do desenvolvimento rural sustentável. Realçam-se como desafios dessa estratégia, a promoção e apoio ao processo de desenvolvimento de competências humanas e institucionais nos espaços concebidos como territórios, articulando a construção e implementação de políticas públicas através da elaboração participativa de Planos de Desenvolvimento Territoriais Sustentável, tendo como enfoque o fortalecimento das comunidades rurais, com ênfase na agricultura familiar. A adoção da abordagem territorial como referência conceitual nos processos de desenvolvimento rural sustentável constitui premissa fundamental para a concepção desse espaço enquanto unidade de planejamento, bem como do seu reconhecimento como instrumento de descentralização e de autogestão de políticas públicas. *Msc em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente Chefe do Centro de Extensão da CEPLAC 236 Conceito de Território Várias são as concepções existentes. A assimilação que os atores do desenvolvimento territorial na Bahia possuem deste conceito levam a compreensão de território como a área geográfica de atuação de um projeto político-institucional, que se constrói a partir da articulação de instituições em torno de objetivos e métodos de desenvolvimento comuns. Partindo-se deste entendimento político, desenvolvem-se projetos produtivos, sociais, culturais e ambientais, normalmente orientados ou liderados por um projeto dominante ou idéia-guia. O território, enquanto espaço socialmente organizado, configurase no ambiente político institucional onde se mobilizam os atores regionais em prol do seu projeto (ou seus projetos, mesmo que encerrem conflitos de interesses) de desenvolvimento. O principal objetivo é a geração de relações de cooperação positivas e transformadoras do tecido social. (ROCHA; SCHEFLER e COUTO, 2004). Território e Territorialidade A discussão acerca de território começa com as acepções do termo. Originário do latim territorium, adjetivo derivado de territorialis que significa pedaço de terra apropriada, este sentido era-lhe atribuído antes do século XVIII. Nos anos 1920, os termos território e territorialidade transferem-se do domínio político-administrativo para o da etologia, adquirindo status de conceito científico, deixando de ser uma qualidade jurídica para transformar-se num sistema de comportamento dos animais. No campo da etologia, o território está associado à demarcação e dominação de lugar, à extensão e limites, enquanto territorialidade é definida como a conduta de um organismo para tomar posse de seu território e defender-se contra os membros de sua própria espécie. Em geografia, Milton Santos refere-se ao território, como sendo “(...) o chão da população, isto é sua identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais e da vida, sobre os quais ele influi.” (SANTOS, 2000, p. 96). 237 Um Espaço de Planejamento do Desenvolvimento Rural Busca-se um consenso em que o Estado deve ser gerido como um espaço público, onde a participação da sociedade seja um instrumento básico de decisão sobre os rumos e prioridades do desenvolvimento. A democratização dos órgãos públicos, a transparência administrativa, a participação popular nos conselhos, câmaras e nos orçamentos são elementos balizadores do planejamento territorial. Na análise de Sepúlveda (2003), in (SEI, 2004) o território surge como foco do desenvolvimento rural sustentável. Parte-se de um conjunto de aspectos diagnosticáveis do território que compreendem: a) as características da economia rural da região; b) a heterogeneidade espacial e socioeconômica do setor rural; c) a diversidade institucional e política dos espaços locais; d) a variedade de oportunidades e possibilidades regionais; e) as diferenças ecológicas entre as unidades territoriais; f) as interligações entre essas unidades e o restante da economia. Deriva dessa compreensão, a formulação de políticas que garantam o desenvolvimento e corrijam as desigualdades rurais. Além da coesão social, o desenvolvimento rural prescinde da coesão territorial, ressaltam (Rocha; Schefler e Couto, 2004). Sepúlveda aponta ainda o caráter institucional-multidisciplinar do desenvolvimento territorial. Este se revela importante na definição e condução das políticas públicas territoriais, que devem conter objetivos múltiplos e promover um sistema participativo de base. O enfoque territorial para o desenvolvimento apresenta uma nova concepção onde os aspectos ambientais, econômicos, sociais, histórico-cultural, político e institucional interagem no espaço do território. A economia rural não é mais puramente agrícola, e, sim compreende o conjunto de atividades agrícolas e não-agrícolas regionais e dos recursos naturais da região (SEPÚLVEDA, 2003). Abramovay (2001b e 2003) sugere que o território possui, antes de tudo, um tecido social, com relações de bases históricas e políticas que vão além da análise econômica. À dimensão territorial do 238 desenvolvimento somam-se as já estudadas dimensões temporais (ciclos econômicos) e setoriais (a exemplo dos complexos agroindustriais). Citando os estudos de Casarotto Filho e Pires (1998), o autor lembra que a formação de um território – ou pacto territorial – deve responder a cinco pré-requisitos: 1) mobilizar os atores em torno de uma idéia-guia; 2) contar com o apoio desses atores, não apenas na execução, mas na própria elaboração do projeto; 3) definir um projeto orientado ao desenvolvimento das atividades de um território; 4) realizar o projeto em um tempo definido; e 5) criar uma entidade gerenciadora que expresse a unidade entre os protagonistas do pacto territorial. Uma estratégia para o planejamento de desenvolvimento territorial sustentável deve estar fundada num processo de implantação e consolidação de metodologias que se completa em dois momentos: um de apoio à auto-organização, formação dos fóruns e planejamento dos territórios; e outro de desenvolvimento das capacidades territoriais e articulação interinstitucional de políticas públicas. Diagrama da Construção Sistêmica do Desenvolvimento Territorial Contexto Inclusão social, Eqüidade entre acesso universal e de qualidade dos serviços públicos, valorização cultural e étnica, com apropriação dos resultados do eno Econômica territórios e municípios, desenvolvimento regional e local. Dimensão Ambiental Estratégia do Desenvolvimento Territorial Estabilidade econômica, geração de emprego e renda, ampliação dos investimentos e da produtividade e, conquista de mercados com redução dos riscos. Harmonia entre desenvolvimento e meio ambiente, sustentabilidade ambiental. Abordagem eot Fortalecimento da cidadania, respeito aos direitos humanos e gestão participativa das políticas públicas. 239 Territórios Baianos Enquanto estratégia do Governo Federal para fortalecimento do Campo brasileiro, a Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SDT/MDA) animou um processo de divisão da Bahia, com a participação do Governo do Estado, organizações sociais e outras instituições, em 23 potenciais territórios rurais. Desses, seis situados na área de atuação da CEPLAC. Paralelamente ao trabalho da SDT, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) firmou três Projetos de Cooperação Técnica (TCP) com o Governo Federal, visando apoiar a implementação do Programa Fome Zero (PFZ). A junção das experiências avaliadas como replicáveis, permitiu à FAO montar uma metodologia de desenvolvimento territorial, que se assemelha à da SDT. Da mesma forma, outras instituições, governamentais e nãogovernamentais, têm trabalhado com metodologias semelhantes para o desenvolvimento territorial. Essas metodologias foram discutidas no âmbito da Coordenação Estadual dos Territórios da Bahia (CET) com o objetivo de se montar uma metodologia de referência para o desenvolvimento de territórios rurais, que deve ser usada pelos outros parceiros dos territórios. Explicando: além dos territórios apoiados pela SDT, outros territórios estão sendo ou serão apoiados por instituições parceiras, que precisam de uma metodologia para implementar as ações. É o caso do projeto FAO/MDA (UTF/BRA/057) que vem implementando essa metodologia de referência no território do Sertão do São Francisco. Da mesma forma a CEPLAC vem utilizando dessa metodologia nos territórios de Itapetinga, Médio Rio das Contas, Vale do Jiquiriçá e Extremo Sul. Outras instituições como CODEVASF, Governo da Bahia, Banco do Nordeste e DNOCS têm sinalizado com a intenção de usar essa metodologia em outros territórios baianos. Para se atingir o desenvolvimento almejado, tem-se trabalhado duas linhas estratégicas de atuação: a linha política, que deve ser 240 entendida como ação-meio para alcance do desenvolvimento, e a linha técnica, que é a ação-fim. Na linha política, deve-se buscar a articulação e o entendimento das instituições locais e outras externas ao território em torno de objetivos e métodos comuns de desenvolvimento. Espera-se que a concertação institucional permita que (1) seja formado um fórum para defender politicamente o desenvolvimento do território e que (2) se definam responsabilidades para as instituições envolvidas, considerando-se suas competências e áreas de atuação. Estas responsabilidades devem estar colocadas em um Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável (PDTS). Na linha técnica, deve-se estimular três processos: diagnósticos participativos nas comunidades; capacitação dos assentados da reforma agrária, agricultores familiares e de outras categorias fragilizadas, nas áreas temáticas de maior demanda identificadas nos diagnósticos; e elaboração, implementação e acompanhamento de projetos pilotos, de apoio à capacitação (aprender fazendo) e que possam ser replicados a partir das decisões do fórum. Tabela Resumo da Metodologia de Referência 1 Linha Política 2 3 Linha Técnica 4 Atividades Organização de oficina preparatória para formação do Fórum territorial, formação do Fórum, organização das reuniões do Fórum, elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável Territorial (PDST). Animação do Fórum, elaboração de pautas e atas, apoio na elaboração do PDST Diagnóstico + capacitação/ projetos pilotos Diagnóstico gerado com dados secundários e identificação, caracterização e classificação das experiências existentes 241 Executor Instituição Animadora, contratada por dois anos Consultor Mediador, contratado por dois anos De duas a oito Instituições Executoras, contratadas por dois anos. Instituição de Pesquisa, contratada por cinco meses Territorialização Rural Bahia, 2004 P E R N A M B U C O Barragem de Itaparica Barr de radi A A OA 1 P 10 1 F 1 S 11 S 0 01 0 1 1 1 0 R 1 1 AAOR 0 0 G 1 0 0 M Sertão Produtivo Pieonte do Paraguau acia do acuípe Pieonte Seirido ordeste greste de lagoinaslitoral orte Portal do Sertão itria da onuista Recncavo eui acia do Rio orrente C E 0 O rec elo ico apada iaantina Sisal Sul aio Sul treo Sul tapetinga ale do euiri Sertão do São rancisco este aiano acia do Parairi A A 0 Municípios Pertecentes a Região Metropolitana de Salvador (RMS). EPRO ANO iite dos erritrios ota erritrios a sere conteplados pela Metodologia de Reerncia de esenvolviento erritorial Rural. onte oordenaão stadual dos erritrios (). 242 Territórios Rurais Apoiados Bahia, 2004 R A O Barragem de Itaparica Barr de radi ALAOAS P 10 F S S 0 01 0 R 0 SALVADOR 0 G 0 0 M Territórios financiados pela Secretária de Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministério do Desenvolvimento rário (MD) 01 - lrecê, 02 - Velho Chico, 03 - Chapada Diamantina, 04 ial, 0 - l e 0 - aio l 0 E 0 - C Territórios financiados pela omisso ectiva para a avora acaeira () tremo l, 0 - tapetina, 0 - Vale do eiri, 22- ei A A 0 10 - O Território financiado pela raniao das aes nidas para ricltra e limentao () e pela Secretária da ricltra amiliar (S) do Ministério do Desenvolvimento rário (MD) erto do o rancico SRO SAO Territórios sem entes inanciadores definidos imite dos Territórios ota Territórios omoloados para implementao da Metodoloia omm de Desenvolvimento onte oordenao stadal dos Territórios (T) 243 Figura dos Territórios situados na área de atuação da CEPLAC na Bahia TERRITORIALIDADE NO ÂMBITO DE ATUAÇÃO DA CEPLAC TERRITÓRIOS SUL BAIANOS: Santa Inês 09 - Vale do Jiquiriçá 06 - Baixo Sul 22 - Médio Rio das Contas 05 - Litoral Sul 14º00 08 - Itapetinga 07 - Extremo-Sul Ubaira Mutuipe Cravolândia Pres. Tancredo Neves. Itaquara Cairú Jaguaquara Gandú W. Guimarães Nilo Peçanha Norte Ituberá Itamarí Jequié 39º00 39º30 Taperoá Teolândia 40º00 Lafaete Coutinho Ipiraí Apuarema Nova Biá Igrapiuna Camamú Jitaúna 14º00 Maraú Aiquara Manoel Vitorino Ipiaú Itagí Ibirapitanga B do Rocha. Ubatã Gongogi Itagibá (107 Municípios Itacaré Ubaitaba Aurelino Leal Dário Meira Boa Nova Itapitanga Uruçuca Coarací Itajuipe Almadina Iguaí Barro Preto Ibicuí Ilhéus Itabuna Floresta Azul Firmino Alves Ibicaraí Itapé Sta. C. Vitória Itororó ATLÂNTICO Nova Canaã Caatiba Buerarema S. José Vitória Itajú Colônia Juçarí Itambé Arataca Una Itapetinga Pau Brasil 15º00 Sta. Luzia Camacã Macaraní Itarantin Mascote Maiquinique Canavieiras Potiraguá Belmonte Itapebí 16º00 Itagimirim Sat. Cruz Cabrália Eunápolis Guaratinga. OCEAN O Porto Seguro Itabela LEGENDA Jucuruçú SDT-MDA CEPLAC COMPILAÇÃO: A A CPLACCPCP Itamarajú Itanhém Medeiros Neto Prado Vereda Alcobaça Lajedão Ibirapuã Caravelas Nova Viçosa 40º30’ 40º00’ 39º30 Mucurí 40º00 244 39º00 Desafios O plano plurianual da CEPLAC para 2005/2007, consideradas as dimensões econômicas, sociais e ambientais no contexto da territorialidade de sua atuação, indicou trabalhar ações capazes de promover a “Inclusão social e redução das desigualdades sociais” e o “Crescimento com geração de emprego e renda, ambientalmente sustentável com redução das desigualdades”, Mega-Objetivos Estratégicos do Projeto BRASIL DE TODOS, do Governo Federal. Para tanto a intervenção institucional nos seus territórios se dará mediante os seguintes desafios: Incorporar a Visão do Desenvolvimento Territorial Implementar metodologia que viabilize captar demandas dos diferentes segmentos da população rural, em especial, d a Agricultura Familiar; Propiciar a participação efetiva das comunidades na definição e implementação das políticas públicas Fortalecer a organização social e da produção numa perspectiva Integral e, de Cadeias Produtivas. Literatura consultada ABRAMOVAY, Ricardo. Ruralidade e desenvolvimento territorial. Gazeta Mercantil, São Paulo, p. A-3, 15 abr. 2001a. ABRAMOVAY, Ricardo. Sete desafios para o desenvolvimento territorial. Disponível em: www.banf.org.br. Acesso em: 04 set. 2005. COMISSÃO EXECUTIVA DO PLANO DA LAVOURA CACAUEIRA – CEPLAC. Diretrizes para a Programação 2005. Ilhéus: CEPLAC/ 245 SUBES, 2004, 23p. COUTO FILHO, Vitor Athayde; SILVA Dr. Jeová Torres e GAVÍNIA Lydda. (Org.). Desenvolvimento Territorial na Bahia: (Cartilha/CD/ DVD). 2005 ROCHA, Alynson dos S. ; SCHEFLER, Maria de L. M. e COUTO, Vitor de Athayde. Organização Social e Desenvolvimento Territorial: reflexos sobre a experiência dos CMDRS na região de Irecê – Ba. In SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Análise Territorial da Bahia Rural. Salvador: SEI, 2004, 222p. (série estudos e pesquisas, 71). SABOURIN, Eric. Planejamento municipal. Brasília: Embrapa, 1999, 124p. SANTOS, Milton. Território e sociedade: entrevista com Milton Santos. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000. SEPÚLVEDA, Sérgio. Desarrollo rural sostenible: enfoque territorial. [19—?]. SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Análise Territorial da Bahia Rural. Salvador: SEI, 2004, 222p. (série estudos e pesquisas, 71). 246 CRIAÇÃO DE AVES (GALINHAS) PARA PRODUÇÃO DE OVOS E CARNE EM SISTEMA DE CAIPIRA Gilton Ramos de Argôlo1 Dionisio José de Lima2 A produção avícola brasileira passou por um processo de transformação nos últimos anos se destacando com uma avicultura competitiva no mercado. As mudanças de hábitos alimentares de uma significativa parcela da população, notadamente de maior poder aquisitivo, vem ampliando a procura por alimentos cuja origem seja uma produção mais natural. A “velha” galinha conhecida como “pé duro ou caipira” dos terreiros com potencial produtivo de apenas 50 a 80 ovos por ano existe em mais de 80% das propriedades rurais e tem contribuindo para melhorar a alimentação das famílias e muitas vezes auxiliando como parte da renda na economia familiar. O programa de seleção das aves para serem criadas em sistema caipira, procurou encontrar um ponto de equilíbrio entre o passado e o futuro e entre a rusticidade e a produtividade, apresentando aves com potencial de produção de 270 a 300 ovos ao ano e também aves especializadas para produção de carne com a vantagem da comercialização de um produto diferenciado com melhor remuneração por parte do mercado consumidor. 1 2 M. Sc. Engenheiro Agronômo - CARE do Brasil. Téc. Agrícola / Economista - CONSULCOOP. 247 No sistema de produção proposto a escolha do tipo da ave a ser criada é de fundamental importância, e para promover a máxima capacidade produtiva da ave, além de outros aspectos como nutrição, ambiência, sanidade e manejo. Classificação das aves de acordo a sua função econômica: √ Para produção de ovos (poedeiras). √ Para produção de carne (corte). √ Dupla aptidão. Tabela sobre consumo de ração para ave de postura. Idade (semanas) Peso / ave (gramas) Consumo / dia (gramas) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 17 18 22 30 73 70 140 220 300 380 470 570 660 750 830 910 990 1070 1150 1230 1410 1500 1840 1950 2090 12 19 26 32 38 41 45 48 51 54 56 58 60 63 67 78 84 107 113 108 Acumulado (quilos) 0,084 0,217 0,399 0,623 0,889 1,176 1,491 1,827 2,184 2,562 2,954 3,360 3,780 4,221 4,690 5,740 6,328 9,114 15,393 48,895 Revista: Escala Rural – Ano III- Nº 18 Na região Cacaueira, em alguns criatórios, as aves têm apresentado as características de textura e sabor na carne que o mercado regional deseja aos 120 dias de vida, daí ser muito importante o manejo alimentar. 248 Tabela sobre consumo de ração para produção de carne – “ave tipo pesada”. Critório Tipo de ração Confinado 1º dia até o abate Comercial 3100 kcal Livre 30º dia até o abate Caipira 2850 kcal Idade (dias) Peso Vivo (g) Total de Ração KG Idade (dias) Peso Vivo (g) Total de Ração KG 28 35 42 49 70 84 90 280 930 1180 1445 2210 2485 2730 0,980 1,740 2,350 3,110 5,750 6,760 8,160 28 35 42 49 70 84 90 598 818 1038 1271 1950 2175 2402 1,052 1,480 2,070 2,790 5,050 6,120 7,206 Fonte: Avifran Com investimentos relativamente baixos e instalações de fácil construção com simples técnica de manejo, a criação em sistema caipira tem se mostrado lucrativo, principalmente, para pequenos produtores, pois tem a vantagem da comercialização de um produto diferenciado com boa procura e melhor valor de comercialização. Esse sistema de criação é simples, as aves devem ter dietas mistas, compostas de ração balanceada, complementada com produtos da região e pasto de boa qualidade para que possa ser direcionada como alimentação suplementar, pois a alimentação convencional chega a representar hoje cerca de 89% dos custos de produção (planilha em anexo). As aves devem ser soltas durante o dia para que possam ciscar, tomar sol, com isto se exercitam, em fim terem uma vida natural e mais saudável. Para iniciar nesse sistema de criação é necessário procurar um profissional da área para que possa lhes orientar. Quando for planejar as instalações, elas devem oferecer: conforto ambiental, condições ideais de manejo, proteção contra predadores, cuidados estes que não devem ser ignorados sob pena de comprometer todo o projeto. 249 Chegada dos pintos: √ antes do recebimento dos pintos, certificar-se que o galpão e os equipamentos estão limpos e em boas condições de funcionamento; √ abasteça com água com açúcar (50 gramas/litro de água) e ligue a fonte de calor antes de soltar os pintos no circulo; √ observar o comportamento dos pintos (vê ilustração); √ manter atualizado os registros na ficha de controle zootécnico (em anexo). Manejo básico Mesmo sendo resistentes e geneticamente selecionadas para serem criadas em sistema semi-intensivo, estas aves têm como fundamental os bons cuidados principalmente no primeiro mês. Adquirida as aves, é preciso respeitar uma rotina de trato que assegure seu crescimento rápido e saudável. Uma primeira recomendação é evitar o estresse das aves e adaptar a estrutura do criatório a cada etapa de seu desenvolvimento. Tudo deve mudar gradativamente e o que nunca deve faltar é: √ limpeza do ambiente; √ temperatura adequada; √ disponibilidade de água limpa, fresca e de ração específica. Na chegada das aves com um dia, depois de soltá-las devem receber água com “açúcar” (50 gramas/litro de água) para hidratar e aumentar a sua energia e a partir daí colocar a ração. Para uma boa criação, é fundamental selecionar os pintos que estão sendo incorporados ao plantel como: peso de 40 a 45 g. O mínimo aceitável é 35 g. independente da linhagem ou raça; pluma sedosa e seca; olhos vivos; tamanho e cor uniformes; pele dos pés brilhante, nunca seca ou rachada; sem defeitos, com pés tortos, bicos cruzados, aspecto apático. Nos primeiros dias, o principal inimigo da criação capaz de exterminá-la é a falta ou excesso de calor. As aves ainda não 250 desenvolveram a capacidade de controlar a temperatura do seu corpo, por isso ficam inteiramente sujeitas às variações externas. Um pintinho nasce com 39,8ºC e cabe ao criador atenuar as diferenças entre as temperaturas do corpo e a do meio ambiente. Essa medida se faz com campânulas elétricas ou a gás, indicados para lotes de até 500 pintinhos. Tome como referência à fonte de calor e calcule no chão um raio de 1,20 m para erguer um círculo de retenção das aves que pode ser feito com folha de compensado (tipo eucatex) e deve ter uma altura de aproximadamente 0,60 m. O comportamento da ninhada dirá se a temperatura dentro do círculo está ou não adequada. Pintinhos amontoados junto à lâmpada e piando indica calor insuficiente. Ao contrário, se permanecerem distante da campânula, mas piando, há excesso. Bom sinal é vê-los regularmente distribuídos, em silêncio, alimentando-se normalmente. Figura 1- Pintos com frio - Figura 2 - Pintos com Figura 3 - Corrente de Figura 4 - Ideal. Amontoados. calor - Afastados da ar. Pintos agrupados. Pintos distribuídos fonte. uniformemente em torno do circulo. Situação de conforto. Por volta do 14º dia a penugem cai e surgem as penas que constituem um bom isolante térmico. O círculo de proteção não é mais necessário. Dependendo da época do ano, a campânula também poderá ser desativada – primeiro durante o dia, depois à noite. A alimentação nessa primeira fase muda também gradativamente, tudo em função da idade e do tipo da ave a ser criada. Ela pode decidir a falência ou a rentabilidade do negocio. A Alimentação Convencional representa cerca de 89% dos custos variáveis com a avicultura; é simplesmente insuportável para o pequeno criador. Como contornar? Existem algumas possibilidades! 251 Produzir a própria ração – essa alternativa só é válida para criações acima de 500 cabeças, e antes de tudo é necessário que se faça “muita conta” para avaliar se é ou não viável. Manejo das aves para produção de ovos Para iniciar a criação de aves para produção de ovos, o produtor deve escolher com que tipo de ave ele vai trabalhar em seu aviário, associada à preferência do mercado consumidor. Essa ave deve ter: baixa mortalidade, resistência a doenças, baixa relação entre consumo de ração e postura de ovos, além de uma capacidade para postura acima de 240 ovos/ano com boa capacidade de pigmentação da gema. A fase inicial ou fase de cria é a mais sensível da criação, vai desde o primeiro dia até a 6ª (sexta) semana de vida. A fase de recria vai da 7ª até a 18ª semana é onde ocorre um grande crescimento das aves sendo determinante para a qualidade da futura poedeira. Fase de pré-postura vai da 19ª até a 23ª semana. Fase de postura vai da 24ª até a 70ª semana, quando devem ser descartadas. Tabela: O ciclo de produção de ovos. IDADE (EM SEMANAS) PRODUÇÃO DE OVOS De 17ª A 18ª De 19ª a 20ª De 28ª a 30ª De 45ª a 70ª Acima de 70ª 5 A 10% 50% Mais de 90% Ocorre decréscimo na produção Descarte Critérios para seleção de poedeiras produtivas Galinha em produção apresenta: crista e barbelas grandes de aspecto sedoso e coloração vermelha. cloaca oval e alargada e úmida. distância entre ossos da pelve de 3 a 4 dedos. abdômen macio. 252 Galinha fora de produção apresenta: ♦ crista e barbelas pequenas, secas e escurecidas. ♦ cloaca estreita, circular, pálida e seca. ♦ distância entre os ossos da pelve de apenas 2 dedos. ♦ abdômen duro e pequeno. A presença dos galos é muito importante, apesar de comerem mais que as galinhas e não botarem ovo, pois as galinhas se comportam mais tranqüilas, “ficam mais felizes” e isso tem importância fundamental também no aspecto sanitário, visto que o estresse é reconhecidamente um fator predisponente para doenças que acabam causando grandes prejuízos na avicultura. Manejo Alimentar – a parte nutricional é um dos fatores que mais interferem no resultado produtivo do lote. Todo o programa alimentar de aves está baseado na função, idade e peso dos animais, assim deve-se fornecer uma ração especifica para cada período de desenvolvimento das aves. O aproveitamento de restos de horta e cascas de frutas na alimentação das “galinhas” criadas em sistema caipira é recomendável, desde que esses restos sejam oferecidos como complementação à ração balanceada e não como dieta principal das aves. Tabela : Relaciona a função econômica, idade e tipo de ração que deve ser fornecida as aves. Alimentação Por Idade Tipo de Ração A) Aves para corte 1 a 30 dias 31 a 42 dias 43 ao abate Ração Inicial Ração de crescimento, engorda. Ração de acabamento. B) Aves para postura 1 a 10 semanas 11 a 18 semanas Mais de 19 semanas Ração para pintinhas. Ração para frangas. Ração para postura. Revista: Escala Rural – Ano III- Nº 18 253 A alimentação vegetal pode suprir cerca de 25% das exigências nutricionais das aves. Os vegetais crescem recebendo a energia do sol, e estão repletos de caroteno, vitaminas, minerais e força vital. As ingestões de gramíneas, leguminosas e outras fontes vegetais fornecem vitaminas e minerais as aves, coferindo-lhes resistência às doenças e modificando a qualidade de seus ovos tornando suas gemas mais vermelhas e ricas em vitamina A e com melhor valor comercial. Coleta e classificação dos ovos: Os ninhos devem ser usados exclusivamente na fase adulta das aves em postura, são muito importantes para garantir ovos de boa qualidade, mais limpos e com menor riscos de contaminação. Eles devem ser mais altos que o piso, com aproximadamente 40 centímetros de largura, 30 de altura e 30 de profundidade, com uma boa “cama” sedo suficiente para abrigar de quatro a cinco galinhas. Os ninhos têm a função de proporcionar um local macio e aconchegante para a postura dos ovos. Cerca de 60 a 70% da postura é realizada pela manhã. Existe a necessidade de realizar a maior parte da coleta dos ovos neste período, para que eles não fiquem acumulados nos ninhos e possam quebrar ou trincar. Durante a coleta, é aconselhável que os ovos sejam colocados em bandejas plásticas ou de papelão com a extremidade mais fina voltada para baixo, pois a utilização de baldes ou cestas, ocasionam um alto índice de ovos trincados e quebrados, apesar da casca do tipo caipira ser mais resistente. Após a coleta, os ovos devem seguir para a sala de classificação, onde serão limpos a seco com uso de uma esponja. Por se tratar de um produto perecível, deve-se observar o período de consumo do ovo, que gira em torno de 15 a 25 dias. Sanidade – O melhor remédio é a prevenção e o criador deve saber que aves bem alimentadas e com bom manejo são mais resistentes. A prevenção das doenças é de grande importância na manutenção da saúde das aves, que consiste em um conjunto de praticas que envolvem higiene, profilaxia e combate sistemático a endo e 254 ectoparasitas, para isso procure o méd. veterinário na sua região para indicar o melhor calendário destas, em função da realidade epidemiológica onde está localizada a sua criação. As vacinas são estritamente necessárias para garantir a saúde das aves. A verminose, também se constitui num sério problema nas criações mal orientadas. As aves são também atacadas por ectoparasitos que lhes ataca a plumagem ou roubando-lhes o sangue e veiculando as doenças. No sistema semi-intensivo, o ambiente deve ser menos estressante que numa granja convencional, pois as aves interagem com as forças da natureza, que as torna mais saudáveis. Tabela: Cronograma de Vacinações. Idade (Dias) 1º 10º Vacina Aplicação BOUBA Punção na membrana da asa intramuscular MAREK (feita no incubatório) NEW CASTLE Intra-ocular, intra-nasal (ou na água de bebida não clorada) 21º BOUBA AVIÁRIA Escarificação na coxa (só no caso de não ter sido feito no 1º dia de vida) ou punção na membrana da asa 35º NEW CASTLE Intra-ocular, intranasal, água de bebida (não clorada) 63º BOUBA AVIARIA Escarificação na coxa ou punção na membrana da asa De 4 em 4 meses NEW CASTLE Intra-ocular, intra-nasal, água de bebida (não clorada) Fonte: Escala Rural – ANO III – Nº 18. (adaptado). Existem vários fatores que podem afetar negativamente o sistema de produção: a) construção e ou formato inadequada de comedouros e bebedouros; b) condições péssimas da “cama” como material inadequado e úmido; 255 c) d) e) f) g) h) superlotação; baixa ventilação; temperaturas altas (desconforto térmico); número insuficiente de comedouros e bebedouros; controle da sanidade ignorado; falhas no manejo. Plantel: 300 aves para produção de ovos. Especificação Um Quant Galpão 6X10 (alvenaria)* Bebedor tipo rosca Bebedor tipo pendular Comedouro tipo bandeja Comedouro tipo tubular Ninhos Campânula m2 un un un un um un 60 4 5 4 10 60 1 SUBTOTAL cab. 300 Aves Ração inicial 6,4kgx300 Ração postura 100gx300x365 Milho grão 20gx300x365 Vacina new castle Vacina bouba (frasco com 100 doses) Outros medicamentos Butijão com gás Cal (saco de 50 kg. Vermífugo Mão-de-Obra (2 h / dia x 540 dias) (1,5 ano) P. unt. P. total R$ R$ 50 3.000,00 6 24 25 125 6 24 30 300 3 180 100 100 79,93 0,64 3,33 0,64 7,99 4,79 2,66 R$ 3.753,00 2,2 660 100,00% 4,96 % kg 1920 0,9 kg 10.950 0,9 kg 730 0,5 frasco 4 8,5 frasco 3 8 1.728,00 9.855,00Total ração 365 89,69 34 0,25 24 0,18 20 0,15 un 1 35 35 0,26 un 10 5 50 0,37 sachê 10 2 20 0,15 hora 1 540 540 4,06 SUBTOTAL R$13.321,00 100,00% TOTAL GERAL R$ 17.084,00 Instalações R$ 3.753,00 / 5 lotes = R$ 750,60 Custo Variável R$ 13.321,00 Custo total R$ 14.081,60 Produção de ovos: 280 AVES X 270 0V0S = 75.600 OU 6.300 Dúzias. Custo do Ovo – R$ 14.081,60 / 6.300 dz. = R$ 2,23 + R$ 0,10 de embalagem = R$ 2,33dz. Receitas: Ovos: 6.300 dz. X R$ 3,00 = R$ 18.900,00 256 Descarte: 280 aves X R$ 8,00 = R$ 2.240,00 TOTAL = R$ 21.140,00 Despesas Totais = R$ 17.064,00 LUCRO (receitas – despesas) = R$ 4.076,00 / 12 meses = R$ 339,66 / mês (Lotes 1) LOTE 2 RECEITA DESPESAS LUCRO = = R$ 21.140,00 = R$ 13.311,00 R$ 7.829,00 / 12 meses = R$ 652,41 / mês Projeto de avicultura – sistema caipira Plantel: 300 aves para produção de carne Especificação Un Quant Galpão 5 x 9 (alvenaria)* Bebedor tipo rosca Bebedor tipo pendular Comedouro tipo bandeja Comedouro tipo tubular Lança chama Campânula Aves Ração 6,0 kg X 300 Vacina new castle Cal (50 kg) Outros medicamentos Butijão com gás Vermífugo Mão-de-obra (2 h / dia = 200hs) P. un. R$ P. total R$ 2.250,00 24,00 125,00 24,00 300,00 40,00 100,00 510,00 1.620,00 17,00 50,00 20,00 35,00 10,00 200,00 m2 un un un un un un Cab. Kg Frasco Saco 45 04 05 04 10 1 01 300 1.800 2 10 50,00 6,00 25,00 6,00 30,00 40,00 100,00 1,70 0,9 8,50 5,00 Um Sachê Hora 1 05 200 35,00 2,00 1,00 Instalações 2.863,00 / 10 anos = R$ 286,30 / ano / 3 lotes = R$ 95,43 / lote Custo de R$ 2.863,00 + R$ 95,43 = R$ 2.959,43 / 300 aves = R$ 9,86 / ave com 2,2 kg de PV ou R$ 4,48 / kg de PV. Nota: Preço de mercado regional é de R$ 12,00 a ave, gerando um lucro de R$ 2,14 / ave. 257 Ficha para controle zootécnico das aves - Galpão Nº _____ TIPO:_________________________ MÊS:________________ ANO:_________ DATA DE RECEBIMENTO: DIA EXISTE MORTE SAÍDA ABATE Nº DE AVES: DIST. DE RAÇÃO PRODUÇÃO DE OVOS CONTROLE SANITÁRIO. 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 Total: G.R.A. OBSERVAÇÕES:________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ 258 PROGRAMA DE SILVICULTURA COM ESPÉCIES ARBÓREAS NATIVAS E SISTEMAS AGROFLORESTAIS SUSTENTADOS NA MATA ATLÂNTICA E FLORESTA AMAZÔNICA - PRONATIVA Kazuiyuki Nakayama * Caio Marcio V. Cordeiro de Almeida ** Fernando Antônio Teixeira Mendes*** As razões principais para a implantação do PRONATIVA são: obrigatoriedade de reflorestar a reserva legal e áreas de preservação permanente, interesse empresarial crescente sobre os mercados de madeira e produtos arbóreos tropicais, demanda crescente por serviços florestais-ambientais, segmentos sociais na sociedade favoráveis às políticas públicas florestais sustentadas, estimativa de 90 milhões de hectares de solos desflorestados e degradados exigindo recuperação e maior disponibilidade de financiamento interno e externo para reflorestamentos, GTI, 2005. O PRONATIVA visa ampliar as produções agrossilvipastoris e industriais sustentadas, conciliar produção, industrialização e conservação ambiental, aumentar as riquezas local e regional, garantir a viabilidade econômica e equidade social de processos de produção e de gestão. A implantação estratégica do PRONATIVA envolverá os Ministérios da Agricultura e Abastecimento, do Meio Ambiente, do *Ceplac/Cepec, - [email protected]; **Ceplac/Supoc/Rondonia, [email protected]; ***Ceplac/Supor/Para - [email protected]. 259 Desenvolvimento Agrário, da Ciência e Tecnologia, do Desenvolvimento Social e Combate a Fome e do Desenvolvimento, Industria, Comércio Exterior, através dos seus órgãos executivos, bem como de governos estaduais, municipais e a sociedade civil organizada. O PRONATIVA inclui ações de fomento a agrosilviprodução industrial, assistência técnica e extensão rural, certificação, crédito e financiamento, organização local das cadeias produtivas, desenvolvimento de tecnologias agrosilvipastoris, educação florestalambiental e recuperação de bacias hidrográficas. Palavras-chaves: reflorestamento, árvores nativas, madeira, reserva legal, áreas de preservação permanente. GTI, 2005 - Portaria Interministerial MMA/MAPA/MCT/MDA nº 296, de 02.12.2004 260 AGRICULTURA DE BAIXO USO DE INSUMOS EXTERNOS E AGROECOLOGIA João Antonio Firmato de Almeida A visão agroecológica Os ecossistemas atualmente existentes são o resultado de milhões de anos de “ensaio e erro” no processo de coevolução de um enorme número de espécies. Nesse processo, as espécies não sustentáveis foram eliminadas, possivelmente por não se adaptarem às condições climáticas, por serem excessivamente suscetíveis a pragas e doenças, por não serem capazes de obter alimentos e energia suficiente ou simplesmente por que não puderam competir com as espécies mais eficientes. Assim, os ecossistemas estão sempre em mudança, à medida que prossegue esse processo de seleção natural. A ecologia, enquanto ciência biológica, é o estudo das relações entre os organismos e seu ambiente. Apesar da grande diversidade de ecossistemas que, felizmente, ainda existem, foi possível identificarem-se alguns princípios e processos básicos comuns. A ecologia pode oferecer importantes percepções para o estudo dos sistemas agrícolas que, por força ou por escolha, também sofrem mudanças constantes e se adaptam a restrições em função do ambiente. A fusão de ciências que constitui a nova ciência da agroecologia procura combinar elementos tanto da ciência agrícola como da ecologia convencionais. Compreendendo os princípios que fundamentam essa nova ciência os princípios agroecológicos podem Técnico em Agropecuária CEPLAC/CENEX-Núcleo de Agroecologia 261 ser aplicados para criar sistemas agrícolas de baixo uso de insumos externos. Nichos ecológicos para a diversidade funcional Um dos conceitos centrais da ecologia é o de nicho: refere-se à função ou ao papel de um dado organismo no ecossistema, conjuntamente com os recursos de que esse organismo depende, que são também os fatores que vão determinar as suas chances de sobrevivência e seus efeitos positivos ou negativos sobre outros componentes. Um nicho pode ser ocupado por mais de uma espécie, e cada uma delas pode ajudar a criar as condições de sobrevivência para as outras. Podem também existir nichos vazios, ou temporariamente vazios, o que significa que há recursos locais subutilizados e que existem oportunidades no sistema para o surgimento de novos componentes. Os agroecossistemas que abrangem muitos nichos distintos, cada um deles ocupado por muitas espécies diferentes – em outras palavras, agroecossistema com alto grau de diversidade – serão, provavelmente, mais estáveis do que aqueles compostos por apenas uma espécie (uma monocultura, por exemplo). Por conseguinte, redundam em maior segurança para o agricultor. No entanto, a diversidade não leva necessariamente à estabilidade: pode até causar instabilidade, se os componentes não forem bem escolhidos. É o caso, por exemplo, de algumas espécies arbóreas, que são hospedeiras de insetos e doenças prejudiciais à lavoura; ou o caso em que há competição entre culturas agrícolas, animais domésticos e árvores por mão de obra, nutrientes ou água (Dover & Talbot, 1987). No entanto, se for possível alcançar a diversidade funcional através da combinação de espécies animais e vegetais que tenham características complementares e que estejam envolvidas em interações sinérgicas positivas, então serão aprimoradas não apenas a estabilidade como também a produtividade dos sistemas agrícolas de baixo uso de insumos externos. 262 A complementaridade nos agroecossistemas Dentro do sistema de produção de um estabelecimento agrícola, os componentes se complementam quando realizam diferentes funções (produtivas, reprodutivas, de proteção, sociais) e quando preenchem diferentes nichos ecológicos, espaciais, econômicos ou organizacionais. É o caso, por exemplo, dos componentes que aproveitam: diferentes camadas de solo (plantas com enraizamento superficial ou profundo); diferentes graus de absorção dos nutrientes (plantas com maior ou menor necessidade de determinados elementos, que absorvem ou não nutrientes residuais ou nutrientes com maior ou menor eficiência); diferentes intensidades de luz (plantas que preferem a sombra ou a claridade); diferentes níveis de umidade do ar (maior ou menor necessidade de umidade, maior ou menor resistência ao vento); diferentes graus de umidade do solo (maiores ou menores necessidades); solos de diferentes qualidades (mais ou menos pedregosos, profundos, declivosos, ou férteis; com maior ou menor umidade; com diferentes graus de resistência ao encharcamento); biomassa não diretamente utilizável pelos humanos (ervas infestantes, restos de cultura, insetos, folhas de plantas lenhosas); diferentes tipos de mão de obra, em diferentes períodos; diferentes mercados (culturas agrícolas com diferentes graus de risco no mercado, produtos fora de época, gado); diferentes necessidades da família. A sinergia nos agroecossitemas Diz-se que os componentes do sistema de produção do estabelecimento agrícola interagem sinergicamente quando eles, além de cumprirem sua função primária, levam à melhoria das condições para outros componentes do sistema, através, por exemplo: 263 da produção de microclimas favoráveis; da produção de substâncias químicas que estimulem os componentes desejáveis ou suprimam os prejudiciais (efeitos alelopáticos das secreções das raízes ou das coberturas mortas); da redução das populações de pragas (por exemplo, plantios consorciados, plantas usadas como armadilha); do controle de ervas infestantes; da produção de medicamentos (tanto para os humanos como para os animais de criação) ou de pesticidas e repelentes de origem vegetal; da produção e da mobilização de nutrientes (por exemplo, fixação de nitrogênio ou simbiose das micorrizas); da produção de biomassa ou resíduos vegetais que sirvam para alimentação animal ou para a nutrição mineral das plantas; da produção de cobertura sobre o solo ou de estruturas radiculares que aprimorem a conservação da água e do solo; dos sistemas radiculares profundos que aprimoram a reciclagem de água e nutrientes perdidos por causa da lixiviação ou que estejam fora do alcance das plantas cultivadas; do uso da tração animal. As funções sinérgicas dos componentes também podem ser exemplificadas através de : faixas de plantio em nível, que conservam o solo e a água, e que, ao mesmo tempo, produzem alimentos e forragem; quebra-ventos ao redor de campos de plantio, que os protegem contra os animais e o vento, e que, ao mesmo tempo, produzem combustível, alimentos, forragens e remédios. Plantas e animais que cumprem várias funções como, por exemplo, espécies de capim que são usados em terraço e também para produção de forragem ou animais que fornecem esterco, leite e tração servem também como reserva de capital, sendo muito importante nesse sentido. A exploração mais completa possível dessa diversidade de funções resulta em sistemas de produção de estabelecimentos agrícolas complexos e integrados, que fazem uso ótimo dos recursos e dos insumos disponíveis. O desafio é descobrir-se qual a combinação de 264 plantas, animais e insumos levam à maior produtividade, segurança e conservação de recursos, dadas as restrições de terra, trabalho e capital. Princípios da ecologia Redes Em todas as escalas da natureza, encontramos sistemas vivos alojados dentro de outros sistemas vivos – redes dentro de redes. Os limites entre esses sistemas não são limites de separação, mas limites de identidade. Todos os sistemas vivos comunicam-se uns com os outros e partilham seus recursos, transpondo seus limites. Ciclos Todos os organismos vivos, para permanecerem vivos, têm de alimentar-se de fluxo contínuo de matéria e energia tiradas do ambiente em que vivem: e todos os organismos vivos produzem resíduos continuamente. Entretanto, um ecossistema, considerado em seu todo, não gera resíduo nenhum, pois o resíduo de uma espécie é o alimento da outra. Assim, a matéria circula continuamente dentro da teia da vida. Energia solar É a energia solar, transformada em energia química pela fotossíntese das plantas verdes, que move todos os ciclos ecológicos. Alianças (parcerias) As trocas de energia e de recursos materiais num ecossistema são sustentadas por uma cooperação generalizada. A vida não tomou conta do planeta pela violência, mas pela cooperação, pela formação de parcerias e pela organização em redes. 265 Diversidade Os ecossistemas alcançam a estabilidade e a capacidade de recuperar-se dos desequilíbrios por meio da riqueza e da complexidade de suas teias ecológicas. Quanto maior a biodiversidade de um ecossistema, maior a sua resistência e capacidade de recuperação. Equilíbrio dinâmico Um ecossistema é uma rede flexível, em permanente flutuação. Sua flexibilidade é uma conseqüência dos múltiplos elos e anéis de realimentação que mantêm o sistema num estado de equilíbrio dinâmico. Nenhuma variável chega sozinha a um valor máximo; todas as variáveis flutuam em torno do seu valor ótimo. Literatura consultada ALTIERE, M. Agroecologia. Rio de Janeiro, PTA/FASE, 1989. CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas ciência para uma vida sustentável. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora Cultrix, 2002. CHABOUSSOU, F. Plantas Doentes Pelo Uso de Agrotóxicos teoria da trofobiose. Tradução de Maria José Guazzelli. Porto Alegre: Editora L&PM, 1ª ed., 1987. GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: Processos Ecológicos em Agricultura Sustentável. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2ª ed., 2001. KHATOUNIAN, Carlos A. A Reconstrução Ecológica da Agricultura. Botucatu: Agroecológica, 2001. 266 PASCHOAL, Adilson D. Produção Orgânica de Alimentos: agricultura sustentável para o século XX e XI. Piracicaba: PCLQ/USP, 1ª edição, 1994. PRIMAVESI, A. M. Manejo Ecológico do Solo: a agricultura em regiões tropicais. São Paulo, Editora Nobel, 1ª edição, 1979. REIJNTJES, Coen. Agricultura Para o Futuro: uma introdução a agricultura sustentável e de baixo uso de insumos externos. Coen Reijntjes, Bertus Haverkort, Ann Waters-Bayer. Tradução John Cunha Comeford. Rio de Janeiro: AS-PTA/FASE, 1994. 267 FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL E PROMOÇÃO SOCIAL NO CAMPO Joaquim Cardoso Filho Existe um grande consenso, atual e moderno, sobre a essencialidade da educação profissional para a modernização e o desenvolvimento das atividades econômicas. Pois, experiências bem sucedidas mostram que somente com a profissionalização e atualização adequadas, das pessoas envolvidas no processo, é possível se agregar valores econômico e social aos produtos e serviços, continuadamente. Se nos setores industrial e de serviços essa premissa é tão verdadeira, é fácil perceber a sua importância para o setor agrícola, onde as tecnologias requerem adaptações e ajustes às condições físicas, ambientais, econômicas e sociais do local da produção. O solo, o clima, a topografia, o relevo, a disponibilidade de recursos financeiros, dinâmica econômica, o grau de escolaridade, a cultura e muitas outras variáveis afetam as capacidades e possibilidades de aperfeiçoamento dos métodos produtivos tradicionais e adoção de novas técnicas. Logo, sem profissionalização a agropecuária não terá qualquer oportunidade de progresso. Nestes termos, evidencia-se a necessidade de estruturação e implementação de um adequado Programa de Formação Profissional Rural - FPR e Promoção Social Superintendente do SENAR-AR/BA 268 – PS no Campo, para que a agropecuária baiana possa maximizar os seus benefícios, tão promissores, em função de tantas vantagens comparativas encontradas no Estado da Bahia. Entende-se por FPR um conjunto de ações que contemplam conteúdos de conhecimentos e experiências, concernentes a profissionalização dos trabalhadores e produtores rurais, visando, principalmente, melhorar a qualidade e produtividade do trabalho. Já a PS relaciona – se com a procura de melhor qualidade de vida dos produtores e trabalhadores, envolvendo suas famílias, a perspectiva de consciência crítica e participação na vida comunitária. São normalmente, relacionadas com: Saúde; Alimentação e Nutrição; Organização Comunitária; Cultura; Esporte e Lazer; Educação; entre outras atividades. Conceitualmente, a Formação Profissional Rural e a Promoção Social no Campo são processos educativos, vinculados à realidade do meio rural, destinados ao desenvolvimento do homem, como cidadão e como trabalhador, numa perspectiva de crescimento e bem estar social. Precisam atender exigências fundamentais, tais como: ser democrático, adequar-se ao permanente processo de mudança do mundo contemporâneo, vincular-se, diretamente, ao mercado de trabalho, associar-se à informação e à orientação profissionais, centrar-se em uma ocupação, adequar-se ao nível tecnológico da ocupação, possuir identidades e características próprias, objetivos profissionalizantes e conteúdos ocupacionais centrados no processo de trabalho; resultar em ganhos para o trabalhador; implicar em aumento da produtividade no trabalho; contemplar também como conteúdos os relativos à preservação e conservação do meio ambiente. Evidencia-se, então, que a FPR e PS devem assentar-se em processo gradual, continuado e permanente de adaptação, transformação e evolução das pessoas inseridas num contexto socioeconômico – político – cultural. A FPR deve adequar-se à sua natureza, sem que nunca possa ser dada como concluída ou esgotada. Ao contrário, estará sempre sendo requerida, de forma mais enriquecida e ajustada ao mercado de trabalho, com toda sua 269 dinâmica. Pois, é através da Educação Profissional que se pode aprender, tornando – se diferente, ou seja, formando novos hábitos, idéias, atitudes, preferências e destrezas, o que provoca novos modos de pensar, agir e sentir, resultando em mudanças/transformação. Igualmente evolutiva precisa ser a Promoção Social no Campo. Para cada situação diagnosticada, retratando as reais necessidades do público e do mercado de trabalho, deve corresponder uma programação de Formação Profissional em termos de qualificação, aperfeiçoamento, atualização e especialização. Somente assim, é possível quantificar qualificar e temporizar, adequadamente, a ação educadora. Também, é fundamental que os alcances da Formação Profissional Rural e da Promoção Social no campo sejam significativos, abrangendo a maior parcela possível da população rural especialmente a economicamente ativa, para que se possam alcançar impactos econômicos e sociais expressivos. Os dados, acima, destacam requisitos fundamentais para a profissionalização dos produtores e trabalhadores rurais, envolvidos na agropecuária e agroindústria baiana, tais como: conteúdos ocupacionais e programáticos adequados e atualizados, continuidade e permanência do processo educativo, carga horária e grau de envolvimento dos beneficiários Isto evidência o imenso desafio, que se encontra no Estado para que seja possível chegar a índices aceitáveis de tais requisitos. Visto que ainda se tem muito que fazer para o ajustes e adaptação de conteúdos ocupacionais e programáticos às condições especificas da Bahia. Igualmente, há muito que se realizar no oferecimento de treinamentos, com cargas horárias adequadas, envolvendo números significativos de produtores e trabalhadores rurais, em condições continuas e permanentes. Para se ter uma ligeira idéia do tamanho dessas limitações vale destacar que os treinamentos oferecidos aos produtores e trabalhadores rurais, em todo o Estado, no ano de 2004, não atingiram a marca de 6.000, nos quais, menos de 2.000 ultrapassam a carga horária de 08 horas. No total de treinamentos foram envolvidas 108.000 pessoas. Destas, 270 3.000 participaram de novos eventos, a título de reforço, com vistas ao aperfeiçoamento, atualização e especialização. Tais dados mostram que seriam necessários 20 anos para que fosse possível oferecer um único treinamento, insuficiente em todos os seus aspectos, para atender a demanda de mais de dois milhões de pessoas, incluindo produtores e trabalhadores rurais. Resulta a certeza que, nestas condições, tais treinamentos não atingirão nenhum impacto, podendo inclusive, provocarem ou estimularem contradições, conflitos e prejuízos. A título de exemplo comparativo a média de carga horária exigida pelo setor industrial para que um operário seja considerado preparado é, em média, de 600 horas, não sendo considerado aceitável abaixo de 400 horas. Se comparados estes dados com o que se realiza nos setores industrial e de serviço fica fácil perceber a ausência de compreensão adequada da necessidade de profissionalização para o setor primário, ou melhor, da essencialidade da agropecuária para o desenvolvimento sustentado do Estado. Vale salientar, que significativa quantidade de treinamentos destinados aos setores secundário e terciário, são custeados com recursos governamentais. A formação Profissionalização Rural e Promoção Social no campo é atribuída ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR, com base na Lei nº 8.315, de 23/12/91. Para desenvolver esta função o SENAR estabeleceu premissas básicas que regem e norteiam suas ações, voltadas ao “Homem Rural”, visando contribuir para sua profissionalização, sua integração na sociedade, melhoria da sua qualidade vida e para seu pleno exercício da cidadania. Seus princípios e diretrizes evidenciam o homem no seu contexto funcional e familiar, inserido numa atividade econômica que precisa adequar-se ao perfil educacional demandado pelo mercado. Por principio, suas ações atendem as exigências fundamentais, envolvidas na FPR, já explicitadas anteriormente. A proposta do SENAR é promover a Formação Profissional Rural e Promoção Social no Campo dos produtores e trabalhadores, 271 objetivando melhor desempenho nas suas ocupações e oferta de novas oportunidades de ingresso no mercado de trabalho atual e futuro. Assim, o seu trabalho tem como referencial a Estrutura Ocupacional do Meio Rural, organizada por Linhas de Ação, Áreas Ocupacionais e Ocupações. Para sistematização deste trabalho, envolvendo os três setores da economia, estabeleceu-se, como marco orientador, 08 linhas de ação, compostas por 22 áreas ocupacionais, com a identificação de 157 ocupações. Para cada uma dessas ocupações são detalhados os objetivos e as condições à realização do trabalho, as tarefas a serem seguidas pelo profissional, os mercados de trabalho mais adequados ao seu exercício, as condições para seu desempenho, estabelecendo-se os requisitos prévios aos treinandos. A partir da análise criteriosa das reais necessidades do público e do mercado de trabalho define-se a natureza do treinamento, que pode ser qualificação, aperfeiçoamento, atualização e especialização. Na qualificação propõe-se capacitar o individuo para o exercício de uma ocupação nova. No aperfeiçoamento visa-se melhorar o desempenho do trabalhador que já exerce a ocupação. Na atualização objetiva-se oferecer novos conhecimentos e/ou habilidades. Na especialização pretende-se aprofundar conhecimentos na área específica de uma ocupação. Para melhor compreender os conceitos acima, vale considerar exemplos de: Setor da Economia, Linha de Ação, Área Ocupacional e Ocupação, respectivamente, tais como: Primário, Agricultura, Fruticultura e Trabalhador na Fruticultura Básica. Entre as 157 ocupações, listadas no âmbito Nacional, o SENAR – Bahia identificou 72 que ocorrem, com freqüência, no Estado entre as quais trabalha, sistematicamente, com 47. Os resultados obtidos pelo SENAR, no Estado da Bahia, no período de 1999 a 2004, atingiram a marca de 14.001 cursos, sendo 11.739 de FPR e 2.262 de PS. Foram envolvidos 218.564 participantes, aprovados e certificados. Tais resultados, constam na Tabela 1, com detalhamento anual. A carga horária média dos cursos do SENAR corresponde a 28 horas, oscilando entre 16 e 40 horas por curso. 272 Tabela 1 – Treinamentos e cursos realizados no Estado da Bahia – Período 1999 a 2004. Além dos resultados acima merecem destaque 647 cursos, destinados a complementação da Educação Profissional, constante do Projeto especifico, baseado em metodologia e estratégias FPRde 192 horas de PS próprias e inéditas, que consiste no oferecimento alfabetização, complementadas por Nº 40Eventos horas de Part.Formação Nº Eventos Profissional. A maior diferença desse Projeto é que as turmas são 1999 1.091 16.133 540 formadas por pessoas dedicadas2000 a uma mesma ocupação, o que 1.932 29.125 711 enseja uma excepcional oportunidade de aplicação do Método Paulo 2001 1.472 22.475 465 Freire. Nestes cursos foram alfabetizados quase 15.000 2002 2.513 38.066 235 trabalhadores rurais. 2003 2.366cursos 37.264 Vale ressaltar, ainda a ocorrência de 1.557 realizados 196 na 2004 2.365sobre37.908 Região Cacaueira da Bahia, exclusivamente, o Controle 115 da Vassoura de Bruxa do Cacaueiro, beneficiando 21.900 trabalhadores 11.739 180.971 2.262 rurais, conforme a Tabela 2. Para execução de sua missão o SENAR conta com dotação orçamentária, oriunda, proporcionalmente, da arrecadação do INSS, decorrente dos recolhimentos específicos da agricultura e agroindústria. Todavia, tais recursos se mostram insuficientes para o atendimento das necessidades, conforme dados a analise, já explicitados anteriormente. Mesmo, somando todos os recursos 273 Part. 9.302 11.57 7.491 3.506 3.653 2.021 37.54 Tabela 2 – Cursos e treinamentos realizados sobre Controle de Vassoura de Bruxa do Cacaueiro – Período 1999 a 2004. Nº Cursos Nº de trabalhadores 1999 136 1.626 2000 285 3.826 2001 297 4.321 2002 318 4.554 2003 206 2.963 2004 315 4.611 Total 1.557 21.901 captados nos convênios e contratos, junto a Instituições Governamentais e privadas, as disponibilidades do SENAR-AR/BA mostram-se insignificantes para atendimentos de metas satisfatórias na FPR e PS, no Estado. Assim, vê-se claramente a necessidade urgente de revisão de conceitos e decisões, com o objetivo de desenhar e implementar um Programa de Profissionalização de Produtores e Trabalhadores Rurais, com base em ações multi-institucionais integrais, envolvendo Governos Estadual e Municipais, além do setor privado. 274 AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Aurélio José Antunes de Carvalho Atualmente estou engajado no Plano de Desenvolvimento Sustentável do Município de Amargosa – BA, denominado PEGADAS. Identificaram-se com este plano que as maiores demandas das populações rurais são: energia elétrica, água encanada, estradas, médico (saúde) e segurança. Somente após instigar acerca do que é produzido nas roças e de como se processam os produtos é que salta a demanda por assistência técnica rural. Tais demandas refletem a busca por qualidade de vida centrada no atendimento de necessidades básicas. Outro aspecto importante que, muitas vezes, somente é externalizado após uma “prosa” mais prolongada é a falta de lazer. Neste ponto surge muito a necessidade de campo de futebol e a de construção de igrejas, identificado como marco de civilidade de uma comunidade. Tal situação reflete a realidade da agricultura familiar no Nordeste, que em geral é colocada como espaço residual das políticas públicas, motivado principalmente pela identificação do rural e da ruralidade como marco da pobreza e política clientelista associada. Portanto, pensar a agricultura familiar inserida no Desenvolvimento Sustentável, conforme definição abaixo expressa, é, antes de tudo, situar-se na lógica dos atores sociais presentes no campo e nos movimentos que promovem uma nova ressignificação do homem e da mulher do campo. Visualizá-los como elementos dotados de inventividade, tecnologias e cultura próprias, sujeitos que planejam alternativas de melhorias na qualidade de vida. Participando, portanto, Engenheiro Agrônomo, MS em Ciências Agrárias, Assessor Técnico da Prefeitura Municipal de Amargosa 275 de instâncias do controle social da coisa pública, a fim de sejam estendidas ao meio rural uma infra-estrutura que o Estado tem o compromisso de oferecer, mas que somente será efetivada se seus atores principais (os agricultores e agricultoras) ousarem participar enquanto protagonista da agricultura familiar. Por sua vez, há um sem número de definições para Desenvolvimento Sustentável (DS). No entanto, o que nos interessa é que, em seu bojo, garanta desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental, que seja capaz de assegurar a divisão da riqueza produzida pelo homem, bem como estabeleça nas suas bases um ambiente sadio para usufruto das gerações presentes e futuras. Guilherme Dias, professor da USP, divide a agricultura em duas: a Patronal e a Familiar. Esta última tem pontos de interseção com o D.S. muito maiores, uma vez que a segunda se processa com maior eficiência energética, menor demanda de insumos externos, maior diversificação inter e intra-específica dos cultivos produzidos, maior empregabilidade, sem contar que normalmente as maiores concentrações de agricultores familiares estão localizados em áreas de menor fertilidade natural dos solos. A partir dos anos 90, ganha força o tema multifuncionalidade da agricultura que, segundo Maluf (2003), é tomada como um “novo olhar” sobre a agricultura familiar que pretende analisar a interação entre famílias rurais e territórios na dinâmica de reprodução social, considerando os modos de vida das famílias na sua integralidade e não apenas seus componentes econômicos. Sob esta abordagem a agricultura familiar amplia seus horizontes, ganha uma resignificância e re-significação, pois incorpora seu papel social. Adquire-se um reconhecimento institucional da importância socioeconômica e política das unidades de produção agrícola não-regidas pelo modelo produtivista, na direção, portanto, de um modelo de desenvolvimento econômico e social mais amplo. Por sua vez, a agricultura patronal, baseada nos moldes da modernização conservadora, calcada no trinômio: crédito – mecanização – agroquímicos, além da exclusão social, promove um 276 passivo ambiental do desflorestamento de grandes áreas, perda de solo, redução da biodiversidade, poluição e redução do volume de corpos d’água. Sem falar que a sociedade brasileira tem arcado com o enorme custo para sustentar este sistema, que inclui sucessivas anistias de dívidas. Apenas dez multinacionais do setor receberam R$ 4,35 bilhões do Banco do Brasil em 2003, enquanto que o Plano de Safra de 2003-2004 prevê o repasse de 4,5 bilhões para toda agricultura familiar, que conta com 3,7 milhões de estabelecimentos, segundo César Benjamin. Por seu turno, a agricultura familiar é capaz de contribuir ou mesmo se constituir num componente de projeto nacional de desenvolvimento sustentável. Pesquisas realizadas por Maluf et al (2003) destacam quatro expressões da multifuncionalidade da agricultura familiar que confirma a assertiva exposta acima: 1. Garante reprodução socioeconômica das famílias rurais; 2. Promove a segurança alimentar das próprias famílias e da sociedade; 3. Mantém o tecido social e cultural; 4. Preservação dos recursos naturais e da paisagem rural. Esta tendência de agricultura familiar é acrescida de novos espaços que os atores sociais promotores da Agricultura familiar tem conquistado, mesmo que ainda de forma tênue. Pode-se exemplificar: 1. participação cidadã nos Conselhos nas diversas instâncias, sendo os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentáveis, um lócus de ação bastante rico; 2. a formulação da proposta da educação básica no campo, como forma de construir uma pedagogia engajada, focada na formação de uma identidade positiva da ruralidade, referenciando-se ao campo como local digno e de qualidade de vida. Neste contexto, a superação da identidade rural negativa há de ser conquistada, focando precipuamente no jovem e na criança. Assim, a resolução 001/2002 do Conselho Nacional de Educação aponta para uma educação do campo, enquanto Política da Educação Nacional, estando inserido na luta pela desconstrução de um 277 imaginário depreciativo dos povos do campo, norteando um projeto sustentável para a agricultura familiar, por meio da valorização da cultura do povo da roça. Entende-se por roça não apenas espaço de plantio ou modo desmerecedor, mas revestir o sentido da palavra roça enquanto como habitat, como local onde pessoas que vivem no campo relacionam entre si e o ambiente, como constróem suas estratégia, suas tecnologias que garantem a sobrevivência das pessoas e convivência com as condições locais. Porquanto, várias são as trincheiras de luta da construção de uma agricultura familiar que seja capaz de superar a pobreza rural, alicerçada com bases agroecológicas de produção e que influam nas políticas públicas de modo mais impactante e que sejam capazes de alcançar o Desenvolvimento Sustentável. Neste aspecto, salienta-se a importância de os técnicos que atuam no meio rural em órgãos públicos ou ONGs, em Universidades e órgãos oficiais de pesquisa e extensão somarem forças e orientarem suas ações no apoio ao projeto sustentável de desenvolvimento da agricultura familiar. Afinal, é esta agricultura responsável pela geração de empregos e comida, pela fixação do homem no campo e pela produção de uma cultura rica que produz tecnologias próprias, as quais carecem de aprimoramento. Literatura consultada Maluf, R. S. (orgs.). Para além da produção: multifuncionalidade e agricultura familiar. R. Janeiro, Ed. Mauad, 2003. BENJAMIN, César. A Questão agrária no Brasil: Das Sesmarias ao Agronegócio. SEAGRO/SC. Florianópolis/SC, 2004 BRASIL, Educação básica do campo. Resolução 001/2002 – Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. Brasília – DF, 2002. 278 TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE AGROQUÍMICOS Antonio Zózimo de Matos Costa1 José Louis Pereira1 Jackson de Oliveira César3 Luis Carlos Lima1 Juarez Duarte dos Santos2 Tecnologia de aplicação de agroquímicos é o emprego de todos os conhecimentos científicos que proporcionem a correta colocação do produto biologicamente ativo no alvo, em quantidade necessária, de forma econômica, com o mínimo de contaminação ambiental. Os agroquímicos devem exercer a sua ação sobre um determinado organismo que se deseja controlar. Quer seja ele um inseto, uma planta daninha, um fungo ou uma bactéria. O sucesso de um programa de tratamento fitossanitário, na agricultura, depende fundamentalmente de produto de eficiência comprovada e de uma tecnologia desenvolvida para a sua aplicação, ficando ainda condicionado ao momento de realização e à influência dos fatores meteorológicos, biológicos e agronômicos incontroláveis. A utilização de agroquímicos é influenciada por vários fatores, dentre eles destacam-se o clima, o hospedeiro, o alvo biológico, o ingrediente ativo e o veiculo utilizado no produto. O clima tem um grande efeito Pesquisadores CEPLAC/CEPEC/SEFIT1, Professor EMARC/URUÇUCA2, Pesquisador EBDA3 279 tanto sobre a ocorrência de pragas e doenças como também na eficiência obtida após a aplicação de um determinado produto. É aconselhável que as pulverizações com agroquímicos sejam realizadas nas horas mais frescas do dia, a fim de evitar a evaporação rápida do produto aplicado. Também, consegue-se aplicações mais eficientes com velocidade de vento inferior a 2,0 m/seg. Na prática, velocidade entre 2,0 e 3,1 m/seg. as folhas das árvores são ligeiramente agitadas. Deve-se interromper a pulverização quando o valor da velocidade ultrapassar 3,0 m/seg (Matuo,1990). Segundo os modernos conceitos de aplicação de agroquímicos, quatro são os pontos a serem considerados, como fundamentais, para se obter pleno êxito na preservação das colheitas, mediante a neutralização do ataque de pragas e patógenos e anulando-se a competição por parte das plantas invasoras: Timing: O chamado timing (ou momento oportuno) consiste na ocasião ideal para a aplicação de um agroquímico. Não implica em qualquer custo adicional, a observação do timing possibilita a ação do produto na oportunidade em que o agente biológico lhe esteja mais vulnerável - e quando os custos dos danos causados seria igual ou maior que o do tratamento. Cobertura: Para obtenção do máximo efeito biológico sobre o agente causador dos danos, é necessário que o equipamento de pulverização esteja muito bem ajustado, de forma a proporcionar uma cobertura mínima e uniforme do alvo (solo ou superfícies foliares) objetivado. Dose: Fator indispensável na aplicação de qualquer agroquímico, a manutenção da dose certa em todo o processo, assegura economia: a dose excessiva, além de provocar danos à cultura pela fitotoxicidade, naturalmente eleva os custos. A dose correta assegura a maior eficiência no controle, inclusive com a garantia de efeito residual previsto, o que não se obtém quando das aplicações em subdoses. Segurança: Durante a aplicação de um agroquímico, qualquer que seja sua classe toxicológica, todas as precauções devem ser tomadas 280 para que não haja contaminação do operador, cuidando-se para que o meio ambiente (mananciais, fauna e flora) seja preservado de qualquer agressão. A forma de aplicação de agroquímicos mais utilizada nas culturas é a líquida. Nesse tipo de aplicação, o tamanho da gota é um dos mais importantes fatores para a eficácia do controle. O tamanho da gota aplicada é diretamente relacionado à penetração do produto, à uniformidade de distribuição e à efetividade de deposição (Alonso, 1998). A água é o diluente mais comum nas aplicações por via líquida. Entretanto, apresenta duas fortes limitações: Tensão superficial – a água apresenta alta tensão superficial. Isso faz com que a gota depositada numa superfície permaneça esférica, fazendo com que tenha pouca superfície de contato. Para neutralizar o efeito da tensão superficial, adiciona-se um agente tensoativo ou sufactante, para a gota se espalhar facilmente na superfície, molhando mais a área. Algumas formulações já apresentam agentes molhantes, emulsionantes incorporados, porém na sua ausência torna-se necessária a adição de agentes tensoativos, conhecidos como espalhantes adesivos, para melhorar a perfomace da aplicação. Evaporação – a superfície do líquido é enormemente aumentada quando fragmentada em pequenas gotas. A água é um líquido volátil e pode se evaporar no trajeto entre o pulverizador e o alvo visado. Em dias de alta temperatura o fenômeno da evaporação das gotas de pulverização é bastante problemático, agravando-se principalmente nos dias secos. As aplicações com gotas médias a pequenas, muitas vezes não chegam a atingir o alvo, evaporando antes. Na aplicação de agroquímicos por via líquida, o tamanho da gota é um dos mais importantes fatores para a eficácia do controle. O tamanho da gota aplicada é diretamente relacionado à penetração do produto, à uniformidade de distribuição e à efetividade da deposição. 281 O bico é a peça final do pulverizador e tem por função formar gotas. Na maioria das vezes, a vazão do pulverizador é estabelecida pela vazão do bico (ou pela somatória das vazões dos bicos, quando existirem vários). Assim, além de ser responsável pela qualidade das gotas formadas, é também uma peça chave na vazão do equipamento. Os principais bicos utilizados são: o bico cone, que trabalha com altas pressões 150 a 300 lbf², e forma gotas de 50 µm a 300µm, sendo, de modo geral usado principalmente na aplicação de fungicidas, inseticidas e adubos foliares. Já o bico leque trabalha com pressões menores, 30 a 60 lbf pol², gerando gotas de 300 a 500 µm, sendo recomendado para aplicação de herbicidas (Alonso, 1998; Matuo, 1990). Volume de Aplicação A tendência atual é reduzir o volume de líquido aplicado, o que leva a necessidade de gotas menores para melhor cobertura. Resultados de estudos mais recentes tem demonstrado que partículas em torno de 80 a 100 micra favorecem o mais alto índice de uniformidade de deposição, para a maioria das velocidades do ar. A pulverização a baixo volume utiliza um volume médio da ordem de 60 micra. Ressalta-se que pouca ou nenhuma deposição é feita com partículas menores que 30 micra. Por outro lado, gotas muito grandes acarretam desperdício de agroquímico, os quais são depositados em excesso nas superfícies externas das plantas, não atingindo os pontos internos da copa (alvos). A redução do volume de líquidos leva à necessidade de uma tecnologia mais apurada, tanto da parte do construtor do equipamento, quanto da parte do técnico em aplicação. Na aplicação via líquida, é usual classificar o produto em função do volume de calda aplicado por hectare. Nas tabelas 1 e 2, são apresentadas as diferentes classes de aplicação via líquida, segundo alguns autores. 282 Tabela 1 – Categoria de aplicação via líquida segundo ASAE (Standard S 327/1974), adaptado para sistema métrico. Designações Volume (litro/hectare) Ultra – ultra baixo volume (U – UBV) Ultra – ultra baixo volume (U – UBV) Ultra baixo volume (UBV) Baixo volume (BV) Médio volume (MV) Alto volume (AV) < 0,5 < 0,5 0,5 – 5 5 – 50 50 – 500 > 500 Tabela 2 – Categoria de aplicação via líquida segundo MATTHEWS (1979) Designação Volume (litro/hectare) culturas de campo Volume alto Volume médio Volume baixo Volume muito baixo Volume ultra - baixo > 600 200 - 600 50 - 200 5-5 <5 culturas arbóreas > 1000 volume 500 - 1000 200 - 500 50 - 200 < 50 Vê-se que não há concordância nos limites de classes entre propostas. Entretanto, a proposta de MATTHEWS, é a que parece reunir maior número de adeptos. Atualmente existe um consenso entre os principais pesquisadores que a denominação “volume alto” seja dada à aplicação feita até além da capacidade de retenção das folhas, de tal modo que haja escorrimento. Nesse tipo de aplicação, o depósito de produto químico é proporcional à concentração da calda utilizada e independente do volume. Portanto, a indicação de dosagem para cada modalidade de alto volume ou mais corretamente volume alto, é mencionada via concentração. Por exemplo: 300 gr/100 litros de água ou 0,3%. Em contrapartida ao volume alto, o volume ultrabaixo ou ultrabaixo volume é hoje definido como volume o volume mínimo por unidade de área para alcançar um controle, independentemente de um limite. É importante saber que o volume de aplicação L/ha não tem influência direta no resultado biológico, pois a quantidade de veículo 283 de aplicação – água, óleo, etc... por unidade de área tem finalidade única de diluir, transportar e facilitar a distribuição do ingrediente ativo sobre a superfície alvo (solo, plantas), com a cobertura requerida. A água e seus efeitos sobre os agroquímicos É muito comum o atendimento de reclamações de que os tratamentos não apresentaram o resultado esperado, sendo provável que na maioria das vezes são casos em que as águas utilizadas contêm minerais (sais), que concorrem com os produtos, comprometendo a eficácia destes. PH O que é? O ph é uma medida de acidez ou de alcalinidade de uma solução numa escala que vai de 0 a 14. Como se mede? O valor do pH vai depender da concentração relativa dos íons hidrogênio e hidroxilas que possui a solução. A presença de mais quantidade relativa de íons hidrogênio vai resultar em uma solução com reação ácida, e no caso de mais íons hidroxilas darão como resultado uma reação alcalina. Portanto, uma solução com pH menor de que 7 é ácida, igual a 7 é neutra e maior que 7 é alcalina. Estas leituras são obtidas através de pH gametro, papel tornassol, kit de reação. Problemas que a água pode causar. Por exemplo: uma cipermetrina dissolvida em água com pH 9,0 perde em 2 horas 55% do seu princípio ativo e em 24 horas 90%. Sendo o principal problema o que se denomina de hidrólise alcalina, que é uma reação química, que ocorre quando temos uma solução alcalina onde os grupos de hidroxilas combinam-se com os principios ativos, os quais perderão o seu poder de ação. 284 Tabela de insumos e pH ideais Dureza da água O que é? É a quantidade de Carbonato de Cálcio (CaCO3) dissolvido na água, classifica-se como: ppm de CaCO3 0 - 15 15 - 50 50 - 100 100 - 200 >200 Classificação Muito branda Branda Ligeiramente dura Dura Muito dura Estes íons que podem causar incompatibilidade quando se usar misturas de diferentes produtos no tanque de pulverização. Ions Poder desativador do glifosate Muito severo Severo Moderado Nenhum Ferro (Fé+++) e Alumínio (Al+++) Cálcio (Ca++) e Zinco (Zn++) Magnésio (Mg++) Potássio (K+) Em vários estudos realizados demonstrou-se que a absorção do glifosate máxima se dá em pH 3,2 decrescendo a pH 5,0. Porém, a atividade do glifosate vai depender mais da qualidade de água do que do pH. A dureza da água é a principal razão da desativação do glifosate e não precisamente o pH. Como se mede? Para determinar a dureza da água é necessário que se faça análise da dureza cálcica em laboratório. Quando um glifosate é acrescentado a um tanque de água, vaise dissociar nos seus componentes iônicos em equilíbrio com os outros íons. 285 Se o produtor conhecer a dureza da água, poderá calcular a percentagem de glifosate que vai inativar-se por ação do cálcio, utilizando a seguinte fórmula: VAHA X DUREZA Ca X 0,00047 = % COMPLEXADO DOSE DE GLIFOSATE Onde: VAHA: Volume de água em litros por hectare. DUREZA Ca: Dureza da água baseando no cálcio em ppm, geralmente as análises de laboratório dão resultados em ppm de CaCO3, por isso faz-se necessário fazer uma transformação (ppm Ca para ppm de CaCO3) exemplo: 817,50 ppm de CaCO divide-se por 2,5 igual a 327 ppm de Ca. DOSE DE GLIFOSATE: ingrediente ativo em quilogramas por hectare. Cálculo da Inativação a) dose de ativo: 1 kg/ha –1(2,08 L/ha –1) volume: 130 L/ha –1 dureza: 327 ppm Ca 130 X 327 x 0,00047 = 19,97% 1 Perda de 19,97%, ou seja 20% do glifosate será inutilizado, portanto deverá ser aumentada a dosagem em 20% para 1.2 kg de sal ha – 1 (2,5 L/ha – 1) 286 Sugestões: Analisar a água em termos de dureza cálcica e medir o pH; Reduzir o volume de calda, sem prejudicar a cobertura; Acondicionar a água, e o uso de produtos específicos para seqüestrar cátions e reduzir o pH para valores ideais; Não preparar a calda de pulverização antecipada. Argila em suspensão Outro aspecto a ser considerado é a limpeza da água que será utilizada na calda de pulverização. A água deve ser limpa, livre de matéria orgânica (água estancada) e argila. Tanto a terra quanto à matéria orgânica irão reagir com glifosate e o desativará, pelo qual haverá menor quantidade de principio ativo livre para ser absorvido pelas plantas que se deseja controlar. Cuidados durante o preparo e aplicação dos produtos fitossanitários √ Evitar a contaminação ambiental - preservar a natureza; √ Utilizar equipamento de proteção individual - EPI (macacão de PVC, luvas e botas de borracha, óculos protetores e máscara contra eventuais vapores). Em caso de contaminação substituí-los imediatamente. √ Não trabalhar sozinho quando manusear produtos tóxicos. √ Não permitir a presença de crianças e pessoas estranhas ao local de trabalho; √ Preparar o produto em local fresco e ventilado, nunca ficando a frente do vento; √ Ler atentamente e seguir as instruções e recomendações indicadas no rótulo dos produtos; √ Evitar inalação, respingo e contato com os produtos; √ Não beber, comer ou fumar durante o manuseio e a aplicação dos tratamentos; √ Preparar somente a quantidade de calda necessária à aplicação a ser consumida numa mesma jornada de trabalho; √ Aplicar sempre as doses recomendadas: 287 √ Evitar pulverizar nas horas quentes do dia, contra o vento e em dias de vento forte ou chuvosos; √ Não aplicar produtos próximos à fonte de água, riachos, lagos, etc; √ Não desentupir bicos, orifícios, válvulas, tubulações com a boca; √ Guardar os produtos em embalagens bem fechadas, em locais seguros, fora do alcance de crianças e animais domésticos e afastados de alimentos ou ração animal. √ Mantenha o produto em sua embalagem original; √ Não reutilize embalagens vazias. Cuidados com embalagens de agroquímicos É imprescindível fazer a tríplice lavagem e a inutilização das embalagens, após a utilização dos produtos, não permitindo que possam ser utilizadas para outros fins. É necessário observar a legislação para o descarte de embalagens. As embalagens, após tríplice lavagem, devem ser destinadas a uma central de recolhimento para reciclagem. Identificação e correção de possíveis defeitos I – Dificuldade para o funcionamento VERIFICAR CAUSAS Registro de combustível Fechado Alavanca do acelerador Na posição 0 Tanque de combustível Vazio Combustível Má qualidade Mistura incorreta de gasolina e óleo Carburador Filtro de ar obstruído Motor afogado Tubulação de combustível obstruída Filtro de gasolina sujo Agulha da bóia emperrada ou mal ajustada 288 Continuação Falha elétrica na ignição Vela úmida ou suja Carbonização no eletrodo da vela Magneto isolado por água, óleo, etc. Falha mecânica na ignição Cabo de ignição quebrado Terminal solto Calibração incorreta do eletrodo da vela Falta de compressão Cilindro seco Vazamento pelas juntas do bloco ou retentores Vela solta Anéis, pistão ou cilindros com desgaste Motor travado Anéis quebrados e presos nas canaletas Cilindro escoriado Pistão escoriado II – Instabilidade de rotação VERIFICAR Carburador CAUSAS Afogado Agulha da bóia e aceleração mal ajustadas Gicleur parcialmente obstruído III – Falta de rotação (motor falhando) VERIFICAR Gasolina CAUSAS Água na gasolina Impurezas Mistura incorreta de gasolina e óleo Carburador Impurezas no carburador Tubulação de combustível parcialmente obstruída Tampa do tanque com respiro obstruído Sistema de ignição Abertura do eletrodo da vela incorreta Cabo de vela rompido ou terminal danificado Cabo de ignição solto Escapamento Obstruído 289 IV – Ruídos internos VERIFICAR Carbonização Sistema mecânico CAUSAS Gasolina com baixa octanagem Acúmulo de resíduos na cabeça do pistão (carvão) Desgaste no colo da biela Rolamentos gastos Anéis do pistão folgados Anéis rompidos Ventilador solto Volante do magneto solto Corpo estranho no magneto V – Super aquecimento VERIFICAR Lubrificação Mecânica CAUSAS Mistura incorreta de óleo e gasolina Óleo não recomendado Canalizador de ar obstruído Aletas de refrigeração rompidas Aletas obstruídas Carvão na câmara de combustão Excesso de rotação (acima de 7.000 rpm) Literatura consultada ALONSO, A. dos S. Equipamentos e tecnologia de aplicação de defensivos. In.: MEDEIROS, C. A. B.; RASEIRA, M. do C. B. A cultura do pessegueiro. Brasília: Embrapa - SPI, 1998. p. 296-317. MATUO, T. Técnicas de aplicação de defensivos. Jaboticabal: Funep, 1990. 139 p. SISTEMAS AGROFLORESTAIS COMO USO SUSTENTÁVEL DOS SOLOS: CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO Manfred Willy Muller Os Sistemas Agroflorestais (SAF’s) são reconhecidamente modelos de exploração de solos que mais se aproximam ecologicamente da floresta natural e, por isso, considerados como importante alternativa de uso sustentado do ecossistema tropical úmido (Almeida, Müller e Sena-Gomes, 2002; Brandy et al., 1994; Canto et al., 1992; Huxley, 1983; Nair, 1993; Müller, Sena-Gomes e Almeida, 2002). A importância da utilização de Sistemas Agroflorestais fica mais evidente, quando constatamos a existência de extensas áreas improdutivas em conseqüência da degradação resultante, principalmente, da prática do cultivo itinerante, reconhecidamente uma modalidade de exploração não sustentável dos solos. A pecuarização é outra realidade na exploração de terras no Brasil sendo, em geral, uma atividade resultante da implantação de grandes projetos, principalmente na Amazônia, mas não somente naquela região, a qual promove a elevação do índice de desemprego e representa grande risco de degradação ambiental. Eng° Agro., Ph.D., Ceplac/Cepec/Esomi. E-mail: [email protected] 291 Existe atualmente na literatura uma grande variedade de termos empregados para conceituar práticas que combinam espécies florestais com culturas agrícolas e/ou com a pecuária. Também há uma grande confusão no uso da terminologia agroflorestal no Brasil. Muitos confundem sistemas agroflorestais com consorciação de cultivos. Resumidamente pode-se dizer que todo SAF é uma consorciação de cultivos, contudo o inverso nem sempre é verdadeiro. Na verdade Agrofloresta é um termo novo para uma prática bastante antiga já utilizada pelos indígenas. King e Chandler (1978) conceituaram os SAF’s como sendo os “Sistemas sustentáveis de uso da terra que combinam, de maneira simultânea ou em seqüência, a produção de cultivos agrícolas com plantações de árvores frutíferas ou florestais e/ou animais, utilizando a mesma unidade de terra e aplicando técnicas de manejo que são compatíveis com as práticas culturais da população local”. Este conceito talvez seja o mais adequado para caracterizar os SAF’s porque faz alusão ao fator sustentabilidade, adotabilidade e, também, a classificação temporal dos sistemas agroflorestais. Esta definição implica que: a) SAF envolve normalmente duas ou mais espécies de plantas (ou plantas e animais), onde pelo menos uma delas é lenhosa; b) SAF tem sempre dois ou mais produtos e; c) mesmo o mais simples SAF é sempre mais complexo, ecologicamente (na sua estrutura e função) e economicamente, do que os sistemas de monocultivos (Nair, 1993). Existem muitas classificações dos sistemas agroflorestais (Nair, 1993; Dubois et al., 1997; Montagnini at al., 1992). Baseada nos aspectos estruturais, funcionais, sócio-econômicos e ecológicos os SAFs podem-se classificar em: 1. Quanto ao aspecto estrutural: a. considerando a natureza dos componentes: Sistemas Silviagrícolas, Sistemas Silvipastoris, Sistemas Agrossilvipastoris. À parte “florestal” da palavra agroflorestal não quer dizer que a espécie arbórea do sistema deva ser uma espécie da floresta ou uma espécie madeireira. Na Amazônia, por exemplo, muitos desses sistemas têm apenas árvores frutíferas e cultivos perenes. b. considerando o arranjo dos componentes: quanto ao arranjo espacial podem ser Sistemas Contínuos, Sistemas Zonais e 292 Sistemas Mistos; quanto ao arranjo temporal temos Sistemas Seqüenciais e Sistemas Simultâneos. 2. Quanto a sua função: a. Sistemas Agroflorestais de Produção e; b. Sistemas agroflorestais de proteção. 3. Quanto ao aspecto sócio-econômico: a. Sistemas Agroflorestais Comerciais; b. Sistemas Agroflorestais Intermediários e; c. Sistemas Agroflorestais de Subsistência. 4. Quanto aos aspectos ecológicos: a. considerando a localização geográfica (Saf trópicos úmidos, Saf planalto central, etc.); b. considerando a situação topográfica (Saf terra firme, Saf várzea, etc.) e; c. considerando o cultivo econômico (Saf seringueira, Saf cacau, Saf dendê, etc.). A sustentabilidade é uma característica inerente aos sistemas agroflorestais, pois estão alicerçados em princípios básicos que envolvem aspectos ecológicos, econômicos e sociais. Todo método ou sistema de uso da terra somente será sustentável se for capaz de manter o seu potencial produtivo também para gerações futuras. Além disso, os SAF’s para serem considerados sustentáveis devem envolver os aspectos sociais, econômicos e ecológicos, isto é necessitam que sejam socialmente justos, economicamente viáveis e ecologicamente corretos. Função social: Os SAF’s quando implantados em um determinado local ou região, possuem uma importante função social, a de fixação do homem ao campo devido principalmente ao aumento da demanda de mão-de-obra e sem sazonalidade, ou seja, a sua distribuição é mais uniforme durante o ano (os tratos culturais e colheita ocorrem em épocas diferentes), e da melhoria das condições de vida, promovida pela diversidade de produção (produtos agrícolas, florestais e animais). A conservação das espécies arbóreas medicinais e frutíferas, também é uma importante função social dos SAF’s (Müller et al., 2003 e 2003). Os sistemas agroflorestais, quando comparados aos monocultivos, geralmente produzem maior número de serviços e produtos para o consumo humano tendo em vista, principalmente, a utilização de 293 grande diversidade de espécies florestais arbóreas e arbustivas, e pelas diferentes alternativas de consorciação com espécies agrícolas e/ou animais, em uma mesma área de terra. Função econômica: A alternância da produção ao longo do ano e a diversificação de produtos conferem aos SAF’s fluxo de caixa mais favorável, principalmente pelas receitas obtidas com os cultivos intercalares de ciclo curto; maiores lucros por unidade de área cultivada e maior estabilidade econômica pela redução dos riscos e incertezas de mercado. Neste caso, a escolha das espécies utilizadas nos SAF’s deve apoiar-se em um estudo de mercado para detectar os produtos de maior aceitação e venda em determinadas épocas do ano. Os sistemas agroflorestais, pela diversidade de culturas necessitando para o seu manejo uma gama variada de mão-de-obra e, também, pelo fato de a maioria das culturas perenes utilizadas serem produtoras de matéria prima (madeira, látex, resinas, gomas, corantes, etc.) ou de alimentos (óleos, palmito, frutas, etc.), que podem demandar industrialização imediata, geram maiores oportunidades de emprego no meio rural. Função ecológica: A característica mais importante dos SAF’s parece ser a estabilidade ou sustentabilidade ecológica. Esta sustentabilidade resulta da diversidade biológica promovida pela presença de diferentes espécies vegetais e/ou animais, que exploram nichos diversificados dentro do sistema. A multiestratificação diferenciada de grande diversidade de espécies de múltiplos usos, que exploram os diferentes perfis verticais e horizontais da paisagem nos SAF’s, otimizam o máximo aproveitamento da energia solar (Macedo, 2000). Como importância ambiental dos SAF’s pode ser citada: proteção contra erosão e degradação dos solos, conservação dos remanescentes florestais, conservação das espécies arbóreas de valor ecológico (proteção e alimentação à fauna, espécies endêmicas e espécies em extinção), conservação de nascentes e cursos d’água, substituição das matas ciliares mantendo a função de proteção e, atuação de corredores ecológicos interligando fragmentos florestais (Müller et al., 2002 e 2003). 294 Uma das vantagens mais conhecidas da agrofloresta é o seu potencial para conservar o solo e manter sua fertilidade e produtividade. As espécies arbóreas, normalmente por possuírem raízes mais longas que exploram maior volume de solo, são capazes de absorverem nutrientes e água que os cultivos agrícolas não conseguiriam, uma vez que, geralmente, suas raízes absorventes estão concentradas na camada superior do solo até 20 cm de profundidade. O dossel de copas formado pela diversidade de espécies vegetais proporciona cobertura de solo através da deposição de camada densa de material orgânico, gerada continuamente pela queda de folhas e ramos das diferentes culturas. Isso aumenta a proteção do solo contra a erosão, diminui o escorrimento superficial da água de chuva aumentando o seu tempo de infiltração, reduz a temperatura do solo, aumenta a quantidade de matéria orgânica e, conseqüentemente, melhora as suas propriedades químicas, físicas e biológicas. A Tabela 1 demonstra a importância dos SAFs na função de proteção contra perda de solo por erosão. Os dados são provenientes de quatro tipos de cobertura do solo durante a exploração da terra (sem cobertura, cultivo intensivo - mandioca e milho -, cultivos perenes - SAFs - e floresta nativa) em um Ultisol com 7% de declividade na Costa do Marfim. Observa-se que a perda de solo nos cultivos perenes é baixa e praticamente igual à floresta nativa (Tabela 1). Tabela 1. Perdas de solo por erosão em Ultisol com 7% de declividade na Costa do Marfim. Cobertura Erosão (t/ha/ano) Solo exposto (sem vegetação) Cultivo de milho Cultivo de mandioca Cultivos perenes* (SAFs) Floresta nativa 125 92 32 0,3 0,1 Fonte: Ollagnier et al. (1978). 295 Isto é particularmente relevante nos trópicos onde os solos são, em geral, mais pobres e menos produtivos, comparados aos de zona temperada. A tabela 2 mostra a distribuição dos principais grupos de solos nos três continentes tropicais. Os oxisols e ultisols, que predominam nos solos dos trópicos úmidos, constituindo, em média, 41% dos solos tropicais e chegando a representar 55% dos solos tropicais do continente americano, são solos altamente lixiviados, possuem baixo teor de bases trocáveis, baixa reserva de nutriente, alto teor de alumínio e baixa disponibilidade de fósforo (Sanchez, 1976). Os solos de moderada a alta fertilidade (Alfisols, Vertisols, Mollisols e Andisols) constituem, em média, somente 23% dos solos tropicais (Tabela 2). Tabela 2. Distribuição geográfica das ordens de solo nos trópicos, baseado nos solos dominantes do mapeamento da FAO na escala de 1:5 milhões. Solos Oxisols Ultisols Entisols Inceptisols Andisols Alfisols Vertisols Aridisols Mollisols Histosols Spodosols Total América tropical 1 % Área África tropical 1 Área % Ásia tropical 1 Área % Total 1 Área % 502 320 124 204 31 183 20 30 65 4 10 33,6 21,4 8,3 13,7 2,1 12,3 1,3 2,0 4,4 0,2 0,7 316 135 282 156 1 198 46 1 0 5 3 27,6 11,8 24,7 13,7 0,1 17,3 4,0 0,1 0 0,4 0,3 15 294 168 172 11 178 97 56 9 27 7 1,4 28,4 16,2 16,6 1,1 17,4 9,3 5,4 0,9 2,6 0,7 833 749 574 532 43 559 163 87 74 36 20 22,7 20,4 15,7 14,5 1,2 15,2 4,4 2,4 2,0 1,0 0,5 1.493 100,0 1.143 100,0 1.034 100,0 3.670 100,0 1 Área em ha x 106 Fonte: Szott at al., (1991). Os supostos efeitos (benéficos e adversos) das árvores nos sistemas agroflorestais são (Nair, 1993): Efeitos benéficos 1. Adição ao solo Manutenção ou aumento da matéria orgânica 296 Fixação de nitrogênio Absorção de nutrientes (reciclagem de nutrientes) Deposição atmosférica de nutrientes Exsudação de substâncias promotoras de crescimento na rizosfera 2. Redução de perdas pelo solo Proteção contra erosão Recuperação de nutrientes (reciclagem de nutrientes) 3. Efeito sobre propriedades físicas do solo Modificação de temperaturas extremas do solo 4. Efeito sobre propriedades químicas do solo Redução da acidez Redução da salinidade Redução da perda de MO do solo por oxidação (efeito do sombreamento) Efeitos adversos Perda de MO e nutrientes por colheita (espécie madeireira) Competição por nutrientes a água entre as espécies arbóreas e os cultivos agrícolas Produção de substâncias inhibidoras de germinação e crescimento Um aspecto que deve ser enfatizado em Sistemas Agroflorestais é a ciclagem de nutrientes, especialmente os de fácil lixiviação como cálcio (Ca), potássio (K) e enxofre (S). O cultivo consorciado tem a vantagem de retirar estes nutrientes das camadas mais profundas do solo e devolvê-los à superfície pela queda das folhas e ramos das espécies arbóreas, os quais tornam-se nutrientes disponíveis às plantas após a decomposição da matéria orgânica e posterior mineralização. No sistema solo-planta, os nutrientes da planta estão em um “status” contínuo de transferência dinâmica. As plantas absorvem os nutrientes do solo e os usam nos processos metabólicos. As partes da planta que retornam ao solo, como folhas mortas, ramos e raízes, formam o 297 “litter” ou biomassa que por ação da atividade de microorganismos do solo se decompõem e liberam os nutrientes para serem absorvidos novamente pelas plantas. Em uma visão mais restrita, ciclagem de nutrientes refere-se a esta contínua transferência de nutrientes do solo para planta e de volta para o solo. No aspecto mais amplo, ciclagem de nutrientes envolve a transferência continua de nutrientes dentro dos diferentes componentes do ecossistema, incluindo processos tais como intemperização de minerais, atividades da biota do solo e outras transformações que ocorrem na biosfera, atmosfera, litosfera e hidrosfera (Nair, 1993). Nos SAF’s a utilização de espécies florestais ou frutíferas que interagem simbioticamente com bactérias do gênero Rhizobium, contribui para, além na ciclagem normal de outros elementos, também para aumentar a quantidade de nitrogênio no solo. Na tabela 3 podese observar a importância da ciclagem de nutrientes em áreas de cacau sombreadas com espécies nitrificadoras. Para comparação, foi incluída na tabela 3 a necessidade da planta para repor os nutrientes retirados da área por ação da lixiviação e colheita dos frutos. Observa-se que a quantidade de nutrientes aportados (N, P, K, Ca e Mg) pela litter produzido por qualquer uma das três espécies é sempre maior do que o total de nutrientes removidos pela colheita dos frutos e por lixiviação. Naturalmente que existe outra fonte de remoção de nutrientes muito importante que não consta do Quadro 2 que é à parte de nutrientes utilizado para a formação de órgãos e tecidos da planta. De qualquer forma, mesmo que os nutrientes aportados pela biomassa não se igualem às exportadas (lixiviação e colheita) e utilizadas (metabolizção) pela planta, que seria o ideal, mas pelo menos reduzem bastante a necessidade de importação destes elementos para a área. Os sistemas agroflorestais podem ser considerados como uma das alternativas de manejo racional dos recursos naturais renováveis que equacionam os principais problemas da agricultura e de seus impactos negativos sobre o meio ambiente, assim como oferecem possibilidades para amenizar e/ou solucionar as dificuldades financeiras de grande parte dos agricultores brasileiros (Tsukamoto Filho, 1999). 298 Atualmente o mundo se preocupa com a sustentabilidade e preconiza como alternativa viável para atingir o desenvolvimento sustentável, os sistemas agroflorestais. Desta forma os SAFs passaram a fazer parte de diretrizes centrais de desenvolvimento rural sustentável pelo potencial de serem implantados em áreas já degradadas, reincorporando-as ao processo produtivo e minimizando, assim, o desmatamento sobre florestas primárias. São uma opção estratégica para pequenos produtores por causa da baixa demanda de insumos, ao maior rendimento líquido por unidade de área em comparação com sistemas convencionais de produção e por fornecerem inúmeros serviços sócio-ambientais. Esses serviços podem ser valorados, e convertidos em créditos ambientais, propiciando agregar valor à propriedade agrícola (Gandara e Kageyama, 2001). O avanço dos SAFs a partir da experimentação empírica por agricultores e, mais recentemente, a partir de experimentos formais denominados científicos, vem mostrando que os sistemas mais complexos, imitando as florestas naturais, utilizando o conceito de biodiversidade e sucessão ecológica, apontam para novos horizontes a agricultura nos trópicos. Tabela 3. Produção de biomassa, teores de nutrientes aportados por algumas espécies componentes de SAFs com o cacaueiro e quantidade de nutrientes removidos através da colheita de frutos de cacau e lixiviação. Espécie Produção de Biomassa Teor de nutrientes na Biomassa (kg / ha / ano) (t / ha / ano) 5,0 N P K Ca Mg 174,9 8,8 53,6 163,3 53,7 Cordia alliodora 3,4 114,8 13,9 65,5 124,8 50,3 Gliricidia sepium 10,5 333,0 20,0 176,0 140,0 42,0 Colheita de frutos 34,0 3,0 24,5 6,0 6,5 Lixiviação 40,0 0,5 1,5 45,0 21,5 Total 74,0 3,5 26,0 51,0 28,0 Erythrina poeppigiana 1 Remoção de nutrientes 1. Frutos equivalentes a 1.000 kg de amêndoas secas 299 Literatura consultada Almeida, C. M. V. C. de; Müller, M. W.; Sena-Gomes, A. R. e Matos, P. G. G.. 2002. Pesquisa em Sistemas Agroflorestais e Agricultura Sustentável: Manejo do Sistema. Workshop Latino-americano sobre Pesquisa de Cacau, Ilhéus, Bahia, 22 – 24 de outubro de 2002. Anais com resumo expandido (CD-ROM). Bandy, D.; Garraty, D. P.; Sanches, P. 1994. El problema mundial de la agricultura de tala y quema. Agroforesteria en las Americas, 1 (3):14-20. Brito, A. M. de; Silva,, G.C.V.; Almeida, C.M.V.C. e Matos, P.G.G.. 2002. Sistemas agroflorestais com o cacaueiro (Theobroma cacao L.) para o desenvolvimento sustentável do estado do Amazonas. IV Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais, 21 a 26/10/2002, Ilhéus, Bahia. Anais com resumo expandido (CD-ROM). Canto, A. do C., Silva, S. E. L. da. e Neves. E. J. M. 1992. Sistemas agroflorestais na Amazônia Ocidental: aspectos técnicos e econômicos. In: II Encontro Brasileiro de Economia e Planejamento Florestal. Curitiba 30 de setembro a 4 de outubro de 1991, EMBRAPA-CNPF, 1992, Anais V.1, p. 23-36. Dubois, J.C.: Viana, V.M. e Anderson, A.B. 1997. Manual Agroflorestal para a Amazônia: primeiro volume. Rio de Janeiro, RJ. REBRAF. 228p. Gandara, F.B. e Kageyama, P.Y. 2001. Biodiversidade e dinâmica em sistemas agroflorestais. In: Documentos: Palestras III Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais (eds. Macêdo, J.L.V.; Wandelli, E.V. e Silva Júnior, J.P.). pp.25-32. Embrapa Amazônia Ocidental. Documetos. 21 a 25/11/ 2000, Manaus, AM. Huxley, P. A. 1983. Plant Research and Agro forestry. International Council for Research in Agro forestry (ICRAF), Nairobi, Kenya. 617 p. King, K.F. e Chandler, N.T. 1978. The wasted lands: The program of work of the International Council for Research in Agro forestry (ICRAF). Nairobi, Kenya. Macedo, R.L.G. 2000. Princípios básicos para o manejo sustentável de sistemas agroflorestais. Lavras: UFLA/FAEP. 157p. 300 Montagnini, F. 1992. Sistemas agroflorestales: principios y aplicaciones en los trópicos. San José, Costa Rica: IICA. 622p. Müller, M.W.; Sena-Gomes, A.R. e Almeida, C.M.V.C. de. 2002. Sistemas agroflorestais com o cacaueiro. IV Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais, 21 a 26/10/2002, Ilhéus, BA. Anais CD-ROM. Müller, M, W.; Almeida, C.M.V.C. de e Sena-Gomes, A.R. 2003. Sistemas agroflorestais com cacau como exploração sustentável dos biomas tropicais. Semana do Fazendeiro, 25ª, Uruçuca, 2002. Agenda. Uruçuca, CEPLAC/CENEX/EMARC, pp. 137-142. Nair, P.K.R. 1993. Introduction to Agro forestry. Kluwer Academic Publishers, Dordrecht. 499p. Ollagnier, M.; Lauzerel, A.; Olivin, J. e Ochs, R. 1998. Evolution des sols sons palmeraie aprè defrichement des forêt. Olleagineaux 33:537-547. Sanchez, P.A. 1976. Properties and Management of Soils in the Tropics. Wiley, New York, USA. Smith, N.J.H.; Falesi, I.C.; Alvim, P. De T. e Serrão, E.A.S. 1996. Agro forestry trajectories among smallholdrs in the Brasilia Amazon: innovation and resiliency in pioneer and older settled areas. Ecological Economics 18: 1527. Szot, L.T. Fernabdes, E.C.M. e Sanchez, P.A. 1991. Soil-plant interactions in agro forestry systems. In: Jarvis, P.G. (ed.), Agro forestry: Principles and Practice, pp. 127-152. Elsevier, Amsterdam, The Netherlands. Tsukamoto Filho, A.A. 1999. A introdução do palmiteiro (Euterpe edulis Martius) em sistemas agroflorestais em Lavras – Minas Gerais. Lavras: UFLA, 1999. 148p. (Dissertação de mestrado). 301 302