Curso de Pedagogia Artigo de Revisão RUBEM ALVES: A PEDAGOGIA DO AFETO E DA PAIXÃO PELO EDUCAR RUBEM ALVES: THE PEDAGOGY OF AFFECTION AND PASSION FOR THE EDUCATE Ivonice Pereira Gonçalves Lemos1, Kelly Cristina Silva dos Reis1, Maria Júlia B. de Holanda2 1 Alunas do Curso de Pedagogia 2 Professora Mestre do Curso de Pedagogia Resumo O presente artigo foi elaborado com o objetivo de conclusão de curso. Sob o titulo de: “Rubem Alves: A Pedagogia do Afeto e da Paixão pelo Educar”, apresentado para a obtenção do grau de licenciatura em Pedagogia. A pesquisa aborda e estuda como é possível educar dentro do contexto do afeto e da paixão na educação infantil a partir da perspectiva do educador Rubem Alves. É de cunho bibliográfico, modelo artigo de revisão e tem embasamento em escritores e educadores da atualidade que tratam de temas relacionados à afetividade e educação. A pesquisa volta-se para considerações sobre esse tema, fazendo uma análise da construção da afetividade no processo educativo e realizando um estudo que relaciona a afetividade ao desenvolvimento integral do aluno. Palavras-chave: Rubem Alves; Pedagogia; Afeto; Paixão; Educação. Abstract Introduction: This article was prepared from the completion of course work "Rubem Alves: The Pedagogy of Affection and Passion for Educate," presented to obtain the degree in Pedagogy. The survey covers and studies how is possible to educate in the context of affection and passion in early childhood education from the Rubem Alves educator's perspective. The research is bibliographic nature, review article model and has grounding in the present writers and educators dealing with issues related to affection and education. The search turns to consideration of this issue by making an affection of the construction of the analysis in the educational process and conducting a study that relates affection to the full development of the student. Keywords: Rubem Alves; Pedagogy; Affection; Passion Education. Contato: [email protected]; [email protected] Introdução entre educadores e professores. A pesquisa a seguir trata-se de um estudo acadêmico que teve como objetivo principal analisar a possibilidade de se educar com a presença do afeto e da paixão no contexto pedagógico da Educação Infantil, e até onde estes fatores contribuem para a formação do aluno dentro da perspectiva do escritor e educador Rubem Alves. O escritor realizou um paralelo entre o perfil profissional de cada um, o relacionando ao modelo educacional estabelecido e criado para cada um deles. Também travamos um breve paralelo sobre a analogia que o autor fazia sobre culinária e educação, ou como ele mesmo denominava a arte do “saber e sabor”. Também foi realizada uma breve abordagem biográfica sobre Rubem Alves e suas principais contribuições pedagógicas no contexto educacional, uma vez que utilizamos como principal objeto de estudo as suas definições, concepções e ideias sobre educação, afeto e paixão pela educação. Esta pesquisa segue como eixo norteador e coloca em questão, como é Dentro desse contexto de afetividade e paixão no ambiente escolar também trazemos as definições de Rubem Alves quanto às diferenças observadas e criteriosamente mencionadas pelo autor possível educar dentro do contexto do afeto e da paixão na educação infantil? Diante do exposto, a pesquisa teve como objetivos: Objetivo Geral: Analisar a possibilidade de se educar dentro do contexto do afeto e da paixão na educação infantil a partir da perspectiva do educador e escritor Rubem Alves. E os objetivos específicos: Identificar a contribuição do educador Rubem Alves a partir da perspectiva do afeto e da paixão; Analisar os conceitos de educação, afeto e 1 paixão no contexto pedagógico; Reconhecer a relação entre afeto, paixão e o ato de educar no universo escolar. Para a execução deste trabalho adotou-se a natureza de artigo resumo de assunto, contendo assim, pesquisa bibliográfica elaborada a partir de livros, artigos científicos, vídeos, textos, fichamentos de artigos e resumos. Segundo Gil (1999), a pesquisa bibliográfica é elaborada com base em material já publicado com o objetivo de analisar posições diversas em relação a determinado assunto. (1999, p. 115). A pesquisa foi subdividida em alguns tópicos. A princípio fez-se uma breve definição dos conceitos aqui abordados, educação, afeto e paixão no contexto pedagógico a partir de uma conceituação sobre a perspectiva de Rubem Alves. Quanto à metodologia para a execução foram selecionados para a elaboração deste trabalho diferentes textos e artigos, a Constituição Federal, e diferentes dicionários para a definição de significados etimológicos das palavras aqui citadas e conceituadas. Quanto aos objetivos essa pesquisa foi realizada de maneira exploratória, ou seja, a partir de um levantamento bibliográfico, tendo como referencial o problema pesquisado e a análise de seus respectivos resultados. Dessa forma, esse estudo visa proporcionar um maior conhecimento para o pesquisador acerca do assunto, a fim de que esse possa formular problemas mais precisos ou criar hipóteses que possam ser pesquisadas por estudos posteriores (GIL, 1999, p. 43). A pesquisa exploratória, segundo Lakatos e Marconi (1991, p. 43) visa proporcionar uma visão geral de um determinado fato, do tipo aproximativo. aspectos fundamentais do desenvolvimento da aprendizagem dentre eles a afetividade. É necessário que se faça uma análise de alguns aspectos relevantes sobre a possibilidade de se educar com a presença do afeto e da paixão, e de que maneira estes fatores contribuem para o crescimento cognitivo do aluno, entendendo que os aspectos afetivos estão intrinsicamente relacionados ao processo de aquisição do conhecimento e como estes perpassam o processo educativo. Esta pesquisa veio justamente investigar até onde esse envolvimento influencia o trabalho do professor. Como afirma Rubem Alves (2010), a presença do afeto e da paixão do educador em sala de aula não só influência os alunos como interfere significativamente no seu desenvolvimento e produção. Mas, é relevante, também, investigar até onde iria essa relação analógica entre afeto e educação e se nossos professores realmente sabem lidar com essa realidade presente. Tendo em vista todas essas prerrogativas é que abordamos a presença do afeto e da paixão do educador no ambiente educacional. Sabe-se que atualmente o estudo sobre a presença da afetividade tem se tornado objeto de estudo de diferentes autores e de diversas áreas do conhecimento (CUNHA, 2008, p. 184). Portanto, nessa perspectiva intentou-se ainda, investigar e comparar alguns pontos de vistas de diferentes autores a respeito da afetividade e da paixão no contexto pedagógico. Rubem Alves: Um educador Humano Em relação aos objetivos, a pesquisa buscou a importância da afetividade no ambiente escolar de maneira contextualizada sobre a perspectiva de diferentes autores, mas, principalmente, de acordo com o pensamento pedagógico do escritor e educador Rubem Alves. Rubem Alves nasceu no dia 15 de setembro de 1933, em Boa Esperança, sul de Minas Gerais. Foi Teólogo, educador, escritor e psicanalista. Mudou-se em 1945 com sua família para o Rio de Janeiro. Criado em uma família de origem protestante, acabou tornando-se pastor. Entre os anos de 1953 e 1957 cursou Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas, São Paulo. Por meio da realização dessa pesquisa buscamos abordar a relação da afetividade no contexto escolar considerando alguns Em 1958 mudou-se para a cidade de Lavras, Minas Gerais, onde foi pastor até meados de 1963. Nesse mesmo ano foi es- 2 tudar em Nova York, retornando em 1964, com o titulo de Mestre em Teologia, pela Union Theological Seminary. Em 1968, viajou para os Estados Unidos, onde cursou doutorado em filosofia na Princeton Theological Seminary. esse é o objetivo da educação, criar a alegria de pensar” (p. 38). O escritor propôs, ainda, um novo tipo de professor: “É aquele que não ensina nada, não é professor de matemática, de história, de geografia. É um professor de espantos” (ALVES, 2001b, p. 57). De volta ao Brasil em 1970, Rubem Alves foi professor emérito de filosofia na Universidade de Campinas (UNICAMP). Nos anos 80, tornou-se psicanalista através da Sociedade Paulista de Psicanalise. Passou a escrever para grandes jornais sobre comportamento e psicologia. O objetivo da educação segundo Alves (2005) não é ensinar coisas porque as coisas já estão na internet e nos livros, por todos os lugares, o papel do professor é ensinar o aluno a pensar provocando sua curiosidade, induzi-lo a “ter fome de aprender”. Segundo Rubem Alves o professor é aquele que instiga, problematiza, inspira e liberta. Rubem Alves também foi membro da Academia Campinense de Letras além de autor de diversos livros sobre filosofia, teologia, psicologia e educação. Também colaborou durante anos escrevendo artigos sobre religião e educação na Folha de São Paulo. Alves também tinha suas preferências literárias nas quais ele se inspirava dentre essas estão, seu filosofo “preferido” Nietzsche, os escritores T.S. Eliot, Albert Camus, Guimarães Rosa, Saramago, Barthes, Fernando Pessoa e Adélia Prado. Dentre suas inúmeras obras literárias inclusive algumas delas aqui citadas utilizadas para a construção desse projeto, destacam-se: Conversas com quem gosta de ensinar, O desejo de ensinar e a arte de aprender, A pedagogia dos caracóis, Histórias de quem gosta de ensinar, A alegria de ensinar, Por uma educação Romântica, Concerto para corpo e alma, Ao professor, com todo o meu carinho, e Ostra feliz não faz perola, dentre outras obras do autor. Alves foi um escritor, mas como ele mesmo se denominava acima de tudo educador. Um educador revolucionário, preocupado principalmente com os métodos e formação de professores. Alves era um ávido critico do sistema burocrático e excludente escolar. Sobre a paixão pela educação Rubem Alves dizia que educar não é ensinar matemática, física, química, geografia ou português, pois essas coisas podem ser aprendidas nos livros e nos computadores dispensam a presença de um educador. Sobre isso diz: “Educar é outra coisa. A primeira tarefa da educação é ensinar a ver” (ALVES, 2002, p. 18). Segundo Alves, (2000), as escolas devem ensinar a criança a pensar. “Para mim Segundo o educador a missão do professor não é dar respostas prontas, mas conduzir o aluno a pensar e imaginar, de modo que o mesmo torne-se o principal sujeito de seu aprendizado. “A missão do professor é provocar a inteligência, é provocar o espanto, é provocar a curiosidade” (ALVES, 2001a, p. 22). Rubem Alves sempre exerceu um particular gosto pela gastronomia principalmente depois de sua aposentadoria quando investiu seu tempo em um restaurante. Alves admirava a arte de cozinhar e acreditava por vezes ter sido alguma espécie de cozinheiro em alguma vida passada. Ele tinha um verdadeiro fascínio pelas panelas, pelo fogo, pelos temperos e por toda a bruxaria que acontece nas cozinhas, como ele mesmo definia a arte de cozinhar. Rubem Alves (2010) fazia referências a filmes amados por ele que abordavam o mundo da gastronomia, dentre estes filmes o primeiro da lista nas preferências do autor era “A festa de Babete”, seguido por “Como Água para chocolate” e “Escola dos sabores”. Ambos têm como pano de fundo o mundo da culinária e da gastronomia. Em seu fascínio pelo mundo dos sabores, Alves dizia que, a cozinheira de suas fantasias nada tinha a ver com as de hoje, ditas por ele “modernas”. Rubem Alves denominava a cozinha atual muito prática rápida e funcional, o que segundo o autor dispensava as preliminares de espiar, cheirar, beliscar, provar. Sobre isso, Alves (2004) dizia: “quero voltar à cozinha lenta e erótica, um lugar onde a química esta mais próxima da vida e do prazer” (ALVES, 2010, p. 35). 3 O escritor que nasceu no interior de Minas desde muito pequeno achava o conforto da cozinha vazia e acolhedora o útero da casa como ele mesmo dizia, é o lugar onde a vida cresce e o prazer acontece. Alves (2005) dizia: “São os cheiros de fumaça, da gordura queimada, do pão de queijo que cresce no forno, dos temperos que transubstanciam os gostos, profundos dentro do nariz e do cérebro, até o lugar onde mora a alma” (ALVES, 2012, p. 07). O escritor mineiro de Boa Esperança chegava a citar os cozinheiros como referências aos professores dizendo: “Pensei então se não haveria algo que os professores pudessem aprender com os cozinheiros” (ALVES, 2004, p. 37). O educador sugere uma Filosofia Culinária da Educação com base naqueles que preparam as coisas boas e ensinam os sabores. O escritor ao fazer essa analogia quis dizer que os professores ao ensinarem seus alunos pudessem levar a magia e o encanto do mundo dos sabores para o mundo do saber. Alves denominava a cozinha um lugar de saber e sabor. Para Alves (2010), “Palavras que não transmitem saber, mas atentam para um sabor. O que importa está para além da palavra. É indizível” (ALVES, 2010, p. 17). Dai sua ideia de uma Filosofia Culinária da Educação1. Seguindo esse ideal Alves (2005) declarou: “É preciso aprender a degustar com todos os sentidos”. Com isso, “Nas suas origens saber e sabor são a mesma coisa” (ALVES, 2005, p. 47). Para o escritor a aprendizagem acontece quando nos defrontamos com um desafio, um problema no qual não conseguimos resolver, segundo o autor esse tipo de situação favorece e estimula o pensamento. Para Alves (2001b), “Educar não é ensinar respostas educar é ensinar a pensar” (2001b, p. 60). Rubem Alves na sua época de colunista escreveu alguns artigos a respeito de assuntos culinários e gastronômicos dentre eles o artigo “A cozinha da casa de Rubem Alves2”. O escritor também declara nesse artigo seu encanto e preferência pelo fogão à le1 Rubem Alves. Sabor do Saber. Publicado na Folha de São Paulo, em 27 de Set 2005, p. 22. 2 Publicado pelo Correio Popular, Caderno C, 19 Mar 2000. nha, não é de se admirar tamanho fascínio, já que o escritor mineiro de Boa Esperança não nega suas origens quando diz: “O fogão de lenha nos faz voltar às residências de outrora, as residências abandonadas, mas que são, em nossos devaneios, fielmente habitadas” (ALVES, 2000, p. 9). Alves (2000) faz uma referência a Adélia Prado quando diz: “A alma mineira vive de saudades” (2000, p. 55). O autor faz diferentes analogias entre o prazer de cozinhar o relacionando a arte de educar. Sobre isso diz: “Adélia Prado me ensina pedagogia. Diz ela: Não quero faca nem queijo; quero é fome" (2012, p. 14). De acordo com Rubem Alves o professor é aquele que seduz seu aluno, que desperta no mesmo a “fome”, o desejo de aprender, e continua ressaltando que as coisas memorizadas sem amor desaparecem. E referenciando Adélia Prado (2005) completa: “Aquilo que a memoria ama fica eterno” (2005, p. 89). Rubem Alves declarava que o saber é algo construído e constituído de razão e sentido "Saber por saber isso é inumano” (Alves, 2000, p. 74). O educador comparava à tarefa do professor a mesma da cozinheira, provocar a fome no aluno. “É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do afeto, nasce da fome” (ALVES, 2000, p. 44). Assim segundo o educador “toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva” (ALVES, 2005, p. 52). Conceitos de Educação, afeto e paixão no contexto pedagógico A seguir fazemos uma breve explanação entre as definições de educação, afeto e paixão sob a perspectiva de diferentes autores inclusive Rubem Alves. Sabemos que atualmente existem várias definições e conceitos de educação (ANTUNES, 2000, p. 184). Essas são abordadas por diferentes autores e teorias. Mas geralmente essas vertentes possuem uma peculiar semelhança entre si, em especial os conceitos para educar que colocam o individuo como o sujeito da aprendizagem e a educação como sendo um processo transformador, o qual insere e integra o sujeito com o seu meio. 4 A respeito da definição de educação segundo o dicionário Houaiss (2001, p. 514) pode-se classificar como: 1. Processo que visa o desenvolvimento harmónico do ser humano nos seus aspectos intelectual, moral e físico e a sua inserção na sociedade; 2. Processo de aquisição de conhecimentos e aptidões; 3. Instrução. Já o conceito etimológico da palavra educação segundo o Dicionário Etimológico Cunha (1982) tem origem latina nos seguintes termos: Educere, que significa conduzir ou Educare que significa a ação de instruir, guiar, formar (1982, p.112). A educação é considerada um direito pleno do cidadão. Reduzindo o termo a sua função essencial podemos conceituar educação como sendo um processo de reflexão e assimilação integral do indivíduo e da sociedade. Partindo dessa perspectiva Kant (1727- 1804), diz que, “o ser humano só se torna verdadeiramente humano pela educação” (1996, p. 14). Na nossa sociedade atual a educação é considerada um direito humano essencial. A Constituição Federal (1988) diz em seu Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (1988, p. 41). O afeto ou afetividade é compreendido sob a perspectiva de diferentes vertentes, principalmente entre a filosófica, psicológica e pedagógica. Pretendemos nessa breve definição do termo, abordá-la sob a perspectiva pedagógica. Começamos pela definição da palavra afeto segundo o Dicionário Etimológico Cunha (1982), a palavra afeto vem do latim "affectur" (afetar, tocar) está intimamente ligada à palavra afetividade que tem conotação de apego, carinho (1982, p.118). Segundo a caracterização do dicionário Houaiss (2001, p. 541), afeto teria sua denominação atribuída a um sentimento de carinho, amor e ternura, estima ou afeição por algo ou alguém. A palavra Afetividade é um termo que deriva da palavra Afeto algo ligado ao estado psicológico que permite ao ser humano manifestar seus sentimentos e emoções. Quando falamos de afetividade e amor na educação temos a contribuição de renomados autores que justificam essa ideia. Sobre isso, Freire diz: Educação é um ato de amor, a relação pedagógica quando perpassada pela afetividade e pela amorosidade oportuniza o desenvolvimento da educação como prática de liberdade e de humanização (FREIRE, 1987, p.79-80). Partindo do pressuposto teórico de Freire (1987), Rubem Alves diz que ainda hoje muito se confunde a questão da afetividade no contexto educacional sobre isso o educador alerta: “Não confundir afeto com beijinhos e carinhos”. (ALVES, 2005, p. 53). Alves em “Conversas com quem gosta de ensinar” (1980, p. 85), afirmava ser de extrema importância o estudo e pesquisa das relações entre afeto e educação no contexto escolar. A respeito da afetividade, afirmava que esta deve ser incorporada na prática pedagógica e mais especificamente que o afeto deve ser inserido na educação como forma de expandir as capacidades educativas e produtoras do conhecimento. Segundo Alves (2002), o afeto deve ser entendido como um incentivo ao aluno para que este se sinta motivado por meio da mudança de postura do professor. Mas, para que isso aconteça efetivamente, é preciso que se entenda o aluno como um ser intelectual e afetivo, capaz de pensar e sentir simultaneamente. É necessário reconhecer que a afetividade é parte essencial do processo de desenvolvimento da aprendizagem estando esta intimamente ligada à capacidade cognitiva do aluno. Sobre isso Nóvoa3 diz: O afeto é um elemento central de qualquer processo de aprendizagem. Não é possível aprender sem uma dimensão de risco, de passagem do desconhecido para o conhecido, de esforço pessoal, de aventura. E tudo isso necessita de um suporte afetivo, de uma rede de afetos (2003, p.25). 3 NÓVOA em entrevista para Revista Pedagógica PÁTIO (2003, p.25). 5 Chegamos aqui ao ponto crucial dessa breve conceituação de afeto e afetividade. Como interesse maior iremos abordar a relação entre afeto e educação, principalmente, segundo Rubem Alves. Sabe-se que a afetividade exerce uma função essencial no processo de ensino e aprendizagem do ser humano, sendo a afetividade um componente presente em todas as situações da vida e estando essa, diretamente vinculada ao desenvolvimento cognitivo. Chalita (2013), em uma de suas crônicas intitulada “Educar é um ato de coragem e afeto”4 diz: “Afeto, porque educar é um ato de amor ao próximo e si a mesmo. Quem educa não apenas ensina como, permanentemente, aprende” (2010, p. 19). Alves (2000) nos demonstra através de seus pensamentos de forma incontestável que o afeto pode ser incorporado na educação e na prática pedagógica do professor, pois este uma vez incorporado amplia as possibilidades de produção do conhecimento e de aprendizagem. Alves (2005), diz: “Por causa do afeto a gente é capaz inclusive de aprender a comer jiló” (2005, p. 114). Novas formas de se educar e se entender o processo de aquisição do conhecimento estão fazendo parte do contexto dos educadores preocupados em compreender até que ponto os laços afetivos estabelecidos entre alunos e professores influenciam no processo de aquisição do conhecimento (FREIRE, 1987, p. 94). Freire (1996), de quem Rubem Alves foi amigo e admirador afirma que não há separação entre seriedade docente e afetividade, e que ambos devem caminhar juntos. Ou seja, o autor enfatiza que necessariamente deve haver um vinculo afetivo no processo educacional corroborando assim com o pensamento Alveniano. Ainda sobre isso, Alves, (2010), diz que o intelecto e o afeto não podem ser vistos de maneira isoladas, ou seja, estão mutualmente interligados. 4 Gabriel Chalita Publicado no Jornal A Tribuna – Santos (2013, p.19). Relação afeto, paixão e educação no universo escolar De acordo com a definição do Dicionário Etimológico Cunha (1982), a palavra paixão vem do latim ‘Passione’ e é um termo aplicado a um sentimento muito forte em relação a uma pessoa, objeto ou tema. De acordo com o seu significado no dicionário paixão é uma emoção intensa convincente, um entusiasmo ou um desejo sobre qualquer coisa. O termo também é aplicado com frequência para determinar um vívido interesse ou admiração por um ideal, causa ou atividade (1982, p. 53). Alves (2005), também defendia um ideal de educação dos sentidos, dizia que a educação se concretiza a partir da utilização de todos os sentidos do corpo. Alves (2001a, p. 58) diz que: “a primeira função da educação é ensinar a ver, educar o olhar é a arte por excelência”. O educador também nos adverte sobre a carência do desenvolvimento das sensibilidades nas escolas. Para Alves (2002), “Sem a educação da sensibilidade, todas as habilidades são tolas e sem sentido” (2002, p. 98). Portanto, é necessário sensibilidade para perceber a importância e a relação entre afetividade e educação, Rubem Alves foi um assíduo atribuidor de sentidos a educação e inúmeras vezes inovou nesse contexto através de seus livros e crônicas voltados a para a área. O pensamento pedagógico de Rubem Alves a respeito do afeto segundo Reis (2000): Traz diversos sinais de uma poética romântica: valoriza mais o afeto, do que o raciocínio logico; valoriza mais a imaginação, do que as informações (2007, p. 68). Também sobre isso Alves (2010), declara indissociável a presença do afeto e do amor no ato de se educar e caracteriza particularmente a diferença entre os dois. Segundo Alves professor é profissão, algo indefinido interiormente, educador ao contrário segundo ele não seria uma profissão, mas, uma espécie de vocação e continua dizendo, que “toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança” (ALVES, 2000 p. 59). A partir dessa afirmação de Alves percebemos que é preciso um envolvimento 6 amoroso do educador com sua profissão. Sobre isso Rubem Alves diz: Eu me atrevo a dizer que o fantasma que nos assusta e que nos causa pesadelos mesmo antes de adormecer, é a absoluta falta de amor e paixão, o absoluto enfado das rotinas da vida do professor (ALVES, 1980, p.20). O grande e saudoso mestre Rubem Alves em sua crônica “Sobre jequitibás e eucaliptos” já se perguntava: O que você é? Professor ou Educador? Tem-se que repensar essa ligação subjetiva com a capacidade profissional do educador de se envolver afetivamente com sua profissão. Dentro dessa possível articulação entre afeto e educar existem varias peculiaridades existentes entre ser professor e educador. De acordo com a concepção de Alves (1980), o educador habita um mundo em que a interioridade faz a diferença, “em que as pessoas se definem por suas visões, paixões, esperanças e horizontes utópicos” (ALVES, 1980, p. 14,15). O autor afirma que o educador é ímpar e um possuidor nato de suas próprias ideias e convicções independe de um sistema burocrático e alienador. Já o professor é um funcionário que trabalha para satisfazer um sistema, cumprir suas ordens e agir de acordo com a instituição, tornando-se assim um reprodutor de ideais pré-estabelecidos por um sistema comum. “Um educador, ao contrario, é um fundador de mundos, mediador de esperanças, pastor de projetos” (ALVES, 1980, p. 26). O escritor depois de sua aposentadoria investiu seu tempo em um restaurante para exercer seu particular gosto pela gastronomia. Rubem Alves faleceu em Campinas, São Paulo, no dia 19 de julho de 2014 aos 80 anos por falência múltipla de órgãos com um quadro de insuficiência respiratória devido a uma pneumonia. Seu corpo foi velado no plenário da Câmara Municipal de Campinas, interior paulista cidade onde o escritor mineiro vivia. Como pedido, seu corpo foi cremado em Guarulhos e suas cinzas espalhadas sob um pé de ipê amarelo. Como ele mesmo dizia, “eu tive um caso de amor com a vida”. Sobre a morte Alves (2013), dizia: Já tive medo de morrer. Não tenho mais. Tenho tristeza. A vida é muito boa. Mas a morte é minha companheira. Sempre conversamos e aprendo com ela. Quem não se torna sábio ouvindo o que a morte tem a dizer está condenado a ser tola a vida inteira (2013, p. 14). Rubem Alves foi um convicto sonhador, com toda a certeza. Mas antes de tudo foi um idealizador, um transformador e, sobretudo um revolucionário. O escritor sempre manteve uma visão romântica e prazerosa a respeito da educação, defendia a teoria do “aprender com prazer”. Rubem Alves defendia a educação apaixonadaMENTE, poeticamente e acima de tudo romanticamente. Consolidando essa perspectiva pedagógica e humanística de Rubem Alves, Reis (2000, p. 69), diz: “Alves não está preocupado em justificar-se até mesmo porque sua missão é de comunicar, de educar, de provocar a reflexão”. Rubem Alves preocupava-se de maneira especial com o aluno e o processo de aprendizado instalado nas escolas. O educador dizia que a preocupação central dentro da escola deve ser o aluno e que o conteúdo configura-se em mero acessório algo acidental. E afirmava sobre isso que: “Só teremos uma educação transformada quando os professores começarem a olhar os alunos de uma maneira diferente” (ALVES, 2012, p. 59). Conclusão A partir desta pesquisa foi possível entender que o processo afetivo dentro do ambiente escolar se estabelece através das relações e por meio da interação entre professor e aluno. Portanto esse trabalho priorizou esclarecer e analisar alguns aspectos relevantes sobre a possibilidade de se educar com a presença do afeto e da paixão, e de que maneira estes fatores contribuem para o crescimento cognitivo do aluno, entendendo que os aspectos afetivos estão intrinsicamente relacionados ao processo de aquisição do conhecimento e como estes perpassam o processo educativo. Sabe-se que é comprovado que o afeto se constitui em um dos elementos centrais do processo de aquisição do conhecimento 7 estando esta vinculada a situações do cotidiano e da aprendizagem. No decorrer da pesquisa citamos alguns pensadores que discorrem acerca da importância da afetividade no contexto escolar como Paulo Freire, Gabriel Chalita e Antônio Nóvoa. Contudo, a base da nossa pesquisa teve como foco Rubem Alves, levando em consideração suas ideias e convicções no que diz respeito à afetividade e a sua paixão pela educação. A afetividade exerce uma função essencial no processo de ensino e aprendizagem do ser humano, sendo a afetividade um componente presente em todas as situações da vida e estando essa, diretamente vinculada ao desenvolvimento cognitivo. A afetividade no contexto pedagógico da Educação Infantil exerce grande importância no ambiente escolar desde que seja trabalhada de maneira contextualizada e integrada. O trabalho pedagógico a partir da perspectiva afetiva deverá enxergar o aluno em todos os seus aspectos considerando assim seu desenvolvimento cognitivo, emocional e afetivo. O afeto necessita ser incorporado na educação e na prática pedagógica do professor, pois este uma vez incorporado amplia as possibilidades de produção do conhecimento e de aprendizagem. Os aspectos afetivos estão intrinsicamente relacionados ao processo de aquisição do conhecimento fundamentais para o desenvolvimento da aprendizagem. Esta pesquisa veio justamente abordar até onde esses aspectos influenciam o trabalho do professor e a conduta do aluno. Rubem Alves dizia que a presença do afeto e da paixão do educador em sala de aula não só a influenciam os alunos como também interferem significativamente no seu desenvolvimento e produção. Afirmava ser de extrema importância o estudo e pesquisa das relações entre afeto e educação no contexto escolar. A respeito da afetividade, pautava que esta deve ser incorporada na prática pedagógica e mais especificamente que o afeto deve ser inserido na educação como forma de expandir as capacidades educativas e produtoras do conhecimento. aluno como um ser intelectual e afetivo, capaz de pensar e sentir simultaneamente. É necessário reconhecer que a afetividade é parte essencial do processo de desenvolvimento da aprendizagem estando esta intimamente ligada à capacidade cognitiva do aluno. Portanto, é necessário sensibilidade para perceber a importância e a relação entre afetividade e educação, Rubem Alves foi um assíduo atribuidor de sentidos a educação declara indissociável a presença do afeto e do amor no ato de se educar. Consideramos muito a possibilidade de ao iniciar essa pesquisa, tentarmos transmitir ao leitor o máximo possível sobre nosso principal objeto de pesquisa e assunto: O escritor e educador Rubem Alves. Mas, agora que chegamos ao fim, percebemos que apenas o essencial ficou. Seria impossível e pretensioso de nossa parte querer resumir aqui 80 anos de vida e historia de Rubem Alves em um sucinto artigo. Dessa forma, chegamos aqui à conclusão e finalização de nosso trabalho, com todas as dificuldades que tivemos ao decorrer dessa jornada, porém, todas elas necessárias para que possamos valorizar tudo aquilo que fazemos e obtemos. Esta pesquisa é um sonho realizado. Obrigada por tê-lo lido. Agradecimentos Deixamos aqui registrado nossa eterna gratidão, carinho e respeito por nossa querida Orientadora Maria Julia B. de Holanda. Agradecemos, sobretudo, pelo carinho, atenção, suporte, orientação e incentivo constantes. Agradecemos também ao corpo docente dessa instituição que contribuiu e nos oportunizou a realização desse sonho e nossa eterna gratidão e ternura as nossas avaliadoras presentes aqui esta noite. Albaniza de Cácia Bispo e Edlamar Clauss. E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte de nossa formação, nosso muito obrigada!!! O afeto deve ser entendido como um incentivo ao aluno para que este se sinta motivado por meio da mudança de postura do professor. Mas, para que isso aconteça efetivamente, é preciso que se entenda o 8 Referências ALVES, Rubem. Cantos do pássaro encantado. 5° ed. Campinas, São Paulo: Verus, 2013 ALVES, Rubem. Concerto para corpo e alma. 17° ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 2012. ALVES, Rubem. Ao professor, com o meu carinho/ Rubem Alves; 2 ed. Campinas, São Paulo: Verus Editora, 2010. ALVES, Rubem. A educação dos Sentidos. Campinas, São Paulo: Verus, 2005. ALVES, Rubem. O desejo de ensinar e a arte de aprender. 14 ed. Campinas. Fundação Educar, 2004. ALVES, Rubem. Por uma educação romântica. 5. ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 2002. ALVES, Rubem. Estórias de quem gosta de ensinar. 10 ed. São Paulo: Papirus, 2001a. ALVES, Rubem. A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. Campinas: Papirus, 2001b. ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. 10º ed. São Paulo: Papirus, 2000. ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. 24 ed. São Paulo: Cortez, 1980. ANTUNES, C. A construção do afeto. São Paulo: Augustus, 2000. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF- Senado, 1998. CHALITA, Gabriel. Educar é um ato de coragem e afeto. Santos: SP. Publicado in Jornal A Tribuna, 2013. CHALITA, Gabriel. 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