Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 A CONTRIBUIÇÃO DOS CONHECIMENTOS PRÉVIOS DOS ALUNOS SOBRE A DENGUE: INTERVENÇÃO NAS AULAS DE CIÊNCIAS Adriana Brito¹, Renata Correia², Gabriele Marisco² ¹ Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas/UESB. Email: [email protected] ² Professora do Departamento de Ciências Naturais/UESB Resumo Objetivo do trabalho foi analisar os conhecimentos prévios dos estudantes do ensino fundamental sobre a Dengue e o seu vetor e sua contribuição para a reflexão diante de práticas pedagógicas associadas ao ensino por intervenção. O conhecimento prévio dos alunos forneceu subsídios para elaboração da atividade de intervenção que se configurou pela utilização de fragmentos da história em quadrinhos “Menino Maluquinho: Todos Contra a Dengue”. A prática pedagógica se mostrou eficiente, favorecendo a participação do aluno na construção do conhecimento e demonstrando que ações de educação em saúde devem ser desenvolvidas nas escolas, pois são fundamentais para esclarecimento e conhecimento dos estudantes, possibilitando maior assimilação e aprofundamento sobre a problemática da Dengue. Palavras-chave: ensino de ciência, educação e saúde, Aedes aegypti. Introdução A Dengue é caracterizada por ser uma doença febril aguda causada por um arbovírus pertencente à família Flaviviridae do gênero Flavovivírus, o agente etiológico é representado por um complexo de quatro sorotipos: o Dengue-1 (Den-1), Dengue- 2 (Den-2), Dengue-3 (DEN-3) e Dengue-4 (Den-4), todos causando a mesma síndrome clínica (PONTES & RUFINO NETTO, 1994). Conforme citado no Guia de Vigilância Epidemiológica, a Dengue possui algumas características que comumente aparecem nas pessoas infectadas e que determinam a gravidade da doença, que pode ser de curso benigno ou grave, dependendo da forma como se apresente: Dengue clássico (DC), febre hemorrágica da Dengue (FHD) ou síndrome do choque da Dengue (SCD). 4797 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Oliveira (2012) destaca que o consumo de produtos descartáveis, e o aumento na produção de lixo só potencializa a proliferação de criadouros, aliada a esses fatores tem-se à crescente urbanização, que favorece o crescimento e a extensão de muitas doenças tais como, a Dengue clássica e a Dengue hemorrágica. Uma das formas de controlar a incidência dessa doença é por intermédio da transferência do conhecimento sobre o vetor, por conduzir a conscientização e a tomada de medidas contra a sua proliferação (MADEIRA et al., 2002). A solução para a erradicação da Dengue não pode se restringir apenas a campanhas, criação de normas e ações de fiscalização, faz-se necessário a articulação entre ciência e educação, fornecendo informações sobre a biologia do mosquito e promovendo a sensibilização da comunidade no combate à doença (ANDRADE & BRASSALOTT, 1998). Nesse contexto, a temática educação para a saúde é incorporada no espaço escolar com objetivo de assegurar a qualidade de vida dos alunos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) reafirmam que a educação para saúde é importante, pois favorece o processo de conscientização quanto à saúde é instrumentaliza para a intervenção individual e coletiva sobre os condicionantes do processo saúde/doença (BRASIL,1998). Regis et al. (1996) afirma que a escola é ambiente privilegiado para mobilização da comunidade no combate ao vetor da Dengue. Essa interface da saúde com a educação estabelece uma relação estratégica, no que se refere à prevenção de doenças, como é o caso da Dengue. Donalisio et al. (2001) enfatiza a importância da escola no combate a Dengue devido a sua capacidade de divulgar e gerar conhecimentos, sendo que nesse espaço as ações educativas podem ser otimizadas. Segundo Saviane (1997), a concepção de ensino-aprendizagem, é uma teoria dialética, na qual a construção se dá num movimento dinâmico entre o conhecimento empírico e o conhecimento científico. Sabemos que a aprendizagem significativa se caracteriza pela interação cognitiva entre o novo conhecimento e o conhecimento prévio. Para Moreira (2008), essa experiência cognitiva não se restringe à influência direta dos conhecimentos já aprendidos sobre a nova aprendizagem, mas pode também abranger modificações significativas na estrutura cognitiva preexistente. 4798 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 De acordo com Pelizzari (2002), a aprendizagem é muito mais significativa à medida que o novo conteúdo é incorporado ao conhecimento do aluno e adquire significado para ele a partir da relação com seu conhecimento prévio. Rosa (2006) afirma que os alunos poderão participar da construção de seu conhecimento e passar a olhar sua realidade de um modo abrangente e crítico, cada vez menos pautados por pensamentos do senso comum, a partir da sua aprendizagem significativa. Sendo assim, intervenções eficazes na prática pedagógica, subsidiam a reflexão e o aprimoramento do ensino de Ciências. Nesse sentido, Candeias (1997) afirma que a intervenção é eficaz quando atinge os resultados esperados. Ele ainda assegura que intervenções para a educação em saúde devem promover aprendizagem. Metodologia A pesquisa foi desenvolvida em um Colégio Estadual localizado na cidade de Vitória da Conquista-BA. Os sujeitos da pesquisa foram 30 alunos do 8º Ano do Ensino Fundamental II com média de idade de 13 anos. Os dados foram coletados em duas etapas que ocorreram em momentos e dias diferentes. Inicialmente foram aplicados os questionários semiestruturados para investigar os conhecimentos prévios dos estudantes acerca do tema Dengue. O questionário possuía sete questões abertas e fechadas que foram respondidas por oito grupos de três e quatro alunos. Foi explicado aos alunos como seria desenvolvida a atividade, sendo que após a distribuição de um questionário por grupo eles teriam que discutir para chegarem a uma resposta em comum de acordo seus saberes, a qual seria registrada diretamente na folha contendo as questões, e que quando terminassem deveriam devolver o questionário. No segundo momento ocorreu a intervenção através de uma aula expositiva dialogada com a utilização de fragmentos da história em quadrinhos intitulada “Menino Maluquinho: Todos Contra a Dengue”. A aula foi gravada e posteriormente transcrita a fim de obter informações sobre as contribuições da atividade para o aprendizado do aluno. A análise dos dados foi realizada de maneira descritiva com o intuito de compreender os fenômenos a partir do ponto de vista dos participantes. Resultados e Discussão Conhecendo os saberes dos alunos 4799 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 A análise dos questionários revelou os conhecimentos prévios apontados pelos sujeitos da pesquisa, trazendo reflexões sobre a importância da abordagem dessa temática na escola. Sobre a definição da doença, os estudantes a relacionaram ao mosquito transmissor, como mostra algumas das respostas abaixo: Doença causada pelo mosquito Aedes aegypti. (Grupo 1 e 2) Doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti que pode levar a morte. (Grupo 3) Doença transmitida através do mosquito que podem causar sintomas como dores no corpo, febre alta, manchas na pele e pode causar morte. (Grupo 5) A maioria dos alunos apresentaram percepções sobre o conceito da doença pouco claro e às vezes confuso. Esses resultados podem estar associados à falta de conhecimento mais aprofundado sobre o assunto. Mesmo considerando que a doença está muito próxima da realidade vivenciada, uma vez que são recorrentes os casos comprovados e a divulgação pela mídia, observa-se que, possivelmente, os sujeitos não percebam a importância da conceituação nos processos formativos de seus conhecimentos. Já sobre o ciclo de vida a maioria dos grupos reconheceu corretamente o processo. De acordo com El-Hani & Bizzo (2002), essas concepções prévias podem representar o ponto de partida para um processo de ensino aprendizagem mais eficiente dos conteúdos trabalhado em sala de aula. Sobre a transmissão da Dengue, foi perguntado se todo mosquito A. aegypti é o transmissor. A maioria dos grupos respondeu ser a fêmea do mosquito o transmissor da doença. Entretanto, apenas o grupo 5 considerou ser necessário estar contaminada pelo vírus, conforme a resposta: Apenas fêmeas e se estiverem contaminadas pelo vírus. (Grupo 5) Apesar de reconhecerem que a fêmea é o agente transmissor, a maioria desconsidera, o fato da contaminação pelo vírus. Diante das respostas é possível inferir que os alunos ainda 4800 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 necessitam de informações básicas sobre o assunto. De acordo com a literatura a Dengue é transmitida ao homem através da picada de mosquitos hematófagos fêmeas do gênero Aedes, família Flaviviridae, principalmente o A. Aegypti. O vírus Dengue é classificado como um arbovírus, existindo quatro sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4, e todos podem causar Dengue, tanto a forma clássica da doença quanto as formas mais graves (FIGUÊIREDO, 2009). Entretanto a maioria dos grupos respondeu que nem toda pessoa que for picado pelo mosquito Aedes aegypti terá Dengue, sendo as justificativas: Pessoas que eles conhecem foram picadas e não ficaram com a doença; Só sofrerá danos se estiver contaminada; Se for macho não será contaminada, pois somente a fêmea contamina; Apenas alguns mosquitos estão contaminados; Alguns mosquitos não transmite a doença; Apenas fêmeas passa dengue; Após ser picado tiver tratamento adequado com medico poderão reverter os sintomas e não ter dengue; Em relação ao conhecimento prévio sobre a Dengue, as respostas demostraram percepções equivocadas, confusas e revelaram a dificuldade de articular as informações. Os dados apresentaram indicadores de que os alunos necessitam de uma maior abordagem sobre o tema nas aulas de Ciências. Deve ainda ser destacado que essas temáticas que envolvem a promoção da saúde devem ser abordadas de forma contínua e sistematizada a fim de contribuir significativamente no processo de aprendizagem. Sobre a divulgação da Dengue nos meios de comunicação, dois grupos consideraram que só acontece essa divulgação quando os números de casos aumentam como mostra as respostas abaixo: As pessoas deveriam fazer palestras, porque só tomam providências quando o índice da Dengue aumenta. (Grupo 1) Muito raro ouvir falar na Dengue, só quando os casos aumentam que começam a divulgar. (Grupo 2) 4801 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Os grupos 4 e 7 responderam que há divulgação nos meios de comunicação através de folhetos, comerciais, projetos sociais e palestras e os grupos 5 e 6 apontaram as campanhas de divulgação da doença, sintomas e prevenção. Apenas o grupo 3 relacionou a divulgação da doença a visitas de agentes de saúde a residências. Foi possível perceber que todos os grupos relacionaram as respostas sobre a divulgação da Dengue às campanhas de combate à doença. Os resultados encontrados trazem reflexões sobre a importância da informação da Dengue nos mais diversos meios de comunicação, isso possibilita levar conhecimento aos alunos, demostrando além de dados de ocorrência, a importância de saber sobre a Dengue e também a sua prevenção. Dessa forma, os casos de Dengue no Brasil retificam a necessidade da realização de inúmeras campanhas de combate ao vetor, exigindo soluções e a obtenção de resultados satisfatórios, procurando demonstrar a importância de determinados aspectos da saúde da população, e veiculando saberes conforme as características que possuem como meios de comunicação (EINSFELD et al, 2009). Em relação à ocorrência de casos com muita frequência, os sujeitos destacaram a falta de conhecimento, prevenção, consciência e gravidade do problema, como mostra as respostas abaixo: Muitas pessoas sabem o que deveria fazer, mas não fazem, ou seja, não se previnem da Dengue. (Grupo 2) As pessoas acham que nunca vão acontecer com elas e não tomam as prevenções necessárias para o combate da doença. (Grupo 5) Sobre esses aspectos os alunos demostraram ter conhecimento e consciência sobre os riscos da doença, porém não associam a falta de prática para a eliminação dos focos do mosquito evitando que esses venham a se reproduzir. Terra et al. (2011) afirmam que isso exige a busca de soluções e resultados eficazes nos programas de controle dos agentes causadores dessas doenças, no caso o A. aegypti e o A. albopictus. Desta forma, as pessoas têm um papel fundamental na eliminação dos focos do mosquito e no fim da procriação desses insetos em criadouros domésticos. 4802 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 A respeito do que a escola faz para informar sobre os riscos da Dengue, a maioria dos grupos respondeu que realiza projetos. Entretanto, foram citadas também outras ações, como aulas e feira. Esses dados demostram que a escola busca de alguma maneira informar os alunos sobre a doença. Desta forma, o papel desempenhado pela escola neste processo é de vital importância no sentido de contribuir para o conhecimento acerca do tema. Para cumprir seu papel, a instituição de ensino deve buscar fazer intervenções educativas, por meio das quais objetivam possibilitar uma aprendizagem significativa dos alunos. Regis et al. (1996) afirmam que a escola é um espaço privilegiado como base para o envolvimento da comunidade no controle de vetores de doenças como a Dengue. No que se refere como a escola, professores e alunos podem contribuir para educação preventiva da Dengue, os grupos destacaram que a escola pode contribuir fazendo projetos, palestras, aulas e campanhas, como mostra as respostas: Fazendo projetos, aulas e feiras para conscientizar do perigo. (Grupo 1) Fazendo palestras e campanhas de alerta sobre a Dengue. (Grupo 3) Diante do exposto, a escola é tida como espaço de produção de conhecimento, dessa forma ela deve oferecer oportunidades de acesso às informações e aos conhecimentos, de acordo com as necessidades e potencialidades dos alunos. Portanto, a escola seria um ponto de partida para esclarecimento das características da Dengue, mecanismos de transmissão e medidas preventivas, focalizando especialmente as dúvidas e as concepções equivocadas dos alunos (BRASSOLATTI & ANDRADE, 2002), e também com dimensões mais amplas, considerando as causas e as implicações sociais da prevenção da doença. A respeito de como os professores podem contribuir, os sujeitos citaram a elaboração de trabalhos, pesquisas e aulas discursivas, como mostra a fala dos grupos: Elaboração de trabalhos, pesquisas, campanhas e projetos de divulgação dos riscos da doença. (Grupo5) Aulas para discutir sobre a dengue. (Grupo 7) 4803 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Então, de acordo com as respostas, seria ideal vincular as aulas aos problemas da realidade como é o caso da Dengue, obtendo-se na própria sala de aula o diálogo entre professores e alunos, sendo esse último o sujeito de seu conhecimento, incluindo assim, situações significativas. Ações educativas podem ser importantes vias de disseminação de conhecimentos sobre a prevenção e o controle da Dengue, podendo, inclusive, serem mecanismos de influência para professores, alunos e pais, que, através dos alunos, se tornam também motivados e engajados no combate à doença (AVILA et al., 2004). A respeito da contribuição do aluno no combate ao mosquito A. aegypti, as respostas apresentadas pela maioria dos grupos estão relacionadas à prevenção, como mostra algumas falas: Evitar água parada. (Grupo 5) Conscientizar sobre os cuidados que se devem ter para prevenir a doença. (Grupo 7) Ações destacadas podem contribui no combate à Dengue, porém vale ressaltar que os alunos não se colocam como sujeitos participantes de ações ou campanhas que possibilitem a promoção da saúde e campanhas de prevenção à doença. Os aspectos identificados através do questionário forneceram subsídios para reflexão sobre a realização de possíveis práticas pedagógicas a partir de processos de intervenção nas aulas de Ciências para a construção do conhecimento científico. Atividade de intervenção: Dialogando sobre a temática Dengue A discussão do tema com o uso dos fragmentos da história em quadrinhos “Maluquinho Todos Contra a Dengue”, propiciou no decorrer da ação pedagógica a interação e participação dos alunos, revelando questionamentos e posicionamentos relacionados a aspectos decorrentes do conhecimento prévio. Foi possível observar que a utilização da história em quadrinhos favoreceu a participação ativa dos alunos em sala e permitiu aproveitar o momento para estimular os alunos a expor seus conhecimentos e levá-los a uma reflexão crítica de seus saberes 4804 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 O uso das histórias em quadrinhos tem crescido muito como recurso didático, e vêm sendo verificado o seu potencial educativo como prática pedagógica (SANTOS & PEREIRA, 2013). A partir da intervenção foi possível reconstruir o conceito da doença, discutir sobre a biologia do agente transmissor e os sintomas da Dengue. Durante a atividade os alunos se envolveram com entusiasmo por isso foi possível reconstruir e construir saberes. Santos (2005) revela que a abordagem deste tema no ensino de Ciências deve privilegiar modelos de aprendizagem participativas que visem uma real integração entre o saber científico e o cotidiano do aluno. Em relação aos questionamentos sobre a transmissão da doença, as informações explicadas a partir dos fragmentos possibilitaram aprofundar a discussão sobre a transmissão, tipos de vírus e a gravidade da Dengue. A partir disso, foi discutido que a transmissão da doença ocorre apenas através da picada do mosquito A. aegypti fêmea se estiver contaminado com algum dos vírus. Pode-se inferir que houve compreensão quanto à transmissão da doença a partir da análise da fala dos sujeitos (identificados pela letra S seguida de um numeral): (...) somente a fêmea e se ela estiver contaminada pelo vírus da Dengue. (S7) O mosquito é apenas o transmissor, que quem causa a doença é o vírus. (S8) De acordo Silva & Machado (2008), muitas vezes os processos didáticos pedagógicos tradicionais não atendem as exigências dos alunos por um ensino mais dinâmico, inovador e incentivador. Também foi discutido sobre a proliferação do mosquito transmissor que evidenciou os riscos de manter ambientes que acumulam água, os quais se tornam possíveis criadouros do A. aegypti e que erradicar esses criadouros é o único meio de inviabilizar a reprodução e a proliferação do mosquito. Segundo Einsfeld (2007), necessita-se de redução ou eliminação dos criadouros do mosquito A. aegypti, associado às práticas de saneamento aos processos de educação e comunicação. Em relação à contribuição da escola, professor e estudantes no combate a Dengue, destaca-se a percepção do aluno como sujeito ativo no processo, como mostra as falas a seguir: 4805 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Eu ia sair na rua colando cartazes sobre como combater o foco do mosquito A. aegypti e esclarecendo as pessoas sobre a doença, a forma de transmissão e prevenção da Dengue. (S3) Falar com minha família para não deixar água parada, pois é nesses ambientes que o mosquito se reproduz. (S9) Falar com os vizinhos para verificar nos quintais se há algum vasilhame que pode acumular água. (S7) Reis et al. (2010) afirmam que a educação em saúde tem papel importante na indução de mudança de comportamento relativo à saúde. Por isso, temáticas relacionadas a saúde devem esta inserida no dia-a-dia da escola de forma sistematizada e significativa. Gouw & Bizzo (2009) ao discutirem a abordagem da Dengue e seus aspectos preventivos no espaço escolar, apontam que projetos voltados para a educação em saúde devem além de informar, engajar ativamente os cidadãos na problemática enfrentada e que quando os projetos são sediados nas escolas há maior possibilidade de êxito e expansão na comunidade. Considerações finais O conhecimento prévio dos alunos apresentaram equívocos conceituais sobre o tema Dengue, demonstrando que ainda faz-se necessário uma abordagem mais aprofundada sobre o tema estudado a fim contribuir de forma significativa para mudanças de hábitos, os quais serão necessários para a erradicação do mosquito e consequentemente da Dengue. A utilização de história em quadrinhos favoreceu a participação efetiva dos alunos e consequentemente a apropriação de novos saberes, revelando que a implementação de práticas pedagógicas de temas relacionados à saúde, como a Dengue, pode trazer o envolvimento dos alunos em discussões, análises, reflexões e atuação em práticas educativas. Tais práticas também podem possibilitar a reflexão dos professores no ensino de Ciências, a cerca de como usar o conhecimento prévio dos alunos para buscar diferentes intervenções para tornar a aprendizagem mais significativa. Dessa forma, temas relacionados à saúde devem ser incorporados pelos professores não apenas nas aulas de Ciências e Biologia, mas de maneira interdisciplinar ou até mesmo 4806 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 multidisciplinar, com a proposta de apresentar a Dengue aos estudantes em uma perspectiva ampla para que as ações profiláticas possam ser realizadas conscientemente, compreendendo criticamente em que pontos a população pode romper o ciclo da doença. Referências ANDRADE, C. F. S; BRASSOLATTI, R. C. Controle da Dengue: um desafio à educação da sociedade. Ciência e Ensino, 4 jun. 1998. AVILA, M. G. A. et al. Evaluation of an educational module on dengue and Aedes aegypti for schoolchildren in Honduras. Revista Panamericana de Salud Pública, v.16, p. 84-94, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Brasília. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico, vol. 45, nº 26, 2014. BRASIL. 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