PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM E A MORTE EM UNIDADE DE

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TEMAS LIVRES
http://dx.doi.org/10.15202/10.15202.2014v19n38p36
PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM E A MORTE
EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA:
REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA
Nytale Lindsay Cardoso Portela1
RESUMO
A morte é uma realidade no ambiente hospitalar, principalmente na Unidade de Terapia
Intensiva, local onde as equipes de enfermagem são os profissionais que mais mantêm contato
com pacientes vivenciando a terminalidade. Este estudo objetiva investigar os sentimentos
dos profissionais de enfermagem de Unidade de Terapia Intensiva diante da morte e suas
estratégias de enfrentamento. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, por meio de
busca nas bases de dados BDENF e LILACS, com as seguintes combinações de descritores:
morte and equipe de enfermagem, atitude frente à morte and equipe de enfermagem, atitude
frente à morte and Unidades de Terapia Intensiva. Das 294 publicações encontradas, foram
selecionados 10 artigos publicados no período de 2004 a 2013 para a construção do presente
estudo. Os resultados evidenciaram que os sentimentos da equipe de enfermagem diante
da morte são: compaixão, indiferença, impotência, ansiedade, culpa, negação, envolvimento
emocional, empatia e tristeza. Quanto às estratégias de enfrentamento diante da morte,
destacam-se o sentimento de indiferença, de negação, a crença em Deus e em rituais
religiosos, a esperança em relação ao tratamento/melhora do paciente, a tranquilidade e a
calma. Conclui-se que a falta de preparo durante a formação profissional pode repercutir em
sua prática, podendo trazer prejuízos psicológicos aos profissionais. Ressalta-se a importância
da tanatologia ser inserida na matriz curricular e que a equipe de enfermagem receba,
continuamente, capacitações e aperfeiçoamentos.
Palavras-chave: Atitude Frente à Morte. Equipe de Enfermagem. Unidades de Terapia Intensiva.
NURSING PROFESSIONALS AND DEATH IN THE INTENSIVE CARE
UNIT: INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW
ABSTRACT
Death is a reality of the hospital environment, especially in the intensive care unit, where the
nursing staff are professionals who have contact with more patients experiencing terminal
illness. This study aims to investigate the feelings of the Intensive Care Unit nurses facing death
and their coping strategies. This is an integrative review of the literature, by searching the BDENF
and LILACS databases, with the following combinations of descriptors: death and nursing staff
attitude to death and nursing staff, attitude towards death and Intensive Care Units. Of the 294
publications found, we selected 10 articles published from 2004 to 2013 for the construction
of the present study. The results showed that the feelings of the nursing staff in the face of
Especialista em Saúde Pública e Saúde da Família pela Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco, Paraná, Brasil
Especialista em Enfermagem do Trabalho pela Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco, Paraná, Brasil
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death are: compassion, indifference, impotence, anxiety, guilt, denial, emotional involvement,
empathy and sadness. The coping strategies in the face of death, we highlight the feeling of
indifference, denial, belief in God and in religious rituals, the hope for the treatment / patient
improvement, tranquility and calm. It is concluded that studies show the lack of preparation
for vocational training, which may reflect on their practice and can bring psychological harm to
professionals. We emphasize the importance of thanatology is inserted in the curriculum and
that the nursing staff receive continuously capabilities and enhancements.
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Nytale Lindsay Cardoso Portela
Keywords: Attitude to Death. Nursing. Intensive Care Units.
1 INTRODUÇÃO
A morte está presente no cotidiano da sociedade moderna como uma assombração que
deve ser evitada. Frequentemente, os doentes ditos "terminais" são afastados do convívio com
familiares e amigos, sendo levados para asilos e hospitais, dentre outros locais (GUERRA, 2005).
Há muitas razões para se fugir de encarar a morte calmamente. Dentre elas, destaca-se
que morrer, atualmente, é triste, solitário, mecânico e desumano, porque o paciente não raro
é removido do ambiente familiar e levado às pressas para o hospital acabando-se, assim, os
rituais de despedida no leito, o acerto de contas com a vida, a presença do sacerdote para dar a
extrema-unção e os testamentos (KÜBLER-ROSS, 1996; ZORZO, 2004).
No ambiente hospitalar, a morte é uma realidade, sendo frequente especialmente na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que é uma unidade destinada ao atendimento integral e
especializado de doentes graves e recuperáveis, sendo dotada de recursos técnicos para manter
a sobrevida do paciente (ARAÚJO; BELÉM, 2010; SANCHES; CARVALHO, 2009).
Neste ambiente, é a equipe de enfermagem que mantém contato direto e prolongado com
esses pacientes, estabelecendo vínculos afetivos com aqueles que vivenciam a terminalidade e
mantendo uma relação diferenciada com os seus familiares, o que pode ser benéfico para a
assistência, mas também pode torná-los vulneráveis ao estresse laboral, já que esses profissionais
se veem sozinhos para enfrentar o conflito entre a vida e a morte (SANTOS; HORMANEZ, 2013).
Diante disso, vê-se como é importante que a equipe de enfermagem seja preparada
durante sua formação para saber lidar com o paciente terminal, com seus familiares e com
a morte e o morrer. No entanto, a realidade não é essa, visto que os temas morte e morrer
são pouco abordados durante a formação profissional, havendo a ênfase apenas na cura
dos pacientes. Isso faz com que os profissionais se sintam compromissados apenas com a
vida e, consequentemente, sentem-se fracassados quando não curam o doente (SANTOS;
HORMANEZ, 2013).
O presente estudo tem como questão norteadora: Quais os sentimentos vivenciados pelos
profissionais de enfermagem que trabalham em UTI diante dos processos de morte identificados
nos artigos científicos publicados no período compreendido entre 2004-2013? Seu objetivo
é investigar os sentimentos dos profissionais de enfermagem de UTI diante da morte e suas
estratégias de enfrentamento.
O estudo desta temática é de extrema importância, pois permitirá que os docentes
conheçam os sentimentos dos profissionais, levando-os a entender como podem abordar a
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tanatologia durante o processo de formação profissional. Além disso, possibilita que as instituições
hospitalares busquem estratégias para mudar a atitude do profissional de enfermagem diante
do paciente que está morrendo, como a realização de uma educação permanente.
2 METODOLOGIA
Este estudo trata de uma revisão integrativa da literatura, que se caracteriza por agrupar,
analisar e sintetizar resultados de pesquisas sobre um determinado tema ou questão, de maneira
sistemática e ordenada, a fim de apresentar, discutir e aprofundar conhecimentos acerca da
temática proposta (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
Foram percorridas seis fases para a elaboração da revisão integrativa: elaboração da
pergunta norteadora, busca ou amostragem na literatura, coleta de dados, análise crítica dos
estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa (SOUZA; SILVA;
CARVALHO, 2010).
O estudo partiu do seguinte questionamento: "Quais os sentimentos vivenciados pelos
profissionais de enfermagem que trabalham em UTI diante do processo de morte?". A partir
dessa temática foram selecionados os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): morte
and equipe de enfermagem; atitude frente à morte and equipe de enfermagem; atitude frente
à morte and Unidades de Terapia Intensiva.
A seleção dos estudos a serem analisados deu-se a partir dos seguintes critérios de
inclusão: texto disponível na íntegra, na língua portuguesa; abordar a temática em estudo; ter
sido redigido na forma de artigo; e ter sido publicado no período de 2004 a 2013. Os critérios de
exclusão foram: repetição de um mesmo artigo em mais de uma base de dados; não ser estudo
realizado com profissionais de enfermagem de Unidade de Terapia Intensiva; falta de relação
com o objeto de estudo; e revisão de literatura.
A coleta de dados do presente estudo foi realizada nos meses de agosto a outubro de 2014.
O levantamento das informações se deu no ambiente virtual, nas seguintes bases científicas:
Base de dados de Enfermagem (BDENF) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde (LILACS), pelo portal da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).
No total de 294 publicações selecionadas pelos descritores, 136 apresentavam-se
disponíveis na íntegra, 102 entraram na última seleção por enquadrar-se nos critérios de
inclusão, porém houve repetição de 48 artigos entre as bases de dados; 42 artigos não eram
estudos realizados com profissionais de enfermagem de UTI ou não tinham relação com o objeto
de estudo e 2 eram revisão de literatura, resultando um total de 10 artigos, sendo analisados e
interpretados adequadamente para a composição do presente estudo.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da análise das publicações, selecionaram-se três variáveis de caracterização dos
artigos: ano de publicação, periódico e abordagem metodológica.
Dentro do recorte temporal selecionado (2004-2013), observa-se na tabela 1 que o
ano de 2006 concentrou o maior número de publicações na íntegra sobre o objeto de estudo,
perfazendo um total de 3 artigos (30%). Os outros 7 artigos foram publicados nos anos de 2004,
2007, 2008, 2009, 2011, 2012 e 2013.
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Nos anos de 2005 e 2010 não foram encontrados artigos que atendiam aos critérios
de inclusão e exclusão, demonstrando que dentro do período selecionado houve lacunas de
publicações. No entanto, mesmo com estas lacunas observa-se que esta temática é atual.
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Tabela 1: Distribuição dos artigos científicos segundo o ano de publicação, o periódico e o método de pesquisa
CARACTERIZAÇÃO
Ano de Publicação
2004
2006
2007
2008
2009
2011
2012
2013
Periódico
Acta Paulista de Enfermagem
Cogitare Enfermagem
Revista Brasileira de Enfermagem
Revista da Escola de Enfermagem da USP
Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste
Revista do Instituto de Ciências da Saúde
Revista Latino-Americana de Enfermagem
Scientia Medica
Método de Pesquisa
Abordagem qualitativa
Abordagem quantitativa
TOTAL
N
Fonte: Elaborado pela autora, 2014.
%
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Dentre as revistas científicas que publicaram sobre o objeto de estudo, há destaque para
a Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste (30%). Nos outros periódicos só foi selecionada
uma publicação de cada. São eles: Acta Paulista de Enfermagem, Cogitare Enfermagem, Revista
Brasileira de Enfermagem, Revista da Escola de Enfermagem da USP, Revista do Instituto de
Ciências da Saúde, Revista Latino-Americana de Enfermagem e Scientia Medica (Tabela 1).
Em relação à abordagem metodológica, houve predominância de estudos qualitativos,
totalizando 90% dos artigos, em detrimento dos estudos quantitativos (10%), como se constata
na tabela 1. Tal fato deve-se à temática do estudo, visto que os sentimentos vivenciados durante
o processo de morte não são vistos, em sua maioria, de forma quantificável, pois cada indivíduo
vivencia de forma diferenciada.
Mediante análise dos estudos foram observados alguns aspectos pertinentes às produções,
optando-se por distribuir os resultados em categorias de modo a facilitar o melhor entendimento
de seu conteúdo. A amostra foi assim distribuída: sentimentos da equipe de enfermagem
frente à morte e ao processo de morrer, a morte em diferentes fases da vida, estratégias de
enfretamento do processo de morte.
3.1 Sentimentos da equipe de enfermagem frente à morte e ao processo de morrer
Nos estudos, observou-se que os sentimentos da equipe de enfermagem diante da morte
são: compaixão, indiferença, impotência, ansiedade, culpa, negação, envolvimento emocional,
empatia e tristeza.
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A compaixão é sentida, principalmente, quando a morte é antecedida por um longo
período de sofrimento dos pacientes (PALÚ; LABRONICI; ALBINI, 2004). O convívio diário com
a dor e a aflição que acompanham o processo de morrer e com a morte acaba tornando-se
normal, já que faz parte da rotina dos serviços de terapia intensiva, passando a ser vista com
indiferença por esses profissionais (FERNANDES et al., 2006; PALÚ; LABRONICI; ALBINI, 2004).
A sensação de impotência surge em decorrência da educação mecanicista. A tentativa
de manutenção da vida do paciente a todo custo, por meio da utilização dos equipamentos
tecnológicos, muitas vezes provoca estresse no profissional e acentua o seu sofrimento, além
de tirar a dignidade do paciente, que não possui mais o direito de opinar, como se a vida já não
lhe pertencesse (FERNANDES et al., 2006; GUTIERREZ; CIAMPONE, 2006; SILVA; ROCHA, 2011).
Essa tentativa de curar o indivíduo com a realização de inúmeros procedimentos ocorre
devido à ansiedade que o profissional sente por não aceitar a morte naturalmente (GUTIERREZ;
CIAMPONE, 2007). No entanto, isto também causa culpa na equipe de enfermagem, já que o
paciente deixa de ser visto como um ser humano com desejos e opiniões e passa a ser visto
como um objeto, condenado a morrer lentamente e de forma humilhante e desumana (PALÚ;
LABRONICI; ALBINI, 2004).
Apesar de a morte fazer parte do cotidiano da equipe de enfermagem, esta passa por
um período de negação, pois a equipe possui a consciência de que está trabalhando pela vida,
recusando-se, assim, a aceitar a morte. A negação ocorre devido à própria formação profissional,
na qual não é abordado o tema tanatologia, o que impede que o profissional discuta sobre
suas concepções e sentimentos sobre a morte e o morrer, necessitando de suporte emocional
para prestação da assistência aos pacientes, já que não estão preparados para o momento de
despedida (PALÚ; LABRONICI; ALBINI, 2004; SILVA; ROCHA, 2011).
O envolvimento emocional é "a capacidade de transcender-se a si mesmo e interessar-se
por outra pessoa, sem que esse interesse nos torne incapazes" (PALÚ; LABRONICI; ALBINI, 2004,
p. 38). Esse envolvimento é causado por não se ter certeza da morte e nem da vida, fazendo-se
necessário na relação terapêutica, pois promove a empatia, envolvendo o profissional e a pessoa
que está morrendo, o que facilita a comunicação com o paciente e permite que o profissional
o ajude a enfrentar seu sofrimento e auxiliá-lo no momento da sua morte (SULZBACHER et al.,
2009). A tristeza diante da morte dos pacientes é referida pelos profissionais devido à sensação
de perda e vazio (SILVA; ROCHA, 2011).
3.2 A morte em diferentes fases da vida
O fenômeno da morte pode acontecer em qualquer fase da vida, ou seja, quando o
indivíduo é recém-nascido, criança, jovem/adolescente, adulto ou idoso. No entanto, estudos
mostram que a equipe de enfermagem sente mais dificuldade diante do processo de morte
quando este ocorre nas fases iniciais da vida do que quando ocorre em pacientes idosos ou com
doença terminal (ABRÃO et al., 2013; POLES; BOUSSO, 2006; SILVA; ROCHA, 2011). Isso porque a
morte no início da vida interrompe o seu ciclo, causando angústia, revolta e sofrimento para os
profissionais; já a morte em pacientes idosos faz parte do percurso natural da vida, extingue o
seu sofrimento, trazendo, algumas vezes, um sentimento de alívio para a equipe de enfermagem
(GUTIERREZ; CIAMPONE, 2007; MEDEIROS; BONFADA, 2012).
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Essa dificuldade em lidar com a morte de crianças e jovens deve-se, sobretudo, ao
sentimento de sofrimento e à negatividade trazida pela certeza da morte, que são conduzidos
por um sentimento de fracasso profissional. Além disso, o envolvimento dos profissionais com
pacientes mais jovens geralmente é mais intenso, podendo a criança ser associada a um membro
da família e sua morte ser encarada como a de um ente querido (SILVA; ROCHA, 2011).
Entretanto, alguns profissionais reveem os próprios sentimentos e o conceito de
morte, tentando se convencer de que a morte da criança era inevitável, afastando-se do
sentimento de culpa e responsabilidade e, assim, buscando ter mais segurança no futuro
(POLES; BOUSSO, 2006).
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3.3 Estratégias de enfretamento do processo de morte
No que tange ao enfrentamento diante da morte, para os profissionais de enfermagem é
necessário preparo na formação, preparo específico na unidade de trabalho, apoio psicológico
periódico ao profissional e atualização de conhecimento, por meio de cursos, palestras etc.
(ABRÃO et al., 2013; INÁCIO et al., 2008; SULZBACHER et al., 2009).
Além disso, o sentimento de indiferença também é utilizado como um mecanismo de
defesa, sendo necessário para evitar prejuízos psicológicos e emocionais nos trabalhadores
de enfermagem (SULZBACHER et al., 2009). A negação também surge como defesa contra as
próprias fragilidades e limitações dos profissionais. Há quem torça pela morte no plantão do
outro profissional, com o intuito de negar o acontecimento (FERNANDES et al., 2006; PALÚ;
LABRONICI; ALBINI, 2004).
A crença em Deus e em rituais religiosos também é citada como estratégia de
enfrentamento do processo de morte, pois a religião conforta-os e os ajuda a suportar melhor
este momento difícil (ABRÃO et al., 2013). Os profissionais "buscam na espiritualidade e nas
crenças religiosas subsídios para tentar aliviar o sofrimento dos pacientes e, indiretamente, os
seus próprios" (GUTIERREZ; CIAMPONE, 2007, p. 664). Alguns profissionais referem acreditar
na vida após a morte, o que lhes traz conforto ao lidar com o paciente em processo de morrer,
pois a morte, nesse caso, é vista como um descanso, o início de uma vida melhor (MEDEIROS;
BONFADA, 2012).
A esperança em relação ao tratamento/melhora do paciente, a tranquilidade e a calma
foram outros fatores importantes para o enfrentamento do processo de morte, pois promovem
crescimento e desenvolvimento em nível pessoal e profissional, ajudando-o a se fortalecer no
trabalho (GUTIERREZ; CIAMPONE, 2007).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na revisão integrativa de literatura, constatou-se o interesse dos pesquisadores em
abordar a temática, pois a morte ainda é vista como um tabu pela sociedade, o que, muitas vezes,
impede a aceitação desse processo que é natural na vida do ser humano, podendo interferir na
assistência prestada ao paciente.
Concluiu-se que, no intervalo estudado (2004-2013), os sentimentos dos profissionais de
enfermagem de UTI diante da morte foram, principalmente, compaixão, indiferença, impotência,
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ansiedade, culpa, negação, envolvimento emocional, empatia e tristeza. Suas estratégias de
enfrentamento estavam voltadas, em sua maioria, no preparo durante a formação acadêmica
ou na unidade de trabalho e na atualização do conhecimento.
Observou-se, ainda, que a falta de preparo durante a formação profissional pode
repercutir em sua prática, já que a morte, principalmente, de pessoas mais jovens ou pacientes
muito próximos, pode trazer prejuízos psicológicos aos profissionais. Portanto, é necessário
que a tanatologia seja inserida na matriz curricular e que a equipe de enfermagem receba,
continuamente, capacitações e aperfeiçoamentos que irão lhes ajudar a enfrentar o processo de
morte. Além disso, é de suma importância o apoio psicológico a esses profissionais, a fim de que
a morte seja menos dolorosa.
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