UNIÃO SOCIAL CAMILIANA FACULDADE DE ENFERMAGEM LUIZA DE MARILLAC Curso de Enfermagem Seminário de Pesquisa Orientadora: Profª Márcia Cristina Melo Dificuldade do enfermeiro em lidar com o paciente pediátrico terminal. Aluna do 8º período: Polyanna Cotrim de Pinho. Rio de Janeiro Dezembro- 2007 Polyanna Cotrim de Pinho Dificuldade do Enfermeiro em lidar com o paciente pediátrico terminal Trabalho de conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Enfermagem Luiza de obtenção Marillac do título para de Bacharel em Enfermagem. Orientadora: Profª Márcia Cristina Melo- Mestre em Enfermagem. Rio de Janeiro Dezembro- 2007 FICHA DE APROVAÇÃO Polyanna Cotrim de Pinho Dificuldade do enfermeiro em lidar com o paciente pediátrico terminal. Trabalho de conclusão de curso submetido ao corpo docente da Faculdade de Enfermagem Luiza de Marillac, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de bacharel em enfermagem. Aprovado por: Profª: Márcia Cristina Melo Orientadora Técnica (Mestre em enfermagem) Profª: Marta Sauthier Orientadora Metodológica (Mestre em enfermagem) Rio de Janeiro Dezembro- 2007 Dedico esta monografia aos meus pais, meus irmãos, meu namorado que amo muito, meus amigos que sempre me apoiaram e deram força para seguir em frente. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pelo precioso dom da vida. À minha família pelos valores doados. Às amigas da faculdade, por sempre me apoiarem. Agradeço aos mestres pelas experiências compartilhadas. À minha mãe pelo exemplo de vida, amor e luta. Aos meus irmãos por cuidarem de mim quando criança e sempre me apoiarem em minhas ações. Ao meu namorado por sempre estar me apoiando e me ensinando a lutar. E a todos que caminham ao meu lado, minha eterna gratidão! Amo vocês! O SORRISO O Sorriso é uma conseqüência direta da felicidade. O Sorriso é a expressão mais bonita que o ser humano tem. O Sorriso embeleza qualquer pessoa, independente de sua aparência. O Sorriso nos traz forças e esperanças para lutarmos contra todos os empecilhos. O Sorriso é universal, tem reflexos por toda parte. Quando Sorrimos, mostramos que estamos felizes, de bem com a vida; mostramos que temos esperança e que não nos deixaremos levar pelos problemas. Quando Sorrimos passamos a nossa alegria para quem nos ama, e não damos prazer para quem quer nos ver chorar. Portanto, SORRIA SEMPRE para que o amor que está em Você, brilhe. (Cris Iris). Resumo Trata-se de um estudo qualitativo, do tipo bibliográfico e descritivo, cujas fontes tem origem em livros e artigos científicos da área técnica. O objeto constitui-se no relacionamento do enfermeiro com o paciente pediátrico terminal e sua família. Como objetivos construíram-se: Identificar o cuidado da equipe de enfermagem frente a este paciente e seus anseios; descrever as dificuldades do atual cuidado ao lidar com este paciente; analisar a conduta da equipe de enfermagem na pediatria. A razão deste estudo é a de que as ações e emoções transcendem as teorias e práticas ensinadas na literatura e nas faculdades, e também de que discussões sobre essa realidade podem aproximar,ainda mais, os futuros profissionais da necessidade de suporte psicoemocional para esse fim. Considerou-se que com esta pesquisa que os profissionais poderão aprimorar e rever a importância do cuidado aos pacientes pediátricos terminais, visando um atendimento mais humanizado e com qualidade e conforto para os mesmos, de acordo com a literatura consultada. Palavras chave: 1. Enfermagem 2. Conforto 3. Paciente 4. Família Abstract This monograph concerns to a qualitative (from the bibliographic and descriptive options) study where the fonts are from books and scientific articles from the professional area. The goal is an analysis of the nurse with his terminal pediatric patient including his family. It’s based on the following tips: Identify the nursery group cares face to the patient and his desire; describe the actual difficulties of treating this patient; analyze the nursery group behavior in the pediatric nursery. The fact of the learned theory and practices from the colleges are behind of the realized practices and emotions are the reason of this monograph as well as the discussion of this reality may, even more, enclose the future nurses to the psychoemotional support. There was take in consideration that the nursery professionals may review and make better the pediatric terminal patients care treatment, in order to result in humanly, quality and comfort for them, as per researched literature. Key-words: 1. nursery 2. Comfort 3. Patient 4. Family SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO......................................................................................10 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................13 2.1. A criança e seu desenvolvimento...................................................13 2.2. A influência da hospitalização na criança…..................................15 2.3. A criança doente...............................................................................17 2.4. A morte e suas fases psicológicas..................................................19 2.5. A problemática da morte..................................................................20 2.6. A família e o paciente........................................................................22 2.7. Dor em UTI Pediátrica.......................................................................22 2.8. Assistência da equipe de enfermagem com a criança...................28 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................30 4. REFERÊNCIAS .....................................................................................32 5. ANEXO...................................................................................................33 A- Declaração de Autoria.........................................................................34 B- Direitos da criança hospitalizada.......................................................35 1. INTRODUÇÃO Durante atuação em campo de estágio curricular na disciplina EPPS da saúde da criança, pude observar a problemática que o profissional de enfermagem enfrentava ao prestar a assistência ao cliente pediátrico terminal. A pediatria é a especialidade médica dedicada à assistência à criança e ao adolescente nos seus diversos aspectos, sejam eles preventivos (Puericultura) ou curativos. Após a metade final do século XIX houve necessidade de maior resolutividade médica, pois os índices de mortalidade infantil estavam muito altos, além disto ter uma especialização agiria como inibidor da concorrência profissional. A partir disto surgiu a Pediatria como uma especialidade. Mas houve certas dificuldades para institucionalizar e reconhecer a especialidade, para tanto os argumentos que foram utilizados é de que para crianças deveria haver uma semiologia e uma terapêutica voltadas especificamente para crianças. Conforme a ampliação da especialização, os pediatras foram se unindo em sociedades,e surgiram em locais tais como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul. A sociedade do Rio de Janeiro foi fundada em 1910 e possuía somente 67 sócios, mas era para os residentes no estado do Rio de Janeiro, somente em 1951 é que se nacionalizou a sociedade e passou a ser considerada Sociedade Brasileira de Pediatria. Deparando-se com a angústia e a dor dos familiares, envolvendo-se emocionalmente pela perda do paciente, logo me interessei em elaborar este estudo como forma de focalizar a doença terminal na criança, o que isso acarreta a ela, a seus familiares e a equipe. Para o preparo psicológico do profissional de enfermagem e de conhecimento científico para elaboração de uma assistência e planejamento de ações de enfermagem no estágio final da patologia, a morte e seus anseios enfrentados pelo cliente e sua família. Sendo muito ruim aos olhos de qualquer profissional, levando ao sofrimento e questionamentos se estão preparados para lidar com essas situações no cotidiano profissional, se os enfermeiros não tiverem um controle emocional podem passar sua angústia ao cliente e a família. Segundo BRUNNER (2002, p.251), o enfermeiro deve estar preparado para dar apoio físico, emocional, social, cultural e espiritual ao cliente e a família. Descrevendo assim, a conduta da equipe ao lidar com este cliente, com a morte, doenças crônicas em pacientes pediátricos terminais, seus cuidados paliativos e o quanto isso contribui para uma o conforto da família e o tempo que resta a este paciente que faz todos os profissionais da enfermagem questionarem sua função nesse cuidado de maneira reflexiva e benéfica para toda sistematização do atendimento, acarretando assim melhor conhecimento para a família e uma morte mais humanizada com menos sofrimento para a criança que precisa desses cuidados paliativos, minimizando sua dor em todos os aspectos psicológicos e fisiológicos. A abordagem qualitativa, de acordo com Minayo (1995), trabalha com aspectos subjetivos do objeto estudado, bem como, com a percepção do pesquisador, pois concorda com a assertiva de que a neutralidade científica é um mito, ou seja, não há meio de apreender da literatura conceitos e definições sem atitude crítica reflexiva, o que pressupõe que o conteúdo lido tenha passado pelo “ filtro” do pesquisador. O conteúdo literário foi oriundo de livros e artigos de revistas da área técnica. O tipo de estudo, desta forma, é bibliográfico, abrange a leitura, análise e interpretação de livros, eventualmente, poderão servir à fundamentação teórica do estudo. Isso porque a pesquisa bibliográfica tem por objetivo conhecer as diferentes contribuições científicas disponíveis sobre determinado tema. Ela dá suporte a todas as fases de qualquer tipo de pesquisa, uma vez que auxilia na definição do problema, na determinação dos objetivos, na construção de hipóteses, na fundamentação da justificativa da escolha do tema e na elaboração do relatório final. Encontra-se em Andrade (1999), Gil (1991), Severino (2000), entre outros, importantes diretrizes para o êxito na pesquisa bibliográfica, no que se refere à leitura, análise e interpretação de textos e descritivo com a finalidade de observar, registrar e analisar os fenômenos sem, entretanto, entrar no mérito de seu conteúdo. Na pesquisa descritiva não há interferência do investigador, que apenas procura perceber, com o necessário cuidado, a freqüência com que o fenômeno acontece, pois, conforme Polit e Hungler (1995, p.14) estes estudos descreveram a realidade estudada, fazendo uma “foto” da situação problema no período atual. CAPÍTULO II 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. A criança e seu desenvolvimento De acordo com Einloft (1996, p.3), a criança ao longo do processo evolutivo, amadurece gradualmente nas esferas biológica, cognitiva e afetiva, adquirindo habilidades e construindo sua personalidade e seus valores éticos e morais, preparando-se para viver e conviver nos seu micro e macrocosmo. Nessa jornada as condições do meio circundante são fundamentais, onde o afeto e a proteção do adulto têm papel de destaque para que ela possa desenvolverse em plenitude. Sendo suas vivências, mais ou menos enriquecidas com base nas oportunidades que o meio circundante possa lhe oferecer. Por isso a criança necessita de amor, cuidado e proteção, refletindo a interdependência que todos os seres compartilham, (Ibid, p.3). O amor da mãe/ pai e/ ou substitutos é que dá condições à criança para desenvolver sua humanidade. Sendo os vínculos afetivos estáveis e duradouros entre pais e filhos têm como função promover uma melhor qualidade de crescimento e desenvolvimento da criança. Receber afeto possibilita a ela aproveitar o seu potencial, sobretudo nos primeiros anos de vida, quando está em formação a sus estrutura psicológica. A atitude afetiva, sobretudo da mãe, é que determinará a qualidade de experiências vitais da criança, sendo de primordial relevância para a aquisição de conhecimento e para a aprendizagem. Einloft (1996, p.3) explicita que a relação amorosa da criança com seus pais, como o tato, linguagem, contato abrem as portas para as vivencias no mundo dos sentimentos, das fantasias, das sensações, submergindo do irreal e do imaginário, o concreto e o real das relações com os meios familiar e social. Ao experimentar o mundo, por atos reflexos, pela tentativa do acerto e do erro, vai construindo o seu mundo interior, exteriorizando-o através do exercício de suas habilidades físicas, cognitivas, psicossociais e afetivas. Passa da dependência total para o domínio de seu corpo e do mundo à sua volta. Sendo a infância para, Rousseau, um período de grande exploração para a criança, em que a sua interação com o meio ambiente é um fator de fundamental importância na passagem para a vida adulta. O amor, a pureza e a liberdade que estimulam a criança na relação familiar, lhe oferecem subsídios para um trilhar confiante, criativo e equilibrado nos tortuosos caminhos do viver. Para Einloft, (1996, p. 8), o crescimento com sua múltiplas fases é considerado como um fator de fundamental significação no processo de desenvolvimento da criança, e resulta da integração de fatores intrínsecos e extrínsecos. Os primeiros são responsáveis pela coordenação do crescimento, tendo como partes a herança, os sistemas endócrino e nervoso, e os órgãos terminais; os fatores extrínsecos são representados pela dieta e pelo meio ambiente. O fator herança ocupa o primeiro lugar entre os fatores intrínsecos. As características do futuro individuo estão preestabelecidas nos espermatozóides e no óvulo, tornando-se potencialmente determinadas na formação da célula, do ovo ou zigoto. Outro aspecto base é a influência das glândulas endócrinas, cujos hormônios atuam de forma quantitativa e qualitativa no crescimento e desenvolvimento. A raça e o sexo, com suas peculiaridades, têm papel de destaque, sobretudo no campo da patologia. Como exemplo tem, tem-se o desenvolvimento mais acelerado nas meninas do que nos meninos, (Ibid, p.8). No processo de crescimento três fenômenos são considerados fundamentais. O primeiro é o acúmulo de material extracelular, inicialmente água e, depois, complexo protéico-salino. O segundo é o aumento do tamanho das células, e por último, a multiplicação celular. Logo, o crescimento não é uniformemente distribuído: cada célula, cada tecido e cada órgão crescem segundo grau, padrão e velocidade próprios, tendo como resultante quatro tipos fundamentais de crescimento. O tipo neural é caracterizado por um crescimento de intensa velocidade, ocorrendo no início da vida. As agressões ao sistema nervoso central são especialmente lesivas, sobretudo nos dois primeiros anos de vida. O tipo genital caracteriza-se por um período de latência até 10 ou 12 anos, quando apresenta grande atividade. Para Einloft,(1996, p.9), o tipo linfóide tem como peculiaridade entrar em regressão após um período de intenso crescimento, gerando com isso diminuição da incidência das infecções das vias aéreas superiores. Há ainda o tipo geral de crescimento. O fenômeno do crescimento envolve mais que um simples aumento de tamanho, abrangendo mudanças funcionais e de composição corporal que repercutem nas necessidades nutricionais. Quanto ao peso, a criança necessita de um aporte nutricional maior do que o do adulto, porque apresenta uma velocidade metabólica maior e uma reciclagem mais rápida de nutrientes. A alimentação deve promover uma elevação ponderal e estatural adequada, a fim de assegurar condições fisiológicas para o desenvolvimento das funções estáticas e motoras, do turgor, do panículo adiposo, do tônus muscular, do sistema ósseo e de todas as demais funções e proporcionar imunidade adequada, (Ibid, p.9). 2.2. A influência da hospitalização na criança Einloft, (1996, p.15), explicita que a hospitalização, pelas suas características, pode provocar alterações significativas no crescimento e desenvolvimento da criança. Seu ritmo de vida e seu crescimento, quando interrompidos, por qualquer desequilíbrio, podem deixar marcas profundas no seu desenvolvimento e família do doente. A doença leva a desequilíbrios físicos, emocionais e cognitivos, provocando estresse na criança, e conseqüentemente, na família. Sendo uma situação traumática, causando na criança um estado de insegurança e ameaça psíquica. Os pais ao enfrentarem a doença do filho, mobilizam muitos sentimentos, a culpa fica mais evidenciada; o medo da perda, ou seja, de que a criança venha a morrer, associado à insegurança em relação ao diagnóstico e prognóstico da doença, (Ibid, p.15). Podem-se acrescentar ainda problemas de ordem econômicas, todos estes fatores eclodem no momento da chegada ao hospital, gerando um clima de grande ansiedade para a criança e sua família. A hospitalização é evidenciada de distintas maneiras, considerando as peculiaridades da fase de crescimento e desenvolvimento da criança. Einloft (1996, p.15), explicita que para a criança pré-escolar e escolar o hospital é um local onde haverá rotinas limitadoras terapêuticas dolorosas, emoções de sofrimento e morte, que podem ser vivenciadas como castigo, agressão e abandono. Já para criança lactente, outros fatores são acrescidos, como dificuldades de comunicação, sendo o choro utilizado como recurso quase exclusivo. A organização mental da criança caracteriza-se pelo pensamento mágico, fazendo com que suas fantasias sejam vividas de forma muito intensa e real, de modo que a hospitalização pode vir a ser encarada como abandono e punição. Dois fatores que podem tornar a hospitalização um impacto mais forte são a condição física da criança no momento da internação e o tipo de terapêutica a ser utilizado. Verificou-se que a hospitalização, pela ansiedade que gera na criança e família, pode causar desorganização na percepção, compreensão e emoção da criança, e essa desorganização se intensifica, dependendo da fase evolutiva em que se encontra a criança. Outro fatores, como separação da família, ambiente estranho e exposição a procedimentos dolorosos, podem aumentar o estresse da criança, refletindo-se no seu desenvolvimento como um todo. Estudos mostram que a criança hospitalizada apresentam variáveis de peso, altura inferior a de crianças que não estão hospitalizadas. Cita-se o trabalho de Cavalcanti, onde se relata que as experiências dolorosas de hospitalização podem gerar, nas crianças, uma série de manifestações, como inapetência, perda de peso, agressividade, bem como falta de receptividade orgânica ao tratamento, (Ibid, p.15). A permanência da criança no hospital por períodos longos requer da equipe de saúde muita observação e zelo no planejamento e na execução dos cuidados, considerando que a hospitalização está vinculada a instabilidades fisiológicas da criança, ao drama da separação dos pais e ao contato com pessoas estranhas no ambiente hospitalar,( Ibid, p.15). De acordo com Einloft(1996, p.15), a criança enxerga o mundo, pensa, raciocina e usa a linguagem de maneira qualitativamente diferente em cada estágio do desenvolvimento cognitivo. A equipe de saúde deve utilizar a maneira pela qual a criança percebe o mundo e a sua habilidade para raciocinar, a fim de encorajá-la e procurar minimizar o seu sofrimento durante a hospitalização. A adaptação da criança no hospital é, por vezes, lenta e difícil, necessitando de muito apoio e carinho por parte da equipe de saúde. A hospitalização provoca trauma emocional importante na criança, danos graves à estrutura física, cognitiva da criança. Logo a equipe de enfermagem deve desenvolver atitudes e ações que visem a minimizar e/ou eliminar os elementos patogênicos. O cuidado e a ação educativa da equipe de saúde, adequadas à compreensão e às peculiaridades de cada criança, são fatores que auxiliam na adaptação ao hospital, favorecendo o relacionamento da criança com a equipe e estabelecendo um vínculo de confiança criança/família/equipe, (Ibid, p.15). 2.3. A criança doente De acordo com Einloft, (1996, p.28), na convivência com famílias e, em especial, com as mães de criança hospitalizadas por estarem gravemente enfermas, a equipe de enfermagem pode observar verbalizações indicando a percepção do caráter restritivo que a doença impõe às atividades diárias que seriam próprias da infância. As atividades de lazer, que na concepção das crianças lhe trazem tantas gratificações, também passam a sofrer influência das transformações físicas e comportamentais, bem como dos cuidados diários que passam a cercear muitos desejos infantis, (Ibid, p.28). E diante de tais privações na vida que seria própria da infância, as crianças (dependendo da idade em que se encontram) expõem questionamentos existências semelhantes aos que fazem parte do discurso das mães. Como: Por que, mãe, que tenho que ficar doente? Ou sou bonzinho e estou doente. Na convivência com os filhos doentes, os pais, aprendem que eles também vivem momentos diferentes em sua trajetória de sofrimento que se caracterizam por modos específicos de reagir às dificuldades. Os pais percebem sua responsabilidade pelas mudanças de comportamento das crianças, que decorre da forma de eles próprios se posicionarem e enfrentarem a doença, a qual é captada pelos filhos e filhas, (Ibid, p.28). Para Einloft,(1996, p.29), pais que já aprenderam a conviver com a doença das crianças alertam que faz-se necessário buscar entendimento para alterações de conduta de seus filhos, o que propicia compreender que manifestações de agressividade, revolta, intensa inconformidade ou severa apatia são reações naturais das crianças em situação incompreensível. Depois de entenderem a situação da patologia, assumem o compromisso de zelar não só pelo bem-estar emocional do seu filho. Acreditam que o diálogo afetivo, esperançoso e seguro representa uma das formas mais eficientes de auxiliar suas crianças a não esmorecerem diante do tratamento, da assistência hospitalar e da própria doença. Os pais precisam aprender a lidar com as dolorosas restrições ao cotidiano das crianças, a fim de mobilizarem suas energias não só para enfrentarem ao dor de ver o filho defrontando-se com tais impasses , como também para superarem o seu próprio desconforto e serem capazes de auxiliar a enfermidade e a morte, (Ibid, p.29). Logo a criança pode verbalizar o medo da morte, podendo até gritar durante determinados procedimentos, expressões como “ vocês vão me matar”. A compreensão da morte não é homogênea e acompanha a faixa etária da criança, as crianças entre três e cinco anos acreditam que seus pensamentos são suficientes para causar a morte e em consequência disso tem sentimentos de culpa, vergonha e castigo. Geralmente possuem uma noção da morte, significando apenas uma partida, uma espécie de sono, (Ibid, p.29). Podendo gerar o medo do desconhecido, ausência dos pais ou ansiedade por não entender sobre a patologia, porque está naquela condição, porque sente dor, causando dor emocional em seus pais, vergonha de estar doente pela visão da criança e pela visão dos pais de acharem que falharam com seus filhos deixando-o eles adoecerem. 2.4. A morte e suas fases psicológicas Para Eidilza,(1989, p.469), embora a morte seja um acontecimento natural da vida, nem sempre temos total entendimento sobre ela. Logo negar a morte, buscar eterna juventude são mecanismos que geram angústia, já que a realidade é contrária a fantasia. Diferente de outras culturas, para o homem ocidental é algo triste, dramático, ou castigo de Deus. Alguém que vive alguns dias, horas, poderá ter justificado muito mais a sua existência, pelo que fez em torno de si, pelas pessoas no meio das quais viveu. Alegar que a criança não teve a oportunidade de vida do adulto é uma afirmação limitada pela nossa escala de valores, que é também muito restrita. ( D’ ASSUMPÇÃO, 1984, p. 469 ). Segundo Eidilza,(1989, p.469), várias etapas podem ser vivenciadas pelo indivíduo frente a morte, como negação: Onde o indivíduo não aceita a morte falando que não pode ser verdade, deve ter sido engano. A negação é um mecanismo usado como defesa à percepção do estado mórbido. Logo depois vem a raiva onde o indivíduo se pergunta por que eu? Não poderia ser fulano? Nesta fase a equipe de enfermagem, médicos familiares são tratados com agressividade, questionados quanto a sua competência, a terapêutica utilizada pode ser vista como incorreta. Para o paciente é fundamental expressar a raiva para uma posterior aceitação da morte, (Ibid, p.469). Depois vem o estado da Barganha, onde o indivíduo almeja um prolongamento da vida ou dias sem dor, ou seja o indivíduo promete algo para Deus, como ser bonzinho, fazer algo em troca de sua saúde de volta. Com isso vem a depressão, que ocorre quando o paciente percebe que não pode mais negar a doença, devido a debilitação de seu organismo e necessidade do tratamento. Nesta fase a raiva e revolta cessam, dando lugar a um grande sentimento de perda, prestes a perder tudo e a todos que ama. Logo chega a aceitação do indivíduo perante a situação, onde a família necessita de mais ajuda do que o próprio paciente. Pois este é um estágio de fuga de sentimentos, é um período de paz em que as notícias do meio exterior não tem mais importância, conversas não são mais desejáveis. Onde há um momento em que a morte nada mais é do que um grande alívio, sendo mais fácil morrer. Porém um ponto de grande ansiedade seria o da separação do indivíduo de seus familiares, quando o doente toma consciência de sua condição de paciente terminal, ou da gravidade de sua doença, (Ibid, p.469). 2.5. A problemática da morte De acordo com Eidilza,(1989, p.470), falar da morte na infância é muito doloroso, pois esta fase nos inspira futuro, esperança, alegria. Logo a ansiedade que nos toma em relação ao paciente pediátrico terminal nos impossibilita de estarmos verdadeiramente ao seu lado. Precisamos de recursos internos e externos que nos facilitem a acompanhar este estágio, pois a depressão da criança não é aceita socialmente e é capaz de provocar rejeição dos adultos. Com isso a criança reprime seus sentimentos de medo e tristeza, com a perda da função que uma doença acarreta a criança tende a apresentar regressão de comportamento para compensar o controle e autonomia perdidos, (Ibid, p.470). Logo os profissionais de enfermagem devem compreender o homem como uma unidade biopsicosocial e espiritual, para favorecer uma melhor qualidade de vida, pois ajudar a criança que está morrendo é não deixá-la sozinha. A morte pode ser interpretada de diferentes formas segundo as fases evolutivas da criança. Até os três anos, a criança não tem desenvolvida a definição de tempo e outros conceitos. Por isso não compreende a relação de vida e morte. Falar sobre a morte não significa preocupação com a morte, nas brincadeiras a criança representa a morte como sono, imobilidade. Com essa idade a morte para ela pode gerar um medo, que seria representado pela separação dos adultos que a protegem e confortam. Eidilza, (1989, p. 471), explicita que de três a seis anos, a criança possui uma compreensão limitada do que é a morte, pode encará-la como um estágio em que se está menos vivo, ou sendo algo que acontece com os outros, podendo ser temporária, reversível, ela não é entendida como inevitável, há tendência de personalizar a morte, de que ela vem buscar alguém. Também pode estar ligado a velhice e ser resultado de agressão. Interpreta sua doença como tipo de punição por erros reais ou imaginários, o conceito pode estar associado a pensamentos mágicos e mistério. De sete a doze anos, a criança vê a morte como a cessação da vida, já sabe diferenciar do sono, aprende o significado da morte com base nas suas experiências pessoais, animais de estimação, membros da família, (Ibid, p.471). A televisão e os filmes contribuem para os conceitos de morte e para o conhecimento do significado da doença. Além disto, já tem domínio dos conceitos de tempo, finitude, lhe permitindo compreender que a morte é irreversível, acontece com todos e inclusive com ela. Pode ter muito medo e sensação de culpa, nesta etapa a idade entre sete e oito anos é decisiva porque a partir daí a morte é vista como negação da vida, (Ibid, p.471). De doze anos em diante compreende a morte como adulto, embora possa não compreendê-la como um fato que ocorre a pessoas que lhe são queridas.Ela quer viver e encara a morte como um obstáculo para a realização de seus objetivos, independência, sucesso. Ela teme morrer antes da realização, porém a morte é tida como distante. A criança pode captar a gravidade de sua situação de dois modos: o primeiro pela percepção de que se passa em torno dela, a magnitude dos cuidados, o pesar, a dor dos familiares, segundo pela capacidade do consciente interior que comunica ao consciente exterior o que se passa no seu corpo, (Ibid, p.471). Junto com a sensação da morte pode ocorrer a desmistificação do poder dos pais ou o seu fracasso em evitar a dor e o término da vida ou uma progressiva desilusão com os adultos nas suas vidas. 2.6. A família e o paciente Eidilza, (1989, p.472), explicita que para a família a perda de um filho é umas das experiências mais trágicas e aniquiladoras que um ser humano pode viver. A maneira pela qual o diagnóstico é comunicado aos pais tem importância vital na determinação de suas atitudes posteriores, se informados de forma abrupta ou de modo a eliminar qualquer esperança, poderão reagir a várias situações com extrema hostilidade. Segundo a autora, os sentimentos de culpa reais ou imaginários quase sempre estão presentes nos pais. Censuram-se por desleixo, omissão ou impotência, a morte da criança pode ser encarada pelos pais como forma de castigo por erros cometidos. A esperança é um direito de pais e filho, além do direito à verdade. Para se ter esperança é preciso ter confiança de que tudo está sendo tentado, não para a cura mas para o prolongamento do tempo em que possam estar juntos, reconfortar-se mutuamente, reorganizar forças para o momento final. A atitude dos circundantes é determinante. Se forem para sua concretização, existe o futuro e a esperança. Mas quando se faz todas as vontades, a criança é cercada de piedade e hipersolicitude, então a criança compreenderá que não existe mais esperança. ( EIDILZA, Maria, 1989, p.99) 2.7. Dor em UTI Pediátrica Para Einloft,(1996, p.515), a experiência da criança em UTI pediátrica é uma experiência cercada de ansiedade e medo. Inúmeros fatores contribuem para isso: a separação dos pais e a substituição de seus cuidados por pessoas estranhas, o ambiente desconhecido com aparelhos e ruídos diversos, iluminação permanente, manipulação agressivas e procedimentos invasivos, sendo a UTI pediátrica um local onde a criança deve ficar o menos tempo possível, porém as vezes isso não é possível, por isso focalizei a dor em UTI para este estudo. O tratamento e alívio da dor constitui-se num direito do ser humano, independente de sua idade. Logo tem alguns mitos, apesar da compreensão da dor nos demais pacientes pediátricos, as crianças sofrem com a inadequada abordagem terapêutica em função de conceitos errôneos mantidos por mitos e atitudes, complexidade da avaliação, limitações em pesquisa e treinamento inadequado. Algumas pessoas acreditam que “a criança não percebe a dor da mesma forma que o adulto”, sendo isso, um pensamento errôneo, já que é sabido que as vias da dor e os centros corticais e subcorticais necessários para perceber a dor estão bem desenvolvidos no final da gestação. Os sistemas neurológicos associados com a transmissão e a modulação da dor também estão funcionantes, (Ibid, p.515). Alguns dizem que”a criança não tem memória para a dor”, logo como os bebês não referem o desconforto sentido e as sensações posteriores a ele, a observação do comportamento dos pacientes no período próximo ao estímulo doloroso pode nos levar a inferir sobre sua repercussão, (Ibid, p.515). As alterações de comportamento (sono, ritmo alimentar) observadas em lactantes submetidos à circuncisão sem analgesia sugerem que o procedimento teve conseqüências que se estenderam por um período mais longo. Alguns acreditam que a criança metaboliza os analgésicos de maneira diferente do adulto, porém isso é errôneo, pois a meia-vida a morfina é mais longa e seu clearence diminuído em crianças abaixo de um mês. Em pacientes acima dessa idade, a farmacodinâmica da morfina é semelhante a do adulto e não há justificativa para decrescer a freqüência de administração de morfina, assim como não existem evidências de maior depressão respiratória nesse grupo de acordo com o manual de UTI Pediátrica. Para Einloft, (1996, p. 519), a dependência física em narcóticos na UTI, ocorre após um tempo curto de utilização da droga, porém dependência psíquica ( vício) é extremamente rara no uso hospitalar de narcóticos para o tratamento de dor. Não relatos específicos em crianças, mas a tendência é crer que seja ainda menor do que entre os adultos. Portanto, justificar o não uso da analgesia com narcóticos, em UTI Pediátrica, pensando no risco de dependência psíquica é um erro. No processo de abordagem da dor, é fundamental a capacidade de se detectar a sua presença, medir sua intensidade e determinar o seu significado. A avaliação da criança visa: detectar a presença da dor, avaliar o seu impacto no paciente e medir a eficácia da terapêutica instituída. Segundo Einloft, (1996, p.519), nas crianças maiores, essa avaliação é facilitada pela informação verbal que costuma se acompanhar de modificações no comportamento e alterações fisiológicas pelo estresse. As escalas utilizadas para quantificar a dor nesse grupo de pacientes são essencialmente modificações realizadas em escalas de adultos. Eventualmente, esses pacientes não informam sobre a realidade da dor que estão sentindo temendo sobre a forma como será tentado o alívio da mesma, algumas vezes envolvendo injeções intramusculares. Logo é necessário, que haja sensibilidade da equipe na detecção da dor, para o mais adequado tratamento. Tendo a enfermagem um papel muito importante neste aspecto, (Ibid, p.519). As crianças menores, no entanto, não conseguem relatar que estão sofrendo e não há índices comparáveis para refletir diretamente a percepção da dor. Choro e agitação são considerados sinais de possível dor por enfermeiros e médicos. Deve-se pensar também no paciente intubado, cujo choro não é audível e cujos movimentos não ocorrem em função de medicações sedativas, podem estar sofrendo dor. Podendo ser avaliados como não tendo dor, erroneamente. O comportamento de um lactente é umas das formas de avaliar o seu estado geral, tendo como avaliar: expressão facial, estado geral, movimentos com o corpo e choro. A avaliação fisiológica a estímulos dolorosos é mais objetiva e inclui medida de atividade cardíaca e respiratória, pressão arterial, gases arteriais, concentrações neuroquímicas e neuro-hormonais e sudorese palmar.Sendo importante, para aqueles pacientes que não conseguem informar o que estão sentindo, (Ibid, p.519). Einloft, (1996, p.520), explicita que além da dor que deve ser muito bem diagnosticada pela equipe de saúde na UTI, a enfermagem se depara com a questão da morte e seu caráter misterioso, sendo ainda mais revoltante, a morte na criança, pois ela é vista para nós como uma representação da vida, alegria, esperança futuro. De um modo geral, às crianças, sobretudo nas grandes cidades, não é permitido vivenciar a morte como um fato natural. O contato da criança da cidade com a morte acontece através da televisão, pelas noticias e filmes que mostram a guerra, atentados terroristas, fome. Assim, a única visão que lhe é dada, é uma visão trágica, dolorosa e deformada da morte. Segundo Einloft, (1996, p.520), quando a criança recebe a noticia de que alguém morreu, recebe respostas inadequadas, como “ papai do céu levou”, ou “ foi fazer uma grande viagem”, porém por mais duro que seja a verdade, a mentira da realidade, prejudica à criança, que além de ser afastada dos funerais, recebe uma mensagem negativa em relação à morte. Logo, o correto é encarar a morte como o ciclo natural da vida, e permitir que a criança participe dos funerais em todas as etapas que desejar, sem forçar, dar-lhe todas explicações que solicitar. A criança, também sente raiva dos pais, pois vive a enfermidade como conseqüência de falha na proteção que espera deles. A raiva cede lugar à culpa, visto que os mesmos pais odiados são também objeto de amor e desejo da criança, que vive então intensa ansiedade e medo da separação, (Ibid, p.520). A criança também se culpa pela desestruturação familiar, decorrente da doença, logo isso pode fazer a criança se entregar precocemente à morte, por não se sentir com direito à vida. No momento que um filho adoece, toda a família adoece, por mais estruturada que seja a família, os pais sofrem um grande impacto com a enfermidade da criança, sendo se sentindo culpados. De acordo com Einloft, (1996, p.532), muitos pais, sentem a necessidade de saber o máximo sobre a doença, o que lhes dá o sentimento de recuperar de algum modo o controle sobre a situação, na qual eles se sentem desamparados. O período final, quando a criança se desprende progressivamente do seu mundo, inclusive da família, talvez seja o de maior desgosto para os parentes. Se os profissionais conseguirem fazer com que entendam que só aqueles que aceitam a morte são capazes de se desapegar da vida lentamente e em paz, estarão prestando uma grande ajuda. Os irmãos, que sofrem a quebra da estrutura familiar, e a perda do seu irmão, não devem ser esquecidos. Pois eles podem sentir medo de adoecerem, ou apresentar culpa por se sentirem responsáveis pela doença do irmão. Deve-se esclarecer sobre o quadro da criança doente e permiti-lhes que a visitem, se assim desejarem. Por mais dura que seja a realidade, é sempre melhor do que as fantasias e mitos da patologia e a morte. Einloft, (1996, p.533), explicita que é fundamental que os profissionais de enfermagem, entendam seus próprios sentimentos em relação à morte, para entender os pacientes e familiares. A equipe que atende a criança, funciona como um anteparo para as ansiedades do paciente e família, assim necessitando estar preparada para receber essa carga emocional. Parte desse preparo consiste no conhecimento da doença, do paciente e dos mecanismos de defesa que costumam ser empregados por eles, familiares e pelos próprios componentes da equipe. É fundamental que se identifiquem as fantasias distorcidas da família, a equipe deve centrar suas intervenções na informação clara e objetiva sobre a doença do paciente e ao mesmo tempo respeitar que mantenham a esperança. Respostas comuns da equipe a essas vivências estressantes são de afastamento emocional do paciente, depressão, prejuízo do raciocínio clinico e desumanização do atendimento, além de conflitos entre os profissionais, (Ibid, p.533). O pessoal da enfermagem, pelo contato permanente, suporta maior tensão e se defronta com a realidade da morte em medida apenas igualada por poucas pessoas de outras profissões. Os auxiliares manifestam seus sentimentos de tristeza, angustia, impotência, raiva, medo, racionalização. Por falta de treinamento ou por dificuldades pessoais, a equipe pode reagir à doença de forma inadequada, ou negando sua gravidade, ou acusando outros profissionais, (Ibid, p.533). A criança com morte encefálica também provoca emoções intensas na equipe, o que se agrava por um sentimento de desamparo pela inexistência de uma legislação que disponha sobre morte encefálica em criança abaixo de dois anos. As doenças de maus prognósticos provocam dilemas, mitos. Sendo difícil estabelecer fronteiras entre o que é cuidar do paciente , aliviar o sofrimento, oferecendo-lhe uma morte digna e usar medidas decorrentes dos avanços tecnológicos. Porém, os sentimentos gerados na criança, família e equipe são os mesmos, o que muda é a forma de expressão desses sentimentos, de acordo com cada papel que o individuo exerce. Para Einloft, (1996, p.533), os pais devem ter livre acesso às UTIPs, o que possibilita um melhor equilíbrio na relação com o filho doente e também na relação com a equipe. A permanência dos pais nas UTIPs diminui suas fantasias e as da criança em relação a terapêutica, ao prognóstico e à própria morte. Lembrando que sempre, quando medicamente não há nada a fazer, humanamente há muito o que fazer no sentido de ajudar a criança a acabar de viver com dignidade e também ajudar a família a encarar a situação da perda. 2.8. Assistência da equipe de enfermagem com a criança De acordo com Eidilza, (1989, p. 473), o trabalho com pacientes terminais leva o profissional a uma confrontação com a própria mortalidade, com suas limitações e sua falta de onipotência. Os sentimentos podem variar entre culpa, depressão, tristeza, ansiedade e identificação com o paciente. Como resultado desta problemática podem surgir o atendimento frio e impessoal, a fuga às perguntas do paciente e aos seus pedidos de empatia/socorro. A enfermagem ocupa uma posição-chave em virtude de sua proximidade emocional e espacial durante a hospitalização de crianças com problemas terminais. Somente o indivíduo que estiver seguro em relação ao seu próprio sentimento, com formulação de uma filosofia própria, com atitudes normais diante da vida e da morte, terá atingido o estágio de capacidade de compreensão e ajuda a terceiros. ( TAKEDA, pág 473, 1985) Embora possamos também estar dominados por sentimentos de onipotência e impotência, a proposta assistencial de enfermagem há muito vem perseguindo a qualidade e não a quantidade da vida. Não existe nem deve existir uma receita de assistência, já que todos somos únicos em cada situação, (Ibid, p.473). É possível, porém, definir a partir de nossa experiência e do estudo dos textos dos autores mencionados linhas de assistência que nos norteiam na busca desta qualidade de vida. Como linhas assistenciais é importante ressaltar alguns aspectos, como oferecer a equipe de enfermagem oportunidades de aprender a discutir sobre a problemática da morte. Definir objetivos a serem perseguidos junto ao paciente terminal e sua família, é necessário um grupo consciente, integrado em suas ações. Prestar atenção à linguagem verbal e não-verbal do paciente, ouvir e a partir daí é possível verificar a situação da relação entre pais e filhos e as fases em que se encontram no processo vivencial da morte, (Ibid, p.473). Aceitar a negação, não destruir as defesas da criança, nem da família, aceitar a raiva e ajudar a criança a exprimi-la através de canais positivos. Estar ciente de que a cólera pode-se dirigir a outros membros da família, à equipe de enfermagem e a outras pessoas implicadas. Reconhecer que no período da barganha o paciente e a família estão recuperando forças, ajudar a família a aceitar a criança que não quer falar e que rejeita ajuda. Tranqüilizar a criança, demonstrar que suas sensações são compreendidas, (Ibid, p.473). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Espera-se, em nossa sociedade, que as crianças vivam mais que seus pais, sendo que, quando a morte acontece, normalmente tem como causas traumas, doenças congênitas, prematuridade extrema, desordens hereditárias ou doenças adquiridas. A morte de uma criança quando sobrevêm, vai representar uma tragédia na vida da família. As causas de morte na faixa etária pediátrica são substancialmente diferentes das causas de óbito da população adulta, sendo que os protocolos de atendimento disponíveis para os adultos são freqüentemente inapropriados para a utilização nos pacientes pediátricos. A equipe de saúde que assiste essas crianças e suas famílias, deve estar preparada para identificar tais fatores, e intervir na assistência. A qualidade dessa assistência está relacionada com o preparo específico desses profissionais, devendo os profissionais de enfermagem ficarem alerta para reconhecer as manifestações verbais e não-verbais da dor do corpo e do sofrimento psicológico, respeitar a forma da criança de enfrentá-los e acreditar nela. Cabe a equipe identificar, os fatores responsáveis por essas manifestações, bem como as condutas que poderão diminuí-los, entre elas a orientação, preparo prévio da patologia de cada criança hospitalizada, todo ciclo da doença até a morte. Para ajudar a família a identificar anseios e dúvidas em relação ao tratamento da criança, para melhor confortar a criança nessa etapa, humanizar seu cuidado. Mostrar aos pais que eles não tem culpa pela a doença de seu filho, que não devem transparecer essa tristeza, mesmo sendo difícil para sua criança, pois mesmo sendo incompreensível a problemática de que seu filho está sofrendo e não merece isso. Os pais devem dar atenção, carinho e muito amor a esta criança que veio ao mundo e não teve tempo de desfrutar de todas as etapas de sua vida. Neste momento de crise, determinado pela doença e hospitalização, a criança necessita, basicamente, de apoio e amor materno. A ausência da mãe, ou da família, leva a criança a sentir-se abandonada gerando graves conseqüências, como ansiedade, agressividade, choro, por isso é de grande importância um ambiente criativo para que a criança continue a desenvolver suas habilidades, táteis e sensoriais. Estudos mostram que as visitas tornam a criança mais segura e confiante, mínimo de ruídos é importante no seu sono e cuidados paliativos. A higienização, a escovação dos dentes, o cuidado das roupas do próprio hospital que as crianças utilizam é de extrema valia, informar também aos pais em relação a infecção hospitalar, sendo uma infecção grave, de tratamento difícil e que deve ser explicada aos pais e visitante que entram na enfermarias ou UTIs pediátricas para visitar suas crianças. Devendo ser informados da importância da lavagem das mãos antes de entrar no setor e tocar nas suas crianças, não sentar na cama do paciente, não comer de sua comida, para colaborar para a prevenção e controle de complicações piores. Para que sua etapa final seja proporcionada, apesar da doença, de uma maneira tranqüila, serena, de muito cuidado pelos profissionais de enfermagem, junto com sua família que zelaram desde da sua concepção até o estágio final de suas vidas, que é a morte. Sendo muito importante, este estágio ser concretizado de uma maneira digna, amorosa e com muito apoio psicológico perante a equipe, para a criança e sua família, que neste momento, precisa de tanto cuidado quanto as crianças que chegam a essa etapa da vida, antes mesmo de poderem brincar, ou chegar na fase escolar, adolescência, fase adulta da vida, sendo limitadas pela patologia que a acometem. 4. REFERÊNCIAS ASSUMPÇÃO, E. A. – Tanatologia e o doente terminal. Diálogo Médico, 10 (2): 2236, 1984. BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano- compaixão pela terra. Rio de Janeiro: Vozes, 10 ed, 1999. BRUNNER, L. S. e SUDDARTH, D. S. – Prática de Enfermagem. 2 ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980. EIDILZA, MARIA S. A Enfermagem em Pediatria e Puericultura. 1989. EINLOFT, LIANE – Manual de enfermagem em UTI Pediátrica. 1996. MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Atlas. 4 ed. 1999. PESSINI, Leo; BERTACHINI, Luciana. Humanização e Cuidados Paliativos. São Paulo: Edições Loyola, 2004. ANEXO A DECLARAÇÃO DE AUTORIA Eu, Polyanna Cotrim de Pinho, RG 09533447-0, declaro, para os devidos fins e sob as penas da lei, que o trabalho intitulado: A dificuldade do enfermeiro em lidar com o paciente pediátrico terminal é de minha autoria, estando a Faculdade de Enfermagem Luiza de Marillac- USC autorizada a divulgá-lo, mantendo cópia em biblioteca, podendo inclusive publicá-lo em revista e boletim da instituição, indicando a devida supracitada, sem ônus referentes a direitos autorais. Rio de Janeiro, 26 de Novembro de 2007. _____________________________________ Polyanna Cotrim de Pinho ANEXO B Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados. Visando nortear a conduta dos profissionais de saúde no ambiente hospitalar a Sociedade Brasileira de Pediatria elaborou e apresentou o texto abaixo, na vigésima sétima Assembléia Ordinária do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA - com sede no Ministério da Justiça em Brasília, aprovado por unanimidade e transformado em resolução de número 41 em 17 de outubro de 1995. 1. Direito a proteção à vida e à saúde, com absoluta prioridade e sem qualquer forma de discriminação. 2. Direito a ser hospitalizado quando for necessário ao seu tratamento, sem distinção de classe social, condição econômica, raça ou crença religiosa. 3. Direito a não ser ou permanecer hospitalizado desnecessariamente por qualquer razão alheia ao melhor tratamento de sua enfermidade. 4. Direito a ser acompanhado por sua mãe, pai ou responsável, durante todo o período de sua hospitalização, bem como receber visitas. 5. Direito a não ser separado de sua mãe ao nascer. 6. Direito a receber aleitamento materno sem restrições. 7. Direito a não sentir dor, quando existam meios para evitá-la. 8. Direito a ter conhecimento adequado de sua enfermidade, dos cuidados terapêuticos e diagnósticos a serem utilizados, do prognóstico, respeitando sua fase cognitiva, além de receber amparo psicológico, quando se fizer necessário. 9. Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do curriculum escolar, durante sua permanência hospitalar. 10. Direito a que seus pais ou responsáveis participem ativamente do seu diagnóstico, tratamento e prognóstico, recebendo informações sobre os procedimentos a que será submetido. 11. Direito a receber apoio espiritual e religioso conforme prática de sua família. 12. Direito a não ser objeto de ensaio clínico, provas diagnósticas e terapêuticas, sem o consentimento informado de seus pais ou responsáveis e o seu próprio, quando tiver discernimento para tal. 13. Direito a receber todos os recursos terapêuticos disponíveis para sua cura, reabilitação e ou prevenção secundária e terciária. 14. Direito a proteção contra qualquer forma de discriminação, negligência ou maus tratos. 15. Direito ao respeito a sua integridade física, psíquica e moral. 16. Direito a prevenção de sua imagem, identidade, autonomia de valores, dos espaços e objetos pessoais. 17. Direito a não ser utilizado pelos meios de comunicação, sem a expressa vontade de seus pais ou responsáveis, ou a sua própria vontade, resguardando-se a ética. 18. Direito a confidência dos seus dados clínicos, bem como Direito a tomar conhecimento dos mesmos, arquivados na Instituição, pelo prazo estipulado por lei. 19. Direito a ter seus Direitos Constitucionais e os contidos no Estatuto da Criança e Adolescente, respeitados pelos hospitais integralmente. 20. Direito a ter uma morte digna, junto a seus familiares, quando esgotados todos os recursos terapêuticos disponíveis.