O processo de alienação e consciência por meio de análise dos personagens do filme Wall-e Talita Damaceno Rodrigues Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, SP 1. Objetivos Analisar o filme Wall-E (EUA, Andrew Stanton, 2008) tendo em vista a trajetória de tomada de consciência dos personagens através da trama, em relação ao mundo que os cerca. Interpretar a relação entre o filme e a sociedade a partir do conceito de alienação. 2. Métodos e procedimentos A pesquisa se baseia na metodologia de análise fílmica formulada nos trabalhos de Ismail Xavier . Segundo o ponto de vista aqui apresentado, o filme representa um certo modo de funcionamento do mundo social, na forma dramática. Por isso, nesta investigação seguimos a trajetória de cada personagem da trama, procurando os motivos pelos quais eles “abrem os olhos” para sua realidade, o modo como reagem às descobertas e as decisões finais pela mudança ou manutenção do status quo. Além disso, foi feita leitura da bibliografia sobre o filme, de produção cinematográfica, e definições do conceito de “alienação” em dicionários de filosofia e sociologia. 3. Resultado Wall-E narra a história de um robô que tem a missão de limpar o lixo que tornou a Terra inabitável. Enquanto trabalha, a humanidade é transferida para uma nave espacial. O problema que impulsiona a trama é que a missão falha, Wall-E fica sozinho e a humanidade, fica totalmente dependente das máquinas. O filme se divide em quatro blocos narrativos: No primeiro vemos o protagonista Wall-e sozinho, recolhendo o lixo e colecionando coisas que encontra no meio dele e lhe chamam a atenção. No segundo temos a chegada de EVA, uma robô que vem em uma nave, e se torna a paixão de Wall-E. Este esquece suas obrigações, passa a observá-la e acaba indo com ela para o espaço. No terceiro bloco eles chegam à nave onde os seres humanos estão hospedados. Vemos pessoas gordas, descaracterizadas que, em busca de conforto, ficam dependentes das máquinas, e passam a ver o mundo através delas. Também conhecemos AUTO, o piloto automático. Ele é quem de fato comanda a nave. Ainda nesse bloco começa a percepção das pessoas acerca da realidade ao redor, a vontade de conhecer o passado da humanidade e o sonho de reconstruí-lo. Essa virada começa quando EVA traz uma planta que encontrou na terra, que é a chave para que a nave mude de trajetória e siga de volta para a terra. No quarto e último bloco vemos a batalha travada entre a humanidade e AUTO. O piloto automático está programado para impedir que nave volte ao planeta Terra. Nesse momento ficamos sabendo do fracasso da missão de limpeza, e da decisão das pessoas da época em que a idéia foi concebida (700 anos antes) em não voltar. 4. Conclusão Seguindo esta análise, a narrativa dramática se estrutura em torno da alienação dos personagens, e do seu processo de tomada de consciência. O primeiro que faz esse movimento é Wall-E que, quando encontra EVA, deixa suas obrigações para segui-la. Depois os seres humanos, que até então enxergam o mundo através das máquinas, começam a perceber sua realidade. Por intervenções de Wall-E, que várias vezes desliga os computadores das pessoas, elas passam a ver mais longe, ver que a pessoa com quem conversa por videoconferência está bem ao seu lado. Essa percepção faz com que, ao final, eles se unam e lutem para voltar à Terra e recomeçar a humanidade. AUTO permanece alienado à sua programação inicial até o fim, quando é desligado pelo comandante da nave, que assume então o leme. EVA muda sua percepção quando se dá conta do amor que Wall-e sente por ela. Embora o sentimento de Wall-e e EVA tenha sido a motivação para a tomada de consciência deles, essa consciência permanece um pouco limitada. Eles passam a agir de modo a proteger um ao outro, sem grande envolvimento com o problema coletivo. 5. Referências Bibliográficas Dicionário do pensamento marxista, Tom Bottomore, ed. Zahar.