AVALIAÇÃO DO EFEITO DA METFORMINA NO CRESCIMENTO TUMORAL E NAS ALTERAÇÕES METABÓLICAS HEPÁTICAS INDUZIDAS PELO TUMOR WALKER-256 Winny Beatriz de Souza (PIBIC/UEL- Fundação Araucária), Flaviane de Fátima Silva, Helenir Medri de Souza (Orientadora), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Londrina/ Departamento Fisiológicas/ Centro de Ciências Biológicas, Londrina, PR. de Ciências Área e sub-área do conhecimento: Ciências Biológicas/Fisiologia Palavras-chave: Câncer, perfusão de fígado, alterações metabólicas. Resumo Portadores de câncer apresentam uma síndrome complexa (caquexia), caracterizada por acentuado catabolismo de proteínas e lipídeos, que resulta em perda de tecido muscular e adiposo e de peso corpóreo. A resistência insulínica parece colaborar para esse estado hipercatabólico e desenvolvimento da caquexia. Assim, é possível que terapias que melhorem a sensibilidade à insulina (INS) possam amenizar a perda de massa corporal e outras alterações metabólicas associadas à caquexia do câncer. Este estudo investigou os efeitos da metformina (MET), um fármaco sensibilizador da INS, isolada ou associada à INS, sobre o crescimento tumoral e alterações metabólicas hepáticas induzidas pelo tumor Walker-256. A MET (300 ou 500 mg.kg-1, oral) e MET+INS (NPH, 1,0 UI.kg-1, sc) foram administradas uma vez ao dia, por 12 dias, iniciando o tratamento no dia da inoculação das células tumorais. A MET e MET+INS não alterou o crescimento tumoral, a inibição da glicólise e neoglicogênese e nem afetou glicogenólise. Concluiu-se que o tratamento com MET e MET+INS não teve efeito sobre as anormalidades hepáticas induzidas pelo tumor-Walker-256. Introdução e objetivo A caquexia do câncer tem como característica a perda progressiva do peso corpóreo, com predomínio do catabolismo e redução do anabolismo, havendo alterações no metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios, com intensa perda de massa muscular e adiposa (1). Um achado comum que pode contribuir para a caquexia do câncer é a resistência periférica à INS, visto que a INS tem importantes efeitos anabólicos e anti-catabólicos. Portanto, é possível que o uso de agentes sensibilizadores da INS, como a MET (Glifage®), possa ter efeitos benéficos na resistência à INS e em algumas alterações metabólicas associadas ao câncer. A MET é um antidiabético com capacidade de aumentar a ligação INS-receptor e a atividade tirosino-quinase do receptor de INS no músculo e fígado, aumentando a captação de glicose pelos tecidos. O objetivo deste estudo foi investigar os efeitos da MET e MET+INS sobre o crescimento tumoral e alterações metabólicas hepáticas induzidas pelo tumor Walker-256. Materiais e métodos Os procedimentos com os animais foram aprovados pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal da Universidade Estadual de Londrina. Foram usados ratos machos Wistar (220-230 g) saudáveis (RS) e portadores de tumor Walker-256 (RPT), tratados com MET ou MET+INS, ou não-tratados. Para a implantação do tumor foram inoculadas 8x10 7 células Walker-256 (sc) no flanco direito dos ratos. Os RS foram inoculados com PBS. Os RPT foram tratados com MET (300 ou 500 mg.kg-1, oral) e MET+INS (NPH, 1,0 UI.kg-1, sc), a partir do dia da inoculação das células tumorais. Ratos controles (RPT ou RS) receberam veículo no lugar de MET ou INS. Os experimentos foram realizados 12 dias após os tratamentos. No 12º dia, os ratos foram submetidos à perfusão de fígado com o tampão Krebs/Henseleit-bicarbonato. Para a perfusão, ratos anestesiados com tiopental (50 mg/Kg) foram laparatomizados para canulação da veia porta (para a entrada do líquido de perfusão) e da veia cava inferior para a coleta do líquido de perfusão efluente do fígado, o qual foi usado para avaliação da glicólise a partir da glicose exógena, da neoglicogênese a partir da alanina e da produção de glicose e glicogenólise basal. A glicólise foi calculada como: ½ produção de piruvato + lactato e a glicogenólise como: produção de glicose + ½ produção de piruvato + lactato liberados no perfusado. Os protocolos de perfusão do fígado estão ilustrados nas figuras. Após a perfusão o tumor foi dissecado e pesado para avaliação do crescimento tumoral. As concentrações de glicose (2), lactato (3) e piruvato (4) no perfusado foram mensuradas por métodos enzimáticos. Os resultados foram analisados por Anova One-Way seguido de Tukey utilizando os programas Statistics 6 ou GraphPad Prism 5.0. Os dados foram expressos como média ± EPM e ao nível de significância de 5% (p<0,05). Resultados e discussão Os tratamentos com MET (300 ou 500 mg.kg-1), isoladas ou associada com INS, não alteraram o crescimento do tumor (Fig 1). Os RPT apresentaram menor produção de lactato (Fig 2A), piruvato (Fig 2B) e glicólise (Fig 2C) a partir da glicose exógena, em relação aos RS. Estes resultados são consistentes com a menor atividade da glicoquinase já observada nestes animais e indicam menor captação de glicose pelo fígado dos RPT. Os tratamentos com MET (500 mg.kg-1), isolado ou associado com a INS, não tiveram efeitos sobre esses parâmetros (Fig 2D). Os RPT apresentaram redução da produção de glicose (Fig 3A) e glicogenólise (Fig 3B) em comparação aos RS, possivelmente devido ao menor conteúdo de glicogênio no fígado. O tratamento com MET (500 mg.kg-1) não alterou estes parâmetros, mas o tratamento com MET+INS aumentou a produção de glicose e glicogenólise dos RPT, em relação aos RS (Figs 3C, 3D), possivelmente porque a INS aumentou o conteúdo de glicogênio e a MET, por ativação da proteína quinase dependente de AMP (AMPK), estimulou a glicogenólise. Em comparação aos RS, os RPT apresentaram inibição da neoglicogênese a partir da alanina, como visto pela menor produção hepática de glicose (Fig 4A), lactato (Fig 4B) e piruvato (Figs 4C). O tratamento com MET (500 mg.kg -1) ou MET+INS não alterou a produção de glicose, mas aumentou a produção de lactato e piruvato no fígado dos RPT (Fig 4D), efeito que pode ser resultante da ação estimulatória da MET no catabolismo da glicose (glicólise) proveniente da neoglicogênese. Conclusão Tratamento com MET, isolado ou associado à INS, não reduziu o crescimento tumoral, não alterou a inibição da glicólise e neoglicogênese e nem teve efeito sobre a glicogenólise hepática. Agradecimentos Fundação Araucária e Universidade Estadual de Londrina. Referências 1. TISDALE, M.J. Are tumoral factors responsible for host tissue wasting in cancer cachexia? Future Oncology, v. 6, n. 4, p. 503-513, 2010. 2. GUTMANN, I.; WAHLEFELD, W. L-(+)-lactate. Determination with lactate dehydrogenase and NAD. In: Bergmeyer, H.U. Methods of enzymatic analysis. Academic press, p. 1464-1472, 1974. 3. CZOK, R.; LAMPRECHT, W. Pyruvate, phosphoenolpyruvate and Dglycerate-2-phosphate. In: Bergmeyer, H.U. Methods of Enzymatic Analysis. Academic Press, p. 1446-1448, 1974. 4. Bergmeyer HU, Bernt E. Determination of glucose with glucose-oxidase and peroxidase. Met Enz Anal 1974;2:1205-15. Figura 1. Massa tumoral (n=8 a 23); Figura 2.Produção de lactato (A), piruvato (B), glicólise (C) e áreas sob as curvas (AUCs) (D) (n=5 a 6); Figura 3. Produção de glicose (A), glicogenólise basal (B) e valores médios de produção de glicose (C) e glicogenólise (D) (n=5 a 6); Figura 4. Produção de glicose (A), lactato (B) e piruvato (C) a partir da alanina e AUCs (D) (n=3 a 7); Em fígados de ratos portadores de tumor Walker-256 tratados com metformina 300 (Tumor + Met 300) e/ou 500 (Tumor + Met 500 mg.kg-1) ou com metformina + insulina (Tumor + Met + INS) ou veículos, durante 12 dias. Resultados analisados por ANOVA One-Way seguido de Tukey. *p<0,05; **p<0,01 e ***p<0,001 versus Saudável. #p<0,05 e ###p<0,001 versus Tumor.