UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUI TAMIRES SIMIONATO PRODUTO DE TECNOLOGIA ASSISTIVA DIRECIONADO A PACIENTES COM HEMIPLEGIA ESPÁSTICA DECORRENTE DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO ISQUÊMICO TROMBÓTICO Ijuí, 2012 TAMIRES SIMIONATO PRODUTO DE TECNOLOGIA ASSISTIVA DIRECIONADO A PACIENTES COM HEMIPLEGIA ESPÁSTICA DECORRENTE DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO ISQUÊMICO TROMBÓTICO Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Design de Produto da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí, como requisito final à obtenção do título de Bacharel em Design de Produto (Designer). Orientador: José Paulo Medeiros da Silva Ijuí, 2012 AGRADECIMENTOS Agradeço minha família, meus pais Evaldo e Terezinha Rita, sempre preocupados com minha alimentação e minhas horas de sono. Minha irmã, Dra. Elisa, Fisioterapeuta, fundamental na construção desta pesquisa. Minha sobrinha Giulia, que sempre me cobrou terminar logo o trabalho para podermos brincar. Obrigada por toda força e confiança, obrigada por não medirem esforços para me apoiar, pela preocupação, pelas orações e principalmente, por compreenderem minha ausência e me amarem como eu os amo, incondicionalmente. Ao Professor José Paulo Medeiros da Silva, meu orientador, por todo incentivo e pela repreensão na hora certa. Agradeço a paciência, as longas orientações, o incentivo, a coragem e auto-estima, agradeço por enxugar minhas lágrimas e me acalmar nos momentos de desespero. Obrigada por me mostrar o caminho para o real trabalho do Designer. À Professora Juliana de Moura Caetano, que iluminou minha caminhada durante os últimos semestres de faculdade e pela contribuição para a escolha do tema deste trabalho. Obrigada por me mostrar o valor do Design. À todos os meus colegas e ex-colegas de curso de Design, que estando perto ou longe me escutaram, por sempre me proporcionarem muita alegria. Obrigada pelas festas, trotes, cochichos, discussões e principalmente por podermos dividir nossas opiniões construindo nosso conhecimento. À todos os meus amigos dentro e fora da universidade, que ouviram minhas histórias, meus lamentos, minhas explicações e desculpas. Obrigada por me convidarem para festas e por não me convidarem para festas, por sempre lembrarem que eu estive aqui esse tempo todo e compreenderem a importância de estarmos juntos, em todos os momentos. “Força sempre!” (Renato Russo) RESUMO O presente trabalho apresenta a construção de um produto de tecnologia assistiva direcionado a pacientes acometidos de Acidente Vascular Encefálico Isquêmico Trombótico. As conseqüências do AVE podem ser o falecimento ou a hemiplegia. O paciente necessita de tratamento de fisioterapia e terapia ocupacional imediatamente após o acometimento, para facilitar a recuperação dos movimentos do lado afetado. A partir do 3º estágio de recuperação, o paciente move ombro e cotovelo, podendo utilizar produtos de tecnologia assistiva para auxiliar em suas tarefas diárias. A proposta deste trabalho é um produto que auxilie o paciente no processo de alimentação, trata-se de um adaptador ergonômico de talher. Depois de realizadas as análises da evolução dos talheres, dos produtos já existentes no mercado, de observar sessões de fisioterapia e de realizar entrevistas informais com profissionais da área da saúde, pode-se definir como o produto deveria apresentarse quanto à forma, ergonomia, morfologia, estrutura e materiais. Geradas as alternativas e criado o produto, ficou comprovada a valia do mesmo no auxílio à alimentação do paciente e na conquista de autonomia e auto-confiança trazida ao paciente. Concluindo-se então, que o design pode estar inserido na vida social das pessoas, proporcionando uma melhoria em sua qualidade de vida. PALAVRAS-CHAVE: AVE, Produto, Tecnologia Assistiva, Ergonomia, Design. ABSTRACT This paper presents the construction of an assistive technology products targeted to patients suffering from thrombotic Ischemic Stroke. The consequences of stroke can be the death or hemiplegia. The patient needs physical therapy and occupational therapy immediately after the onset, to facilitate the recovery of movement on the affected side. From the 3rd stage of recovery, the patient moves shoulder and elbow, and may use assistive technology products to assist in their daily tasks. The purpose of this paper is a product which aids the patient in the feeding process, this is an adapter ergonomic utensil. After completing the analysis of the evolution of cutlery products already on the market, to observe therapy sessions and conduct informal interviews with health professionals, can be defined as the product should present themselves in form, ergonomics morphology, structure and materials. Generated alternatives and created the product, it was proved the worth of it in helping to feed the patient and achieving autonomy and self-confidence brought to the patient. Concluding then that design can be inserted into the social life of the people, providing an improvement in their quality of life. KEYWORDS: AVE, Product, Assistive Technology, Ergonomics, Design LISTA DE FIGURAS Figura 01: Exemplos de movimento fino ............................................................ ...19 Figura 02: Exemplos de pegas .............................................................................. 20 Figura 03: Taco ..................................................................................................... 23 Figura 04: Diferentes tipos de colheres ................................................................. 23 Figura 05: Faca de sílex com cabo de chifre bovino ............................................. 24 Figura 06: Adaga medieval com aproximadamente mil anos. ............................... 24 Figura 07: Camponeses utilizando ancinho e Netuno, com seu tridente ............... 25 Figura 08: Mosaico de Teodora de Bizâncio ......................................................... 26 Figura 09: Diferentes tipos de garfos .................................................................... 27 Figura 10: Pintura realista de Catarina de Médici .................................................. 28 Figura 11: Diferentes tipos de cabos com diferentes materiais ............................. 28 Figura 12: Mesma linha com faca para diferentes funções ................................... 29 Figura 13: Colheres com diferentes tipos de cabo ................................................ 30 Figura 14: Produto 1 .............................................................................................. 31 Figura 15: Produto 2 .............................................................................................. 31 Figura 16: Produto 3 .............................................................................................. 32 Figura 17: Produto 4 .............................................................................................. 32 Figura 18: Produto 5 .............................................................................................. 33 Figura 19: Produto 6. ............................................................................................. 33 Figura 20: Produto 7 .............................................................................................. 34 Figura 21: Produto 8 .............................................................................................. 34 Figura 22: Produto 9 .............................................................................................. 35 Figura 23: Produto 10 ............................................................................................ 35 Figura 24: Mão com hemiplegia espástica, dedos em garra, punho hipotônico. ... 39 Figura 25: Ângulos de movimentos da mão .......................................................... 40 Figura 26: Medidas da mão masculina espalmada ............................................... 41 Figura 27: Medidas da mão masculina vista lateralmente ..................................... 41 Figura 28: Medidas da mão masculina em flexão circular ..................................... 42 Figura 29: Medidas da mão feminina espalmada. ................................................. 42 Figura 30: Medidas da mão feminina vista lateralmente ....................................... 43 Figura 31: Medidas da mão feminina em flexão circular ....................................... 43 Figura 32: Paciente simulando alimentação .......................................................... 51 Figura 33: Proposta 1 ............................................................................................ 53 Figura 34: Proposta 2 ............................................................................................ 54 Figura 35: Proposta 3 ............................................................................................ 54 Figura 36: Proposta 4. ........................................................................................... 55 Figura 37: Proposta 4, escolhida ........................................................................... 55 Figura 38: Adaptador, vista frontal ilustrada .......................................................... 57 Figura 39: Adaptador, vista superior ilustrada ....................................................... 57 Figura 40: Adaptador, vista lateral ilustrada. ......................................................... 58 Figura 41: Adaptador com peça de talher, vista frontal ilustrada ........................... 58 Figura 42: Adaptador com peça de talher, vista superior ilustrada ........................ 59 Figura 43: Adaptador com peça de talher, vista lateral ilustrada ........................... 59 Figura 44: Adaptador com peça de talher, perspectiva isométrica ilustrada ......... 60 Figura 45: Material para construção do Mock Up .................................................. 61 Figura 46: Mock Up envolto em massa de modelar escolar .................................. 62 Figura 47: Modelo real de baixa fidelidade ............................................................ 62 LISTA DE TABELAS Tabela 01: Análise Estrutural ............................................................................ ...36 Tabela 02: Análise Funcional ............................................................................... 37 Tabela 03: Análise Morfológica ............................................................................. 37 Tabela 04: Lista de Verificação ............................................................................ 38 SUMÁRIO CAPÍTULO I ......................................................................................................... 12 CAPÍTULO II ........................................................................................................ 16 2.1 O Acidente Vascular Encefálico (AVE) .................................................. 16 2.1.1 Tipos de AVE .................................................................................... 17 2.1.2 Hemiplegia espástica ........................................................................ 19 2.2 Evolução histórica do talher .................................................................. 22 2.2.1 Talheres e Tecnologias Assistivas (TA) ............................................ 30 2.2.2 Análise Estrutural .............................................................................. 36 2.2.3 Análise Funcional ............................................................................. 36 21.2.4 Análise Morfológica ........................................................................ 37 2.2.5 Análise em relação ao uso ................................................................ 38 2.3 Ergonomia e Antropometria ................................................................... 40 CAPÍTULO III ....................................................................................................... 45 3.1 Caracterização do estudo ...................................................................... 45 3.2 Métodos e Técnicas ................................................................................ 46 3.2.1 Levantamento de Dados ................................................................... 46 CAPÍTULO IV ....................................................................................................... 49 4.1 Estudo de Campo .................................................................................... 49 4.1.1 Paciente Nº1 ..................................................................................... 50 4.1.2 Paciente Nº2 ..................................................................................... 51 4.2 Resultados do Estudo de Campo .......................................................... 52 4.3 Geração de Alternativas ......................................................................... 53 4.4 Desenho Técnico .................................................................................... 56 4.5 Desenho Ilustrativo ................................................................................. 56 4.6 Modelo real de baixa fidelidade (Mock Up) ............................................ 60 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 63 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 65 Anexo I: Prancha I, Pega ergonômica .............................................................. 68 Anexo II: Prancha II, Garfo.................................................................................. 69 Anexo III: Prancha III, Colher .............................................................................. 70 Anexo IV: Prancha IV, Faca ................................................................................ 71 Anexo V: Prancha V, Garfo Montado ................................................................. 72 Anexo VI: Prancha VI, Colher Montada ............................................................. 73 Anexo VII: Prancha VII, Faca Montada............................................................... 74 12 CAPÍTULO I Popularmente conhecido como “derrame cerebral”, o Acidente Vascular Encefálico (AVE) é a terceira causa de morte em vários países do mundo e a principal causa de incapacitação física e mental (DAMIANI & YOKOO, 1995). Dados do Ministério da Saúde (2011) mostram que o Brasil possui a quarta maior taxa de mortalidade decorrente de AVE, entre os países da América Latina. Em 2009, o Ministério anunciou 68,9 mil óbitos por AVE. No primeiro ano pós-AVE, 40% dos pacientes acometidos têm óbito registrado. Dos pacientes que sobrevivem 30% necessitam de ajuda para caminhar e 70% não retornam ao trabalho ou a qualquer atividade antes exercida. O que caracteriza os sintomas de AVE é a área atingida do cérebro, bem como seu tamanho, o tipo e o estado geral de saúde do paciente (YOKOO & DAMIANI, 1995). A sequela mais comum depois de um AVE é a hemiplegia (paralisação de um dos lados do corpo), além de distúrbios cognitivos, perceptivos e comportamentais, incontinência urinaria e fecal, acometimento da fala visão e audição e ausência de reações automáticas. A recuperação motora pode ser total, mas na maioria das vezes é parcial e muitas vezes faltam elementos que auxiliem o paciente a exercer funções sem ajuda, tudo depende da intensidade do AVE ao que o paciente foi acometido (BOBATH, 2001). A adaptação de objetos utilizados no dia-a-dia de pessoas com deficiência, sejam elas mentais, auditivas, visuais ou motoras, são chamadas de Tecnologias Assistivas (TA). Esse termo surgiu em 1988 nos Estados Unidos da América (EUA), os recursos de TA variam desde uma colher adaptada com uma empunhadura mais grossa, até sofisticados softwares, que proporcionam independência e autonomia aos portadores de deficiências (GOMES FILHO, 2009). Os profissionais envolvidos na TA vão desde a área de Ciências Humanas até as áreas de Ciências Exatas, todos contribuem de alguma maneira para a melhor realização das tarefas diárias do paciente com limitações. No Brasil, são poucas as universidades que envolvem o 13 desenvolvimento de TA no currículo acadêmico de seus cursos. Há em nosso país recursos de alta qualidade em órteses, próteses, cadeira de rodas, acessórios de adequação postural, recursos para deficientes visuais e auditivos, mas ainda há carência de objetos para deficientes motores. Sendo este um projeto acadêmico, propõe-se o desenvolvimento de um produto de TA, uma preensão de talher para pacientes com hemiplegia espástica decorrente de AVE Isquêmico Trombótico em 3º estágio de reabilitação. O principal objetivo é fazer com que o produto auxilie o paciente a alimentar-se com autonomia. Objetiva-se também, focar a ergonomia e antropometria, trazendo conforto frente à usabilidade e minimizar as dificuldades motoras fazendo com que o paciente não necessite mais de auxílio humano para a realização de sua alimentação. Portanto, justifica-se, que o acometimento do AVE afeta as percepções motoras e sensoriais, onde o paciente perde o controle de seus membros devido à hemiplegia. Com o devido tratamento, o paciente recupera seus movimentos aos poucos, ainda sem autonomia sobre seus atos, muitas vezes necessitando do auxílio de outra pessoa para realizar tarefas cotidianas, como procedimentos de higiene e alimentação. O produto proposto deve ser utilizado a partir do 3º estágio de recuperação, se o paciente estiver em 1º ou 2º estágios, não terá capacidade de movimentação e força muscular suficiente para realizar os movimentos necessários para alimentar-se sem auxilio. A sociedade é um tanto leiga de informações sobre o que é o design e como ele pode interferir e auxiliar na vida do ser humano. O design traz inovação, funcionalidade, ergonomia, conforto, satisfação. Portanto, insere-se na sociedade de várias maneiras: no mobiliário da nossa casa, nos veículos que circulam nas ruas, nos livros, no vestuário etc. A maioria das pessoas tem a percepção do design apenas no mobiliário. A abrangência é muito maior e pensando na contribuição diária na vida da sociedade, chegou-se ao tema do produto proposto neste projeto: saúde e superação. 14 “DESENHO INDUSTRIAL (design) é o equacionamento simultâneo de fatores ergonômicos, perceptivos, antropológicos, econômicos e ecológicos, no projeto de elementos e estruturas físicas necessárias à vida, ao bem estar e/ou à cultura do homem” (Redig, 1977). Pode-se dizer que o corpo humano é uma máquina perfeita, porém, o cérebro é muito suscetível a distúrbios de seu suprimento sanguíneo. O sistema vascular cerebral possui anatomia e características fisiológicas desenhadas para proteger o cérebro de quaisquer problemas circulatórios. A falha desse sistema resulta no Acidente Vascular Encefálico (AVE) (CARR & SHEPHERD, 2008). Esse acometimento constitui o terceiro lugar entre as doenças que mais levam a óbito nos países ocidentais, perde para as doenças coronarianas (infarto) e para o câncer. Além disso, representam a maior causa de morbidade e invalidez causada por doenças (CANBIER, MASSON & DEHEN, 1999). A principal sequela deixada pelo AVE é a hemiplegia, seguida de espasticidade, onde metade do corpo é paralisado e apresenta rigidez nos músculos (ROCHA, LIMA & SILVA, 2002). Alguns pacientes, por falta de tratamento, passam o resto de suas vidas dependendo de auxílio de outro humano para realizar suas tarefas diárias, como alimentar-se, escovar dentes e cabelos, tomar banho, entre outros. Com tratamento de fisioterapia e terapia ocupacional, o paciente pode recuperar quase totalmente o movimento do lado afetado. Durante o tratamento, com a evolução dos movimentos, o paciente vai desfazendo-se da ajuda humana e pode utilizar da ajuda de objetos facilitadores funcionais. Substituir a ajuda humana pela ajuda de objetos funcionais é o que propõe-se neste projeto, pois, nem todos os objetos já existentes são direcionados ao público hemiplégico e atendem às necessidades dos mesmos. Considerando que, talher é o conjunto de colher, garfo e faca (DICIONÁRIO AURÉLIO, 2011), o objeto proposto será utilizado para auxiliar na alimentação do paciente. Consiste em um Produto de Tecnologia Assistiva direcionado a pacientes com hemiplegia espástica decorrente de Acidente Vascular Encefálico Isquêmico Trombótico. 15 No primeiro capítulo, viu-se a contextualização do que é AVE, sua incidência, fatores de risco e sequelas. Problematizou-se o assunto em questão e o campo de pesquisa. Objetivou-se um caminho a seguir para trazer melhoria no dia-a-dia do paciente. Justificou-se o caso de estudo e embasamento teórico no que engloba a patologia neurológica em questão e delimitou-se a criação do produto que minimize as dificuldades enfrentadas pelos pacientes hemiplégicos. O segundo capítulo seguirá de revisão bibliográfica salientando o estado neurológico durante e pós AVE, aprofundando suas sequelas e enfatizando o tratamento na área de fisioterapia. O Design aparecerá em um segundo momento com seus conceitos de produto, criação e criatividade, aprofundará a questão ergonômica e antropométrica. Apresentar-se-á o Design, como minimizador de uma das sequelas apresentadas após o acometimento do AVE, bem como analisará e comparará os produtos semelhantes já existentes no mercado para o devido fim. A metodologia prossegue no terceiro capítulo, apresentando o tipo da pesquisa existente no projeto e a característica do mesmo, fazendo um fechamento ao capitulo anterior. Também este capítulo dá espaço para uma leitura do Design como projeto técnico e ilustrativo, mostrando a especialistas da área da saúde e leigos nos assuntos em questão, como um simples objeto de uso diário pode ser criado e como este pode estar inserido no cotidiano sem ser percebido. O quarto capítulo terá os resultados da análise de toda a pesquisa, o produto será caracterizado e suas formas aparecerão. Será mostrado todo o processo de criação do produto, com geração de alternativas, seguida da escolha da melhor alternativa, apresentação do desenho técnico e dos desenhos ilustrativos. O capitulo finda com a construção e apresentação do Mock Up, modelo real do produto com baixa fidelidade. Fechando todo o projeto, o quinto capitulo trará a conclusão, este, revisará o que foi dito nos quatro primeiros capítulos e fará uma confronto entre os objetivos e os resultados finais, para que estes comprovem se o produto é de valia para o publico tido como alvo até então. 16 CAPÍTULO II Neste capitulo, será apresentada a definição do que é AVE e hemiplegia espástica, focando no tipo de AVE e estágio de recuperação a que se aplica o produto proposto. Será estruturada a evolução do talher, bem como os já existentes no mercado e serão analisados os objetos já existentes para o auxílio na alimentação de pacientes hemiplégicos, podendo assim verificar-se a real necessidade de um produto novo que atenda a necessidades que os outros produtos não o fizeram. 2.1 O Acidente Vascular Encefálico (AVE) Os termos mais utilizados para designar AVE são: Acidente Vascular Cerebral (AVC), doença cerebrovascular, icto cerebral, apoplexia cerebral, doença encefalovascular, trombose cerebral, isquemia cerebral, infarto cerebral, embolia cerebral, hemorragia cerebral e derrame cerebral. Todos esses termos referem-se ao acometimento do encéfalo, portando Acidente Vascular Encefálico (AVE) tornouse o termo mais abrangente para tais situações (NUTRINI & BACHESCHI, 2005). O AVE ocorre quando a circulação cerebral é obstruída por coágulos ou hemorragias, que causam a necrose (morte) da área cerebral suprida pelo vaso interrompido (SANTOS, CANETTI, RIBEIRO JUNIOR & ALVAREZ, 2003). Para que o sistema circulatório tenha um bom funcionamento e a irrigação sanguínea cerebral seja correta, é necessário o bom funcionamento de todos os órgãos do corpo humano, a pressão arterial deve ser adequada a cada tipo físico existente e o colesterol deve estar em bom nível. Glóbulos vermelhos, glicose e oxigênio, principais componentes do sangue, devem manter-se balanceados, qualquer 17 alteração para mais ou para menos desses componentes, pode resultar em um AVE (DAMIANI & YOKOO, 1995). Pressão arterial elevada, doenças cardíacas, colesterol, tabagismo, diabetes, contraceptivos orais e sedentarismo, são os principais fatores de risco, ou seja, as principais causas do AVE. Quase toda prevenção do AVE é feita com base no combate dos fatores de risco, por isso, sua caracterização e devida correção é imprescindível (DAMIANI & YOKOO, 1995). 2.1.1 Tipos de AVE O AVE pode ser compreendido, dentre outros conceitos, como a dificuldade de fornecimento sanguíneo a uma determinada área do cérebro, causando o sofrimento ou morte da mesma, tendo por consequência a perda ou diminuição das respectivas funções (DAMIANI & YOKOO, 1995). Existem basicamente dois tipos de AVE, o AVE Isquêmico e o AVE Hemorrágico. No AVE Isquêmico, segundo ROCHA, LIMA & SILVA (2002), a deficiência sanguínea na região é permanente, levando à isquemia do local com infarto e necrose do tecido, podendo ocorrer de duas formas, AVE Isquêmico Trombótico e AVE Isquêmico Embólico. AVE Isquêmico Trombótico: É causado pela formação de um coágulo de sangue, geralmente sobre uma placa de gordura, levando a uma obstrução total ou parcial do vaso. Esse tipo de AVE é o mais comum de todos, corresponde a 40% de todas as doenças vasculares cerebrais isquêmicas (ROCHA, LIMA & SILVA, 2002); AVE Isquêmico Embólico: Surge quando uma placa de gordura ou um coágulo, que se quebra ou se desprende, geralmente da artéria carótida, correm através de uma artéria até encontrar um ponto mais estreito, não conseguindo passar e obstruindo a passagem do sangue (DAMIANI & YOKOO, 1995). 18 O AVE Hemorrágico ocorre quando o vaso sanguíneo se rompe, extravasando sangue para dentro ou para fora do cérebro, ocasionando a chamada hemorragia. Ambos podem ocorrer por crise hipertensiva ou por uma alteração sanguínea em que ocorra muita dificuldade de realizar a coagulação normal (DAMIANI & YOKOO, 1995). Segundo ROCHA, LIMA & SILVA (2002), há dois tipos de AVE Hemorrágico, o Paresquimoso (intracerebral) e o Subaracnóideo ou Meníngeo. AVE Hemorrágico Paresquimoso (intracerebral): A hemorragia ocorre quando o extravasamento de sangue vai para dentro do cérebro. O sangue extravasado comprime o cérebro aumentando a pressão intracraniana e dificultando o restante da circulação sanguínea (ROCHA, LIMA & SILVA 2002); AVE Hemorrágico Subaracnóideo ou Meníngeo: Ocorre a partir do sangramento entre o cérebro e a caixa craniana, podendo ser espontâneo ou consequente a uma hemorragia intracerebral, ou ainda, a um traumatismo. Diante de um sangramento cerebral maciço, frequentemente a morte ocorre dentro de poucas horas (ROCHA, LIMA & SILVA, 2002). Manifesta-se de maneira diferente em cada paciente, depende da área do cérebro atingida, do tamanho da mesma, do tipo e do estado do paciente (DAMIANI & YOKOO, 1995). De maneira geral, a principal característica é a rapidez com que aparecem as alterações, podemos chamar atenção para as mais comuns: fraqueza ou adormecimento de um membro ou de um lado do corpo; alteração da linguagem; perda da visão de um olho, ou parte do campo visual de ambos os olhos; dor de cabeça súbita, seguida de vomito, sonolência ou coma; perda de memória, confusão mental e dificuldades para executar tarefas habituais; alteração da marcha, incoordenação e quedas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o AVE uma epidemia, que trabalha silenciosamente no organismo humano. Conforme dizem DAMIANI & YOKOO (1995), cada caso deve ser tratado em particular. As áreas do cérebro não afetadas pelo AVE podem assumir funções semelhantes às danificadas. Quanto maior a lesão provocada pelo AVE, maior é o comprometimento das funções cognitivas. CARR & SHEPHERD (2008) citam que 20% dos pacientes acometidos 19 de AVE, falecem dentro de um mês após a ocorrência, desses, 90% são acometidos de AVE Hemorrágico. Após um mês, o risco de morte diminui. A reabilitação do paciente se dá, através de um conjunto de procedimentos que visam estabelecer, se possível, as funções perdidas por conta do acometimento. Tais procedimentos devem iniciar-se precocemente para que obtenha-se melhores resultados (ROCHA, LIMA & SILVA, 2002). Segundo DAMIANI &YOKOO (1995), a equipe multidisciplinar que trabalha na reabilitação do paciente acometido de AVE é composta principalmente por médico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, enfermeiro e psicólogo, essa equipe tem por objetivo prevenir a paralisia (hemiplegia), rigidez no lado afetado (espasticidade) e síndromes álgicas (dores difusas pelo corpo), recuperar ao máximo as funções cerebrais comprometidas e devolver ao paciente o convívio social. 2.1.2 Hemiplegia espástica Hemiplegia é a paralisação de um dos lados do corpo, é a principal seqüela do AVE (ROCHA, LIMA & SILVA, 2002). Essa falta de controle aparece na espasticidade (rigidez muscular), nos padrões anormais de movimento e na incapacidade de realizar movimentos seletivos (BOBATH, 20001). 90% dos pacientes com hemiplegia decorrente de AVE apresentam algum grau de espasticidade, o que limita e torna lento alguns movimentos, afetando principalmente os movimentos finos, movimentos de precisão executados com a ponta dos dedos (Figura 01). Entende-se assim, que a espasticidade é responsável por grande parte da deficiência motora do paciente hemiplégico. Figura 01: Exemplos de movimento fino. Fonte: IIDA (2005). 20 O objetivo fundamental na reabilitação do paciente é ensiná-lo a adquirir independência na realização de atividades diárias (ROCHA, LIMA & SILVA, 2002). As atividades focadas nesse trabalho são as manuais e de alimentação: Atividades manuais: são em geral, independentes umas das outras e favorecem a autonomia do individuo; Atividades de alimentação: envolve ingestão de líquidos, sólidos e pastosos desde a mastigação até o uso de talher e guardanapos. Logo após o AVE, os reflexos ficam exacerbados dificultando a realização de tarefas motoras, principalmente as que envolvem o movimento motor fino. O estimulo tátil na palma da mão e na face palmar dos dedos é chamado de reflexo de preensão voluntário (Figura 02) (DAVIES, 1996). Segurar o reflexo consiste na tração dos músculos flexores da mão, que se fortalecem com devido treino podendo então segurar firmemente qualquer tipo de objeto. Figura 02: Principais tipos de pega. Fonte: IIDA (2005). Segundo DAVIES (1996), os objetos e eventos reais ao que se afronta o paciente, estimulam não só a recuperação dos movimentos, mas também, ativam a memória muscular. As atividades diárias devem ser estimuladas e realizadas com o mínimo de ajuda, ou seja, o paciente deve usar a mão hemiplégica para realizar as atividades e se necessário ajudar com a mão sadia. 21 O paciente acometido de AVE Isquêmico Trombótico tende a passar um período em coma, nesse caso, a hemiplegia espástica é inevitável. Psicologicamente, o paciente torna-se depressivo e irritado por ter dificuldade de comunicação e incapacidade de realizar movimentos com um dos lados do corpo (BOBATH, 2001). Normalmente, a hemiplegia traz dores nas articulações, o ombro é o local mais dolorido na parte superior do corpo. Logo após o acometimento, o braço hemiplégico tende a ser flácido e imóvel ao lado do corpo, o punho e a mão tendem a apresentar-se fletidos. No primeiro estágio de tratamento o ombro é imobilizado em uma posição especifica a sanar a dor. O paciente é então estimulado a manter o braço em diferentes pontos de amplitude elevando-o e baixando-o. Após um mês de tratamento fisioterapêutico, nota-se o desenvolvimento do movimento de extensão e flexão do braço, sendo normal que o punho e a mão tenham recuperação mais tardia. É fundamental no segundo estágio a quebra dos padrões de espasticidade existentes, combinando abdução do braço e extensão do cotovelo, flexão e adução do braço, flexão e supinação do braço elevado (BOBATH, 2001). Esse estágio de tratamento dura em torno de quatro meses, podendo o paciente nesse estágio, dar um aperto de mão. Porém o paciente ainda não está “acostumado” a utilizar o braço hemiplégico e ainda o mantém imóvel ao lado do corpo, movimentando-o voluntariamente se o braço sadio for imobilizado. Segundo BOBATH (2001), no terceiro estágio, o paciente começa a tomar consciência de que o braço hemiplégico é parte de seu corpo e que pode ser utilizado para tarefas diárias. Movimentando todo o corpo, como em passos de dança, o paciente consegue maior amplitude de movimentos em braço, punho e mão. A partir desse estágio, os dedos começam a apresentar movimento em determinado posicionamento do braço. No quarto estágio de tratamento, o foco mantêm-se em punho e dedos, este deve durar em torno de quatro meses. Ao ter alta do tratamento, o paciente ainda pode ter dificuldade com o movimento de dois ou três dedos. Com relação ao material pesquisado sobre AVE, verificou-se a necessidade do desenvolvimento de utensílios de Tecnologia Assistiva (TA) que auxiliem o 22 paciente na alimentação. Buscando trazer mais comodidade em tarefas simples e diárias, constatou-se a carência em utensílios específicos para este público e aspectos que o novo produto deve conter em sua composição ergonômica. O produto proposto neste trabalho tende a auxiliar o paciente com hemiplegia espástica a alimentar-se, o mesmo deverá ser introduzido em suas tarefas diárias a partir do terceiro estágio de recuperação. Nas próximas etapas, apresentam-se o levantamento histórico do talher e as análises referentes a TA de alimentação, para o paciente que está sendo assistido. 2.2 Evolução histórica do talher Segundo o DICIONÁRIO AURÉLIO (2011), o garfo é um utensílio formado de um cabo e parte terminal com 3 ou 4 dentes, que faz parte do talher, serve para levar a comida à boca e segurar a peça de alimento que se quer cortar; a faca é um instrumento cortante constituído de lâmina e cabo; e a colher, utensílio em forma de concha rasa e de cabo, para levar alimento à boca, ou para misturar, provar ou servir iguarias. O conjunto de garfo, faca e colher é chamado de talher, variam em tamanho e forma segundo suas finalidades e no material de que são feitos, de acordo com seu fabricante. Compreender a origem, mergulhar na evolução e analisar o talher, nos faz enxergar as relações existentes entre a natureza das invenções, a inovação e o design. Sem duvida alguma, tudo o que utilizamos em nossas tarefas diárias teve origem na pré-história, principalmente no que diz respeito à alimentação. O homem pré-histórico mantinha hábitos alimentares iguais aos dos animais carnívoros, seguravam seu alimento com as mãos (patas) e arrancavam pedaços do mesmo com dentes e unhas (PETROSKI, 2007). Alguns historiadores comentam que com a descoberta do fogo, descobriu-se também que a carne da caça poderia ser assada. Porém, o homem não poderia segurar com as mãos o pedaço de carne em tempo suficiente para que esta assasse, o que levou ao surgimento do espeto, que na época eram varetas de madeira retiradas das árvores. 23 BABITSH & SCHIARFFINO (1998) contam, que a colher foi um utensílio primeiramente utilizado por Eva (Antigo Testamento, Bíblia), esta, caminhava pela praia quando deparou-se com uma concha de ostra e levou-a até sua boca para ingerir água. No México, o Taco (comida típica) (Figura 03) substitui a colher em diversos casos, são mais difíceis de manusear, mas formam uma concha que impede molhos e gorduras de chegarem aos dedos (PETROSKI, 2007). Hoje, as colheres variam em tamanho de acordo com suas especificidade, são as de arroz, salada, sopa, sobremesa, chá, café e refresco entre outras (Figura 04). Figura 03: Taco. Fonte: TRAMONTINA (2012). Figura 04: Diferentes tipos de colheres. Fonte: TRAMONTINA (2012). O sílex, pedra muito dura e cortante conforme a talha, foi o material do que seria a primeira faca da humanidade. Não se tem noticias de como o homem descobriu as propriedades cortantes desta pedra, o que se imagina é que acidentalmente alguém feriu-se com um fragmento. Questiona-se também, a provável talhação da pedra para criar fragmentos cada vez mais cortantes. Então se 24 o sílex poderia cortar um humano, poderia também cortar a carne animal, e assim começou a ser utilizado na caça e na alimentação. De pedaços grandes da caça, eram retirados pedaços pequenos que iriam ao fogo em espetos, depois de assado o alimento era preso com os espetos e partido com o sílex (PETROSKI, 2007). Nos dias de hoje, o francês Bernard Ginelli fabrica facas e pontas de flechas utilizando o sílex, seu trabalho é totalmente artesanal e os cabos das facas são confeccionados com ossos e chifres de animais (Figura 05). Figura 05: Faca de sílex com cabo de chifre bovino. Fonte: GINELLAMES (2012). PETROSKI (2007) conta que, com a evolução da humanidade, a faca passou a ser forjada em ferro e bronze, estas, já possuíam cabos, que poderiam ser de chifre, madeira ou conchas, conforme a região. As facas eram utilizadas não só como utensílio de alimentação, mas como ferramenta e arma. Na Figura 06 podemos ver uma típica adaga medieval, com aproximadamente mil anos, sua inscrição diz “Gebereth é meu dono”, indicando esta ser posse pessoal, acredita-se que seu cabo era feito de madeira ou osso. Desta época, não se tem notícias de outro componente do talher, como garfo e colher. Na Idade Média, duas facas eram utilizadas durante a refeição, onde uma segurava o alimento e a outra partia o mesmo, mas pouco sucesso havia em segurar o alimento com uma faca, pois o mesmo, não era fixado o suficiente para a precisão do corte. A faca de mesa possui serra discreta, pois auxilia a colocar o alimento sobre o garfo. Facas menores são para sobremesa e manteiga. Para cortes de carne crua ou assada, existem variedades em diferentes tamanhos de lâmina e serra. Figura 06: Adaga medieval com aproximadamente mil anos. Fonte: PETROSKI (2007). 25 O garfo foi desenvolvido devido ao fracasso de se utilizar uma faca para segurar o alimento. Sabe-se, que antigamente, os Gregos e romanos já utilizavam o garfo como utensílio de mesa para alimentação, embora não mencionem esse fato em sua história, registros arqueológicos comprovam essa suspeita (PETROSKI, 2007). Os grandes cozinheiros gregos utilizavam o garfo para seu trabalho, esse lembrava uma mão. Semelhante ao garfo grego havia o ancinho, utilizado pelos camponeses para juntar e carregar feno, e o tridente de Netuno (Figura 07). Figura 07: Camponeses utilizando ancinho e Netuno, com seu tridente. Fonte: Adaptado de FREGUESIA (2009) e CEPOLINA (2012). Conta a história, que o primeiro garfo apareceu no século XIX em Veneza, na Itália, quando o nobre Domenico Salvo casou-se com Teodora de Bizâncio (Figura 08), que costumava usar um objeto pontudo com dois dentes para espetar os alimentos e levá-los até a boca. A cultura da época, pregava que o alimento dado por Deus era sagrado e portanto, deveria ser ingerido com as mãos, de maneira pura, condenando o garfo como heresia. Os mais educados e nobres da época, utilizavam apenas três dedos para alimentar-se. Em 1962, o garfo de dois dentes foi aceito pelo povo e pela Igreja (MUNDO ESTRANHO, 2012). 26 Figura 08: Mosaico de Teodora de Bizâncio. Fonte: ARTISTÓRIA (2010). Segundo PETROSKI (2007), algo com apenas um dente não deveria ser considerado um garfo, é o caso dos palitos utilizados em coquetéis. O que faz com que o garfo funcione é o fato de ele possuir dentes. Com duas pontas, são utilizados para segurar a carne durante o corte e servir os pedaços da travessa ao prato. O garfo de mesa ganhou mais um dente e estes tiveram seu tamanho diminuído, com três dentes os alimentos não mais escorregam, nem caem do utensílio no percurso prato/boca. Hoje em dia, os garfos mais utilizados possuem quatro dentes. De acordo com as regras de etiqueta, o garfo maior é utilizado para o prato principal, são usados para pegar porções de alimentos, garfos menores servem para sobremesa. O garfo de peixe tem um dente mais grosso que auxilia na separação dos espinhos, já o garfo de salada têm três dentes mais largos para facilitar a dobra das folhas (PETROSKI, 2007). A coleção de garfos contida na Figura 09 mostra as variações existentes entre os garfos, conforme o uso, a diferença de formato. 27 Figura 09: Diferentes tipos de garfos. Fonte: PETROSKI (2007). A francesa Catarina de Médici (Figura 10) foi quem primeiro apareceu com o chamado “jogo de cena”, formado por garfo, faca e colher. Somente um século depois, o Rei Luis XIV introduziu esses utensílios à seus banquetes, cultuando boas maneiras. A popularização destes utensílios ocorreu 200 anos depois. Em 1630, o Cardeal Richelieu, decretou que cada homem deveria ter seu jogo de talheres (PETROSKI, 2007). 28 Figura 10: Pintura realista de Catarina de Médici. Fonte: LES DERNIERS VALOIS (2007). Hoje em dia, uma das empresas mais conhecidas no Brasil por sua linha de talheres e cutelaria em geral, é a Tramontina. A empresa conta com uma gama de jogos de talher onde a base é o Aço Inox, com diversas cores e tipos de cabo com materiais como madeira, polímero, polímero com borracha, polímero ABS e Aço Inox (Figura 11). As lâminas das facas são forjadas de acordo com a especificidade do uso do produto, assim como os dentes dos garfos e o côncavo da colher, tendo em algumas linhas, mais de um mesmo tipo de talher para deferentes tarefas (Figura 12) (TRAMONTINA, 2012). Figura 11: Diferentes tipos de cabos com diferentes materiais. Fonte: TRAMONTINA (2012). 29 Figura 12: Mesma linha com faca para diferentes funções. Fonte: TRAMONTINA (2012). Cada peça do talher pode também ser de prata, banhados à prata e a ouro, mas são popularmente fabricados em Aço Inox, uma liga metálica de ferro-carbono com adição de cromo, dando ao material mais resistência à acidez e corrosão. Feitos em aço-cromo, possuem brilho azulado e oferecem preço/qualidade na fabricação, não mancham, não apresentam cheiro nem paladar, normalmente é utilizado na fabricação de facas monobloco e lâminas de facas. Em cromo-níquel, apresenta coloração amarelada e é maleável, são adequados a serem lavados em lava-louças e usados em gastronomia (ZWILLING J.A. HENCKELS, 2012). A peça banhada à prata é inicialmente cortada, em sua forma básica, em chapas de aço, a parte dianteira/funcional é laminada e em seguida cortada (dentes nos garfos e a forma oval nas colheres). Ambas as partes, dianteira/funcional e traseira/cabo são dobradas por prensas mecânicas recebendo sua forma final, as superfícies são lixadas e polidas e então passam pelo processo de banho (ZWILLING J.A. HENCKELS, 2012). Podem ser de cabo oco ou monobloco (Figura 13), o cabo oco é uma lâmina forjada e um cabo feito a partir da união de duas partes previamente estampadas e posteriormente revestidas ou cabo vazado onde encaixa-se e prende-se a lâmina, esse processo é mais complicado do que o monobloco, pois lâmina e cabo são produzidos separadamente e unidos posteriormente, já o monobloco é uma única peça de aço. 30 Figura 13: Colheres com diferentes tipos de cabo. Fonte: TRAMONTINA (2012). As facas possuem processo de fabricação com mais atenção e importância, lâmina e as duas metades do cabo são estampadas separadamente. Primeiramente, a lâmina recebe tratamento térmico passando por aquecimento, tempera e revenimento, logo após passa pelo processo de lixação, lixa fina, pliesten (usa-se no lugar da pedra um disco de madeira, revestido de couro embebido em pasta de pó de esmeril) e polimento, só então a lâmina é unida ao cabo, balanceada, nivelada e então, recebe a afiação (ZWILLING J.A. HENCKELS, 2012). 2.2.1 Talheres e Tecnologias Assistivas (TA) Todo componente do talher, possui uma parte frontal/funcional e uma parte traseira/cabo. Tecnologias Assistivas são talher, preensões e pegas adaptados, utensílios com modificações para bem atender à necessidade de pessoas que sofrem de algum tipo de deficiência motora. Adaptadores são utensílios que normalmente se encaixam ao talher e, prendem à mão. A preensão do talher é feita através de aparafusamento, encaixe elástico ou encaixe em material antiderrapante. Produto 1: Faca de Nelson Peça de cutelaria com duas funções, podendo ser utilizada como faca e garfo, sua lâmina é curva para que o corte do alimento seja mais preciso e na ponta da lâmina, há dentes para espetar, indicada pós-AVE (Figura 14). É feita de Aço Inox e 31 possui cabo simples de polímero, o comprimento do cabo é de 10cm e pesa 54g (PRÓS AVÓS UNIPESSOAL, 2012). Figura 14: Produto 1. Fonte: Prós Avós Unipessoal (2012). Produto 2: Talher adaptado Internacional Colher, Garfo e Faca (Figura 15), possuem cabo grosso e antiderrapante para facilitar aderência, possuem alça para adaptador. Sua parte frontal/funcional é feita de Aço Inox, garfo e colher podem ser curvados em 90º para a esquerda ou direita. Indicado para pessoas acometidas de artrite, pós-AVE e outras lesões neurológicas. Fabricados na China, pesam 3kg cada (VIVERE, 2012). Figura 15: Produto 2. Fonte: VIVERE (2012). Produto 3: Colher Facilitadora Indicado para crianças com deficiência neurológica (BARÃO EQUIPAMENTOS ESPECIAIS, 2012), tem a parte frontal/funcional curvada fixa feita de plástico resistente a mordidas, podendo ser para a direita ou esquerda. Seu cabo contém tubo engrossado esponjoso, possui o tamanho de uma colher de sobremesa (Figura 16). 32 Figura 16: Produto 3. Fonte: BARÃO EQUIPAMENTOS ESPECIAIS (2012). Produto 4: Substituição de Preensão Econômica Pode servir de adaptador para diversos objetos, como canetas, escova de dentes, talher (Figura 17). De fácil colocação, é ajustável através de velcro, feito de algodão e pode ser lavado em máquina. Indicado para pessoas com mobilidade reduzida (VANZETTI, 2012). Figura 17: Produto 4. Fonte: VANZETTI (2011). Produto 5: Substituição de Preensão com pega ergonômica Muito parecida com a substituição de preensão econômica, permite a adaptação de talher e outros objetos utilizados no dia a dia, como canetas (Figura 18). Desenhado para quadriplégicos, também atende a outras necessidades especiais, como deficiência mental, física, múltipla e idosos. O bloco de plástico em formato de cone tem fechamento em gancho e argola de velcro que passam por um anel em D para ajuste (MN SUPRIMENTOS, 2012). 33 Figura 18: Produto 5. Fonte: MN SUPRIMENTOS (2012). Produto 6: Substituição de Preensão Elástica Pode ser instalada em talher que possuam alça especifica para este fim, como o já citado Talher Adaptado Internacional. Prende-se a parte fixa no início da parte traseira/cabo e a regulagem à alça existente na outra ponta (Figura 19). A regulagem é feita por velcro (VANZETTI , 2012). Figura 19: Produto 6. Fonte: VANZETTI (2012). 34 Produto 7: Adaptador Articulado Este adaptador possui um suporte para talher onde o mesmo é fixado através de uma pequena tarraxa, há outros dois parafusos no adaptador que fazem com que o alongamento de cabo e a pega sejam ajustados angularmente (Figura 20). Indicado para pessoas com déficit de preensão e limitações ao nível de amplitude de movimentos do ombro. Feito de polímero com parafusos e tarraxa de Aço Inox (PRÓS AVÓS UNIPESSOAL, 2012). Figura 20: Produto 7. Fonte: PRÓS AVÓS UNIPESSOAL (2012). Produto 8: Substituição de Preensão com Suporte para Punho Proporciona a imobilização do punho, pois é preso em três pontos: mão, punho e antebraço. O encaixe do talher fica na mesma faixa de preensão da mão (Figura 21). Confeccionado em couro, o compartimento de encaixe de talheres possui 6,6cm x 2,9cm (MN SUPRIMENTOS, 2012). Figura 21: Produto 8. Fonte: MN Suprimentos (2012). 35 Produto 9: Tuboform Facilitador Funcional Este adaptador é multifuncional, é articulado podendo ser preso à mão, punho e antebraço de diferentes maneiras. Possui ainda, um kit com diferentes utensílios (Figura 22) que são encaixados em uma de suas pontas. O kit contém escova para cabelos, pincel grande (barba, blush, pó-compacto), aparelho de barbear, escova para dentes, colher plástica, colher de metal, garfo, descascador de legumes, faca circular, giz de cera, finger (apontador, digitador, paginador), imã, pincel pequeno, adaptador universal (recepciona colher, caneta, pincel, etc). É feito de arame flexível revestido de polímero com estofado para apoio (EXPANSÃO LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA TERAPÊUTICA, 2012). Figura 22: Produto 9. Fonte: EXPANSÃO LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA TERAPÊUTICA (2012). Produto 10: Mala de talheres adaptados Contém 33 peças modulares (Figura 23), é indicado para uso profissional na avaliação pacientes (ORTOPEDIA ALVALAN, 2012). Suas peças correspondem a praticamente todas as necessidades possíveis: funcional, estática, ergonômica, econômica, talheres angulados, com mais peso, mais leves, estreitos, grossos, utensílios de cozinha. Feitos de Aço Inox, borracha e polímero. Figura 23: Produto 10. Fonte: ORTOPEDIA ALVALAN (2012). 36 2.2.2 Análise Estrutural Analisar estruturalmente um produto é reconhecer e compreender tipos e números de componentes, subsistemas e montagens (BONSIEPE, 1984) (Tabela 01). Esta análise foi realizada a partir dos produtos já existentes destinados a pessoas com necessidades especiais, acometidas de alguma deficiência física, motora e neurológica. Produto Produto 1 Produto 2 Descrição Estrutural Duas partes: frontal/funcional e traseira/cabo. Três peças: colher, garfo e faca. Cada peça possui duas partes: frontal/lateral e traseira/cabo. Produto 3 Duas partes: frontal/funcional e traseira/cabo. Produto 4 Três partes: acomodação do objeto, alça em D para regulagem e fivela. Produto 5 Quatro partes: a) encaixe do talher, b) preensão, c) anel em D para regulagem e d) anel em D para abrir regulagem. Produto 6 Duas partes: preensão na peça de talher, preensão na mão. Produto 7 Quatro partes: a) pega em forma de C, b) alongador de cabo, c) suporte para talher e d) peça para fixar talher. Encaixes com parafusos. Produto 8 Cinco partes: a) duas talas, b) três tiras transversais para prender. Produto 9 Quatro partes: a) tubo/corpo, b) duas almofadas revestidas, c) ponteira para encaixe das peças do kit. O kit contém 14 peças, cada peça tem em média duas partes. Produto 10 Trinta e cinco partes: a) maleta, b) revestimento interior, c) 14 pegas/cabo/encaixe, d) 18 peças com duas partes, encaixe e funcional/frontal. Tabela 01: Análise Estrutural. 2.2.3 Análise Funcional BONSIEPE (1984) define esta análise, como o reconhecimento e compreensão das características do uso do produto e as funções técnico-físicas de cada componente do mesmo. Novamente, os objetos apresentados são para pessoas acometidas de algum tipo de deficiência, como já descrito nas fases anteriores. Os resultados são apresentados na Tabela 02 que segue. 37 Produto Produto 1 Produto 2 Produto 3 Produto 4 Produto 5 Produto 6 Produto 7 Produto 8 Produto 9 Produto 10 Descrição Funcional Corta e espeta alimentos. Recolhe, espeta e corta alimentos. Recolhe alimentos. Recebe o objeto em seu encaixe e prende-o à mão. Recebe o objeto em seu encaixe e prende-o à mão. Prende o talher à mão. Prende o talher em um cabo articulado e alongado. Prende o talher em um adaptador e este à mão, punho e antebraço. Adapta utensílios de sua linha e estes à mão, punho e antebraço. Jogo de cabos e objetos a serem adaptados uns aos outros de acordo com a necessidade. Tabela 02: Análise Funcional. 2.2.4 Análise Morfológica A Tabela 03 mostra a análise dos objetos em questão a serem descritos quanto a sua estrutura formal, partindo de sua composição através de elementos geométricos, incluindo informações sobre seu acabamento (BONSIEPE, 1984). Produto Produto 1 Descrição Morfológica Lâmina sem serra com pontas ao final da curva, o Aço Inox é polido em sua cor natural. O cabo é feito de polímero, cônico e fino em tom de verde-acinzentado. Produto 2 A parte frontal do talher possui polimento do Aço Inox e sua cor original, com bordas arredondadas. O cabo de borracha na cor preta é escamado em forma cônica. Produto 3 Sua parte frontal/funcional é de cor laranja, possui acabamento liso e arredondado na borda. O cabo é cilíndrico grosso na cor azul. Produto 4 Por ser em tecido é flexível, não possui formato exato. Possui bom acabamento de costuras. Encontra-se na cor preta. Produto 5 A parte onde o talher é encaixado possui formato de cone partido ao meio verticalmente, na cor preta. O restante do produto é feito em tecido, portanto flexível. Também na cor preta possui bom acabamento em costuras. Produto 6 Na cor preta, por ser de tecido e velcro é flexível não possuindo forma fixa, suas partes são costuradas em forma de T. Possui bom acabamento em costuras. Produto 7 A peça de pega da mão é em forma de C. As outras partes são retangulares. Todas as peças são feitas de polímero, possuem a cor branca e acabamento arredondado. As polcas e tarraxa são em Aço Inox em formato de borboleta. Produto 8 O modo como o couro é costurado e devido às talas, possui formato cilíndrico. As hastes de alumínio estão envolvidas no couro, devidamente costurado e bem recortado. Apresenta-se na cor bege tendo o velcro na cor branca. Produto 9 Flexível, não possui formato definido. Apresenta-se na cor azul. Cada peça do kit possui o formato de acordo com sua função, bem como, material, cor e acabamento. Produto 10 Cada objeto contido nela possui forma de acordo com sua devida função, assim como material, cor e acabamento. Tabela 03: Análise Morfológica. 38 2.2.5 Análise em relação ao uso Definem-se nesta fase, pontos negativos e criticáveis dos produtos analisados (BONSIEPE, 1984). Na Tabela 04, descrevem-se os aspectos que não se encaixam no que é proposto neste projeto. Produto Produto 1 Produto 2 Produto 3 Produto 4 Verificação Não possui pega ergonômica e nem local onde possa ser adaptada uma preensão. Pode ser prendido apenas à mão. Direcionada ao público infantil. O local onde o objeto é encaixado não possui material antiderrapante, fazendo com que o objeto escorregue do mesmo. Possui preensão apenas na mão. Produto 5 Possui preensão apenas na mão, o local onde é feita a preensão do talher é feito de tecido, material escorregadio. Produto 6 Pode ser utilizada apenas em talher que possui alça para prendê-la. Produto 7 Os parafusos com polcas borboleta podem enroscar-se no prato, virando-o ou empurrando-o para longe do paciente. Possui aspecto grosseiro. Produto 8 Não possui ergonomia no local onde o talher é preso, nem material antiderrapante no mesmo. Produto 9 De aparência grosseira, parece não prender o suficiente em punho e antebraço, machucando-os com sua forma. Produto 10 Os componentes da mala não possuem alça para adaptação de preensão. Tabela 04: Lista de Verificação. Devido ao fato de o paciente em questão possuir hemiplegia espástica e ter o punho fletido com os dedos em garra, as análises feitas no Capítulo II, trouxeram as seguintes conclusões: Produto 1: possui parte traseira/cabo sem diâmetro suficiente, além de não conter material antiderrapante e ser destinado principalmente ao corte de alimentos, não a levá-los até a boca; Produto 2: necessita do Produto 6 para ser preso à mão; Produto 3: indicado para o público infantil, não possui preensão; Produto 4: não possui pega, apenas comporta o objeto a ser prendido; Produto 5: é o produto que mais atende os objetivos traçados, porém, o diâmetro da pega não é suficiente e possui aspecto grosseiro, sugerindo machucar a mão; Produto 6: somente prende o Produto 2 à mão; 39 Produto 7: com aspecto grosseiro, possui aparafusamento indevido trazendo a impressão de que estes desprenderão a qualquer momento, além de poderem enrosca-se no prato; Produto 8: desconfortável ao uso do paciente com hemiplegia espástica, pois este tende a ficar com punho fletido e mão em garra, não mantendo a posição estendida para o uso do produto por muito tempo; Produto 9: não atende à necessidade, pois o punho tende a estar fletido e assim o produto machucaria o paciente; Produto 10: poderia atender à todas as necessidades, como descrito em sua definição, porém, as pegas apresentadas não possuem preensão à mão e limita-se a ser utilizado por profissionais da saúde para avaliação de pacientes. Tais resultados estão diretamente relacionados ao que se quer apresentar no produto proposto. Frente a estas, notou-se a necessidade de trabalhar a deficiência física do paciente de maneira conjunta à alimentar-se, focando na abertura de mão e dedos, deixando fletido o punho. A hemiplegia espástica faz com que o ato de pegar não exista, tornando-os, mão e dedos completamente cerrados em garra, como vemos na Figura 24. Propõe-se então, um diâmetro de 7cm para a pega, o que fará com que o paciente mantenha a mão semi-aberta por todo o tempo em que se alimenta, estimulando a quebra da espasticidade, na intenção de tornar o músculo hipotônico (com o tônus muscular diminuído). Figura 24: Mão com hemiplegia espástica, dedos em garra, punho hipotônico. Fonte: O autor. 40 2.3 Ergonomia e Antropometria Segundo IIDA (2005), a ergonomia também visa reduzir as conseqüências nocivas do trabalho sobre o homem, como fadiga, estresse, erros e acidentes, com três domínios específicos: Físico, Cognitivo e Organizacional. Este trabalho está focado no domínio físico, pois o produto proposto é destinado ao uso de pacientes com dificuldade de movimentação de um membro do corpo, sendo estes movimentos recuperados por tratamento fisioterápico mas ainda sem chegar à sua amplitude máxima como em pessoas não acometidas pelo AVE. Na Figura 25, vemos a angulação a qual a mão de uma pessoa sem deficiência pode alcançar em movimento Radial e Ulnar, Extensão e Flexão e Supinação e Pronação. Figura 25: Ângulos de movimentos da mão. Fonte: ITIRO IIDA (2005). A antropometria é o estudo da forma e do tamanho do corpo humano, tem por foco, as diferenças físicas entre as pessoas (TYLLEY, 2005). Para IIDA (2005), as variações de medida devem definir a natureza das dimensões antropométricas exigidas em cada situação, realizando medições para gerar dados confiáveis que possam ser aplicados adequadamente. Essas variações são catalogadas através de diferenças entre sexos, variações intra-individuais, variações étnicas, influências de clima, variações externas Para atingirmos o objetivo deste projeto, devemos ter como base as medidas da mão humana, tanto de homens (Figuras 26, 27 e 28), que é o gênero mais acometido de AVE, quanto de mulheres (Figuras 29, 30 e 31). Há três parâmetros de medições da antropometria, a estática, a dinâmica e a funcional. Encaixa no presente trabalho, o modo dinâmico, onde são determinadas as medidas dos alcances de movimento, feito através da movimentação dos membros e mantendo o corpo estático. 41 Figura 26: Medidas da mão masculina espalmada. Fonte: TILLEY (2005). Figura 27: Medidas da mão masculina vista lateralmente. Fonte: TILLEY (2005). 42 Figura 28: Medidas da mão masculina em flexão circular. Fonte: TILLEY (2005). Figura 29: Medidas da mão feminina espalmada. Fonte: TILLEY (2005). 43 Figura 30: Medidas da mão feminina vista lateralmente. Fonte: TILLEY (2005). Figura 31: Medidas da mão feminina em flexão circular. Fonte: TILLEY (2005). 44 Para aplicar as medidas tabeladas de antropometria, IIDA (2005) classifica cinco princípios: 1) Projetos dimensionados para a maioria da população; 2) Projetos dimensionados para o extremo da população; 3) Projetos dimensionados para faixas da população; 4) Projetos com dimensões reguláveis; e 5) Projetos adaptados ao indivíduo. O 5º princípio caracteriza o este projeto, pois é destinado especificamente à minoria da população e proporciona maior e melhor adaptação ao usuário. Embora seu custo possa ser mais elevado, frente à comodidade de uso, isto é irrelevante. O paciente com hemiplegia espástica decorrente de AVE isquêmico trombótico fará uso do produto com mais facilidade, não necessitando de auxilio de outra pessoa. Convém ressaltarmos que a força transmitida à pega no momento da empunhadura, em uma pessoa normal pode chegar à 40 kg. A posição correta da pega é ter todos os dedos rodeando a empunhadura. Testes demonstram que o diâmetro de cilindros de 3 a 5 cm proporcionam maior zona de contato com a mão de um adulto (IIDA, 2005). O tipo de pega mais aconselhável à utensílios de uso diário, é a pega antropomorfa, onde a superfície arredondada possui uma depressão ou saliência para o encaixe da mão e dedos, são popularmente conhecidas como anatômicas. Para IIDA (2005), do ponto de vista ergonômico, os produtos destinamse a satisfazer certas necessidades humanas, para isso, os produtos dever ter três características básicas: Qualidade técnica, qualidade ergonômica e qualidade estética. Sendo a qualidade ergonômica o foco deste trabalho. 45 CAPÍTULO III Segundo GIL (2002), a metodologia descreve os passos a serem seguidos durante a realização da pesquisa. Define-se pesquisa, como o procedimento racional e sistemático que objetiva proporcionar respostas aos problemas já definidos. A organização das fases varia de acordo com cada pesquisa em particular, devido seu procedimento racional e sistemático que proporciona respostas aos problemas que são propostos. Sendo assim, a finalidade deste capítulo é apresentar as características, métodos e técnicas utilizadas no desenvolvimento da pesquisa, bem como a análise e interpretação de dados. 3.1 Caracterização do estudo Iniciando o estudo, notou-se a necessidade de buscar informações sobre a história do produto em questão bem como a finalidade de cada peça. O presente trabalho consta de levantamento bibliográfico, documental e de estudo de campo. A elaboração do trabalho foi feita através do método exploratório, pois, segundo GIL (2002), proporciona maior familiaridade com o problema tornando-o mais explícito e construindo hipóteses. Sendo assim, se pode analisar a real necessidade e contribuição, de um produto como o proposto. A natureza da pesquisa é aplicada e visa desenvolver um produto de acordo com a proposta delimitada. Assim, este trabalho teve como objetivo, criar um “Produto de Tecnologia Assistiva direcionado à Hemiplegia Espástica decorrente de Acidente Vascular Encefálico Isquêmico Trombótico”. 46 A abordagem do problema é definida como qualitativa, que, Gil (2002) define como uma pesquisa livre de enumerações e dados estatísticos. Sendo assim, é uma pesquisa que descreve dados, lugares e interações entre pesquisador e pesquisa. A pesquisa qualitativa foi realizada através do estudo de campo, com a visita à UNIR – Unidade de Reabilitação, que funciona como uma Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI. 3.2 Métodos e técnicas 3.2.1 Levantamento de dados O DICIONÁRIO AURÉLIO (2011), define pesquisa como sendo o ato de pesquisar, investigar e estudar minuciosa e sistematicamente, tendo por finalidade descobrir fatos relativos a determinado campo de conhecimento. Em outras palavras, pesquisa é um procedimento racional e sistemático, que objetiva respostas aos problemas que são propostos. “A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos. Na realidade, a pesquisa desenvolve-se ao longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a adequada formulação do problema até a satisfatória apresentação dos resultados.” (GIL, 2002) A pesquisa bibliográfica, segundo GIL (2002), é desenvolvida através de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Para a criação do produto, a pesquisa teve como base não só a área do Design, mas as áreas da saúde a qual está inserido o AVE. Foram pesquisados os assuntos em livros, procedimentos fisioterápicos, análise de imagens e registros históricos, através de visita em biblioteca e aquisição de volumes. 47 A pesquisa documental diferencia-se da bibliográfica, pela natureza das fontes, vale-se de materiais que ainda não receberam um tratamento analítico, ou que ainda podem ser re-elaborados de acordo com os objetivos propostos (GIL, 2002). Esta, vem das imagens registradas durante o estudo de campo. GIL (2002) coloca, que o estudo de campo é feito, em sua maioria, pelo próprio pesquisador. Enfatiza-se a importância de o pesquisador ter tido ele mesmo uma experiência direta com a situação de estudo. No presente trabalho, o estudo foi feito através de visitas à pacientes e acompanhamento do treino fisioterapêutico dos mesmos, bem como entrevista informal e parcialmente estruturada com profissionais da área de fisioterapia e terapia ocupacional. Segundo GIL, (2002), a entrevista informal é caracterizada por uma simples conversação, tendo o objetivo básico a coleta de dados e a entrevista parcialmente estruturada se dá através de uma relação de pontos de interesse. Para a realização do estudo de campo, primeiramente foi estabelecido contato prévio telefônico com uma das professoras/fisioterapeutas da clínica, com o intuito de explicar os objetivos da pesquisa e agendar a visita. A visita foi feita pela pesquisadora e seu orientador. Possui caráter não-probabilístico, pois os pacientes observados não foram selecionados previamente. Portanto, a interpretação e análises de dados serão descritos no próximo capítulo, juntamente com os procedimentos observados no tratamento de cada paciente. A metodologia de projeto, vem organizar e comprovar a necessidade do produto proposto. BONSIEPE (1984), traz em sua metodologia, cinco fazes para a elaboração de um bom projeto. Estas fases são constituídas dos seguintes tópicos: Problematização: fase em que se responde à perguntas “O quê?”, Por quê?” e “Como?”, através da contextualização, da definição dos objetivos e da justificativa da proposta, argumentando-se sobre a veracidade e importância do problema em questão. Análise: divide-se em Sincrônica, Diacrônica, Estrutural, Funcional, Morfológia, Relacionada ao uso. Estas análises trazem a história evolutiva do produto bem como, os produtos da mesma classe existentes no mercado. Mostram, 48 a estrutura, materiais e funcionalidade de uma série de produtos escolhida pelo pesquisador, que mais se encaixem no contexto do projeto. Definição do problema: fase em que se estrutura o problema e lista-se hierarquicamente os requisitos que devem estar contidos no produto a ser criado. Conceito do Projeto: determinação do produto em si, conclusão das pesquisas e análises, definição de forma, materiais, processos de fabricação e dimensões. Anteprojeto/Geração de Alternativas: processo de criação, onde o produto tem sua forma construída através do exercício do esboço, para posteriormente ser projetado em desenho técnico e ilustrativo com suas devidas dimensões. 49 CAPÍTULO IV Todas as pesquisas feitas durante este trabalho foram de suma importância para a fase que inicia-se agora. Neste capítulo serão apresentados os resultados de toda pesquisa, traduzidos no produto proposto. O pensamento projetual está diretamente ligado à solução de problemas. Estes problemas são descobertos através de pesquisas e observações. A realização desta projeto, teve como base a metodologia experimental para a construção de novos produtos de BONSIEPE (1984). Esta metodologia, mostra os passos a serem seguidos para certificar-se da real necessidade de se criar o produto em que se pensou e encaminha toda a criação do produto em si, que vai desde a definição do problema até a ilustração do produto. 4.1 Estudo de Campo Este estudo foi realizado na UNIR – Unidade de Reabilitação da UNIJUI (Universidade Regional do Noroeste do estado do Rio Grande do Sul), através de entrevistas informais com pacientes, fisioterapeutas e terapeuta ocupacional. Conversou-se e coletaram-se dados sobre as sequelas deixadas pelo acometimento do AVE e a recuperação dos pacientes. Receberam-se dicas e idéias de como melhorar o tratamento destes pacientes através da criação de produtos de tecnologia assistiva que, juntamente com os pré-requisitos determinados para o produto, trazem informações importantes para o desenvolvimento do produto, de como deve ser a sua estrutura e materiais. 50 4.1.1 Paciente nº1 C.M., a paciente nº1, tem 30 anos de idade, possui hemiplegia espástica há sete anos devido a um AVE Isquêmico Trombótico. Seu tratamento não começou logo após a doença, por esse motivo, teve uma recuperação de movimentos muito mais lenta. Com dois anos de tratamento, a paciente encontra-se em transição de segundo para terceiro estágio de recuperação, movimenta ombro, cotovelo e punho. Os dedos ainda encontram-se em posição de garra, é grande a espasticidade existente. As dores já não são mais citadas por ela, devido ao fiel cumprimento de exercícios ministrados pela Fisioterapia e Terapia Ocupacional. A paciente utiliza diária e constantemente uma tala que se estende do cotovelo à ponta dos dedos, é feita de PVC revestida de tecido de algodão e presa em diversos lugares do antebraço e mão, por alças de velcro. A tala tem o objetivo de manter o músculo em posição de relaxamento. A paciente consegue realizar algumas tarefas diária sem a utilização da tala, mesmo tendo os dedos em garra, mas estas tarefas não incluem o ato de pegar um copo, por exemplo. Para abrir os dedos da mão com hemiplegia espástica, a paciente precisa ajudar com a mão sadia. Os dedos abertos devem ficar apoiados em uma superfície plana, caso contrário, em poucos minutos a espasticidade faz com que eles voltem à posição de garra. A Figura 32, mostra a paciente simulando sua alimentação. 51 Figura 32: Paciente simulando alimentação. Fonte: Tamires Simionato. Em tentativa de simular sua alimentação com uma colher, a paciente utilizou os movimentos existentes em cotovelo e ombro, já sem espasticidade. As dificuldades encontradas pela paciente, foram principalmente em segurar a colher, relatando que a parte traseira/cabo é de espessura muito fina e posicionar a mão para realizar o movimento de recolher o alimento do prato, nota-se na Figura 32, que a paciente utiliza a mão sadia para ajudar a posicionar a colher. 4.1.2 Paciente nº2 L.F., 5 anos, sofreu paralisia cerebral, não possui um rim, as falanges distais e é autista. A espasticidade é mais acentuada do lado esquerdo do corpo. O paciente não se alimenta de comidas sólidas, apenas bebe líquidos em uma mamadeira, esta torna-se fácil de segurar por sua deficiência nas mãos. Ao pegar algum objeto, utiliza entremeio os 2º e 3º dedos, não utiliza nenhuma tala em antebraço, punho ou mão. Vale ressaltar que o paciente não teve AVE, mas possui sintomas e dificuldades motoras de igual intensidade. 52 Devido ao paciente possuir autismo, seu tratamento é mais demorado e complexo, requerendo muita paciência e dedicação da família e profissionais da saúde. Como toda criança, L.F. gosta de brincadeiras e esforça-se para realizá-las. O paciente recebe também, dentro da UNIR, consultas com nutricionistas com o objetivo de que comece a ganhar peso com alimentos sólidos, porém o mesmo rejeita o alimento e apresenta-se alterado emocionalmente. 4.2 Resultado do Estudo de Campo Dado o estudo de campo, percebeu-se como deve ser o produto para atender às necessidades mostradas pelos pacientes. Durante entrevista informal, a terapeuta ocupacional mencionou que quando o produto é preso à mão, punho e antebraço, acaba por machucar o paciente, pois o punho tende a flexionar-se poucos minutos depois de estendido. A terapeuta ocupacional frisou que, em momentos e dependendo do paciente, o músculo pode ter um espasmo, ou seja, relaxe sem que nada seja feito pra isso, fazendo com que o paciente solte o que está segurando sem perceber. Ainda na entrevista informal, a fisioterapeuta salientou que os objetivos propostos por este trabalho seriam alcançados mais facilmente, se trabalhada apenas a espasticidade da mão, mantendo o punho fletido. Assim sendo, a pega do produto deve ter diâmetro maior que o determinado para a maior parte da população sem hemiplegia espástica, fazendo com que o músculo seja estimulado em posição alongada e tornando mais fácil a utilização pelo paciente. Sendo assim, constatou-se: A parte traseira/cabo do produto deve ter diâmetro maior que o padrão estipulado par a maior parte da população sem hemiplegia espástica (3 a 5cm, como já citado anteriormente); Deve possuir uma alça que envolva a mão para que no caso de espasmo, o paciente não deixe cair o produto; 53 A forma da parte traseira/cabo deve ser circular e conter acomodação para os dedos; O talher deve ser encaixado de acordo com a necessidade do paciente em recolher determinados produtos, por exemplo, utilizar colher para recolher líquidos e trocar por garfo para recolher sólidos; O adaptador deve ser rígido e confortável, de material que não traga qualquer tipo de alergias, irritações ou machucados para a mão do paciente; A parte traseira/pega, deve ser revestida de material antiderrapante; Não deve possuir peso considerável; Deve proporcionar fácil limpeza e manuseio. 4.3 Geração de alternativas Proposta 1: a pega atende aos requisitos estipulados, porém a peça do talher está em posição não condizente com o ato de alimentar-se (Figura 33). A alça possui ergonomia e encaixe para acomodação dos dedos, mas encontra-se em local impróprio, ou seja, caso haja um espasmo muscular, o adaptador cairá da mão do usuário. Figura 33: Proposta 1. Fonte: O autor. 54 Proposta 2: possui a pega e a peça do talher, em posição condizente aos requisitos (Figura 34). Há aqui, a mesma falha da proposta anterior, posição incorreta da alça que envolve a mão. Figura 34: Proposta 2. Fonte: O autor. Proposta 3: com o intuito acomodar corretamente a alça, esboçou-se esta, curvada, passando por cima da mão atendendo aos requisitos do produto(Figura 36). A pega também atende aos requisitos, mas a peça do talher ainda está em posição incorreta. Figura 35: Proposta 3. Fonte: O autor. Proposta 4: esta proposta possui pega com encaixe para os dedos atendendo aos requisitos, alça que envolve a mão de uma extremidade à outra, por cima da acomodação do dedo polegar, atendendo aos requisitos (Figura 36). A peça do talher está acomodada de forma angulada para que o paciente não precise chagar com a mão muito próxima ao prato para recolher o alimento, atendendo aos requisitos propostos para o produto. 55 Figura 36:Proposta 4. Fonte: O autor. Analisando as quatro propostas descritas acima, destaca-se a proposta 4, sendo a que melhor atende à todos os requisitos propostos. Esta, foi esboçada com linhas mais precisas, para antão começar a tomar forma tridimensional (Figura 37). Figura 37: Proposta 4, escolhida. Fonte: O autor. 56 4.4 Desenho Técnico Esta fase constitui a construção do produto em si, com o desenvolvimento de desenhos em 2D e 3D, mostrando suas vistas frontal, superior e lateral em prancha técnica tamanho A3. Para esta fase, foi usado o software SolidWorks. Seguem as pranchas em Anexo: Prancha 1: apresenta o adaptador em desenho 2D nas vistas frontal, superior e lateral com suas devidas cotas, bem como perspectiva isométrica ilustrada e especificações de materiais e processos de fabricação. Prancha 2: apresenta uma peça do talher, colher, em desenho 2D nas vistas frontal, superior e lateral com suas devidas cotas, bem como perspectiva isométrica ilustrada. Prancha 2: apresenta uma peça do talher, garfo, em desenho 2D nas vistas frontal, superior e lateral com suas devidas cotas, bem como perspectiva isométrica ilustrada. Prancha 2: apresenta uma peça do talher, faca, em desenho 2D nas vistas frontal, superior e lateral com suas devidas cotas, bem como perspectiva isométrica ilustrada. 4.5 Desenho Ilustrativo Seguindo as constatações determinadas no item 3.2, o material que melhor adéqua-se para a fabricação do produto é o silicone, polímero atóxico, de grande resistência ao calor, assemelha-se à borracha principalmente em propriedades antiderrapantes e formas que variam do líquido ao sólido. A fabricação do produto dar-se-á por injeção, processo pelo qual o silicone é injetado em um molde através da ação do calor e de uma máquina injetora (MAGALHÃES, 2006). Tais desenhos apresentam o produto em modelagem 3D com a simulação de aplicação de seu material. Para a realização de tais desenhos, foi utilizado o 57 software SolidWorks. Os desenhos que seguem apresentam diferentes vistas do produto em perspectiva e detalhes de encaixe (Figuras 38, 39, 40, 41, 42, 43 e 44). Figura 38: Adaptador, vista frontal ilustrada. Fonte: O autor. Figura 39: Adaptador, vista superior ilustrada. Fonte: O autor. 58 Figura 40: Adaptador, vista lateral ilustrada. Fonte: O autor. Figura 41: Adaptador com peça de talher, vista frontal ilustrada. Fonte: O autor. 59 Figura 42: Adaptador com peça de talher, vista superior ilustrada. Fonte: O autor. Figura 43: Adaptador com peça de talher, vista laterall ilustrada. Fonte: O autor. 60 Figura 44: Adaptador com peça de talher, perspectiva isométrica ilustrada. Fonte: O autor. 4.6 Modelo real de baixa fidelidade (Mock Up) Definida a forma do produto, iniciou-se a modelagem do mesmo em baixa fidelidade, ou seja, o produto com suas devidas dimensões, porém, feito com materiais alternativos, para apenas ser testado quanto forma e funcionalidade. Para a construção do modelo, utilizou-se papel, fita adesiva, massa de modelar escolar, um garfo de aço inox, resina de poliamida e tinta acrílica (Figura 45). 61 Figura 45: Materiais utilizados na construção do Mock Up. Fonte: O autor. Pega e alça começaram a tomar forma através do amassamento do papel, sendo este envolto por fita adesiva. O garfo de aço inox foi entortado de maneira a tender as necessidades antes descritas, para que este ficasse voltado para ao paciente, foi preso ao papel também utilizando-se fita adesiva. Em seguida, cobriuse este material com massa de modelar escolar e moldou-se a acomodação dos dedos na pega (Figura 46). Toda a pega e alça, foram envoltas com resina de poliamida e em seguida pintadas com tinta acrílica (Figura 47). Assim se fez um modelo do produto com a finalidade de ser testado. Os pacientes que tiveram contato com o Mock Up, conseguiram atingir o objetivo de alimentar-se sem necessitar da ajuda de outra pessoa, porém detectaram que o modelo ficou um tanto pesado para a força física de um paciente hemiplégico. Conclui-se mais uma vez, que o silicone é o material ideal a ser utilizado na fabricação do produto, pois este também possui menos peso. 62 Figura 46: Mock Up envolto em massa de modelar escolar. Fonte: O autor. Figura 47: Modelo real de baixa fidelidade. Fonte: O autor. 63 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho apresentou a busca da melhoria de qualidade de vida para pacientes com hemiplegia espástica decorrente de Acidente Vascular Encefálico Isquêmico Trombótico. Foram relatados os dados de ocorrência do AVE, o que é a doença, porque ela ocorre, quais seus tipos e suas sequelas. Mostrou os fatores de risco para o acometimento e os métodos de prevenção, bem como o processo de reabilitação com tratamento de fisioterapia e terapia ocupacional. Esclareceu a necessidade de produtos que auxiliem pacientes acometidos pela doença e objetivou a criação de um produto que atenda às dificuldades de alimentação existentes nos pacientes acometidos de AVE. Há no mercado, uma carência de produtos de tecnologia assistiva. Não importa a deficiência do paciente, os produtos que podem auxiliar nas tarefas diárias e trazer mais conforto e autonomia para o cotidiano dos pacientes são poucos e possuem grande valor. Todas estas informações, trouxeram uma pesquisa analítica da evolução do talher e dos atuais produtos existentes no mercado, também para pessoas com necessidades especiais. Algumas peças foram selecionadas para análises de estrutura, funcionalidade, morfologia, forma, ergonomia e usabilidade. Tais analises juntamente com estudo de campo, formaram uma lista de requisitos a que deveria seguir a criação do produto em questão. O design como contribuinte direto à vida social das pessoas, ganhou destaque com a intenção de criar um produto de tecnologia assistiva que trará ao usuário mais autonomia em tarefas diárias. Antropometria e ergonomia estiveram presentes em toda realização da pesquisa, bem como análise de pacientes e entrevistas informais com profissionais de fisioterapia e terapia ocupacional que trabalham com a reabilitação de pacientes com hemiplegia espástica, aos quais o produto em questão é destinado. 64 A metodologia utilizada para a realização da pesquisa e desenvolvimento das tarefas aqui presentes, foi de fundamental importância para reger a organização e interpretação de situações acontecidas durante o processo de busca de informações, análise e interpretação de estudo de campo. Dados os requisitos para a criação do produto, buscaram-se alternativas em âmbito estrutural, funcional, morfológico e principalmente ergonômico no que se trata de materiais e usabilidade, buscando trazer conforto e autonomia ao paciente durante o uso do produto. O produto possui material duradouro e processo de fabricação simples, sua forma é cabível aos pacientes analisados e seu uso obteve sucesso. A principal lição que se pode tirar deste projeto é a contribuição do design na vida das pessoas. Neste trabalho, apresentou-se um dos muitos problemas vividos pela população acometida de AVE. Ainda há muito o que se trabalhar para a melhoria de vida estes pacientes. Não é questão de cada um fazer sua parte, é a determinação de pessoas que possuem base emocional e buscam acompanhar as condições de vida destes, adquirindo conhecimento sobre a doença e o tratamento de sua sequela, com a finalidade de proporcionar a melhoria física e psicológica dos pacientes em questão. Recomenda-se que a busca do saber e que, o amor ao próximo não seja deixado de lado durante a realização de um projeto deste âmbito. Que o projetista saiba a hora de escutar os relatos dos pacientes sobre suas dificuldades diárias, para assim poder criar/inovar produtos que assistam às suas necessidades. Que a busca de novos parâmetros de design e de inserção na sociedade seja cada vez mais conquistada pelos projetistas que sabem ver, em pequenos detalhes, grandes projetos. 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DAMIANI, Ibsen Thadeo; YOKOO, Edson Issamu. Acidente Vascular Cerebral - um guia para pacientes e seus familiares. São Paulo, 1995. BOBATH, Berta. Hemiplegia em adultos. 3. ed. São Paulo: Manole, 2001. GOMES FILHO, João. Ergonomia do Objeto: sistema técnico de leitura ergonômica. São Paulo: Escrituras Editora, 2003. REDIG, Joaquim. Sobre Desenho Industrial – Desenho de Produto, Comunicação Visual. Rio de Janeiro: ESDI, 1977. CARR, Janet; SHEPHERD, Roberta. 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