ANÁLISE DO POLIMORFISMO rs2232365 DE FOXP3 EM MULHERES SAUDÁVEIS E INFECTADAS PELO PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) Rodolfo Sanches Ferreira, Fernando Cezar dos Santos, Karen Brajão de Oliveira, e-mail: [email protected] Universidade Estadual Biológicas/CCB. de Londrina/Departamento de Ciências Área e sub-área do conhecimento: Imunologia/Imunogenética Palavras-chave: Câncer cervical, HPV, Imunogenética. Resumo O câncer cervical é o terceiro tipo de câncer mais frequente entre mulheres, ficando atrás apenas do câncer de mama e de colon e reto. Considera-se que a persistência do papilomavírus humano (HPV) é fundamental para o desenvolvimento do câncer cervical. Contudo a interação entre tumor – hospedeiro é complexa, e sua compreensão implica no entendimento do microambiente tumoral-imunológico, uma vez que lesões cervicais provocadas pelo HPV podem ser limitadas pelo sistema imunológico assim como pode contribuir para a progressão tumoral. Neste microambiente podemos destacar as células T regulatórias, que modulam a resposta imune. Desta forma é extremamente importante a compreensão de como o sistema imunológico modula a formação, crescimento e progressão tumoral. Tendo em vista a importância epidemiológica do câncer cervical e da relação do HPV com o desenvolvimento de neoplasia intraepitelial cervical, este estudo objetivou: avaliar a presença do vírus em mulheres atendidas em programas de prevenção ao câncer cervical do setor público de saúde da região norte do Paraná; determinar a frequência do polimorfismo rs2232365 do gene FOXP3 nestas mulheres; avaliar a possível associação deste polimorfismo com a infecção pelo HPV. A detecção do HPV foi realizada através da técnica de PCR, a identificação do polimorfismo foi feita por meio de PCR-RFLP. Das 271 mulheres investigadas, o HPV foi detectado em 62,2% das mulheres. Em relação a distribuição genotípica do polimorfismo rs2232365 entre mulheres HPV positivas, não foi encontrada associação significativa da presença deste polimorfismo do gene FOXP3 com a infecção pelo HPV. 1 Introdução O câncer cervical é a quarta causa de morte em mulheres de todo o mundo, tendo sido reportados 528.000 casos em 2012, com 266.000 mortes relatadas (GLOBOCAN, 2012). Evidências epidemiológicas e moleculares claramente indicam que certos tipos de Papilomavirus Humanos (HPV) são os principais causadores do carcinoma cervical invasivo (MUÑOZ, 1992) e neoplasia intraepitelial cervical (SCHIFFMAN et al., 1993). A resposta imune desempenha um importante papel na resolução da infecção pelo HPV, mas algumas infecções podem não ser eliminadas e persistir por vários anos (ZUR HAUSEN, 1996). No entanto, uma subpopulação de células T regulatórias (Treg), por seu papel imunossupressor, estão relacionadas com a contribuição para o desenvolvimento tumoral (ZENG et al., 2012). O fator de transcrição FOXp3 desempenha um importante papel no desenvolvimento de células Treg e está envolvido na sua função e regulação (COFFER, BURGERING, 2004). Estudos tem demonstrado que células Treg Foxp3+ CD4+ CD25+ que se expandem em tumores promovem o desenvolvimento focal do tumor pela supressão de células T CD4+ ativadas (JARVIS et al., 2005). Tendo em vista a importância epidemiológica do câncer de colo de útero e da relação do HPV com o desenvolvimento de neoplasia intraepitelial cervical, este estudo teve como objetivo: avaliar a presença do vírus em mulheres atendidas em programas de prevenção ao câncer cervical do setor público de saúde da região norte do Paraná; determinar a frequência do polimorfismo rs2232365 do gene FOXP3 nestas mulheres; avaliar a possível associação deste polimorfismo com a infecção pelo HPV. Métodos Neste estudo o grupo analisado consistiu de mulheres acima de 18 anos atendidas em programas de prevenção ao câncer cervical de unidades básicas de saúde (UBS) da região Norte do Paraná. Amostras de células oriundas do epitélio cervical uterino foram coletadas no momento do exame ginecológico preventivo de rotina, pela enfermeira da UBS e acondicionadas em tubos falcon com tampão TE. Amostras de sangue periférico foram obtidas por punção venosa, após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, em tubos de coleta contendo anticoagulante EDTA. O DNA das amostras foi extraído utilizando-se o reagente DNAzol Reagent (Gibco BRL, Life Technologies®) (WANDERLEI-SILVA et al., 2005). A 2 detecção do HPV foi realizada através da técnica de PCR, utilizando-se iniciadores forward MY09 e reverse MY11, de acordo com o GenBank Accession number: AJ236888, que amplificam uma região conservada de 450 pb do gene L1 do HPV (Bauer et al. 1991). A identificação do polimorfismo foi feita através de PCR-RFLP utilizando-se a enzima BsmB-I. Resultados e Discussão Das 271 mulheres investigadas, o HPV foi detectado em 62,2% (n=171) das pacientes e as HPV negativas representaram 37,1% (n=101), sendo alocadas no grupo controle. Em relação a distribuição genotípica do polimorfismo rs2232365 entre mulheres HPV positivas observou-se que 15,8% das mulheres apresentaram genótipo GG, 63,7% AG e 20,7% AA, enquanto dentre as controles, 15% apresentaram o genótipo GG, 65% AG e 20% AA. Desta forma não encontramos associação significativa da presença do polimorfismo rs2232365 do gene FOXP3 com a infecção pelo HPV. Sabe-se que células cervicais neoplásicas HPV positivas expressam FOXP3, e essa expressão é associada à um mau prognóstico, sugerindo que o gene FOXP3 desempenha um papel importante na persistência da infecção viral e na carcinogênese induzida pelo HPV (LUO et al., 2015). O polimorfismo estudado está localizado na região promotora, que pode acarretar em alterações na expressão gênica. No entanto, o padrão transcricional associado com este polimorfismo ainda não foi elucidado (ODA et al., 2013). Conclusões Não foi encontrada associação significativa do polimorfismo rs2232365 de FOXP3 com a infecção por HPV neste estudo, entretanto, afirmar que esta relação realmente não ocorra pode ser temerário, uma vez que inexistem estudos na literatura em populações randomizadas investigando esta associação. Nossos achados são preliminares e necessitam de um número maior de indivíduos para que possam ser comprovados. Agradecimentos Agradeço à orientadora, à UEL pelo espaço e oportunidade, à PROPPG e ao CNPq pelo apoio financeiro através do PIBIC. Referências 3 Coffer, P. J., Burgering, B. M. Forkhead Box transcription factors and their role in the immune system. Nat Rev Immunol, v. 4, p. 889–99, 2004. 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