Carta Mensal Setembro/2016 O custo da nova matriz Juan Jensen Trocar a política econômica tradicional, que vinha dando certo, acabou por colocar o país em uma de suas maiores crises econômicas Mas onde estaríamos se não houvesse alteração na política econômica, qual teria sido o comportamento de nossa economia? Qual foi o custo de oportunidade de adotar a nova matriz? Para a construção de um cenário contra factual tomarmos como exemplo Chile, Colômbia e Peru, que passaram por um período de menor crescimento econômico durante os últimos 3 anos, mas sem mudança de política econômica Desta forma, simulamos uma redução de 47% na taxa de crescimento média do decênio entre 2004 e 2013 Os resultados indicam que a perda acumulada no PIB frente ao cenário contra factual foi de R$ 1,5 trilhão entre 2014 e 2016 Em termos per capita, o potencial desperdiçado chega a R$ 7.343 A nova matriz econômica trouxe um custo elevado ao país. Trocar a política econômica tradicional, que vinha dando certo, acabou por colocar o país em uma de suas maiores crises econômicas. Depois de não crescer em 2014, a retração acumulada do PIB em 2015 e 2016 será da ordem de 6,7%. O número de desempregados deve alcançar 14 milhões. A retração dos investimentos chegou a 26%. Onde estaríamos se não houvesse alteração na política econômica, qual teria sido o comportamento de nossa economia? Qual foi o custo de oportunidade de adotar a nova matriz? Para o governo anterior, foi feito tudo o que podia ser feito e a culpa pelo pífio desempenho do Brasil foi da crise internacional. É verdade que o mundo desacelerou, principalmente o mundo emergente. Se tomarmos como exemplo Chile, Colômbia e Peru, vemos que o crescimento econômico diminuiu muito nos últimos 3 anos (2014 a 2016) em relação a década anterior (2004 a 2013). Na média, estes países cresceram 5,2% ao ano nessa década, desacelerando para 2,8% ao ano nos últimos três anos. O Chile desacelerou um pouco mais e a Colômbia um pouco menos. O Brasil, no decênio de 2004 a 2013 cresceu 4,0% ao ano, mas em seguida não tivemos desaceleração, tivemos uma brutal retração econômica. A diferença é que estes países mantiveram seu receituário econômico, a mesma utilizada pelo Brasil de 1999 a meados de 2011. Já o Brasil se aventurou pelas diretrizes de uma nova matriz econômica, com muito mais intervenção do governo em diversas áreas. O gráfico 1 abaixo mostra essa diferença de crescimento econômico no país nesses dois períodos. 4E Consultoria | Alameda Santos 2313, cj. 213, São Paulo - SP | (11) 3198-3654 www.4econsultoria.com.br Figura1: Crescimento médio do PIB: 2004-2013 e 2014-16 (% a.a.) Fonte: FMI, Consensus e 4E Exercício interessante para levantar o custo dessa aventura é calcular qual teria sido o comportamento do Brasil se tivéssemos passado por desaceleração semelhante a estes 3 países, um cenário contra factual. Se isso tivesse ocorrido, uma redução na taxa de crescimento da ordem de 47%, teríamos crescido 2,1% em média nestes últimos 3 anos. Ao aplicar esta taxa de crescimento ao PIB, vemos o tamanho das perdas, R$ 114 bilhões em 2014, R$ 473 bilhões em 2015 e R$ 856 bilhões em 2016, em valores correntes (figura 2). Somando e inflacionando para valores de 2016 chegamos ao tamanho da conta, R$ 1,5 trilhão. Esse é o custo de oportunidade. A diferença entre o que foi e o que poderia ter sido. Isto mostra que o déficit primário de R$ 170 bilhões deste ano é apenas uma pequena parcela desse custo. Figura2: PIB em R$ correntes – realizado e cenário contra factual Fonte: IBGE e 4E 4E Consultoria | Alameda Santos 2313, cj. 213, São Paulo - SP | (11) 3198-3654 www.4econsultoria.com.br Se analisarmos a conta per capita, ainda assim a perda é elevada. Dividindo pelos 206 milhões de brasileiros, a conta de 2016 mostra uma perda de R$ 4.156 por pessoa. Se somarmos as perdas de 2014 e 2015, inflacionados para reais deste ano, chegamos a um valor final de R$ 7.343 por pessoa. É muita coisa. Este é o produto que deixamos de gerar por pessoa ao longo deste período. Extrapolando para os investimentos, que foi a abertura do PIB que mais sofreu neste período, estimamos que deixamos de investir R$ 41 bilhões em 2014, R$ 222 bilhões em 2015 e R$ 383 bilhões em 2016. Trazendo a valores constantes são R$ 675 bilhões a menos em investimentos. E esse custo ainda vai subir mesmo com o novo governo aposentando a já antiga “nova matriz”. Diante dos graves problemas fiscais, ainda vamos demorar alguns anos para recuperar os investimentos e, consequentemente, a mesma capacidade de crescimento de nossos vizinhos. Como podemos ver, a conta ficou cara, muito cara. Espera-se que nenhum futuro governo no Brasil se aventure novamente com políticas econômicas tão equivocadas. Juan Jensen Mestre e doutor em economia pela USP, sócio da 4E Consultoria e professor do Insper ([email protected]) 4E Consultoria | Alameda Santos 2313, cj. 213, São Paulo - SP | (11) 3198-3654 www.4econsultoria.com.br