TRATAMENTO DE EFLUENTES AQUOSOS GERADOS EM LABORATÓRIO DE ANÁLISE QUÍMICA DE MINÉRIOS DE FERRO E MANGANÊS ATRAVÉS DE PRECIPITAÇÃO EM COLUNA DE DOLOMITA. Luís Roberto Takiyama' Ozelito Possidônio de Amarante Junior" Romer Pessôa Fernandes" RESUMO Neste trabalho foi estudado o tratamento de resíduos aquosos gerados em processos analíticos de laboratório químico para controle de minérios de ferro e manganês. O efluente apresentou variação em suas características durante o dia, com valores de pH entre 7,5 e 1,5. Estes resíduos continham ferro e manganês em concentrações de 17,00 ± 0,5 mgIL e 14,00 ± 0,03 mg/L, respectivamente. Outros metais tais como AI, Cr, Cu, Hg, Sn, Pb, Mo, Ba and Zn foram também determinados. Inicialmente, foi realizado tratamento do efluente com NaOH (grau analítico) para a determinação do melhor pH de precipitação para os metais presentes no efluente.Numa segunda etapa, reagentes, tais como soda cáustica comercial, ca1cário dolomítico e cal foram usados com o intuito de selecionar o melhor agente de precipitação. A cal não produziu qualquer precipitado, enquanto que a soda cáustica e o ca1cário apresentaram precipitação e também remoção dos elementos de interesse por adsorção. No caso do ca1cário, colunas de polietileno foram recheadas com o material, em forma granular, sendo avaliada a eficácia no tratamento de resíduos aquosos pela observação do pH final do efluente. Três granulometrias diferentes foram testadas, obtendo-se melhor eficiência para o material com menor granulometria. Palavras-chave: tratamento de efluentes; laboratório; dolomita. SUMMARY In this work, the treatrnent of aqueous waste from analytical processes of chemical laboratory for control of iron and manganese, ores was investigated. The effluent presented variation in characteristics during the day, with pH values between 7,5 and 1,5. It had concentrations of Fe and Mn was 17,00 ± 0,05 mgIL and 14,00 ± 0,03 mgIL, respectively. * Pesquisador lI! (Recursos Aquáticos), Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá. ** Estudantes de Mestrado em Química, Universidade Federal do Maranhão. Cad. Pesq., São Luís, v. 11, n. 2, p. 6J-7J,jul./dez. 2000. 61 Others metals such as AI, Cr, Cu, Hg, Sn, Pb, Mo, Ba and Zn was also analyzed. Initially, the wastewater treatment with NaOH (analytical grade) was done to find the best precipitation pH for the metais present in the sample. In a second step, reagents such as caustic soda, lime (dolomite, powder) and calcium hydroxide were used to select the best precipitation agent. The calcium hydroxide did not produce any precipitate, while caustic soda and lime presented precipitation and also removal of the elements of interest by absorption. The lime was used in the granular form placed in a column to treat the wastewater. Three different partic1e sizes of the precipitation agent were tested and the best efficiency was achieved using the material with the smallest partic1e size. Keywords: laboratory waste treatment; doIomite; precipitation. 1 INTRODUÇÃO Laboratórios de instituições de ensino, de fiscalização do governo, empresas de consultoria ou fábricas geralmente têm tido pouca preocupação em relação às águas residuárias produzidas em seus processos analíticos e emitidas de modo descontrolado em corpos aquáticos receptores. Uma nova visão vem surgindo na sociedade moderna em que o produtor de um resíduo é também o responsável por seu tratamento antes de lançá-Io ao meio ambiente. (JARDIM, 1997, pA). O gerenciamento de resíduos deve ser realizado para os procedimentos dos laboratórios químicos, bioquímicas, médicos, biológicos, de engenharia e tecnologia, bem como em outras áreas, como por exemplo em laboratórios de artes finas, nas estamparias e no desenvolvimento fotográfico, onde vários produtos químicos de razoável grau de toxicidade são, igualmente, usados (ACS, 1994, p.115). É responsabilidade do laboratório informar a sociedade sobre os resíduos gerados e as ativida62 des executadas para minimizá-los, visto que tal omissão pode acarretar manipulação de informação que ocorre sempre de acordo com interesses de uma parte da imprensa ou grupos políticos. Alguns autores (BUZZETTI, 1997, p.67) defendem que a produção de "resíduo zero" é perfeitamente possível, espelhando-se no modelo natural das cadeias alimentares. No entanto, os autores levam em conta processos como a produção de bebidas fermentadas que têm resíduos orgânicos reaproveitáveis na agricultura e na piscicultura, entre outros. Quando se fala de resíduos de um laboratório, em que várias espécies podem estar presentes, desde metais pesados, ânions tóxicos, ou outros compostos nocivos à vida, deve-se considerar que tais resíduos dificilmente encontrarão usos alternativos, o que torna complicado seu tratamento. Uma forma de se retirar metais pesados de uma solução aquosa é precipitá-los como hidróxidos. É importante ressaltar que, se um determinado Cad. Pesq., São Luís, v. 11, n. 2, p. 61-71, jul.Zdez. 2000. metal está presente no resíduo em concentrações relativamente altas, a sua precipitação como hidróxido pode provocar a co-precipitação de outros metais presentes. (MOZETO et al, 1998, p.5). Um estudo feito com resíduos de indústria têxtil que possuíam o corante índigo, e pequenas quantidades de contaminantes como chumbo, cobre, níquel e cromo mostrou que estes metais foram satisfatoriamente removidos pela floculação com sulfato de alumínio. O precipitado foi utilizado como aditivo de argilas, melhorando sua resistência (OLIVEIRA et al., 1998, p.99). Foram também recuperados metais-traço em salmouras, pela coprecipitação com ferro (IlI) e Mg (II) na forma de hidróxido, ajustando-se o pH para 9,0 com NaOH. No caso, foi possível remover 95% de AI (IlI), Cd (II), Co (II), Mn (II), Pb (II) e Cr (lI); 90% de Cu (lI) e V (lI), não conseguindo-se níveis satisfatórios para Mo (VI) e Sr (Il), A elevação de pH diminuiu a eficiência de recuperação (MARIANO & COSTA, 1993, p.125). Em laboratórios de análises de minérios de ferro e manganês, as determinações são, em geral, realizadas através de titulações de oxi-redução, gravimetria, colorimetria, absorção atômica de chama e emissão com plasma (ICP) gerando resíduos extremamente ácidos, com concentrações de íons H+ superiores a 1mollL, contendo metais solúveis tais como ferro, manganês, alumínio, estanho, mercúrio, cromo hexavalente, Cad. Pesq., São Luís, v. 11, n. 2, p. 61-7 J, jui/dez. bário, cobre, cobalto, níquel, zinco, chumbo, entre outros. Isto revela uma necessidade de se tratar tais resíduos para posterior descarte em corpos receptores. Devido à necessidade de disponibilizar este rejeito de modo menos agressivo ao meio, este trabalho se destina a caracterizar e sugerir um tratamento para resíduos gerados em laboratórios de análises químicas de minérios de ferro e manganês, sendo, portanto, importante a determinação dos elementos mais impactantes e de possíveis formas de remoção que apresentem eficiência e baixo custo. 2 METODOLOGIA 2.1 Amostras utilizadas Utilizou-se neste estudo os rejeitos provenientes das análises de minério de ferro, na determinação de ferro total e em ICP, e de manganês, na determinação de manganês total e em ICP, recolhendo-os logo após a análise. A Figura 1 mostra um diagrama das amostras utilizadas e o rejeito geral produzido pelo laboratório. Descarte Fig. 1: Fluxograma de despejo de rejeitos. 2000. 63 2.2 Procedimentos de análise Foram analisados os seguintes elementos: ferro, manganês, alumínio, fósforo, estanho, cromo, cobalto, cobre, níquel, zinco, chumbo, cádmio, bário e mercúrio em espectrômetro de emissão óptica com plasma acoplado indutivamente (ICP), modelo Spectroflame, da Spectro Analytical Instruments. Para tal, foram seguidos os procedimentos recomendados pelo fabricante do equipamento. Utilizou-se as linhas padrões de emissão, escolhendose a linha com menor interferência. Realizou-se a leitura do branco. Neste estudo usou-se água deionizada, visto que esta apresentou a mesma linha de base das amostras, não apresentando efeito da matriz, principalmente devido ao fato do efluente ser aquoso. O efeito da diferença de pH e densidade não foi observado, tomando, assim, desnecessário o uso de artifícios como a adição padrão. Foram analisados os padrões, construindo-se as curvas que relacionaram a concentração dos elementos de interesse com a intensidade de radiação emitida, seguidos das amostras. 2.3 Testes preliminares 2.3.1 Seleção do pH de precipitação Coletou-se uma série de oito amostras provenientes das análises de rotina do laboratório, precipitando-se os metais presentes com solução de hidróxido de sódio a 8 mol/L, A 100 rnL de amostra e diferentes volumes de adição da base, mediu-se o pH após cada adição. Analisou-se as amostras antes e após adição de NaOH em ICP, 64 desconsiderando-se qualquer efeito de diluição, visto que a solução adicionada apresentava concentração elevada da base. Desta forma foi possível escolher a melhor faixa de pH para a precipitação dos elementos em estudo. 2.3.2 Seleção do agente de precipitação Inicialmente, preparou-se uma amostra sintética pela combinação de rejeitos da análise de minério de ferro em ICP e da determinação de ferro total por dicromatometria, água de lavagem, detergente e água destilada de lavagem de vidrarias. Testou-se a precipitação dos metais presentes no efluente por adição de soda cáustica comercial (na forma de solução 8 mol/ L), calcário (sólido em pó) e cal (sólido), utilizando-se sempre 100 rnL da amostra, durante a adição gradativa, monitorando-se o pH. Após a precipitação, filtrou-se as amostras em filtro Framex, quantitativo, e determinou-se, assim, a concentração dos metais de interesse no filtrado. A dosagem de precipitante foi controlada pelo pH final após a adição. 2.3.3 Seleção da melhor vazão de tratamento em coluna Após a escolha do agente de precipitação e da elaboração do sistema de tratamento, iniciou-se os experimentos em coluna, observando-se a variação de pH em função da vazão utilizada neste processo. 2.4 Testes complementares 2.4.1 Seleção da granulometria do precipitante Variou-se a granulometria do Cad. Pesq., São Luís, v. 11, n. 2, p. 61-71, jul.Zdez: 2000. calcário dolomítico, após escolhida a vazão ideal observando-se a variação de pH em função do tempo de tratamento. Utilizou-se no estudo três faixas de dimensão: a primeira com grânulos de diâmetros maiores que 4,00 e menores que 6,50 mm, o segundo com diâmetros entre 6,50 e 8,00 mm, e o terceiro grupo com diâmetros entre 8,00 e 12,00 mm. Fezse passar por este sistema efluentes gerados em análise dicromatométrica para determinação de ferro total em minérios de ferro e análise de minério de ferro em lCP, sendo ambas as amostras ricas em metais como Fe, Mn, AI, Sn, Cu, Co, Zn, Ni, Pb, Hg e Ba, possuindo, ainda valores de pH inferiores a zero. pH dentro da faixa de trabalho já determinada. Esta comparação é mostrada na Figura 3. 1.2 ------------------, Ô ~1 '1:l-------------<!IIlCr .. Qj ~---------~~il·~ ;;; 0,6 i f3Cu " -o ! IIIIAI o~ 0,4 c :'l g ~-~-------~:Iop ill!M1 0,2 U o < 0.0 4,50 6,22 7,99 RESULTADOS E DISCUSSÕES 11,99 Fig. 2: Concentrações relativas dos elementos em estudo em função da correção de pH. A 8 1,4 i DF. .AI 9Co .Cu OMn 1,2 .~ 3.1 Testes preliminares 9,00 pH 1,6 3 ! OFe i GilSn ., .~ 0.8 ! : 1 08 "Ba ' ElSn IIlCr .~ 0,6 ;: 0,4 [;Jp A Figura 2 apresenta a concen!lo 0,2 "Ha c tração relativa dos metais após a adi..•. I 11: 8,75 <0.00 2,66 5,38 9,63 ção de NaOH, de grau analítico, para pH várias faixas de pH. Os resultados 1,2 obtidos mostraram que entre pH 6,0 B Ô e 8,0 obtém-se a menor concentra1 ~ IIDFe ção de metais solúveis. Devido a isto, DA! ~ 0,8 aMl 7ó escolheu-se uma faixa de pH de traDBa ;;; 0,6 gSn balho mais estreita, no intuito de ga~oIlIQ ~ 0,4 rantir uma precipitação satisfatória, HP E IB..!!J. optando-se por valores de pH final g 0,2 o " entre 6,5 e 7,5. o 0,99 6.80 6,58 6,79 7,41 6,61 7,00 7,00 6,63 Pode-se, ainda, comparar as capH pacidades de precipitação da soda cáustica comercial e do calcário Fig. 3: Concentração relativa dos elemendolomítico, verificando as concentratos estudados após tratamento, A: tratações relativas dos metais após tratamenmento com soda cáustica comercial. B: to com estes materiais até obtenção de tratamento com caleário dolomítico. : 1 7,01 .. Qj .• Cad. Pesq., São Luís, v. 11, n. 2, p. 61-71, jul.Zdez. 2000, 65 Pode-se observar que a soda cáustica não precipita satisfatoriamente o mercúrio e o zinco, quando presentes em grandes concentrações. Ocorre, ainda, o acréscimo de mercúrio solúvel, uma vez que, neste resíduo, o mercúrio se apresenta na forma de Hg2+, solúvel, e de Hg2C~, insolúvel. Este último pode ser solubilizado pela presença de hidróxido acima de pH 7,0. Além disto, o manuseio da soda requer preparo e estoque da solução, bem como uma etapa de precipitação pela adição do reagente, seguida de uma filtração ou decantação para retirada dos precipitados formados. O uso de calcário para remoção de metais se mostrou eficiente para quase todos os elementos estudados. Apenas o fósforo apresentou remoção em torno de 80% e o mercúrio não foi removido. Não se observou redissolução de mercúrio a partir dos sedimentos. Além disto, o manuseio do calcário pode ser realizado de forma mais simples, fixando-o em uma coluna e fazendo-se passar por ela o resíduo aquoso a ser tratado. É importante ressaltar que o custo do calcário é menor que o da soda, sendo consumidos R$0,02 a cada lOL de resíduo tratado. Realizou-se testes em escala de laboratório, construindo-se um sistema composto por um reservatório plástico conectado a uma coluna, contento dolomita cedida pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), em Carajás, Pará. Uma mangueira com válvula de regulagem de vazão controlou o sistema, que funcionou por ação da gravidade. A Figura 4 ilustra a utilização da coluna para o tratamento dos resíduos. 66 A coluna de dolomita tinha volume de 2,85 dm". A dolomita foi triturada em britador de mandíbula, com abertura de 22 mm, para que se tivesse uma granulometria mais homogênea e uma maior área superficial. Desta forma, o volume de calcário dolornítico dentro da coluna foi estimado em 2,43 drn'. O volume de líquido no recipiente foi, portanto, de 0,42 dm'. Reservatório ~ lf ~. Coluna ~~ < de dolomita Fig. 4: Sistema em coluna para o tratamento dos efluentes em estudo. Como a reação entre ácidos e carbonato libera grande quantidade de gás carbônico, foi necessário deixar um espaço na parte superior do reator para a eliminação do gás gerado durante o tratamento. Para otimizar o uso do sistema, utilizou-se resíduo de minério de ferro analisado em lCP e controlandose o pH, em função da vazão, observou-se o melhor fluxo para o tratamento do efluente. O resultado deste estudo pode ser visto na Figura 5. Determinou-se, assim, que a vazão a ser utilizada era de 0,01 dmvmin. Observou-se a variação de pH em função do tempo para a mesma amostra de minério de ferro em lCP, sob vazão constante de 0,01 dmvmin. Os valores Cad. Pesq., São Luís, v. 11, n. 2, p. 61-71, jul.Zdez. 2000. de pH em função do tempo podem ser vistos na Figura 6. 8.--------------------, 6+-------------- :a. 4 +----=::,--2+-..__ -0+-J:!!5I...~ nos 0,03 O,~ 0,015 0,01 dm3/min Fig. 5: Variação de pH em função da vazão. Observou-se, desta forma, que durante o tratamento a variação de pH final pode ser considerada desprezível, coletando-se, assim, uma única amostra homogênea e representativa deste procedimento. Foram tratadas neste sistema as amostras de minério de ferro analisado em lCP na determinação de ferro total, e minério de manganês na determinação de manganês total e na análise em ICP. 8 --------------- __ ~ sultados expostos na Figura 7. Para esta amostra pode-se afirmar que o tratamento foi eficiente, visto que todos os elementos em estudo apresentaram, depois de tratados, concentrações abaixo dos limites estabelecidos pela legislação em vigor. O zinco e 'o fósforo apresentam um pequeno acréscimo em sua concentração, provavelmente devido à presença destes elementos na dolomita. O ferro e o alumínio são reduzidos a níveis inferiores ao limite de detecção do método utilizado, que são 0,2 mg/L e 0,08 mg/L, respectivamente. O volume de efluente tratado neste experimento foi de 3,75 drn' o que corresponde a 8,93 volumes de reator. ~ 50 A Hfjf------JI."I o Cfinal C inicial i 1,~ +- ig- 0,6 0,8 .- ~ B -,-,-_--j 'DAI DP .Ba 1-------1 .Zn 0,4 CD <3g 0.2O .j....L-L....li~1DIi:01II?ll"-r_J........l ""'" l1li __I ~ C inicial 10 15 20 30 45 60 Tempo (mln) Fig. 6: Variação do pH em função do tempo. C final Fig. 7: Remoção de elementos impactantes para efluentes de minério de ferro analisado em ICP. A: Remoção de ferro, B: Remoção de alumínio, fósforo, bário, zinco e cromo. 3.2 Testes Complementares 3.2.1 Tratamento do resíduo de minério de ferro analisado em lCP 3.2.2 Tratamento do resíduo de determinação de ferro total em minério de ferro. Para a amostras de minério de ferro analisada em lCP obteve-se os re- Passou-se, em seguida, neste mesmo sistema, sem regeneração, o Cad. Pesq., São Luís, v. l l, n. 2, p. 61-71,jul./dez. 2000. 67 efluente gerado na análise de minério de ferro na determinação de ferro total, obtendo-se os resultados expostos na Figura 8. Pode-se observar que todos os elementos estão dentro dos limites legais, com exceção do mercúrio que apresenta uma concentração residual de 2,028 mg/L, isto é, 200 vezes maior que o limite estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Neste resíduo também se observa um aumento discreto na concentração de zinco, o que confirma a hipótese de que este esteja sendo solubilizado a partir da dolomita. ~ .s. o ~ 3.2.3 Tratamento do rejeito de determinação de manganês total em minério de manganês. Utilizou-se na mesma coluna, o efluente da análise de minério de manganês na determinação de manganês total, obtendo-se os valores apresentados na Figura 9. No tratamento desta amostra pode-se perceber que a precipitação do zinco (único elemento impactante) ocorre de modo que apenas 6,63% da concentração inicial permanece solúvel. No entanto, este valor ainda se encontra superior ao limite de 5,0 mg/L, estabelecido pelo CONAMA. 2000 1500 e 1000 e 500 o o " A 2500 encontra na faixa definida de 7,0 ± 0,5. o" ~ ::J 150 so 100 "il> r:~.., ..-----..--.~. ~.:1 C inicial C final '1l. 8 acDF. g 8 10.!: o· ~ :. IEIHg IBSn IIIMn .Ba CAI C inicial .Zn e " Neste teste utilizou-se o mesmo volume de efluente, 3,75dm3, o que corresponde a um volume total de reator igual a 17,86, considerando-se os volumes de ambos os rejeitos tratados nesta coluna sem regeneração. Nota-se que o pH final de tratamento ainda se 68 Imzn I 50 CI> o " o o ::J "il> .s. o '1l. Fig. 8: Remoção de elementos impactantes no rejeito de minério de ferro analisado para determinação de ferro total. A: Remoção de fósforo. B: Remoção de cromo, ferro, mercúrio, estanho, manganês, bário, alumínio e zinco. A .,"e o C Inicial B 2 1.5 1 o e 0.5 o o o Cfinal '.Ba .Ni C inicial I Cfinal Fig. 9: Remoção dos elementos impactantes em resíduo de minério de manganês analisado para determinação de manganês total. A: Remoção de zinco. B: Remoção de bário e níquel. Outro ponto observado é a redissolução de bário, provavelmente proveniente do resíduo de determinação de ferro total tratado na mesma Cad. Pesq., São Luís, v. 11, n. 2, p. 61-71,jul./dez. 2000. coluna antes do resíduo de determinação de manganês total. Neste caso a concentração de bário sofre um acréscimo, sendo a concentração inicial de 0,28mglL e a finall,86mglL, mas permanecendo dentro dos limites legais. Utilizou-se o volume de 7,50 dm' deste último resíduo, completando 35,71 volumes de reator utilizados. Ainda naquele caso, embora o pH tenha se apresentado pouco abaixo dos valores inicialmente observados, ainda assim permaneceu na faixa estabelecida para este estudo. 3.2.4 Tratamento do resíduo de análise em ICP de minério de manganês. Tratou-se, ainda, o efluente gerado na análise de minério de manganês por ICP neste sistema, também sem qualquer regeneração do sistema, obtendose os valores expostos na Figura 10. ::J 300 .,...,.-..,..,........"..,...--,..---:-~---, A ~ 250 -;; 200 "O o. 150 ~ g .3 100 50 o o tratamento se apresentou eficiente para esta amostra, visto que as concentrações de todos os elementos em estudo foram inferiores aos limites estabelecidos pela legislação. Utilizouse o volume de 3,75 dm' para este experimento, totalizando 44,64 volumes de reator utilizados, ao todo. 3.2.5 Teste de eficiência do reator. Depois de se usar 44,64 volumes de reator, voltou-se a utilizar o sistema com amostra de minério de ferro, analisada em ICP, afim de se observar a eficiência do tratamento. O pH das amostras coletadas na saída da coluna diminuiu com o uso prolongado, obtendo-se, após a passagem de 53,57 volumes de reator pH igual a 5,64, valor este ainda dentro dos limites impostos pela legislação. No entanto, tal valor é inferior ao limite de descarte estipulado por este estudo. Portanto, a passagem de 40 volumes de reator seria uma boa referência para se trabalhar com os efluentes testados. O sistema pode ser recuperado efetuando-se uma remoção de sólidos na parte inferior da coluna e passandose água no sentido contrário ao de uso, limpando-se, assim, a dolomita. 3.2.6 Teste de eficiência do reator em função da granulometria. Fig. 10: Remoção dos elementos impactantesem resíduos de análise em lep de minério de manganês. A: Remoção de manganês. B: Remoção de alumínio, ferro, fósforo, bário,níquel, zinco, cobre e cromo. Cad. Pesq., São Luís, v. 11, n. 2, p. 61-71,jul./dez. Observou-se que, quanto menor o tamanho dos grânulos de calcário dolonútico, maior era a eficiência do sistema, obtendo-se valores de pH final acima de 6,50 para o tamanho entre 4,00 e 6,50 mm. Para o segundo grupo os valores de pH variaram entre 5,5 e 6,5, enquanto no último grupo de 2000. 69 partículas o pH final variou entre 5,3 e 6,0. Foram observadas as precipitações dos metais para todos os três grupos de materiais. O comportamento da variação de pH do efluente gerado em análise de minério de ferro por lCP em função do tempo pode ser visto na Figura 11. >4,0 A <6,5 6,80 <, •....•... 6,75 6,70 ~ % 6,65 "............. z-, 6,60 ~ 6,55 6,45 50 ° 10O Tempo/mln >6.5 150 6,60 0.45 -j-------- 6,50 <8,0 ~ --- B ~ 6,40 ~ % 0.35 -j----- 6.30 6,20 0.30-1---- 0.20 -. ........ 5,90 5,150 o 100 Tempo Imln 50 i 0.15 _FoT -.;:::: 6,00 !! I-Icpl IllFeT I~~pI <, 6,10 ~ 0.25 >8,0 0.10 15O 6,00 0,00 ~ 5,90 > 4.0 < 6.5 > 6.5 < 8.0 > 8.0 < 12.0 ~ <12,0 C ! <, <, 5,80 % Granulometria 5,70 5.50 Fig. 11: Variação de pH em função do tempo para efluente das análises de minério de ferro em lep e na determinação dicromatométrica de ferro total (FeT). A: para granulometria de 4,0 a 6,5 mm. B: para granulometria entre 6,5 e 8,0 mm. C: para granulometria entre 8,0 e 12,0 mm. Considerando-se a variação de pH para 180 min de tratamento, utilizando as três granulometrias testadas para os efluentes de análise em lCP e para determinação de ferro total por dicromatometria têm-se o comportamento que pode ser observado na Figura 12. CONCLUSÃO O calcário dolomítico precipita satisfatoriamente os elementos de interesse, mas aumenta a concentração de fósforo e manganês em alguns casos, ! •••........•... <; 5,60 7fJ 200 6,10 0,05 4 200 -- 6,70 0.50 T"----------...., :I: _FeT ---=- 6,50 6,80 0.40 -j-------- I~~pI i ! <; i -----<, ! I~~pI _Fel I 5,40 O 50 100 Tempo/mln 150 200 Fig. 12: Variação de pH final, para 180 min de tratamento, em função da granulometria para os dois tipos de efluentes gerados na análise de minério de ferro. embora este último não ultrapasse os limites estabelecidos pelo CONAMA. O zinco não é completamente removido, mas tem sua concentração removida a níveis próximos ao limite legal. A dolomita remove até 72% do mercúrio em solução por adsorção, porém este metal permanece acima dos limites estabelecidos pelo CONAMA no efluente do laboratório. É importante mencionar que, antes de ser lançado no corpo receptor, este metal pode sofrer precipitação pelo sulfeto presente no esgoto sanitário, enquanto segue para o tratamento convencional, o que Cad. Pesq., São Luís, v. l l, n. 2, p. 61-71, jul.rdez. 2000. reduz a concentração deste elemento a níveis aceitáveis legalmente. A análise de custos mostra que o uso de calcário fica aproximadamente doze vezes mais barato que o uso de soda cáustica. Embora o calcário produza uma massa de resíduo sólido 1,5 vezes maior do que quando se utiliza soda cáustica, este sólido pode ser removido periodicamente da coluna de dolomita. O sistema utilizado apresenta-se eficiente até o uso de 40 volumes de reator, sendo necessário, após isto, efetuar a recuperação facilmente executada com água em contra corrente. O manuseio do calcário na forma de dolomita é mais fácil, se comparado à soda cáustica, visto que o calcário BIBLIOGRAFIA AMERICAN Chemical Society. Laboratory waste management: a guidebook. Washington DC: ACS, 1994. 211p. BUZZETTI, A. R. Tratamento de efluentes requer cultura ambienta1. Engarrafador moderno, [S.1.], set./ out., p. 67-74, 1997. MOZETO, A. A.; JARDIM, W. E; GUIMARÃES, J. R.. Gestão e qualidade de águas interiores. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE QUÍMICA, 38,1998, São Luís. Resumos ... São Luís: Associação Brasileira de Química, 1998. p.32. OLIVEIRA, R. de M.; SILVA, R. N.; MOREIRA, A. H. Estudo de uma meto- permanece fixo, fazendo-se passar o rejeito por ele. Este procedimento é relativamente simples e econômico, uma vez que o sistema é composto por um reservatório e uma coluna contendo o calcário, com rejeito conduzido por uma mangueira do reservatório até a coluna por ação da gravidade, sendo desnecessário o uso de bombeamento ou qualquer outro consumo de energia. Pode-se utilizar os três grupos de granulometria para o tratamento de efluentes ácidos, sendo que grânulos de tamanho entre 4,0 e 6,5 mm são mais eficientes, alcançando os valores desejados de pH final que garantem uma precipitação quantitativa dos metais presentes na fase aquosa. CONSULTADA dologia para fabricação de materiais de construção utilizando resíduos industriais. In: Congresso Brasileiro de Química, 38, 1998, São Luís. Resumos ... São Luís: Associação Brasileira de Química, 1998. p.99. MARIANO, V. S.; COSTA, A. C. S. Préconcentração de traços de metais em salmouras por co-precipitação com hidróxidos de ferro III e magnésio lI. 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