Protocolo HVTN 055 - Unidade de Pesquisa de Vacinas Anti-HIV

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Protocolo HVTN 055
O Protocolo HVTN 055 é um estudo de fase I de vacinas anti-HIV que está
sendo conduzido nos Estados Unidos e no Brasil. Esse estudo tem por objetivo
avaliar a segurança e a imunogenicidade (resposta do sistema imunológico) de
quatro vacinas experimentais, sozinhas ou combinadas, em participantes sadios,
negativos para HIV-1 e que não tenham sido imunizados com a vacínia (vacina
contra a varíola). A imunização prévia pelo vírus da vacínia poderia interferir na
resposta imunológica às vacinas do estudo.
No Brasil, o estudo está sendo desenvolvido em São Paulo, na Unidade de
Pesquisa Anti-HIV do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids (CRTDST/Aids), da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, e no Rio de Janeiro, no
Praça Onze, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Cerca de 20 pessoas participarão deste estudo no CRT-DST/Aids. No total,
entre as Unidades de Pesquisa do Brasil e as norte-americanas, serão incluídos 150
participantes.
Nas páginas que seguem você vai encontrar respostas para eventuais dúvidas
e relembrar as informações que constam do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
SOBRE OS PRODUTOS CANDIDATOS A VACINA
Por quem e onde foram desenvolvidos os produtos utilizados neste estudo?
Esses produtos foram desenvolvidos pela empresa norte-americana Therion
Biologics Corporation, em colaboração com a HVTN e a Divisão de AIDS (DAIDS)
dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH).
Em que consistem os produtos do estudo?
Este estudo está testando quatro vacinas experimentais contra o HIV. As
vacinas são chamadas de:
MVA-env/gag
MVA-tat/rev/nef-RT
FPV-env/gag
FPV-tat/rev/nef-RT
As vacinas MVA (sigla em inglês para Modified Vaccinia Ankara – Vacínia
Modificada Ankara) são produzidas a partir de uma forma modificada do vírus
vacínia. O vírus vacínia, por sua vez, foi desenvolvido para proteger contra a varíola.
As vacinas FPV (sigla em inglês para Fowlpox Vírus – Vírus da Bouba) são
feitas a partir da vacina contra um vírus que acomete aves e que as protege de
infecções causadas por poxvírus.
Os vírus MVA e FPV usados nessas vacinas foram modificados de forma que
não infectem o organismo dos participantes da pesquisa ou que estes possam
transmiti-los para outras pessoas.
As abreviações env, gag, tat, rev, nef e Rt se referem a genes (unidades
biológicas básicas da hereditariedade) encontrados no HIV – neste estudo, os genes
são sintéticos, isto é, produzidos em laboratório. Os genes instruem as células para
que produzam proteínas (substâncias naturais que o organismo produz para se
formar e se manter). Quando o voluntário for vacinado com uma das vacinas do
estudo, esses genes do HIV farão com que as células do organismo produzam
determinadas proteínas semelhantes às do HIV. Os pesquisadores que trabalham
neste estudo farão testes para verificar se o organismo reage a essas proteínas do
HIV (resposta imunológica a esses genes do vírus HIV).
Algumas dos participantes do estudo receberão as vacinas MVA e FPV e outros
receberão vacinas de controle, que também são produzidas com os vetores MVA e
FPV, mas sem os genes sintéticos do HIV (env, gag, tat, rev, nef e Rt). Os produtos
têm a mesma aparência e são aplicados da mesma forma, mas o controle, por não
carregar esses genes, não faz com que o sistema imunológico produza células ou
anticorpos contra o HIV. Em um estudo dessa natureza,
o controle é tão importante quanto o produto candidato a vacina, pois permite
comparar as reações dos que o receberam com as reações de quem recebeu a
vacina experimental.
As ilustrações que seguem mostram esquematicamente como foram
produzidas as vacinas experimentais deste estudo.
Por que o MVA e o FPV foram escolhidos como vetores (veículos) nas vacinas
experimentais?
Esses vírus foram escolhidos, em primeiro lugar, porque não produzem
doenças no ser humano; em segundo, porque há uma grande probabilidade de que
a população estudada não tenha entrado em contato com os vírus, não tendo
portanto desenvolvido anticorpos que poderiam destruí-los ao entrarem no
organismo humano.
Os produtos em teste podem causar infecção pelo HIV?
Não há nenhuma possibilidade de que esses produtos provoquem infecção por
HIV ou aids. Essas vacinas foram produzidas em laboratório. Os produtos utilizados
no estudo não contêm o vírus HIV, seja vivo, morto ou atenuado, nem partes dele.
As vacinas são feitas com seis genes sintéticos do HIV, sendo portanto impossível a
formação de novos vírus a partir desses produtos.
Como o produto é administrado no voluntário?
A administração da vacina é por injeção intramuscular, método que
normalmente não causa problemas significativos de saúde.
O que se busca é uma vacina terapêutica ou preventiva?
Este estudo tem por meta avaliar uma vacina experimental preventiva contra a
infecção pelo HIV. O objetivo final dessa vacina preventiva é evitar que as pessoas
se infectem pelo vírus HIV.
Esses produtos candidatos a vacina já foram testados antes?
Este estudo representa a primeira experiência em que essas quatro vacinas
experimentais contra o HIV serão testadas em seres humanos. Entretanto, mais de
cem mil pessoas já receberam vacinas semelhantes utilizando MVA sem que tenham
sido observados efeitos colaterais graves. Vacinas FPV similares foram
administradas em estudos clínicos a mais de trezentas pessoas com câncer, sem
que tenham sido observados efeitos colaterais graves.
As vacinas MVA usadas no presente estudo foram administradas a animais
sem causar efeitos colaterais graves. Vale lembrar, porém, que os testes com
animais nem sempre são capazes de prever o que acontecerá em seres humanos.
Antes que o estudo se iniciasse no Brasil, uma primeira etapa dele já havia sido
encerrada nos Estados Unidos, em 60 voluntários, sem que tenha sido registrado
qualquer efeito adverso grave que impedisse a sua continuidade em seres humanos.
Como os cientistas acham que os produtos candidatos podem ajudar a
prevenir o HIV/aids?
O sistema imunológico luta contra infecções virais com duas armas principais:
anticorpos neutralizantes e linfócitos T citotóxicos específicos (CTLs), células que
podem potencialmente destruir células infectadas pelo HIV. Espera-se que essas
vacinas experimentais, uma vez introduzidas no organismo, estimulem uma resposta
do sistema de defesa ativando linfócitos CD8+ citotóxicos, que produziriam
substâncias capazes de destruir células infectadas pelo HIV. Ou seja, a vacina não
causa a doença, mas seria identificada pelo organismo como invasor, gerando uma
resposta específica do sistema imunológico.
SOBRE O ESTUDO
Quais os objetivos deste estudo?
Este estudo tem três finalidades. A primeira é testar a segurança de quatro
vacinas experimentais contra o HIV e identificar possíveis efeitos colaterais. Outra
finalidade é verificar se essas vacinas provocam alguma resposta do sistema
imunológico contra o HIV (o sistema imunológico do ser humano inclui as células e
os anticorpos que o corpo produz como resposta ao ataque de vírus, bactérias e
outros agentes infecciosos para proteger o organismo dessas infecções). E,
finalmente, também avalia qualquer forma de discriminação social, problemas
pessoais ou injustiças que os voluntários possam eventualmente sofrer como
conseqüência de sua participação neste estudo.
Como o estudo está sendo desenvolvido?
O estudo é multicêntrico, ou seja, vários centros nos Estados Unidos e dois no
Brasil estão desenvolvendo esse mesmo protocolo.
A pesquisa foi desenhada para acontecer em duas etapas. A primeira delas, já
concluída, foi conduzida apenas nos Estados Unidos e teve como objetivo encontrar
a dose máxima dos produtos tolerada pelo organismo humano. A participação do
Brasil será apenas na segunda etapa.
O estudo é randomizado, ou seja, a escolha de quem receberá vacinas ou
controle será feita ao acaso, como em um sorteio.
O estudo é também duplo-cego, isto é, durante o ensaio clínico nem o
voluntário nem os membros da equipe que o atendem saberão quem recebeu vacina
e quem recebeu controle; apenas o Comitê de Revisão de Segurança (CRS) terá
essa informação, que só será conhecida de todos ao término do estudo.
Quantos participantes tem o estudo?
Aproximadamente 150 pessoas estão participando do estudo, nos Estados
Unidos e no Brasil. Os dois centros no Brasil que fazem parte da HVTN – a Unidade
de Pesquisa de Vacinas Anti-HIV do CRT-DST/Aids, em São Paulo, e o Praça Onze,
da Universidade Federal do Rio de Janeiro – recrutarão vinte voluntários cada.
Quem está patrocinando este estudo?
O estudo é patrocinado pela Divisão de AIDS (DAIDS) do Instituto Nacional de
Alergia e Doenças Infecciosas (National Institute of Allergy and Infectious Diseases –
NIAID) dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados (NIH), através da HVTN.
Quem revisou e aprovou o estudo?
No Brasil, este estudo foi revisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) das instituições onde a pesquisa será realizada, pela Comissão Nacional de
Ética em Pesquisa (Conep)
e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Nos Estados
Unidos, o estudo foi aprovado pelos comitês de ética das universidades onde o
estudo está sendo conduzido e também pela Food and Drug Administration (FDA).
Além dessas instâncias, um Comitê de Acompanhamento Comunitário (CAC),
formado por representantes da comunidade e de movimentos organizados da
sociedade, acompanha as atuações e condutas da pesquisa em cada um dos
centros envolvidos no estudo.
Que profissionais e pesquisadores estão envolvidos?
Além do investigador principal, que é o responsável por toda a condução do
estudo, a equipe conta com um coordenador clínico, médicos infectologistas,
aconselhadoras (psicólogas e assistentes sociais), técnico de enfermagem,
recepcionista, administrador, farmacêuticos e enfermeiros. A Unidade de Pesquisa
conta também com um Núcleo de Educação Comunitária, responsável pela
divulgação dos estudos e recrutamento dos voluntários.
SOBRE A SEGURANÇA
As vacinas em teste são seguras?
Na primeira etapa do estudo, não se constatou nenhum efeito colateral sério, e
as vacinas foram consideradas seguras. No entanto, como se trata de produtos
ainda em fase de testes, há algum risco de problemas para a saúde, incluindo
aqueles não previstos pelos pesquisadores.
Há outros riscos envolvidos além dos riscos médicos?
Sim. Algumas vacinas em teste podem fazer com que o teste para HIV de um
participante se torne positivo. É aconselhável realizar exames para HIV somente na
unidade de pesquisa, pois serão efetuados testes específicos que podem diferenciar
um resultado falso-positivo para HIV de um teste positivo decorrente de uma
infecção por esse vírus.
Algum voluntário pode ser vítima de injustiça se as vacinas experimentais
fizerem com que ele tenha um resultado falso-positivo para HIV. Além disso, os
participantes do estudo não serão considerados aptos a doar sangue e podem ter
dificuldades com seguro médico, hospitalização, visto de viagem para outros países,
empregos, serviço militar, ou mesmo na convivência com amigos e familiares.
Para ajudar a evitar esses problemas, será oferecido aos participantes um
cartão de identificação que demonstra sua participação em um estudo de vacina antiHIV. Um número de telefone constará do cartão e poderá ser acionado para fornecer
informações ou ajuda.
O voluntário pode se infectar pelo HIV com essas
vacinas em teste?
Não há nenhuma possibilidade de que os produtos em teste provoquem
infecção por HIV ou aids, uma vez que não contêm o vírus HIV vivo, morto, atenuado
ou partes dele. No entanto, o voluntário poderá se infectar pelo HIV se entrar em
contato com o vírus, seja através de relações sexuais desprotegidas (sem uso de
preservativo), seja no compartilhamento de agulhas e seringas infectadas, ou ainda
se, por alguma razão, entrar em contato com sangue contaminado de outra pessoa.
Exatamente por isso, os participantes das pesquisas de vacinas contam com intenso
processo de aconselhamento e orientação sobre práticas de sexo seguro e
prevenção do HIV ao longo de sua participação nos estudos.
O que acontecerá se algum voluntário, por alguma razão, se infectar pelo HIV
no decurso da pesquisa clínica?
Nesse caso, o participante continua sendo acompanhado pela equipe de
pesquisa, mas não receberá mais vacinas. Será também encaminhado para
cuidados médicos apropriados no ambulatório do CRT-DST/Aids.
O estudo será interrompido se os produtos candidatos a vacina causarem
problemas sérios?
Se houver alguma evidência de que os produtos causam efeitos colaterais graves, a
Equipe de Segurança do Protocolo (ESP) e o Comitê de Revisão de Segurança
(CRS) interromperão novas vacinações. Caso isso ocorra, essa informação será
tornada pública o mais rapidamente possível.
SOBRE A PARTICIPAÇÃO DO VOLUNTÁRIO
Por quanto tempo o voluntário será acompanhado?
Os voluntários vão participar deste estudo por um período aproximado de 13
meses.
Quais os procedimentos dos quais o voluntário participará?
Os procedimentos variam de visita para visita. No entanto, de modo geral, o
voluntário responderá a questionários sobre seu comportamento sexual, realizará
exame clínico, receberá aconselhamento para redução de risco de contaminação
pelo HIV e colherá sangue. Quando colher sangue para a realização de exame antiHIV receberá injeções (a vacina ou o controle) e será atendido pelo médico ou
enfermeiro, antes e depois da vacinação.
O voluntário pode dar entrevista?
Caso haja solicitação da mídia, a equipe do estudo irá orientá-lo quanto às
implicações que podem decorrer dessa exposição. Juntos avaliarão o impacto que
isso pode causar na vida dele e, se o voluntário mostrar compreensão e autorizar a
entrevista, ela será agendada. Um membro da equipe do estudo o acompanhará
durante essa entrevista.
O voluntário pode desistir de participar?
Sim, o voluntário pode deixar o estudo a qualquer momento, sem qualquer prejuízo
para si.
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