FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO: O ESTADO ISLÂMICO O

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FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO: O ESTADO ISLÂMICO O fundamentalismo religioso está presente em todas as religiões e durante todas as épocas da história da humanidade, sendo os fundamentalistas os mais conservadores e literais seguidores de uma religião. Apesar de estar presente em todas as religiões, a maior parte da população no Ocidente pensa que o fundamentalismo é algo restrito ao islamismo, devido ao grande destaque dado pela mídia à grupos extremistas, como o Estado Islâmico. O Estado Islâmico (EI), também conhecido como Daesh ou ISIS, é um grupo radical sunita (um dos ramos do islamismo) criado a partir do braço iraquiano da Al Qaeda,a conhecida rede responsável pelos ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Com um território que vai da Síria ao Iraque, o EI tem se destacado na mídia mundial por conta de seus feitos: decapitamentos filmados, estupros, destruição de esculturas históricas e a destruição de templos na Síria. Jorge Cláudio Ribeiro, com Doutorado em Ciências Sociais pela PUC­SP e Pós­doutorados em Sociologia das Religiões na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, no IFCH da Unicamp e na Columbia Un. de Nova York, nos concede uma entrevista que desmistifica a visão Ocidental do fundamentalismo e explica alguns conceitos do Islâmismo. O fundamentalismo religioso está presente em todas as religiões, em especial nas monoteístas. Porque então é frisado tanto o fundamentalismo do Islã? “O fundamentalismo está em todas as atividades humanas. Sempre que alguém se regula apenas por princípios ­ e princípios são necessários, as leis são necessárias ­ mas quando você tem a pretensão de que esses princípios e essas leis são mais importantes do que a vida e dão conta de todas as situações, tipo "Manual do Escoteiro", aí você acaba no fundamentalismo. Quer dizer, a vida é maior do que a lei, por que a vida traz contínuos desafios, está sempre criando novas situações. Então, nós temos fundamentalismo no direito, por exemplo. Todos os grandes sistemas tem isso. O fundamentalismo é uma espécie de conservadorismo, fica fixo na tradição que já existia, nas regras já estabelecidas. Temos o fundamentalismo no governo, por exemplo, “A gente tem que continuar, deu certo até aqui”, deu nada! Primeiro que não deu certo, segundo que tem o uso político também. O fundamentalismo tem essas dimensões. Então quando você fala que as religiões monoteístas são fundamentalistas, eu acho que essa afirmação precisa ser tomada com cuidado. Claro que quando você tem UM Deus, único, isso é um gancho para fundamentalismo, mas, assim como você pode acreditar em vários deuses e ser fundamentalista.” Estima­se que uma em cada cinco pessoas do mundo seja adepto do Islã e esses números tendem a aumentar. O que causaria esse crescimento tão rápido do islamismo? “Tem fatores próprios da religião, que é uma religião simples, ela tem 5 mandamentos. Basta você dizer que Alá é seu único Deus e proclamar a sua adesão a ele até mais do que sua submissão. Além disso, ela tem um ímpeto proselitista, isto é, de conversão das pessoas, muito forte. E as vezes essa conversão é violenta, é imposta e isto é um fator. Tem o fator da religião em si, o fator da violência, que de uma certa forma está no DNA na medida em que o profeta Mohammed era um profeta guerreiro. Aliás, a palavra "Alá" é um termo genérico para Deus, não era um nome próprio, mas passou a ser.” Os primeiros princípios do Corão dizem que a fé não pode ser coercitiva, entretanto, não é isso que vemos nas atuações do Estado Islâmico. Até que ponto essa “pequena jihad” pode se contrapor as bases do islamismo? “As religiões são contraditórias. Deuses são seres ardilosos. Então, por exemplo, se o cristianismo fosse praticado do jeito que Paulo propôs, a gente nem reconheceria hoje. As religiões são plásticas, maleáveis e vão se acertando, criando novas variações, etc. Por exemplo, esse tratamento que dão a mulher no islamismo não é do Corão. O fundamentalismo ou se baseia em tradições ou ele inventa as tradições, então o islamismo tem coisas que seguramente não estão no Corão. Por exemplo a Sharia, que não faz parte do Corão, e outros escritos que são interpretações. Então ou a religião se adapta ou ela morre.” É muitas vezes dito às pessoas que a maior diferença entre os sunitas e xiitas é que os xiitas, a minoria no islamismo, são mais radicais. Entretanto, a maior parte dos grupos extremistas (ISIS, Al Nursa, Al Qaeda) são de ordem sunita. Porque os xiitas acabaram adquirindo essa fama de radicalismo? “Eu penso assim, primeiro por ser uma minoria, depois por terem sido perseguidos. Mas aí eu acho que tem essa coisa de romper com a tradição de quem é que era o califa, quem era o herdeiro do profeta e assim vai. Mas isso não da pra responder muito bem.” Entre o Estado Islâmico e a frente Al Nursa, muito se diz sobre a lei Sharia. Um dos grandes objetivos deles é converter as pessoas ao islamismo e fazê­las seguir a Sharia. Quais são as principais bases ideológicas da Sharia e porque ela é tão importante para o mundo islã? “A Sharia tem coisas legais, ela tem uma certa humanização, mas o problema é o modo fundamentalista de entender a Sharia. Isso vale também para o judaísmo, quer dizer, o cara as vezes respeita hoje o Xabá, mas ele não está muito convencido, mas se ele não for ele não fica bem, então pra mal das dúvidas ele recorre em respeitar. A Sharia tem um problema, quer dizer, ela também não se adapta a "vida moderna", você tem que descobrir leis com uma certa “ética atéia" dentro da vida moderna, por que nem todo mundo tem aquela religião, então pra Sharia poder funcionar direitinho só numa sociedade islâmica. E a ideia de uma sociedade civil islâmica é complexa, ela é complicada, a não ser que todo mundo se converta, então é um pouco o que acontece em Israel. Quem nasce em Israel é judeu? Não se sabe, hoje não mais. Então é uma espécie de retorno ao estilo da idade média, quem não era cristão ia para inquisição. Eu acho um horror o que está acontecendo hoje no Irã, isso aconteceu também e acontece ainda nos Estados Unidos. A gente que pensa que não acontece, mas é um horror, é a chamada teocracia. No tempo do George Bush aconteceu isso, ele usou e foi usado. Eles davam bilhões de dólares para as organizações baseadas na fé” Um dos alicerces para a reprodução do discurso fundamentalista é a “crise”. A crise atrai fiéis que acreditam poder salvarem­se aderindo a fé de determinada religião. Nesse momento, qual seria a maior crise que estaria atingindo o Islã? Seria o avanço da modernidade com os valores ocidentais? “Vamos ver, isso não sabemos ainda. Tem coisas que não adianta pensar, por que pensamos com paradigma que a gente tem. Por que que o Estado Islâmico cresceu tanto? Por que as pessoas estão pensando em paradigma de país e não é um país. Não sei o que que está desafiando o islamismo. São regiões muito pobres com uma elite muito rica. Então, uma das possibilidades é o preço do barril continuar baixo. Eles (ocidente) estão fazendo essa substituição de energia limpa também por uma questão geopolítica, para quebrar o poder da Rússia, dos países árabes que ficaram num certo fundamentalismo petrolífero. Outro desafio são as comunicações, e se cai um, caem vários. Eu acho que a primavera árabe foi cascata. Aquilo ali é fabricação ocidental, como foi as revoluções de veludo, quando caiu a URSS.” 
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