Higienização das mãos: já falamos o bastante? Dra. Silvia Nunes Szente Fonseca Semmelweis • Ao ser contratado em 1846 como médico assistente na Primeira Clínica Obstétrica do Allgemeine Krankenhaus (Hospital Geral de Viena) percebeu uma alta mortalidade materna por “febre puerperal”. • Gestantes: “randomicamente “ dirigidas para enfermaria médica ou de “parteiras” • Mortalidade: Maior nas enfermarias médicas • Causa desta diferença: desconhecida • Teoria da época: miasmas • Não explicava pois enfermarias eram contíguas (lado a lado) Antonio Tadeu Fernandes . Semmelweiss: Uma História para Reflexão. http://www.ccih.med.br/semmelweis.html#12012. Acesso: outubro 2012. Comparação da mortalidade: enfermaria de médicos (1ª clínica) x enfermaria de parteiras (2ª clínica) • Na primeira clínica: complicações mais freqüentes em pacientes com trabalho de parto prolongado e naquelas cujos filhos também infectavam. • Pacientes com parto prematuro ou domiciliar : menor mortalidade. • Primeira clínica: casos em grupos de pacientes, leitos contíguos; • Segunda clínica:distribuição aleatória. • Recém-nascidos: morriam com mais freqüência na primeira clínica (7,5% x 3,5%). Mortalidade materna em 2 Períodos no Hospital de Viena (%) 6 5,3 5 4 3 2 1,2 1 0 anos 1784-1822 anos 1823-1846 Mortalidade maternal e neonatal nas duas clínicas Mortalidade de recém nascidos nas duas clinicas 10 10 9 9 8 8 7 7 6 6 5 Primeira clínica (médicos) 4 Segunda clínica (parteiras) 3 Título do Eixo Título do Eixo Mortalidade materna nas duas clínicas 5 4 3 2 2 1 1 0 0 PRIMEIRA CLÍNICA (médicos) SEGUNDA CLÍNICA (parteiras) - Até 1822 (antes de estudos anátomo-patológicos): mortalidade média de 1,2% - 1823 até 1846 : mortalidade aumentou para 5,3% Antonio Tadeu Fernandes . Semmelweiss: Uma História para Reflexão. http://www.ccih.med.br/semmelweis.html#12012. Acesso: outubro 2012. • Médico colega de Semmelweis morre poucos dias após ser ferido no braço por um bisturi de estudante na autópsia de um paciente que havia morrido de infecção generalizada (lesões idênticas às parturientes com febre puerperal). • Semmelweis revê autópsia de colega. • Achados: os mesmos da autópsia do paciente falecido com infecção generalizada • Semmelweis concluiu: "se os dados das autópsias eram idênticos, não seriam as causas também comuns? Kolletschka morrera duma lesão na qual o bisturi introduzira partículas de decomposição de matéria cadavérica. Os médicos e seus discípulos não poderiam com suas mãos trazer as mesmas partículas ao regaço das pacientes, rasgado pelo parto?" Antonio Tadeu Fernandes . Semmelweiss: Uma História para Reflexão. http://www.ccih.med.br/semmelweis.html#12012. Acesso: outubro 2012. • Semmelweis : medidas de controle e a monitorização posterior da sua eficácia. • Propostas : isolamento dos casos; lavagem das mãos ; fervura de instrumental e utensílios. Antonio Tadeu Fernandes . Semmelweiss: Uma História para Reflexão. http://www.ccih.med.br/semmelweis.html#12012 • Cartaz na porta da entrada da unidade: "A partir de hoje, 15 de maio de 1847, todo estudante ou médico, é obrigado, antes de entrar nas salas da clínica obstétrica, a lavar as mãos, com uma solução de ácido clórico, na bacia colocada na entrada. Esta disposição vigorará para todos, sem exceção". • Setembro 1847: novo aumento da mortalidade • Paciente internada com carcinoma de colo de útero, associado a intensa descarga purulenta. • Equipe, mesmo após lavar as mãos ao entrar na unidade, examinava esta paciente e as demais sem repetir este procedimento, logo "nem só os mortos transmitiam aos vivos as partículas infectantes”. • Atendimento de parturientes portadoras de processos secretantes : rigorosa desinfecção das mãos após cada exame ; remoção para salas de isolamento. • Em 1848 : mortalidade na Segunda clínica (1,33%) maior que a da primeira (1,27%) Mortalidade materna na primeira clínica (médicos) Higiene das mãos antes de entrar na enfermaria Higiene das mãos entre pacientes Mortalidade materna nas duas clínicas do Hospital de Viena 1841-1848 Desinfecção das mãos com cloro 10 9 8 Título do Eixo 7 6 primeira clínica (médicos) 5 segunda clínica (parteiras) 4 3 2 1 0 ano 1841 ano 1842 ano 1843 ano 1844 ano 1845 ano 1846 ano 1847 ano 1848 Semmelweis • Infelizmente, a humanidade ainda não estava pronta para “medicina baseada em evidência”. • Semmelweiss: demitido em 1849 • Sucessor: revogou as medidas implementadas • Descobertas de Semmelweis : não foram valorizadas até o final do século XIX, quando outros cientistas, por outros caminhos, chegaram às mesmas conclusões. Em 4 anos.......................... Conclusões • Não adianta “ter razão”........ • Se não houver boa comunicação, as pessoas não mudam o comportamento! Em 2013........... O Problema • Infecções relacionadas à assistência a saúde (IRAS) : uma das principais causas de morte e incapacidade em todo o mundo • Ocorrem em todo o mundo e afetam tanto países desenvolvidos quanto países com recursos escassos. • Estão entre as principais causas de morte e aumento morbidade em doentes hospitalizados. O Problema • Estudo da Organização Mundial da Saúde em 55 hospitais de 14 países (Sudeste da Ásia, Europa, Mediterrâneo Oriental e Pacífico Ocidental) : 8,7% dos doentes desenvolvem IRAS. • A qualquer momento: 1,4 milhões de pessoas no mundo com IRAS. O Problema • Em países desenvolvidos: 5 a 10% dos doentes hospitalizados desenvolvem IRAS. • Nos Estados Unidos : 2.000.000 de casos por ano, com cerca de 80.000 mortes/ano • Na Inglaterra: 5.000 mortes /ano por IRAS. O Problema • México: IRAS são a terceira causa mais comum de morte em toda a população. • México, custos com IRAS: representam 70% do orçamento total no ministério da saúde. • Trinidad e Tobago: IRAS representam 5% do orçamento anual de um hospital rural. • Na Tailândia: alguns hospitais gastam 10% do seu orçamento anual para administrar as IRAS . A Solução • A maioria das mortes e sofrimentos de doentes atribuíveis a infecções relacionadas a IRAS pode ser evitada. • A higienização das mãos continua sendo a principal medida para reduzir as IRAS e a disseminação da resistência microbiana, aumentando a segurança do paciente em todos os ambientes. Didier Pittet • Hospital universitário em Genebra, Suíça • “Mega-campanha” institucional com cartazes (“paredes falantes”) ; monitorização bi-anual de dezembro 1994 a dezembro 1997. • 20.000 observações feitas no período. • Mensuração do índice de infecção geral global (%), índices de infecções por MRSA (infecções/10.000 pacientes-dia) e consumo de álcool gel (litros/1000 pacientes-dia) OLHA ONDE PÕE A MÃO!!!!!! TOMEI TANTO ANTIBIÓTICO, VEJA COMO FIQUEI MULTIRESISTENTE!!!!!! OLHA AÍ O ÁLCOOL GEL!!!! TÁ COM COCEIRA????? ESTAMOS ESPERANDO POR VOCÊ!!!!!!!! LEMBROU DE LAVAR AS MÃOZINHAS????? DROGA!!!! ESTE ÁLCOOL ESTÁ ME MATANDO!!!! SALVEM-SE QUEM PUDER!!! LÁ VEM ELE COM O ÁLCOOL NOVAMENTE!!!!! UMA MÃO LIMPA + UMA MÃO SUJA = INFECÇÃO SOCORRO!!!! ALGUÉM POR FAVOR, TRAGA UM ÁLCOOL GEL URGENTE!!!!! ALGUÉM VIU MEU ÁLCOOL GEL??? MORTE AO ÁLCOOL GEL PASSEATA DE GERMENS Índices de adesão à higienização das mãos x infecção geral The Lancet, Volume 356, Issue 9238, Pages 1307 - 1312, 14 October 2000 Infecção por MRSA x consumo de álcool gel The Lancet, Volume 356, Issue 9238, Pages 1307 - 1312, 14 October 2000 A Solução • Evidências substanciais revelam que a higienização das mãos reduz a transmissão de agentes infecciosos nos serviços de saúde. • Apesar das evidências a taxa de adesão a estas medidas entre os profissionais de saúde permanece baixa. A solução • Embora a higienização das mãos seja considerada a medida mais importante para prevenir e controlar as IRAS , garantir o seu aperfeiçoamento é uma tarefa complexa e difícil. “Pessoal, este paciente é um advogado. Melhor a gente lavar as mãos.....................” “Uma assistência limpa é uma assistência mais segura” • OMS: lançou em 2004 a “Aliança Mundial para a Segurança do Paciente” • Objetivo: diminuir os riscos associados às infecções relacionadas à assistência à saúde. • Primeiro Desafio Global de Segurança do Paciente:focado em higienização das mãos • Lema: “Uma assistência limpa é uma assistência mais segura “ Diretrizes da OMS sobre a Higienização das Mãos na Prestação de Assistência à Saúde • Objetivo: fornecer aos profissionais da área de saúde, gestores de hospitais e autoridades da saúde uma visão geral dos diferentes aspectos da higienização das mãos e informações detalhadas para superar as possíveis barreiras. • Devem ser utilizadas em qualquer situação onde são prestados cuidados de saúde. “Estratégia Multimodal” • OMS: preconiza esta estratégia como instrumento eficaz para implantação de protocolos para Higienização das Mãos; • Essa estratégia pode ser utilizada em qualquer unidade de saúde, independente dos níveis de complexidade e de recursos disponíveis; “Estratégia Multimodal” A estratégia é constituída por 5 eixos: • 1) Mudança do Sistema • 2) Treinamento/Instrução • 3) Observação e Retorno de informação a equipe • 4) Lembretes no local de trabalho • 5) Clima de Segurança Institucional Eixo 1: Mudança do Sistema • Envolve a garantia de infra-estrutura adequada que possibilite aos profissionais de saúde a execução da prática de higienização das mãos; • Acesso a suprimento de água seguro, como também a sabonete e toalha; • Álcool gel acessível no local onde é realizado o cuidado em saúde. Eixo 2: Treinamento/Instrução • O treinamento é oferecido a toda equipe envolvida no processo de cuidado dos pacientes; • É organizado treinamento de curto, médio e longo prazo. Eixo 2: Treinamento/Instrução • Os “cinco momentos” da higienização de mãos é a abordagem em que se baseia o treinamento dos profissionais de saúde. Eixo 3: Observação e retorno da informação à equipe • Monitoramento das práticas de higienização das mãos e da infraestrutura, enquanto informa a equipe sobre o seu desempenho. Universidade de Vanderbilt-EUA- Ipad para monitorar adesão à higienização das mãosjunho 2012 Eixo 4: Lembretes no local de trabalho • Cartazes e lembretes a respeito da importância da higienização das mãos são colocados nos locais onde os profissionais de saúde transitam. • Esses locais podem ser: ambulatórios, quarto dos pacientes, corredores,áreas da equipe. Eixo 5: Clima de Segurança • Criação de uma cultura que torne consciente as questões de segurança dos pacientes e que garanta a melhoria da higienização das mãos como alta prioridade em todos os níveis. Isso inclui: • Ativa participação da organização e dos indivíduos; • Consciência organizacional e individual da capacidade de mudar e melhorar; • Parceria com os pacientes. Iniciativas Nacionais Em 2007, o Brasil foi incluído na “Aliança Mundial para a Segurança do Paciente” – cujo lema é uma assistência limpa é uma assistência segura –, por meio da assinatura do Ministro da Saúde. Desde então o Brasil é signatário da “Declaração de Compromisso na Luta contra as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde”. Recomendações • A. Lavar as mãos com sabão e água quando visivelmente sujas ou contaminadas com material protéico, se estiverem visivelmente sujas com sangue ou outros fluidos corporais, se houver forte suspeita ou comprovação de exposição a organismos que formam esporos ou após usar o banheiro. • B. Uso preferencial de produtos para higienização das mãos a base de álcool para anti-sepsia rotineira das mãos se as mãos não estiverem visivelmente sujas. 1º desafio global de segurança do paciente/doente: Uma assistência limpa é uma assistência mais segura Orientações da OMS para a higienização/lavagem das mãos 60 5 Momentos para higienização/lavagem das mãos 62 • Antes de contato com o paciente; • Antes da realização de procedimento asséptico; • Após a exposição a fluídos corporais; • Após contato com o paciente; • Após contato com o ambiente próximo ao paciente. Mas na prática...... Como fazer??? Hospital São Francisco • 165 leitos • 20 leitos CTI • 10 leitos Unidade Coronariana • 2.000 procedimentos cirúrgicos/mês (600 no Centro Cirúrgico) • 14.000 atendimentos/mês em PA/emergência Hospital São Francisco • SCIH: 1 técnica de enfermagem de 6 horas/dia • 1 enfermeira 8 horas/dia • 1 médica diariamente (com outras atribuições da gerência médica) Hospital São Francisco • Decidido tornar treinamento de higienização das mãos institucional. • Treinamento da direção, gerentes, gestores. • Uso de filmes FILMES • Feitas 2 observações diretas do Primeiro Momento da Higienização das Mãos (antes de tocar paciente) no CTI. • Com o aumento do treinamento dos funcionários (de 50% para 96%), a adesão ao primeiro momento subiu em 76%. % funcionários treinados HM fevereiro-agosto 2013: 211 funcionários treinados (90%) 96 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 86 86 87 83 87,5 89 80 95 100 100 100 90 Avaliação do Programa Estrutura • (nº de dispensadores de solução alcoólica e sua localização). Processo • Avaliação direta (nº de higienização/lavagem das mãos apropriadas sobre o número total de oportunidades para higienização/lavagem das mãos). • Avaliação indireta (volume de solução alcoólica usada - nº de dispensadores consumidos). Avaliação do Programa Resultado • Mensuração da incidência de infecções associadas à prestação de cuidados de saúde . Em resumo... • IRAS: importante problema de saúde pública • Higienização das mãos: solução acessível • Comprometimento: institucional • Mensuração do resultado: queda nos índices de infecção/infecção por bactérias multiresistentes “Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui? Isso depende muito de para onde queres ir respondeu o gato. Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice. Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas replicou o gato.” Lewis Carroll QUEIDO PAPAI DO CÉU, PÉDI PÁ ESSES MOÇOS E MOÇAS DAQUI LAVAEM MAIS AS MÃOZINHAS! Amém!!!!!! Filme- Expert em treinamento de Higienização das mãos Lara Gallego Obrigada!