competências relacionais na formação de jovens

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COMPETÊNCIAS RELACIONAIS NA FORMAÇÃO DE JOVENS
MACUCH*, Regiane da Silva - PUCPR
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Resumo
Dentre as necessidades básicas do homem, ser amado, estimado, reconhecido, aceito e fazer
parte de um grupo, são as essenciais. O ser humano é um ser relacional, existe e torna-se
pessoa, à medida que se relaciona consigo mesmo e com os outros. Por ser o homem um ser
relacional, toda interação humana baseia-se no estabelecimento de relações interpessoais. Este
artigo tem por finalidade apresentar um estudo sobre competencias relacionais e a formação
de jovens na escola secundária. O termo competências possui um caráter polissêmico, o que
provoca e mobiliza diferentes encaminhamentos nos estudos que envolvem essa temática, por
esse motivo, tem sido pesquisada em diferentes âmbitos nas ciências da educação, na
psicologia, na sociologia e na antropologia. Discutir sobre competências relacionais como um
dos elementos constituintes das relações humanas requer explicitar as idéias em torno do
processo de hominização e humanização do homem, tendo nos conceitos de autonomia e de
cidadania suas bases. Diante da quantidade de informações e da multiplicidade das relações
que os jovens vivem hoje, permeados pela velocidade proporcionada pelos avanços
tecnológicos em escala ascendente, as competências relacionais se tornam a base para a
evolução social.
Palavras-chave: Competências Relacionais; Jovens; Formação Cidadã; Socionomia;
Sociodinâmica
Introdução
O ser humano é um ser relacional, existe e torna-se pessoa, à medida que se relaciona
consigo mesmo e com os outros. Por ser relacional, toda interação humana baseia-se no
estabelecimento de relações interpessoais.
Fela Moscovici (1998, p. 34) diz que:
Pessoas convivem e trabalham com pessoas e portam-se como pessoas, isto é,
reagem às outras pessoas com as quais entram em contato: comunicam-se,
simpatizam e sentem atrações, antipatizam e sentem aversões, aproximam-se,
afastam-se, entram em conflito, competem, colaboram, desenvolvem afeto. Essas
interferências ou reações, voluntárias ou involuntárias, intencionais ou não-
*
Professora-pesquisadora da Pontífica Universidade Católica do Paraná; Professora da Conttexto – Associação
de Psicodrama do Paraná; Psicodramatista-didata-supervisora pela FEBRAP; Doutoranda na Faculdade de
Psicologia e Ciencias da Educação da Universidade do Porto- Portugal sob orientação da Professora Doutora
Natércia Pacheco; Bolseira do Programa de Bolsas de Alto Nível da União Européia para a América Latina,
bolsa nº EO6D103414BR.
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intencionais, constituem o processo de interação humana, em que cada pessoa, na
presença de outra, não fica indiferente a essa situação de presença estimuladora.
Quando um indivíduo começa a participar de um grupo, há diferenças que englobam
conhecimentos, opiniões, preconceitos, atitudes, experiências anteriores, gostos, crenças,
valores e estilo comportamental, que trazem inevitáveis diferenças de percepção, opinião e
sentimento em relação a cada situação compartilhada. Essas diferenças passam a constituir um
repertório novo: o dessa pessoa nesse grupo.
Em situações de grupo à medida que as atividades e as interações prosseguem, os
sentimentos despertados podem ser diferentes dos esperados inicialmente e, então,
inevitavelmente, os sentimentos influenciarão as interações e as próprias atividades.
Sentimentos de atração provocarão aumento de interação e cooperação, repercutindo
favoravelmente nas atividades. Sentimentos de rejeição tenderão a provocar diminuição das
interações, afastamento e menor comunicação, repercutindo desfavoravelmente nas
atividades. (ROCHA et al, 2003:307).
Diante deste panorama, minha perspectiva epistemológica para o estudo dos
fenômenos grupais dentro do doutoramento em Ciencias da Educação baseia-se na
Socionômia de Jacob Levy Moreno (1972, 1974, 1989 e 1992), com ênfase na Sociodinâmica
e na Sociometria dos Grupos.
O referido estudo visa investigar a dinâmica relacional de um grupo de jovens numa
escola secundária profissional, com o intuito de levantar elementos para a construção de uma
proposta de desenvolvimento das competências relacionais, baseada na Sociodinâmica e na
Sociometria.
Esta pesquisa é motivada pelo interesse em compreender como as atitudes individuais
e as coletivas podem ser otimizadas no desenvolvimento de competências relacionais em
adolescentes.
As perguntas às quais procuro responder são: como podemos otimizar-articular as
atitudes individuais com as atitudes coletivas no desenvolvimento das competências
relacionais?; Quais são os elementos essenciais para o desenvolvimento das competências
relacionais, com base na Sociodinâmica e na Sociometria de Jacob Levy Moreno? Quais são
os obstáculos no desenvolvimento das competências relacionais? Quais são os elementos
potencializadores das competências relacionais?
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Proposição cientifica do problema
Pensando o ser humano dentro de uma abordagem sistêmica, vemos um ser
multidimensional, que a um só tempo é físico, biológico, psíquico, social, cultural e histórico.
Edgar Morin (2000) nos diz que para conhecer o humano é preciso antes de mais nada,
situá-lo no universo, e não separá-lo dele. Para ele, todo o desenvolvimento humano significa
o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do
sentimento de pertencer à espécie humana.
Moreno (1972) propôs o estudo dos fenômenos grupais por meio da Socionomia (do
latim socius= companheiro e do grego nomos= lei) buscando apreender e elucidar o fenômeno
social “in vivo” tal qual ele se apresenta, por meio de métodos diretos e experimentais.
Todos os processos de hominização e humanização do ser humano passam pelo
desenvolvimento de competências relacionais. Ao propormos um estudo sobre competências
relacionais, como um dos elementos constituintes das relações humanas vemos nos conceitos
de autonomia e de cidadania as bases para a evolução social.
O termo competências possui um caráter polissêmico que provoca e mobiliza
diferentes encaminhamentos nos estudos que envolvem sua temática, por esse motivo, tem
sido pesquisada em diferentes âmbitos nas ciências da educação, na psicologia, na sociologia
e na antropologia.
Competência ou competências?
O termo competência, etimologicamente, é originário do latim compétentia e significa
o que está para vir, o que está para se manifestar (HILLAU, 1994, p. 62).
Em consulta a Enciclopédia livre Wikipedia (2006), encontramos que competência
integra as diversas dimensões humanas quando se trata de desenvolver uma atividade. O
conjunto de crenças e valores subjacentes, em tudo que realizamos, vai determinar um modo
de ser, um modus operandis do indivíduo no mundo. É exatamente este modo de ser,
justificado pelas crenças, que vai determinar o grau de motivação para realizar uma dada
atividade. A competência se expressa, portanto, pelo modo singular, como uma habilidade é
operacionalizada e aí os processos de auto-estima e de identificação do sujeito da ação
determinam diferentes graus de competência. A Competência engloba os conhecimentos, as
habilidades e o modo singular presentes na realização humana.
Em nosso estudo, utilizamos o termo no plural, ou seja, competências.
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Porque competências relacionais e não inteligência relacional?
Segundo Salovey e Mayer (1990) a Inteligência Emocional é “a habilidade de
perceber emoções, de alcançar e gerar emoções para ajudar ao pensamento, de compreender
emoções e de regular emoções para promover o crescimento emocional e intelectual”. Em
seus estudos, os autores apresentam cinco domínios para a Inteligência Emocional: conhecer
as próprias emoções, lidar com emoções, motivar-se, reconhecer emoções nos outros e lidar
com os relacionamentos.
Maria da Penha Nery (2003), num artigo intitulado - As inteligências emocional e
relacional – nos diz que a inteligencia relacional apresenta nossas atitudes e comportamentos
em relação ao outro e o outro em relação a nós. Ela está associada à percepção adequada
mútua, produzindo a co-criação e o bem estar dos envolvidos. Para o desenvolvimento da
inteligencias relacional é importante voltarmos o olhar para as ações, reações e formas
relacionais. Algumas questões facilitam esse caminho: conseguimos nos imaginar no lugar do
outro? Que ações são desencadeadas por nós e pelos outros, quando as necessidades são
contrariadas? O que experimentamos quando vemos no outro o que não queremos ver em
nós? Qual é nossa reação quando invejamos o sucesso do próximo? Quando um conflito não é
resolvido, como expomos a agressividade? Há contenção, silêncio, exclusão, indiferença,
violência, crítica severa?
A inteligência está focada no indivíduo e as competências se constroem na relação
indivíduo-outro-coletivo.
As competências relacionais se expressam pela capacidade de o indivíduo se
relacionar com o mundo ao seu redor, ou seja, expressam o jogo das interações sociais.
Em se tratando de “competências relacionais”, mais do que nunca, elas se inserem no
âmbito do inter, ou seja, não pertencem exclusivamente ao indivíduo, mas também, ao
coletivo, visto que ninguém é competente relacionalmente sozinho e que a sociedade se
organiza por meio de suas redes relacionais.
O ser adolescente
É oportuno também, tecermos algumas considerações sobre o sujeito com o qual
estamos interagindo nesta pesquisa: o adolescente. Em recentes pesquisas sobre o sujeito na
situação de adolescência consideram que a adolescência é uma construção histórica, como
resultante da configuração cultural, social e econômica da modernidade (CALIL, 2003).
Nesse sentido, os comportamentos considerados característicos dos adolescentes tais como os
conflitos, a rebeldia, a indefinição de identidade e um sentimento de onipotência, não são
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universais, mas assumidos por eles e resultante dos processos históricos de socialização da
modernidade ocidental.
Consideramos, portanto, que por ser tomada como uma fase “transitória”, a análise das
problemáticas emergentes neste período da adolescência são fundamentais para entendermos
as possibilidades e os limites de uma formação que não esteja tão fortemente alicerçada em
modelos pré-estabelecidos, indicando aspectos para a constituição de novas identidades, de
novos sujeitos.
A socionomia
A Socionomia, criada por Jacob Levy Moreno (1992) nos fornece referencial sobre a
importância em se compreender o sujeito em situação, por meio das suas relações com o
mundo.
A socionomia surgiu como algo mais que uma teoria sociológica, pois se propunha
como uma revisão de antigas correntes e visava a transportar suas complexas
elaborações teóricas para o nível da realidade vivida no cotidiano, perseguindo no
presente e por meio de investigações diretas, o complexo estrutural dos intercâmbios
e das interações humanas, tal como se realizava, se cristalizava ou se transformava
na realidade concreta e como esta era vivida e produzida por cada sujeito humano.
(NAFFAH NETO, 1979, p.120)
Dentro da Socionomia Moreno (1992) explicita três perspectivas interdependentes,
mas complementares, a Sociometria, a Sociodinâmica e a Sociatria para apreender o
fenômeno social em suas dimensões básicas: a estrutura, a dinâmica e as transformações.
A Sociometria é o ramo científico da Socionomia que objetiva estudar as normas e
organização das redes sociais psicológicas quer seja de um pequeno, quer seja de um grande
grupo.
A Sociodinâmica é o ramo da Socionomia que se ocupa do funcionamento das
relações entre os indivíduos, de como elas ocorrem e que modificações podem ser
introduzidas nas relações de aprendizagem, seja na aquisição de conhecimentos ou no
desempenho de papéis sociais nas diversas áreas.
A Sociatria é o ramo científico da Socionomia que tem por objeto a terapêutica das
relações.
Nesta pesquisa, nos aprofundamos na Sociodinâmcia e na Sociometria pelo caráter
educacional que o estudo exige.
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A Sociodinâmica
A sociodinâmica tem por objeto o estudo, o diagnóstico e a intervenção nas relações
sociais tendo em vista o vínculo entre os papéis sociais e seus respectivos complementares.
Para Ortega y Gasset (s./d.), o homem é um núcleo individual somado às suas
circunstâncias. “Eu sou eu, mais as minhas circunstancias”. Ou seja, qualquer um de nós é
sempre o mesmo mas, se relaciona com o mundo em circunstâncias diferentes e, em cada
circunstância, relaciona-se diferentemente.
Aqui, enfocamos as relações de umas pessoas com as outras. Esse contato social dá-se
numa relação dialógica através de papéis – papéis sociais, como, por exemplo: quando a
circunstância social é a relação filial, essa relação acontece através dos papéis filho/mãe ou
filho/pai; se a circunstância é a conjugal, os papéis são marido/esposa; na circunstância de
aprendizagem, os papéis são aluno/professor , vice-versa e assim por diante.
Essa constatação determina que, embora eu exista e seja o mesmo em qualquer
circunstância, minhas relações manifestam-se diferentemente, de acordo com as exigências
presentes naquele momento e através do papel social adequado. Em conseqüência, o que dá
funcionalidade aos meus papéis sociais são os correspondentes complementares. Assim, o que
me faz funcionar como esposa é o marido; o que me faz funcionar como professora é o aluno
e vice-versa.
A Sociometria
A Sociometria, definida por Moreno (1974, p. 39) como a “ciência da medida do
relacionamento humano e o que constitui sua originalidade é o fato de que a medida (metrum)
aparece somente como um meio técnico bem delimitado para alcançar melhor as relações
qualitativas com o socius. Naffah Neto (1979 , p. 24). Na Sociometria, o socius recebe uma
importância maior que o metrum.
A Sociometria tem por objeto o estudo das redes sociais subjacentes. Nos grupos
sociais, sejam grandes ou pequenos, há dois níveis quanto às relações: o primeiro é o nível
aparente e observável; o segundo é o nível subjacente, psicológico. A sociometria torna
cientificamente detectável as redes relacionais que se formam por meio de um método
específico para esse fim. Para Silva Junior (1997) é do segundo nível que se ocupa a
Sociometria, pois ela entende que o conteúdo emocional que preside as redes psicológicas é o
que determina os fenômenos relacionais das redes sociais.
Moreno considera que os procedimentos sociométricos possibilitam reconhecer a
estrutura relacional básica dos grupos, sendo que uma das modalidades do método
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sociométrico consiste em revelar essa estrutura social subjacente, por meio do registro dos
movimentos no espaço relacional.
Para estudar os fenômenos grupais, Moreno (1972, p. 83-91) propõe como método de
investigação o teste sociométrico, a fim de levantar as estruturas sociais entre os membros de
um grupo.
São utilizados conceitos como “escolha” e “rejeição”. O teste sociométrico
consiste em pedir ao sujeito que escolha, no grupo ao qual pertence ou ao qual poderia
pertencer, os indivíduos que quer ter como companheiros. Todos os membros do grupo fazem
suas eleições, obtendo-se com ele “... uma perspectiva de conjunto das estruturas do grupo tal
como aparecem aos olhos de seus membros...”
A avaliação sociométrica, mais conhecida,o “teste sociométrico” visa estudar as redes
psicológicas reais dos grupos. Conforme a Sociometria explica, as relações em um grupo têm
dois níveis, um aparente, manifesto, observável e outro subjacente, psicológico, não
observável. É esse nível subjcente, psicológico que determina o comportamento dos grupos e
dos indivíduos nos respectivos grupos. Como as redes relacionais psicológicas se estabelecem
por atração e rejeição (ou seja um fator qualitativo, emocional) o teste sociométrico possibilita
que se detecte essa rede, convertendo o qualitativo em quantitativo e permitindo visualizar
tanto a situação individual de cada elemento do grupo, como as relações positivas, as relações
negativas, os pontos de conflito e muitos outros eventos sociométricos.
Essa conversão dá-se por meio da aplicação de dois questionários: no primeiro
pergunta-se a cada componente do grupo quem ele escolhe, que ele recusa e quem lhe é
indiferente para realizar uma tarefa, ou um jogo ou uma prática de convivência (ao que se
denomina critério); no segundo, é perguntado a cada elemento quem ele percebe que o
escolheu, quem ele percebe que o recusou ou quem lhe lançou um sinal indiferente para
realizar o mesmo critério escolhido (tarefa, lazer ou convivência). Esses dados (indicações
objetivas e indicações perceptuais) são analisados para posterior utilização de otimização das
competênciais relacionais dos grupos e de seus participantes.
O Projeto Socionômico
Todo o projeto socionômico de Moreno sustenta-se em três referenciais teóricos
básicos: a teoria da espontaneidade-criatividade, a teoria do fator tele e a teoria de papéis,
conforme cita Garrido Martin (1984, p 119) “dois eixos polarizam a teoria de Moreno relativa
à pessoa humana: a espontaneidade em sua dimensão individual e o fator tele em sua projeção
social. Ambas se conjugam no eu tangível, o que fundamenta sua teoria do papel”.
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Espontaneidade é a capacidade de responder adequadamente a um estímulo novo ou
a faculdade de responder de maneira nova e adequada a um velho estímulo.
Segundo Menegazzo (1995, p. 65) a criatividade é “disponibilidade do ser humano
para o ato criador, assim considerando qualquer ato que acarrete uma transformação
integradora, no sentido do crescimento e da maturação, naquele que o realiza e também no
meio que o rodeia” .
Moreno (1978, p. 160) relaciona o conceito de espontaneidade ao de criatividade. A
criatividade é indissociável da espontaneidade. Assim, produção de criatividade tende a
plasmar no indivíduo novos modos de ser, de desempenhar papéis e de se vincular.
O fator t [tele] diz respeito ao vínculo que se estabelece nas relações interpessoais e à
qualidade desse vínculo. É o fator que sedimenta o vínculo entre duas pessoas.
A tele para Moreno (1972) tem um aspecto conativo e outro cognitivo. O aspecto
conativo se relaciona com o desenvolvimento do telencéfalo e a maturação dos sentidos visual
e auditivo, os quais possibilitarão a discriminação de tempo e de espaço no ser humano. A má
formação desse aspecto terá como conseqüência a falta de controle para as experiências
sensíveis, fazendo com que a tele seja distorcida quanto à organização de tempo e de espaço
da realidade própria e do outro.
Essa distorção pode levar a mudanças bruscas de
manifestação emocional, levando a relações equivocadas ou transferenciais.
O aspecto cognitivo da tele se relaciona com o desenvolvimento do sentimento de
contato com outras pessoas, evoluindo para a possibilidade da relação a distância. Com o
término da mielinização do sistema límbico e o desenvolvimento da capacidade perceptual
as possibilidades de escolhas e de rejeições passam a ser bem claras, formando-se uma zona
de confusão emocional entre o que o outro comunica verbalmente e suas atitudes. Aí se
produzem as relações conflitantes de caráter incongruente, de oposição de sentimentos, de
duplo vínculo.
Tele é a percepção global da realidade circundante. Vários estudos ainda se realizam
acerca de tele: como fator intrapsíquico que proporciona um potencial télico para o indivíduo
manter contatos e vínculos télicos e como fator relacional que determina a qualidade do
vínculo entre duas pessoas.
Para Bustos (1979, p. 17) tele implica em um conceito existencial e totalizador,
intelectivo, afetivo, biológico e social. Ao abandonar o acaso em nossa infância começa a
seleção. Buscamos sociometricamente aqueles que complementem positivamente nossos
objetivos, rechaçamos outros ou permanecemos indiferentes à terceiros. Quando se dá o
encontro, existe a certeza e não são necessárias verbalizações de confirmação. Para o referido
4091
autor, tele é um fenômeno da interação. Este fenômeno inclui a percepção, a transferência e a
empatia; supõe a mutualidade e a complementaridade; implica em coesão.
Almeida (1988) correlaciona os postulados do método fenomenológico identificando
nos processos de intuição, intencionalidade e intersubjetividade o fator tele.
Danúzio Carneiro ( s./d., p.) diferencia tele de transferência por três grandes aspectos:
Primeiro. O tele está ancorado em mecanismos vinculados à realidade, sendo por
isso o fator que permite uma relação humana verdadeira, autêntica. A transferência
se baseia num processo fantasioso, o que resulta numa relação humana falsa,
inautêntica. Desse modo, pode-se ainda dizer que, de acordo com a concepção
existencialista de Martin Buber, o tele seria o protótipo da relação Eu-Tu, enquanto a
transferência seria da relação Eu-Isso.
Segundo. O tele está ligado a fatores que dão estabilidade intra e inter psíquica. A
transferência, como conseqüência de um mecanismo intrapsíquico instável, resulta
em instabilidade interpessoal. Tudo isso, como diz Moreno, faz com que o tele seja o
fator de agregação, e a transferência o de desagregação grupal.
Terceiro. O tele, que inclui a empatia e a simpatia, é o elemento saudável que
aproxima e une os seres humanos. A transferência perturba, tornando patológicas as
relações desses mesmos seres humanos.
Papel vem do termo inglês role, originado de uma palavra derivada do latim, rotula.
Nos séculos XVI e XVII, as “falas” das personagens teatrais eram lidas em ‘rolos’ ou
fascículos de papel. A fonte inspiradora da teoria dos papéis de Moreno veio do teatro. O
termo "papel" em psicodrama não tem originalmente conotações psicológicas ou sociológicas.
Moreno define o papel como sendo “a menor unidade observável de conduta”, colocando este
conceito como ponto de partida para o estudo do ser humano.
Rubini (1995, p. 217) diz que:
A teoria psicodramática dos papéis leva o conceito de papel a todas as dimensões da
existência humana, desde o nascimento e ao longo de toda a vida do indivíduo,
enquanto experiência pessoal e modalidade de participação social. Situa-se no
conjunto da teoria moreniana que sempre se refere ao homem em situação, imerso
no social, buscando transformá-lo através da ação. O conceito de papel, que
pressupõe interrelação e ação, é central nesse conjunto articulado de teorias,
imprescindível, sobretudo, para a compreensão da teoria e prática do psicodrama.
Moreno (1989) distingue três tipos de papéis, a saber: os psicossomáticos são os
papéis que estão relacionados às funções fisiológicas do indivíduo; os psicodramáticos são os
papéis que correspondem à dimensão psicológica do indivíduo e vão constituir seu mundo da
fantasia; e os sociais que dizem respeito à realidade e que guardam relação com a cultura, ou
seja, são os papéis que o indivíduo aprende durante seu processo evolutivo, e, que possuem
sempre um complementar.
Os papéis passam por um processo de desenvolvimento que abrange três etapas
distintas, a tomada de papel (role-taking) que consiste na imitação de um papel, a partir de
4092
modelos; o jogo de papel (role-playing)é a exploração simbólica da representação; e a criação
do papel (role-creating) consiste no desempenho espontâneo e criativo de um papel.
Elementos do trabalho de campo
Moreno propôs estudar e tratar o homem sem tirá-lo de seu meio social, propõe o
estudo das microssociedades. [...] Chama a atenção para a dinâmica dos pequenos grupos, que
reunidos, constituem as grandes massas [...] (FONSECA FILHO, 1989, p. 9)
Para Moreno (1974, p. 33) o “qualitativo” e o “quantitativo”, sempre que possível,
devem ser tratados como uma unidade.
Esta pesquisa de caráter qualitativo, está associada a uma investigação experimental,
baseada na metodologia sociopsicodramática e estuda a dinâmica relacional dos jovens alunos
de uma escola do ensino secundário profissionalizante na cidade do Porto, Portugal.
A pesquisa está na fase de recolha de dados e o acompanhamento ocorre desde o
momento em que os jovens se inscreveram para o processo seletivo de admissão aos cursos
ofertados pela escola.
Considerações acerca do estudo
Para Paulo Freire (1996) não podemos encarar a educação a não ser como um quefazer humano. Que-fazer, portanto, que ocorre no tempo e no espaço, entre os homens, uns
com os outros. Para ele, a "posição fundamental", do homem como ser no mundo e com o
mundo, é a mesma de Gabriel Marcel (1973, p.149), a do “ser-em-situação”. Um ser
articulado no tempo e no espaço, que sua consciência intencionada capta e transcende.
Diante dos fenômenos grupais, a educação vista também como um fenômeno humano
e, portanto relacional, nos remete a uma definição de ser humano e de sujeito no e com o
mundo. Assim, a condição humana deveria ser o objeto essencial de todo o processo
educacional.
Compete à educação desenvolver a capacidade de construção e de adaptação à
mudança, buscando sempre as duas vertentes constitutivas básicas do ser humano: a
individualidade e a socialização. E, ao educador cabe compreender o fenômeno grupal, para
que possa dar conta de sua especificidade enquanto profissional das ciências humanas e
sociais.
Dada a quantidade de informações e a multiplicidade das relações que os adolescentes
vivem hoje, permeados pela velocidade proporcionada pelos avanços tecnológicos em escala
ascendente, as competências relacionais se tornam a base para a evolução social.
4093
Portanto, como perspectiva futura, este estudo visa organizar uma proposta de
desenvolvimento de competências relacionais no âmbito da formação de cidadania.
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Agradecimentos
Programa Alßan de bolsas de estudo de alto nível destinado à América Latina – União Européia
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação - Universidade do Porto - Portugal
Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Brasil
Conttexto—Associação de Psicodrama do Paraná – Brasil
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