RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS: Quando pensamos em recuperar ambientalmente uma área degradada, devemos sempre associar nosso planejamento aos processos naturais de SUCESSÃO. Na verdade, tenta-se reproduzir o processo natural através do conhecimento que temos sobre sua dinâmica e inter-relações, visando assim acelerar o processo para garantir que uma determinada comunidade tenha condições de atingir seu estado clímax. (Almeida, p.68). Entende-se hoje por recuperação ambiental um termo mais amplo, mais holístico, que envolve a recuperação do meio biótico e do meio físico, de forma que se possa garantir a integridade e o equilíbrio dos processos naturais em uma determinada área, levando em consideração também a função social da mesma. Conforme citado por REIS et al. (1999), deve-se promover a sucessão de todos elementos (solo, microfauna, flora, fauna, homem), o que fará com que a área ganhe nova resiliência (capacidade de voltar a um estado de equilíbrio). A tendência atual, discutida por Danilo S. de Almeida, é a de desenvolver modelos de recuperação ambiental utilizando plantas nativas autóctones específicas para cada ambiente a ser recuperado, enfocando a recuperação ambiental em um sentido holístico, trabalhando-se com a SUCESSÃO de elementos bióticos e abióticos. (Almeida, p. 18) Em se tratando de uma área degradada em seu estágio inicial de recuperação, com baixíssima diversidade de espécies, queda da fertilidade dos solo, presença de processos erosivos, etc... vários são os critérios citados para a seleção de espécies vegetais para fins de revegetação. Abaixo estão citados algumas premissas básicas para a escolha das espécies pioneiras para serem utilizadas em projetos de recuperação de áreas degradadas: Ocorrência natural na região Apresentar rápido crescimento, recobrindo rapidamente o solo e paralisando os processos erosivos Alto potencial de dispersão Rusticidade, apresentando bom desenvolvimento em solos com baixo teor de matéria orgânica e fertilidade Produzir alimento para a fauna regional (zoocórica) Facilidade de propagação e obtenção de mudas Apresentar grande densidade foliar Apresentar grande potencial de reciclar nutrientes, fertilizar o solo e incorporar matéria orgânica ao substrato Fixadora de nitrogênio Apresentar bom formato de copa, com parte aérea bem desenvolvida, para proteger o solo e servir de poleiro para aves Adaptado de REIS et al. (1999) e Secretaria do Meio Ambiente - 1990 Baseado em observações de campo e nos diferentes trabalhos já realizados (COSTA et al, 1992; GONÇALVES et al, 1992 e ALMEIDA, 1996), pode-se agrupar as espécies pertencentes aos diferentes grupos ecofisiológicos de conformidade com suas características próprias. 1. Espécies Pioneiras: Desenvolvem-se em grandes clareiras, bordas de fragmentos florestais, locais abertos e áreas degradadas, apresentando as seguintes características: Pequeno número de espécies por ecossistema, porém em alta densidade, principalmente em fragmentos florestais em estágio inicial e médio de regeneração; Capacidade de adaptação em ambientes variados (existe sempre uma espécie pioneira típica em cada ambiente, fato obeservado também nos morros costeiros) Alta tolerância à luz e intolerância à sombra; Pequeno ciclo de vida (10-20 anos); Árvores de pequeno porte (geralmente menores que 10 metros); Floração e frutificação precoce; Sementes em geral pequenas, produzidas em grande quantidade; Dispersão de sementes por agentes generalistas; Conservação do poder germinativo das sementes por longos períodos, permanecendo no banco de sementes do solo; Frutos e flores altamente atrativos para animais silvestres; Altas taxaas de crescimento vegetativo; Sistema radicular de absorção mais desenvolvidos; Alta plasticidade fenotípica; Grande amplitude ecológica (dispersão geográfica); Raramente formam associações micorrízicas; Madeira clara e de baixa densidade. Alguns exemplos: Cecropia ssp. Vismia ssp. Miconia ssp. Croton floribundus Trema micrantha Aegiphila sellowiana Schinus terrebentifolius Dictyoloma vandelianum Rapanea ssp. Embaúbas Maria preta, Copiã Jacatirão, quaresminha, pequi de capoeira Sangue d’água, velame Crindiúva, Pau-pólvora, Gurindiba Fruta de papagaio, fidalgo Aroeirinha, aroeira pimenteira Brauninha, tingui preto, mauí Capororoca, pororoca Vale ressaltar que as espécies vegetais pioneiras são em sua grande maioria as gramínias e arbustivas, sendo as arbóreas um estágio pioneiro mais avançado. É importante não restringir-se a espécies arbóreas na recuperação de áreas muito degradadas, mas contemplar os grupos das gramíneas e arbustivas que conferem um rápida proteção aos solos. Exemplos de espécies pioneiras leguminosas arbustivas: Canavalia brasiliense Crotalaria anargyroides Clitoria ternatea Mucuna aterrima Feijão bravo crotalaria cunhã mucuna preta 2. Secundárias Iniciais: São plantas que se desenvolvem em locais totalmente abertos, semi-abertos e clareiras na floresta. São plantas lucíferas que aceitam somente o sombreamento parcial, apresentando as características abaixo: Árvores de tamanho variando entre 12-20 metros; Sementes de tamanho pequeno e médio, geralmente apresentando algum tipo de dormência e relativamente longa viabilidade; Produzem boa quantidade de sementes quando são boas as condições de iluminação da copa; Sementes geralmente dispersas por pássaros, morcegos, gravidade e vento; Convivem com as pioneiras nas fases iniciais da sucessão florestal, mas em menor densidade – menor número de indivíduos por unidade de área; Rápido crescimento vegetativo; Ciclo de vida médio (15-30 anos) Bauhinia forficata Senna multijuga Zanthoxylum rhoifolia Casearia sylvestris Cupania ssp. Scheflera morototoni Alchornea iricurana Inga ssp Senna macranthera Pata de Vaca Cobi, Aleluia Mamica de porca Café do mato, aderninho Camboatá Mandiocão, matataúba Licurana Ingá Fedegoso 3. Secundarias Tardias: Desenvolvem-se exclusivamente em sub-bosque, em áreas permanentemente sombreadas, crescem e completam seu ciclo à sombra. Na fase adulta, ocupam quase sempre os estratos superiores da floresta. Suas características são: Suas mudas vão compor o banco de plântulas da floresta; Iniciam sua presença em estágios médios de sucessão; Árvores geralmente de grande porte; Ciclo de vida longo; Suas sementes são dispersas pelo vento, gravidade e alguns animais; Sementes médias e grandes. Centrolobium tomentosum Dalbergia nigra Bowdichia virgilioides Vochysia spp Apuleia leiocarpa Esenbeckia leiocarpa Araribá, putumuju Jacarandá Sucupira Pau de Tucano, Uruçuca Garapa, Jataí Guaraantã, Durão Métodos Biológicos de Recuperação de áreas degradadas: Plantio de mudas (pineiras arbustivas e arbóreas, de preferência leguminosas, nos casos mais graves, e secundárias e mesmo clímax para os casos de enriquecimento de uma determinada área) Plantio de Estacas (normalmente as espécies que aceitam este tipo de propagação exigem muita água no pós plantio, devendo o mesmo coincidir com o período chuvoso) Ex: Cedro (Cedrella fissilis, Cedrella odorata), Figueira (Ficus insipida), amoreira (Maclura tinctoria) e a castanha do maranhão (Bombacopsis glabra). Semeio direto (bolo de sementes compostos por pioneiras, secundárias, secundárias tardias e clímax); Semeadura Aérea; Hidrossemeadura; Utilização de Matéria orgânica e Serrapilheira (recomposição do horizonte orgânico, possibilitando condições de sobrevivência das espécies pioneiras e o início da sucessão) É O PRIMEIRO PASSO NA RECOMPOSIÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS SEM VEGETAÇÃO E COM SOLO EXPOSTO. Utilização de telas naturais (é utilizado principalmente para atenuar processos de erosão de taludes); Introdução de organismo e microorganismos (principalmente as micorrizas e inoculadas); Colocação de Poleiros Artificiais Todo processo de recuperação, seja de reabilitação, restauração ou criação (Almeida – p. 95) deve seguir a lógica da NUCLEAÇÃO (Reis, 1990). É através das ilhas de diversidade em uma área degradada que ocorrem a disseminação de propágulos, responsáveis pelo aumento da diversidade da área em processo de recuperação. As ilhas de vegetação são compostas por espécies atrativas à fauna (polinizadores e dispersores). Autores como REIS et al. (1999), citam os chamados “centros de alta diversidade”, áreas onde deveriam ser incluídas as formas de vida das espécies vegetais e suas adaptações aos estágios sucessionais (pioneiras, oportunistas, climácicas, ervas, arbustos, árvores, lianas e epífitas), além de considerar as adaptações aos processos de polinização e dispersão (anemocórica, zoocórica e outros) e de fenofases (principalmente floração e frutificação). No planejamento destas “ilhas de diversidade”, áreas onde se intervem de maneira mais intensa no processo de recuperação, é importante considerar-se também aspectos fitossociológicos (densidade de plantio previamente planejada, baseada em estudos fitossociológicos) e de localização (devem ser localizadas estrategicamente no meio, ou na parte mais elevada da área que está sendo recuperada, visando destacar a eficiência na dispersão de propágulos e enriquecimento da diversidade das áreas vizinhas). QUANTO AO USO DE ESPÉCIES EXÓTICAS Deve-se sempre buscar a recuperação de áreas degradadas com espécies nativas. No entanto, entendo a recuperação como um processo de sucessão, tem-se que são poucas, e às vezes inexistente, as espécies locais que conseguem se desenvolver em áreas de intensa degradação. Nestes casos, faz-se necessário utilizar espécies pioneiras – muitas delas arbustivas – mas exóticas, que conseguem se desenvolver mesmo em ambientes completamente degradados. Desta forma elas iniciam o processo de sucessão, mas deixam de compor o sistema quando este se estabiliza. No caso específico das leguminosas...