André Yui Aihara Estudo Comparativo entre Ressonância Magnética Convencional, Artro-Ressonância Magnética e Artro-Tomografia Computadorizada Multidetectores do Ombro, em esportistas com hipótese diagnóstica de luxação/instabilidade glenoumeral e/ou lesão SLAP Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de Mestre em Ciências Orientador: Prof. Dr. Artur da Rocha Correa Fernandes Co-orientador: Dr. Benno Ejnisman São Paulo 2010 Aihara, André Yui Estudo Comparativo entre Ressonância Magnética Convencional, ArtroRessonância Magnética e Artro-Tomografia Computadorizada Multidetectores do Ombro, em esportistas com hipótese diagnóstica de luxação/instabilidade glenoumeral e/ou lesão SLAP / André Yui Aihara. –São Paulo, 2010. Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina.Programa de Pós-graduação em Radiologia e Ciências Radiológicas. Título em inglês: Comparative study between conventional MRI, MR arthrography and multi-slice CT arthrography of the shoulder, in sportsmen with diagnostic hypothesis of dislocation/glenohumeral instability and/or SLAP lesion. 1. Ombro 2. Ressonância Magnética 3. Tomografia Computadorizada 4. Artrografia 5. Lábio glenoidal ii Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina Departamento de Diagnóstico por Imagem Chefe do Departamento: Prof. Dr. Sérgio Aron Ajzen Coordenador da Pós-graduação: Prof. Dr. Giuseppe D’Ippolito iii Aos meus pais, Massao e Keiko, pela orientação e pelo exemplo de vida recebidos. À minha irmã, Angélica, pela amizade e pela compreensão. À minha esposa, Elisa, pela ajuda, pela dedicação, pelo companheirismo e pelo incentivo imprescindíveis. Aos meus filhos Ayumi e Felipe, pela alegria proporcionada. Ao meu orientador, Prof. Artur, raro exemplo de profissional, tecnicamente capaz e ao mesmo tempo um ser humano de caráter, coração e educação. iv Agradecimentos Ao Prof. Dr. Artur da Rocha Correa Fernandes, por sua dedicação e imersão neste trabalho. Aos Drs. Benno Ejnisman e Gustavo Cara Monteiro pela ajuda e incentivo. Aos profs. Drs. Sérgio Aron Ajzen e Giuseppe D’Ippolito, pela oportunidade. Aos Drs. Fernando Alves Moreira, Paulo Matias, Leda Uemura e Prof. Dr. Renato Caggiano, pela amizade e auxílio na minha vida profissional. À Profa. Dra. Yara Juliano, pelos cálculos, orientação, análise e correção de estatística. Ao Prof. Dr. Neil Ferreira Novo, pela orientação de estatística. Aos técnicos, tecnólogos e biomédicos da DASA, principalmente o tecnólogo Edson Lubas, pela colaboração no planejamento e na execução dos exames. Aos funcionários do Laboratório Delboni Auriemo unidade Tatuapé, pela ajuda na preparação e posicionamento dos pacientes. Ao Laboratório Delboni Auriemo, pelo apoio na execução dos exames. Aos amigos do setor de músculoesquelético, médicos residentes e pósgraduandos do Departamento de Diagnóstico por Imagem da EPM/UNIFESP pela receptividade e ajuda constante. Aos meus colegas Marcos Hideki Idagawa, Edson Minoru Nakano e David Carlos Shigeoka e aos amigos do Hospital Paulistano, Hospital São Paulo e da DASA, cuja amizade e incentivo constantes possibilitaram a concretização deste trabalho. À minha esposa, Elisa, pela paciência, apoio e contribuição na execução desta pesquisa. Aos pacientes envolvidos no estudo, o inestimável e principal agradecimento. v Agradecimento especial À Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo incentivo e auxílio desta pesquisa, contribuindo, assim, para os avanços da ciência e da Medicina. N.° do curso: 33009015029P2 Nível: mestrado vi Sumário 1 Introdução.......................................................................................................................1 1.1 Objetivos........................................................................................................3 2 Revisão da Literatura .....................................................................................................4 2.1 Instabilidade glenoumeral..............................................................................4 2.2 Lesão SLAP...................................................................................................6 2.3 Armadilhas na Avaliação do Complexo Cápsulo-Labial-Ligamentar.............8 2.4 Ressonância Magnética Convencional .........................................................30 2.5 Artro-Tomografia Computadorizada ..............................................................34 2.6 Artro-Ressonância Magnética .......................................................................37 2.7 Comparação entre RMC, ATC e ARM ..........................................................41 2.8 Acurácia de uma metodologia .......................................................................53 3 Métodos ..........................................................................................................................56 3.1 Desenho do estudo: transversal prospectivo ................................................56 3.2 Critérios de inclusão ......................................................................................56 3.3 Critérios de exclusão .....................................................................................56 3.4 Parâmetros Técnicos.....................................................................................57 3.5 Critérios para a análise das alterações vistas pela RMC, ATCM e ARM ......59 3.6 Análise das Imagens .....................................................................................73 3.7 Análise Estatística .........................................................................................74 4 Resultados......................................................................................................................75 4.1 Casuística ......................................................................................................75 4.2 Análise da concordância intraobservador .....................................................77 4.3 Análise da concordância interobservador .....................................................79 4.4 Análise da comparação entre RMC, ATCM e ARM ......................................81 4.5 Análise da sensibilidade, especificidade, VPP, VPN e acurácia dos três métodos, utilizando-se a artroscopia como padrão-ouro (n=8) .........................................82 5 Discussão .......................................................................................................................86 6 Conclusões.....................................................................................................................105 7 Anexos............................................................................................................................106 8 Referências Bibliográficas ..............................................................................................133 vii Lista de figuras Figura 1: Artroscopia demonstrando exemplo de lesão SLAP. O probe mostra o descolamento do lábio superior, da margem da glenóide. ....................................................................................................6 Figura 2: Exemplo de cartilagem hialina, simulando lesão labial. Imagem axial de RMC. A seta vermelha demonstra a cartilagem hialina com sinal intermediário, abaixo do lábio glenoidal, simulando lesão. ...............................................................................................................................9 Figura 3: Exemplo de cartilagem hialina, simulando lesão labial. Note a cartilagem hialina apresentando sinal intermediário nesta imagem axial T1FS de ARM. ..........................................10 Figura 4: Inserção tipo I do complexo labialbicipital. A) Imagem coronal de ARM. B) Reformatação coronal de ATCM. Note o complexo labialbicipital firmemente aderido à margem da glenóide. 12 Figura 5: Inserção tipo II do complexo labialbicipital. A seta cheia indica a presença de um pequeno recesso entre o lábio superior e a cavidade glenoidal. A seta pontilhada indica o TCLB intacto..13 Figura 6: Inserção tipo III do complexo labialbicipital. A seta cheia indica a presença de um recesso profundo entre o lábio superior e a cavidade glenoidal..................................................................13 Figura 7: A) Imagem axial de ARM ponderada em T1. B) Imagem coronal de ARM ponderada em T2. As setas vermelhas demonstram um forame sublabial simulando lesão........................................15 Figura 8: Imagem coronal de ARM modificada por software para manipulação de imagens. Seta branca: TCLB. Seta vermelha: Recesso sublabial. Seta verde: sulco entre a origem do TCLB e o lábio superior. Este sulco não deve ser confundido com uma lesão SLAP....................................16 Figura 9: Complexo de Buford. Figuras A, B, C e D) Imagens axiais de ARM de cranial para caudal. A) Seta cheia indicando origem conjunta do LGUM com o lábio glenoidal. Seta pontilhada indicando o LGUS. B) Seta cheia indica a ausência do lábio glenoidal ântero-superior. Seta pontilhada indica o LGUM espesso. C) Seta cheia indica a ausência do lábio glenoidal ânterosuperior. Seta pontilhada indica o LGUM espesso. D) Seta cheia indica o lábio glenoidal anterior normal. Seta pontilhada indica o LGUM espesso. .........................................................................18 Figura 10: Lábio glenoidal anterior triangular. ......................................................................................19 Figura 11: Lábio glenoidal anterior arredondado...................................................................................19 Figura 12: Lábio glenoidal anterior em crescente. .................................................................................20 Figura 13: Banda anterior do LGUI simulando lábio clivado ou lesão labial. A seta cheia indica o LGUI. A seta pontilhada indica o lábio anterior. ...........................................................................20 Figura 14: Lábio glenoidal anterior clivado. ..........................................................................................21 Figura 15: Lábio glenoidal anterior pequeno associado à presença de pequeno recesso entre o lábio glenoidal e a cartilagem articular. ..................................................................................................22 Figura 16: Seta vermelha: Lábio glenoidal anterior pequeno/hipoplásico.............................................22 viii Figura 17: LGUM próximo ao lábio glenoidal anterior. Seta vermelha: Porção anterior do lábio glenoidal. Seta verde: LGUM ao lado do lábio glenoidal. O LGUM não deve ser confundido com fragmento labial destacado.............................................................................................................24 Figura 18: Banda anterior do LGUI simulando lesão labial. A seta cheia indica o LGUI. A seta pontilhada indica o lábio anterior. A interface entre o lábio e o ligamento pode simular traço de lesão................................................................................................................................................24 Figura 19: Banda anterior do LGUI simulando lesão labial. A seta cheia indica o lábio glenoidal anterior. A seta pontilhada indica a banda anterior do LGUI. A interface entre o lábio e o ligamento pode simular traço de lesão. ..........................................................................................25 Figura 20: Redundância da cápsula articular posterior com o braço em rotação externa. Esta redundância pode simular lesão labial posterior. ...........................................................................26 Figura 21: Imagem axial de ARM. A seta vermelha demonstra uma prega sinovial posterior. ............27 Figura 22: Imagens axiais de ARM: As setas vermelhas demonstram pregas sinoviais múltiplas........27 Figura 23: Efeito do ângulo mágico. Imagem axial T1 de ARM. A seta verde indica porção ânterosuperior do lábio glenoidal com sinal normal. A seta vermelha indica aumento artefatual de sinal na porção póstero-superior do lábio. ..............................................................................................28 Figura 24: Imagem axial de ARM: A seta vermelha demonstra achatamento normal da porção posterior da cabeça do úmero.........................................................................................................29 Figura 25: Extravasamento extracapsular de contraste. O extravasamento pode dificultar a avaliação do tipo de inserção capsular anterior..............................................................................................29 Figura 26: Imagem sagital de tomografia computadorizada (TC) modificada por meio de software, para manipulação de imagens demonstrando a divisão do lábio glenoidal em porções anterior (2-6 horas), posterior (10-6 horas) e superior (10-2 horas)....................................................................59 Figura 27: Lesão do lábio glenoidal anterior. A seta cheia indica ausência do lábio glenoidal anterior caracterizando lesão. Ao contrário do lábio glenoidal ântero-superior que pode estar ausente em indivíduos normais, a ausência do lábio anterior caracteriza lesão. A seta pontilhada indica lábio posterior normal. ............................................................................................................................60 Figura 28: Imagem axial de ARM: A seta vermelha demonstra contraste atravessando a base do lábio glenoidal. A seta verde indica o LGUM adjacente ao lábio glenoidal...........................................61 Figura 29: Destacamento do lábio glenoidal anterior. A) Imagem axial de RMC demonstra, destacamento do lábio glenoidal. B) Imagem axial de ARM em outro paciente demonstra achado semelhante. .....................................................................................................................................61 Figura 30: Deformidade do lábio glenoidal. Imagem axial de ATCM, demostrando deformidade do lábio glenoidal (seta vermelha). .....................................................................................................62 Figura 31: Deformidade e alteração de sinal do lábio glenoidal. Imagem axial T1 de ARM, demostrando alteração morfológica e de sinal do lábio glenoidal (seta vermelha)........................62 ix Figura 32: Imagem coronal de ARM, demonstrando traço de contraste na base do lábio superior com orientação lateral. ...........................................................................................................................63 Figura 33: Imagem coronal de ARM modificada por meio de software para manipulação de imagens, demonstrando, esquematicamente, o sinal do biscoito Oreo duplo. Seta vermelha: primeira faixa branca do biscoito Oreo duplo, representada por um recesso. Seta verde: segunda faixa branca, representada por traço de lesão. .....................................................................................................64 Figura 34: Lesão de Hill-Sachs. A) imagem axial de ARM demonstrando depressão do contorno posterior da porção superior da cabeça umeral. B) Imagem axial de TC em outro paciente, demonstrando retificação do contorno posterior da porção superior da cabeça umeral. ...............65 Figura 35: Bankart ósseo. A) Imagem axial de ARM demonstrando a fratura da margem ânteroinferior da cavidade glenoidal. B) Imagem axial de TC em outro paciente demonstrando Bankart ósseo. ..............................................................................................................................................66 Figura 36: Lesão parcial da face articular. Imagem coronal de ARM, demonstrando sinal semelhante a contraste acometendo a face articular do tendão do supra-espinal. ...............................................67 Figura 37: Lesão parcial da face bursal. Imagem coronal de RMC demonstrando hipersinal semelhante a líquido acometendo a face bursal do tendão do supra-espinal. ...................................................67 Figura 38: Lesão parcial intrasubstancial. Imagem coronal de RMC, demonstrando hipersinal semelhante a líquido, acometendo a substância do tendão do supraespinal. .................................68 Figura 39: Lesão de espessura completa. Imagem coronal de RMC, demonstrando hipersinal semelhante a líquido, acometendo toda a espessura do tendão do supraespinal............................68 Figura 40: Tendinopatia do supraespinal, sem roturas. Imagem coronal de RMC, demonstrando hipersinal menos intenso que líquido, acometendo todo o tendão do supraespinal. ......................69 Figura 41: Tendinopatia do bíceps. Imagem coronal de ARM. As setas cheias indicam traço de sinal menos intenso que líquido no interior do TCLB. A seta pontilhada indica lesão SLAP associada. ........................................................................................................................................................69 Figura 42: Lesão parcial do TCLB. A) Imagem coronal de RMC. A seta cheia indica traço de hipersinal semelhante a líquido no interior do TCLB. As setas pontilhadas indicam lesão do tendão supraespinal associada. B) Imagem sagital de RMC. A seta cheia indica traço de hipersinal semelhante a líquido no interior do TCLB. ...................................................................70 Figura 43: Lesão completa do TCLB. A) Imagem sagital de RMC. A seta cheia indica ausência da porção proximal do tendão da cabeça longa do bíceps ao nível do intervalo dos rotadores. B) Imagem axial de RMC do mesmo paciente. A seta cheia indica ausência da porção proximal do tendão da cabeça longa do bíceps ao nível do sulco intertubercular..............................................71 Figura 44: Lesão condral. Imagem coronal de ARM. A seta cheia indica foco de sinal semelhante a contraste, acometendo a cartilagem articular da cabeça umeral. ...................................................72 Figura 45: Área nua. A e B) Imagens coronal e axial de ARM demonstrando depressão focal da cartilagem articular da cavidade glenoidal na topografia esperada da área nua habitual...............72 x Lista de quadros e tabelas Quadro 1: Sensibilidade, especificidade, VPP, VPN e acurácia da RMC na avaliação do lábio glenoidal .........................................................................................................................................49 Quadro 2: Sensibilidade, especificidade, VPP, VPN e acurácia da ATC na avaliação do lábio glenoidal ........................................................................................................................................................50 Quadro 3: Sensibilidade, especificidade, VPP, VPN e acurácia da ARM na avaliação do lábio glenoidal .........................................................................................................................................51 Quadro 4: Parâmetros técnicos das sequências convencionais de RMC................................................57 Quadro 5: Parâmetros técnicos da aquisição de imagens de ATCM .....................................................58 Quadro 6: Parâmetros técnicos das sequências de ARM .......................................................................58 Tabela 1: Distribuição dos casos com relação a sexo e idade ................................................................75 Tabela 2: Concordância e discordância intraobservador (primeira e segunda leitura do observador 1) para Ressonância Magnética Convencional (RMC), Artro-Tomografia Computadorizada Multidetectores (ATCM) e Artro-Ressonância Magnética (ARM) dos achados abaixo citados. Resultado do teste Kappa e teste de McNemar - Dados básicos nas tabelas E1 a E8....................77 Tabela 3: Concordância e discordância interobservador (Primeira leitura do observador 1 e leitura do observador 2) para Ressonância Magnética Convencional (RMC), Artro-Tomografia Computadorizada Multidetectores (ATCM) e Artro-Ressonância Magnética (ARM) dos achados abaixo citados. Resultado do teste Kappa e teste de McNemar - Dados básicos nas tabelas E9 a E16..................................................................................................................................................79 Tabela 4: Análise da comparação entre os métodos (RMC, ATCM e ARM) nos diversos achados estudados. Resultados do teste G de Cochran. Dados básicos nas tabelas F1 a F8. ......................81 Tabela 5: Achados positivos da artroscopia nos oito pacientes operados ..............................................82 Tabela 6: Achados na artroscopia, por paciente.....................................................................................82 xi Lista de gráficos Gráfico 1: Distribuição dos pacientes com relação ao ombro estudado.................................................75 Gráfico 2: Distribuição dos pacientes com relação ao sexo ...................................................................75 Gráfico 3: Distribuição dos pacientes com relação ao tipo de esporte praticado...................................76 Gráfico 4: Distribuição dos pacientes com relação à hipótese diagnóstica antes da realização dos exames ............................................................................................................................................76 Gráfico 5: Comparação da porcentagem de concordância intraobservador (leitura 1a x leitura 1b) da RMC, ATCM e ARM, nos achados analisados..............................................................................78 Gráfico 6: Comparação da porcentagem de discordância intraobservador (leitura 1a x leitura 1b) da RMC, ATCM e ARM, nos achados analisados..............................................................................78 Gráfico 7: Comparação da porcentagem de concordância interobservador da RMC, ATCM e ARM, nos achados analisados...................................................................................................................80 Gráfico 8: Comparação da porcentagem de discordância inter-observador (leitura 1a x leitura 1b) da RMC, ATCM e ARM, nos achados analisados..............................................................................80 Gráfico 9: Análise da sensibilidade da primeira leitura do examinador 1 nos diversos achados analisados, utilizando-se a artroscopia como padrão-ouro.............................................................83 Gráfico 10: Análise da especificidade da primeira leitura do examinador 1 nos diversos achados analisados, utilizando-se a artroscopia como padrão-ouro.............................................................84 Gráfico 11: Análise do valor preditivo positivo da primeira leitura do examinador 1 nos diversos achados analisados, utilizando-se a artroscopia como padrão-ouro...............................................84 Gráfico 12: Análise do valor preditivo negativo da primeira leitura do examinador 1 nos diversos achados analisados, utilizando-se a artroscopia como padrão-ouro...............................................85 Gráfico 13: Análise da acurácia da primeira leitura do examinador 1 nos diversos achados analisados, utilizando-se a artroscopia como padrão-ouro ...............................................................................85 xii Lista de abreviaturas, símbolos e siglas ABER Abdução e Rotação Externa ALPSA Avulsão Lábio-Ligamentar-Periosteal Anterior em forma de capa ARM Artro-Ressonância Magnética ARMI Artro-Ressonância Magnética Indireta ATC Artro-Tomografia Computadorizada ATCM Artro-Tomografia Computadorizada Multi-slice BHAGL Avulsão Óssea Umeral do LGUI CM Centímetros FOV Field of View (campo de visão) FS Fat Saturation GAGL Avulsão Glenoidal do Ligamento Glenoumeral Inferior GLAD Lesão Glenolabial Articular HAGL Avulsão Umeral do Ligamento Glenoumeral Inferior IPS Impacto Póstero-Superior Kvp Kilovoltagem LCU Ligamento Coracoumeral LGUI Ligamento Glenoumeral Inferior LGUM Ligamento Glenoumeral Médio LGUS Ligamento Glenoumeral Superior mAs Miliamperagem MM Milímetros NEX Number of Excitations (número de excitações) RM Ressonância Magnética RMC Ressonância Magnética Convencional Rx Raios-X SLAP Lesão Labial Superior, de Anterior a Posterior TE Tempo de Eco TR Tempo de Repetição T Tesla xiii TC Tomografia Computadorizada TCLB Tendão da Cabeça Longa do Músculo Bíceps Braquial VPN Valor Preditivo Negativo VPP Valor Preditivo Positivo xiv Resumo Alguns radiologistas experientes consideram que, com o desenvolvimento dos aparelhos de RM e com a experiência adquirida, cada vez menos se precisa da introdução intra-articular de contraste no ombro, para a avaliação das estruturas internas, à semelhança do que ocorreu com o menisco e as demais estruturas internas do joelho. O autor desconhece a existência de estudo comparativo entre os três métodos diagnósticos (RMC, ATCM e ARM), efetuados no mesmo paciente, bem como estudo avaliador da variabilidade intra e interobservador para os três métodos. O presente trabalho teve como objetivos: 1. Avaliar a reprodutibilidade da RMC, ATCM e da ARM, separadamente, por meio da análise interobservador. da concordância e da discordância intraobservador e 2. Avaliar a concordância entre os três métodos (RMC, ATCM e ARM) aplicando o teste G de Cochran. 3. Verificar a sensibilidade, especificidade, VPP, VPN e acurácia dos três métodos, utilizando-se a artroscopia como padrão-ouro. Para tanto, foram feitos, prospectivamente, exames de RMC, ATCM e ARM em 32 pacientes. Cada paciente foi submetido aos três tipos de exame que foram realizados em cada paciente, todos os três realizados no mesmo dia de exame. Foram analisados: Lesão do lábio anterior, lesão do lábio superior, lesão do lábio posterior, Bankart ósseo, lesão de Hill-Sachs, lesão do manguito rotador, lesão do tendão da cabeça longa do músculo bíceps braquial e lesão condral. No presente estudo, a RMC, ATCM e ARM mostraram-se métodos com reprodutibilidade semelhante e significativa, particularmente para detecção de lesão do lábio anterior, Bankart ósseo e lesão de Hill-Sachs. Nas lesões do lábio superior, a ARM apresenta maior reprodutibilidade em relação à ATCM e RMC. Para os demais achados, os dados são mais variáveis. A comparação entre os três métodos sugere que os mesmos são comparáveis nos quesitos lesão do lábio anterior, lesão do lábio superior, lesão do lábio posterior, Bankart ósseo, lesão de Hill-Sachs, lesão do TCLB e lesão condral, para a população estudada. Com relação à lesão de manguito rotador, a ATCM não se mostrou comparável à RMC e ARM. Alicerçado nos dados de sensibilidade, especificidade, VPP, VPN e acurácia dos oito pacientes submetidos à artroscopia, acredita-se que a ARM tende a ser melhor do que a ATCM e RMC. xv 1 Introdução Muitos pacientes com dor no ombro são encaminhados para a realização de ressonância magnética (RM), com o intuito de se definir a causa subjacente e/ou para planejamento pré-operatório [1]. Na prática diária, as indicações mais comuns para realização de RM do ombro são síndrome do impacto, luxação/instabilidade glenoumeral e lesão labial superior, de anterior a posterior (SLAP) [2-4] A ressonância magnética convencional (RMC) constitui um método aprimorado para a detecção e caracterização de lesões do manguito rotador, principalmente de lesões de espessura completa [5]. De maneira geral, está bem estabelecido que a RMC seja suficiente para a avaliação das lesões de espessura completa do manguito rotador. Já para a detecção das lesões de espessura parcial, a comparação entre RMC e ArtroRessonância Magnética (ARM) insinua que a ARM seja mais acurada [5-7]. Para a avaliação do lábio glenoidal, quer no contexto de instabilidade glenoumeral quer no de lesão do tipo SLAP, a literatura aponta ser a ARM mais acurada que a RMC [6-8]. Estima-se a Artro-Tomografia Computadorizada (ATC) como um procedimento de segunda linha para os ombros com suspeita de instabilidade ou lesão labial na literatura americana. Apesar disso, é adotada de maneira rotineira em alguns países da Europa e Ásia, devido à sua grande disponibilidade, ao menor custo, ao menor tempo de exame e ao surgimento dos equipamentos multidetectores [5, 8-10]. Mesmo assim, usa-se frequentemente a RMC sem contraste para a avaliação de instabilidade glenoumeral, apesar da popularidade da ARM [11]. Alguns radiologistas experientes consideram que, com a melhoria dos aparelhos de RM e da experiência adquirida, cada vez menos se precisa da introdução intra-articular de contraste no ombro, para a avaliação das estruturas internas, à semelhança do que ocorreu com o menisco e as demais estruturas internas do joelho [12]. 2 A revisão da literatura evidencia que a maioria dos artigos relacionados ao assunto foi publicada nas décadas de 80 e 90 [13-33], porém, desde essa época, ocorreu um melhoramento significativo nos aparelhos de RM e Tomografia Computadorizada (TC). Na RM, houve melhoria nos gradientes, nas sequências e nas bobinas, como, por exemplo, a introdução das bobinas phased array de ombro [34]. Na TC, o maior avanço foi a introdução dos tomógrafos multidetectores que permitem reconstruções coronais e sagitais com excelente resolução, o que não era possível com os tomógrafos convencionais e helicoidais [35]. Saliente-se que o plano coronal se torna fundamental para a avaliação da porção superior do lábio glenoidal [30]. Além disso, estudos mais recentes têm demonstrado: desempenho semelhante da RMC e da ARM na avaliação de lesões SLAP [36], alta sensibilidade e especificidade da RMC para a detecção de lesões labiais [37], e bom desempenho da Artro-Tomografia Computadorizada Multidetectores (ATCM) na avaliação do lábio glenoidal, tanto para as porções anterior como superior [35, 38]. Considera-se a ATCM o melhor método de imagem para a avaliação da cartilagem articular, cujo estudo vem ganhando importância, à medida que surgem formas mais efetivas de tratamento [8, 39, 40]. Estudos mais recentes têm demonstrado também boa correlação da ATCM com a ARM, em contextos de lesão do manguito rotador, instabilidade glenoumeral e para lesões do tipo SLAP, inclusive com melhor visibilização de alterações ósseas. Desta forma, a ATCM pode vir a se tornar um método importante, na avaliação das desordens articulares internas do ombro [8, 41]. Observa-se, ainda, que a combinação de ARM e ATC (especialmente ATCM) em um procedimento único e com punção intra-articular única tem sido realizada mais frequentemente nos últimos tempos [8, 42]. A combinação dos dois métodos pode aumentar a acurácia na avaliação dos desarranjos internos do ombro, pois permite a combinação dos pontos fortes de cada método [42]. Pelo que nos consta, não há pesquisa que compare os três métodos diagnósticos (RMC, ATCM e ARM) realizados no mesmo paciente, nem estudo que avalie a variabilidade intra e interobservador para os três métodos, à exceção de Chandnani et al. [18] (1993) que avaliaram a sensibilidade da RMC, ARM e ATC com tomógrafo convencional (técnica de duplo contraste e apenas cortes axiais de 3 mm de espessura), com a RMC e ARM realizadas no mesmo dia, e a ATC realizada cerca de uma semana após os dois primeiros procedimentos. Com base no que foi exposto, o objetivo principal do presente estudo foi definir se, nos dias atuais, com os recentes avanços técnicos, a Ressonância Magnética Convencional (RMC) e/ou a Artro-Tomografia Computadorizada Multidetectores (ATCM) se equiparam à Artro-Ressonância Magnética (ARM) na avaliação do ombro, em atletas com suspeita de instabilidade glenoumeral e/ou lesão labial do tipo SLAP. 3 1.1 Objetivos 1. Avaliar a reprodutibilidade da Ressonância Magnética Convencional (RMC) , da Artro-Tomografia Computadorizada Multidetectores (ATCM) e da Artro-Ressonância Magnética, por meio da análise da concordância e discordância intraobservador e interobservador. 2. Avaliar a concordância entre os três métodos (RMC, ATCM e ARM) 3. Verificar a sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo (VPP), valor preditivo negativo (VPN) e acurácia dos três métodos, utilizando-se a artroscopia como padrão-ouro. 4 2 Revisão da Literatura 2.1 Instabilidade glenoumeral A luxação/instabilidade glenoumeral torna-se condição debilitante que afeta primariamente pessoas jovens e ativas [43]. A articulação glenoumeral representa o local mais comum de luxação/subluxação no corpo humano [44, 45]. Das luxações ao redor do ombro, aproximadamente 85% acontecem na articulação glenoumeral, com os 15% restantes distribuídos entre as articulações acromioclavicular e esternoclavicular [43]. De maneira geral, define-se instabilidade glenoumeral como uma situação clínica sintomática caracterizada por movimento anormal da cabeça do úmero em relação à cavidade glenoidal [43]. 2.1.1 Classificação da Instabilidade Glenoumeral Classicamente, a instabilidade glenoumeral pode ser dividida em dois grupos. Um de instabilidade traumática e outro de instabilidade atraumática. A estes dois grupos, pode-se acrescentar um terceiro chamado de microinstabilidade (ou instabilidade microtraumática), que, geralmente, é encontrado em atletas que utilizam movimentos de arremesso [46]. O acrônimo TUBS descreve pacientes com instabilidade (t)raumática, geralmente (u)nilateral, apresentando tipicamente uma lesão de (B)ankart, e, em geral requerendo cirurgia (Surgery). O acrônimo AMBRI refere-se a pacientes com instabilidade (a)traumática (m)ulti-direcional, muitas vezes (b)ilateral, e que pode responder a programa de (r)eabilitação ou necessitar de capsuloplastia (i)nferior. 5 2.1.2 Instabilidade traumática A instabilidade traumática, tipicamente, é iniciada por um evento traumático específico, seguido de outros episódios de luxação ou subluxação com um padrão unidirecional. Na grande maioria dos atletas, a instabilidade traumática ocorre numa direção ântero-inferior, quando uma força súbita ultrapassa os limites de contenção das estruturas capsulares anteriores, geralmente quando o braço está em uma posição de extensão, abdução e rotação externa. A combinação resultante de lesões representa uma fonte crônica de instabilidade, particularmente envolvendo o complexo do LGUI e/ou a porção ântero-inferior do lábio glenoidal [46]. 2.1.3 Instabilidade atraumática A instabilidade atraumática multidirecional é causada por uma frouxidão ligamentar bilateral e atraumática. Não há achado específico de imagem para diagnosticar instabilidade glenoumeral atraumática por meio de RMC ou ARM [46, 47]. Na maioria dos pacientes não atletas com instabilidade atraumática, a ARM mostra um aumento do volume capsular, sem outras alterações substanciais de estruturas capsulares. Em atletas, a frouxidão da cápsula está frequentemente associada a lesão secundária do lábio glenoidal e manguito rotador [46, 48]. 6 2.2 Lesão SLAP O lábio superior é funcionalmente importante, pois é a âncora de inserção do TCLB na margem da glenóide [3]. Andrews et al. [49] foram os primeiros a descrever o destacamento da porção ântero-superior do lábio da glenóide, com possível lesão parcial do tendão do bíceps, em um grupo de atletas arremessadores de alto nível. Lesões do lábio superior, de anterior para posterior, têm sido designadas como lesões SLAP [50] , e são uma causa comum de patologia labial que pode levar a dor e instabilidade do ombro [3]. A lesão SLAP é uma anormalidade adquirida, geralmente centrada na origem do tendão da cabeça longa do bíceps. Ela pode estender-se e envolver as porções anteriores e posteriores do lábio da glenóide, assim como outras estruturas anatômicas adjacentes [3, 51]. Figura 1: Artroscopia demonstrando exemplo de lesão SLAP. O probe mostra o descolamento do lábio superior, da margem da glenóide. Dor inespecífica, particularmente com movimentos do braço por sobre a cabeça ou movimentos atravessando a linha média do corpo, constitui o sintoma mais comum. Sintomas adicionais incluem estalido, clique, sensação de “pegada”, fraqueza, endurecimento e instabilidade [3]. Apesar de ser um assunto controverso, uma revisão sistemática criteriosa dos testes de exame físico especiais para as lesões do tipo SLAP demonstra que não há nenhum teste clínico bom para o diagnóstico desse tipo de lesão [52]. Logo, o diagnóstico clínico da lesão SLAP pode ser difícil, o que confere aos estudos de imagem um papel importante na sua detecção [3, 53]. A prevalência de lesão SLAP em artroscopias gira em torno de 3,9 a 11,8% [50, 54]. 7 Os mecanismos de lesão incluem movimentos repetitivos em atividades esportivas que envolvem movimentos do braço por sobre a cabeça ou queda com o braço estendido [51]. Inicialmente, assinalaram-se quatro tipos de lesão SLAP [50]. Entretanto, posteriormente, outros tipos foram acrescentados, mas a classificação de Snyder et al. em quatro tipos [50] corresponde à mais adotada. 8 2.3 Armadilhas na Avaliação do Complexo Cápsulo-LabialLigamentar Existem várias armadilhas e variações anatômicas que potencialmente podem dificultar a avaliação por imagem do complexo cápsulo-labial-ligamentar. Essas armadilhas e variações são menos prováveis de ser encontradas na ARM, em comparação com a RMC [10, 14, 38, 55-60]. McCauley et al. [55] (1992) encontraram alteração de sinal em 46% e alteração morfológica em 23% dos lábios glenoidais de 26 ombros normais, pelo de estudo de RMC. Na RMC, as armadilhas estão relacionadas com a presença de zonas transicionais, sinal intralabial sem irregularidade da superfície ou lesão labial definida, e volume parcial com os ligamentos glenoumerais. Denomina-se zona transicional a área localizada entre a fibrocartilagem do lábio e a cartilagem hialina da glenóide. Em imagens convencionais, observa-se aumento de sinal entre o lábio e a cartilagem da glenóide, ocorrendo na zona transicional entre essas duas estruturas histológicas. Áreas de zona transicional não se preenchem com contraste em imagens artrográficas. Aumento de sinal é um dado comum e pode relacionar-se com fenômeno de ângulo mágico ou degeneração intrassubstancial do lábio. Volume parcial com os ligamentos glenoumerais também é uma ocorrência comum, mas a avaliação cuidadosa da extensão completa dessas estruturas geralmente permite a diferenciação entre estruturas normais e lesão [10, 14, 38, 55-61]. 2.3.1 Cartilagem hialina e sua relação com o lábio glenoidal Cartilagem normal pode interpor-se entre o córtex da fossa glenoidal com baixo sinal e o lábio glenoidal também com baixo sinal. Este fato, assim como o recesso sublabial, possui orientação medial e sinal semelhante a tecido cartilaginoso [62, 63]. Esta cartilagem hialina que passa por baixo do lábio apresenta sinal maior que o do lábio glenoidal e pode simular lesão em imagens de RM [14, 58, 62-66]. A cartilagem normal, interpondo-se entre o lábio e a fossa glenoidal, pode ser encontrada em todas as porções labiais, não apenas na superior [58]. 9 Kaplan et al. (1992) [64] estudaram 30 voluntários por meio de RMC em aparelho de 1,5T, com sequências T1 e GRE. Com relação ao lábio glenoidal, os autores advertiram que a cartilagem hialina - passando sob o lábio e o LGUM aposto ao lábio - pode simular uma lesão labial anterior. Liou et al. (1993) [67] analisaram 60 ombros de voluntários assintomáticos pela de RMC em aparelho de 1,5T, com sequências T1, DP e T2 sem supressão de gordura. Neste estudo, prestou-se atenção especial à cartilagem hialina que passa sob o lábio, tendo sido vista em todos os exames. Este hipersinal atingiu a superfície capsular em 72% dos casos, tornando-se indistinguível de uma ruptura labial, segundo os autores. Segundo Park et al. [58] (2000), a cartilagem hialina pode simular lesão labial em até 32% dos exames de ARM. Figura 2: Exemplo de cartilagem hialina, simulando lesão labial. Imagem axial de RMC. A seta vermelha demonstra a cartilagem hialina com sinal intermediário, abaixo do lábio glenoidal, simulando lesão. 10 Figura 3: Exemplo de cartilagem hialina, simulando lesão labial. Note a cartilagem hialina apresentando sinal intermediário nesta imagem axial T1FS de ARM. Na ARM, o problema aparece minimizado, porque a cartilagem hialina tem sinal mais baixo que o contraste [63, 65], porém, em casos sutis, pode tornar-se difícil a diferenciação entre esta cartilagem e uma ruptura labial [14, 68]. As características que ajudam a diferenciar ruptura da cartilagem articular normal são: a) as rupturas tendem a apresentar margens irregulares, ao contrário das margens lisas e uniformes da cartilagem. b) a cartilagem com alto sinal não atravessa completamente a superfície anterior do lábio [64], embora este fato seja discutível, de acordo com Liou et al. (1993) [67]. c) as lesões labiais muitas vezes são vistas em mais de uma imagem [14]. 11 2.3.2 Variantes Anatômicas do Lábio Glenoidal 2.3.2.1 Variantes Anatômicas do Lábio Glenoidal ântero-superior O lábio glenoidal ântero-superior é o local mais comum de variações anatômicas labioligamentares [31, 59, 69-71]. Pode haver variação significativa da morfologia e inserção do lábio ânterosuperior na glenóide, principalmente com relação ao grau de inserção [59, 62, 70, 72]. Williams et al. [71] (1994), em análise de 200 artroscopias, encontraram 13,5% de variações labiais ântero-superiores. Com relação à morfologia, o lábio ântero-superior pode apresentar-se desde bem formado até ausente. A ausência ou a hipoplasia do lábio glenoidal anterior podem ser confundidas com lesão. Nestes casos, pode ser difícil a diferenciação entre estas e um lábio patológico levemente rombo ou deficiente [32]. Com relação ao grau de inserção do lábio na cavidade glenoidal, podemos observar um lábio firmemente aderido à glenóide, ou a presença de variações anatômicas como um recesso ou um forame sublabial [38]. 12 Variantes anatômicas do lábio superior: 2.3.2.1.1 Recesso sublabial superior: Há uma relação íntima entre o lábio superior e a origem do tendão da cabeça longa do bíceps. O mecanismo de fixação do lábio superior na glenóide no local da origem do tendão do bíceps pode mostrar variação considerável. A fixação do lábio superior pode ser dividida em três tipos [51, 62, 73-75]. Na inserção tipo I, o complexo labialbicipital se fixa firmemente à margem da glenóide, de forma que a sonda de um artroscópio não pode ser inserida entre o lábio e a glenóide. A B Figura 4: Inserção tipo I do complexo labialbicipital. A) Imagem coronal de ARM. B) Reformatação coronal de ATCM. Note o complexo labialbicipital firmemente aderido à margem da glenóide. 13 No tipo II, há a presença de um pequeno recesso entre o lábio e a margem da glenóide. Figura 5: Inserção tipo II do complexo labialbicipital. A seta cheia indica a presença de um pequeno recesso entre o lábio superior e a cavidade glenoidal. A seta pontilhada indica o TCLB intacto. No tipo III, há um recesso profundo entre o lábio e a glenóide, permitindo que a sonda de um artroscópio possa ser inserida entre o lábio e a glenóide. Figura 6: Inserção tipo III do complexo labialbicipital. A seta cheia indica a presença de um recesso profundo entre o lábio superior e a cavidade glenoidal. 14 Um recesso sublabial superior corresponde à inserção tipo II e III, e localiza-se na posição de 12 horas [75]. A análise histológica mostra tecido sinovial recobrindo o recesso sublabial [74, 75]. A literatura denota incidência de recesso sublabial de até 73% em ARM de voluntários, pacientes ou cadáveres [58, 63, 75]. A diferenciação por imagem entre um recesso sublabial e uma lesão SLAP tipo II pode ser extremamente difícil [3, 32, 63, 73, 74, 76], e um recesso sublabial superior pode ser contínuo com um forame sublabial [51]. Segundo Jin et al. [60] (2006), extensão de traço de alto sinal por baixo do lábio posteriormente à âncora do bíceps foi notada em 97% (33/34) dos casos de lesão SLAP II e 91% (21/23) dos casos com recesso sublabial, sendo esta ocorrência estatisticamente insignificante, na diferenciação entre recesso e lesão SLAP. Na opinião de Waldt et al. (2006) [38], o recesso sublabial pode estender-se ao segmento posterior do lábio glenoidal em até 31% dos casos. Desta forma, extensão de contraste ou alto sinal, posterior à âncora labialbicipital não deve ser considerado critério confiável para diagnóstico de lesão SLAP. Para Jin et al. [60] (2006), forma irregular ou globular do traço foi vista em 65% (22/34) dos casos de lesão SLAP II e em 43% (10/23) dos casos de recesso sublabial, sendo este dado estatisticamente insignificante na diferenciação entre recesso sublabial e lesão SLAP. 15 2.3.2.1.2 Forame sublabial: Um forame sublabial é visto em oito a 15% dos indivíduos [58, 61, 63, 71] e muitas vezes pode ser confundido com uma lesão labial nos exames de imagem. Ao contrário da lesão de Bankart, o forame sublabial é visto superiormente à linha fisária, no terço superior da glenóide. A lesão de Bankart geralmente representa uma lesão labial no nível, ou abaixo do nível do tendão subescapular em imagens axiais, o que é visto abaixo do nível da linha fisária [62]. Do mesmo modo, deve-se diferenciá-lo de um recesso sublabial. Ao contrário do recesso, o forame localiza-se ântero-superiormente na posição de 1 a 3 horas [51, 73]. O recesso sublabial situa-se no ponto de inserção do tendão do bíceps, enquanto o forame sublabial se localiza anteriormente à origem desse tendão. Alguns autores acreditam que essa variação anatômica não deva se estender além da posição de 3 horas, enquanto outros aceitam normalidade até a posição de 4 horas [59, 65, 71]. Histologicamente, a porção ântero-superior do lábio, que não é fixa à cavidade glenóidal, tem superfície lisa em sua margem medial [51]. O recesso e o forame sub-labial podem ser confundidos com lesão do tipo SLAP. A B Figura 7: A) Imagem axial de ARM ponderada em T1. B) Imagem coronal de ARM ponderada em T2. As setas vermelhas demonstram um forame sublabial simulando lesão. 16 2.3.2.1.3 Pseudolesão SLAP: A pseudolesão SLAP é um sulco entre a origem do TCLB e o lábio superior. Um sulco profundo pode simular uma lesão SLAP [3, 58, 65, 77]. Pode ser encontrada em até 30% de pacientes assintomáticos por meio de ARM [58]. Figura 8: Imagem coronal de ARM modificada por software para manipulação de imagens. Seta branca: TCLB. Seta vermelha: Recesso sublabial. Seta verde: sulco entre a origem do TCLB e o lábio superior. Este sulco não deve ser confundido com uma lesão SLAP. 17 2.3.2.1.4 Complexo de Buford: Esta variação anatômica é encontrada em 1,5% a 5% dos indivíduos, em artroscopias [71, 78]. O complexo de Buford consiste num espessamento do ligamento glenoumeral médio (LGUM) combinado com a ausência do lábio ânterosuperior [71]. Nesta variante, o LGUM se fixa diretamente na porção ântero-superior da glenóide junto à âncora bicipital, em conjunto com o LGUS. As porções contíguas dos lábios superior e ântero-inferior estão normais [79]. Embora seja considerado por muitos autores como uma variação anatômica, existem dados recentes de literatura comprovando associação do complexo de Buford com lesão do tipo SLAP, lesão do tendão subescapular e até instabilidade glenoumeral [63, 80]. O próprio forame sublabial tem sido associado a uma maior incidência de lesões SLAP e lesão do LGUS [63]. A B 18 C D Figura 9: Complexo de Buford. Figuras A, B, C e D) Imagens axiais de ARM de cranial para caudal. A) Seta cheia indicando origem conjunta do LGUM com o lábio glenoidal. Seta pontilhada indicando o LGUS. B) Seta cheia indica a ausência do lábio glenoidal ânterosuperior. Seta pontilhada indica o LGUM espesso. C) Seta cheia indica a ausência do lábio glenoidal ântero-superior. Seta pontilhada indica o LGUM espesso. D) Seta cheia indica o lábio glenoidal anterior normal. Seta pontilhada indica o LGUM espesso. É importante para o radiologista conhecer esta variante anatômica pois: a) nos exames por imagem, o LGUM espessado pode ser confundido com um fragmento labial deslocado [71, 78, 79]. b) caso o ortopedista confunda essa variação com um lábio destacado e a fixe à glenóide, o paciente pode desenvolver uma grave restrição de movimentos [78]. Deve-se salientar, entretanto, que caso haja instabilidade associada a um complexo de Buford, a reinserção do LGUM na cavidade glenoidal pode ser um tratamento a ser considerado [80]. 2.3.2.2 Variações Anatômicas do Lábio Anterior: O lábio glenoidal anterior pode apresentar morfologia triangular (mais comum), arredondada, em crescente, entalhada e clivada [45, 57, 58, 69, 73, 81]. As formas em crescente e clivada são raras [14]. É possível que a forma clivada represente um lábio triangular com o LGUI adjacente a ele, simulando uma forma clivada. 19 McCauley et al. [55] (1992) avaliararam 16 ombros de voluntários assintomáticos e 19 ombros de pacientes, com RMC de 1,5T, nas sequências coronal e axial MPGR. Em 11 pacientes foi encontrada uma lesão labial pela artroscopia ou cirurgia. Logo, havia 24 ombros com lábio presumivelmente normal. Dos 24 ombros normais, seis (23%) apresentaram morfologia labial atípica: três lábios deformados, dois atenuados (de dimensões reduzidas) e um com clivagem. Park et al. [58] (2000) consideraram as armadilhas e variações do complexo cápsulo-labial-ligamentar do ombro por meio de 105 exames de ARM realizados em 95 voluntários assintomáticos. Os autores encontraram lábio glenoidal: triangular (lábio anterior, 64%; lábio posterior, 48%), achatado (2%; 17%), arredondado (17%; 33%), clivado (11%; 1%), entalhado (3%; 0%) e ausente (2%; 2%). Figura 10: Lábio glenoidal anterior triangular. Figura 11: Lábio glenoidal anterior arredondado. 20 Figura 12: Lábio glenoidal anterior em crescente. Figura 13: Banda anterior do LGUI simulando lábio clivado ou lesão labial. A seta cheia indica o LGUI. A seta pontilhada indica o lábio anterior. 21 Figura 14: Lábio glenoidal anterior clivado. A aparência do lábio anterior pode mudar com a rotação interna-externa do ombro. Já que o LGUI e o LGUM podem localizar-se adjacentes ao lábio anterior, podem dar a impressão errônea de que uma porção do lábio está destacada ou lesada, em imagens transversais de ATC, RMC e ARM [73]. Na maioria das vezes, o lábio está firmemente aderido à cartilagem da glenóide, mas, ocasionalmente, pode existir um recesso de tamanho variável entre o lábio anterior e a cavidade glenoidal. Tal recesso pode estar presente entre os locais de inserção dos ligamentos glenoumerais médio e inferior e simular destacamento labial. Às vezes, um pequeno recesso pode ser visto ao longo de todo o lábio. O lábio anterior pode ser bastante fino e, na maior parte, substituído por um LGUI espesso [73]. Tuite et al. [59] (2002) sugeriram que o lábio glenoidal pode estar ausente ou não inserido até aproximadamente duas imagens abaixo da metade da cavidade glenóide, em pacientes com variações normais como forame sublabial e complexo de Buford. 22 Figura 15: Lábio glenoidal anterior pequeno associado à presença de pequeno recesso entre o lábio glenoidal e a cartilagem articular. Figura 16: Seta vermelha: Lábio glenoidal anterior pequeno/hipoplásico. 2.3.2.3 Variantes anatômicas do lábio posterior: Zanetti et al. [56] (2001) observaram 241 segmentos labiais pela ARM, comprovadamente normais por artroscopia. Em 64 segmentos labiais posteriores normais pela artroscopia, os autores encontraram sinal anormal em nove, fissura/separação em três e deformidade em quatro. 23 Lee et al. [10] (2009) encontraram fissuras relativamente frequentes na porção posterior do lábio glenoidal por meio de ATCM, fissuras estas comprovadas como ocorrências normais na artroscopia. Essas fissuras podem ser confundidas com lesões verdadeiras do lábio posterior. 2.3.3 Ligamentos glenoumerais Os ligamentos glenoumerais estão apostos ao lábio e podem simular lesão labial, especialmente na RM convencional. Na ARM, estes ligamentos são separados do lábio pelo contraste e distensão capsular [58, 64, 65, 67]. O LGUM cursa adjacente ao lábio anterior e pode simular lesão labial [14, 64]. Este aspecto foi notado em 11 de 30 exames de RMC de voluntários assintomáticos no estudo de Kaplan et al [64] (1992). As características que ajudam a diferenciar o LGUM de lesão são: a) o lábio mantém sua configuração triangular, tamanho, posição e sinal normais . b) esta imagem pode ser seguida até sua fusão com o subescapular, caso represente o LGUM [14, 64]. c) quando a cápsula articular é distendida por liquido, o LGUM geralmente se afasta do lábio glenoidal [14]. 24 Figura 17: LGUM próximo ao lábio glenoidal anterior. Seta vermelha: Porção anterior do lábio glenoidal. Seta verde: LGUM ao lado do lábio glenoidal. O LGUM não deve ser confundido com fragmento labial destacado. A banda anterior do LGUI adjacente ao lábio ântero-inferior pode simular sua lesão [67, 81]. Figura 18: Banda anterior do LGUI simulando lesão labial. A seta cheia indica o LGUI. A seta pontilhada indica o lábio anterior. A interface entre o lábio e o ligamento pode simular traço de lesão. 25 Figura 19: Banda anterior do LGUI simulando lesão labial. A seta cheia indica o lábio glenoidal anterior. A seta pontilhada indica a banda anterior do LGUI. A interface entre o lábio e o ligamento pode simular traço de lesão. 2.3.4 Redundância da cápsula posterior Uma armadilha comum no diagnóstico de lesão da junção cápsulo-labial posterior ocorre com a rotação externa do braço, que cria redundância da cápsula posterior na junção cápsulo-labial e uma aparente lesão [82]. 26 Figura 20: Redundância da cápsula articular posterior com o braço em rotação externa. Esta redundância pode simular lesão labial posterior. 2.3.5 Prega sinovial posterior Embora seja rara, a prega sinovial posterior pode ser reconhecida em exames de RMC e ARM, e não deve ser confundida com uma lesão labial posterior [83]. 27 Figura 21: Imagem axial de ARM. A seta vermelha demonstra uma prega sinovial posterior. 2.3.6 Pregas sinoviais múltiplas Pregas sinoviais múltiplas no recesso axilar ou em qualquer outro lugar da articulação glenoumeral podem simular corpos livres. Sua multiplicidade e tamanho pequeno e uniforme ajudam a diferenciar de corpos livres. Os corpos livres geralmente são maiores e podem ser visíveis nas radiografias [14, 58]. Figura 22: Imagens axiais de ARM: As setas vermelhas demonstram pregas sinoviais múltiplas. 28 2.3.7 Efeito de ângulo mágico Um aumento artefatual de sinal (ângulo mágico) pode ser visto na porção póstero-superior do lábio glenoidal, especialmente em sequências com TE curto. Não deve ser confundido com lesão labial [81, 84]. Figura 23: Efeito do ângulo mágico. Imagem axial T1 de ARM. A seta verde indica porção ântero-superior do lábio glenoidal com sinal normal. A seta vermelha indica aumento artefatual de sinal na porção póstero-superior do lábio. 2.3.8 Achatamento normal da porção posterior da cabeça umeral: Existe um achatamento normal na porção posterior da cabeça do úmero na junção com a diáfise, que pode simular uma lesão de Hill-Sachs [85]. Esta pseudolesão aparece na mesma posição póstero-lateral que a lesão de Hill-Sachs, mas sua localização é mais inferior. Uma lesão de Hill-Sachs verdadeira é vista acima ou no nível da ponta do processo coracóide [62, 85]. 29 Figura 24: Imagem axial de ARM: A seta vermelha demonstra achatamento normal da porção posterior da cabeça do úmero. 2.3.9 Hiperdistensão capsular e extravasamento extracapsular de contraste A hiperdistensão capsular e o extravasamento extracapsular de contraste podem dificultar a avaliação do tipo de inserção capsular anterior, com tendência a fornecer uma falsa impressão de inserção mais interna, fato que não corresponde à verdade. Figura 25: Extravasamento extracapsular de contraste. O extravasamento pode dificultar a avaliação do tipo de inserção capsular anterior. 30 2.4 Ressonância Magnética Convencional Múltiplos estudos têm demonstrado sensibilidade e especificidade em torno de 90% para a avaliação do manguito rotador, por meio de RMC. Lesões de espessura completa são mais facilmente e melhor detectadas pela RMC do que lesões parciais [5, 7]. Para as lesões parciais dos tendões do manguito rotador, em especial as da superfície articular, a ARM tem-se revelado mais acurada que a RMC [7]. Historicamente, a RM não permitia a avaliação do lábio glenoidal de forma consistente, em parte devido a variações na anatomia do lábio e variabilidade significativa na interpretação das imagens [7]. Trabalhos que aplicam RMC na avaliação de instabilidade glenoumeral têm produzido resultados variados na detecção de lesão labial, com sensibilidade e especificidade oscilando de 44 a 100% e 43 a 100%, respectivamente [13, 16-19, 21-23, 26, 37, 55, 86]. Para a avaliação de lesão do tipo SLAP, a RMC apresenta sensibilidade e especificidade variando de 41 a 100% e 27 a 100% [16, 20, 22, 24, 25, 36, 37, 87]. Para a avaliação do lábio glenoidal, seja no contexto de instabilidade glenoumeral ou de lesão do tipo SLAP, a literatura sugere que a ARM seja mais acurada que a RMC [5]. A revisão da literatura comprova que a maioria dos artigos concernentes ao assunto foi publicada nas décadas de 80 e 90 [13-33], entretanto, como ocorreu desenvolvimento significativo nos aparelhos de RM e Tomografia Computadorizada (TC) desde essa ocasião até agora, a RM apresentou melhoria nos gradientes, sequências e bobinas, como, por exemplo a introdução das bobinas phased array de ombro [34]. Além disso, trabalhos mais recentes têm demonstrado desempenho semelhante da RMC e ARM para a avaliação de lesões SLAP [25, 36] e alta sensibilidade e especificidade da RMC para a detecção de lesões labiais [37]. Magee et al. (2006) [37] pesquisaram, retrospectivamente, exames de RMC realizados em equipamento de 3T e encontraram sensibilidade e especificidade de 90 e 100%, respectivamente para a avaliação de lesões SLAP, e 89 e 100%, respectivamente para a avaliação de lesões labiais anteriores. 31 Seeger et al. (1988) [13] examinaram 27 ombros por meio de RMC, com confirmação cirúrgica de ocorrências de instabilidade nos 27 pacientes. Nesses 27 pacientes com instabilidade, a RMC foi capaz de detectar 22 lesões labiais anteriores, havendo cinco lesões de Bankart descobertas na cirurgia que não foram vistas na RM. Usou-se aparelho de RM de 0,3T, apenas com cortes axiais de três a cinco mm de espessura e cinco a sete mm de intervalo. Os autores concluíram que a RMC é um método não invasivo, valioso para o estudo da instabilidade do ombro, mas propuseram a necessidade de estudos que comparem a eficácia da RMC em relação à ATC, na avaliação da instabilidade glenoumeral. Legan et al. [16] (1991) demonstraram sua experiência na identificação de lesão ou destacamento labial pela RMC, em 88 casos confirmados por artroscopia. A RMC apresentou sensibilidade de 95%, especificidade de 86% e acurácia de 92%, na detecção de lesão labial anterior. Para a porção superior do lábio, a RMC indicou sensibilidade de 75%, especificidade de 99% e acurácia de 95%. Já para a porção posterior ou inferior do lábio glenoidal, a sensibilidade foi de 7,7% e 40%, respectivamente. Garneau et al. [17] (1991) investigaram 15 pacientes com instabilidade do ombro e nove voluntários assintomáticos pela RMC. Todos os pacientes foram submetidos a artroscopia ou cirurgia. Dois radiologistas músculoesqueléticos interpretaram, independentemente, as imagens de RMC, sem o conhecimento da historia clínica ou dos resultados cirúrgicos. Os resultados da artroscopia ou cirurgia foram utilizados como padrão de referência dos pacientes. O observador A alcançou sensibilidade de 44% e especificidade de 66,7%; o observador B acusou sensibilidade de 77,8% e especificidade de 66,7%. Além da sensibilidade e especificidade pobres, houve variabilidade substancial inter e intraobservador. Nesse pequeno estudo, as imagens axiais de RMC mostraram-se relativamente insensíveis e inespecíficas na avaliação de lesões labiais. Foi utilizado aparelho de 1.5T (Signa; GE Medical Systems, Milwaukee), com sequências axiais DP e T2, sem supressão de gordura, com três mm de espessura e um mm de intervalo entre cortes; FOV de 24 cm; matriz de 192x256 e 2 NEX. Não foi especificado o tipo de bobina empregada. Green et al. [19] (1994) conduziram estudo duplo-cego prospectivo, comparando RMC e cirurgia em 33 pacientes com possível instabilidade anterior do ombro. Vinte e oito lesões labiais foram confirmadas por cirurgia. A sensibilidade, especificidade, VPP, VPN e acurácia da RMC foram de 75%, 100%, 100%, 41% e 79%, respectivamente. Aplicando a classificação criada por eles mesmos, de acordo com o tipo e gravidade das lesões, a RMC classificou apenas 21% das lesões com precisão necessária para afetar o planejamento cirúrgico. Os autores concluíram que a RMC não é útil no planejamento cirúrgico, para a maioria dos pacientes com instabilidade anterior do ombro. 32 Monu et al. [20] (1994) analisaram retrospectivamente exames de RMC em oito pacientes com diagnóstico artroscópico confirmado de lesão SLAP. Nesse estudo, as lesões SLAP foram vistas em 100% dos casos com sequência coronal, 88% dos casos com seqüência axial e 50% dos casos com sequência sagital. Utilizou-se aparelho de 1.5T, bobina dedicada e sequências axial gradiente-eco, e coronal e sagital oblíquas ponderadas em T2. Os autores consideraram ser a RMC útil no diagnóstico das lesões SLAP. Gusmer et al. [22] (1996) averiguaram a exatidão da RMC na detecção e localização de lesões labiais. O estudo incluiu 103 pacientes que realizaram RMC e artroscopia. Dois radiologistas avaliaram prospectiva e independentemente as imagens. Na cirurgia foram encontradas: 37 lesões labiais anteriores, 36 lesões SLAP e 19 lesões labiais posteriores. A sensibilidade da RMC foi de 100% para lesões labiais anteriores, 86% para lesões SLAP e 74% para lesões labiais posteriores. A especificidade da RMC foi de 95%, 100% e 95%, respectivamente. De maneira geral, a acurácia foi de 95%. No geral, a concordância interobservador medida pelo coeficiente Kappa foi de 0.86 (p=.0001). Connell et al. [25] (1999) pesquisaram a RMC em 140 pacientes, 104 dos quais apresentando lesão SLAP comprovada por artroscopia. Nesse estudo, a RMC demonstrou sensibilidade de 98% (100/102), especificidade de 89,5% (34/38) e acurácia de 95,7% (134/140). Utilizou-se aparelho de 1.5T, com bobina circular ou phased-array, e sequências axiais e coronais DP, T2 e GRE T2 com FOV de 15 a 16 cm; 3,5 a 4 mm de espessura e matriz de 512x256 a 256x224. Os autores chegaram à conclusão de que a RMC com alta resolução pode diagnosticar as lesões labiais superiores de forma acurada. Torstensen et al. [26] (1999) observaram a acurácia da RMC em 57 pacientes com quadro clínico indefinido, ao invés de escolherem pacientes com suspeitas clínicas definidas, como instabilidade ou síndrome do impacto. Nesse tipo de população, os autores concluíram que a RMC não pareceu ser um método exato para a detecção de patologias do ombro. A sensibilidade, especificidade e acurácia da RMC para a detecção de lesão labial foram de 62, 73 e 58%, respectivamente. Já para lesão do manguito rotador foram de 68, 96 e 49%, respectivamente. Magee et al. [37] (2006) consideraram sensibilidade e especificidade da RMC do ombro em aparelho de 3 Tesla, na detecção de lesão do lábio glenoidal. Da amostra de cem pacientes consecutivos, 67 foram submetidos à artroscopia , adotando-se esta como padrão-ouro. As lesões labiais foram divididas em anteriores, superiores e posteriores. A sensibilidade da RMC para a detecção de lesões SLAP foi de 90% (19/21), a especificidade foi de 100%. Para a detecção de lesão labial anterior, a sensibilidade foi de 89% (16/18) e a especificidade de 100%. Para lesões labiais posteriores, a sensibilidade foi de 86% (6/7) e a especificidade 100%. Os autores afirmaram que a RMC em aparelho de 3 Tesla é bastante sensível e especifica para lesões labiais anteriores, superiores e posteriores, quando comparada à artroscopia. 33 Shahabpour et al. [5] (2008) analisaram a efetividade dos métodos de diagnóstico por imagem no ombro e cotovelo, por meio de uma revisão da literatura, incluindo os bancos de dados Medline e EMBASE. Os autores encontraram sensibilidade e especificidade altas (sensibilidade de 0,86 a 0,92 e especificidade de 0,91 a 0,95) para a detecção de lesões de espessura completa do manguito rotador pela Ressonância Magnética Convencional (RMC). Para a detecção das lesões de espessura parcial pela RMC, as taxas de sensibilidade encontradas foram significativamente mais baixas (0,36 a 0,51) embora a especificidade tenha permanecido alta (0,87 a 0,92). 34 2.5 Artro-Tomografia Computadorizada Desde sua introdução em 1972, a tomografia computadorizada se transformou em uma modalidade de diagnóstico por imagem essencial para uma gama cada vez maior de aplicações clínicas. A tecnologia teve dois grandes pulos de evolução durante a década passada. O primeiro ocorreu no início da década de 1990 com a introdução dos tomógrafos helicoidais. O segundo ocorreu no final da década de 1990, com a introdução dos tomógrafos multidetectores. As maiores vantagens dos tomógrafos multidetectores são o aumento da velocidade de cobertura de um determinado volume e/ou resolução espacial longitudinal [88]. O surgimento da tecnologia de tomografia computadorizada com detectores múltiplos submilimétricos e a conseqüente excelente resolução em três planos aumentou consideravelmente a qualidade dos exames de Artro-Tomografia Computadorizada [8, 41, 88]. Atualmente, as indicações específicas da ATCM não se limitam mais a contraindicações absolutas ou relativas à RMC ou ARM, como dispositivos médicos implantados incompatíveis com a RM, pacientes claustrofóbicos ou obesos, material metálico próximo à articulação, ou falha da RMC ou ARM. Em muitos centros, dá-se preferência à ATCM, devido ao acesso limitado à RM e devido ao seu menor custo [8, 41]. Os parâmetros técnicos devem ser ajustados para otimizar a qualidade de imagem e minimizar a irradiação sofrida pelo paciente. Deve-se lembrar que a articulação do ombro está localizada próxima à área da tireóide, portanto, a dose de radiação deve ser minimizada o máximo possível. O braço em estudo geralmente é colocado ao lado do corpo. Posicionando-se o braço contralateral acima da cabeça, reduz-se a espessura de tecidos ao nível do ombro, aumentando a razão sinal/ruído, e contribuindo para a minimização da radiação [8]. Segundo Lecouvet et al. [8] (2008) para a ATCM, em geral, uma aquisição com o braço aduzido é suficiente para um diagnóstico adequado. Em casos de dúvida residual e em pacientes com suspeita de instabilidade anterior ou impacto pósterosuperior, séries adicionais em rotação interna ou ABER podem ser feitas para se estudar as porções anterior e posterior do lábio glenoidal e a superfície articular do tendão do supraespinal. Os equipamentos atuais permitem a aquisição de cortes submilimétricos (colimação nominal de 0,5 a 0,8 mm), aquisição de dados isotrópicos e excelente resolução em três planos (resolução em plano e longitudinal de 0,4 a 0,5 mm). Kernels de alta resolução são preferidos [8, 41]. Como vantagens em relação à ARM, a ATCM permite [41]: 35 Resolução longitudinal. espacial isotrópica submilimétrica com melhor resolucão Redução do tempo de exame, o que a torna atraente para trauma ou pacientes pediátricos. Em pacientes com instabilidade do ombro, é fácil obter imagens em ABER em curto espaço de tempo. Mesmo pacientes com implantes metálicos podem realizar o exame, sem haver obscurecimento de lesões pela presença de artefatos. Desta forma, a ATCM pode ser utilizada para a avaliação de lesões do manguito rotador, instabilidade glenoumeral, lesões labiais isoladas incluindo lesões SLAP, cartilagem articular e situações pós-operatórias [8, 9, 35, 41, 88]. A ATCM parece mais confiável do que a ARM para a detecção e caracterização de lesões ósseas, tornando-se o método de escolha para o estudo das lesões da cartilagem articular [8, 39]. Estudos que usam ATC na avaliação de lesão labial têm sensibilidade variando de 45 a 100% [18, 24, 27-29, 35, 41]. Deutch et al. [27] (1984) estudaram articulações glenoumerais em 25 cadáveres e 136 pacientes, usando artrotomografia convencional e ATC para a avaliação de instabilidade glenoumeral. A ATC foi feita em 81 pacientes. Dos 44 pacientes com confirmação cirúrgica para lesão labial, a ATC apresentou sensibilidade e acurácia de 96 e 86% respectivamente. A artrotomografia convencional foi efetuada em 55 pacientes. Dos 16 pacientes com confirmação cirúrgica, esta apresentou sensibilidade e acurácia de 86 e 81%, respectivamente. Defeitos de Hill-Sachs foram vistos em 20 de 29 pacientes com anormalidades labiais anteriores, enquanto anormalidades do tendão da cabeça longa do bíceps estavam evidentes em seis exames de ATC. Os autores concluíram que: A) Ambos os métodos podem caracterizar o lábio glenoidal, mas a ATC é mais compreensível e parece ideal para a detecção de defeitos de Hill-Sachs e avaliação do tendão da cabeça longa do bíceps. B) A ATC necessita de menos perícia técnica e menos radiação que a artrotomografia convencional, sendo bem tolerada pelos pacientes com dor. Wilson et al. [28] (1989) conferiram 34 ombros por meio de ATC, com correlação cirúrgica. Em 28 pacientes, havia lesão labial e, em seis, o lábio glenoidal foi considerado normal na cirurgia. A sensibilidade da ATC foi de 100%, havendo apenas um caso falso-positivo, conferindo especificidade de 97%. Foi realizada ATC de duplo contraste, com cortes axiais com espessura variável, a maioria com quatro mm de espessura. 36 Hunter et AL. [29] (1992) exploraram, retrospectivamente, exames de ATC de 17 pacientes com lesão SLAP comprovada por cirurgia. Dessas 17 lesões, os autores conseguiram identificar a lesão SLAP em 16, pela ATC. Foi realizada ATC de duplo contraste, com cortes axiais de 5 mm de espessura e 3 mm de reconstrução. Blum et AL. (1993) [30] realizaram ATM com imagens coronais diretas em 35 pacientes, com posterior correlação cirúrgica. Foram encontradas 18 lesões completas de manguito rotador, quatro lesões parciais, duas lesões SLAP tipo II e uma lesão SLAP tipo IV. Nesse estudo, todas as três lesões SLAP foram detectadas com essa técnica de obtenção de imagens coronais diretas por meio da ATC. Fanelli et al. [35] (2007) observaram a acurácia diagnóstica da ATCM na avaliação da instabilidade glenoumeral, com correlação artroscópica. Cinquenta pacientes, com historia de instabilidade do ombro, fizeram ATCM em aparelho de 64 fileiras de detectores, com introdução intra-articular de ar. Todos os pacientes realizaram artroscopia subseqüentemente. Foram diagnosticadas oito lesões labiais ântero-superiores, 32 lesões ântero-inferiores e duas lesões posteriores. No geral, a sensibilidade e especificidade da ATCM foram de 88 e 100% respectivamente. Quando separadas por regiões, as lesões ântero-superiores foram diagnosticadas com sensibilidade de 66% (4 falsos-negativos), enquanto as lesões ântero-inferiores e posteriores foram diagnosticadas com 94 e 100% de sensibilidade, respectivamente. As lesões labiais também se associaram com 100% de sensibilidade e especificidade, com 20 cápsulas articulares frouxas, 17 lesões de Hill-Sachs, cinco lesões de Bankart e três lesões completas de manguito rotador. Os autores concluíram que a ATCM com ar intra-articular é rápida, reproduzível, bem tolerada e bastante acurada na avaliação de lesões causadoras de instabilidade. 37 2.6 Artro-Ressonância Magnética Para a ARM direta, faz-se punção articular e introdução de solução salina [31, 76] ou de gadolínio diluído numa proporção de 1:200 ou 1:250 [45]. A esta solução, pode-se adicionar anestésico, adrenalina e contraste iodado, à preferência de cada serviço. O contraste iodado serve para se certificar de que a solução está sendo colocada na articulação, quando a punção é efetuada por fluoroscopia ou TC, e também para a realização de ATC [42, 45]. A adrenalina tem como função retardar a reabsorção do contraste, caso haja possibilidade de atraso da entrada no aparelho de RM. Para esta finalidade, pode-se injetar cerca de 0,3 cc de solução 1:1000 de adrenalina para cada 20 ml de solução com contraste [45]. A punção pode ser realizada às cegas, guiada por fluoroscopia, por TC, por RM ou por USG. Podem ser utilizadas as vias anterior, posterior ou via intervalo dos rotadores [89-94]. A introdução intra-articular de gadolínio é considerada segura [95], assim como a combinação de solução com gadolínio e contraste iodado [96]. O procedimento de punção articular geralmente é bem tolerado pelos pacientes [97]. A vantagem da ARM está relacionada principalmente, com a distensão controlada da articulação, o que permite delinear as estruturas intra-articulares e superfícies sinoviais [3, 46]. Os protocolos de sequências utilizadas variam de acordo com cada serviço, mas em geral consistem de sequências T1, com ou sem supressão de gordura nos planos axial, coronal oblíquo e sagital oblíquo, além de sequência sensível a líquido em pelo menos um plano. A sequência sensível a líquido serve para detectar lesões da face bursal do manguito, cistos paralabiais, bursite, cartilagem e alterações musculares e medulares ósseas com padrão de edema [45, 46, 98, 99]. Pode-se também realizar sequência T1, com ou sem supressão de gordura em abdução e rotação externa (ABER). Nessa sequência, o braço a ser estudado é estendido e a palma da mão colocada abaixo da cabeça. Em seguida, num localizador coronal, prescrevem-se cortes paralelos à diáfise umeral. A sequência ABER demonstra bem a porção ântero-inferior do lábio glenoidal e a superfície articular do supraespinal e infraespinal, sendo útil em pacientes com instabilidade glenoumeral , impacto interno e subluxação glenoumeral [45, 98, 100-103]. 38 As imagens na posição ABER aumentam a sensibilidade para a detecção de lesões do lábio glenoidal anterior, quando adicionadas a imagens obtidas com o posicionamento habitual com o braço aduzido [104], especialmente de lesões do tipo Perthes [103, 105]. A sequência ABER isolada apresenta sensibilidade, especificidade e acurácia comparáveis às obtidas com o uso das sequências com posicionamento habitual do braço (braço aduzido) [98]. Cvitanic et al. [104] (1997) demonstraram, em seu trabalho, que, para a detecção de lesões do lábio glenoidal anterior, a ARM foi significantemente mais sensível com a adição da sequencia ABER do que apenas com sequencias com o braço aduzido. Lee et al. [101] (2001) sugeriram que a ARM, com o uso de sequencia ABER, fornece informação adicional em casos de lesão parcial dos tendões do manguito rotador com componente horizontal. Herold et al. [100] (2006) estudaram a acurácia da ARM indireta para lesões do tendão do supraespinal com o braço em posição neutra e em posição ABER. Os autores chegaram à conclusão de que a ARM, com imagens complementares na posição ABER, aumenta a sensibilidade, aumentando a confiança diagnóstica para as lesões parciais do tendão do supraespinal. Os inconvenientes da sequência ABER são a adição de tempo de exame para reposicionamento e realização da sequência e o fato de até 20% dos pacientes não tolerarem o posicionamento em abdução e rotação externa, devido à dor ou à instabilidade [98, 104]. Pode-se aplicar, embora menos frequentemente, a sequência com o braço em adução e rotação interna (ADIR). Nesta sequência, o braço é aduzido e a palma da mão colocada atrás das costas. A sequência ADIR é útil para a detecção de lesões labiais ântero-inferiores, tipo ALPSA [106]. Song et al. [106] (2006) aventaram que imagens de ARM na posição ADIR (adução e rotação interna) permitem alta exatidão no diagnóstico de lesões ALPSA, e complementam a ARM de rotina, quando usada para o diagnóstico de lesões lábio-ligamentares em pacientes com luxação recidivante do ombro. 39 As desvantagens da ARM são: a natureza invasiva do procedimento, o uso de radiação ionizante, o custo mais elevado e questões administrativas como o agendamento de sala de fluoroscopia, TC ou USG e o envolvimento “ativo” do radiologista [4]. As complicações relacionadas com a punção intra-articular são raras [107]. Não há relatos de fibrose sistêmica nefrogênica pós-ARM, embora seja necessária cautela sobre este assunto [45]. Raramente, podem surgir dificuldades diagnósticas devido ao uso da ARM, como, por exemplo, injeção de ar simulando corpo livre ou extravasamento extra-articular [3, 108]. Alguns centros realizam ARM indireta, em vez de direta. A ARM indireta consiste na realização de RM dez a 20 minutos após a injeção endovenosa de gadolínio. Esta técnica não necessita de punção articular, o que aumenta a aceitação do paciente. A maior desvantagem deste método é a falta de distensão articular. Também é mais difícil valorizar as áreas de realce, já que o contraste se difunde para tecidos vascularizados como a BSASD, base do lábio glenoidal e porções vascularizadas ou degeneradas dos tendões [45, 100]. Estudos que usam a ARM na avaliação de instabilidade glenoumeral apresentam sensibilidade e especificidade de 86 a 100% e de 84 a 100%, respectivamente, para a detecção de lesão labial [37, 45, 98, 109-111]. Múltiplos estudos recentes têm confirmado a utilidade da ARM na detecção das lesões SLAP, com sensibilidade variando de 70 a 100%, especificidade de 69 a 99%, e acurácia entre 74 e 94% [36, 37, 87, 99, 109, 111-116]. Para a detecção de lesões dos ligamentos glenoumerais inferior, médio e superior, Chandnani et al. relataram sensibilidade e especificidade de 88 a 100% [117]. Tirman et al. [31] (1993) efetuaram ARM, com injeção de solução salina em 65 pacientes posteriormente submetidos a cirurgia. Nesse estudo a sensibilidade e a especificidade da ARM para a detecção de lesão labial anterior foi de 89 e 98% , respectivamente. Os autores não encontraram associação estatisticamente significante entre o tipo de inserção capsular e a instabilidade glenoumeral. Palmer et al. [32] (1994) realizaram ARM em 48 pacientes com diagnóstico de lesão labial comprovada por artroscopia ou cirurgia aberta em 32 deles. A ARM apresentou sensibilidade de 91% e especificidade de 93%, na detecção destas lesões. Em vinte dentre vinte e três ombros, considerados clinicamente instáveis, uma anormalidade labial envolveu a origem do LGUI, levando os autores a sugerir papel importante desse ligamento na estabilidade anterior da articulação. Além disso, o LGUS foi identificado em 98% dos casos, o LGUM em 88% e o LGUI em 98% dos casos, comprovando que a ARM pode mostrar muito bem esses ligamentos. 40 Palmer et al. [33] (1995) estudaram 121 pacientes por meio de ARM, com correlação artroscópica. A ARM apresentou sensibilidade e especificidade de 92% no diagnóstico de lesão labial. A presença de lesão labial-ligamentar inferior possibilitou prever instabilidade anterior com 76% de sensibilidade e 98% de especificidade. O tipo de inserção capsular não se mostrou diferente em pacientes com ou sem instabilidade do ombro. Além disso, a frouxidão capsular, observada por meio da artroscopia em seis pacientes, não pôde ser caracterizada pela ARM. Bencardino et al. [113] (2000) conduziram estudo prospectivo para avaliar a acurácia da ARM no diagnostico das lesões SLAP. Um total de 54 pacientes realizaram ARM e artroscopia, tendo 19 lesões SLAP sido diagnosticadas nesse grupo. A ARM apontou sensibilidade de 89% (17/19), especificidade de 91% (30/33) e acurácia de 90% (47/52). Com relação à graduação das lesões SLAP pela ARM houve concordância com a classificação cirúrgica em 76% (13/17). Os autores concluíram que a ARM é uma técnica útil e eficaz no diagnóstico das lesões SLAP. Jee et al. [114] (2001) conferiram um total de 80 pacientes que realizaram ARM e artroscopia. Julgaram lesões SLAP tipo I como negativas para lesão, já que na maioria das vezes são consideradas irrelevantes do ponto de vista clínico. Resultados: a sensibilidade, a especificidade e a acurácia para cada observador foram respectivamente: de 92%, 84%, e 86%; 92%, 82%, e 85%; e 84%, 69%, e 74%. Waldt et al. [110] (2005) avaliaram retrospectivamente, a acurácia da ARM na classificação das lesões lábio-ligamentares ântero-inferiores, utilizando a artroscopia como padrão-ouro. Foram obtidas ARMs em 205 pacientes, incluindo um grupo de estudo de 104 pacientes com lesão lábio-ligamentar comprovada na artroscopia. O grupo controle consistiu de 101 pacientes sem lesão lábio-ligamentar pela artroscopia. Na artroscopia, foram diagnosticadas 44 lesões de Bankart, 22 lesões ALPSA, 12 lesões do tipo Perthes e três lesões GLAD. Vinte e três lesões eram inclassificáveis pela artroscopia. Com relação à lesão lábio-ligamentar, a ARM revelou sensibilidade, especificidade e acurácia de 88%, 91% e 89% respectivamente. Para a classificação correta das lesões, a ARM denotou sensibilidade, especificidade e acurácia de 77%, 91% e 84% respectivamente. Lesões de Bankart, ALPSA e Perthes foram classificadas corretamente em 80%, 77% e 50% respectivamente. Todas as três lesões GLAD foram corretamente classificadas e 83% das lesões inclassificáveis foram corretamente descritas como tais por meio da ARM. Os autores destacaram que a ARM constitui um método preciso na classificação das lesões lábio-ligamentares ântero-inferiores agudas ou crônicas, embora a correta interpretação das lesões Perthes permaneça difícil. Rowan et al. [118] (2007) analisaram, retrospectivamente, exames de ARM de 332 pacientes com menos de 40 anos de idade. Em 243 pacientes com suspeita clínica de lesão labial, 39% apresentaram lesão labial pela ARM. Já em 89 pacientes sem suspeita clínica de lesão labial, apenas 19% mostraram uma lesão labial pela ARM e 4,5% apresentaram uma lesão de espessura completa do manguito rotador. 41 2.7 Comparação entre RMC, ATC e ARM A revisão da literatura comprova que a maioria dos artigos relacionados com o assunto foi publicada nas décadas de 80 e 90 [13-33]. Além disso, de modo geral, a comparação entre os métodos só pode ser feita de forma indireta, já que poucos estudos comparam dois dos três métodos entre sí. Consta-nos não existir nenhum estudo que compare os três métodos simultaneamente. Estudos comparando diretamente a ARM com a RMC demonstraram um aumento significativo de sensibilidade com pequena ou nenhuma redução da especificidade [3, 115]. Poucos estudos compararam diretamente a ARM com a ATC, no diagnóstico de lesões lábio-ligamentares. Os resultados sugerem que, à exceção das alterações ósseas, a ATC é menos sensível que a ARM [46, 119]. Entretanto, a ATC com uso de equipamentos multidetectores ainda não foi totalmente estudada quanto ao ombro. Os resultados iniciais com ATCM assinalam que, devido à sua capacidade multiplanar isotrópica, a ATCM pode ter desempenho equivalente ao da ARM [46]. A ARM é menos acurada que a ATC ou TC na detecção do Bankart ósseo [120]. 2.7.1 Comparação entre RMC e ATC Kieft et al. (1988) [86] estudaram 13 pacientes com luxação anterior recorrente por intermédio de RMC e Artro-TC de duplo contraste, utilizando a artrotomia como padrão-ouro. Apesar de não exibirem dados estatísticos, os autores relataram que a RM pode substituir a ATC de duplo contraste como exame pré-operatório nesses pacientes. Para a ATC foram utilizados cortes com 3 mm de espessura. Para a RM foi utilizado aparelho de 0,5T. 42 Yoneda et AL., (1998) [24] averiguaram RMC e ATC em: 36 ombros de pacientes com lesão labial superior confirmada por artroscopia; e 40 ombros com lábio superior normal. O objetivo era detectar algum sinal especifico de lesão. A RMC foi feita com aparelho de 0.2T (Hitachi MRP 20),bobina circular e 7 mm de espessura de corte. A ATC foi realizada com aparelho sequencial (Yokogawa 8600 ou Shimadzu SCT4500TE), com cortes axiais de 5 mm de espessura e 2 mm de espaço entre cortes. A presença de área linear de sinal com intensidade média a alta entre o lábio superior e a margem da cavidade glenoidal em imagem coronal oblíqua, e ar entrando entre o lábio superior e a porção superior da cavidade glenoidal foram definidos como critérios específicos de lesão na RMC e ATC, respectivamente. Com base nesses dados, a RMC apresentou sensibilidade de 41%, especificidade de 86% e acurácia de 63%, enquanto a ATC assinalou sensibilidade de 45%, especificidade de 93% e acurácia de 73%. Os autores propuseram ser ambos os métodos específicos para lesão labial superior, mas pouco sensíveis e acurados. Esse estudo foi retrospectivo. 2.7.2 Comparação entre RMC e ARM Flannigan et al. [15] (1990) efetuaram RMC e ARM em 23 pacientes com suspeita de lesão labial ou do manguito rotador. Dos nove pacientes com lesão labial, a ARM detectou as nove lesões enquanto a RMC detectou apenas três. Dos 14 pacientes com lesão de manguito, a ARM detectou 11 e perdeu três lesões parciais da face articular. A RMC detectou nove lesões e perdeu cinco. Os autores ponderaram que a ARM aumenta a acurácia da RM na avaliação do lábio glenoidal e tendões do manguito rotador. Smith et al. [75] (1996), focados na detecção de recesso sublabial, estudaram 26 ombros de cadáveres por meio de RMC e ARM e detectaram recesso em 50% dos casos com sequência T2, com supressão de gordura sem contraste e em 73% dos casos com sequências T2 ou T1, com supressão de gordura, com contraste intra-articular. 43 Kreitner et al. [74] (1998) examinaram 17 ombros de cadáveres (média de 76 anos), com imagens DP e T2, sem supressão de gordura, sem contraste no plano axial, DP e T2, com supressão de gordura, sem contraste no plano coronal, e T1, com supressão de gordura e contraste intra-articular no plano coronal, com 4 mm de espessura, em aparelho de 1,5T. Encontraram um recesso sublabial em 71% dos ombros. Além disso, acharam: diferença estatisticamente significativa na detecção de recesso sublabial, quando comparada com as imagens de RM, sem e com contraste intra-articular, sensibilidade, especificidade, acurácia e valor preditivo negativo de: 33%, 100%, 53%, 38% e 100%, para as imagens sem contraste; e 100%, 100%, 100%, 100% e 100%, para as imagens coronais com contraste intraarticular. Os autores concluíram: A) O lábio superior mostra grande variabilidade. B) Na RM, parece existir uma sobreposição entre um recesso fisiológico e uma lesão SLAP tipo II. C) A ARM oferece uma melhor visualização do complexo labial-bicipital do que a RMC. Reuss et al. [36] (2006) avaliaram a acurácia da RMC e ARM no diagnóstico das lesões do tipo SLAP num ambiente comunitário. Os relatórios de RM e ARM de 83 casos de lesão SLAP confirmada por cirurgia foram verificados. A amostra foi de 37 RMC e 46 ARM, realizadas em 14 serviços diferentes, com aparelhos que variaram de 0,5 a 1,5T. Para avaliar se há diferença entre os radiologistas da comunidade e radiologistas especializados em músculoesquelético, dois radiologistas treinados em músculoesquelético reavaliaram, de maneira cega, todos os exames. Os radiologistas da comunidade obtiveram acurácia de 51% para a identificação das lesões do tipo SLAP, apresentando maior sensibilidade estatisticamente na leitura de ARM do que na leitura de RMC. Para os dois radiologistas especializados em músculoesquelético, a sensibilidade foi de 60 e 69% e especificidade de 71 e 76,5%. A acurácia foi de 62 e 69%. Não houve diferença estatisticamente significante entre a leitura de RMC e ARM. Na comparação entre os radiologistas comunitários e os radiologistas treinados, houve diferença estatisticamente significante na sensibilidade para detecção das lesões do tipo SLAP para um dos radiologistas especializados, mas não houve diferença da acurácia para ambos. Os autores concluíram que, num ambiente comunitário, a acurácia da RM não é tão boa, como os dados de literatura têm demonstrado. Segundo os autores, tal fato pode decorrer da qualidade dos aparelhos e imagens, e da leitura dos exames por radiologistas não especializados, já que muitos estudos prévios são estudos bem desenhados, realizados em uma única instituição, com magnetos de alto campo magnético, protocolos consistentes e técnicos e radiologistas bem treinados. Magee et al. [37] (2006) compararam RMC e ARM em equipamento de 3T, de cem pacientes submetidos à artroscopia como padrão-ouro. Nesse estudo, a ARM foi estatisticamente melhor que a RMC para a detecção de lesões parciais da face articular do supraespinal, lesões labiais anteriores e lesões SLAP. 44 Dinauer et al. [115] (2007) confrontaram, prospectivamente, a acurácia da RMC e da ARMI em ombros não submetidos a exercício pré-exame, numa amostra de 104 pacientes submetidos à artroscopia. Desses 104 pacientes, 80 apresentavam lesão do tipo SLAP. Dois radiologistas experientes avaliaram independentemente cada grupo de imagens, sem conhecimento dos resultados da artroscopia. Para a detecção de lesão do tipo SLAP, a sensibilidade foi de 84 e 91% para ARMI e 66 e 85% para RMC, com aumento estatisticamente significante da sensibilidade apenas para um leitor. Entretanto, a ARMI foi estatisticamente menos específica (58 e 71%) que a RMC (70 e 83%). Com relação à acurácia não houve diferença estatisticamente significante entre os dois métodos. Os autores acharam que a ARMI, sem exercício pré-exame foi mais sensível que a RMC na detecção de lesões do tipo SLAP, porém menos especifica. Magee et al. [121] (2009) cotejaram RMC e ARM em equipamento de 3T de 150 pacientes submetidos à artroscopia. Foi observada sensibilidade estatisticamente maior na detecção de lesões parciais da face articular do manguito rotador, lesões labiais anteriores e lesões SLAP. Baseados nessas ocorrências, os autores realizam ARM, quando há suspeita das lesões acima citadas. Todos os pacientes do estudo fizeram RMC e ARM na sequência. 2.7.3 Comparação entre ATC e ARM Bresler et al. [116] (1997) conduziram estudo em ombros de cadáveres, com o objetivo de determinar se a ATC e a ARM eram capazes de mostrar as variações anatômicas normais do lábio glenoidal e detectar anormalidades labiais superiores. A amostra consistiu de 23 ombros cadavéricos. A ATC foi realizada em aparelho helicoidal, com cortes de 3 mm de espessura, executados nos planos axial e coronal. A ARM foi feita com aparelho de 1,5T, com bobina de superfície. Foram encontradas cinco lesões do tipo SLAP, durante a dissecção das peças anatômicas. Dentre essas cinco lesões, a ATC foi capaz de identificar três e a ARM quatro. Com a ATC, houve um caso falso-positivo e com a ARM, três casos falsos-positivos. Apenas uma lesão do tipo SLAP foi identificada, utilizando-se apenas o plano axial em ambos os métodos, sendo necessárias as imagens no plano coronal para a identificação das lesões. Devido ao pequeno número de casos de lesão do tipo SLAP, não puderam ser obtidos dados estatísticos. Os autores concluíram que as lesões do tipo SLAP podem ser diagnosticadas com a ATC e a ARM. 45 Takase e Yamamoto [122] (2005) estudaram 30 pacientes com instabilidade anterior traumática do ombro por meio de Artrografia, Artro-TC, Artro-RM e TC3D. Entre seis lesões intra-articulares estudadas (avaliação dos ligamentos glenoumerais, local de inserção da porção anterior da cápsula articular, lesão de HillSachs, lesão de Bankart, Bankart ósseo e banda anterior do LGUI), os autores encontraram tendência de correlação entre a) destacamento marcado da cápsula articular e b) dificuldade de visualização do LGUI e aumento do numero de luxações prévias. Waldt et al. [38] (2006) pesquisaram a variabilidade anatômica do lábio superior e compararam o valor da ARM e da ATCM, no diagnóstico das variantes do complexo labial-bicipital. Para a ARM, foi utilizado aparelho de 1,5T, com bobina phased array dedicada. Para a ATCM, foi utilizado aparelho com 16 fileiras de detectores e 0,75 mm de colimação. Foram estudados 43 ombros de cadáveres, submetidos a exames de ARM e, posteriormente, a ATCM. Dois radiologistas avaliaram a ARM e ATCM, e os resultados foram comparados com os achados macroscópicos. Os critérios utilizados para o diagnóstico de recesso sublabial foram: extensão medial e superior de contraste entre o lábio superior e a margem da cavidade glenoidal. Já que a extensão do recesso sublabial ao terço posterior do lábio foi recentemente descrita como uma ocorrência normal, o achado de contraste que se estendia ao terço posterior do lábio glenoidal não foi utilizado como critério para lesão SLAP. A dissecção anatômica revelou a presença de recesso sublabial em 74% (32/43) dos casos. Na ARM e ATCM, a presença ou ausência de recesso sublabial foi concordante com a avaliação macroscópica em 79 e 84% dos casos respectivamente. A extensão ântero-posterior do recesso sublabial foi determinada de forma precisa com ARM e ATCM em 59 e 81% dos casos, respectivamente. Não houve diferença estatisticamente significante entre a ARM e a ATCM com respeito à sensibilidade e especificidade na detecção de recesso sublabial. Entretanto, com a ATCM, a sensibilidade para a avaliação da extensão ântero-posterior do recesso sublabial foi significativamente melhor (p<0.05) que com a ARM. Os autores concluíram que tanto a ARM quanto a ATCM, são efetivas na detecção de recesso sublabial. Shahabpour et al. [5] (2008) efetuaram uma pesquisa de literatura em vários bancos de dados, incluíndo Medline® e EMBASE. O objetivo do estudo foi avaliar evidências sobre a efetividade e relação custo-efetividade de novos métodos de diagnóstico por imagem. Os autores relataram que tanto a ARM como a ATCM são métodos efetivos para a detecção de lesão labial no ombro. Entretanto, a ARM mostra vantagem sobre a ATCM por permitir visualização direta das estruturas afetadas, com melhor avaliação da extensão e localização, e detecção de lesões capsuloligamentares associadas.