a obesidade - Luzimar Teixeira

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Texto de apoio ao curso de Especialização
Atividade Física Adaptada e Saúde
Prof. Dr. Luzimar Teixeira
A OBESIDADE
Doença dispendiosa, de alto risco, crónica e reincidente; esta doença afecta milhões de pessoas em todo
o mundo, inclusive crianças. Embora não seja nova, ela assume agora proporções epidémicas e está a
aumentar exageradamente. Esta tendência é, sem dúvida, alarmante em virtude das doenças associadas
à obesidade.
A obesidade é...
Excesso de gordura corpórea.
Doença crónica multifactorial e que requer tratamento médico.
Consequência do excesso de ingestão de gordura proveniente dos alimentos.
Doença epidémica.
É condição associada, sem dúvida a outras doenças e à diminuição da qualidade de vida.
Significativa grande responsabilidade pelos custos do sistema de saúde.
O que é ser Obeso
Ser obeso é ter uma doença crónica ocasionada por um excesso de gordura corpórea. A
obesidade é identificada quando há um desequilíbrio energético, ou seja, a energia ingerida
(a quantidade de calorias que nós ingerimos) é maior do que a energia dispendida (número
de calorias usadas pelo nosso metabolismo, durante actividade física e na formação de
calor) por um longo período de tempo. De acordo com as tabelas da Metropolitan Insurance
Life Company (Nova York, EUA), uma pessoa é considerada obesa quando seu peso for no
mínimo 20% maior do que o considerado ideal para sua altura.
Será que eu sou obeso?
Durante muito tempo, a medicina procurou um padrão de cálculo que pudesse ser utilizado
em todo o mundo e que permitisse identificar, da melhor forma possível, o ponto a partir do
qual uma pessoa pode ser considerada com sobrepeso e obesa. Existe uma série de
medidas de peso, porém o Índice da Massa Corporal (IMC), atendendo à sua facilidade de
interpretação, é hoje aceite como padrão de medida internacional. A sua forma de cálculo é
a divisão do peso (em kg) da pessoa pela sua altura, elevada ao quadrado (em m²).
CATEGORIA
IMC
Abaixo do Peso
Abaixo de 20
Peso Normal
20 - 24,9
Sobrepeso
25,0 - 29,9
Obeso
30,0 - 39,9
Obeso Mórbido
40 e acima
Distribuição Regional de Gordura
Embora o total de gordura no nosso corpo seja importante, é mais relevante ainda, saber
onde ela está localizada. A gordura depositada na região abdominal (andróide) acarreta
mais riscos à saúde do que se ela estiver concentrada em outra parte do corpo, como região
dos quadris e coxas (ginóide). Uma medida que é comum ser usada na prática médica para
avaliar os risco de saúde é a Relação Cintura:Quadril.
Mulheres com cintura: quadril > 0,80 = Risco
Homens com cintura: quadril > 1,00 = Risco
Muitos especialistas utilizam, conjuntamente, os métodos IMC e cintura:quadril, para avaliar
com mais segurança os risco de saúde do paciente. Cabe destacar, que outros autores têm
aceite que a simples circunferência abdominal maior que 95 cm é representativa de risco
elevado de doenças.
Outras formas de medir o peso
Medir a gordura corpórea serve para avaliar o risco de doenças relacionadas a ela e, para
os pacientes obesos, determinar se é necessário iniciar um tratamento, qual será e por
quanto tempo.
Dentre as medidas destacam-se:
Técnicas laboratoriais para medição da gordura corpórea (como a Tomografia
Comptorizada)
Técnicas não-laboratoriais para medição da gordura corpórea (medições das pregas
cutâneas e teste de bio-impedância)
Causas da Obesidade
A sociedade constantemente discrimina a pessoa obesa, como se ela fosse a única
responsável por seu estado. Mas isso não condiz com a realidade. Na verdade, o obeso
nada mais é do que vítima de uma série de factores orgânicos, ambientais e psicossociais
que têm implicações fortes para o controle da doença, caracterizada pelo excesso de
gordura corpórea. Considerar isoladamente um ou outro factor não é o ideal, quando o
objectivo é perder peso e manter-se dentro desse controle. Sendo assim, precisamos
analisar todo o contexto, agindo sobre cada um dos pontos que interferem no sucesso dos
programas de reeducação alimentar e de mudança de comportamento.
Factores Orgânicos
Muito se fala que algumas pessoas têm maior ou menor predisposição a ganhar peso,
independente de factores ambientais e psicossociais. Mas será que isso é verdade? A
genética exerce tal influência sobre as pessoas, quando falamos de obesidade? Sim, em
grande parte. Estudos demonstram que filhos de pais obesos apresentam uma maior
predisposição de se tornarem obesos. Pesquisadores descobriram que a herança genética
da gordura intra-abdominal excessiva pode ser de 60% ou mais, embora ainda não se saiba
o nível exacto do risco de se tornar obeso, se os pais sofrem desse problema.
A obesidade e os tipos de genes
Para compreender melhor essa relação, vale a pena lembrar que os seres humanos
possuem 23 pares de cromossomas e que em cada um deles há milhões de genes, que
determinam as características herdadas pelos pais. Excepto os cromossomas que
estabelecem o sexo, cada pessoa terá duas cópias de cada cromossoma, onde se conclui
que terá também duas cópias de cada gene. Quando falamos de obesidade, duas
categorias estão envolvidas na modulação genética, os genes necessários e os de
susceptibilidade. Os primeiros referem-se aos genes que causam a obesidade,
representados por um número bastante restrito de síndromes genéticas raras, como as
síndromes de Bardet-Biedl, de Prader-Willi e de Lawrence-Moon, que incluem essa doença
em características que são sua marca registada. Já os de susceptibilidade, aumentam o
risco dela ocorrer. Obesidade é uma doença poligenética, ou seja, causada por genes que
trabalham juntos, cada um exercendo um pequeno efeito na quantidade e distribuição da
gordura corpórea.
Factores relativos ao sexo
O armazenamento da gordura corpórea está relacionado ao sexo. Nas mulheres, acredita-se
que a tendência esteja associada à sua capacidade de ter filhos. Após a puberdade, as
mulheres abrem seu apetite para gorduras, muito mais do que os homens, sem contar que
quaisquer calorias em excesso ingeridas pelas mulheres tenham muito mais hipóteses de
serem utilizadas para o aumento da gordura corpórea. Para os homens, essa relação não
ocorre da mesma maneira, pois o excesso de calorias têm mais probalidades de serem
canalizadas para a produção de proteínas.
Factores psicossociais da obesidade
De uma maneira igualmente severa, as pressões psicossociais atingem o obeso com a
mesma ou maior intensidade do que as doenças associadas. O estigma do obeso se
alimentar excessivamente em resposta a sentimentos negativos, como frustração, tristeza
ou insegurança, está a mudar; pelo menos um pouco. Em muitos países industrializados
ocidentais a obesidade é ainda um estado físico que carrega um estigma de preconceito.
As pessoas obesas são geralmente consideradas não atraentes fisicamente e possuidoras
de uma série de falhas de carácter. Recentemente, a psicopatologia nos indivíduos obesos
tem mudado. Já existe forte tendência por parte da classe médica de entender a obesidade
como sendo consequência - e não a causa - do preconceito e da discriminação a que as
pessoas com sobrepeso estão sujeitas.
A psicopatologia da obesidade
A teoria psicogénica da obesidade sustentou, por bom período, que a obesidade resultava
de um distúrbio emocional na qual a ingestão de alimento, particularmente a ingestão
excessiva de carboidratos e gordura, aliviava a ansiedade e a depressão. Assim, o médico
transferia a responsabilidade do fracasso no tratamento ao paciente, já que a origem da
doença residia em perturbações emocionais, o que, subentendia-se, de responsabilidade do
paciente.
Problemas velhos conhecidos





Não iniciar tratamento
Abandono do tratamento
Fracasso na perda de peso
Depressão
Recuperação de peso após o tratamento
Mudando os paradigmas: novas explicações dos problemas da obesidade surgiram, como
explicações biológicas convincentes sobre a etiologia da obesidade; avaliações
sistemáticas da natureza e extensão dos problemas psicológicos das pessoas obesas;
apreciação de até que grau a maioria dos problemas emocionais são causados pelo
preconceito e pela discriminação experimentada pelos obesos.
Distúrbios da alimentação
Bulimia
A Bulimia é um distúrbio alimentar caracterizado por episódios de ataques de fome seguidos
imediatamente por vómitos auto-induzidos, depressão e pensamentos auto-depreciativos.
Ela ocorre mais frequentemente em pessoas jovens entre 14 e 30 anos. A Bulimia ocorre em
pessoas obesas e de peso normal e sua prevalência está a aumentar, porém, apenas 5%
dos obesos são bolímicos.
Distúrbio do Comer Compulsivo
O distúrbio do comer compulsivo (Binge Eating Disorder - BED) é uma condição psicológica
reconhecida, e que ocorre com maior frequência em obesos. O indivíduo alimenta-se
descontroladamente, consome grande quantidade de comida por um período curto de
tempo, bastante maior do que o necessário para a maioria das pessoas, e é acompanhada
de uma sensação de falta de controle. O ataque de fome (compulsão) incide em
aproximadamente 30% das pessoas obesas que procuram auxílio médico. A principal
característica é a ocorrência de episódios de compulsão descontrolada, predominantemente,
no final da tarde ou durante a noite. Observou-se que as pessoas obesas que sofrem do
distúrbio do comer compulsivo têm maiores mudanças de humor e mais psicopatologias do
que os obesos que não sofrem deste distúrbio. Ainda as pessoas obesas que sofrem do
distúrbio do comer compulsivo têm também maior probabilidade de abandonar tratamentos
comportamentais de controle de peso.
Sociedade: difícil convivência
Entre tanta discriminação e preconceito, é muito difícil manter uma auto-imagem positiva,
sem depressão e outras perturbações. Estudos realizados mostram que os indivíduos
obesos podem parecer "alegres e despreocupados no convívio social, mas sofrem com
sentimentos de inferioridade, são dependentes, passivos e têm profunda necessidade de
serem amados". O desprezo ao obeso e a preocupação com a magreza começam na
infância. A maioria de nós sabe que o obeso é alvo de preconceito e discriminação, mas
poucos percebem até onde isto chega. A discriminação contra pessoas obesas é tão
generalizada quanto o preconceito. Estatísticas mostraram que as pessoas obesas
apresentam menor probabilidade de completar o mesmo número de anos escolares, de
serem aceitas em escolas de prestígio e ingressar em profissões desejáveis. O problema
não termina com a Universidade. As pessoas obesas enfrentam discriminação ao procurar
emprego e no ambiente de trabalho, onde encontram dificuldade de colocação no mercado
de trabalho. Estudos apontaram que empregadores consideram indivíduos com peso
excessivo menos desejáveis para contratação do que indivíduos com peso normal, mesmo
quando acreditam que os dois grupos possuem as mesmas habilidades.
Conceitos de Biologia em relação às gorduras
O papel das células
O corpo humano é formado por mais de 75 trilhões de células, unidades microscópicas, mas
que contêm estruturas complexas que desempenham funções vitais. Para isso, elas
precisam de energia, que provém das calorias absorvidas na alimentação. Dentro desse rol
gigantesco de células, algumas são especializadas, desenvolvendo actividades específicas,
como as células de absorção e as células gordurosas (adipócitos), imprescindíveis para a
digestão e o armazenamento da gordura, respectivamente.
Células de absorção
Uma vez terminada a digestão dos alimentos, estes são absorvidos pelo organismo. No
caso das gorduras, esse processo é feito no interior do intestino delgado, que apresenta
protuberâncias minúsculas, chamadas de vilosidades, que participam da absorção dos
nutrientes. Há também as microvilosidades, que são protuberâncias muito diminutas que
contribuem para o transporte dos nutrientes, como as gorduras, da luz do intestino para a
corrente sanguínea.
Células gordurosas
São chamadas de células gordurosas ou adipócitos, aquelas que armazenam gorduras
dentro do corpo e as liberam quando for necessário. A energia é armazenada na forma de
triglicerideos, que são moléculas de lipídios compostas basicamente por gordura.
As células gordurosas armazenam energia na forma de triglicerídeos
Distribuição anatómica da gordura
Em pessoas com peso normal, a maior parte do tecido adiposo está localizado sob a pele,
actuando como protector contra a perda de calor, o que é chamada de gordura subcutânea.
Os indivíduos com sobrepeso ou obesos, além da gordura subcutânea, carregam tecido
adiposo na região abdominal, o que representa uma importante reserva de energia,
chamada de tecido adiposo visceral, mas que contribui para muitas das doenças associadas
à obesidade.
Gordura subcutânea + tecido adiposo visceral = gordura abdominal
Maçãs ou peras
Quando o tecido adiposo se acumula predominantemente na região abdominal, há um
predomínio da gordura visceral e diz-se que a pessoa apresenta obesidade do tipo andróide
ou tipo "maçã". Se a tendência é acumular gordura na região dos quadris e coxas, a
obesidade é classificada como ginóide ou tipo "pera". (Ver Distribuição Regional de Gordura
em "O que é ser obeso")
Observe-se no espelho com atenção e identifique a qual grupo a que o(a) senhor(a)
pertence. Cabe lembrar que as pessoas com o perfil em formato de maçã têm mais
facilidade de desenvolver outras doenças, como problemas cardiovasculares, pois a gordura
visceral, ao contrário da subcutânea, dirige-se directamente para o fígado antes de circular
até os músculos, podendo causar resistência à insulina, levando à hiperinsulinémia, que são
níveis elevados de insulina, aumentando assim o risco de diabetes mellitus tipo II,
hipertensão e doenças cardiovasculares.
Balanço Energético
Entende-se por ganho de peso, o acumulo de gordura corpórea, ou seja, quando uma
pessoa ingere uma quantidade maior de calorias do que a que ela vai gastar em sua
actividade física diária, dando origem a um equilíbrio energético positivo. A obesidade
ocorre exactamente quando a ingestão da energia excedeu o seu gasto por um longo
período de tempo.
Podemos definir então, três fases do ganho de peso:
Etapa ideal ? quando a ingestão de energia equivale ao gasto, mantendo o peso inalterado.
Fase dinâmica ? a ingestão de energia é maior que o gasto, levando ao aumento do peso,
em um processo que pode durar anos, se a pessoa continuamente tenta perder peso.
Obesidade estática ? ocorre quando a ingestão de energia e o seu gasto se igualam, mas
num nível mais alto do que antes. Ao tentar perder o excesso de peso, a pessoa depara-se
com um problema que antes não havia, que é a diminuição do índice metabólico (isto é, do
gasto de energia do corpo), visto que o organismo tenta manter seu novo peso.
Taxa Metabólica ou Termogénese
O total de energia ingerida por uma pessoa é composta de todos os alimentos e dos líquidos
com valor calórico que ela consome. Já a energia gasta pode ser dividida em três tópicos:
Índice Metabólico Basal (IMB) - que é a energia gasta para a manutenção da vida
Termogénese da dieta - aumento no IMB necessário para a digestão
Actividade física
A actividade física para uma pessoa que é relativamente sedentária pode contribuir com 20
a 30% do total diário de dispêndio de energia, enquanto que para aquela que é muito ativa
fisicamente, essa contribuição gira em torno de 40 a 50%.
Factores Ambientais
Excluindo a propensão genética, alguns factores ambientais podem frustrar as tentativas de
manter um programa de controle do peso. A modernização é um deles, com toda a gama de
recursos tecnológicos que, se por um lado possibilitam mais conforto, acabam por reforçar o
sedentarismo. Por outro lado, a grande avalanche de produtos saborosos e fáceis de
confeccionar, bastante acessíveis e económicos, que bombardeados a todo instante na
sociedade, seja em revistas, televisão ou out-doors, numa simulação tão perfeita de suas
qualidades, que é quase possível sentir o cheiro e o gosto apenas em ver as imagens.
Outros aspectos típicos da vida nas grandes metrópoles exercem considerável influência
nesse processo rumo à obesidade. É certo que a população urbana é mais alta e mais
pesada, totalizando um IMC maior do que o encontrado na população rural, que pelas
próprias características profissionais, movimenta-se e exercita-se diariamente. Seja qual for
a opção, perder peso exige uma real mudança de comportamento e nos hábitos alimentares,
para reverter um quadro que acaba por se tornar estável e que só contribui para o aumento
do problema.
Obesidade no Mundo
O mundo vive hoje a epidemia da obesidade, uma doença que cresce em proporções
alarmantes. Apesar dos poucos dados epidemiológicos disponíveis, a maioria dos países
desenvolvidos já identificou o problema e estão, juntos, dimensionando a eclosão desta
doença.
Estimativa da prevalência geral do sobrepeso e da obesidade em vários países
Nos Estados Unidos, a prevalência da obesidade dobrou nos últimos 20 anos. Hoje, 30%
da população tem sobrepeso, 15% são obesos e cerca de 3% obesos com muito risco. Na
Europa, apesar de números mais "leves", a tendência apresenta-se a mesma. Ela só perde
para o fumo, como propulsora de doenças e mortes prematuras. A obesidade faz mortes.
Estima-se que, nos Estados Unidos, a obesidade e demais doenças associadas matam 300
mil pessoas/ano.
Mortes/ano nos Estados Unidos (em milhares) que poderiam ser evitadas com prevenção e/ou tratamento.
Obesidade em homens e mulheres
Destacamos aqui alguns países, que hoje reúnem dados sobre obesidade, nos quais
podemos observar que os homens compreendem a maioria dos casos de obesos e obesos
de risco (IMC acima de 30).
A Organização Mundial da Saúde reúne informações económicas, psicossociais e de saúde
que reafirmam a problemática: caminhamos para uma epidemia assustadora no século XXI!
Segundo ela, quase 10% dos orçamentos de saúde em países ocidentais estão hoje
relacionados à obesidade.
A transição alimentar
Os padrões nutricionais sofrem alterações a cada século, resultando em mudanças na dieta
dos indivíduos, correlacionando também modificações económicas, sociais, demográficas e
relacionadas à saúde. O século XX foi marcado por uma dieta rica em gorduras
(principalmente as de origem animal), açúcar e alimentos refinados, e reduzida em
carbohidratos complexos e fibras. Segundo pesquisadores, o predomínio desta dieta tem
contribuído para o aumento da obesidade, em conjunto ao declínio progressivo da atividade
física dos indivíduos.
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