Trabalho 677 NURSING ACTIVITIES SCORE (NAS): EVIDÊNCIAS NA LITERATURA DE 2002 A 2009. TÁGORA DO LAGO SANTOS*, LÍDYA TOLSTENKO NOGUEIRA**, KATIA GRILLO PADILHA*** RESUMO Introdução: O termo carga de trabalho vem se incorporando aos estudos de dimensionamento de pessoal de enfermagem no sentido de estimar a demanda de trabalho requerida da equipe. Para a aferição da carga de trabalho utilizam-se escores que indiquem o número de horas dedicadas pela equipe de enfermagem a cada paciente. Considerando-se as peculiaridades e os custos envolvidos nas UTIs, pesquisadores brasileiros buscaram em modelos internacionais (escores e escalas de gravidade) possibilidades de testálos na realidade brasileira para estimar o tempo despendido no cuidado ao paciente (1). Na tentativa de adequar o quantitativo de enfermagem Miranda et al, (2003)(2) criaram o Nursing Activities Score (NAS), instrumento que surgiu após adaptações do Therapeutic Intervention Scoring System (TISS – 28), modelo anterior que mostrava falhas estruturais por não contemplar, na medida total da demanda de trabalho, atividades relacionadas ao cuidado indireto do paciente, como tarefas organizacionais; as pausas no trabalho e outras atividades não-incluídas nas suas composições. O escore NAS expressa a porcentagem de tempo real gasto por um profissional de enfermagem na assistência direta ao doente crítico na UTI durante 24 horas, independente da gravidade deste. O intrumento foi traduzido e validado para o português por Queijo e Padilha (2009) para ser utilizado no contexto brasileiro e demonstrou índices satisfatórios de confiabilidade, de validade de critério e de constructo (3). Na literatura vêm-se aumentando lentamente o número de estudos que utilizam o NAS, a tímida produção pode ser justificada por ser um instrumento novo, validado e adaptado recentemente para a realidade brasileira (4). Objetivos: O estudo teve como objetivo analisar a literatura publicada entre os anos de 2002 e 2009, sob a forma de revisão integrativa, a respeito da utilização do NAS, da sua aplicabilidade e das contribuições que o instrumento possa oferecer. Metodologia: Estudo de natureza qualitativa-descritiva, desenvolvido por meio de uma revisão integrativa da literatura. Partiu-se da questão: quais as evidências teórico-metodológicas da literatura produzida sobre o NAS no período de 2002 a 2009? Utilizou-se as bases de dados do CAPES, LILACS, BDENF, Pub Med, Scielo, Medline e IBICT para identificação e localização de estudos utilizando-se como palavras-chave “Nursing Activities Score”, “NAS” e “carga de trabalho de enfermagem”. Excluíram-se os trabalhos que não tinham o NAS como um instrumento da pesquisa e aqueles que se repetiam nas diferentes bases de dados. Selecionaram-se 17 artigos, cinco dissertações e três teses. Resultados: Dentre os 17 artigos selecionados, um trata exclusivamente da tradução e validação do instrumento NAS para a língua portuguesa por Queijo (2009). Os demais na sua totalidade tratam de estudos quantitativos, descritivo-exploratórios, que utilizam formulários como forma de coleta de informações para o NAS. Observou-se predominância de publicações nos periódicos da Revista da Escola de Enfermagem da USP (23,5%), seguidas da Acta Paulista, Revista Latino-americana de Enfermagem, Texto e Contexto, Intensive and Critical Care Nursing e Enfermagem Intensiva com 11,7% cada, as demais contribuíram com pelo menos uma produção sobre o tema. Após o ano de 2006, constatou-se crescimento das publicações, provavelmente, devido à maior familiarização dos pesquisadores com o instrumento validado em português em 2002, o que significa que foi necessário um *Enfermeira. Mestranda no Programa de Mestrado em Ciências e Saúde da Universidade Federal do Piauí. Teresina, Piauí. Email: [email protected]. Telefone: 86 88093523 ** Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Professora Associada da Universidade Federal do Piauí. Teresina, Piauí. Email: [email protected] *** Enfermeira. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de 2803 Enfermagem da USP. E-mail: [email protected] Página 1 Trabalho 677 intervalo de tempo para o conhecimento e divulgação do NAS no meio acadêmico e nas instituições hospitalares. A maioria dos estudos brasileiros foi desenvolvida na região Sudeste, com o estado de São Paulo se sobressaindo como campo de praticamente todas as produções, excetuando-se uma do Paraná. Percebeu-se que praticamente todos os artigos apresentavam como objetivo a verificação da média NAS em suas amostras, excetuando-se dois, um trata da tradução e validação do instrumento e o outro trata de uma proposta para aplicação do NAS(3,5). Quanto à proposta de aferição, encontrou-se uma média NAS maior que 50% em 58,8% dos artigos, inclusive naqueles que separavam suas amostras por grupos, como idosos e não idosos (NAS 66,4% e 66,3% respectivamente) ou em análise do NAS prospectiva e retrospectiva (59,8% e 52,7% respectivamente) (5,6). Isso significa que nesses serviços a demanda de trabalho não é completamente suprida caso haja dois paciente para um profissional de enfermagem, pois cada paciente necessita de mais de 50% do tempo de um profissional de enfermagem, nas 24 horas. Entre as publicações, nota-se uma preocupação evidente em correlacionar o NAS com escores de gravidade como o Acute Physiology and Chronic Health Evalution (APACHE II) e o Simplified Acute Physiology Score (SAPS II). Estudo brasileiro encontrou correlação positiva entre NAS e APACHE II (R=0.82), e os pacientes que obtiveram valores maiores que a média NAS (>51%) na amostra utilizada tiveram maior mortalidade(7). Gonçalves e Padilha(8) encontraram relação estatisticamente significativa entre a média da carga de trabalho NAS, nas primeiras 24 horas, com a condição de saída da UTI (p=0,02) e o tempo de permanência na unidade. Ou seja, os pacientes que evoluíram a óbito e permaneceram mais de seis dias na UTI necessitaram de maior tempo da assistência de enfermagem. Não houve associação direta entre a gravidade (SAPS II), o sexo, a procedência, o tipo de internação e de tratamento com a demanda de trabalho, e que por isso outros fatores preditivos de carga de trabalho devem ser investigados, como por exemplo, o grau de dependência do paciente. Sendo assim, a dependência poderia ser avaliada pelo nível de confusão e agitação psicomotora do paciente crítico, pois uma vez presentes, determinam acréscimo do tempo de cuidado de enfermagem. Pacientes inconscientes, imóveis, e com monitorização tecnológica de todas as atividades fisiológicas podem demandar menor tempo da equipe de enfermagem que pacientes ansiosos, assustados, estressados com o ambiente e que podem comunicar dor e desconforto. Enfatizando as controvérsias na literatura sobre a idade como preditor isolado para prognóstico na UTI pesquisa recente questionou até que ponto os investimentos terapêuticos variam em relação à idade e investigaram se as necessidades dos cuidados de enfermagem discerniam entre idosos e não idosos, levando em conta as intervenções terapêuticas. Encontraram então, médias NAS de 66,5%, mediana 70,7% e consideraram os resultados elevados, visto que o dimensionamento nesta situação representa uma relação funcionário/paciente maior que 1:2, que é o preconizado pelas Normas e critérios para aberturas de UTIs pelo Ministério da Saúde(5). Não houve diferença estatisticamente significativa entre idosos (NAS de 66,4%) e não idosos (NAS de 66,3%), e o volume de recursos terapêuticos disponíveis nos dois grupos não se distanciaram independente da idade, embora a amostra tenha apresentado elevada mortalidade associadas à idade avançada e estados mórbidos preexistentes. A discussão é instigada a continuar, devese pensar nas reais indicações de internação de idosos nas UTIs não somente pelo elevado custo financeiro, físico e emocional para o idoso e sua família, mas também devido aspectos éticos cruciais após a admissão na UTI, como quando interromper investimentos diante dos princípios da beneficência, não maleficência, justiça e qualidade de vida(5). Pesquisa espanhola levantou vantagens da utilização do NAS como o desenho orientado para o trabalho de enfermagem independentemente da patologia que justifique a admissão do paciente na UTI, porém os autores afirmam que se deve ter cautela ao afirmar que o instrumento avalia adequadamente o pessoal de enfermagem, sendo necessário estudos mais amplos para reafirmar o utilitário(9). Com o aumento da aplicação do NAS, tornou-se necessário uniformizar a aplicação prática do instrumento pelos enfermeiros. Gonçalves e Padilha(4) propuseram a adequação de alguns itens conforme a realidade das unidades, caso não correspondessem ao tempo proposto no índice. Para os itens 1. Monitorização e controles; 4. Procedimentos de higiene; 7. Suporte e cuidado aos familiares e pacientes e 8. Tarefas administrativas e gerenciais, ficou orientado transformar em categorias 2804 Trabalho 677 a quantidade de horas, com critérios que determinam o tempo “normal”, “além do normal” e “muito além do normal” para realização das respectivas atividades, operacionalização só possível com auxílio dos próprios enfermeiros das unidades(4).Estudo pioneiro no Brasil apostou na adaptação do NAS à forma de aplicativo informatizado, com o objetivo de facilitar e tornar rápida e eficiente a coleta e o processamento dos dados obtidos. Acredita-se que a incorporação de uma tecnologia no planejamento da assistência redirecionará os cuidados, bem como as ações específicas de enfermagem(10). Conclusão: Os artigos científicos que tratam sobre o NAS têm crescido numericamente com maior importância a partir de 2006, porém a utilização e as publicações ainda estão restritas ao centro-sul do país. Nota-se uma grande abertura da temática em periódicos diferentes da enfermagem o que facilita a disseminação do conhecimento sobre o instrumento. As pesquisas voltaram-se a diversas formas de exploração, desde a verificação da média NAS, objetivo intrínseco, a correlação com índices de gravidade, aplicação na clientela idosa bem como prospectiva e retrospectiva. Com o amadurecimento da aplicação, surgiu a necessidade de adaptações à realidade brasileira e também a criação de um instrumento informatizado recente, que tem por propósito viabilizar o uso do NAS como ferramenta prática no gerenciamento em enfermagem. Frente ao exposto, sugere-se que sejam realizados estudos com o NAS utilizando amostras maiores, podendo ser representativas da realidade nacional, consolidando o instrumento como ferramenta de gerenciamento para a enfermagem. Descritores: Carga de trabalho. Unidade de Terapia Intensiva. Recursos Humanos de Enfermagem. Área temática: Gerenciamento dos serviços de saúde e enfermagem. Eixo Temático: A pesquisa de enfermagem no processo de cuidar e educar: interdisciplinaridade, transculturalidade e difusão do conhecimento. REFERÊNCIAS 1. Magalhães AMM, Riboldi CO, Dall’Agnol CM. Planejamento de Recursos Humanos em Enfermagem: desafios para as lideranças. Rev Bras de Enferm. 2009; 62 (4); 608-12. 2. Miranda DR, Nap R, De Rijk A, Schaufeli W, Iapichino G. Nursing Activities Score. Crit, Care Med. 2003; 31(2): 374-382. 3. Queijo AF, Padilha GK. Nursing Activities Score (NAS): Adaptação transcultural e validação para a língua portuguesa. Rev Esc de Enferm USP. 2009; 43 (Esp): 1018-25. 4. Gonçalves LA, Padilha KG. Nursing Activities Score (NAS): Proposta para Aplicação Prática em Unidade de Terapia Intensiva. Intensive and Critical Care Nursing. 2007; 23: 355-361. 5. Ciampone JT, Gonçalves LA, Maia FOM, Padilha KG. Necessidades de cuidados de enfermagem e intervenções terapêuticas em Unidades de Terapia Intensiva: estudo comparativo entre pacientes idosos e não idosos. Acta Paul Enferm. 2006; 19 (1); 28-35. 6. Ducci AJ, Padilha KG. Nursing activities score: estudo comparative da aplicação retrospectiva e prospectiva em unidade de terapia intensiva. Acta Paul Enferm. 2008; 21 (4); 581-7. 2805 Trabalho 677 7. Nogueira LS, Santos MR, Mataloun SE, Moock M. Nursing Activities Score: Comparação com o Índice APACHE II e a Mortalidade em Pacientes admitidos em Unidade de Terapia Intensiva. Rev. Bras. Terapia Intensiva. 2007; 19 (3): 327-330. 8. Gonçalves LA, Padilha KG. Fatores associados à carga de trabalho de enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva. Rev. Esc. de Enf. USP. 2007; 41(4): 645-52. 9. Bernat Adell A, Abizanda Campos R, Cubedo Rey M et al. Nursing Activities Score (NAS). Our experience with a nursing load calculation system based on times. Enferm Intensiva. 2005; 16; 164163. 10. Castro NMC, Dell`Acqua MCQ, Corrente JE, Zornoff CM, Arantes LF. Aplicativo Informatizado com o Nursing Activities Score: Instrumento para gerenciamento da assistência em Unidade de Terapia Intensiva. Texto e Contexto Enfermagem. 2009 Jul-Set;18 (3): 577-85. 2806 Trabalho 677 2807 Trabalho 677 2808 Trabalho 677 2809 Trabalho 677 2810