De olho na migração

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FLEXÍVEIS
De olho na migração
Indústria de alimentos deve se precaver de interações perigosas
entre embalagens flexíveis e produtos acondicionados
Em alta,
a venda de alimentos
em embalagens flexíveis exige cuidados
que vão além do atendimento a requisitos de produção, logística e marketing.
Ante a preocupação cada vez maior com
a segurança no consumo, convém às
empresas usuárias, ainda, certificar-se
de que os invólucros impedem contaminações. O risco não se limita ao eventual
ingresso de agentes externos nocivos em
exemplares mal selados. Procedimentos
inadequados na conversão (fabricação
das embalagens) também podem comprometer o conteúdo.
O descuido na confecção das flexíveis pode levar à ocorrência de migrações. Componentes dos adesivos, vernizes e tintas de impressão aplicados
nas embalagens podem interagir com
o alimento acondicionado, prejudicando suas propriedades organolépticas ou
causando danos à saúde do consumidor.
“As substâncias migráveis compreendem
monômeros, oligômeros, aceleradores, inibidores, aditivos e compostos de
decomposição ou degradação”, enumera
Aline Lemos, pesquisadora do Centro
de Tecnologia de Embalagem (Cetea) do
Instituto de Tecnologia de Alimentos do
Estado de São Paulo (Ital-SP).
Entre os estopins mais citados para
as migrações está a cura (secagem)
inadequada após laminações – em que
filmes de diferentes funções são combinados. Monômeros residuais dos adesivos utilizados no processo podem formar aminas, substâncias alegadamente
cancerígenas.
Carlos Motta, gerente de desenvolvimento e aplicação de adesivos industriais da Henkel, referência em adesivos para laminação, explica que quanto
maior a área de contato do alimento
30 | Maio 2016
Materiais e processos
inadequados podem
ocasionar contaminações
de produtos com aminas
com a parede do laminado mal curado,
maior é a probabilidade de contaminação. “Alimentos secos implicam menor
risco”, segundo o especialista, “porque
não estimulam o elemento migrante a
sair da embalagem”. Produtos com água
e óleo, no entanto, são mais suscetíveis
ao contato com as aminas. “Os líquidos
podem penetrar na estrutura da embalagem e ‘buscar’ o contaminante.”
O envase a quente e a esteri-
Carlos Motta,
da Henkel:
“Empresa usuária
não deve
se precipitar
e ‘queimar’
etapa de cura”
isenção de risco em muitas aplicações
era alcançada após seis a oito dias de
cura. “Hoje, muitos adesivos garantem
segurança em um a três dias”, diz.
Comparados aos tradicionais adesivos base solvente, as opções solventless
garantiriam ganhos além do tempo de
secagem abreviado e da consequente
segurança maior. “O equipamento de
laminação é mais acessível, consome
menos energia, exige menor gramatura de adesivo e é mais eficiente. Esse
melhor custo-benefício tende a se
refletir nos preços das embalagens”, diz
Motta. “Ademais, no solventless não há
liberação de solventes, o que é positivo
em termos ocupacionais e ambientais.”
A aposta dos fabricantes no solventless tem dado resultado. Entre 55%
e 60% dos fabricantes de flexíveis laminadas atendidos pela COIM já utilizam
esse gênero de adesivo. Diferentemente
do que ocorria até alguns anos atrás,
quando somente grandes convertedores utilizavam a tecnologia, companhias
médias mais e mais engrossam a clientela. “Laminadoras sem solvente ou combinadas são cada vez mais adquiridas
e o uso do adesivo sem solvente tem
aumentado”, comenta Gandolphi. “Mas
máquinas com solvente mais antigas
e em bom estado de conservação são
ainda muito utilizadas. Como funcionam, os convertedores as mantêm”.
Mas o que as indústrias alimentícias podem fazer para minimizar o
risco de migrações em seus produtos?
Motta sugere às empresas verificar se
foto: Guilherme Gongra
lização em autoclave (retort) também
representariam maior risco para interações entre alimentos e aminas. “Ácidos
e essências são outros fatores agressivos, capazes de facilitar contaminações”,
acrescenta Carlos Gandolphi, gerente de
pesquisa e desenvolvimento da COIM,
grande player do mercado de adesivos para laminação. “Nessas aplicações
mais exigentes é imprescindível o uso de
adesivos de desempenho superior, com
maior resistência térmica e química.
Mas o uso de materiais e insumos adequados de nada vale sem boas práticas
de conversão”, adverte o executivo.
No que tange a processos, a garantia
de uma boa laminação depende basicamente da obediência a parâmetros para
preparo do adesivo, dosagem na laminação e cura pelo tempo recomendado –
que varia de acordo com as condições de
temperatura e umidade. Cumpre alertar
que o fato de a embalagem parecer estar
pronta, ou seja, com as propriedades
mecânicas desejadas após a laminação,
não significa que ela esteja devidamente
curada, isto é, com todos os monômeros
polimerizados – e sem risco de migrar.
“Por isso é importante que as empresas
usuárias não se precipitem e usem os
materiais somente após a espera necessária”, ressalta Carlos Motta.
Para facilitar a vida de convertedores e end-users, ano após ano surgem
adesivos para laminação que demandam
tempo de cura cada vez menor. Os avanços se concentram principalmente na
categoria dos adesivos livres de solventes
(solventless). “Os mais recentes lançamentos permitem que a cura mecânica
e a cura química ocorram quase simultaneamente e em períodos cada vez
menores”, afirma Motta. Gandolphi, por
sua vez, lembra que dez anos atrás a
os fornecedores utilizam estações de
laminação com manutenção em dia, se
empregam adesivos formulados segundo as orientações da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, claro,
se cumprem com os tempos recomendados de cura das embalagens.
Certificações obtidas pelos convertedores e relativas à segurança para os
alimentos, como a FSSC 22.000, são
avais apreciáveis. Mas é aconselhável
realizar avaliações e ensaios para verificar o atendimento aos requisitos da
legislação de materiais para contato com
alimentos – trabalho que é um dos carros-chefes do Cetea, conforme explica
Aline Lemos. Os testes simulam as circunstâncias reais de uso da embalagem.
“As condições dos ensaios são padronizadas e definidas em regulamentos
específicos”, diz a pesquisadora.
Gandolphi acrescenta que COIM
disponibiliza visitas e apresentações
técnicas a convertedores para a determinação de faixas de uso e de parametrizações que diminuam expressivamente as
chances de contaminação. “O trabalho
integrado tende a reduzir bastante o surgimento de problemas”, pondera. Motta,
por sua vez, considera fundamental avisar que as embalagens flexíveis laminadas não são perigosas. “É perfeitamente
possível trabalhar com total segurança. Com boas práticas, o risco é zero”,
diz. “Se o uso de embalagens modernas
fosse algo arriscado, ainda estaríamos
como no passado, embrulhando tudo
em papel manilha.”
Carlos Gandolphi,
da COIM:
“O trabalho
integrado tende a
reduzir a aparição
de problemas”
Maio 2016 |
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