1 ESCLEROSE MÚLTIPLA: CONSIDERAÇÕES GERAIS E ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA MULTIPLE SCLEROSIS: GENERAL CONSIDERATION AND PHISITERAPEUTIC APPROACH 1 2 3 Danielle Marques Barreto , Fayanny Mayara Ferreira Rodrigues , Patrícia Monteiro Souza , Rafael Leite 4 5 Denadai , Geane Alves Dutra 1.Acadêmica da Universidade Vale do Rio Doce-UNIVALE- E-mail: [email protected] 2.Acadêmica da Universidade Vale do Rio Doce-UNIVALE- E-mail: [email protected] 3.Acadêmica da Universidade Vale do Rio Doce-UNIVALE- E-mail: [email protected] 4.Acadêmico da Universidade Vale do Rio Doce-UNIVALE- E-mail: [email protected] 5.Fisioterapeuta Esp. Profª. da Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE- E-mail: [email protected] Resumo A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença crônica e progressiva, desmielinizante, que afeta o Sistema Nervoso Central (SNC) levando a múltiplos sinais e sintomas neurológicos de forma complexa e muitas vezes incapacitante, acometendo principalmente adultos jovens. Por ser capaz de comprometer o desempenho profissional e social de seus portadores, representa grande impacto na qualidade de vida diária, tornando-se de grande relevância o conhecimento da doença, seus comprometimentos e abordagens terapêuticas. Dentro desse contexto, destaca-se o papel da Fisioterapia, que intervindo de forma consciente, objetiva e precoce, pode proporcionar aos portadores da EM uma melhora quantitativa e qualitativa de suas habilidades funcionais. Sendo assim, o presente trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica cujo objetivo foi revisar a EM, seus tipos e sintomas, bem como ressaltar algumas das possíveis intervenções fisioterapêuticas na busca por uma melhor qualidade de vida para seus portadores. Pôde-se observar então, que trata-se de uma doença complexa, variável e imprevisível, que apresenta quase todos os comprometimentos existentes nas doenças neurológicas, sendo a manutenção da independência, autonomia e qualidade de vida a principal meta da equipe interdisciplinar necessária para uma abordagem satisfatória na EM, onde a Fisioterapia se destaca como um instrumento de grande valor na busca pela restauração ou maximização da função através de estratégias variadas de treinamento para prevenir ou diminuir a velocidade do declínio funcional, garantindo maior e melhor qualidade e perspectiva de vida dos portadores da EM. Palavras-chave: Esclerose Múltipla, Comprometimentos, Reabilitação, Atuação Fisioterapêutica. Abstract The multiple sclerosis is a chronic and progressive disease, demyelinating, that afects the Central Nervous System taking the multiple signs and neurologic symptoms in a complex and many times disabling way, attacking mainly young adults. For being capable of compromising the professional and social performance of the ones that have it, it represents a great impact in the daily quality of life, making important the knowledge of the disease, its implications and terapeutic approach. In this context we highlight the role of phisioterapy, that intervening in a conscientious, objective and precocious way can provide to the ones that have multiple sclerosis a qualitative and quantitative improvement of their funcional ability.This way, the present work is a bibliographic review whose objective was to review the multiple sclerosis, its types and symptoms, as well as, to stand out some of the possible phisioterapeutic interventions, in the search for a better quality of life for its carriers. Its possible to notice that it is a complex, variable and unpredictable disease, that apresents almost all implications that exits in neurologic illnesses, being the maintanane of independency, autonomy and quality of life the main aim of the interdisciplinary team, necessary for a satisfatory approach in the multiple sclerosis, where the phisioterapy stands out as an instrument of great value in the search for the restoration or maximization of the function through different strategies of training to prevent or decrease the velocity of funcional decline, assuring bigger and better quality and perspective of life for the carriers of MS. Key-words: Multiple Sclerosis, Implications, Rehabilitation, Phisioterapeutic Performance. 2 O comprometimento funcional presente em 1.0 Introdução A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença crônica e progressiva de etiologia desconhecida, mas supõe-se que seja resultado de uma predisposição genética relacionada a algum fator ambiental, também com presumida origem autoimune e caracterizada por inflamação multifocal de linfócitos T, que atinge o Sistema Nervoso Central (SNC), principalmente a substância branca, através de lesões desmielinizantes. Tem como característica a evolução por surtos, nos quais os sintomas ocorrem de acordo com a localização da lesão. (TOMAZ et al, 2005; O´CONNOR, 2002; FERREIRA et al, 2004) Acomete pacientes jovens, principalmente na faixa etária dos 20 aos 40 anos (O´CONNOR, 2002). Em mulheres, a incidência é 1,4 a 3,1 vezes mais alta que em homens, sendo a população branca de maior risco em relação às populações asiática e negra. (MILLER, 2002; GRZESIUK, 2006) A taxa de prevalência da EM no norte dos Estados Unidos está acima de 150/100.000 habitantes, enquanto que no sul está em torno de 50/100.000 habitantes. Aproximadamente 300.000 pessoas nos Estados Unidos tem EM, e a estimativa mundial é de 1 milhão de pessoas portadoras da doença. (FRANKEL, 2004) O Brasil é considerado um país de baixa prevalência da doença, porém há regiões que demonstram média prevalência, como São Paulo, Belo Horizonte e Botucatu. Especula-se que essa diferença entre as diversas regiões do Brasil decorra em parte de nossa diversidade genética e de nosso índice de miscigenação. (GRZESIUK, 2006) indivíduos com EM é traduzido pela dificuldade para a marcha, alteração de equilíbrio, fraqueza muscular e fadiga, que tipicamente resultam de degeneração axonal e bloqueio de condução, característicos da doença. Esses e outros sintomas reduzem a habilidade individual para desempenho nas Atividades de Vida Diária (AVD´s). (DEBOLT e MCCUBBIN, 2004; WHITE e DRESSENDORFER, 2004) Vários autores ressaltam a atuação da Fisioterapia em pacientes com EM com objetivos que vão desde a garantia da qualidade dos padrões de movimento, passando pelo incentivo ao aprendizado das habilidades motoras indo até o suporte informacional favorecendo um ajuste psicológico entre paciente e familiares através da compreensão dos sintomas da doença. (HEESEN, et al, 2006; MCAULEY, et al, 2006; TERRÉBOLIART e ORIENT-LÓPEZ, 2007) A intervenção fisioterapêutica precoce é fundamental, ainda que nem sempre seja possível. A prevenção da incapacidade é um dos princípios a seguir (JIMÉNEZ e CUERDA, 2007), sendo relevante a participação dos indivíduos portadores da doença em atividades que envolvam a prática de exercícios regulares, levando a um estilo de vida ativo e melhorando a capacidade funcional, de forma a minimizar as perdas da capacidade física decorrentes da doença. (FURTADO e TAVARES, 2007) Por ser a EM uma patologia crônica e progressiva que acomete adultos jovens, tornandoos incapacitados ou comprometendo seu desempenho profissional e social, representando grande impacto na qualidade de vida diária, tornase de grande relevância o conhecimento da doença, seus comprometimentos e abordagens 3 terapêuticas. Dentro deste contexto, destaca-se o necessariamente melhora a função, uma vez que a papel da fisioterapia, que deve intervir de forma nova mielina pode ser fisiologicamente anormal, consciente, objetiva e precoce, proporcionando tratando-se de um processo limitado. As lesões aos portadores da EM uma melhora quantitativa e tendem a se curar por processos cicatriciais, qualitativa de suas habilidades funcionais. produzindo regiões endurecidas ou placas, das Sendo assim, este trabalho tem como quais a doença recebe o nome. (GARCÍA e objetivo revisar a EM, seus tipos e sintomas, bem SALAVERRI, 2006; MILLER, 2002; CARR e como SHEPHERD, 2008) ressaltar algumas das possíveis A natureza estrutural das lesões na EM intervenções fisioterapêuticas na busca por uma resulta melhor qualidade de vida para seus portadores. em grande variedade de danos neurológicos, sendo a patologia complexa e seus 2.0 Metodologia efeitos Trata-se de uma revisão de literatura, compreendendo artigos com imprevisíveis, os surtos e ambos com o desenvolvimento das incapacidades. Em geral os pesquisados na biblioteca da Universidade Vale do sintomas são inicialmente intermitentes, mas com Rio Doce - UNIVALE, no setor de periódicos e em o acúmulo e progressão da incapacidade os sites eletrônicos como Scielo, Bireme, Pubmed, desempenhos funcionais são cada vez mais Medline, Lilacs, Google Acadêmico. As palavras- comprometidos, chave Múltipla, maiores cuidados com o passar do tempo. Atuação (TEJEDA e PÉREZ, 2004) foram Comprometimentos, Esclerose Reabilitação, e relacionados e livros utilizadas científicos invariáveis surgindo a necessidade de Fisioterapêutica. A busca para os artigos e livros Como a desmielinização pode acontecer foi limitada entre os anos de 2001 a 2009, nos em qualquer região do SNC, as manifestações idiomas português, inglês e espanhol. clínicas da EM são variadas e determinadas pela localização das lesões, sensitivos incluindo como a paresia; 3.0 Desenvolvimento distúrbios 3.1. Manifestações e sintomas parestesia; espasticidade; fadiga; dor músculo-esquelético; A bainha de mielina representa importante distúrbios da marcha; ataxia; tremor; distúrbios papel na condução nervosa, além de proteger o visuais, disartria, déficits cognitivos, distúrbios axônio. vesicais O comprometimento dessa estrutura e intestinais, além da instabilidade (desmielinização) torna a transmissão neural mais emocional. (NEVES et al, 2007; TEJEDA e lenta, ou até mesmo pode levar a um bloqueio da PÉREZ, 2004) condução do impulso nervoso, resultando na Devido à grande variedade de sinais e aparição de alguns sinais e sintomas. Após a sintomas na EM, várias escalas podem ser desmielinização dá-se lugar a remielinização, que utilizadas está relacionada dos indivíduos dos acometidos, onde se destacam o Índice de Barthel, responsáveis pela a Medida de Independência Funcional (MIF), a formação e manutenção das bainhas de mielina Escala de Katz, além de escalas especificas como nos axônios no SNC. A remielinização não a Escala do Estado de Incapacidade (EEI), a que a avaliação preservação oligodendrócitos com para são 4 Escala de a clínicos: a) Remitente-recorrente (RR): início da de doença caracterizada por recuperação completa Severidade da Fadiga e a Expanded Disability ou sequelas e déficits residuais passam a se Status ao acumular pela repetição das crises. b) Progressiva instrumento mais utilizado em ensaios clínicos e na Primária (PP): progressão da doença desde o prática clínica como medida de incapacidade início, os sintomas se desenvolvem gradualmente neurológica na EM. (NOGUEIRA et al, 2008; LINO e não há presença de surtos, as melhorias et al, 2008; CUNHA, SOARES e NASCIMENTO, ocorrem 2007; MORALES et al, 2007; MENDES et al, 2004) Secundária (PS): caracterizada inicialmente por A EDSS trata-se de um instrumento de exacerbações-remissões, seguida pela progressão avaliação funcional usado para a classificação do de comprometimento e remissões mínimas. d) desempenho dos pacientes em uma escala com Progressiva Exacerbante (PE): doença progressiva valores de 0 a 10 pontos e com incrementos de 0.5 desde o início, porém sem exacerbações agudas pontos, baseado na avaliação dos sistemas claras, que podem ou não ter alguma recuperação funcionais, ou Qualidade Determinação da Scale Vida Funcional (DEFU), (EDSS), que destacando a a para Escala corresponde capacidade de em menos remissão, sendo tempo. esta c) menos Progressiva freqüente. deambulação do paciente, principalmente a de (GARCÍA e SALAVERRI, 2006; O´SULLIVAN, caminhar certas distâncias e a necessidade de 2004) dispositivos de auxílio, seja com apoio unilateral, Em estudo realizado por Ferreira et al bilateral ou cadeira de rodas. (LIMA et al, 2008; (2004), com 118 casos de EM, demonstrou-se que MORALES et al, 2007) a apresentação clínica mais frequente foi a Por ser uma doença degenerativa, com quadro Remitente-recorrente com 83 casos (70,4%), relativamente progressivo, a evolução da EM pode seguido pela forma Progressiva Secundária (PS), resultar em déficits neurológicos graves, com com 28 pacientes (23,7%) e 7 casos da forma significativas limitações. (O´SULLIVAN, 2004) Progressiva Primária (PP) (5,9%). mau Também em estudo realizado por Grzesiuk prognóstico relacionado à EM se dá pelo curso (2006), com 20 casos da doença, a forma evolutiva evolutivo da doença, e a morte do paciente predominante foi a Remitente/Recorrente (RR) geralmente se dá por complicações secundárias com 15 casos (75%), seguida pela Progressiva decorrentes da imobilidade, da broncopneumonia Secundária (PS) com 4 casos (20%) e pela após aspiração ou insuficiência respiratória. Outras Progressiva Primária (PP) com 1 caso (5%). De acordo com Miller (2002), o causas incluem insuficiência cardíaca, afecções malignas, úlceras de decúbitos, infecções e suicídio. 3.3 Fisioterapia Independente do tipo clínico da EM os pacientes geralmente são encaminhados para a 3.2 Tipos da doença fisioterapia quando já perderam sua capacidade de Apesar da existência de vários termos na realizar atividades funcionais, ou parte dela, em literatura usados para classificar a EM, de forma um ponto em que a doença já provocou danos geral a doença subdivide-se nos diferentes tipos 5 irreversíveis ao SNC. Embora a reabilitação não CUERDA, 2007; TERRÉ-BOLIART e ORIENT- elimine o dano neurológico, pode atuar no LÓPEZ, 2007) tratamento de sintomas específicos favorecendo a Ainda de acordo com os autores acima, funcionalidade. A terapia deve ser adaptada conti- também nuamente, de acordo com os déficits do paciente, orientação aos cuidadores dos indivíduos com EM. e a combinação de técnicas pode ser efetiva, Estes devem ser orientados em relação ao manejo devendo o correto do paciente quando for impossível para ele 2005; a realização de determinadas atividades, porém então tratamento. ser experimentada (FURTADO e para TAVARES, FRANKEL, 2004; THOMPSON, 2001) constitui um objetivo essencial a sempre estimulando a manutenção da máxima O tratamento deverá ser individualizado e autonomia e independência possível. integrado por uma equipe multidisciplinar, com objetivos diferenciados dada a evolução de cada paciente. (TERRÉ-BOLIART e ORIENT-LÓPEZ, 2007) Frente à variedade de comprometimentos associados à EM, vários são também os objetivos do fisioterapeuta em relação ao indivíduo portador da doença. De acordo com Carr e Shepherd (2008), os objetivos gerais da Fisioterapia como parte de uma equipe multiprofissional devem ser otimizar o desempenho nas atividades e habilidades de vida diária; maximizar a habilidade funcional, prevenir incapacidades e desvantagens e melhorar a qualidade de vida do indivíduo. Outros objetivos fundamentais e mais específicos da Fisioterapia no tratamento dos indivíduos com EM são colocados por outros autores, sendo estes: preservar a integridade músculo mobilidade esquelética, articular; manter melhorar e/ou a ganhar estabilidade postural; minimizar alterações do tônus muscular; melhorar a fadiga e prevenir déficits secundários, como as contraturas articulares causadas pela espasticidade. Além disso, faz-se importante também estimular ao máximo o retorno social e trabalhista e desenvolver estratégias de movimento, melhorando a qualidade de vida e os padrões de movimento em geral. (JIMÉNEZ e 3.3.1 Fadiga A fadiga é um sintoma subjetivo e pode ser definida como sensação de cansaço físico e/ou mental profundo, com perda de energia. Pode se manifestar a qualquer hora do dia, incluindo ao repouso e estar presente em todas as formas clínicas. A fatigabilidade ou fadiga motora é uma sensação geral de exaustão após alguns minutos de atividade física, que desaparece após curto período de repouso. (SCHWID et al, 2002; COMI et al, 2001) A fadiga, dentre tantos outros sintomas da EM, é tida como o comprometimento mais vivenciado pelos pacientes, podendo ser, em alguns casos, muito incapacitante por afetar a eficiência e a noção de bem estar da pessoa, conforme relatam Carr e Shepherd (2008). Frankel (2004) e Schwid et al (2002), também descrevem a fadiga como o sintoma mais comum na EM, relatando que em média 75% a 95% dos portadores da doença dizem senti-la e 50% a 60% a apontam como seu pior sintoma. A fisiopatologia da fadiga na EM ainda não é bem compreendida e é muito provável que tenha origens biológicas, emocionais, ambientais, farmacológicas e de estilo de vida. Os fatores que contribuem para o sintoma são privação de sono, 6 físico, sorial, contribuem para uma imagem da posição incapacidade, depressão, fatores neuromusculares adequada auxiliando para o perfeito equilíbrio e a fadiga própria da EM. (FRANKEL, 2004; corporal no ambiente. O SNC utiliza as vias SCHWID et al, 2002; COMI et al, 2001) motoras descendentes para controlar as posições dieta pobre, descondicionamento Buscando reduzir o impacto da fadiga para a realização de atividades em casa, Cunha, estáticas da cabeça e do corpo, além de coordenar movimentos posturais. (BUZATTI et al, 2007) Soares e Nascimento (2007), propuseram um O desequilíbrio é um dos sintomas mais programa de conservação de energia composto comuns na EM, produzindo insegurança na por orientações simples, como controlar o ritmo marcha e favorecendo a ocorrência de quedas. A respiratório; incluir períodos de repouso entre as fraqueza e a espasticidade contribuem para tal atividades; eliminar tarefas não necessárias; apoiar comprometimento, pois como já mencionado, o os cotovelos na realização de atividades como controle central do equilíbrio precisa manter o escovar os dentes e se barbear; evitar curvar-se e centro corporal dentro dos limites controláveis da levantar puxá-los, base de apoio, e para isso necessita de um empurrá-los e afastá-los; utilizar calçadeiras para complexo controle entre tônus e força muscular a calçar os sapatos e tomar banho sentado. fim de manter a postura. (ALMEIDA et al, 2007) objetos, ao invés disso, aeróbicos Um objetivo importante da terapia é visando o condicionamento físico leva a uma maior promover o equilíbrio seguro e funcional. A piscina resistência a fadiga, e consequentemente, a maior é um meio terapêutico importante para praticar o qualidade de vida, conforme relata Teixeira e controle postural estático e dinâmico na posição Lopes (2008), ressaltando um dos benefícios e sentado ou em ortostatismo, conforme relata impactos positivos do exercício aeróbio na EM. O´Sullivan. (2004) A realização de exercícios Em estudo realizado por Mazzucato e Borges (2009), foi proposto um tratamento através 3.3.2 Equilíbrio O equilíbrio corporal é definido como a de reabilitação vestibular com atividades que capacidade de se manter ereto ou realizar enfocassem o equilíbrio, a mudança de decúbito, movimentos com o corpo, sem oscilar ou sofrer treinos queda, realizando movimentos harmônicos com manobras terapêuticas específicas mencionadas conforto físico e mental. (NISHINO et al, 2005) no O Sistema Vestibular (SV) realiza diferentes funções no controle postural para adaptativos estudo, para apresentando vertigem, como além de resultado o aumento no equilíbrio estático e dinâmico quando comparadas com as médias da avaliação inicial. Já manter o equilíbrio e o alinhamento do corpo sobre em outro estudo realizado por a pequena base de apoio nos pés. Através de Rodrigues, Nielson e Marinho (2008), foi proposto funções sensoriais e motoras o SV fornece ao uma SNC informações sobre a posição e o movimento especifico pelos autores que conseguiram a partir da cabeça e direção da gravidade. A integração de técnicas de treino de equilíbrio em bola suíça, das informações vestibulares combinadas com as cama elástica, prancha de equilíbrio, treino de fornecidas pelo Sistema Visual e Somatossen- marcha em barra paralela, circuitos, rampa e intervenção por meio de treinamento 7 Para escada e fortalecimento dos grupos musculares de reeducar a marcha na EM é membros inferiores, melhora no equilíbrio dos importante melhorar o alinhamento do corpo, pacientes com EM, demonstrando a importância aumentar a estabilidade postural e conseguir de um programa de intervenção bem elaborado padrões de movimentos normais ou o mais perto neste complexo sintoma. disso possível. A terapia deve abranger treino dirigido de tarefas funcionais, aumento do passo, 3.3.3 Marcha diminuição da base de sustentação, giros, subir e Em consequência a desmielinização do descer escadas e obstáculos. À medida que o a apresenta paciente vai realizando as tarefas aumenta-se dificuldades para a marcha, cujas causas podem gradativamente o número de repetições e a ser fadiga, fraqueza muscular, espasticidade e dificuldade das mesmas. (JIMÉNEZ e CUERDA, déficit de equilíbrio, bem como a combinação 2007) SNC, maioria dos portadores desses fatores, resultando em aumento do risco de quedas em pessoas com EM. (CISTIA et al, 2007; Devido à perda da mielina (desmieli- THOUMIE e MEVELLEC, 2002) Alterações na marcha 3.3.4 Fraqueza Muscular podem estar nização) dos motoneurônios superiores a presentes mesmo em pacientes com deterioração velocidade da condução nervosa diminui levando à mínima da função motora e sem qualquer limitação fraqueza funcional. Algumas anormalidades encontradas portadores de EM. Seu impacto abrange a precocemente no padrão de marcha são redução deambulação e a execução das AVD´s, que está da velocidade de progressão, passos mais curtos e ligada tanto à alteração no SNC como também à fase de apoio duplo prolongado. (NEVES et al, alteração muscular decorrente do desuso causado 2007) por longos períodos ao leito durante as fases de As atividades voltadas para a deam- muscular, problema comum em surto da doença. (THOUMIE e MEVELLEC, 2002) bulação devem salientar segurança, transferência Nos últimos anos tem crescido o número adequada de peso com rotação de tronco, uma de pesquisas relacionadas à prática de exercícios base de apoio estável e progressão controlada. O resistidos fisioterapeuta as muscular a partir de propostas conduzidas com compensações posturais de movimento feitos pelo uso de fitas elásticas de diferentes graduações paciente, para incentivar a estabilidade postural, (theraband), peso corporal contra a ação da aumentando consequentemente a coordenação gravidade aliado ao uso de coletes com pesos, dos movimentos. Pacientes com EM podem atividades necessitar de dispositivos de auxílio para marcha resultados foram apresentados aumentos de força como órteses, andadores, muletas, bengalas, e resistência muscular, diminuição da fadiga e cadeira de rodas, carrinhos motorizados levando melhora em consideração o curso, progressão da doença e DRESSENDORFER, a apresentação dos sintomas para decidir por um MCCUBBIN, 2004) deve procurar dispositivo. (O´SULLIVAN, 2004) neutralizar visando melhora aquáticas da e no fortalecimento caminhadas. deambulação. 2004; Como (WHITE e DEBOLT e 8 Em outro estudo realizado por Furtado e deveriam realizar simulações com as seguintes Tavares (2007), foi proposto um programa de atividades: escovar os dentes, lavar o rosto, fortalecimento muscular através de exercícios pentear os cabelos, tirar e vestir uma camiseta, resistidos com halteres e caneleiras, uso do calçar e descalçar sapatos, andar no plano por 5 próprio peso corporal contra a ação da gravidade, minutos, e subir e descer escadas de 3 degraus, materiais auxiliares como colchonetes, steps e demonstrado bastões, sendo observado redução no tempo de tratamento podem ser eficazes na intervenção execução da caminhada cronometrada de 7,62 fisioterapêutica, voltadas para a função diária e metros e no Timed get up and go em relação aos consequentemente à melhora na resultados iniciais. vida dos pacientes. 3.3.5 Qualidade de Vida/ Atividades de Vida 4.0 Conclusão/Considerações finais Diária como Quase Como já dito, a complexidade da doença alternativas todas comprometimentos as simples qualidade de manifestações existentes de nas de doenças leva a uma variedade de sinais e sintomas, neurológicas podem ser observadas na EM, fato podendo resultar em invalidez. Devido a sua que associado ao caráter crônico-progressivo e ao grande repercussão funcional, obriga em muitos desconhecimento de alguns fatores relacionados à casos, o paciente a interromper suas AVD´s, doença, a caracterizam como um desafio, não só interferindo assim diretamente na qualidade de para os profissionais de saúde, como também para vida dos portadores, influenciando negativamente os portadores e seus familiares. em seu estilo de vida. (FURTADO e TAVARES, 2007; MUÑOZ, GÓMEZ e COSTA, 2005) Trata-se de uma doença complexa, variável e imprevisível, caracterizada por compro- A Fisioterapia não vai interferir diretamente metimentos que variam de um paciente para outro na evolução da doença, mas pode obter um e até no mesmo paciente em diferentes momentos. grande benefício no estado geral e uma melhor A manutenção da independência, autonomia e adaptação da pessoa a sua nova situação. qualidade de vida são as principais metas da (MUÑOZ, GÓMEZ e COSTA, 2005) equipe interdisciplinar necessária para uma A prática de exercícios físicos regulares abordagem completa na EM, onde a Fisioterapia traz inúmeros benefícios para os portadores, se destaca como um instrumento de grande valor. alcançando melhoras no condicionamento físico, Avaliar os diferentes aspectos do comprometi- tornando-os capacitados mento motor e a determinação dos fatores funcionalmente, favorecendo maior independência predisponentes à limitação funcional são tarefas e consequentemente melhorando a qualidade de desafiadoras, mas de extrema relevância para uma vida. (FURTADO e TAVARES, 2005) intervenção satisfatória, que deve sempre ser mais ativos e Nesse contexto a fisioterapia atua de forma relevante com treino específico de AVD´s pautada também nas metas individuais de cada paciente. como mostra o estudo realizado por Cunha, O resultado desejado deve ser restaurar Soares e Nascimento (2007), onde os pacientes ou maximizar a função através de estratégias 9 variadas de treinamento para prevenir ou diminuir a velocidade do declínio funcional. Contudo, faz-se necessário destacar a importância de novos estudos sobre esta complexa doença, bem como a intervenção fisioterapêutica dentro de uma equipe multiprofissional, que atuando de forma interdisciplinar, deve ter como objetivo principal independência, garantir autonomia maior e e melhor funcionalidade, melhorando a qualidade e perspectiva de vida dos portadores da EM. 5.0 Referências Bibliográficas ALMEIDA, S. R. M.; BENSUASKI, K.; CACHO, E. W. A.; et al. 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