Revista ISSN 1519-339X Ano 13 - Nº 64 - Janeiro / Fevereiro / Março - 2013 A Revista Enfermagem Atual In Derme está indexada na base de dados do Cinahl - Information Systems USA, classificada como Qualis International B2 da Capes e no Grupo EBSCO Publicações. 1 2 Editor: Viviane Fernandes de Carvalho Redação: Cesar Isaac Assistente Editorial: André Oliveira Paggiaro [email protected] Financeiro: Sobenfee Produção: Charles da S. Santos Vendas: Sobenfee [email protected] Sac: [email protected] Envio de Artigos: [email protected] ENFERMAGEM ATUAL IN DERME é uma revista científica, cultural e profissional, trimestralmente lida por 5.000 enfermeiros. ENFERMAGEM ATUAL IN DERME não aceita matéria paga em seu espaço editorial. CIRCULAÇÃO: Em todo Território Nacional. CORRESPONDÊNCIAS: Rua México, nº 164 sala 62 Centro –Rio de Janeiro - RJ - (21) 2259-6232 - [email protected] Periodicidade: Trimestral Distribuição: Sobenfee Produção: EPUB - Editora de Publicações Biomédicas Ltda. ENFERMAGEM ATUAL IN DERME reserva todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção Pan -Americana e da Convenção Internacional sobre Direitos Autorais. A Revista Enfermagem Atual In Derme está indexada na base de dados do Cinahl Information Systems USA e classificada como Qualis Internacional B2 da Capes e no Grupo EBSCO Publicações. Os Trabalhos publicados terão seus direitos autorais resguardados pela Sobenfee que, em qualquer situação agirá como detentora dos mesmos. Circulação: 4 números anuais: JAN/FEV/MAR – ABR/MAI/JUN – JUL/AGO/SET – OUT/NOV/ DEZ DATA DE IMPRESSÃO: Setembro 2013 A Revista Enfermagem Atual In Derme é uma publicação trimestral. Publica trabalhos originais das diferentes áreas da Enfermagem, Saúde e Áreas Afins, como resultados de pesquisas, artigos de reflexão, relato de experiência e discussão de temas atuais. A história da construção do conhecimento da Enfermagem pode ser remetida à data anterior ao período conhecido como pré profissional, ou seja, anterior à Florence Nightingale. Entretanto, é a partir de Florence que a Enfermagem se estabelece como profissão e área específica do saber. Ao tentarmos encontrar marcos relevantes na linha do tempo da construção da ciência Enfermagem, de acordo com Gomes et al 1, quatro fases precisam ser lembradas e entendidas. Na primeira fase a Enfermagem buscou responder “O QUE FAZER?”, a fim de se estabelecer como profissão. Na segunda, com o intuito de dominar tecnicamente os procedimentos realizados respondeu à pergunta “COMO FAZER?”. A terceira fase procurou sedimentar os fundamentos desta área do conhecimento, respondendo “POR QUE FAZER?”. A quarta fase procura resposta a seguinte questão: “QUAL O SABER PRÓPRIO DA ENFERMAGEM?”, afinal vivemos o momento em o cuidado, a assistência de Enfermagem precisam estar pautados em evidências científicas. É crescente o número de publicações nos diferentes campos em que o profissional de Enfermagem encontra-se inserido. Assim, este periódico encontrase completamente comprometido em trazer a cada edição dados confiáveis de pesquisas para responder às perguntas da prática clínica que ainda precisam ser respondidas de forma satisfatória. Neste número, publicamos 4 artigos originais, 3 revisões, 1 relato de experiência e 1 reflexão. Lucio et al tiveram por objetivo conhecer como os portadores de úlceras venosas promovem seu autocuidado diário, em especial durante a realização do curativo. Reina et al avaliaram o nível de conhecimento de enfermeiros de diferentes unidades de terapia intensiva em relação ao conhecimento da prevenção, classificação e estadiamento de úlceras por pressão. Santos et al, por meio de uma revisão integrativa, caracterizaram as evidências científicas sobre os fatores de risco e os sistemas de classificação das lesões do tipo skin tears. Nicolosi & Carvalho descreveram o papel da equipe multidisciplinar no processo de reabilitação de vítimas de queimaduras frente à presença das sequelas físicas, psicológicas e aspectos sociais. Nunes & Blanck mostraram que determinados medicamentos e seus eventos adversos podem ter potencial interferência na pontuação das subescalas da escala de Braden. Pinto idealizou um dispositivo a partir de elementos básicos em qualquer serviço hospitalar que permite limpeza do leito da ferida, por método contínuo pressurizado, rápido e seguro ao executor para riscos biológicos. Puggina, Araújo & Silva, trouxeram à luz da discussão de se fazer a distinção expressão/transmissão e recepção/processamento da mensagem nas três classificações NANDA, NOC e NIC para um melhor entendimento e aplicação deste diagnóstico, bem como, completar as atividades propostas na NIC e clarificar termos relacionados à comunicação. Neri & Gusmão verificaram a taxa de comparecimento às consultas dos comunicantes ao Programa de Controle da Hanseníase. Garcia & Fernandes analisaram a adequação do registro dos dados que compõem o formulário de notificação compulsória de violência contra a mulher. 1 - Oliveira VLG, Schubert VMB, Coelho PMIS, Cezar MRV. Evolução do conhecimento científico na enfermagem: do cuidado popular à construção de teorias. Invest. educ. enferm [serial on the Internet]. 2007 Mar[cit- ISSN 1519-339X ed 2013 Ago 30]; 25(2):108-115. Available from: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0120-53072007000200010&lng=en. 3 Conselho Científico Ana Claudia Puggina Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil Ana Karine Brum Universidade Federal Fluminense Rio de Janeiro, RJ-Brasil Ana Llonch Sabates Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil Andre Oliveira Paggiaro Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo São Paulo, SP-Brasil Sumário EDITORIAL 3 ARTIGOS 5 Normas de Publicação Revista Enfermagem Atual - In Derme ________ 8 Promoção da autonomia por meio do autocuidado: intervenções de enfermagem em portadores de úlceras venosas The promotion of autonomy through self-care: nursing interventions in venous ulcer patients Arlete Silva Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil Dirce Beatriz Marquardt Lucio, Dirce Stein Backes, Elenice Spagnolo Rodrigues Martins, Lenize Beatriz Guitton Universidade Federal Fluminense Rio de Janeiro, RJ-Brasil Cesar Isaac Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo São Paulo, SP-Brasil Nunes Moura, Regina Gema Santini Costenaro, Rosiane Filipin Rangel e Simone Plácido. ________ Cross-sectional study to identify the knowledge of nurses on prevention, staging and assessment of pressure sores Denise Sória Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, RJ – Brasil Stéfanni Cerboncini Reina, Marta Rocha Barbosa, Raoni Moraes, Samira Guelli, Viviane Fernan- Edna Apparecida Moura Arcuri Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil Fulvia Maria dos Santos Universidade Gama Filho Rio de Janeiro, RJ-Brasil des de Carvalho ________ Javier Soldevilla Agreda Universidade de La Rioja Logroño-Espanha Érick Igor dos Santos, Antonio Marcos Tosoli Gomes, Eliane Augusta da Silveira Barreto, Raquel de Souza Ramos ________ Josiane Lima de Gusmão Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil Júlia Teixeira Nicolosi, Viviane Fernandes de Carvalho ________ Patrícia Helena Castro Nunes, Mara Blanck ________ Maria Marcia Bachion Universidade Federal de Goiás Goiania, GO-Brasil Nuno Manuel Teles Pinto ________ Ana Cláudia Puggina, Monica Martins Trovo Araújo, Maria Júlia Paes da Silva ________ Rosa Aurea Quintela Fernandes Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil 4 Viviane Fernandes de Carvalho Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil 43 Adesão de comunicantes às ações de controle e prevenção da hanseníase: estudo descritivo Adherence of leprosy contacts in order to control and prevention actions of leprosy: a descriptive study Esmeraldina Carlos de Fátima Peixoto Neri, Josiane Lima de Gusmão Simone Aranha Nouer Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, RJ-Brasil Tamara Iwanow Cianciarullo Universidade de Mogi das Cruzes Mogi das Cruzes, SP-Brasil 34 O diagnóstico COMUNICAÇÃO VERBAL PREJUDICADA segundo as classificações NANDA, NOC e NIC The diagnostic VERBAL COMMUNICATION IMPAIRED according to NANDA, NOC and NIC classifications Neida Luiza Kaspary Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria, RS-Brasil Patricia Helena Castro Nunes IPEC / FIOCRUZ Rio de Janeiro, RJ-Brasil 31 Concepção e construção de um novo dispositivo de irrigação pressurizada de feridas Design and construction of a new device for wound pressurized irrigation Maria Helena Gonçalves Jardim Universidade da Madeira Funchal-Portugal Maria Luiza Santos Universidade da Madeira Funchal-Portugal 26 A escala de Braden e os medicamentos The Braden Scale and the drugs Maria Celeste Dalia Barros Universidade Gama Filho Rio de Janeiro, RJ-Brasil Maria de Belém Cavalcante Universidade Guarulhos Guarulhos, SP-Brasil 22 O processo de reabilitação do paciente vítima de queimadura: uma revisão de literatura The process of rehabilitation of the patient burn victim: a literature review Karina Chamma Di Piero Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, RJ-Brasil Marcus Castro Ferreira Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo São Paulo, SP-Brasil 16 Evidências científicas sobre fatores de risco e sistemas de classificação das skin tears Scientific evidences on risk factors and classification systems of skin tears José Carlos Martins Universidade de Coimbra Coimbra-Portugal José Verdu Soriano Universidade de Alicante Alicante-Espanha 12 Estudo transversal para identificação do conhecimento de enfermeiros sobre prevenção, estadiamento e avaliação de úlceras por pressão ________ 51 Notificação Compulsória de violência contra a mulher Mandatory notification of violence against women Maria Luiza Franco Garcia, Rosa Áurea Quintella Fernandes Normas de Publicação REVISTA ENFERMAGEM ATUAL - IN DERME INSTRUÇÕES AOS AUTORES A Revista Enfermagem Atual - In Derme é o órgão oficial de divulgação da Sociedade Brasileira de Feridas e Estética (Sobenfee). Impressa e on-line, tem como objetivo principal registrar a produção científica de autores nacionais e internacionais, que possam contribuir para o estudo, desenvolvimento, aperfeiçoamento e atualização da Enfermagem, da saúde e de ciências afins, na prevenção e tratamento de feridas. O desenvolvimento do conhecimento de Enfermagem visto, principalmente, nas últimas quatro décadas, é o resultado da somatória dos esforços dos cientistas, teóricos e estudiosos em Enfermagem, a fim de que a prática seja mais segura e eficiente. Desta maneira, cabe também a esta sociedade trazer à comunidade as descobertas científicas conseguidas pela Enfermagem, também nas seguintes seções especiais: Saúde da Mulher, Saúde da Criança e Adolescente, Saúde Mental, Saúde do Trabalhador e Saúde do Adulto e Idoso. As instruções aqui descritas visam orientar os pesquisadores sobre as normas adotadas para avaliar os manuscritos submetidos. Os manuscritos devem destinar-se exclusivamente à Revista Enfermagem Atual - In Derme, não sendo permitida sua submissão simultânea a outro(s) periódico(s). Quando publicados, passam a ser propriedade da Revista Enfermagem Atual - In Derme, sendo vedada a reprodução parcial ou total dos mesmos, em qualquer meio de divulgação, impresso ou eletrônico, sem a autorização prévia do(a) Editor(a) Científico(a) da Revista. A publicação dos manuscritos dependerá da observância das normas da Revista Enfermagem Atual - In Derme e da apreciação do Conselho Editorial, que dispõe de plena autoridade para decidir sobre sua aceitação, podendo, inclusive apresentar sugestões (sem alterar o conteúdo científico) ao(s) autor(es) para as alterações necessárias. Neste caso, o referido trabalho será reavaliado pelo Conselho Editorial, permanecendo em sigilo o nome do consultor, e omitindo também o(s) nome(s) do(s) autor(es) aos consultores. Manuscritos recusados para publicação serão notificados e disponibilizados a sua devolução ao(s) autor(es) na sede da Revista. MODALIDADES DE ARTIGOS Artigos de revisão (sistemática ou integrativa): estudo que reúne, de maneira crítica e ordenada resultados de pesquisas a respeito de um tema específico sobre feridas, aprofunda o conhecimento sobre o objeto da investigação. Deve limitar-se a 6000 palavras, excluindo referências, tabelas e figuras. As referências deverão ser atuais e em número mínimo de 30. Reflexão: consideração teórica sobre aspectos conceituais no contexto das feridas, suas etiologias, tratamentos e reabilitação. Formulação discursiva aprofundada, focalizando conceitos ou constructo teórico da Enfermagem ou de área afim; ou discussão sobre um tema específico, estabelecendo analogias, apresentando e analisando diferentes pontos de vista, teóricos e/ou práticos. Deve conter um máximo de dez (10) páginas, incluindo resumos e referências. Relatos de caso: descrição de pacientes ou situações singulares, doenças especialmente raras ou nunca descritas, assim como formas inovadoras de diagnóstico e tratamento. O texto é composto por uma introdução breve que situa o leitor em relação à importância do assunto e apresenta os objetivos do relato do(s) caso(s) em questão; o relato resumido do caso e os comentários no qual são abordados os aspectos relevantes, os quais são comparados com a literatura. O número de palavras deve ser inferior a 2000, excluindo referências e tabelas. O número máximo de referência é 15. Relato de experiência: descrição de experiências acadêmicas, assistenciais e de extensão na área da enfermagem dermatológica e áreas afins. Deve conter ate dez (10) páginas, incluindo resumos e referências. Comunicação breve: pequenas experiências que tenham caráter de originalidade, não ultrapassando 1500 palavras e dez referências bibliográficas. Cartas ao editor: são sempre altamente estimuladas. Em princípio, devem comentar discutir ou criticar artigos publicados na Revista In Derme, mas também podem versar sobre outros temas de interesse geral. Recomenda-se tamanho máximo 1000 palavras, incluindo referências bibliográficas, que não devem exceder a seis (6). Sempre que possível, uma resposta dos autores será publicada junto com a carta. Editorial: geralmente refere-se a artigos escolhidos em cada número da Revista Enfermagem Atual - In Derme pela sua importância para comunidade científica. São redigidos pelo Conselho Editorial ou encomendados a especialistas de notoriedade na área em questão. O Conselho Editorial poderá, eventualmente, considerar a publicação de editoriais submetidos espontaneamente. Pode conter até duas (2) páginas. Resumo de dissertação ou tese: devem conter introdução, objetivos, métodos, resultados e conclusões. Deve conter ate quinze (15) páginas, incluindo resumos e referências. Artigo original: pesquisa original e inédita. Estão incluídos estudos controlados e randomizados, estudos observacionais e pesquisa básica com modelos de experimentação animal. Deverão obrigatoriamente obedecer à estrutura: Introdução, contendo o problema de pesquisa, hipótese(s), objetivo; Método; Resultados; Discussão; Conclusões; Referências; Resumo; Abstract. O texto poderá conter entre 2000 e 3000 palavras, excluindo referências, tabelas e figuras. O número de referências não deve exceder a 30. Pode conter até quinze (15) páginas, incluindo resumos e referências. Previamente à publicação, todos os artigos enviados à Revista Enfermagem Atual - In Derme passam por processo de revisão e julgamento, a fim de garantir seu padrão de qualidade e a isenção na seleção dos trabalhos a serem publicados. Inicialmente, o artigo é avaliado pela secretaria para verificar se está de acordo com as normas de publicação e completo. Todos os trabalhos são submetidos à avaliação pelos pares (peer review) por pelo menos três revisores selecionados dentre os membros do Conselho Editorial. A aceitação é baseada na originalidade, significância POLÍTICA EDITORIAL Avaliação pelos pares (peer review) REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 5 Normas de Publicação e contribuição científica. Os revisores, de acordo com as recomendações adotadas por este veículo de informação, fazem uma apreciação rigorosa de todos os itens que compõem o trabalho. Ao final, farão comentários gerais sobre o trabalho e opinarão se o mesmo deve ser publicado. O editor toma a decisão final. Em caso de discrepâncias entre os avaliadores, pode ser solicitada uma nova opinião para melhor julgamento. Quando são sugeridas modificações pelos revisores, as mesmas são encaminhadas ao autor correspondente e, a nova versão encaminhada aos revisores para verificação se as sugestões/exigências foram atendidas. Em casos excepcionais, quando o assunto do manuscrito assim o exigir, o Editor poderá solicitar a colaboração de um profissional que não conste da relação do Conselho Editorial para fazer a avaliação. O sistema de avaliação é o duplo cego, garantindo o anonimato em todo processo de avaliação. A decisão sobre a aceitação do artigo para publicação ocorrerá, sempre que possível, no prazo de três meses a partir da data de seu recebimento. As datas do recebimento e da aprovação do artigo para publicação são informadas no artigo publicado com o intuito de respeitar os interesses de prioridade dos autores. Idioma Devem ser redigidos em português. Eles devem obedecer à ortografia vigente, empregando linguagem fácil e precisa e evitando-se a informalidade da linguagem coloquial. As versões serão disponibilizadas na íntegra no endereço eletrônico da Sobenfee (http://www.sobenfee.org.br). Pesquisa com Seres Humanos e Animais Os autores devem, no item Método, declarar que a pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa de sua Instituição (enviar declaração assinada que aprova a pesquisa), em consoante à Declaração de Helsinki revisada em 2000 [World Medical Association (www.wma.net/e/policy/b3.htm)] e da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (http://conselho.saude. gov.br/resolucoes/reso_96.htm). Na experimentação com animais, os autores devem seguir o CIOMS (Council for International Organizationof Medical Sciences) Ethical Code for Animal Experimentation (WHO Chronicle 1985; 39(2):51-6) e os preceitos do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal - COBEA (www.cobea.org.br). O Corpo Editorial da Revista poderá recusar artigos que não cumpram rigorosamente os preceitos éticos da pesquisa, seja em humanos seja em animais. Os autores devem identificar precisamente todas as drogas e substâncias químicas usadas, incluindo os nomes do princípio ativo, dosagens e formas de administração. Devem, também, evitar nomes comerciais ou de empresas. Política para registro de ensaios clínicos A Revista In Derme, em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do International Committeeof Medical Journal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso aberto, somente aceitará para publicação, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http:// clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed. O número de identificação deve ser registrado ao final do resumo. Direitos Autorais Os autores dos manuscritos aprovados deverão encaminhar, previamente à publicação, a seguinte declaração escrita e assinada por todos os co-autores: “O(s) autor(es) abaixo assinado(s) transfere(m) todos os direitos autorais do manuscrito (título do artigo) 6 à Revista Enfermagem Atual - In Derme. O(s) signatário(s) garante(m) que o artigo é original, que não infringe os direitos autorais ou qualquer outro direito de propriedade de terceiros, que não foi enviado para publicação em nenhuma outra revista e que não foi publicado anteriormente. O(s) autor(es) confirma(m) que a versão final do manuscrito foi revisada e aprovada por ele(s)”. Todos os manuscritos publicados tornam-se propriedade permanente da Revista Enfermagem Atual - In Derme e não podem ser publicados sem o consentimento por escrito de seu editor. Critérios de Autoria Sugerimos que sejam adotados os critérios de autoria dos artigos segundo as recomendações do International Committee of Medical Journal Editors. Assim, apenas aquelas pessoas que contribuíram diretamente para o conteúdo intelectual do trabalho devem ser listadas como autores. Os autores devem satisfazer a todos os seguintes critérios, de forma a poderem ter responsabilidade pública pelo conteúdo do trabalho: 1. ter concebido e planejado as atividades que levaram ao trabalho ou interpretado os resultados a que ele chegou, ou ambos; 2. ter escrito o trabalho ou revisado as versões sucessivas e tomado parte no processo de revisão; 3. ter aprovado a versão final. Pessoas que não preencham os requisitos acima e que tiveram participação puramente técnica ou de apoio geral, podem ser citadas na seção Agradecimentos. PREPARO DOS MANUSCRITOS Envio dos manuscritos: Os manuscritos de todas as categorias aceitas para submissão deverão ser digitados em arquivo do Microsoft Office Word, com configuração obrigatória das páginas em papel A4 (210x297mm) e margens de 2 cm em todos os lados, fonte Times New Roman tamanho 12, espaçamento de 1,5 pt entre linhas. As páginas devem ser numeradas, consecutivamente, até as Referências. O uso de negrito deve se restringir ao título e subtítulos do manuscrito. O itálico será aplicado somente para destacar termos ou expressões relevantes para o objeto do estudo, ou trechos de depoimentos ou entrevistas. Nas citações de autores, ipsis litteris, com até três linhas, usar aspas e inseri-las na sequência normal do texto; naquelas com mais de três linhas, destacá-las em novo parágrafo, sem aspas, fonte Times New Roman tamanho 11, espaçamento simples entre linhas e recuo de 3 cm da margem esquerda. Não devem ser usadas abreviaturas no título e subtítulos do manuscrito. No texto, usar somente abreviações padronizadas. Na primeira citação, a abreviatura é apresentada entre parênteses, e os termos a que corresponde devem precedê-la. PRIMEIRA PÁGINA: Identificação: É a primeira página do manuscrito e deverá conter, na ordem apresentada, os seguintes dados: título do artigo (máximo de 15 palavras) nos idiomas (português e inglês); nome do(s) autor(es), indicando, em nota de rodapé, título(s) universitário(s), cargo e função ocupados; Instituição a que pertence(m) e endereço eletrônico para troca de correspondência. Se o manuscrito estiver baseado em tese de doutorado, dissertação de mestrado ou monografia de especialização ou de conclusão de curso de graduação, indicar, em nota de rodapé, a autoria, título, categoria (tese de doutorado, etc.), cidade, instituição a que foi apresentada, e ano. Devem ser declarados conflitos de interesse e fontes de financiamento. SEGUNDA PÁGINA: Resumo e Summary: O resumo inicia uma nova página. Independente da categoria do manuscrito, REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL - IN DERME o Resumo deverá conter, no máximo, 200 palavras. Deve ser escrito com clareza e objetividade. No resumo deverão estar descritos o objetivo, a metodologia, os principais resultados e as conclusões. O Resumo em português deverá estar acompanhado da versão em inglês (Summary). Logo abaixo de cada resumo, incluir, respectivamente, três (3) a cinco (5) descritores e key words. Recomenda-se que os descritores estejam incluídos entre os Descritores em Ciências da Saúde DeCS (http://decs.bvs.br) que contem termos em português, inglês e espanhol. Corpo do texto: O corpo do texto inicia nova página, em que não devem constar o título do manuscrito ou o nome do(s) autor(es). O corpo do texto é contínuo. É recomendável que os artigos sigam a estrutura: Introdução, Método, Resultados, Discussão e Conclusões. Introdução: Deve conter o propósito do artigo. Reunir a lógica do estudo. Mostrar o que levou aos autores estudarem o assunto, esclarecendo falhas ou incongruências na literatura e/ou dificuldades na prática clínica que tornam o trabalho interessante aos leitores. Método: Descrever claramente os procedimentos de seleção dos elementos envolvidos no estudo (voluntários, animais de laboratório, prontuários de pacientes). Quando cabível devem incluir critérios de inclusão e exclusão. Esta seção deverá conter detalhes que permitam a replicação do método por outros pesquisadores. Explicitar o tratamento estatístico aplicado, assim como os programas de computação utilizados. Os autores devem declarar que o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Instituição onde o trabalho foi realizado. Resultados: Apresentar em sequência lógica no texto, tabelas e ilustrações. O uso de tabelas e gráficos deve ser privilegiado. Discussão: Espaço reservado ao autor para confronto dos seus resultados com a literatura corrente, conhecimento pessoal e capacidade crítica para interpretar seus achados. Os comentários devem incluir limitações e perspectivas futuras. Conclusões: Devem ser concisas e responder apenas aos objetivos propostos. Referências: O número de referências no manuscrito deve ser limitado a vinte (20), exceto nos artigos de Revisão. As referências, apresentadas no final do trabalho, devem ser numeradas, consecutivamente, de acordo com a ordem em que foram incluídas no texto; e elaboradas de acordo com o estilo Vancouver. Devem ser utilizados números arábicos, sobrescritos, sem espaço entre o número da citação e a palavra anterior, e antecedendo a pontuação da frase ou parágrafo [Exemplo: enfermagem1,]. Quando se tratar de citações sequenciais, os números serão separados por um traço [Exemplo: diabetes1-3;], quando intercaladas, separados por vírgula [Exemplo: feridas1,3,5.]. Apresentar as Referências de acordo com os exemplos: -Artigo de Periódico: Shikanai-Yasuda MA, Sartori AMC, Guastini CMF, Lopes MH. Novas características das endemias em centros urbanos. RevMed (São Paulo). 2000;79(1):27-31. - Livros e outras monografias: Pastore AR, Cerri GG. Ultra-sonografia: ginecologia, obstetrícia. São Paulo: Sarvier; 1997. - Capítulo de livros: Ribeiro RM, Haddad JM, Rossi P. Imagenologia em uroginecologia. In: Girão MBC, Lima GR, Baracat EC. Cirurgia vaginal em uroginecologia. 2a.ed. São Paulo: Artes Médicas; 2002. p. 41-7. - Dissertações e Teses: Del Sant R. Propedêutica das síndromes catatônicas agudas [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 1989. - Eventos considerados no todo: 7th World Congress on Medical Informatics; 1992 Sep 6-10; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North-Holland; 1992. p.1561-5. - Eventos considerados em parte: House AK, Levin E. Immune response in patients with carcinoma of the colo and rectum and stomach. In: Resumenes do 12º Congreso Internacional de Cancer; 1978; Buenos Aires; 1978. p.135. - Material eletrônico: Morse SS. Factors in the emergence of infections diseases. Emerg Infect Dis [serial online];1(1):[24 screens]. Available from: http:// www.cdc.gov/oncidod/eID/eid.htm. CDI, clinical dermatology illustrated [monograph on CD-ROM], Reeves JRT, Maibach H. CMeA Multimedia group, producers. 2nd ed. Version 2.0. Sand Diego: CMeA; 1995. Figuras e Tabelas Todas as ilustrações, fotografias, desenhos, slides e gráficos devem ser numerados consecutivamente em algarismos arábicos na ordem em que forem citados no texto, identificados como figuras por número e título do trabalho. As legendas devem ser apresentadas em folha à parte, de forma breve e clara. Devem ser enviadas separadas do texto, formato jpeg, com 300 dpi de resolução. As tabelas devem ser apresentadas apenas quando necessárias para a efetiva compreensão do manuscrito. Assim como as figuras devem trazer suas respectivas legendas em folha à parte. A entidade responsável pelo levantamento de dados deve ser indicada no rodapé da tabela. COMO SUBMETER O MANUSCRITO Os manuscritos devem ser obrigatoriamente, submetidos eletronicamente via email: [email protected]. Os artigos deverão vir acompanhados por uma Carta de apresentação, sugerindo a seção em que o artigo deve ser publicado. Na carta o(s) autor(es) explicitarão que estão de acordo com as normas da revista e são os únicos responsáveis pelo conteúdo expresso no texto. Declarar se há ou não conflito de interesse e a inexistência de problema ético relacionado ao manuscrito. ARTIGOS REVISADOS Os artigos que precisarem ser revisados para aceite e publicação na Revista Enfermagem Atual - In Derme serão reenviados por email aos autores com os comentários dos revisores. Uma vez terminada a revisão pelos autores, o manuscrito deverá ser devolvido ao editor no prazo máximo de 60 dias. Caso a revisão ultrapasse este prazo, o artigo será considerado como novo e passará novamente por todo processo de submissão. Na resposta aos comentários dos revisores, os autores deverão destacar no texto as alterações realizadas. ARTIGOS ACEITOS PRA PUBLICAÇÃO Uma vez aceito para publicação, uma prova do artigo editorado (formato PDF) será enviada ao autor correspondente para sua apreciação e aprovação final. n REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 7 Artigo Original Promoção da autonomia por meio do autocuidado: intervenções de enfermagem em portadores de úlceras venosas The promotion of autonomy through self-care: nursing interventions in venous ulcer patients * ** *** **** ***** ****** ******* Dirce Beatriz Marquardt Lucio Dirce Stein Backes Elenice Spagnolo Rodrigues Martins Lenize Nunes Moura Regina Gema Santini Costenaro Rosiane Filipin Rangel Simone Plácido. RESUMO Objetivo: Objetiva-se com o estudo conhecer como as pessoas acometidas por úlceras venosas promovem o seu autocuidado, de modo especial, como e quando realizam o curativo diariamente. Método: Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, do tipo descritivo exploratório onde os participantes da pesquisa foram 16 pacientes portadores de úlcera venosa. A coleta dos dados foi realizada no período de maio a dezembro de 2009, por meio de uma entrevista com duas perguntas abertas, tais como: como e por quem era realizado seu curativo? E como percebe seu auto cuidado hoje? Os dados foram analisados pela técnica de análise temática de conteúdo. As respostas foram caracterizadas em duas temáticas: Vivenciando uma relação de dependência e Vivenciando a autonomia. Resultado e Discussão: Este estudo ressaltou a importância do desempenho do enfermeiro ao atuar no cuidado, na recuperação e na promoção de reintegrar o paciente no meio social, no convívio familiar e laboral. Descritores: Autocuidado, Enfermagem, Úlcera venosa. SUMMARY Objective: This study aims to discover how people affected by venous ulcers pursue self-care, in particular, how and when they bandage daily. Methods: It is a descriptive and exploratory study, using a qualitative approach, and the participants of the research were sixteen venous ulcer patients. The collection of information was conducted from May to December, 2009, through two open questions, such as: How is your bandage applied and by whom? And how do you perceive your self-care, today? The information was analyzed by the technique of thematic analysis of the content. The answers were categorized by two issues: Living in a relation of dependence and Living autonomously. Results and Discussion: This study highlighted the importance of the performance of the nurse when acting in the care, recovery and reinstatement of the patient in the society, family and labor. Descriptors: Selfcare, Nursing, Venous ulcer. 8 Introdução As lesões vasculares, principalmente as úlceras venosas de membros inferiores, permeiam o cotidiano dos serviços de saúde, por se tratarem de lesões de difícil cicatrização. Somam índices significativos de morbidade e mortalidade, além de provocarem considerável impacto econômico, pois o tratamento requer consultas frequentes ao médico, curativos diários, muitas vezes levando à perda de produtividade em pacientes mais jovens 1. Embora já tenham sido verificados grandes avanços tecnológicos que visam à compreensão dos fenômenos envolvidos nas diversas fases da reparação tissular, a incidência e prevalência de úlceras crônicas ainda é extremamente alta, repercutindo em elevados custos financeiros e consequências sociais sobre os portadores 2. O paciente portador de feridas crônicas estabelece, geralmente, um elo de dependência com sua ferida, pois na maioria das vezes depende de um cuidador ou de instituição de saúde para realizar seus curativos diários. Esta rotina interfere na sua qualidade de vida, tanto pela dependência, quanto pelas repercussões negativas no processo de viver saudável, gerando sentimentos de angústia, medo e insegurança. Observa-se, que estes sentimentos são causados por alterações da imagem corporal, medo da não cicatrização, dúvidas na realização dos curativos e, por vezes, o afastamento do trabalho. Melhorar a qualidade de vida do portador de feridas crônicas é uma das atribuições do profissional de enfermagem, no sentido de prevenir complicações e possibilitar a inserção social, pela valorização do ser humano como um ser singular e multidimensional. Logo, é preciso considerar que o enfermeiro é o profissional mais habilitado para promover a prevenção, tratamento e reabilitação das feridas crônicas 3. Com base no exposto, o enfermeiro deve criar estratégias e elaborar um plano de orientação, que incentive e promova o autocuidado aos pacientes na realização do curativo em domicílio, ressaltando habilidades e trabalhando limitações do mesmo. As ações de autocuidado constituem a prática de atividades que os indivíduos desempenham de forma deliberada em seu próprio benefício com o propósito de manter a vida, a saúde e o bem-estar. Essas intervenções são voluntárias e intencionais, envolvem a tomada de decisões, e têm o propósito de contribuir de forma específica para REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Lucio, D. B. M.; Backes, D.S.; Martins, E. S. R.; Moura, L. N.; Costenaro, R. G. S.; Rangel, R. F.; Plácido, S. a integridade estrutural, o funcionamento e o desenvolvimento humano 4. A capacidade de autocuidado representa a habilidade de cada indivíduo em executar tarefas que estejam de acordo com as suas necessidades. Logo, a capacidade de exercer o autocuidado é aprendida pelos seres humanos e é dependente de inúmeros fatores que precisam ser considerados pelo enfermeiro durante o processo de ensino-aprendizagem. A teoria do autocuidado foi defendida por Dorothea Orem. A teórica desenvolveu conceitos de autocuidado de enfermagem, definindo-os como a prática de atividades, iniciadas e executadas pelos indivíduos, em seu próprio benefício, para a manutenção da vida, da saúde e do bem-estar 5. Essa teoria é constituída por três construtos teóricos − autocuidado, déficit de autocuidado e sistema de enfermagem. O autocuidado descreve e explica a prática de cuidados executados pela pessoa portadora de uma necessidade para manter a saúde e o bem-estar. O déficit de autocuidado constitui a essência da Teoria Geral do Déficit de Auto-Cuidado por delinear a necessidade da assistência de enfermagem. E, por último, o sistema de enfermagem descreve e explica como as pessoas são ajudadas por meio da enfermagem 4. Percebe-se que o cuidado, referenciado como autocuidado de Orem, é definido como uma maneira de satisfazer às necessidades do próprio ser, partindo de determinados requisitos ou condições, sejam fisiológicas ou comportamentais. Desse modo questiona-se: Como as pessoas acometidas por úlceras venosas promovem o seu autocuidado? Objetiva-se com o estudo conhecer como as pessoas acometidas por úlceras venosas promovem o seu autocuidado, de modo especial, como e quando realizam o curativo diariamente. Método Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, do tipo descritivo-exploratório. Os participantes da pesquisa foram 16 pacientes portadores de úlcera venosa, previamente encaminhados, por médicos angiologistas, para a realização do curativo no Sistema Integrado de Saúde (SIS), do Centro Universitário Franciscano/UNIFRA, localizado na região central do Rio Grande do Sul. Os critérios de inclusão deste estudo foram os pacientes com úlcera de etiologia venosa, que apresentavam sinais clínicos clássicos de insuficiência venosa, com lesões de qualquer tamanho, apresentar lucidez e orientação, e capacitados para realização do autocuidado. A coleta dos dados foi realizada no período de maio a dezembro de 2009, por meio de uma entrevista com duas perguntas abertas, tais como: como e por quem era realizado o seu curativo? Após o seu acompanhamento e orientações recebidas no SIS, como percebe o seu autocuidado, hoje? A entrevista foi complementada por um diário de campo elaborado por uma das pesquisadoras, que contemplaram os objetivos do estudo. Salienta-se, que os curativos no SIS foram realizados por enfermeiros, sendo que os participantes do estudo foram acompanhados, diariamente, pelo período de 90 dias e ou até completar a cicatrização da lesão. Nos finais de semana e/ou feriados, os curativos foram realizados pelos próprios pacientes, a partir de um protocolo previamente elaborado. Os pacientes recebiam todo o material necessário para a realização dos curativos no domicílio, como: luvas, gaze, soro,micropore e pomada, sendo previamente orientados e treinados pela pesquisadora. No retorno, os curativos foram avaliados quanto ao aspecto, coloração, profundidade e presença e/ou não de exsudato, a fim de conhecer como os portadores promoviam o seu autocuidado. As orientações para a realização do autocuidado estavam relacionados a percepção do paciente a respeito do seu estado de saúde; o conhecimento sobre o aspecto da ferida; a importância conferida à realização diária do curativo; o reconhecimento dos materiais utilizados no curativo; o descarte adequado dos mesmos, além da importância da manutenção da higiene e limpeza durante a técnica. Os dados foram analisados pela técnica de análise de conteúdo, na modalidade análise temática, que consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõe uma comunicação cuja presença ou freqüência signifiquem alguma coisa para o objeto analítico visado, a análise temática constitui-se de três passos: pré-análise, em que é feita uma leitura flutuante nos documentos a serem analisados; exploração do material, que consiste nas etapas de codificação, enumeração, classificação e agregação, em função de regras previamente formuladas; tratamento dos resultados obtidos e interpretação 6. Aos pacientes que aceitaram participar foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O projeto foi aprovado pelo comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Franciscano sob o número CONEP nº1246, CEP/UNIFRA nº 014.2009.2. Os participantes foram identificados com a inicial “F” de Ferida, seguida pelo numero ordinal de identificação. Resultados Vivenciando uma relação de dependência Sabe-se que é inerente ao ser humano a necessidade de independência, no entanto, em muitas situações que envolvem o cotidiano de vida esta é quebrada e o ser humano fica predisposto à disponibilidade de outros. Salienta-se que esses momentos geralmente estão relacionadas às condições de saúde, ou seja, ao processo saúde doença que se instala na vida desses. Nas falas dos pacientes evidenciou-se que a relação de dependência está diretamente ligada a lesão, assim como a carência de informações que esses possuem sobre o cuidado com as mesmas. Destaca-se que este fator é determinante para o êxito ou não do tratamento, pois, muitas vezes, a demora na cicatrização ou uma complicação sistêmica pode ser evidenciada. Esses aspectos são confirmados nas falas a seguir: “Minha filha faz meu curativo....mas as vezes ela não tem tempo, ai fico sujo...”(F11) “Vai uma enfermeira que mora perto da minha casa, mas ela cobra pra fazer... dá despesa... gasto muito com remédios, gaze e pomada.” (F13) “Não sei fazer o curativo sozinho... tem cheiro forte, e não sei como fazer.” (F5) Durante as ações do autocuidado, é essencial a criação de um elo entre o profissional de enfermagem e o paciente, incentivando-o a relatarem seus sentimentos, medos, angústias, para que se possa trabalhar a questão emocional, encorajando-o a superar os desafios, além de incentivá-lo à adesão às atividades relacionadas ao seu curativo. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 9 Promoção da autonomia por meio do autocuidado: intervenções de enfermagem em portadores de úlceras venosas É essencial mostrar ao paciente que ele não está sozinho e que receberá apoio sempre que necessário. “Às vezes eu tento fazer em casa, mas não consigo me abaixar direito... ai o curativo não fica bom.”(F3) A adesão ao tratamento e ao autocuidado, muitas vezes, é influenciada por fatores como: idade, sexo, condições da lesão e de saúde, orientação sócio-cultural, bem como o sistema de atendimento à saúde 5. O enfermeiro é o profissional cuja formação está direcionada para o exercício do cuidado, assim esse desenvolve orientações que auxiliam no processo de viver saudável. Esta abordagem envolve o ser humano na sua especificidade, considerando o meio em que está inserido, buscando assim promover atividades que venham a proporcionar o despertar para o autocuidado 7. “A senhora me ensinou, acho que faço direitinho, né..”.(F 2) Na visão de Orem, a enfermagem estabelece uma relação de ajuda com os pacientes, devido às dificuldades e limitações que estes apresentam ao assumir o autocuidado. Portanto, a saúde quando entendida de maneira integral possibilita que o enfermeiro promova com responsabilidade a educação em saúde 7. Vivenciando a autonomia Apesar das limitações das pessoas que necessitam de cuidados domiciliares, a adequação desses cuidados tornase muito importante para que essas retornem a desenvolver as atividades de seus cotidianos. Para tanto, precisa-se desenvolver tecnologias inovadoras do cuidado que permitam determinar quais atividades estão de acordo com as reais necessidades do paciente e sua família, visando o autocuidado. Evidenciou-se na fala dos entrevistados que a conquista da autonomia possibilitou aos mesmos um sentimento de realização, confiança e segurança, bem como, observou-se uma melhor evolução na cicatrização das feridas. “Agora não preciso mais esperar minha filha voltar do trabalho pra trocar meu curativo, quando ela chega posso conversar com ela...”(F11) Os pacientes na sua maioria retornaram a praticar as atividades que até então eram vivenciadas como limitações, estas impostas por eles próprios, por ocasião de estarem acometidos pela ferida. “Antes eu não saia de casa, pois sempre dependia de alguém para trocar meu curativo, agora pego minha maleta e vou onde quero...” (F7) O autocuidado é a realização de ações dirigidas a si mesmo ou ao ambiente a fim de regular o próprio funcionamento de acordo com seus interesses na vida, funcionamento integrado e bem-estar. As ações de autocuidado constituem a prática de atividades que os indivíduos desempenham de forma deliberada em seu próprio benefício com o propósito de manter a vida, a saúde e o bem estar 4. 10 “A senhora me ensinou, acho que faço direitinho, né..”.(F 2) “Fico muito feliz quando a senhora elogia meu curativo, orgulhoso de mim... “(F1) O ser humano, quando estimulado para as ações de autocuidado, torna-se mais ativo e participativo, pois ao reconhecer suas potencialidades, elas refletem positivamente na autoimagem e autoestima 8. O enfermeiro deve trabalhar com os pacientes fazendo com que adquiram mudanças no estilo de vida, como hábitos alimentares saudáveis e a realização de exercícios físicos objetivando primordialmente a prevenção e controle da doença. A teoria geral de Orem proporciona a visão do fenômeno da enfermagem permitindo que o enfermeiro, juntamente com o indivíduo implementando ações de autocuidado adaptadas de acordo com as suas necessidades promovendo o exercício do autocuidado 7. “Pensei que não ia conseguir no começo me enrolava toda, mas agora já aprendi...” (F8). Orem conceitua enfermagem como um serviço humano para a ajuda de pessoas na obtenção e recuperação de habilidades e declara que os aspectos físicos, psicológicos, interpessoais e sociais da saúde são inseparáveis no indivíduo 9. Conclusão A prática educativa é uma contribuição de tornar o autocuidado uma realidade, na intenção de diminuir riscos de desenvolver uma complicação de lesão, repercutindo na autonomia e no bem estar. Este estudo ressaltou a importância do desempenho do enfermeiro ao atuar no cuidado, na recuperação e na promoção de reintegrar o paciente no meio social, no convívio familiar e laboral. Por meio das falas dos participantes, percebeu-se a satisfação e bem estar na realização do autocuidado com suas lesões. O desprendimento das relações de dependência em relação, tanto a nível de família quanto as Instituições de saúde. Observou-se também que os curativos diários não eram mais empecilho ou motivo para os pacientes ausentaremse de sua vida social, do convívio com familiares e amigos. A satisfação e conseqüentemente diminuição do estresse também contribuíram para acelerar o processo cicatricial da lesão. Cabe ressaltar que não basta apenas a formulação de um plano de cuidados, é necessária a avaliação constante, reformulação e adaptação às necessidades dos sujeitos desse plano. As orientações devem ser contínuas, e os profissionais envolvidos com a educação em saúde precisam estar constantemente buscando novas alternativas que perpassem o conhecimento da prática. Os enfermeiros, através de um plano de cuidados fundamentado em princípios científicos e adaptado às necessidades de cada paciente, podem auxiliar o processo de aprendizagem do autocuidado, contribuindo para manutenção e preservação de sua autonomia e independência. Considera-se que os objetivos do estudo foram alcançados, mas tem-se clareza de que este não esgota a REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Lucio, D. B. M.; Backes, D.S.; Martins, E. S. R.; Moura, L. N.; Costenaro, R. G. S.; Rangel, R. F.; Plácido, S. problemática, pois ainda há muito que se investigar em relação ao autocuidado, principalmente em pacientes portadores de feridas crônicas. dado de si mesmo e o conceito de autocuidado na enfermagem. Texto Contexto Enfermagem. 2006; 15:152-7. 5. Fialho AVM, Pagliuca LMF, Soares E. Adequação da teoria do déficit de autocuidado no cuidado domiciliar à luz do modelo de Barnum. Rev Latino-am Enferma- Referências gem 2002; 10(5):715-20. 1. Desidério VL, Lopes RGA, Dadalti P. Estudo evolutivo de úlceras venosas e mal 6. Minayo MC. de S. Pesquisa social: teoria método e criatividade. 16ª ed. Petró- perfurante plantar após tratamento tópico com a associação de sulfadiazina de polis: Vozes, 2000. prata e nitrato de cério <http://www.sbacvrj.com.br/”> SBACV-RJ – 2003. 7. Diógenes MAR, Pagliuca LMF. Teoria do autocuidado: análise crítica da utilidade 2. Mandelbaum SH, Di Santis ÉP, Mandelbaum MHSA. Cicatrização: conceitos atu- na prática da enfermeira. Rev Gaúcha Enfermagem. 2003; 24(3):286-93. ais e recursos auxiliares - Parte I *Educação Médica Continuada. Anais Bras Derma- 8. Lessmann JC, Conto F, Ramos G, Borenstein MS, Meirelles BHS. Atuação da tol. 2003;78(4):393-410. enfermagem no autocuidado e reabilitação de pacientes que sofreram Acidente 3. Ferreira AF, Bogamil DDD, Tormena PC. O enfermeiro e o tratamento de feridas: Vascular Encefálico. Rev Bras Enfermagem. 2011; 64(1):198-202. em busca da autonomia do cuidado. Arq Ciências Saúde. 2008; (3): 105-9. 9. Santos I, SaratII CNF- Modalidades de aplicação da teoria do autocuidado de 4. Bub MBC, Medrano C, Silva CD, Wink S, Liss PE, Santos EKA. A noção de cui- Orem em comunicações científicas.Rev Enfermagem UERJ. 2008;16(3):313-8. NOTA * ** Enfermeira. Mestre em Educação. Docente do Centro Universitário Franciscano (Unifra). Enfª Assistencial no PA-PMSM. E-mail: [email protected] Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Empreendedorismo Social da Enfermagem e Saúde (GEPESES) - E-mail: [email protected] *** Enfermeira. Mestre em Nanociências. Docente do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Membro do Líder do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Saúde-GIPES E-mail: [email protected] **** Acadêmica de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). - E-mail: [email protected] ***** Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do Curso de Enfermagem Centro Universitário Franciscano – UNIFRA. Líder do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Saúde-GIPES. Enfª Assistencial na UTIRN-HUSM. - E-mail: [email protected] Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). - E-mail: [email protected] ****** ******* Acadêmica de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). - E-mail: [email protected] REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 11 Artigo Original Estudo transversal para identificação do conhecimento de enfermeiros sobre prevenção, estadiamento e avaliação de úlceras por pressão Cross-sectional study to identify the knowledge of nurses on prevention, staging and assessment of pressure sores * ** ** ** *** Stéfanni Cerboncini Reina Marta Rocha Barbosa Raoni Moraes Samira Guelli Viviane Fernandes de Carvalho RESUMO Introdução: Úlceras por pressão (UP) são um dos mais importantes problemas para profissionais e serviços de saúde. Pieper & Mott desenvolveram o “Pressure Ulcer Knowledge Test” e Caliri et al o adaptaram para língua portuguesa.O teste traduzido foi utilizado no presente estudo. Objetivo: Caracterizar o conhecimento dos enfermeiros em relação às UP. Método: Estudo realizado com 42 enfermeiros. Os testes contam com 46 questões, distribuídas em prevenção (32), avaliação (7) e classificação (7) foram entregues e recolhidos no mesmo dia. Adicionadas questões referentes à idade, tempo de formação, realização de especialização e cursos de reciclagem. A significância foi considerada para valores de p < 0,05. Resultados: A média de questões corretas, erradas e não sei foi de 32,2±5,0, 10,5±3,7, 3,2±2,9, respectivamente. Houve correlação entre idade e acertos (p = 0,038), questões corretas e especialização (p = 0,014). Discussão: Identificamos déficit de conhecimento por parte dos enfermeiros sobre UP e sugerimos programas educacionais de atualização. Falhas conceituais foram identificadas. Os cursos de reciclagem oferecidos não suprem a carência de informações atualizadas e adequados para se prestar assistência de enfermagem com qualidade. Descritores: Úlcera de pressão, questionários, enfermeiros. SUMMARY Introduction: Pressure sores (PS) are important problems for professionals and health care services. The majority of those ulcers can be prevented using correct methods. Pieper and Mott developed the “Pressure ulcer knowledge test”, adapted by Caliri et al for Portuguese language and used in this study. Objective: To determine the knowledge of nurses about PS. Method: Questionnaire was answered by 42 nurses working in a terciary hospital. The tests consist of 46 questions, separated on prevention (32), evaluation (7) and classification (7) were given and taken on the same day. Added age, time elap- 12 sed since graduation, specialization and about recycling course. Statistical studies were considered significant if p < 0.05. Results: Average number of correct answers was 32.2+5.0, 10.5+3.7, and I do not know, 3.2+2.9. There was statistical significance between age and correct answers (p = 0.038) and correct answers and specialization (p = 0.014). Discussion: We identified a lack of knowledge on the part of nurses on UP and suggest educational programs update. Conceptual flaws were identified. The courses offered do not meet the lack of updated information and to provide adequate nursing care quality. Key words: Pressure ulcer, questionnaires, nurses. Introdução As úlceras por pressão (UP) em pacientes hospitalizados têm sido apresentadas como um indicador de qualidade da assistência dos serviços prestados nas instituições de saúde. Há consenso entre estudiosos de que a maior parte dessas úlceras poderia ser evitada com a adoção de medidas adequadas de educação e prevenção dirigida aos profissionais de saúde, pacientes e cuidadores 1. A necessidade de conhecimento técnico-científico acerca das úlceras por pressão é destacada por vários autores como sendo de suma importância para o cuidado integralizado ao paciente, com o intuito de promover um maior desenvolvimento, em termos de qualidade assistencial dos profissionais, que, freqüentemente, baseiam suas práticas em senso comum e não seguem nenhum tipo de protocolo hospitalar para o cuidado efetivo desses pacientes 2,3,4. A incorporação de novos conceitos não ocorrerá pela simples propagação e disseminação de resultados de pesquisas entre os profissionais de saúde. O processo de incorporação dos achados de pesquisas científicas na prática é complexo, pois deve influenciar o comportamento de múltiplos profissionais, que precisam ter suas concepções muito bem fundamentadas para que possam abandonar antigas condutas não fundamentadas5. Há um estudo 6 que propõe o uso de intervenções baseadas em pesquisas para melhorar a qualidade da assistência. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Reina, S. C.; Barbosa, M. R.; Moraes, R.; Guelli, S.; Carvalho, V. F. de Na literatura internacional e nacional, pesquisadores têm investigado o nível de conhecimento e a situação da prática clínica de enfermeiros e outros profissionais da saúde relacionados à prevenção e ao tratamento de úlcera por pressão. Nos Estados Unidos, Pieper e Mott em 1995 avaliariam o conhecimento de 228 enfermeiros sobre métodos de prevenção e classificação das UP. Este conhecimento foi estudado com o desenvolvimento de um teste construído a partir das recomendações feitas pela Agency fot Health Care Policy and Research (AHCPR). Os achados mostraram déficit médiod e 71,1% e que apenas 10% dos enfermeiros envolvidos na pesquisa sabiam das diretrizes estabelecidas no documento da AHCPR 7. De acordo com Sinclair e seus colaboradores 8 canadenses em 2004, por meio do teste desenvolvido por Pieper e Mott, aplicado antes e depois da realização de workshops educacionais, os enfermeiros apresentaram melhor conhecimento sobre medidas de prevenção e tratamento de UP. Houve uma investigação referente ao conhecimento e a prática de enfermeiros de duas unidades hospitalares e Russel 9 identificou falhas no conhecimento técnico–científico destes profissionais já no ano de 1996. Optou por recomendar programas educacionais de atualização para os profissionais estudados, tentando focar as maiores dificuldades mostradas por eles. Em outra pesquisa 10, os autores conseguem comprovar, por meio de metodologia primorosa, o impacto positivo dos programas de educação profissional quando aplicados a determinados grupos de enfermeiros com diferentes características e sob diversas formas de aplicação. No Brasil, investigações sobre esse assunto até o momento, foram conduzidas com alunos de graduação em enfermagem 11 , utilizando o teste proposto por Pieper e Mott adaptado para o português. O resultado encontrado entre os acadêmicos foi de déficit médio de 67,7%. Aqueles alunos que buscaram outras informações fora dos bancos da universidade mostraram pior nível de conhecimento. Desta maneira, ao estudar sobre o tema em questão, observa – se que os trabalhos e as publicações brasileiras nesta área são escassas, o que dificulta a atualização dos profissionais, os quais não encontram disponíveis muitos trabalhos que mostrem a realidade desta problemática de forma a facilitar as atividades assistenciais privativas da Enfermagem. De acordo com o cenário apresentado, julgamos pertinente a realização desta investigação a partir da seguinte pergunta de pesquisa: 1 – Qual o nível de conhecimento dos enfermeiros de diferentes unidades de terapia intensiva de um hospital escola de alta complexidade no município de São Paulo sobre prevenção, estadiamento e avaliação de úlceras por pressão? Objetivo Identificar o conhecimento dos enfermeiros de diferentes unidades de terapia intensiva de um hospital escola de alta complexidade no município de São Paulo sobre prevenção, estadiamento e avaliação de úlceras por pressão. Método 3.1 – Delineamento do estudo Foi realizado um estudo de caráter descritivo-exploratório com análise quantitativa dos dados, os quais foram coletados, utilizando-se do instrumento desenvolvido por Pieper e Mott validado para língua portuguesa e utilizado em outra pesquisa anteriormente. 3.2 – Considerações éticas O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa (Cappesq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sob o número de processo: 0223/08. Individualmente os sujeitos da investigação foram abordados pela pesquisadora executante e após explicação sobre o objetivo da pesquisa, forma de coleta de dados o indivíduo mais uma vez era convidado a participar. Aproveitando o momento para garantir-lhe segurança sobre o anonimato e entrega do termo de consentimento livre e esclarecido. 3.3 – Instrumentos utilizados para coleta de dados O instrumento é composto de 46 referentes com informações sobre prevenção (32 questões), avaliação (7 questões) e classificação da UP (7 questões). Para cada uma das afirmações o participante selecionou uma resposta considerando as opções: verdadeiro, falso ou não sei. O escore total foi obtido pela soma dos acertos no teste. As respostas erradas foram computadas como erros e as respondidas como não sei foram contabilizadas à parte, ao contrário do estudo original, pois os autores entenderam que esta diferenciação pode fornecer informações mais concretas sobre as questões específicas que os participantes realmente não tinham conhecimento. Foram ainda adicionadas questões referentes à realização de cursos de reciclagem, cursos de especialização, tempo de formação e idade. 3.4 – Coleta de dados Os questionários foram entregues, juntamente ao termo de consentimento livre e esclarecido, nas unidades aos enfermeiros e recolhidos logo após o preenchimento pelo mesmo pesquisador. O período estabelecido para coleta de dados entre os meses de julho a setembro de 2012. Os critérios de inclusão exigidos foram: consentimento para participação da pesquisa e o critério de exclusão foi a não devolução do questionário no mesmo dia da entrega do teste. 3.5 – Tratamento estatístico As características da amostra foram resumidas através da freqüência absoluta e relativa no caso de variáveis categóricas e da média, desvio padrão, valor mínimo, máximo e intervalo de confiança, no caso de variáveis numéricas. A comparação entre as respostas e as características dos entrevistados foi avaliada pelo teste de Qui-quadrado e adotamos como significância estatística níveis de p < 0,05. Todas as análises foram realizadas com a utilização do software Minitab, versão 14.1. Resultados Foram respondidos 42 questionários, sendo os participantes das seguintes áreas: UTI Clínica Médica, UTI Nefrologia, UTI Cirurgia Vascular, UTI Queimados, UTI Trauma, UTI Neurologia e UTI Geriatria. Os enfermeiros avaliados são provenientes das seguintes unidades, conforme apresentado na tabela 1: REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 13 Estudo transversal para identificação do conhecimento de enfermeiros sobre prevenção, estadiamento e avaliação de úlceras por pressão Tabela 1 - Distribuição dos dados, de acordo com a unidade de origem dos entrevistados – São Paulo, SP – 2013. Unidade N Idade Questões Corretas (%) ≤ 40 anos > 40 anos % ≤ 70% de acertos 41,7% 58,3% 75% 25% 100% 100% UTI Clínica médica 10 23,8 > 70% de acertos UTI Nefrologia 7 16,7 TOTAL UTI Cir. Vascular 6 14,3 UTI Queimados 6 14,3 UTI Trauma 6 14,3 UTI Neurológica 5 11,9 UTI Geriatria 2 4,8 TOTAL 42 100 Teste de qui-quadrado: p=0, 038 Observa- se na tabela 5 a relação da porcentagem de questões corretas com a realização de curso de especialização. A maioria, ou seja, 94,1% dos entrevistados que acertaram mais do que 70% do questionário realizaram curso de especialização: O número médio de respostas corretas foi de 31,5 questões, variando de 23 até 42 questões corretas, analisado na tabela a seguir: Tabela 5 - Distribuição da porcentagem de enfermeiros com curso de especialização de acordo a porcentagem de questões corretas – São Paulo, SP – 2013. Especialização Tabela 2 - Número de respostas corretas, total e por categorias (prevenção, estadiamento da úlcera, avaliação da ferida) – São Paulo, SP – 2013. Respostas corretas N m é - d.p. dia m í - mán i - ximo mo Total (46 itens) 42 31,5 4,5 23 42 Prevenção (32 itens) 42 21,6 3,0 15 29 Estadiamento (7 itens) 42 4,6 1,6 0 7 Avaliação da ferida (7 itens) 42 5,3 1,2 2 7 A tabela 3 apresenta a porcentagem de respostas corretas distribuídas por prevenção, estadiamento e avaliação das úlceras por pressão: Tabela 3 - Distribuição da % de respostas corretas, por total e categorias – São Paulo, SP – 2013. Respostas corretas (%) N média d.p. mínimo máximo Total (46 itens) 42 68,4 9,8 50,0 91,3 Prevenção (32 itens) 42 67,5 9,4 46,9 90,6 Estadiamento (7 itens) 42 65,6 23,2 0 100 Avaliação da ferida (7 itens) 42 75,5 17,6 28,6 100 A tabela 4 mostra a idade dos entrevistados relacionando-as com a porcentagem de questões corretas. Pode-se observar que os enfermeiros que acertaram maior número de questões apresentam idade menor ou igual a 40 anos: Tabela 4 - Distribuição das idades dos entrevistados, de acordo com a porcentagem de questões corretas – São Paulo, SP – 2013. 14 Questões corretas (%) Não Sim ≤ 70% de acertos 40% 60% > 70% de acertos 5,9% 94,1% TOTAL 100% 100% Teste de qui-quadrado: p=0, 014 Discussão Neste contexto para o desenvolvimento de um protocolo para o cuidado clínico, além de pesquisas que forneçam bases científicas, torna-se necessária a utilização de diferentes estratégias para que o conhecimento se estenda a todos os envolvidos com o cuidado das úlceras por pressão, assim como o elucidado em um estudo recente 8. O presente estudo mostrou que os enfermeiros mais jovens obtiveram maior índice de acerto, 75% dos participantes com idade igual ou inferior a 40 anos acertaram mais de 70% das questões e, que, no entanto, o tempo de formação não foi estatisticamente significante. No entanto, alguns pesquisadores 12 , em seu estudo, relacionaram significativamente o número de acertos com o tempo de experiência. Outros autores estudados10 também puderam correlacionar esta mesma característica, comprovando que, os enfermeiros que tinham mais de cinco anos de experiência na área de UTI, possuíam menos conhecimento do que os enfermeiros recémformados, os quais obtiveram melhor desempenho nos testes realizados. Outro estudo 9 também mostrou que os enfermeiros novatos possuíam melhor conhecimento de base, além de mostrar que cerca de 70% dos enfermeiros participantes de seu estudo não consideravam suficiente seu conhecimento sobre o tema, afirmando que recebem uma educação inadequada sobre o assunto durante sua formação. Em adição, pesquisa relacionada 14 mostrou que a idéia da realização de um programa educacional deixou os enfermeiros estudados bastante animados, pois reconheciam a necessidade da atualização profissional. Os autores conseguiram também levantar os temas com maiores necessidades de conhecimento REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Reina, S. C.; Barbosa, M. R.; Moraes, R.; Guelli, S.; Carvalho, V. F. de juntamente com os profissionais, de forma a criar um programa altamente eficaz. A investigação do conhecimento de 83 alunos de graduação e o impacto da participação em atividades extracurriculares nos escores obtidos em um teste de conhecimento. Os alunos responderam de forma correta 67,7% dos itens do teste, sendo que, aqueles que participaram de atividades extracurriculares e usaram um site específico sobre o assunto na Internet obtiveram escores melhores, no entanto, os alunos que se restringiram a atividades de leitura de artigos e livros-texto não obtiveram escores mais elevados do que aqueles que não consultaram essas fontes de informação. Verificou também que há uma importância pequena sobre o tema nas universidades, além de pouca vivência prática dos alunos no cuidado deste tipo de paciente 11. No mesmo estudo ainda 11, a classe de questões com maior índice de erros foi a de prevenção das UP. Todavia, em nosso estudo, a classe de questões mais erradas foi a de estadiamento (média de 27,2% de erros), sendo seguida pela classe de prevenção (média de 25,3% de erros) e, sendo a classe com melhor índice de acertos, a de avaliação da ferida (média de 67,5% de acertos), assim como em outra pesquisa realizada 8 que mostra que a classe com melhor índice de acertos também foi a de prevenção da ferida, com 67% de acertos, valor muito semelhante ao observado a este estudo. Este estudo mostrou que o número de acertos não está relacionado à realização de cursos de reciclagem, fato este que sustenta a tese que os cursos de reciclagem não estão conseguindo corrigir o déficit de conhecimento apresentado pelos profissionais e, que, precisam ser revistos. No entanto, a porcentagem de acertos está relacionada à realização de cursos de especialização15, sejam eles da área que forem, mostrando que 94,1% dos profissionais que realizaram algum tipo de curso de especialização acertaram mais de 70% das respostas do questionário, com teste de significância de qui – quadrado com valor de 0, 014. A realização dos cursos auxilia no conhecimento sobre o tema, assim como dizem alguns autores 12 que reforçam esta tese, no entanto, acrescentam ainda que o índice de acertos melhore ainda mais quando relacionado à realização de curso de especialização voltado para a área de tratamento de feridas, e dizem ainda que os enfermeiros especialistas sentem-se mais confiantes no momento da prática do que aqueles que não são. Exatamente neste ponto, encontramos uma das limitações deste trabalho, o fato de a maioria dos entrevistados não ter respondido adequadamente à pergunta aberta referente ao curso de especialização realizado, fez com que não conseguíssemos rastrear a quantidade exata da quantidade de profissionais que eram especialistas na área de feridas e, portanto, realizar tal comparação. Neste caso, só pudemos relacionar com o fato de os participantes terem realizado curso de especialização e pudemos mostrar que os cursos são bons e necessários para a atualização constante, eficaz e eficiente dos profissionais, seja ela em qual área for. Conclusão O presente estudo mostra que o conhecimento dos enfermeiros avaliados apresenta-se deficiente quando diferentes categorias relacionadas ao cuidado das UP. Percebe-se que o déficit de conhecimento se concentra nas áreas de prevenção e estadiamento das UP. Sugerimos que os cursos de graduação, especialização, aperfeiçoamento e atualização profissional possam ser revistos, a partir deste estudo, de forma a auxiliar e melhor direcioná-los a fim de atingir às necessidades apresentadas pelos profissionais estudados e suprir a carência de informações levantada, no que tange ao conhecimento específico detalhado, levando a uma intervenção educacional realmente eficaz. Referências 1 Bergstrom N, Allman RM, Carlson CE. 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Incidência de úlcera de pressão e fatores de risco relacionados em pacientes de um centro de terapia intensiva [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo;2003. 6 Ketefian S. Issues in the application of research to practice. Rev Lat Am Enferm 2001;9:7-12. 7 Pieper B, Mott M. Nurse’s knowledge of pressure ulcer prevention, stating and description. Advances Wound Care 1995;8:34-48. 8 Sinclair L, Berwiczonck H, Thurston N. Evaluation of an evidence-based education program for pressure ulcer prevention. J Wound, Ostomy Continence Nursing 2004;31:4350. 9 Russel L. Knowledge and practice in pressure area care. Prof Nurse 1996;11:301-306. 10 Tweed C, Tweed M. Intensive care nurse’s knowledge of pressure ulcers: development of an assessment tool and effect of an educational program. Am J Crit. Care. 2008. Jul; 17(4): 338-46. 11 Caliri MHL, Miyazaki MY, Piper B. 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Docente da Universidade Guarulhos. Endereço para correspondência: Viviane Fernandes de Carvalho - Universidade Guarulhos - Praça Tereza Cristina, nº 1 – Bairro: Centro - Cep: 01246-903, Guarulhos, SP, Brasil. - Email: [email protected] ou [email protected] REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 15 Revisão Evidências científicas sobre fatores de risco e sistemas de classificação das skin tears Scientific evidences on risk factors and classification systems of skin tears * ** *** **** Érick Igor dos Santos Antonio Marcos Tosoli Gomes Eliane Augusta da Silveira Barreto Raquel de Souza Ramos Resumo Objetivo: Este estudo teve por objetivo caracterizar as evidências científicas dos últimos dez anos sobre os fatores de risco e os sistemas de classificação das lesões do tipo skin tears. Método: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura de artigos completos publicados entre 2002 a 2013 nas bases de dados LILACS, SciELO, BDENF, MEDLINE, Scopus, ScienceDirect e PUBMED acessáveis com os descritores “pele” and “fricção” and “enfermagem” em português, inglês ou espanhol ou com a palavra-chave “skin tears”. Resultados: Foram contabilizados 52 fatores de risco. Entre outros, podem ser citados a desnutrição, as alterações metabólicas, os distúrbios circulatórios, uso de agentes antineoplásicos ou radioterapia, skin tears prévia e agitação psicomotora. O exame instrumentalizado pelos sistemas Payne-Martin e Skin Tear Classification System se mostra como tendência. Conclusão: Conclui-se que a prevenção deste tipo de lesão precisa ser uma preocupação prioritária na prática clínica do enfermeiro. Descritores: Ferimentos e lesões; Fricção; Pele; Cuidados de Enfermagem; Enfermeiras. SUMMARY Objective: This study aimed to characterize the scientific evidence of the last ten years on skin tears. Method: It is an integrative literature review of full articles published between, 2002-2013 in the databases: LILACS, SciELO, BDENF, MEDLINE, Scopus, ScienceDirect and PubMed accessible with the keywords “skin” and “friction” and “nursing” in Portuguese, English or Spanish or with the keyword “skin tears”. Results: There were 52 different risk factors identified for skin tears. The instrumentalized examination by classification systems is shown as a trend. Coverage with their own skin flap and /or products based on octylcyanoacrylate and silicones have scientific evidence with better results. Prevention consists in promoting a safe environment with multidisciplinary work and health education. Conclusion: It has been concluded that this necessary to prevent infection, trauma of any intensity, pain and bleeding. Descriptors: Wounds and injuries; Friction; Skin; Nursing Care; Nurses. 16 Introdução As skin tears podem ser conceituadas como feridas oriundas de episódio(s) traumático(s) por fricção, contusão ou cisalhamento – isoladamente ou em conjunto -, nos quais há retração, atrito ou choque entre a pele do indivíduo e a superfície do leito ou de objetos ao redor. Neste tipo de lesão há disjunção entre derme e epiderme - feridas de espessura parcial – ou entre as duas primeiras camadas e a hipoderme – ferida de espessura total -. As topografias corporais nas quais são mais facilmente identificadas as skin tears são o dorso das mãos, os braços, os cotovelos e as pernas de pessoas idosas ou muito jovens, como neonatos. São lesões tipicamente dolorosas e produtoras de exsudato serosanguinolento intenso. Muito embora os números brasileiros deste tipo de lesão permaneçam desconhecidos, sabe-se que sua prevalência é maior do que as úlceras por pressão e as queimaduras, e que há tendência de aumento no número de casos para os próximos anos1-10. Apesar de se trata de um tipo de lesão muito vivido e pouco investigado na prática de cuidado dos enfermeiros, uma pesquisa do tipo survey internacional subsidiou um consenso entre especialistas de diversos países. Este documento, que foi publicado em 2011, fornece a definição mais atualizada das skin tears, que é empregada como base teórica neste estudo8. A nomenclatura adotada na pesquisa em tela será a proveniente do idioma original, o inglês. Skin significa pele e tear rasgo ou rompimento no referido idioma. Logo, muito embora as lesões aqui referidas já tenham sido abordadas sob a denominação de lesões por fricção, serão abordadas enquanto skin tears diante da limitação de sua tradução para o português, que inclui apenas a fricção em detrimento do cisalhamento (shear) e da contusão (blunt force trauma) como etiologias que também estão relacionadas à ocorrência deste tipo de lesão8. A partir desta problemática, definiu-se como objeto de estudo, os recentes registros científicos nacionais e internacionais sobre os fatores de risco e os sistemas de classificação das skin tears e, como objetivo, caracterizar as evidências científicas dos últimos dez anos sobre os fatores de risco e os sistemas de classificação das lesões do tipo skin tears. O objeto se mostra relevante pelo aumento em potencial da incidência deste tipo de lesão e pelo déficit de produções científicas2,8, principalmente brasileiras3 que abordem os sistemas de classificação que poderiam servir subsidiar e instrumentalizar a avaliação realizada por enfermeiros. Método Para alcance do objetivo proposto, foi desenvolvido um estudo de revisão integrativa da literatura11, método de investigação REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Santos, É. I. dos; Gomes, A. M. T.; Barreto, E. A. da S.; Ramos, R. de S. que viabilizou a busca, avaliação crítica e a síntese das evidências disponíveis sobre um determinado tema. Esta revisão foi realizada a partir da seguinte questão de pesquisa quais as evidências científicas dos últimos dez anos sobre as lesões do tipo skin tears? Foram seguidas as seis etapas inerentes a este método, quais sejam o estabelecimento da questão de pesquisa, a busca na literatura, categorização dos estudos, avaliação dos estudos incluídos na revisão, interpretação dos resultados e apresentação da revisão. Os critérios de inclusão adotados para orientar a busca e seleção das publicações são: a) artigos de periódicos científicos nacionais e internacionais que abordem a temática skin tears em suas múltiplas vertentes e contextos; b) publicados em língua portuguesa, inglesa ou espanhola; c) publicados entre os períodos de 2002 a 2013; c) indexados em pelo menos uma das seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Medical Literature Analisys and Retrieval System Online (MEDLINE), Elsevier SciVerse Scopus, Elsevier SciVerse ScienceDirect Journals ou National Library of Medicine (PUBMED); c) localizáveis por meio da palavrachave “skin tears” ou da combinação dos seguintes descritores cadastrados no Portal de Descritores das Ciências da Saúde (DeCS): “skin” and “friction” and “nursing”, “pele” and “fricção” and “enfermagem” ou “piel” and “fricción” and “enfermería”. Os critérios de exclusão foram: a) publicações que não se encontravam disponíveis em texto completo; c) publicações online cujo link apresentava erro mediante a tentativa de acessá-lo. Para inclusão dos estudos, realizou-se a leitura do título e do resumo de cada trabalho para confirmar sua aderência ao objeto e à questão norteadora da revisão. Posteriormente os textos foram lidos na íntegra para reduzir o risco de perda de publicações relevantes ao estudo. A coleta de dados se deu entre os meses de janeiro e abril de 2013 e contou com o apoio de um instrumento de coleta de dados elaborado no software Microsoft Office Excel 2010. Resultados Foram encontrados 13.620 registros ao todo, que, ao serem submetidos aos critérios de inclusão e de exclusão estabelecidos, tornaram-se apenas 15. As bases de dados Elsevier SciVerse Science Direct Journals e Elsevier SciVerse Scopus possuem o maior número de produções encontradas. Por outro lado, no que se refere às produções selecionadas por atenderem aos critérios metodológicos desta pesquisa, as bases que possuíram maior destaque foram a MEDLINE e, ainda, a Elsevier SciVerse ScienceDirect Journals. Em face ao número de estudos encontrados e selecionados por termo de busca, percebe-se que a combinação dos descritores não foi tão efetiva para o rastreamento das publicações quanto ao unitermo “skin tears” (Quadro 1). O baixo número de produções nas bases LILACS, SciELO e BDENF destacam a incipiência da disponibilidade de produções científicas sobre o tema2,3,8 em algumas das maiores bases de dados da América Latina. Quadro 1 – Quantitativo (n) dos artigos encontrados (E) e selecionados (S) após revisão integrativa por base de dados. Rio de Janeiro - RJ, 2013. DESCRITORES/ PALAVRA-CHAVE “skin” and “friction” and “nursing”, BASE DE DADOS “pele” and “fricção” and “enfermagem”, “piel” and “fricción” and “enfermería”, “skin tears” E S LILACS 5 1 SciELO 5 0 BDENF 0 0 MEDLINE 837 5 Elsevier SciVerse Scopus 1417 4 Elsevier SciVerse Science Direct Journals 11201 5 140 0 13605 15 PUBMED SOMATÓRIO POR TERMO O Quadro 2 revela a distribuição dos artigos por variável de análise. Nele pode-se averiguar que, à exceção do Brasil com apenas um artigo, outros países se destacaram por maior número de produção sobre skin tears, como os Estados Unidos da América (EUA), com sete artigos, a Austrália com dois, o Reino Unido com dois, o Canadá e a Nova Zelândia com um cada e outro artigo que reuniu autores de diferentes países. Quanto ao ano de publicação, o Quadro 2 revela latência de aumento do número de produções ainda em 2013, haja vista que este estudo foi realizado no segundo trimestre do referido ano e já localizou o mesmo número de estudos publicados em 2012. O ano em que mais foram publicados estudos sobre skin tears foi o de 2011, com quatro artigos, seguido de 2009 com três artigos, e 2012 e 2013 empatados com dois artigos cada. Nos demais anos foram publicados um artigo cada. Entre os periódicos de maior destaque na área conta-se com o The British Journal of Community Nursing, com dois artigos publicados no mesmo volume. Quadro 2 – Distribuição dos artigos encontrados após revisão integrativa de literatura por variável de análise. Rio de Janeiro - RJ, 2013. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 17 Evidências científicas sobre fatores de risco e sistemas de classificação das skin tears Nº Descritores/ Periódico/ Tipo/ País Ano Abordagem do estudo Amaral AFS, Pulido KCS, Santos VLCG / Brasil Rev Esc Enferm USP / 2012 Epidemio-lógico e exploratório LILACS “skin tears” Kazandjiean DG, Okulicz JF/EUA Am J Med / 2006 Estudo de caso Elsevier SciVerse ScienceDirect Journals “skin tears” Milne CT, Corbett LQ/ EUA Geriatr Nurs / 2005 Prospectivo Elsevier SciVerse ScienceDirect Journals “skin tears” Cuzzell J / EUA Dermatol Nurs / 2002 Opinião Elsevier SciVerse ScienceDirect Journals “skin tears” Benbow M / Reino Unido Br J Community Nurs / 2009 Opinião Elsevier SciVerse ScienceDirect Journals “skin tears” Ousey K / Reino Unido Br J Community Nurs / 2009 Opinião Elsevier SciVerse ScienceDirect Journals “skin tears” Kotowski SE, Davis KG, Wiggermann N, Williamson R / EUA Hum Factors / 2013 Estudo clinico-laboratorial quantitativo Elsevier SciVerse Scopus “skin” and “friction” and “nursing” Kennedy P, Kerse N / Nova Zelândia J Am Geriatr Soc / 2011 Estudo epidemioló-gico MEDLINE “skin tears” 9 Lopez V, Dunk AM, Parke J, Larkin D, Trudinger M, Stuart M / Austrália Int J Evid Based Healthc / 2011 Survey MEDLINE “skin tears” 10 Xu XBS, Lau K, Taira BR, Singer AJ / EUA Am J Emerg Med / 2009 Revisão MEDLINE “skin tears” 11 Holmes RF, Davidson MW, Thompson BJ, Kelechi TJ / EUA Home Healthc Nurse / 2013 Revisão MEDLINE “skin tears” 12 LeBlanc K, Baranoski S / Diversos países Adv Skin Wound Care / 2011 Painel de Consenso MEDLINE “skin tears” 13 Bajwa AA, Arasi L, Canabal JM, Kramer DJ / EUA J Intensive Care Med / 2010 Estudo clínico retrospecti-vo Elsevier SciVerse Scopus “skin tears” 14 Foster RS, Chan J / Austrália Aust J Dermatol / 2011 Estudo de caso Elsevier SciVerse Scopus “skin tears” 15 Maida V, Ennis M, Corban J / Canadá Int Wound J / 2012 Estudo prospectivo Elsevier SciVerse Scopus “skin tears” 1 2 3 4 5 6 7 8 Discussão Foram contabilizados, ao todo, 52 fatores que podem reduzir a habilidade da pele em resistir à fricção, contusão ou ao cisalhamento e, portanto, colocam pacientes em maior risco de skin tears (Quadro 3). Para ilustrar estes fatores, cita-se a ocorrência de traumas nos móveis do domicílio, da instituição de longa permanência ou do hospital, a constante necessidade de transferência do paciente, o uso de cadeira de rodas ou muletas, dependência total e o estado de acamado, a desnutrição, as alterações metabólicas, a anemia, os distúrbios circulatórios, agitação psicomotora ou comportamento violento, uso de agentes antineoplásicos, a radioterapia, a ocorrência 18 Base de dados Autor/ Palavra-chave prévia de skin tears, a obesidade, a redução da sensibilidade protetora, entre outros. Contudo, o principal dos fatores de risco está relacionado ao processo de envelhecimento 1,2,4-7,13 por provocar redução da espessura dérmica, diminuição do aporte sanguíneo para a pele, redução de sua elasticidade, ressecamento, além de maior frouxidão dos gaps entre a epiderme e a derme, que, em conjunto, facilitam a formação do retalho de pele (por avulsão dérmica) após o trauma, principal característica dos tipos primários das skin tears5-7. Quadro 3 – Fatores de risco para a ocorrência de lesões do tipo skin tears 1-14, Rio de Janeiro, -RJ, Brasil.io de Janeiro – RJ. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Santos, É. I. dos; Gomes, A. M. T.; Barreto, E. A. da S.; Ramos, R. de S. 1. Agitação ou comportamento violento 47. Uso de muletas 2. Alterações metabólicas 48. Uso de prednisona 3. Anemia 49. Uso de sabonetes alcalinos 4. Anorexia 50. Uso de aquecedores 5. Baixo nível de consciência 51. Neonatos 6. Caquexia 52. Uso de próteses 7. Condições climáticas 8. Contínua posição prona no leito 9. Dano actínico provocado pela exposição à luz solar 10. Desnutrição 11. Dependência total 12. Desequilíbrio 13. Diabetes mellitus 14. Distúrbios cardíacos ou circulatórios 15. Distúrbios neurológicos 16. Distúrbios pulmonares 17. Estado acamado 18. Estilo de vida/ocupação 19. Excesso de umidade na pele 20. Exposição a alérgenos ou a agentes irritantes 21. Febre ou infecção 22. Hemiplegia ou hemiparesia 23. Incontinência urinária/anal 24. Mobilidade física reduzida 25. Obesidade ou obesidade mórbida 26. Ocorrência de trauma contra a superfície dos móveis 27. Portabilidade de doenças avançadas 28. Púrpura, equimose ou edema em extremidades 29. Redução da sensibilidade protetora 30. Idade superior a 75 anos 31. Risco de quedas 32. Ressecamento da pele 33. Skin tears prévia no mesmo local 34. Tabagismo 35. Transferências recorrentes do paciente 36. Tratamento com radioterapia 37. Uso de alguns analgésicos 38. Uso de alguns antibióticos 39. Uso de alguns anticoagulantes 40. Uso de alguns anti-inflamatórios esteroidais 41. Uso de alguns anti-inflamatórios não-esteroidais 42. Uso de alguns antipsicóticos 43. Uso de alguns medicamentos antineoplásicos 44. Uso de cadeira de rodas 45. Uso de curativos aderentes 46. Uso de imunossupressores Por proporcionarem aumento da fragilidade da pele por redução da espessura dérmica, as desordens de colágeno como a Síndrome de Ehlers-Danlos, a deficiência de prolidase, a osteogênese imperfeita e a epidermólise bolhosa são exemplos de fatores inatos. Por seu turno, a doença reumática, a nutrição desfavorável, o dano actínico provocado pela exposição à luz solar, a idade avançada e o uso prolongado de fármacos como imunossupressores, prednisona, anti-inflamatórios esteroidais e não-esteroidais (AINEs), alguns analgésicos, antigoagulantes, antipsicóticos e antibióticos são exemplos de fatores adquiridos pois há evidências de que eles possam interferir na síntese de colágeno, alterar a resposta inflamatória, provocar fototoxicidade ou fotosensibilidade na pele6-9,13-14. A atrofia da pele e a perda de tecido subcutâneo são alterações físicas oriunda da senilidade, o que confere maior risco à integridade das diferentes camadas que formam a pele 6,7. São complicadores o diabetes mellitus – por levar à imunossupressão – e a ocorrência prévia de skin tears no mesmo local. Este último se deve à redução de força tênsil da área que foi previamente afetada. De modo conjunto, estes dois fatores tendem a retardar a cicatrização das skin tears (8-9,14). Embora, seja mais comumente identificáveis em pessoas idosas, os recém-natos também podem sofrer com as skin tears, haja vista que este tipo de lesão vitimiza pessoas nos extremos de idade(8). É importante frisar que as skin tears podem surgir sem causa aparente ou por razões alheias aos fatores de risco identificados neste estudo, o que torna a sua prevenção nem sempre possível 7-9. Foram encontrados dois sistemas de classificação das skin tears. O mais antigo e, portanto, mais popular, é o sistema Payne-Martin. Este sistema desenvolvido e validado em 1993 admite três níveis de lesão, quais sejam a de categoria 1, a de categoria 2 e a de categoria 3, hierarquizadas de acordo com o grau de perda tecidual. Nas de primeira categoria não há perda tecidual, contudo há descolamento da epiderme da derme e formação do retalho de pele. Nas de segunda categoria há perda tecidual parcial (25 a 75%) e não é possível retornar o retalho de pele para cobrir completamente o leito da ferida. Já a de terceira categoria é caracterizada por perda tecidual maciça (100%) e ausência do retalho de pele 1,3,5-6. O mais recente sistema de classificação se trata do Skin Tear Classification System (STAR), que surgiu em 2007 15, foi revisado em 2010 16 e traduzido para o português em 2011 17. Porém, por se constituir como um sistema ainda novo e com numerosas subdivisões quando comparado ao Payne-Martin, permanece pouco utilizado 9. Além de pontuar instruções sobre os cuidados com a ferida e com a periferida, o sistema oferece cinco classificações possíveis para as skin tears: 1A – Skin tear cujo retalho de pele pode ser realinhado com as margens da ferida sem excesso de tensão e a coloração do retalho ou da pele não se encontram pálida, opaca REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 19 Evidências científicas sobre fatores de risco e sistemas de classificação das skin tears ou escurecida; 1B – A aba de pele pode ser realinhada às margens da ferida principal sem excesso de tensão. Contudo, esta se encontra pálida, opaca ou escurecida; 2A – Skin tear no qual não é possível realinhar o retalho às margens da lesão primária sem haver excesso de tensão, muito embora a coloração da pele ou do retalho não esteja pálida, opaca ou escurecida; 2B – O retalho de pele não pode ser realinhado às margens da lesão original sem que haja tensão excessiva e há alteração de sua coloração e/ou da pele; 3 – Skin tear no qual está ausente o retalho de pele. O retalho quando não se encontra mais viável precisa ser retirado de acordo com a rotina preconizada por cada instituição9. A conjugação da STAR com as de Karnofsky ou a de Perroca e Gaidzinski para a classificação de pacientes tem demonstrado grande potencial, considerando a sua utilidade na avaliação do grau de dependência de idosos hospitalizados 3,18, grupo em potencial para o desenvolvimento de skin tears. Recomenda-se a associação da STAR com a de Braden para que seja possível a mapear o risco da ocorrência de skin tears e de úlceras por pressão3,19. Contudo o desenvolvimento de um instrumento de classificação válido, claro e universalmente aceito se trata de uma dificuldade perene no âmbito da enfermagem 3,8. As skin tears normalmente não resultam em comprometimentos severos ou em riscos à vida do cliente em primeira instância. Porém, se não tratadas apropriadamente, podem originar infecções, desconforto, dor, aumento da estadia nas instituições de saúde, aumento do tempo dispensado a cuidados específicos por profissionais de saúde e alto custo2,9. Por serem lesões frequentes (porém não restritas) às pessoas acima dos 75 anos de idade2,8, muitos idosos não perceberem que uma lesão deste tipo ocorreu até notarem gotas de sangue nas roupas de cama ou serem notificadas disto por cuidadores e/ou familiares9. monitoramento do lócus do cuidado. As produções dos últimos dez anos sobre skin tears apontam que o objetivo básico do cuidado ao paciente é evitar o processo infeccioso, reduzir traumas de qualquer intensidade, controlar a dor e a hemorragia e promover um ambiente terapêutico que seja favorável à cicatrização tão logo (e se) for possível. Este trabalho possui limitações como o reduzido número de produções identificadas, por exemplo. Por outro lado pode contribuir para a realização de assistência de enfermagem melhor embasada cientificamente, além de enfatizar que a prevenção deste tipo de lesão precisa ser uma preocupação prioritária na prática clínica do enfermeiro, sobretudo do enfermeiro especialista. Conclusão Conclui-se que a ocorrência de lesões de pele permanece como um drama comumente enfrentado por pacientes brasileiros de diferentes faixas-etárias, em diferentes processos de adoecimento e nas mais diversas instituições de saúde. Pessoas com lesões de pele vivenciam o sofrer humano em suas múltiplas dimensões, já que a ferida interfere substantivamente em seus aspectos físicos por causar dor, odor, exsudação e desconforto; e em seus aspectos psicossociais, por proporcionar, por vezes, ansiedade, isolamento social, depressão, danos à autoimagem e algum grau de limitação. As skin tears são encontradas, sobretudo, em pessoas nos extremos de idade. Porém os pacientes idosos precisam estar situados em lugar de destaque no pensamento sobre o risco de ocorrência de skin tears em virtude das alterações fisiológicas do envelhecimento. Essas podem se somar a um ou mais dos outros fatores de risco identificados nesta revisão e complexificar as tentativas de prevenção ou tratamento. No tratamento de feridas em pessoas idosas, embora o resultado desejado seja a cicatrização, a lesão pode não corresponder às expectativas por ser produto do comportamento dos múltiplos fatores diretos ou indiretos. A ocorrência das skin tears é útil à reflexão sobre o ambiente terapêutico no qual o paciente se encontra. Nesta linha de pensamento é possível refletir sobre a ocorrência de skin tears enquanto nova indicadora da qualidade do cuidado prestado, pois, teoricamente, quanto mais frequente, menor é a segurança ofertada ao cliente e menor é o nível de 7. Benbow M. Skin tears. Br J Community Nurs 2009;23(1):14-18. 8. LeBlanc K, Baranoski S. Skin tears: State of the science: Consensus state- Referências 1. Lopez V, Dunk AM, Parke J, Larkin D, Trudinger M, Stuart M. Skin tear prevention and management among patients in the acute aged care and rehabilitation units in the Australian Capital Territory: A best practice implementation project. Int J Evid Based Healthc 2011;9:429-34. 2. Maida V, Ennis M, Corban J. Wound outcomes in patients with advanced illness. Int Wound J 2012;9:683-92. 3. Amaral AFS, Pulido KCS, Santos VLCG. Prevalence of skin tears among hospitalized patients with cancer. 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E-mail: [email protected] *** Enfermeira pela Faculdade de Enfermagem Luiza de Marilac. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Professora do curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade Souza Marques e da Universidade Gama Filho (UGF). Rio de Janeiro – RJ, Brasil. E-mail: [email protected]. **** Enfermeira pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestre em Enfermagem pela UERJ. Doutoranda em Enfermagem pela UERJ. Enfermeira do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE). Rio de Janeiro, RJ – Brasil. E-mail: [email protected]. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 21 Revisão O processo de reabilitação do paciente vítima de queimadura: uma revisão de literatura The process of rehabilitation of the patient burn victim: a literature review * Júlia Teixeira Nicolosi ** Viviane Fernandes de Carvalho Resumo Introdução: O objetivo da reabilitação é aperfeiçoar as habilidades do paciente com a finalidade dele retomar a sua vida fazendo com que as sequelas físicas e psicológicas geradas pela lesão da queimadura o afetem o mínimo possível. Objetivo: O objetivo deste estudo foi descrever o papel da equipe multidisciplinar no processo de reabilitação mediante a presença das sequelas físicas, psicológicas e aspectos sociais do paciente vítima de queimadura. Método: Foi realizada uma revisão da literatura nos últimos 15 anos, a pesquisa pela base de dados Medline utilizando as seguintes palavras-chave “queimaduras” e “reabilitação”. Os artigos encontrados foram organizados e classificados em ordem de fornecer intervenções para sequelas físicas e psicológicas / social gerada pela queimadura. Resultados: Como sequelas físicas destacam-se a dificuldade de termorregulação, ossificações heterotópicas, contraturas e cicatrizes hipertróficas, neuropatias crônicas, prurido dentre outras, já como sequelas psicológicas e sociais pode haver a presença de depressão, ansiedade, sentimento de culpa e desemprego. Conclusão: Devido à complexidade desse paciente os programas de reabilitação desses pacientes devem ser conduzidos por uma equipe multidisciplinar com o objetivo de preparar o paciente para retornar às atividades de trabalho, a escola e as atividades da vida diária, com a fim de maximizar a sua independência. Para isso, há a necessidade de conhecimento pela equipe multidisciplinar acerca das sequelas geradas pela queimadura a fim de se evitar disfunções propiciando a esse paciente melhor estado de saúde. Descritores: Queimaduras, Reabilitação, Sequelas. Summary Introduction: The focus of rehabilitation is to improve the patient skills in order to take over your life causing physical and psychological sequelae of injury generated by the burning, affect as little as possible. Objective: The objective of this study was to describe the role of the multidisciplinary team in the rehabilitation process through the physical sequels, psychological and social aspects of patient burn victim. Method: We conducted a literature review in the last 15 years, research by the Medline database using the following key words “burns” and “rehabilitation”. The articles found were organized and categorized in order of providing interventions for physical and psychological sequelae / social generated by burning. Results: As physical sequelae highlight the difficulty of thermoregulation, heterotopic ossification, contractures and hypertrophic scars, chronic neurop- 22 athies, itching among others, have psychological and social consequences as there may be the presence of depression, anxiety, guilt and unemployment Conclusions: Due to the complexity of this patient o Rehabilitation programs should be conducted by a multidisciplinary team aiming to prepare the patient to return to work, school activities and activities of daily life with in order to maximize their independence. For this, there is a need for multidisciplinary knowledge about the consequences generated by burning in order to prevent malfunctions that providing the best patient health. Descriptors: Burns, Rehabilitation, Sequelae. Introdução Os avanços no tratamento do paciente queimado repercutiram na queda da mortalidade. Hoje, a qualidade da assistência a esses pacientes são mensuradas com o retorno da funcionalidade e da aparência, sendo essas as novas metas para o sucesso do tratamento. Neste contexto, o processo de reabilitação vem sendo incorporado nos programas de tratamento dos centros especializados em queimaduras desde o atendimento nas unidades de terapia intensiva até o retorno ambulatorial 1, 2. Houve o desenvolvimento da área de reabilitação com a finalidade de suprir as repercussões geradas pelas queimaduras, como contraturas, perda de massas musculares, ossificações heterotópicas, amputações, dores, neuropatias, fraqueza, prurido e desajustes psicológicos 1, necessitando assim, de um programa multidisciplinar que trabalhe em conjunto com as equipes de cirurgia plástica para melhor atender o paciente 1, 3. Além desses desajustes citados anteriormente, os pacientes também se deparam com problemas sociais, como dificuldades de retornar ao trabalho, desemprego 4, 5 e problemas financeiros 3 . O enfoque da reabilitação é aperfeiçoar as habilidades do paciente com a finalidade dele retomar a sua vida fazendo com que as sequelas físicas e psicológicas geradas pela lesão da queimadura o afetem o mínimo possível 6, 7, 8. Assim, o objetivo desse estudo foi descrever a atuação da equipe multidisciplinar no processo de reabilitação mediante as sequelas físicas, psicológicas e sociais do paciente vítima de queimaduras. Método Foi realizado um levantamento bibliográfico nos últimos 15 anos, mediante pesquisa no banco de dados Medline utilizando as seguintes palavras chaves: “burns” and “rehabilitation”. As publicações encontradas foram organizadas e categorizadas com REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Nicolosi, J. T.; Carvalho, V. F. de a finalidade de suprir as intervenções para as sequelas físicas e psicológicas / sociais geradas pela queimadura. Resultados Atuação da Reabilitação nas Sequelas Físicas O paciente vítima de queimadura pode se deparar com fraqueza e contratura que são decorrentes do alto catabolismo havendo perda de massa muscular. Para o tratamento dessas complicações há a necessidade da intervenção médica com o uso de agentes anabólicos que mantenham a massa muscular e a força, sendo imprescindível uma dieta adequada realizada por uma nutricionista. Durante a reabilitação também há a realização de exercícios (passivos e ativos) visando o fortalecimento da musculatura 1, 8. Outra sequela gerada pelas queimaduras mais profundas é a dificuldade de termorregulação, pois há lesão dos apêndices dérmicos e, portanto, das glândulas sudoríparas. Como consequência da ausência de glândulas sudoríparas nas áreas de pele queimadas, há uma dificuldade da realização da termorregulação principalmente durante exercícios 1. As ossificações heterotópicas ocorrem frequentemente nos cotovelos havendo decréscimo de movimentação das articulações resultando em disfunções e prejuízos das atividades diárias. São definidas com a formação de um osso laminar dentro de estruturas de tecidos moles havendo osso onde não deveria existir. Contribuem para o seu aparecimento a hipercalcemia, hipóxia tecidual, imobilização prolongada, mobilização depois de prolongada imobilização e o desequilíbrio entre o hormônio da parótida e a calcitonina 9. O manejo dessa sequela e a prevenção de seu aparecimento é conservador com a realização de posicionamento e exercícios com objetivo de prevenir mais complicações 1, 8. A neuropatia crônica é uma complicação descrita e ocorrente de uma anormalidade das terminações nervosas regeneradas ocasionadas por uma deficiência de reinervação nas cicatrizes ou por um mecanismo de causa central 10, inclui sintomas como a fraqueza e a perda sensitiva e pode incluir um nervo periférico (mononeuropatia) ou múltiplos nervos (polineuropatia) 1.Os pacientes a descrevem como formigamento, pontadas, queimação, sensação elétrica ou dormência 11-12. É intensificada por mudanças de temperatura, vícios posicionais, toque leve, malhas elásticas e elevação 12. Após a cicatrização de uma queimadura severa frequentemente o prurido é exacerbado. Comumente substitui a dor e possui ligação com a presença de ansiedade e o estresse da reabilitação. Para o tratamento utiliza-se a aplicação de massagens, medicações e estimulação elétrica transcutânea de nervos. Além do prurido o paciente também pode relatar parestesias 13. O manejo da dor é de extrema importância para o tratamento do paciente vítima de queimadura, não devendo ser ignorada em nenhuma das três fases do tratamento (aguda, de cicatrização e ou de reabilitação) requerendo avaliações frequentes 13-14. A fase de reabilitação é caracterizada pela necessidade da realização intensiva da terapia física e ocupacional para alongar os tecidos cicatrizados, prevenir contraturas e aperfeiçoar os resultados de funcionalidade Nessa fase também há a realização de procedimentos invasivos, como é o caso dos expansores subcutâneos, utilizados para ampliar as áreas potencialmente viáveis para doação 13 ou viabilizar a retirada de grandes cicatrizes 15. Durante essa fase pode surgir dor ou parestesias, essas se controlada, garante a correta realização dos movimentos e das atividades diárias possibilitando melhores resultados no processo da reabilitação 13-14. Para tal é necessário combinar uma terapêutica analgésica, além de ações não medicamentosas como tratamento psicológico, massagens e intervenções da medicina holística 14. O controle da dor, se realizado inadequadamente, gera no paciente o afastamento do convívio social e dificuldade de retorno da funcionalidade o que posteriormente pode ocasionar em depressão, estresse pós-trauma e idéias suicidas16-17. A dor e disfunções físicas são problemas encontrados nos pacientes vítimas de queimaduras mesmo 2 anos após o ocorrido, como demonstrado em estudo envolvendo 122 pacientes. Esse estudo também evidenciou a associação entre dor, depressão e função física17. Nas queimaduras elétricas as lesões são causadas pela alta tensão que destroem o ponto de contato com a eletricidade necrosando as estruturas mais profundas, além disso, há danos ao longo do trajeto da corrente elétrica lesionando diferentes tecidos 18. A principal complicação nesse tipo de queimadura são as amputações. O processo de reabilitação do paciente amputado tem sido descrito como dificultoso devido à pobre qualidade da cobertura de pele associado a sua instabilidade e fragilidade, além de contraturas na região do coto 19, formações de calos ósseos, edema e a dor fantasma 1, 20. Também são frequentes sequelas encontradas nos pacientes acometidos por queimadura elétrica a catarata (não estando associada ao ponto de entrada e saída de corrente elétrica) e lesões periféricas neurológicas 18. O uso de próteses auxilia na restauração das funções do paciente amputado. Para isso, deve haver um treinamento que deve ser iniciado logo após a completa cicatrização do membro sendo um desafio para o paciente 20. Já as cicatrizes hipertróficas são consideradas as principais causas de disfunções e deficiências no paciente queimado, pois compromete o paciente fisicamente e psicologicamente devido às contraturas e deformidades. Podem ser tratadas ou prevenidas durante o processo de reabilitação com roupas de pressão, alongamentos, massagens, talas e posicionamento devendo ter uma indicação criteriosa de cada terapêutica de acordo com a severidade da cicatriz hipertrófica 1, 8, 20. As disfunções mais significantes no paciente vítima de queimadura são as contraturas de pele devido à diminuição da movimentação articular, deformidades de juntas e deformidades de estruturas faciais. Essas são tratadas durante a reabilitação com posicionamento, roupas de pressão, alongamentos e exercícios. Em alguns casos, a intervenção cirúrgica com a ressecção da cicatriz é necessária para melhorar a funcionalidade 1. Em estudo histológico realizado na França comparando as cicatrizes hipertróficas de pacientes que utilizavam terapêutica com pressão e de pacientes que não utilizavam foi demonstrado que o uso da pressão nas cicatrizes hipertróficas evidenciou uma mudança estrutural da derme recuperando parte da organização da matriz extracelular como observada em uma pele normal. Esse fato foi provocado pelo desaparecimento por apoptose da α –actina do músculo liso manifestados nos miofibroblastos 21. Quando as contraturas atingem a face podem causar deformidades como a microssomia (que consiste na dificuldade de se abrir a boca gerando prejuízos funcionais e estéticos), eversão do lábio inferior e ectrópio do lábio inferior. Essas alterações afetam a fala e geram disfagia e devem ser tratadas por uma equipe multidisciplinar 1, 20. Durante o processo de reabilitação são realizados alongamentos passivos da pele, exercícios de alongamentos, uso de órteses e aplicação de pressão 1, 22 sendo que em alguns casos há a necessidade de intervenção cirúrgica para a obtenção de melhores resultados 22-23. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 23 O processo de reabilitação do paciente vítima de queimadura: uma revisão de literatura Outra região que pode ser severamente afetada por contraturas é o pescoço, limitando assim a sua movimentação. Durante a reabilitação essas são tratadas com a combinação de alongamentos, pressão, uso de talas, colares e ressecção cirúrgica 1, 24. No caso de pacientes do sexo feminino atingidas por queimadura profundas nas mamas, as cicatrizes podem causar distorções no formato das mamas, alterações na distribuição do parênquima mamário e deslocamento areolar gerando deformidades. Quando essa queimadura ocorre antes do período puberal pode haver destruição do broto mamário e não desenvolvimento das mamas. Essas cicatrizes e distorções nas mamas podem gerar um impacto negativo psicologicamente nas adolescentes e mulheres. Com a finalidade de corrigir essas deformidades e devolver ao paciente uma melhor aparência são realizados procedimentos cirúrgicos, colocação de próteses mamárias e a utilização de expansores subcutâneos 25. Nas mãos e pulsos os tendões e articulações estão dispostos superficialmente, devido à posição, quando essas regiões são atingidas pela queimadura há maior possibilidade de danos nessas estruturas gerando déficits e deformidades que são agravadas devido à dificuldade de mobilização gerada pela dor e ao edema. As alterações incluem deformidades que deixam a mão em formato de garra, botoeira e dedos em martelo. O tratamento para a mão queimada inclui a precoce enxertia, excisão, realização de exercícios, alongamentos, utilização de roupas de pressão e a reconstrução 20. As queimaduras que atingem os membros superiores e o ombro geralmente causam contraturas na região das axilas, resultando assim, em limitação dos movimentos de flexão e abdução. Para esse tipo de sequela o tratamento cirúrgico pode restaurar a mobilidade do ombro com maior eficácia 1. Já as contraturas de membros inferiores podem ser tratadas com a deambulação precoce e ressecção cirúrgica 1, 20. Além das cicatrizes hipertróficas, a pele que cicatrizou após uma queimadura também pode sofrer com outras alterações como as fissuras (pois a pele perde a capacidade de lubrificação) a hiperpigmentação e a hipopigmentação. Assim, a utilização de hidratantes é recomendada para prevenir o ressecamento. Para se evitar a hiperpigmentação a exposição aos raios ultravioletas é contra indicada, assim, é aconselhado o uso de filtros solares e roupas 8. As queimaduras nos olhos podem resultar em lesões graves podendo afetar a visão, em alguns casos para o tratamento há a necessidade do enxerto palpebral, enucleação, transplante de córnea 1 ou tarsorrafia 1, 26. Em trabalho realizado nos Estados Unidos com 98 pacientes sobreviventes de queimaduras a com mais de 18 anos com o objetivo de descrever os problemas residuais relacionados à pele, demonstrou que problemas como perda de sensibilidade, prurido e cicatrizes grandes continuam sendo problemas muitos anos após ocorrida da lesão. Já questões como lesões abertas, cicatriz dolorosa e dor em pontada na cicatriz tendem a diminuir ao longo do tempo. Porém, alterações como cicatrizes hipertróficas em áreas enxertadas (92%) e não enxertadas (38%), diminuição da sensação de formigamento em áreas enxertadas (71%), hiperpigmentação de áreas enxertadas (53%), deformidades nos dedos (35%) e fissuras de pele (32%) continuam a ser observados mesmo com uma média de 3 anos após ocorrido a queimadura, demonstrando a necessidade de acompanhamento clínico desses pacientes 27. Atuação da Reabilitação nas Sequelas Psicológicas e Sociais Uma lesão por queimadura é considerada o trauma que pode gerar muitas repercussões estéticas 8 e reflete na realização das 24 atividades diárias, pois o paciente necessita se adaptar com as suas vulnerabilidades e novo estilo de vida 3. A exacerbação negativa de doenças psiquiátricas pré-existentes ou o aparecimento de novas patologias psiquiátricas durante a reabilitação faz com que haja a necessidade de uma intervenção precoce da equipe multidisciplinar com a finalidade de facilitar a adaptação às mudanças ocasionadas pelas lesões do trauma, pela dor e alterações estéticas 28. No processo de reabilitação existe associação entre dor, depressão e funcionalidade física sendo comprovado que maiores graus de depressão levam à piores funcionalidade física, principalmente um ano após a queimadura deixando clara a necessidade da avaliação psicológica para o sucesso do tratamento 29. Durante todo o tratamento é importante a inclusão do que o paciente considera “família”. Trabalhar com a família promove a autonomia e a coesão, pois cada membro pode se sentir valorizado e apoiar uns aos outros 28. Didaticamente foram relatadas quatro fases relativas à recuperação psicológica do paciente, sendo elas a fase de admissão, tratamento crítica, recuperação hospitalar e reabilitação e reintegração 28. Nessa última fase o paciente pode apresentar sintomas esperados de desajustamento às dificuldades, estresse pós-traumático, ansiedade (podendo incluir fobias) e depressão. Neste período muitas vezes o paciente e a família se sentem inseguros em receber alta hospitalar. Não é raro o sentimento de temor de rejeição ou ridicularização social devido às mudanças de habilidades e aparência. Muitas vezes, à medida que a alta hospitalar se aproxima, a ansiedade se intensifica e o paciente pode ter regressão de seus comportamentos. Assim, é importante desenvolver com a família/paciente o preparo do para a alta 28. A alta hospitalar para o paciente queimado não significa que o paciente está sadio. Esse paciente apresenta uma pele sensível e frágil que é vulnerável a lesões e necessita de cuidados especiais. Trocas de curativos, exercícios, aplicação de talas especiais e roupas de pressão são atividades cotidianas, além disso, há a necessidade desse paciente incorporar todas as múltiplas mudanças ocorridas na sua imagem 28. Depressão, ansiedade e culpa são sintomas que sempre aparecem durante a fase de reabilitação. O estresse pós-traumático surge em 43% dos casos durante a hospitalização sendo a sua principal causa as alterações na autoimagem, dor e incapacidades físicas 8, assim, está relacionado com o grau de comprometimento físico e psicológico apresentados pelas vítimas de queimadura 30. Insatisfação com a imagem corporal é frequente após a lesão da queimadura e as alterações de aparência refletindo na autoestima do paciente 1. Em estudo realizado na Alemanha demonstrou maiores taxas de alterações psicológicas (depressão, ansiedade, estresse póstraumático) entre pacientes vítimas de queimadura se comparado com as demais populações clínicas e não clínicas 31. Corroborando com esses resultados, um estudo realizado na Espanha demonstrou o desenvolvimento de distúrbios psicológicos devido à dor, aos danos físicos e anatômicos causados pela lesão de queimadura 32. Pallua et al 33 testou a hipótese de haver estigma social entre os pacientes com disfunção e com cicatrizes visíveis. Neste trabalho concluiu que havia menores índices de depressão entre pacientes com áreas do corpo não visíveis. Porém, mesmo em pacientes com disfunções funcionais leves, a reintegração social era comprometida, ocasionando o isolamento social e sentimento de marginalização. Oitenta e cinco adultos jovens entre 18 a 30 que sofreram queimaduras há mais de 2 anos formam pesquisados com a fina- REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Nicolosi, J. T.; Carvalho, V. F. de lidade de examinar o potencial risco de suicídio e as características associadas a esse risco. Como resultado foi observado que a desesperança, ansiedade e a presença de conflitos familiares são fatores que colaboram para a idealização suicida demonstrando a necessidade do suporte psicológico aos familiares visando diminuir conflitos e aos pacientes com a finalidade de prepará-los para a vida adulta 34. 12.Schneider JC, Harris NL, Shami AE, et al. A Descriptive Review of Neuropathic-Like Pain After Burn Injury. J Burn Care Res. 2006; 27(4):524-528. 13.Summer GJ, Puntillo KA, Miaskowski C, Green PG, Levine JD. Burn Injury Pain: The Continuing Challenge. J Pain. 2007; 8(7):533-548. 14.Edgar D, Brereton M. Rehabilitation after burn injury. 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Para tal há a necessidade do conhecimento por parte da equipe multidisciplinar das sequelas geradas pela queimadura e do seu manejo com a finalidade de se evitar deformidades e disfunções proporcionando ao paciente melhores estados de saúde. 16.Wiechman Askay S, Patterson DR. What are the psychiatric sequelae of burn pain? Curr Pain Headache Rep. 2008; 12(2):94-97. 17.Ullrich PM, Askay SW, Patterson DR. Pain, depression, and physical functioning following burn injury. Rehabilitation Psychology. 2009; 54(2):211-216. 18.Ferreiro I, Meléndez J, Regalado J, Béjar FJ, Gabilondo FJ. Factors influencing the sequelae of high tension electrical injuries. Burns. 1998; 24(7):649-653. 19.Kennedy PJ, Young WM, Deva AK, Haertsch PA. Burns and amputations: a 24year experience. J Burn Care Res. 2006; 27(2):183-188. 20.Serghiou M, Cowan A, Whitehead C. Rehabilitation after a burn injury. Clin Plast Surg. 2009; 36(4):675-686. 21.Costa AM, Peyrol S, Porto LC, Comparin JP, Foyatier JL, Desmouliere A. 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NOTAS * Enfermeira, Mestre de enfermagem pela Universidade Guarulhos, São Paulo, Brasil. - Endereço para correspondência: Julia Teixeira Nicolosi - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - Av.: Dr. Arnaldo, 455 – sala 1363 – Bairro: Pacaembu - Cep: 01246-903, São Paulo, SP, Brasil. - Email: [email protected] ** Enfermeira, Doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da USP, Docente da Universidade Guarulhos, São Paulo, Brasil. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 25 Revisão A escala de Braden e os medicamentos The Braden Scale and the drugs Introdução * Patrícia Helena Castro Nunes ** Mara Blanck Resumo A escala de Braden é um instrumento muito utilizado para estimar o risco de desenvolvimento de úlceras por pressão (UPs) em pacientes ambulatoriais e hospitalizados, incluindo pacientes críticos. Desde 2003, no entanto, autores concluíram que o escore de corte apresentado originalmente não pode ser reproduzido precisamente em todas as unidades, com todos os tipos de pacientes. Um aspecto pouco estudado da escala de Braden é a interferência que os medicamentos podem exercer na pontuação das sub-escalas. Este trabalho pretende apontar medicamentos e eventos adversos com potencial interferência na pontuação das sub-escalas da escala de Braden. A percepção sensorial, a atividade, a mobilidade, fricção e cisalhamento são parâmetros que podem ser afetados por medicamentos cujos eventos adversos incluem sonolência, confusão mental, hipotensão, delirium e eventos adversos motores. O parâmetro umidade pode ser afetado por medicamentos que causam diarréia. O parâmetro nutrição, por sua vez, pode ser influenciado por todos os eventos adversos citados nas demais sub-escalas e também anorexia, alterações no paladar, xerostomia, estomatites, mucosite, úlceras esofageanas, sintomas dispépticos, náuseas e vômitos. A avaliação da terapia medicamentosa vigente e potenciais eventos adversos requer a participação de todos os profissionais envolvidos na assistência, com destaque para enfermeiros, médicos, farmacêuticos clínicos e nutricionistas. Summary The Braden Scale is an instrument widely used to estimate the risk of developing pressure ulcers (UPs) in outpatients and hospitalized patients, including critically ill patients. Since 2003, however, some authors concluded that the cutoff point originally presented cannot be precisely reproduced in all units, with all types of patients. A poorly studied aspect of the Braden Scale is the interference that the drugs may play in the scoring of the subscales. This paper intends to point out drugs and adverse events with a potential interference in the score of the subscales of the Braden Scale. The sensory perception, activity, mobility, friction and shear are parameters that can be affected by drugs whose adverse effects include somnolence, mental confusion, hypotension, delirium and motor adverse events. The humidity parameter can be affected by drugs that cause diarrhea. The parameter nutrition, in turn, can be influenced by all the adverse events mentioned in the other sub-scales and also anorexia, altered taste, dry mouth, stomatitis, mucositis, esophageal ulcer, dyspeptic symptoms, nausea and vomiting. The assessment of current drug therapy and potential adverse events requires the participation of all professionals involved in care, especially nurses, physicians, clinical pharmacists and nutritionists. 26 A escala de Braden1 é um instrumento muito utilizado para estimar o risco de desenvolvimento de úlceras por pressão (UPs) em pacientes ambulatoriais e hospitalizados, incluindo pacientes críticos2-8. Este instrumento foi adaptado e validado para a cultura brasileira em 19999 e consiste de seis sub escalas: (1) percepção sensorial (2) umidade, (3) atividade, (4) mobilidade, (5) nutrição e (6) fricção e cisalhamento. Escore igual ou menor que 16 denota que o paciente adulto tem risco para o desenvolvimento de UP. Na presença de outros fatores como idade maior que 65 anos, febre, baixa ingestão de proteína, pressão diastólica inferior a 60 mmHg e/ou instabilidade hemodinâmica os pacientes com escores 17 e 18 também são considerados como pacientes de risco7,10. No estudo original1, as autoras encontraram sensibilidade e especificidade de 83% e 64%, respectivamente, para o escore de corte 16. Mais recentemente, as autoras recomendaram o escore 18 como o mais apropriado tanto para pacientes idosos como para pacientes brancos e negros fisiologicamente instáveis11. Desde então, muitos grupos de pesquisa ao redor do mundo têm tentado estabelecer o melhor escore de corte para a Escala de Braden e obter um melhor poder de predição para o desenvolvimento de UP através da utilização deste instrumento. Desde 2003 autores concluíram que o escore de corte apresentado originalmente não pode ser reproduzido precisamente em todas as unidades, com todos os tipos de pacientes, indicando a necessidade de realização de novos estudos para a avaliação da sensibilidade e especificidade da escala em diferentes áreas, com base nas características específicas dos pacientes8, 12. Mais recentemente, a publicação de Anthony e colaboradores13 fez uma dura crítica aos instrumentos utilizados para avaliação do risco de desenvolvimento de úlceras por pressão, afirmando que são instrumentos úteis apenas para pesquisa e sugerindo que a diminuição da incidência de UPs obtida após a implementação destes instrumentos pode ser um exemplo de efeito Hawthorn. Neste contexto, um aspecto pouco estudado da escala de Braden é a interferência que os medicamentos podem exercer na pontuação das sub-escalas. Apesar do reconhecimento de que alguns medicamentos (ex. corticoesteróides) podem aumentar o risco da abertura de feridas2, este parâmetro não é considerado na utilização deste instrumento. Mais do que isso, os efeitos adversos de fármacos que apresentam potencial de interferir na pontuação da escala por alterarem os parâmetros de percepção sensorial, umidade, atividade, mobilidade, nutrição e fricção e cisalhamento também não são considerados. Este trabalho pretende apontar medicamentos e eventos adversos com potencial interferência na pontuação das sub-escalas da escala de Braden. Medicamentos e as sub-escalas de percepção sensorial, atividade, mobilidade e fricção e cisalhamento. A percepção sensorial é habilidade apresentada pelo paciente de responder ao desconforto ocasionado pela pressão. Sua pon- REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Nicolosi, J. T.; Carvalho, V. F. de tuação leva em conta aspectos relacionados ao nível de consciência e sedação, bem como sua capacidade de sentir dor e responder a comandos verbais. Já atividade considera a capacidade de deambulação do paciente. A mobilidade, por sua vez, refere-se à capacidade de modificar e controlar a posição do corpo. Fricção e cisalhamento se relacionam à dependência de assistência que paciente apresenta para se mover2. A tabela 1 mostra exemplos de fármacos que podem inter- ferir nos parâmetros avaliados nestas sub-escalas ao causarem eventos adversos como sonolência, confusão mental, hipotensão, delirium14 e eventos adversos motores como parkinsonismo, acatisia, distonia aguda e mioclonus. Tabela 1: Exemplos de fármacos que podem interferir na pontuação das subescalas de percepção sensorial, atividade, mobilidade e fricção e cisalhamento. Classe terapêutica Exemplos de fármacos Eventos adversos Benzodiazepínicos Diazepam, midazolam, alprazolam, clona- Sonolência, hipotensão, delirium15-16. zepam, lorazepam, flunitrazepam, cloxazolam. Hipnóticos não benzodiazepínicos Zolpidem, zopiclona. Anticonvulsivantes Fenobarbital, carbamazepina, oxcarbaze- Sonolência, confusão mental15-16, distopina, fenitoína, topiramato, pregabalina, nia19. gabapentina, etossuximida, lamotrigina. Anti-histamínicos de primeira geração Prometazina, dimenidrinato, hidroxizina, Sonolência15, delirium20. dexclorfeniramina, cetotifeno, difenidramina, cipro-heptadina. Antipsicóticos Haloperidol, clorpromazina, levomepro- Sonolência, confusão mental, hipotensão, mazina, tioridazina, flufenazina, quetia- parkinsonismo, discinesia tardia, distonia pina, olanzapina, risperidona, pimozida, aguda, acatisia14-16, 19. sulpirida. Antidepressivos tricíclicos Amitriptilina, clomipramin Delirium17-18 nortriptilina, imipramina, Sonolência16, hipotensão21, confusão mental, delirium20, mioclonus19. Anti-hipertensivos e outros medicamentos Captopril, enalapril, losartana, valsartana, Hipotensão15,19, 21. utilizados em cardiologia metildopa, clonidina, hidroclorotiazida, clortalidona, furosemida, nifedipina, verapamil, diltiazem, mononitrato de isossorbida, dinitrato de isossorbida. Analgésicos opióides Morfina, metadona, fentanil, codeína, oxi- Sonolência, delirium, hipotensão, confucodona. são mental15. Antiparkinsonianos Levodopa, bromocriptina, pergolida, pra- Delirium, hipotensão15-16, mipexol, tolcapona, entacapona, selegili- aguda, mioclonus19. na. Inibidores da colinesterase Donepezila, galantamina Hipotensão21, sonolência15. Antieméticos Metoclopramida, bromoprida. Parkinsonismo, distonia aguda19. Bloqueadores de canal de cálcio Flunarizina, cinarizina Sonolência, confusão mental, parkinsonismo, distonia aguda19,22. Estabilizador do humor Lítio Delirium, confusão mental, sonolência, tremores15. Outro evento adverso que pode interferir nestas sub-escalas é a hipoglicemia, evento adverso comum em pacientes diabéticos que utilizam antidiabéticos orais e/ou insulina. Medicamentos capazes de gerar neuropatia periférica também devem ser considerados. Dentre eles destacamos nitrofurantoína, amiodarona, hidralazina, linezolida, metronidazol, fenitoína, quinolonas, isoniazida e etambutol (utilizados no tratamento da tuberculose), dapsona e talidomida (utilizados no tratamento da hanseníase) e alguns dos antirretrovirais utilizados no tratamento de pacientes HIV positivos19. 20-21 , distonia Medicamentos e a sub-escala de umidade Na escala de Braden a sub-escala de umidade afere o grau de exposição da pele à urina, suor, fezes e outros fluidos 2. De especial importância é o risco de úlcera na região sacra em indivíduos incontinentes. Apresentamos na tabela 2 alguns exemplos de fármacos que podem causar diarréia. Tabela 2: Exemplos de fármacos que podem interferir na pontuação da subescala de umidade ao causarem diarréia. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 27 A escala de Braden e os medicamentos Classe terapêutica Exemplos de fármacos Antimicrobianos Ampicilina, cefoperazona, ceftriaxona, amoxicilina + clavulanato, piperacilina + tazobactam, clindamicina, ciprofloxacino e outras fluoroquinolonas, eritromicina, claritromicina, azitromicina, meropeném, imipeném, ertapeném15,19,23-24. Antineoplásicos 5-Fluorouracil, capecitabina, irinotecano, docetaxel, doxorrubicina, epirrubicina, idarrubicina, mitoxantrona, metotrexato, cisplatina, carboplatina, bussulfano, ciclofosfamida, ifosfamida, citarabina, hidroxiuréia, imatinibe, lapatinibe, erlotinibe19,24-26. Biguanida Metformina15. Laxativos Lactulose, sena, bisacodil, sorbitol, macrogol15. Medicamentos com magnésio Sulfato de magnésio, citrato de magnésio15. Agentes procinéticos Metoclopramida, bromoprida, domperidona15. Digitálicos Digoxina15. Antivirais Aciclovir, valaciclovir, amprenavir, oseltamivir, ritonavir, zidovudina, didanosina, estavudina, lopinavir + ritonavir, atazanavir15. Imunossupressores Azatioprina, micofenolato de sódio24. Anticorpos monoclonais Bevacizumabe, Panitumumabe24. Eletrólitos Bicarbonato de sódio16. Pacientes nos quais os medicamentos são administrados via cateteres, especialmente aqueles com os dispositivos posicionados no intestino (sonda nasojejunal, jejunostomia), podem desenvolver diarréia quando medicamentos de forma farmacêutica líquida com alta osmolaridade são administrados. Existe a recomendação de que medicamentos hipertônicos ou contendo excipientes como sorbitol sejam diluídos com água para injeção antes da administração27-28. Outro ponto a ser observado é que alterações de prescrição de medicamentos suspeitos de causarem diarréia para formas farmacêuticas de liberação prolongada são frequentemente realizadas na tentativa de minimizar a ocorrência deste evento adverso. Nos pacientes nos quais os medicamentos são administrados através de cateteres, no entanto, tais alterações podem aumentar a gravidade da diarréia. Isso porque formas farmacêuticas de liberação prolongada (ex. metformina 1000 mg) que apresentam doses superiores às encontradas nas formas farmacêuticas de liberação imediata (ex. metformina 500 mg ou 850 mg) perdem a sua capacidade de liberar o fármaco de forma lenta após a trituração que precede sua administração pelo cateter. Medicamentos e a subescala de nutrição Na escala de Braden a subescala de nutrição afere o padrão de alimentação (especialmente teor protéico) e de ingesta de líquidos do paciente. Além dos eventos adversos citados no item 2, os medicamentos podem afetar a capacidade de alimentação dos pacientes ao causarem eventos adversos como anorexia, alterações no paladar, xerostomia, estomatites, mucosite, úlceras esofageanas, sintomas dispépticos, náuseas e vômitos. Por outro lado, a ocorrência de diarréia (discutida na seção 3), bem como de outras alterações da capacidade de absorção de nutrientes também devem ser consideradas. Exemplos de medicamentos que podem causar anorexia são 28 fornecidos por Tisdale e Miller (2010) 24 e incluem o anticonvulsivante topiramato, o antiviral zidovudina, os antidepressivos bupropiona, fluoxetina e paroxetina e o digitálico digoxina. Lee (2006) 19 fornece exemplos de medicamentos que podem causar eventos adversos com potencial impacto na alimentação dos pacientes. Alterações de paladar podem ser causadas por inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), bloqueadores de canais de cálcio, clopidogrel, levodopa, omeprazol, propiltiouracil, alopurinol, amiodarona, antibióticos betalactâmicos, lítio, metformina e metronidazol. Dentre os medicamentos que podem causar xerostomia destacam-se os medicamentos com atividade anticolinérgica como os antidepressivos tricíclicos, anti-histamínicos de primeira geração e as fenotiazinas. Além disso, a xerostomia também pode ser causada por fármacos opióides, oxibutinina e tansulosina. Estomatites são comumente causadas por antimicrobianos e mucosite por terapia antineoplásica. Úlceras esofageanas podem estar relacionadas à deglutição de medicamentos com pouca quantidade de água e são principalmente relacionadas ao uso de bifosfonatos (ex. alendronato de sódio) e doxiciclina. Em relação aos eventos adversos relacionados ao estômago e duodeno, o mais importante é o aparecimento de úlceras pépticas, geralmente relacionadas ao uso de antiinflamatórios esteroidais e não esteroidais. Medicamentos que reduzem o esvaziamento gástrico podem causar distensão abdominal (ex. opióides). De grande relevância são os medicamentos que podem causar náuseas e vômitos. Alguns dos principais exemplos são apresentados na tabela 3. Tabela 3: Exemplos de fármacos que podem interferir na pontuação da subescala de nutrição ao causarem náusea e vômitos. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Nicolosi, J. T.; Carvalho, V. F. de Classe terapêutica Exemplos de fármacos Opióides Morfina, codeína, fentanil, metadona, tramadol24. Anestésicos inalatórios Desflurano, enflurano, halotano, isoflurano, sevoflurano, óxido nítrico24. Anestésicos intravenosos Tiopental, propofol, cetamina, etomidato24. Bloqueadores neuromusculares Pancurônio, rocurônio24. Antineoplásicos (para revisão ver Carmustina, cisplatina, ciclofosfamida, dacarbazina, mecloretamina, procarbazina15,29. Hesketh, 2008) Digitálicos Digoxina19. Antiparkinsonianos Bromocriptina, levodopa19. Sais de ferro Sulfato ferroso19. Antiasmático Teofilina19. Estabilizador do humor Lítio15. Antidepressivos Fluoxetina, paroxetina, venlafaxina, duloxetina, sertralina19, 30. Náuseas e vômitos também podem resultar da administração inadequada de medicamentos (ex. infusões intravenosas realizadas de forma rápida) e o paciente deve ser cuidadosamente monitorado em relação a este aspecto, quando aplicável. 10. PARANHOS, W.Y.; SANTOS, V.L.C.G.; Avaliação de risco para úlceras de pressão por meio da Escala de Braden, na língua portuguesa. Rev Esc Enferm USP. 1999;33:191-206. 11. WOUND OSTOMY AND CONTINENCE NURSES SOCIETY (WOCN). Guideline for prevention and management of pressure ulcers. WOCN Clinical Practice Avaliação do risco de abertura de feridas como atividade interdisciplinar Esperamos que este trabalho reforce a necessidade de uma reflexão sobre a necessidade de envolvimento de outros profissionais nos procedimentos de avaliação de risco de abertura de úlceras por pressão. A avaliação da terapia medicamentosa vigente e potenciais eventos adversos requerem a participação da equipe multiprofissional envolvida na assistência, com destaque para enfermeiros, médicos, farmacêuticos clínicos e nutricionistas. Guidelines Series. Glenview (IL): WOCN; 2003. 12. BERGSTROM, N.; BRADEN, B.J.; Predictive validity of the scale among black and white subjects. Nurs Res. 2002;51:398-403. 13. WATERS, N. Predicting pressure ulcer risk. Nurs Times. 2003;99-S:63-5. 14. ANTHONY, D.; PAPANIKOLAOU, P.; PARBOTEEAH, S.; SALEH, M. Do risk assessment scales for pressure ulcers work? Journal of Tissue Viability (2010) 19, 132-136. 15. JAUL, E. Assessment and Management of Pressure Ulcers in the Elderly: Current Strategies. Drugs Aging 2010; 27 (4): 311-325. 16. FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L. Farmacologia clínica: fundamentos da terapêutica racional. 4ª edição. Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 2010. 17. KODA-KIMBLE, M. A.; YOUNG, L. Y.; ALLDREDGE, B. K.; CORELLI, R. L.; GUG- 1. 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E-mail: [email protected] ** Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Feridas e Estética (SOBENFeE). e-mail: [email protected] 30 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Relato de Experiência Concepção e construção de um novo dispositivo de irrigação pressurizada de feridas Design and construction of a new device for wound pressurized irrigation * Nuno Manuel Teles Pinto Resumo A limpeza das feridas, quer cirúrgicas quer traumáticas é essencial para garantir um bom resultado final da cicatrização, quer pela diminuição da contagem bacteriana nos tecidos quer pela remoção de detritos existentes na ferida. O método de irrigação contínua é indicado por diversos autores como o indicado para a limpeza de feridas. O autor concebeu e realizou um dispositivo a partir de elementos acessíveis em qualquer departamento hospitalar ou de cuidados primários que permite uma lavagem por método contínuo pressurizado eficaz, rápido e protegendo o executor de riscos biológicos. Conseguimos deste modo resolver os problemas levantados pelos dispositivos clássicos e improvisados (seringa e agulha), nomeadamente nos assuntos relacionados com o gasto de tempo e a protecção do executor. Descritores: Ferida, irrigação terapêutica, infecção Summary The wound cleansing, whether surgical or trauma wounds is essential to ensure a successful outcome of healing, either by reducing the bacterial count or by removing existing debris in the wound. The method of continuous irrigation is indicated by several authors as suitable for the cleaning of various type of wounds. The author conceived and carried out a device from several elements available in any hospital department or primary care that allows a effective method of wound cleansing using a continuous pressurized cleaning, with a fastness execution and protecting the performer. We solved the problems raised by classical and improvised devices (syringe and needle), particularly in relating to the expenditure of time and the protection of the performer. Key-words: Wound, Therapeutic irrigation, infection Introdução A limpeza das feridas, quer cirúrgicas quer traumáticas é essencial para garantir um bom resultado de cicatrização, quer pela diminuição da contagem bacteriana quer pela remoção de detritos existentes na ferida, culminando em menor taxa de infecção 1. São várias as soluções que podem ser usadas na irrigação das feridas, sendo a mais usada a solução salina estéril. Atualmente existem também soluções baseadas no polihexametileno-biguanida (PHMB) que aumentam a eficácia da lavagem acrescentandolhe um componente bactericida com vantagens sobre o iodo 2. Em uma metanálise efetuada foi demonstrado que a solução salina é o produto mais frequentemente apontado como sendo a primeira escolha para a irrigação3. No entanto a água potável é também uma alternativa viável desde que se garanta a sua potabilidade, geralmente presente nas redes modernas de abastecimento de água4 . O uso de iodopovidona a 1% tem-se mostrado eficaz em alguns estudos, no que toca à redução da contagem bacteriana, o que se traduz por um decréscimo na taxa de infecções quando falamos em feridas conspurcadas. No entanto, na generalidade das feridas, as taxas de infecção encontradas em feridas irrigadas com iodopovidona a 1% não diferiam daquelas apresentadas pelas feridas que foram irrigadas apenas com solução salina5 . A Clorhexidina a 0,5% é também uma alternativa viável e em alguns aspecto superior à iodopovidona, nomeadamente pelo seu maior efeito residual. Por exemplo, ela consegue menores taxas de infecção do local de inserção de cateteres venosos centrais comparativamente à iodopovidona6. Todavia, é aconselhável evitar a aplicação de anti-sépticos em feridas abertas pelo efeito retardador e funesto ao nível da cicatrização, pelo que a solução salina estéril ou a água potável é a mais indicada na maioria das situações. São vários os métodos advogados para a irrigação de feridas com a solução selecionada. O método pressurizado usa um jato de solução de irrigação, produzido de forma contínua ou intermitente, geralmente de solução salina, dirigido para a ferida a pressões específicas para propiciar a remoção de detritos e bactérias. Apesar de se usarem instrumentos elétricos para estes métodos, os mesmos resultados podem ser conseguidos por via da aplicação de uma pressão descontínua e intermitente exercida sobre o êmbolo da seringa usada para projetar a solução sobre a ferida 3, isto no caso de se querer reproduzir o método pulsátil. A pressão eficaz situa-se na faixa entre os 4 e os 15 PSI. Os guidelines da Agency for Health Care Policy and Research (AHCPR) recomendam esta faixa de pressão7. Pressões inferiores são ineficazes e superiores podem danificar os tecidos e elementos celulares essenciais ao desenvolvimento do processo de cicatrização. Por outro lado, a irrigação contínua consiste na aplicação de um jacto ininterrupto de solução de irrigação dirigido à superfície da ferida,geralmente através do uso de uma seringa. Neste artigo descrevemos a concepção e montagem de um dispositivo de irrigação pressurizada com materiais existentes em qualquer departamento hospitalar ou de cuidado primário e que cumprem de forma satisfatória os requisitos para um sistema de limpeza de feridas por método pulsátil ou contínuo. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 31 Concepção e construção de um novo dispositivo de irrigação pressurizada de feridas Método Para a manufatura deste dispositivo o autor utilizou um saco de soro fisiológico, um sistema de perfusão, uma torneira de 3 vias, uma seringa de 30cc, um cateter venoso 20G, uma agulha 21G e um copo colector de amostras biológicas esterilizado e transparente (Figura 1). Adaptou-se a embalagem de soro fisiológico ao sistema de perfusão e coloca-se uma torneia de 3 vias nasua porção distal (Figura 2). Na via lateral da torneira adapta-se a seringa de 30cc. Inverte-se o copo esterilizado e com a agulha de 19G abre-se um orifício central no fundo do copo, inserindo-sedepois atravésdeste mesmo orifícioo cateter venoso (Figuras 3e 4). Remove-se o estilete do cateter do modo a deixar apenas a cânula do cateter venoso introduzida. A este cateter adapta-se a via terminal da torneira de 3 vias (Figura 5). Todo este processo é executado de forma a manter a esterilidade da porção do sistema que contacta directamente com a ferida. Para aspirar a solução salina ou outra para a seringa basta apenas colocar a via da torneira onde esta está acoplada em contacto com a via do sistema de perfusão (com o regulador totalmente aberto) através da manipulação da torneira (Figura 6). Após este passo, coloca-se a seringa em continuidade com a via adaptada ao cateter venoso. Aplica-se o conjunto cateter/ copo logo acima da zona a irrigar e produz-se o jacto de solução irrigante empurrando o êmbolo da seringa com a velocidade desejada para gerar a pressão pretendida (Figuras 7 e 8). Para alternar para o método pulsátil, interrompe-se a pressão sobre o êmbolo da seringa diversas vezes. Repete-se o processo tantas vezes quantas as necessárias para uma limpeza eficaz. Discussão A irrigação pressurizada é um dos meios propostos para remover as bactérias dos tecidos, sendo o método mais eficaz na limpeza de feridas musculo-cutâneas 8. Geralmente este processo implica o uso de uma seringa de 30cc acoplada a uma agulha ou cateter de 19G ou 20G. Este método exige constantes aspirações de solução a partir da respectiva garrafa aumentando o risco de contaminação do sistema e exigindo um maior dispêndio de tempo. Por outro lado a ausência de um escudo de salpicos projetados a partir da ferida coloca o profissional em risco biológico. Existem outros dispositivos comerciais que podem ser usados para este fim, como o Irrimax® que é constituído por uma garrafa compressível de solução salina acoplado a uma campânula que gera um jato dirigido mediante compressão manual da garrafa. Existem outros dispositivos comerciais que podem ser utilizados para este propósito mas muitas vezes não existem nos diversos departamentos. Por vezes adapta-se um dispositivo tipo “Minispike®” à via de saída da embalagem de solução salina para executar a limpeza da ferida através do método pulsátil 9 . No entanto esta opção tem-se mostrado ineficaz nos propósitos anteriormente descritos. Outros dispositivos manufaturados têm sido apresentados na literatura, como é o caso da seringa adaptada a uma agulha10. No entanto este dispositivo requer múltiplas aspirações de solução e não fornece protecção ao executante. Este dispositivo apresenta a vantagem de ser de rápido e de fácil montagem e de utilizar materiais facilmente providenciados em qualquer departamento de saúde. Permitindo limpeza da ferida eficaz, este dispositivo poderá propiciar uma diminuição da taxa de infecções da ferida, uma vez que, em muitos casos, a correta limpeza da ferida é mais importante do que a escolha do 32 antibiótico, sendo o primeiro fator, em muitos casos, o mais importante no processo de cicatrização conforme demonstrou uma investigação recente levada a cabo por investigadores do John`s Hopkins Hospital11. Reduz-se também o risco de contaminação do sistema porque não é necessário desacoplar repetidamente a seringa do sistema para aspirar a solução de irrigação, bastando para cumprir esse objectivo manipular a abertura das vias da torneira. Este mecanismo reduz também o tempo dispendido no procedimento. Este dispositivo permite também alterar o tamanho do cateter venoso a utilizar e consequentemente ajustar a pressão do jacto. A adopção do copo estéril como escudo protege o profissional de ser atingido por salpicos projetados potencialmente contaminados a partir da ferida. O copo transparente permite também observar a ferida simultaneamente à sua irrigação, assim como dirigir o jato para as zonas pretendidas. A concepção deste dispositivo facilita o procedimento, em que o profissional utiliza uma mão para dirigir e manusear o sistema de produção do jato e a outra para manusear o conjunto seringa/torneira. Em nosso meio, a adoção deste sistema trouxe ganhos substanciais para o ambiente dos cuidados, pois promoveu uma maior adesão da equipa à realização deste método de limpeza de feridas por via da sua praticabilidade. A maior rapidez na limpeza da ferida que este dispositivo permite assumiu um papel importante na sua aceitação pela equipe de enfermagem. Conclusão São vários os autores que apontam o método pressurizado pulsátil ou contínuo de limpeza de feridas como aquele que maior eficácia apresenta na redução do risco de infecção. A irrigação pressurizada pulsátil ou contínua pode ser efectuada usando dispositivos comerciais, que muitas vezes não estão disponíveis nos vários departamentos, apresentando alguns deles um preço elevado. O dispositivo apresentado pelo autor permitiu a implementação da irrigação como o método de rotina para a limpeza de feridas, aumentando a taxa de execução deste método. Conseguimos também resolver os problemas levantados pelos dispositivos clássicos e improvisados (seringa e agulha), nomeadamente nos assuntos relacionados com o gasto de tempo e a protecção do executor. Desta forma, acreditamos que este dispositivo poderá ser uma boa opção para a lavagem de feridas, especialmente nos serviços onde os dispositivos comerciais não estão disponíveis. Referências 1. Brett D. Owens, Joseph C. Wenke. 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Bergstrom N, Bennett MA, Carlson CE, et al. Treatment of Pressure Ulcers: Clinical Practice Guideline No. 15. Rockville, Md: US Departmentof Health and Human Services, Public Health Service, Agency forHealth Care Policy and 8. 9. Ahmad R, Ahmed SMY, and Radford M. A Novel Technique for Wound Irrigation. Ann R Coll Surg Engl. 2007; 89(7):727–8. 2004;10:629-48. 10. Lam DGK, Rastomjee D, Dynan y. Wound irrigation: a simple, reproducibleDevice. Ann R Coll Surg Engl 2000; 82: 346-347 11. Carrol K, Dienner-West, M, etal. Careful Cleaning of Children’s Skin Research; 1994:6 –7, 47–53. AHCPR PublicationNo. 95-0652. Wounds Key to Healing, Regardless of Antibiotic Choice. Avaiable Svoboda SJ, Bice TG, Gooden HA, Brooks DE, Thomas DB, Wenke JC. Compar- fromhttp://www.hopkinschildrens.org/Careful-Cleaning-of-Childrens ison of bulb syringe and pulsed lavage irrigation with use of a bioluminescent -Skin-Wounds-Key-to-Healing-Regardless-of-Antibiotic-Choice.aspx musculoskeletal wound model. J Bone Joint Surg Am. 2006;88(10):2167-74. Julho 2011 , NOTAS * Licenciado em Enfermagem - Enfermeiro no serviço de Urologia/Cirurgia Vascular do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho EPE – Portugal - E-mail: [email protected] REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 33 Reflexão O diagnóstico COMUNICAÇÃO VERBAL PREJUDICADA segundo as classificações NANDA, NOC e NIC The diagnostic VERBAL COMMUNICATION IMPAIRED according to NANDA, NOC and NIC classifications Introdução * Ana Cláudia Puggina ** Monica Martins Trovo Araújo *** Maria Júlia Paes da Silva Resumo A comunicação efetiva e funcional enfermeiro-paciente, bem como entre os membros da equipe multidisciplinar, é fundamental para a qualidade da assistência à saúde. O diagnóstico de enfermagem Comunicação Verbal Prejudicada é definido como um padrão de troca de informações e ideias com terceiros que é suficiente para atender às suas necessidades e objetivos de vida, e que pode ser reforçado. A problemática desse artigo foi fazer a distinção expressão/transmissão e recepção/processamento da mensagem nas três classificações NANDA, NOC e NIC para um melhor entendimento e aplicação deste diagnóstico, bem como, completar as atividades propostas na NIC e clarificar termos relacionados à comunicação. O diagnóstico de enfermagem Comunicação Verbal Prejudicada mostra-se superficial para a caracterização de alterações no processo comunicacional por abordar de modo generalista as dimensões expressiva e perceptiva deste processo. Sugere-se nova revisão deste diagnóstico, no que tange à sua definição, características definidoras e fatores relacionados. Descritores: Comunicação; Avaliação em Enfermagem; Processos de Enfermagem; Diagnóstico de Enfermagem. Summary Effective and functional communication nurse-patient as well as between members of the multidisciplinary team is essential to the quality of health care. The nursing diagnosis Impaired Verbal Communication is defined as a pattern of exchanging information and ideas with others that is sufficient to meet your needs and life goals, and that can be strengthened. The problem of this article was to distinguish expression/transmission and receiving/processing of the message in the three classifications NANDA, NOC and NIC to a better understanding and application of this nursing diagnosis as well to complete the activities proposed in the NIC, to clarify terms related to communication. The nursing diagnosis Impaired Verbal Communication proves to be superficial to characterize changes in the communication process by addressing such generalist perceptive and expressive dimensions of this process. It is suggested further review of this diagnosis, with regards to its definition, defining characteristics and related factors. Descriptors: Communication; Nursing Assessment; Nursing Process; Nursing Diagnosis. 34 “Não me ajeito com os padres, os críticos e os canudinhos de refresco: não há nada que substitua o sabor da comunicação direta”. Mário Quintana A capacidade de se comunicar eficazmente com outras pessoas é uma habilidade de valor inquestionável. Por meio da comunicação, as pessoas chegam a certa compreensão do outro, aprendem a se gostar, se influenciam, constroem confiança, e aprendem mais sobre si mesmos e como as pessoas os percebem. As pessoas que se comunicam efetivamente sabem como interagir com os outros de forma flexível, com habilidade e responsabilidade, mas sem sacrificar suas próprias necessidades e sua integridade1. Comunicação é um processo dinâmico e complexo que ocorre de modo verbal e não verbal e envolve um intercâmbio de mensagens enviadas e recebidas, bem como influencia o comportamento das pessoas em curto, médio e longo prazo2. A dimensão verbal é aquela associada às palavras expressas, por meio da linguagem escrita ou falada. A dimensão não verbal envolve todas as manifestações de comportamento não expressas por palavras e está vinculada ao contexto em que ocorrem, podendo ser utilizadas para complementar, substituir ou contradizer a comunicação verbal, além de exteriorizar sentimentos3. A comunicação é uma necessidade humana básica e, portanto, determina e efetua o atendimento da área expressiva de assistência ao paciente, sendo o denominador comum de todas as ações dos profissionais de saúde2. A comunicação efetiva e funcional enfermeiro-paciente, bem como entre os membros da equipe multidisciplinar, é fundamental para a qualidade da assistência à saúde. O objetivo da enfermagem é assistir o ser humano no atendimento de suas necessidades básicas4. Alterações no padrão de comunicação geram situações de desequilíbrio no atendimento a esta necessidade psicossocial, sendo necessária a aplicação da ciência de enfermagem para o restabelecimento do equilíbrio dinâmico da interação verbal e não verbal. Assim, o processo de enfermagem deve fazer-se protagonista na atenção às alterações comunicacionais do paciente e família. No Brasil não há uniformidade acerca da compreensão e utilização do processo de enfermagem5. Contudo, independente da corrente teórica que embase o entendimento do que é e de REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Puggina, A. C.; Araújo, M. M. T.; Silva, M. J. P. da como se aplica este processo, um denominador deve ser comum: sua utilização como instrumento para o cuidado, operacionalizado por meio da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), possibilitando ao enfermeiro o direcionamento do julgamento clínico necessário à assistência de enfermagem. A aplicação sistematizada do processo de enfermagem (ou o uso da SAE) prevê que a assistência seja pautada na avaliação do paciente, fornecendo dados concretos para o estabelecimento de diagnósticos. Estes, por sua vez, possibilitam a adoção de metas assistenciais, as quais fornecem as bases para a seleção das intervenções mais adequadas para reverter ou amenizar a situação de desequilíbrio na qual o indivíduo se encontra. Realizadas estas intervenções, as metas devem ser avaliadas, verificando se os objetivos almejados foram atingidos5. O uso das classificações na enfermagem é um movimento recente que objetiva estabelecer linguagem comum para descrever o cuidado de enfermagem para indivíduos, famílias e comunidades em diferentes locais. Permite comparar dados similares entre populações, áreas e tempos diferentes, estimulando a pesquisa e provendo dados sobre a prática de enfermagem, possibilitando projetar tendências de necessidades e provisão de cuidados6. Embora existam diferentes sistemas de classificação na enfermagem, optou-se por explorar neste estudo as alterações na comunicação adotando-se o sistema de classificação norte americano, desenvolvido pela North American Nursing Diagnosis Association (NANDA–I) e por grupo de enfermeiros pesquisadores da Universidade de Iowa. Deste modo elegeu-se a adoção de diagnósticos segundo nomenclatura proposta pela NANDA, o estabelecimento e avaliação de metas assistenciais de acordo com classificação de resultados de enfermagem (Nursing Outcomes Classification – NOC) e a exploração das intervenções pontuadas na classificação de intervenções de enfermagem (Nursing Interventions Classification – NIC)7-9. Justificativa do estudo A problemática desse artigo é fazer a distinção expressão/ transmissão e recepção/processamento da mensagem nas três classificações NANDA, NOC e NIC para um melhor entendimento e aplicação desse diagnóstico de enfermagem, bem como, completar as atividades propostas na NIC, clarificar termos relacionados à comunicação e fazer uma análise crítica do uso da SAE (Sistematização da Assistência de Enfermagem) com a adoção das classificações para pacientes que possam ter alterações na comunicação. Comunicação surge em todas as teorias de Enfermagem como estratégia fundamental para o cuidado com qualidade. Foram encontrados poucos estudos com o uso dos dois diagnósticos propostos nessa temática, talvez isso aponte para a necessidade desse esclarecimento expresso neste estudo. Discussão Os diagnósticos relativos à comunicação estão incluídos no domínio 5 da NANDA-I (Percepção/Cognição), na classe 5 – Comunicação. Há dois diagnósticos de enfermagem na atual classificação relacionados ao processo de comunicação: Comunicação Verbal Prejudicada e Disposição para comunicação melhorada. O primeiro, adotado desde 1983 e revisado em 1996 e 1998, é definido como habilidade diminuída, retardada ou ausente para receber, processar, transmitir ou utilizar sistemas de símbolos. O segundo foi incluído em 2002 e é compreendido como padrão de troca de informações e ideias suficiente para atender necessidades dos indivíduos, com potencial para ser fortalecido7. Deste modo, destaca-se que o diagnóstico Comunicação Verbal Prejudicada é o único adotado pela NANDA-I que atenta para alterações no processo comunicacional. Este é um diagnóstico real e tenta abordar a questão do processo de comunicação como um todo, sem fazer distinção entre a dimensão verbal e a não verbal da comunicação e, tampouco, entre expressão/transmissão e recepção/processamento da mensagem. Para que um paciente tenha esse diagnóstico é preciso que o enfermeiro busque as características definidoras ou evidências clínicas, manifestadas como sinais, sintomas ou pistas que definam ou identifiquem esse diagnóstico7. As características definidoras orientam o enfermeiro a colocação do diagnóstico de enfermagem e para a NANDA-I significam indícios/inferências observáveis que se agrupam como manifestações de um diagnóstico de enfermagem real, de bem-estar ou de promoção da saúde. Devem ser identificadas como bases do diagnóstico, podendo ser descritas como “caracterizadas por”. Estabelecido o diagnóstico de enfermagem por meio das características definidoras, o enfermeiro deve identificar os fatores relacionados a essa condição. Fatores relacionados são compreendidos pela NANDA-I como aspectos que denotam algum tipo de relação padronizada de causa ou consequência com o diagnóstico de enfermagem. Podem ser descritos como “antecedentes de”, “associados a”, “relacionados a”, “contribuintes para ou estimuladores”. Apenas diagnósticos de enfermagem reais possuem fatores relacionados, não sendo possível a identificação de fatores causais em problemas potenciais7. É importante destacar que as características definidoras não podem ser modificadas pelo enfermeiro; já os fatores relacionados podem ser alterados e completados para melhor caracterizar uma situação individualizada do paciente, família ou comunidade. As características definidoras (Quadro 1) e os fatores relacionados (Quadro 2) para este diagnóstico foram separadas nas dimensões expressão/transmissão e recepção/processamento da mensagem e algumas explicações foram fornecidas para melhor esclarecimento de como estabelecer esse diagnóstico de enfermagem7. Quadro 1 – Características definidoras do diagnóstico Comunicação Verbal Prejudicada separadas em expressão/transmissão ou recepção/processamento da mensagem. São Paulo, 2013. Expressão/transmissão da mensagem Característica definidora7 Como identificar Recusa obstinada a falar Quando o paciente tem capacidade de falar, mas nega-se ou não concede o que é solicitado. Não fala Não emite sons pelo aparelho fonador. Não consegue falar É capaz de emitir sons, porém não articula a expressão de palavras e/ou sentenças de modo compreensível. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 35 O diagnóstico COMUNICAÇÃO VERBAL PREJUDICADA segundo as classificações NANDA, NOC e NIC Incapacidade de falar o idioma do Não consegue se comunicar usando a língua própria de outra pessoa. cuidador Verbalização imprópria É capaz de articular a fala, porém verbaliza de maneira inadequada ou inconveniente ao contexto. Verbaliza com dificuldade Encontra dificuldade para expor-se verbalmente. Fala com dificuldade Expressa-se com dificuldade por meio de palavras. Dificuldade para formar palavras Prejuízo na capacidade de expressar-se verbalmente devido dificuldade na articulação da fala, como por exemplo, devido afonia (perda total ou parcial da voz em consequência de lesão ou afecção dos órgãos da fala), dislalia (perturbação da fala), disartria (dificuldade na articulação ou na pronúncia das palavras resultante de uma paralisia ou irregularidade de coordenação dos movimentos dos músculos e dos órgãos da fonação). Dificuldade para formar sentenças Prejuízo na capacidade de expressar-se verbalmente por meio de frases ou sentenças que conectem as palavras, de modo a trazer sentido ao conteúdo verbalmente expresso. Dificuldade para expressar verbal- Prejuízo na habilidade de expressão verbal devido alterações neurológicas (cognitivas ou moto- mente os pensamentos ras), por exemplo, devido afasia (distúrbio ou perda parcial ou total da fala ou da compreensão da linguagem, resultante de lesão no hemisfério cerebral esquerdo), disfasia (incapacidade para ordenar as palavras, devida a uma lesão do respectivo centro nervoso), apraxia (incapacidade de executar movimentos coordenados como escrita e marcha sem que a motricidade e a sensibilidade sejam afetadas), dislexia (dificuldade de ler e compreender as palavras). Gagueira Má articulação das palavras, devido pronúncia dificultosa ou hesitante. Pronúncia indistinta Prejuízo na expressão verbal por dificuldade na articulação sonora dos fonemas. Dispneia Manifestação de dificuldade ou desconforto em respirar durante a verbalização. Incapacidade de usar expressões Inabilidade para expressar o pensamento ou as emoções por meio da face ou rosto. A expressão faciais facial é a forma mais básica e mais comum de expressão de emoções. Dificuldade de usar a expressão Prejuízo na manifestação facial de pensamentos ou emoções. facial Incapacidade de usar expressões Inabilidade para expressar pensamentos e emoções com seu corpo (pernas, pés, braços, mãos, corporais tronco e postura corporal). Abrange principalmente incapacidade quanto aos gestos, expansibilidade e ritmo dos movimentos corporais, postura corporal e proximidade entre locutor e interlocutor. Dificuldade de usar a expressão Prejuízo na manifestação corporal do pensamento e emoções. corporal Recepção/processamento da informação Como identificar Característica definidora7 Ausência de contato visual Não há proximidade, direcionamento ou qualquer tipo de relação com o seu olhar e o do outro interlocutor. Déficit visual parcial Perda ou falha parcial na percepção/interpretação visual ou ato de ver. Déficit visual total Perda ou falha total na percepção/interpretação visual ou ato de ver. Desorientação em relação a pes- Falta de orientação, critério ou memória em relação a pessoas; confunde ou não se lembra de soas pessoas. Desorientação no espaço Falta de orientação, critério ou memória em relação ao ambiente ou território que o rodeia; confunde ou não se lembra de onde está ou esteve recentemente. Desorientação no tempo Falta de orientação, critério ou memória em relação ao tempo passado, presente ou futuro; confunde o ano, a data ou período do dia. Dificuldade na atenção seletiva Prejuízo na capacidade de fixar-se sobre alguma coisa em detrimento de outra. Dificuldade para compreender o Prejuízo na percepção/ compreensão do que o outro expressa. Precisa que o outro interlocutor padrão usual de comunicação diminua o ritmo do fluxo de comunicação abaixo do usual para que ele compreenda. 36 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 63 Puggina, A. C.; Araújo, M. M. T.; Silva, M. J. P. da Quadro 2 – Fatores relacionados do diagnóstico Comunicação Verbal Prejudicada identificados segundo alterações na ex- Fator relacionado7 pressão/transmissão ou recepção/processamento da mensagem. São Paulo, 2013. Significado Alteração no autocon- Alteração da percepção que o indivíduo tem de si mesmo, ceito impossibilitando-o de agir e expressar opiniões sobre si mesmo Alteração no Sistema No SNC chegam as informações relacionadas à percepção Nervoso Central (SNC) sensorial (audição, visão, olfato, paladar e tato), elementos Prejuízo na Prejuízo na re- expressão/ cepção/ processa- transmissão da mento da infor- mensagem mação Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim Não Sim Não Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim de maneira confiante. básicos de uma comunicação; e é dele que partem ordens destinadas aos músculos e glândulas, para a expressão comunicacional. Ausência de pessoas Ausência de pessoas importantes com as quais o paciente tem significativas vinculo emocional. Baixa autoestima crôni- Autoavaliação negativa e prolongada sobre si mesmo ou sobre ca a própria capacidade, podendo influenciar a expressão sobre si próprio. Baixa autoestima situa- Autoavaliação negativa sobre o próprio valor ou capacidade cional frente à situação atual. Barreiras ambientais Constituem interferências oriundas do meio no qual o paciente se encontra, tais como ruído ambiental, luminosidade. Barreiras físicas Presença de dispositivos ou equipamentos que impedem a expressão, por exemplo, traqueostomia ou intubação orotraqueal. Barreiras psicológicas Presença de desordens psicológicas que afetam a cognição do indivíduo, por exemplo, devido psicose, autismo ou falta de estímulo em fazer contato com o outro. Condições emocionais Quando o paciente por algum motivo possui um abalo moral ou afetivo, uma perturbação emocional que interfere no processo de comunicação. Condições fisiológicas Funções orgânicas alteradas que impedem a expressão e/ou prejudicam a percepção. Defeito anatômico Alterações na constituição de um ou mais órgãos, que pode acarretar prejuízo funcional. Exemplos: fenda palatina, alteração do sistema visual neuromuscular, ou do aparelho fonador. Diferenças culturais Diferenças entre os interlocutores em relação a um conjunto de signos, símbolos, conhecimentos adquiridos, religião, valores, costumes. Diferenças relacionadas A idade pode interferir diretamente na capacidade de receber à idade de desenvolvi- e processar uma informação; idosos, adultos, jovens e crianças mento possuem meios de aprendizado diferentes. Diminuição da circula- A diminuição do fluxo sanguíneo no cerebral pode diminuir ção cerebral o potencial cognitivo do paciente e consequentemente o a habilidade de expressão e o processamento da informação recebida. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 63 37 O diagnóstico COMUNICAÇÃO VERBAL PREJUDICADA segundo as classificações NANDA, NOC e NIC Efeitos colaterais rela- Podem deprimir o Sistema Nervoso Central e interferir na ca- Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Não cionados ao tratamento pacidade de comunicação do paciente. Exemplo: uso contínuo de sedativos. Enfraquecimento do Inabilidade para produzir movimentos adequados para a co- sistema musculoesque- municação devido a fragilidade ou estafa do seu sistema mus- lético culoesquelético. Estresse Conjunto das perturbações orgânicas e psíquicas, provocadas por vários agentes agressores, como frio, doença infecciosa, emoção, choque cirúrgico, condições de vida muito ativa, que podem interferir na maneira com que o paciente expressa-se ou processa uma informação. Falta de informação Informações inadequadas ou insuficientes sobre as condições de saúde podem interferir na e por isso não consegue tomar suas próprias decisões Percepções alteradas Apreensão alterada da realidade ou de uma situação objetiva. Não Sim Tumor cerebral Um tumor cerebral que pode ser definido como inchaço ou Sim Sim aumento anormal de tecido no cérebro pode comprimir certas estruturas cerebrais e alterar a percepção do individuo, bem como sua capacidade para se comunicar. Ao separar as características definidoras e os fatores relacionados nas dimensões apresentadas nos quadros 1 e 2, o enfermeiro poderá mais facilmente caracterizar o paciente avaliado e incluir ou não o diagnóstico Comunicação Verbal Prejudicada na Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) desse paciente. É importante salientar que o processo de comunicação envolve a dimensão verbal e não verbal; comunicar-se com o outro vai muito além de verbalizar algo. No diagnóstico Comunicação Verbal Prejudicada existem também conceitos de comunicação não verbal, portanto, subentende-se que essa dimensão deve ser considerada nesse diagnóstico, já que não há outro disponível que aborde tal espectro comunicacional. Nota-se que no escopo de características definidoras e fatores relacionados deste diagnóstico de enfermagem também não há distinção entre condições que caracterizam a expressão e a recepção/processamento da informação. De acordo com a mais recente revisão do rol de diagnósticos 7 não há nenhum listado que aborde a dimensão perceptiva do indivíduo. Assim, parece ser pertinente mais aprofundada exploração dos aspectos expressivos e perceptivos do processo comunicacional alterado do indivíduo. Na literatura científica foram encontrados estudos que descrevem pacientes possivelmente com o diagnóstico de Comunicação Verbal Prejudicada, demonstrando a preocupação de pesquisadores com este tema importante para o cuidado: hospitalização de imigrantes japoneses com dificuldade no idioma português10, pacientes com neuropatia auditiva11 e déficit auditivo12, crianças com síndrome de Down13, idosos com demência14, pacientes laringectomizados15, crianças com síndrome do X frágil16, pacientes submetidos à intubação orotraqueal17, paciente com esclerose lateral amiotrófica18. 38 É importante que o enfermeiro consiga identificar pacientes com o diagnóstico de Comunicação Verbal Prejudicada para evitar iatrogenias na assistência. Em estudo que foram entrevistados 17 pacientes imigrantes japoneses hospitalizados, por exemplo, verificou-se que a dificuldade com o idioma português interferiu na compreensão da doença, do tratamento e no relacionamento com a equipe de saúde, fazendo suscitar o sentimento de insegurança 10. A classificação NOC tem como objetivo padronizar os resultados de enfermagem, tanto aqueles esperados (metas), como os atingidos por meio das intervenções de enfermagem. Estes resultados permitem ao enfermeiro a otimização do planejamento da assistência, assim como os auxiliam a quantificar o estado atual do resultado do paciente por meio de indicadores e uma escala tipo Likert de cinco pontos, bem como, a graduação alvo desse resultado8. No capítulo de ligações da NOC com a NANDA, para o diagnóstico Comunicação Verbal Prejudicada, encontram-se quatro resultados de enfermagem sugeridos: Comunicação, Comunicação: expressão, Comunicação: recepção e Processamento de Informação. A escala Likert utilizada é a mesma para todos os resultados levantados: de severamente comprometida a não comprometida. O resultado Comunicação é genérico e engloba os resultados Comunicação: expressão e Comunicação: recepção; portanto, optou-se por não se analisá-lo especificamente. O Quadro 3 ilustra as definições e indicadores de cada resultado. Quadro 3 – Resultados e indicadores relacionados à expressão, recepção e processamento da informação. São Paulo, 2013. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 63 Puggina, A. C.; Araújo, M. M. T.; Silva, M. J. P. da Indicadores para seguimento e avaliação para resultados - COMUNICAÇÂO(8) Expressão: Capacidade de expressar o significado das mensagens verbais e/ou não verbais. Recepção: Capacidade de receber e interpretar mensagens verbais e/ou não verbais. Processamento da Informação: Capacidade para adquirir, organizar e utilizar informações. Uso da linguagem escrita Interpretação da linguagem escrita Identifica corretamente objetos comuns Uso da linguagem falada: vocal Interpretação da linguagem falada Uso da linguagem falada: esofágica Interpretação de gravuras e desenhos Lê e compreende uma sentença curta ou parágrafo Uso de clareza no discurso Interpretação da linguagem de sinais Uso de gravuras e desenhos para se comunicar Interpretação da linguagem não verbal Identificação de mensagens recebidas Uso de linguagem de sinais Uso de linguagem não verbal Verbaliza uma mensagem coerente. Demonstra processos de pensamento organizados Demonstra processos de pensamentos lógicos Explica a semelhança ou a diferença entre dois itens Direciona adequadamente a mensagem Adiciona ou subtrai vários números Considerando a classificação NIC, são 10 intervenções de Enfermagem sugeridas para o diagnóstico Comunicação Verbal Prejudicada: (1) Assistência no autocuidado: Atividades Essenciais de Vida Diária, (2) Controle do ambiente, (3) Melhora da comunicação: Déficit Auditivo, (4) Melhora da comunicação: Déficit da Fala, (5) Melhora da comunicação: Déficit Visual, (6) Escutar Ativamente, (7) Presença, (8) Redução da Ansiedade, (9) Supervisão: Segurança e (10) Toque. No entanto, as intervenções prioritárias propostas pela NIC, escritas em negrito, são apenas três: (1) Melhora da Comunicação: Déficit da Fala, (2) Melhora da Comunicação: Déficit Auditivo, e (3) Escutar ativamente; relacionadas às dimensões expressão/transmissão (Quadro 4), recepção/processamento da mensagem (Quadro 5) e comuns para ambas (Quadro 6), res- pectivamente. Em seguida, estão apresentadas as principais intervenções e atividades/ações sugeridas na NIC para a elaboração das prescrições de enfermagem. As atividades foram categorizadas, adaptadas à realidade brasileira e completadas para um melhor direcionamento da prescrição de enfermagem. O termo “quando apropriado” foi retirado de muitas atividades, pois se subentende que o enfermeiro irá selecionar as atividades que melhor se adequam à assistência do paciente e em um número considerável para alcançar a satisfação da intervenção. Quadro 4 – Intervenção e atividades de enfermagem relacionadas à expressão/transmissão das mensagens. São Paulo, 2013. Melhora da Comunicação: Déficit da Fala Definição: auxílio na aceitação e na aprendizagem de métodos alternativos para viver com deficiência da fala. Expressão da mensagem pelo paciente Expressão da mensagem pelo profissional Oferecer lembretes/sugestões verbais. Dar uma orientação simples de cada vez. Ensinar a fala esofágica. Usar palavras simples e frases curtas. Orientar o paciente e a família sobre o uso de aparelhos de fala (por exemplo, prótese traqueosofágica e laringe artificial). Evitar gritar com o paciente que tem disfunção da fala. Encorajar o paciente a repetir palavras. Evitar baixar a voz no final da frase. Ficar em pé diante do paciente ao conversar. Usar quadro de desenhos. Oferecer reforço positivo e elogios. Usar gestos manuais. Reforçar a necessidade de acompanhamento com fonoauFazer terapias prescritivas de linguagem especial durante as interações diólogo após alta. informais com o paciente. Realizar diálogos. Recepção da mensagem pelo paciente Permitir que o paciente ouça frequentemente a língua falada. Usar intérprete. Recepção da mensagem pelo profissional Solicitar o auxílio da família na compreensão da fala do paciente. Ouvir com atenção. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 63 39 O diagnóstico COMUNICAÇÃO VERBAL PREJUDICADA segundo as classificações NANDA, NOC e NIC Quadro 5 – Intervenção e atividades de enfermagem relacionadas à recepção/processamento das mensagens. São Paulo, 2013. Melhora da comunicação: Déficit Auditivo Definição: auxílio na aceitação e na aprendizagem de métodos alternativos para viver com a audição diminuída. Expressão da mensagem pelo paciente Expressão da mensagem pelo profissional Usar papel, lápis ou computador para a comunicação. Dar uma ordem simples de cada vez. Evitar gritar com o paciente que tem transtornos de comunicação. Recepção da mensagem pelo paciente Movimentar-se próximo à área menos afetada. Encaminhar para consulta com o oftalmologista para exame auditivo. Encarar o paciente, falar devagar, com clareza e concisão. Se o paciente fizer uso de aparelho auditivo: manter limpo o aparelho auditivo e verificar as pilhas rotineiramente. Se o paciente não fizer uso e for detectada a necessidade, facilitar a alocação recursos para os aparelhos auditivos. Usar palavras simples e frases curtas. Aumentar o volume da voz. Não cobrir sua boca, não falar com a boca cheia ou mascar chiclete quando conversar com o paciente. Obter a atenção do paciente por meio do toque. Validar a compreensão das mensagens solicitando ao paciente a repetição do que foi dito. Recepção da mensagem pelo profissional Ouvir com atenção. Quadro 6 – Intervenção e atividades de enfermagem comuns a ambas as dimensões expressão/transmissão e recepção/processamento das mensagens. São Paulo, 2013. Escutar ativamente Definição: prestar atenção e agregar sentido às mensagens verbais e não verbais do paciente. Expressão da mensagem pelo profissional - Estabelecer o propósito da interação. - Demonstrar interesse pelo paciente. - Fazer perguntas ou declarações para encorajar a expressão de pensamentos, sentimentos e preocupações. - Evidenciar percepção e sensibilidade às emoções. - Usar comportamento não verbal para facilitar a comunicação (por exemplo, estar atento à postura física que transmite mensagens não verbais). - Esclarecer a mensagem por meio de perguntas e feedback. - Verificar a compreensão das mensagens pelo uso de perguntas ou de feedback. - Usar mais de um encontro para descobrir o sentido do comportamento. - Evitar barreiras ao escutar atentamente (por exemplo: minimizar sentimentos, oferecer soluções fáceis, interromper, falar sobre si e encerrar prematuramente). - Usar o silêncio/audição para encorajar a expressão de sentimentos, pensamentos e preocupações. Recepção da mensagem pelo profissional - Focalizar totalmente a interação, atento aos próprios preconceitos, tendenciosidades, pressupostos, preocupações pessoais e outras distrações. - Identificar mensagens e sentimentos não expressos, bem como o conteúdo da conversa. - Estar atento às palavras evitadas, bem como à mensagem não verbal que acompanha as palavras ditas. - Estar atento ao tom, ao tempo, ao volume, à altura e à inflexão da voz. - Identificar temas predominantes ou repetitivos. - Identificar o sentido da mensagem, verificando a coerência sobre as atitudes, as experiências passadas e a situação atual. - Identificar o tempo das respostas, observando hesitações, de modo a refletir a compreensão da mensagem recebida. 40 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Puggina, A. C.; Araújo, M. M. T.; Silva, M. J. P. da Destaca-se que, embora os resultados e intervenções propostos pelo sistema norte americano de nomenclaturas também não façam a distinção quanto às especificidades das dimensões verbal e não verbal do processo de comunicação, diferenciam de modo claro o que tange à expressão/transmissão e recepção/ processamento da mensagem; fato que não acontece com o diagnóstico Comunicação Verbal Prejudicada, como já explicitado anteriormente. E, no que se refere às intervenções e ações de enfermagem propostas pela NIC, ressalta-se à necessidade de adaptação transcultural à realidade brasileira, para que possam efetivamente embasar as prescrições de enfermagem, de acordo com as recomendações de especificidade e objetividade preconizadas pelos órgãos regulamentadores da enfermagem no Brasil. Como comunicação é uma questão básica da assistência, é fundamental que o enfermeiro esteja atento e busque alternativas para cuidar de modo efetivo de pacientes com dificuldades na comunicação. Pesquisas 12,19,20 mostram o esforço de profissionais para identificar e caracterizar melhor a deficiência de comunicação, bem como, buscar alternativas criativas e de baixo custo que se adaptem melhor a sua realidade. Um estudo mostra como o despreparo do profissional para cuidar de um paciente deficiente auditivo pode interferir negativamente no cuidado neste contexto. Entrevistas abertas foram analisadas qualitativamente, com o objetivo de avaliar a percepção e como as enfermeiras se comunicam com o paciente com deficiência auditiva. As enfermeiras percebem que é difícil a comunicação com o deficiente auditivo, embora algumas tenham desempenho satisfatório. Nesse processo, algumas referem utilizar tanto a comunicação não verbal, por mímica e leitura labial, como a comunicação verbal oral e escrita. Outras utilizam o acompanhante, quebrando o sigilo da consulta. Para aperfeiçoar a comunicação, sugere-se o preparo profissional na graduação e cursos de LIBRAS12. Iniciativas criativas são sempre bem-vindas. Um estudo foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a adequação e a aceitação da lousa mágica como recurso para a comunicação escrita do paciente traqueostomizado. A lousa foi fornecida a 15 traqueostomizados no 2º dia pós-operatório e no 5º dia foi aplicado um instrumento para avaliar a aceitação e adequação do uso da lousa mágica na perspectiva do paciente. Os resultados mostram que 73% dos pacientes consideram o recurso adequado para as suas condições, 86% consideram que ela favoreceu a comunicação com a equipe de saúde e foi aceito por 96% dos pacientes19. Em um estudo piloto com 6 pacientes foram observadas a percepção da paralinguagem e das cinesias manifestadas pelo paciente, bem como o atendimento do profissional de enfermagem à essas necessidades. O roteiro de observação sistematizada foi adaptado do instrumento dos sentidos sóciocomunicantes do corpo que avalia a amplitude dos sentidos. A observação ocorreu durante a primeira hora de recuperação anestésica e foi realizada posteriormente uma entrevista com os pacientes para validação das manifestações observadas. Verificou-se quanto à decodificação da paralinguagem, tosse e grunhido. As cinesias mais significativas foram mobilidade dos braços, pescoço, cabeça, mãos, abertura parcial e total dos olhos, elevação de tronco em 45° e 90°. Quanto às suas validações das manifestações observadas, foi identificado sonolência, dor, agitação, incômodo, chamamento, ansiedade, agradecimento, rejeição, proteção e atenção. A maioria das manifestações não verbais foi percebida pela equipe de enfermagem que assistiam o paciente. Entretanto, o atendimento às mesmas foi tardio, efetuado somente após três ou mais tentativas do paciente, muitas vezes seguidas de verbalização. É importante que o enfermeiro esteja atento a comunicação não verbal do paciente, principalmente nessas situações em que ele tem dificuldade e não pode se comunicar verbalmente devido a necessidade de recuperação de uma cirurgia de tireoidectomia20. Considerações finais A adoção do sistema norte americano de classificação em enfermagem (NANDA, NOC e NIC) para aplicação da SAE em pacientes com alterações na comunicação pode ser norteadora para o aprimoramento da assistência de enfermagem a indivíduos com déficit na comunicação, no que tange à expressão e∕ou percepção e, consequentemente, aos processos interacionais. Ressalta-se, contudo, que o diagnóstico de enfermagem Comunicação Verbal Prejudicada mostra-se superficial para a caracterização de alterações no processo comunicacional por abordar de modo generalista as dimensões expressiva e perceptiva deste processo. Frente ao leque de possibilidades de prejuízos na expressão e/ou na recepção/processamento da informação sugerese nova revisão deste diagnóstico, no que tange à sua definição, características definidoras e fatores relacionados. Precisa-se de mais estudos que explorem transculturalmente as ligações das classificações NANDA, NOC e NIC quanto à comunicação e em outras distintas situações, para atestar a efetividade e aplicabilidade de seu uso para a operacionalização desta efetiva tecnologia do cuidado – a Sistematização da Assistência de Enfermagem. Principalmente no que se refere à classificação de intervenções - NIC existem traduções que não são claras à realidade brasileira e que precisam ser revistas, para que cada vez mais um número maior de enfermeiros sinta-se atraídos, seguros e confortáveis em trabalhar com as três classificações, proporcionando um cuidado com começo, meio e fim. Referências 1. Mantha SS. Handbook on communication skills. Andhra Pradesh (India): Center for Good Governance, 2006. 2. Stefanelli MC, Carvalho EC. (Orgs). A comunicação nos diferentes contextos da enfermagem. São Paulo: Manole/Aben, 2005. 3. Araújo MMT, Silva MJP, Puggina AC. A comunicação não verbal enquanto fator iatrogênico. Rev Esc Enferm USP. 2007; 41(3):419-25. 4. Horta WA. Processo de Enfermagem. São Paulo: EPU, 1979. 5. Cruz DLM. Processo de enfermagem e classificações. In: Gaidzinski R et al. Diagnósticos de enfermagem na prática clínica. Porto Alegre: Artmed, 2008. 6. Nurses ICO. ICNP Beta 2: International Classification of Nursing Practice. Geneva, Switzerland, 2002. In: Cruz DLM. Processo de enfermagem e classificações. In: Gaidzinski R et al. Diagnósticos de enfermagem na prática clínica. Porto Alegre: Artmed, 2008. 7. NANDA I. Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e classificação 2012-2014/ North American Nursing Diagnosis Association - International; Trad. Regina Machado Garcez. Porto Alegre: Artmed, 2013. 8. Moohead S, Johnson M, Mass M. Classificação dos resultados de enfermagem (NOC). Trad. Marta Avena. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. 9. McCloskey JD, Bulechek GM. Classificação das intervenções de enfermagem (NIC). Trad. Regina Machado Garcez. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. 10. Chubaci RYS, Merighi MAB. A comunicação no processo da hospitalização do imigrante japonês. Rev Lat Am Enfermagem. 2002; 10(6):805-12. 11. Horacio CP, Goffi-Gomez MVS. A contribuição da leitura orofacial na comunicação do neuropata auditivo. Rev CEFAC. 2007; 9(3):404-10. 12. Pagliuca LMF, Fiúza NLG, Rebouças CBA. Aspectos da comunicação da enfermeira com o deficiente auditivo. Rev Esc Enferm USP. 2007; 41(3):411-8. 13. Andrade RV, Limongi, SCO. A emergência da comunicação expressiva na criança com síndrome de Down. Pró-Fono: Revista de Atualização Científica. 2007; 19(4):387-92. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 41 O diagnóstico COMUNICAÇÃO VERBAL PREJUDICADA segundo as classificações NANDA, NOC e NIC 14. Santana RF, Figueiredo NMA, Ferreira MA, Alvim NAT. A formação da mensa- efeito da presença da máquina. Rev Lat Am Enfermagem. 2000; 8(1): 123-30. gem na comunicação entre cuidadores e idosos com demência. Texto Contex- 18. Cassemiro CR, Arce CG. Comunicação visual por computador na esclerose lateral amiotrófica. Arq Bras Oftalmol. 2004; 67:295-300. to Enferm. 2008; 17(2):288-96. 15. Zago MMF, Sawada NO. Assistência multiprofissional na reabilitação da comunicação da pessoa laringectomizada. Rev Esc Enf USP. 1998; 32(1): 67-72. 16. Yonamine SM, Silva AA. Características da comunicação em indivíduos com a síndrome do x frágil. Arq Neuropsiquiatr. 2002; 60(4):981-5. 17. Bertoncello KCG, Sawada NO. Comunicação não verbal do paciente em 19. Melles AM, Zago MMF. A utilização da lousa mágica na comunicação do traqueostomizado. Rev Lat Am Enfermagem. 2001; 9(1):73-9. 20. Marins AC. Araujo STC. A percepção auditiva da paralinguagem do paciente após tireoidectomia subtotal: ensino e pesquisa em enfermagem. Esc Anna Nery R Enferm. 2005; 10(3): 586-91. centro de terapia intensiva coronariana submetido a intubação orotraqueal: NOTAS * Enfermeira. Doutora em Ciências pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EE-USP). Docente do Mestrado em Enfermagem da Universidade de Guarulhos (UNG). Professora Adjunto da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ). Membro do grupo de pesquisa cadastrado no CNPq Estudo e Pesquisa sobre Comunicação em Enfermagem. Endereço para correspondência: Av. Rebouças, 1332 apto 132 CEP. 05402-100 São Paulo –SP – Brasil. Email: [email protected] ** Enfermeira. Doutora em ciências pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EE-USP). Professora assistente do Centro Universitário São Camilo. Membro do grupo de pesquisa cadastrado no CNPq Estudo e Pesquisa sobre Comunicação em Enfermagem. São Paulo – SP – Brasil. Email: [email protected] *** Enfermeira. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgico da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EE-USP). Coordenadora do grupo de pesquisa cadastrado no CNPq Estudo e Pesquisa sobre Comunicação em Enfermagem. São Paulo – SP – Brasil. Email: [email protected] 42 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Artigo Original Adesão de comunicantes às ações de controle e prevenção da hanseníase: estudo descritivo Adherence of leprosy contacts in order to control and prevention actions of leprosy: a descriptive study * Esmeraldina Carlos de Fátima Peixoto Neri ** Josiane Lima de Gusmão Resumo Introdução: A adesão dos comunicantes intradomiciliares de pessoas com hanseníase ao Programa de Controle da doença é fundamental para a eliminação da hanseníase no Brasil. Objetivo: Assim, o objetivo principal do estudo foi verificar a taxa de comparecimento às consultas dos comunicantes ao Programa de Controle da Hanseníase. Método: Foram estudados 82 comunicantes (35±17 anos, 57,3% mulheres, 53,7% não brancos e 52,4% sem companheiro) que habitavam há mais de dois anos o mesmo domicílio de pessoas com hanseníase, que não tinham comparecido às consultas e nem sido examinados no período de janeiro/2004 a dezembro/2006. Os comunicantes localizados em visita domiciliar foram encaminhados para o Programa de Hanseníase e responderam a um questionário estruturado sobre aspectos sociodemográficos, hábitos de vida e conhecimento sobre a doença. Resultados: Os resultados mostraram que 55% dos indivíduos aderiram ao Programa e que as mulheres foram mais aderentes (75,6%) assim como os indivíduos sem companheiro (60%), p<0,05. Nenhum comunicante havia realizado exame preventivo de hanseníase, sendo as principais razões a “falta de orientação” (45,1%) e “não achar necessário” (32,1%). Conclusão: Conclui-se que a adesão ao Programa de Controle da Hanseníase foi baixo e que gênero e situação conjugal foram fatores determinantes para o comparecimento às consultas dos comunicantes de hanseníase. Descritores: Hanseníase, Cooperação do Paciente, Período de Transmissibilidade. Summary Introduction: The compliance of the family to with individuals with leprosy control Programme is crucial to disease the eradication of leprosy in Brazil. In this way, the main goal of the study was verify attendance rate consultation from leprosy contacts to the Leprosy Control Program. Method: Have been studied 82 interconnecting (35 ± 17 years, 57.3% women, 57,3% no white and 52,4% without Companion) living for more than two years the same domicile of individuals with leprosy and who had not been examined in the period from January 2004 to December 2006. The home visit interconnecting located in answered to a structured questionnaire with socio-demographic issues, lifestyle and knowledge about the disease. Results: The results showed that 55% of individuals studied joined to the Programme and that the women were more members (75,6%) as well as individuals without companion (60%), p<0.05. None communicant had never performed leprosy preventative examination, being the main reasons the “lack of guidance” (45.1%) and “do not find it necessary” (32.1%). Conclusion: It is concluded that adherence to the Leprosy Control Program was low and that gender and marital situation were determining factors for accession interconnecting leprosy treatment. Descriptors: Leprosy, Patient Compliance, Communicable Period. Introdução A Hanseníase é uma doença crônica granulomatosa, provinda de infecção causada pelo bacilo álcool-ácido resistente Mycobacterium leprae, parasita intracelular, que apresenta afinidade cutânea e por célula dos nervos periféricos, apresentando longo período de incubação, em média de dois a sete anos 1,2. Os indivíduos com hanseníase podem ser classificados como Paucibacilares e Multibacilares. Os indivíduos com as formas paucibacilares são pouco importantes como fonte de transmissão devido a sua baixa carga bacilar. Entretanto, as formas multibacilares constituem o grupo contagiante, por terem uma carga bacilar de 10 milhões de bacilos presentes na mucosa nasal, número que se mantém enquanto não se inicia o tratamento específico, acarretando preocupação constante com exame e acompanhamento dos comunicantes íntimos dos indivíduos acometidos, devido ao longo período de incubação da doença 1. A principal e mais freqüente via de transmissão é a via aérea superior, sendo o trato respiratório a mais provável entrada do bacilo no corpo, e a mesma via de eliminação no meio ambiente 1,3 . Estudo realizado por Hatta et al. 4 mostrou que pessoas altamente infectadas em período de eliminação de secreção nasal, em locais fechados, podem contribuir para o aumento da doença, contaminando os contatos domiciliares e vizinhos. Por esta razão, a vigilância do contato intradomiciliar é de fundamental importância, e consiste na busca sistemática de novos casos entre as pessoas que conviveram há pelo menos cinco anos com indivíduos com hanseníase que não tenham sido submetidos a tratamento 1. Embora o Brasil tenha avançado no que diz respeito ao controle da Hanseníase, a endemia ainda apresenta coeficientes superiores ao recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que traça como meta menos de 1 doente para cada 10.000 habitantes 5. Em 2012, o número de novos casos foi de 33.303 casos, o que corresponde a 1,55 casos a cada 10.000 habitantes 6. Assim, o país comprometeu-se com a OMS em eliminar a hanseníase até 2015 7. Dos compromissos assumidos REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 43 Adesão de comunicantes às ações de controle e prevenção da hanseníase: estudo descritivo definiram-se, dentre outras coisas, as responsabilidades dos serviços de saúde que devem diagnosticar, tratar e acompanhar os indivíduos com hanseníase assim como localizar, examinar e monitorar todos os comunicantes dessas pessoas 8. Entretanto, um dos grandes desafios é promover a adesão desses indivíduos ao Programa de Controle da Hanseníase, uma vez que em 2012, a abrangência de controle desses comunicantes no Brasil atingiu 74,5%, taxa consideravelmente superior a de 2011 (59,8%), mas que ainda pode ser melhorada 6. A adesão pode ser caracterizada a extensão em que o comportamento do indivíduo, em termos de tomar o medicamento, seguir a dieta, realizar mudanças no estilo de vida e comparecer às consultas médicas é seguida 9. Dentro do Programa de Controle da Hanseníase a adesão e o acompanhamento dos comunicantes de pessoas com hanseníase é uma meta. O comparecimento às consultas médicas e de enfermagem, aos exames específicos de pele, testes de sensibilidades, recebimento da vacina BCG (Bacilo de Calmette-Guérin) e participação em encontros de orientações direcionados à educação em saúde representam o alcance dessa meta. Do conjunto de ações relacionadas à adesão, as ações de prevenção, nas quais se prevê mudanças no comportamento e no estilo de vida dos indivíduos são reconhecidas como de grande relevância para a eliminação dessa doença no país. Frente a essa constatação, o acompanhamento dos comunicantes de hanseníase representa possibilidade concreta para a eliminação da doença. Objetivo Verificar a taxa de comparecimento às consultas dos comunicantes ao Programa de Controle da Hanseníase, após orientação e encaminhamento realizado por meio de busca ativa em visita domiciliar, descrever suas características sociodemográficas e identificar os fatores que influenciam a adesão ao Programa. Método Estudo de campo, descritivo, com recorte transversal e abordagem quantitativa, desenvolvido com os comunicantes de portadores de hanseníase moradores das residências cadastradas no Programa de Controle da Hanseníase da área da Supervisão Técnica de Saúde Itaquera e seus distritos administrativos, zona Leste do município de São Paulo. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, sob o parecer nº 54/08. Foram incluídos todos os comunicantes pertencentes à área da Supervisão Técnica de Saúde Itaquera, registrados na base de dados do Sistema Nacional de Agravos Notificados (SINAN) no período de janeiro de 2004 a dezembro de 2006 que atendiam aos seguintes critérios de inclusão: habitar há mais de dois anos o mesmo domicílio de portadores de hanseníase não tratados; não ter sido examinado; estar presente na residência no dia da coleta de dados; e concordar em participar do estudo assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Após a identificação dos comunicantes foi iniciada a busca ativa por meio de visitas domiciliares realizadas sem aviso prévio. Os comunicantes não registrados no SINAN encontrados nessas residências também foram incluídos no estudo. Quando o comunicante não era encontrado, foram realizadas até três outras visitas, na tentativa de abordá-lo e incluí-lo no estudo. Os contatos registrados e não registrados localizados responderam a um questionário constituído por 34 questões relacionadas aos dados sócio-demográficos, hábitos de vida e conhecimento sobre a doença e foram encaminhados por meio de 44 um impresso identificado como ficha-controle, construído pela própria autora, para controlar o acompanhamento dos comunicantes participantes do estudo no Programa. Este impresso foi preenchido em três vias, sendo uma entregue ao comunicante que foi orientado a comparecer a uma Unidade Básica de Saúde do seu território de residência para realizar exame clínico de pele, receber orientações sobre a doença e a aplicação da vacina BCG; a segunda via foi entregue na Unidade de referência de Hanseníase para o controle de exame dos comunicantes e a terceira via ficou em poder da pesquisadora para acompanhar a participação do comunicante ao Programa de Hanseníase. A estratégia de avaliação da adesão do comunicante foi o comparecimento à consulta após orientação. Foi considerado como não aderente o indivíduo que após 90 dias de orientação não compareceu à consulta. As variáveis classificatórias foram apresentadas de forma descritiva em freqüências absolutas (n) e relativas (%). A interpretação dos resultados foi feita com base na associação entre essas variáveis numéricas e percentuais e a adesão às ações de prevenção e controle da hanseníase realizado pelos comunicantes. O teste qui-quadrado ou teste da razão de verossimilhança ou teste exato de Fisher foram utilizados para avaliar a associação entre as variáveis relacionadas à adesão. Os valores com p<0,05 foram considerados estatisticamente significativos. Resultados Os dados apresentados neste estudo são os resultados de ações desenvolvidas durante, principalmente, a coleta de dados da pesquisa, período em que os comunicantes identificados como não participantes do Programa de Controle da Hanseníase foram orientados sobre a doença e encaminhados para acompanhamento na tentativa de que efetuassem sua adesão ao Programa. Os dados da tabela 1 mostram o número de comunicantes não examinados localizados e que fizeram parte do estudo. Observa-se que dos 74 comunicantes registrados no SINAN, 71 foram localizados. Além desses, foram incluídos mais 11 comunicantes que não estavam registrados no Sistema, mas que eram moradores das residências, totalizando 82 indivíduos. Vale ressaltar que dentre os comunicantes identificados e entrevistados 14,6% não haviam recebido nenhuma dose da vacina BCG e desses, apenas 3,7% aderiram ao Programa e foram vacinados. Tabela 1. Número e porcentagem de comunicantes não examinados da área da Supervisão Técnica de Saúde Itaquera localizados. São Paulo, 2009. Comunicantes não examinados N % Registrados no SINAN 74 100,0 Encontrados com registro 71 95,9 Encontrados sem registro 11 4,1 Total 82 100,0 A idade média dos comunicantes estudados foi de 35±17 anos, com 9,8% na faixa etária de 12 a 17 anos e 36,6% na faixa etária de 18 a 30 anos. A maioria dos comunicantes estudados era do sexo feminino (57,3%), não brancos (53,7%) e sem companheiro (52,4%); apenas 4,9% possuíam nível universitário, sendo que a maioria (79,3%) tinha ensino fundamental (43,9%) REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Neri, E. C. de F. P.; Gusmão, J. L. de ou ensino médio (35,4%). Quase a totalidade dos entrevistados (96,3%) referiu renda familiar entre 1 e 5 salários mínimos e somente 2 (2,4%) referiram renda acima de 10 salários, sendo que 48,8% desses trabalhadores exerciam atividades domésticas, seguidos das atividades administrativas e comerciais (37,2%). Tabela 2. Distribuição dos comunicantes em relação à realização de exame preventivo e conhecimento sobre a doença. São Paulo, 2009. Variáveis n % 82 100,0 Falta de orientação 37 45,1 Não acha necessário 27 32,1 Falta de tempo/oportunidade 14 17,1 Medo do resultado 3 3,7 Vergonha 1 1,2 Sim 22 26,8 Não 60 73,2 Sim 35 42,7 Não 47 57,3 Entre parentes e amigos 35 100,0 Em consulta médica/posto de saúde/profissionais de saúde 33 94,3 Exame preventivo de Hanseníase (n=82) Não Motivo da não realização (n=82) Informação sobre Hanseníase durante visita domiciliar (n=82) Já ouviu falar sobre Hanseníase (n=82) Onde ouviu falar (n=35) Meios de comunicações/escola 3 8,6 Outros 2 5,7 Sim 42 51,2 Não 40 48,8 Manchas na pele 40 95,2 Dormência na pele 15 35,7 Dificuldade para pegar objetos 3 7,1 Dores de cabeça 2 4,8 Febre e tontura 2 4,8 1 2,4 Saberia dizer o que é Hanseníase (n=82) Sintomas (n=42)* Dificuldade para ver as coisas *possibilidade de resposta em mais de uma alternativa. Todos os entrevistados referiram nunca ter realizado exame preventivo de hanseníase, sendo as principais razões a “falta de orientação” (45,1%) e “não achar necessário” (32,1%). A maioria dos entrevistados (73,2%) nunca recebeu informações sobre a doença durante a visita domiciliar, mas 42,7% já tinham ouvido falar sobre hanseníase, principalmente entre parentes e amigos (100,0%) e em consulta médica, posto de saúde ou por profissionais de saúde (94,3%). Em relação ao conhecimento, apenas metade (51,2%) da amostra referiu saber o que é hanseníase, sendo que quase todos (95,2%) referiram que a doença provoca mancha na pele dormência (35,7%) (tabela 2). A avaliação do comparecimento às consultas mostra que REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 45 Adesão de comunicantes às ações de controle e prevenção da hanseníase: estudo descritivo 55% dos comunicantes entrevistados compareceram ao Programa de Controle da Hanseníase após serem orientados a fazê-lo; todos foram examinados e vacinados; desses, 17,8% eram menores de 18 anos e também compareceram ao serviço de saúde juntamente com seu responsável legal. Entretanto, 45% continuaram sem acompanhamento (Figura 1). Figura 1. Distribuição dos comunicantes que aderiram à consulta do Programa de Controle da Hanseníase. São Paulo, 2009. A associação da adesão com níveis biossociais mostra que houve diferenças estatisticamente significativas (p<0,05) para sexo e estado civil. As mulheres foram mais aderentes (75,6%), assim como, os indivíduos sem companheiro (60%), solteiros ou viúvos (tabela 3). Tabela 3. Distribuição dos comunicantes que aderiram e não aderiram ao Programa de Controle da Hanseníase em relação às características biossociais. São Paulo, 2009. Variáveis Aderiu Não Aderiu (n=37) P (n=45) N % n % Masculino 11 24,4 24 64,9 Feminino 34 75,6 13 35,1 Branca 19 42,2 19 51,4 Não branca 26 57,8 18 48,6 Sexo <0,001* Etnia 0,447* Estado civil Sem companheiro 27 60,0 16 43,2 Com companheiro 18 40,0 21 56,8 0,047** Escolaridade Analfabeto/Lê-escreve 07 15,6 06 16,2 Ensino fundamental 25 55,6 11 29,7 Ensino médio 11 24,4 18 48,6 Ensino superior 02 4,4 02 5,4 0,125** Trabalha Sim 22 48,9 21 56,8 Não 23 51,1 16 43,2 - - 01 2,7 >1≤5 44 97,8 35 94,6 > 5 ≤ 10 1 2,2 1 2,7 0,478* Renda familiar (salários mínimos) <1 Idade (anos, média±dp) 36±19,4 *Qui-quadrado; **Razão de verossimelhança; ***Mann-Whitney. 31,3±14,1 0,442** 0,453*** Os dados da tabela 4 mostram que em relação ao conhecimento sobre a doença e realização de consulta nos últimos 3 anos, não houve diferença entre o grupo que aderiu e o grupo que não aderiu ao Programa. Entretanto observa-se uma tendência do grupo que aderiu a fazer mais consultas rotineiras para seu próprio controle de saúde do que o grupo que não aderiu. 46 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Neri, E. C. de F. P.; Gusmão, J. L. de Tabela 4. Distribuição dos comunicantes que aderiram e não aderiram ao Programa de Controle da Hanseníase em relação à realização de consulta e conhecimento sobre a doença. São Paulo, 2009. Variáveis Aderiu Não Aderiu N % N % Sim 34 75,6 21 56,8 Não 11 24,4 16 43,2 11 73,3 14 53,8 Tempo de espera - - 1 3,8 O problema não era grave - - 2 7,7 Atendimento ruim - - 1 3,8 Automedica-se 8 26,7 8 30,8 Sim 14 31,1 8 21,6 Não 31 68,9 29 78,4 Sim 35 77,8 33 89,2 Não 10 22,2 4 10,8 Sim 22 48,9 20 54,1 Não 23 51,1 17 45,9 P Realizou consulta nos últimos 3 anos (n=82) 0,071 Motivo da não realização (n=27) Não sentiu necessidade 0,499 Informação sobre Hanseníase durante visita domiciliar (n=82) 0,334 Já ouviu falar sobre Hanseníase (n=82) 0,171 Saberia dizer o que é Hanseníase (n=82) 0,641 Fisher Tabela 5. Distribuição dos comunicantes que aderiram e não aderiram ao Programa de Controle da Hanseníase em relação à história de saúde individual e familiar. São Paulo, 2009. Variáveis Aderiu Não Aderiu n % n % Sim 17 37,8 8 21,6 Não 28 62,2 29 78,4 Sim 12 26,7 4 10,8 Não 33 73,3 33 89,2 Sim 4 8,9 2 5,4 Não 41 91,1 35 94,6 P Problema de saúde nos últimos 5 anos 0,114 Apresenta manchas no corpo 0,071 Falta de sensibilidade REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 0,685 47 Adesão de comunicantes às ações de controle e prevenção da hanseníase: estudo descritivo Dificuldade para pegar objetos Sim 1 2,2 - - 1,000 Não 44 97,8 55 100,0 Sim 1 2,2 4 10,8 Não 44 97,8 33 89,2 Hanseníase 45 54,9 37 45,1 1,000 Hipertensão 43 52,4 39 47,6 0,286 Diabetes 21 25,6 61 74,4 0,077 Tuberculose 15 18,3 67 81,7 0,310 Doença do coração 16 19,5 66 80,5 0,071 10 12,2 72 87,8 0,335 Dificuldade para andar 0,170 Antecedentes familiares Acidente Vascular Encefálico Fisher Os dados da tabela 5 mostram que não houve diferença estatisticamente significativa entre os comunicantes que aderiram e não aderiram ao Programa em relação à história de saúde e familiar. Entretanto, alguns aspectos mostram uma tendência entre os grupos. Os comunicantes que aderiram ao Programa, tenderam a fazer mais uso de medicamentos (p=0,06) e a apresentar mais manchas no corpo (p=0,07). Além disso, o grupo que aderiu tendeu a apresentar mais história familiar de Diabetes e Doenças do coração. Verifica-se também que 78,4% dos indivíduos que não aderiram ao programa de controle da doença, referiram não ter apresentado nenhum problema de saúde nos últimos 5 anos. Entretanto, 10,8% deles referiram apresentar manchas no corpo, 5,4% dificuldade para andar e perda de sensibilidade, mas nenhum foi, de fato, diagnosticado com hanseníase. Destaca-se, ainda, que todos os estudados têm antecedentes familiares para hanseníase. Discussão O exame de comunicantes de pacientes com hanseníase tem sido uma ação prioritária da vigilância epidemiológica que tem como uma das suas principais atividades acompanhar aqueles que aderem ao Programa, assim como ir a busca dos não aderentes. As intervenções para melhorar a adesão ao tratamento abrangem, de maneira geral, programas de autocuidado que incluem estratégias educacionais e comportamentais com abordagem multiprofissional 10. As estratégias comportamentais utilizam técnicas como a lembrança e o reforço da importância da adesão ao tratamento, medicamentoso ou não. Nesse sentido, o presente estudo realizou busca ativa dos comunicantes que não frequentavam o Programa de Controle da Hanseníase e orientou-os com o intuito de fornecer conhecimentos sobre a doença e conscientizá-los da importância de sua participação, de forma a contribuir com o controle da doença, além de evitar sequelas futuras decorrentes da hanseníase diagnosticada tardiamente. No entanto, esta ação mostrou-se eficaz em apenas pouco mais da metade dos comunicantes (55%). Vieira et al. 11 mostraram as dificuldades encontradas com 92 comunicantes registrados no Programa de Hanseníase no Ambulatório de Especialidade de Taubaté, dos quais 61,4% não aderi- 48 ram ao programa. Entretanto, apesar do alto índice de falta dos comunicantes ao acompanhamento, estudo realizado no estado de Mato Grosso para contribuir com a eliminação da doença avaliou quinze municípios prioritários e verificou que o número de contatos não aderentes ao Programa de Controle da Hanseníase aumentou significativamente em 11 municípios 12. Aderir ao programa significa aceitar as orientações propostas e segui-las adequadamente, mas vários fatores podem influenciar a adesão: aspectos biopsicossociais, características das orientações, entendimento do comunicante, assim como o acolhimento e o relacionamento com a equipe multiprofissional 1314. A falta de adesão pode acarretar em diagnóstico tardio e aumento de sequelas. Dessa maneira, faz-se necessário a participação e a busca desses comunicantes, a fim de introduzi-lo e mantê-lo no programa, para que receba informações e assistência preventiva 15. Brasil Mitie et al 16 em estudo com 679 comunicantes não aderentes registrados no Programa em uma cidade do interior de São Paulo, localizaram 631 e verificaram que 22 (3,5%) já tinham a doença instalada. Desta forma, verifica-se que a falta de adesão dos comunicantes ao Programa de Controle da Hanseníase tem sido fator facilitador para a disseminação da doença e também tem contribuído para as dificuldades de eliminação da hanseníase no país. Sabe-se que aderir ao Programa de Controle da Hanseníase é enfrentar a baixa autoestima decorrente de problemas sociais e familiares. Esse fato reduz a adesão e aumenta a demanda de acompanhamento por outros profissionais da equipe de saúde, como o assistente social e o psicólogo, para apoio e orientação desses indivíduos. O presente estudo mostrou ainda que mulheres e indivíduos sem companheiro foram mais aderentes. Estudos 10,17 têm mostrado que a mulher é mais preocupada com o controle de sua saúde, em relação ao homem. Ela é mais participativa, receptiva e atenciosa com as orientações, enquanto que o homem é menos participativo e não aderente ao Programa de Hanseníase. Esse aspecto se torna preocupante ao se considerar que, de maneira geral, estudos têm mostrado que a hanseníase tem comprometido mais as pessoas do sexo masculino do que feminino 18,19,20. Quanto ao estado civil, estudos têm mostrado que os comunicantes que possuem companheiros são mais aderentes ao REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Neri, E. C. de F. P.; Gusmão, J. L. de Programa de Controle da Hanseníase, com taxas que variam de 45,9% 21 a 62% 22. Esses achados diferem dos encontrados no presente estudo, onde os comunicantes que mais aderiram ao Programa de controle não tinham companheiro. A idade média dos comunicantes aderentes e não aderentes não foi diferente estatisticamente. Em ambos os grupos a maioria dos comunicantes estavam na segunda e terceira década de vida, dado semelhante ao encontrado por Monteiro 23 que verificou que grande parte dos indivíduos com hanseníase é acometida em sua idade produtiva, e que os comunicantes nessa faixa-etária aderem menos aos Programas de Controle, o que pode acarretar em complicações futuras decorrentes do desenvolvimento da doença, como incapacidade física, estigma e repercussão social em seu trabalho, família e sociedade. Chama atenção que todos os comunicantes nunca tinham feito exame preventivo de hanseníase por “falta de orientação” ou por “não achar necessário”. Vieira et al 11 analisaram 36 prontuários de casos novos de hanseníase no ambulatório regional de especialidades de Taubaté e identificaram 92 contatos registrados no Programa de Controle da Hanseníase, sendo que 64,1% eram faltosos. Destes, 61% justificaram o não comparecimento alegando esquecimento e falta de tempo. Nascimento et al 24 verificaram que os principais motivos para a não adesão ao Programa de Controle da Hanseníase relacionavam-se ao fato dos comunicantes se sentirem saudáveis, sem portanto, julgarem necessário o controle de saúde e, além disso, não acreditavam na doença. Outro estudo constatou que a falta de adesão ao programa ocorria em decorrência de esquecimento, falta de tempo, falta de recursos financeiro e desconhecimento sobre a importância do controle da doença 25, dados semelhantes aos do presente estudo. Outro aspecto é que a maioria dos comunicantes, aderentes ou não, declararam não ter recebido informações sobre a doença durante visitas domiciliares. Porém, logo após o contato pessoal com a pesquisadora, essas orientações foram fornecidas e os comunicantes foram novamente encaminhados para o serviço de saúde para integração ao Programa. Mas, independente dessas informações, a maioria dos entrevistados de ambos os grupos já tinham ouvido falar sobre hanseníase, entretanto, quase metade não sabia dizer o que era a doença. Estudo realizado por Femina et al. 22 constatou que 40% dos comunicantes estudados nunca tinham ouvido falar em hanseníase e 44% desconheciam as manifestações clínicas da doença, sendo que 14% achavam que toda pessoa com hanseníase tinha deformidades e deficiência física. Apenas 2% sabiam que a doença provoca manchas na pele e perda de sensibilidade, 10% sabiam que a doença é contagiosa e 36% sabiam que os comunicantes necessitariam realizar o controle de saúde no programa. Esses dados assemelham-se aos mostrados no presente estudo e reforçam a dificuldade de se controlar a doença. É importante salientar que 43,2% dos participantes do estudo residiam em áreas de abrangência de Unidade Estratégica de Saúde da Família (ESF), onde o serviço de saúde tem por obrigatoriedade assistir as famílias efetivando ações de prevenção de doenças, busca ativa e controle de doenças infecto contagiosas, dentre as quais a hanseníase. As Unidades de ESF têm como finalidade reconhecer todo seu território de abrangência assim como as famílias que nele estão inseridas, prestando assistência integral às pessoas. Deste modo, pode-se dizer que o número de comunicantes que não aderiram ao Programa de Controle da Hanseníase e são moradores de área de ESF é elevado, devendo os profissionais dessas Unidades utilizar estratégias para examinar esses comunicantes que ainda não aderiram ao Programa da doença. As equipes de saúde da família estão numa posição privilegiada para essas ações principalmente por conhecer todo seu território de abrangência, assim como os membros integrantes de cada família. Conclusões Os resultados do presente estudo permitiram concluir que pouco mais da metade dos comunicantes aderiram ao Programa de Controle da Hanseníase após serem orientados, sendo que as mulheres foram mais aderentes assim como os indivíduos sem companheiro. As principais razões para não adesão foram “falta de orientação” e “não achar necessário”. Além disso, houve uma tendência do grupo que aderiu a fazer mais consultas do que o grupo que não aderiu e a apresentar mais manchas no corpo. A maioria dos comunicantes estudados era do sexo feminino, com idade média de 35±7 anos, não brancos, sem companheiro, com ensino fundamental, exercia atividades domésticas e com renda entre 1 e 5 salários mínimos. A maioria dos comunicantes nunca tinham recebido informações sobre a doença durante a visita domiciliar, mas 42,7% já tinham ouvido falar sobre hanseníase, principalmente entre parentes e amigos e em consulta médica, posto de saúde ou por profissionais de saúde. REFERÊNCIAS (Endnotes) 1 Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância Epidemiológica. Caderno 7. Brasília (DF): Secretaria da Vigilânica em Saúde; 2009. 2 Veronesi R, Focaccia R. Tratado de infectologia. 3. ed. In: Focaccia R. Doenças Transmissíveis. São Paulo: Atheneu; 2005. p. 1275– 2169. 3 Visschedijk J, Broek JV, Eggens H, Lever P, Beers SV, Klatser P. Review: Mycobacterium leprae - millennium resistant! Leprosy control on the threshold of a new era. Blackwell Science. Rev Trop Med and International Health. 2000; 5(6):388-399. 4 Hatta M, Beers SM van, Madjid B, Djumadi A, Wit MYL, Klatser PR. 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O compromisso da SBD com a eliminação da hanseníase no Brasil: somos também responsáveis pelo fracasso dessa meta. Anais Bras Dermatol. 2005; 80 (1): 7-8. 9 World Heath Organization (WHO). Adherence to long-term therapies: Evidence for action. Geneva; 2003. 10 Oliveira MHP, Romanelli G. Os efeitos da hanseníase em homens e mulheres: um estudo de gênero. Rio de Janeiro. Cad Saúde Públ. 1998; 14(1):51-60. 11 Vieira CSCA, Soares MT, Ribeiro CTSXR, Silva LFG. Avaliação e controle de contatos faltosos de doentes com Hanseníase. Rev Bras Enferm. 2008; 61(spe): 682-8. 12 Oliveira BFA, Ignotti E, Hartwuig SV, Scatena JH, Andrade VLG. Acréscimo na detecção de casos de hanseníase como resultado da vigilância de comunicantes em 15 municípios considerados prioritários do estado do Mato Grosso. Londrina. Rev. Espaço para a Saúde. 2007; 8 (2): 11-19. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 49 Adesão de comunicantes às ações de controle e prevenção da hanseníase: estudo descritivo 13 Rapley P. Self-care: re-thinking the role of compliance. Austral J Adv Nursing. 20 Simões MJS, Delello D. Estudo do Comportamento Social dos Pacientes de Hansení- 1997; 15(1):20-5. ase do Município de São Carlos. Londrina. Rev Espaço para a Saúde. 2005; 7 (1):10 -15. 14 Jesus ES, Augusto MAO, Gusmão JL, Mion Jr D, Ortega K, Pierin AMG. Perfil de 21 Aquino DMC, Caldas AJM, Silva AAM, Costa ML. Perfil dos pacientes com han- um grupo de hipertensos: aspectos biossociais, conhecimentos e adesão ao trata- seníase em área hiperendêmica da Amazônia do Maranhão. Uberaba. Rev Soc Bras mento. Acta Paul Enferm 2008;21(1):59-65. Med Trop. 2003; 36(1): 57-64. 15 Reginster JY. Adherence and persistence: Impacto on outcomes and health care 22 Femina LL, Soler ACP, Nardi SMT, Paschoal VDA. Lepra para hanseníase: a visão resources. Bone. 2006; 38 (suppl. 2):18-21. do portador sobre a mudança de terminologia. Rio de Janeiro. Rev Hansen Int. 16 Brasil MTLRF, Oliveira LRO, Rímoli NS, Sérgio Cavallari FS, Gonçalves OS, Lessa 2007; 32(1): 37-48. ZL, et al. Sorologia Anti PGL-1 e risco de ocorrência de hanseníase em área de alta 23 Monteiro CA. Velhos e novos males da saúde no Brasil: a evolução do país e de endemicidade do Estado de São Paulo: quatro anos de seguimento. Rev Bras Epide- suas doenças. 2.ed. São Paulo: Hucitec; 2000. miol. 2003; 6(3):262-271. 24 Nascimento Júnior CF, Correia DS, Gomes Filho Neto M, Bastos RPC. Busca ativa 17 Santos AS, Castro DS, Falqueto A. Fatores de risco para transmissão da Hanse- de hanseníase nos comunicantes intra-domiciliares dos pacientes do programa de níase. Brasília. Rev Bras Enferm. 2008; 61(esp):738-43. controle da hanseníase do Hospital Universitário/Universidade Federal de Alagoas. 18 Gauy JS, Hino P, Santos CB. 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E-mail: [email protected] ** Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo, Professora do Programa de Mestrado em Enfermagem da Universidade Guarulhos - SP. E-mail: jgusmao@ prof.ung.br. (autor correspondente) 50 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Artigo Original Notificação Compulsória de violência contra a mulher Mandatory notification of violence against women * Maria Luiza Franco Garcia ** Rosa Áurea Quintella Fernandes Resumo Objetivo: Trata-se de pesquisa descritiva, exploratória, documental com abordagem quantitativa que teve como objetivo verificar a adequação do registro dos dados que compõem o formulário de notificação compulsória de violência contra a mulher. Método: Foram analisadas as 144 fichas de notificação encaminhadas pelos serviços de saúde do município ao Conselho de Direitos da Mulher, no período de agosto de 2008 a dezembro de 2010. Resultados: Os resultados evidenciaram que, das 144 fichas analisadas, apenas 19% apresentavam todos os itens preenchidos. O dado preenchido por completo em 100% dos casos foi a identificação do profissional. A falta de preenchimento de todos os itens da notificação compulsória prejudicou a elaboração do perfil da violência no município e expôs a falta de qualidade dos registros na ficha. Conclusão: O quadro da violência só poderá ser modificado quando os profissionais forem orientados e incentivados a notificarem corretamente os casos ocorridos. Além disso, os profissionais de saúde devem ser capacitados para o atendimento e acolhimento das mulheres e alertados sobre sua responsabilidade ética no preenchimento adequado das notificações e sobre a importância de sua participação para a visibilidade do problema. Descritores: Violência contra mulher, Enfermagem, Notificação. Summary Objective: This is a descriptive, exploratory, documental research with a quantitative approach that aimed analyze the adequacy of the data records which compose the notification form. Method: A total of 144 violence notification cards, referred by the health services of this municipality to the Women’s Rights Council from August 2008 to December 2010, were analyzed. Results: The results showed that, of the 144 cards analyzed, only 19% had all the items filled out. The data which were filled out in 100% of cases were identification of the professional. The lack of complete filling-out of all items in the mandatory notification was an impediment to the working-out of the true profile of violence in the investigated municipality and exposed the poor quality of the records in the notification cards. Conclusion: It will only be possible to change the picture of violence by instructing the professionals and by encouraging them to report the cases occurred. Besides that, the health professionals need to be trained to provide care and show sympathy to the victims and to be aware of their responsibility when filling out the notifications and the importance of their participation in enhancing the visibility of the problem. Descriptors: Violence against women, Nursing, Notification. Introdução A pesquisa em enfermagem na área da saúde da mulher aponta lacunas em áreas prioritárias e demonstra a escassez de investigações sobre violência e gênero. A falta de estudos sobre notificação dos casos de violência contra a mulher é apontada em estudo que mapeou o período entre 2001 e 2005, apesar do tempo decorrido, a lacuna de conhecimento persiste, pois são poucas as publicações que abordam este tema1. A violência contra a mulher independe de idade, cor, etnia, nacionalidade, opção sexual ou condição social e tomou tal dimensão que é considerada um grave problema social com inúmeras repercussões sobre sua saúde física e psicológica2. Está ligada ao poder, privilégios e controle masculinos sobre a mulher e, sobretudo, à visão de que a mulher é objeto de posse e subjugação. O mapa da violência 20123 aponta que a taxa de homicídios de mulheres no Brasil (por 100 mil habitantes) em 2010 foi de 4,6. A análise da evolução destas taxas evidencia que houve um aumento crescente até 1996, a partir daí observa-se um decréscimo até o ano de 2007 quando, volta a crescer. O Brasil ocupa a desonrosa 7º colocação de homicídios de mulheres no contexto de 84 países. Outros países da América Latina apresentam taxas muito mais baixas como Peru (0,4), Chile (1,0), Argentina (1,2), Paraguai (1,3). Estes dados, entretanto, não dão a dimensão precisa da violência contra a mulher uma vez que, englobam tão somente os casos fatais. A magnitude do problema é muito maior. A invisibilidade que envolve a questão da violência contra a mulher está atrelada à falta de estatísticas precisas decorrentes de fatores como a falta de notificação ou de identificação do problema ou mesmo de denuncias. A notificação da violência contra a mulher atendida em serviços de saúde, hoje é compulsória (Lei nº 10.778 4, de 24 de novembro de 2003 em vigor desde 24 de março de 2004) 5. Entretanto, sabe-se que nem sempre os profissionais de saúde conhecem a legislação que os obriga a notificar assim como, nem sempre, estão preparados para identificar o caso como violência. No atendimento à mulher muitas vezes os agravos não são percebidos como violência pelos profissionais e, apenas uma parte das vitimizadas relata o acontecido aos profissionais, o que implica na invisibilidade dos casos6. Quando mulheres que estão sofrendo violência procuram os serviços de saúde dificilmente revelam espontaneamente esta situação7. Mesmo quando questionadas, nem sempre têm coragem de admitir o fato por ser bastante penoso para ela falar sobre a violência. Para agravar a situação, algumas não reconhecem os atos agressivos cometidos pelo marido ou companheiro como violência, mas sim como “ignorância”, “estupidez” e outros termos semelhantes8. Algumas não denunciam o agressor, especialmente se for o companheiro, porque acreditam que eles mudarão de comportamento. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 51 Notificação Compulsória de violência contra a mulher fizeram parte as 144 fichas de notificação compulsória que caracterizaram violência contra mulheres, desde a instalação do Conselho. Foram seguidas as normas para pesquisa envolvendo seres humanos, estabelecidas pela resolução 196/ 96 do Conselho Nacional de Saúde. A coleta iniciou-se após aprovação do Comitê de Ética da Universidade Guarulhos (Protocolo nº 214/ 2009) e autorização formal da Diretora do Conselho da Mulher do município onde as notificações são arquivadas. Por tratar-se de pesquisa documental, não houve Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para a coleta dos dados, foi criado um formulário-guia com base na ficha de notificação compulsória do município. O formulário está constituído pelos itens de interesse para este estudo e constou de : dados sociodemográficos das mulheres; da ocorrência da violência ;da tipologia da agressão; o tipo de violência e o meio utilizado.Além disto foram identificadas informações referentes ao agressor como:sexo, vínculo com o agredido, envolvimento com álcool e os dados sobre a evolução do caso: alta, evasão ou óbito e do profissional de saúde que preencheu a ficha . Do ponto de vista da saúde pública, as informações são essenciais para traçar o perfil epidemiológico da violência contra a mulher por tipos, identificar os fatores de risco, elaborar estratégias de promoção à saúde e de prevenção dos agravos, formular políticas públicas intersetoriais do enfrentamento da violência contra a mulher, contribuir para qualificar as ações relativas à assistência, recuperação e reabilitação das vítimas9. O mapa da violência3 aponta o município de Itaquaquecetuba como o 10º colocado no Estado de São Paulo no contexto do número de homicídios de mulheres. O município apresenta grandes deficiências em urbanização, infraestrutura, saúde, educação, segurança, entre outras, sendo marcante a presença de população em condições de pobreza e em situação de exclusão social. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)10 o município apresenta a maior incidência de pobreza e violência da Região do Alto Tietê e, é o quarto mais pobre do Estado de São Paulo. Esta realidade impulcionou a adminstração do município a realizar um diagnóstico participativo da violência e criminalidade e, dentre alguns desafios identificados na região, a violência doméstica surgiu com grande relevância. Em consequência foi criada no município uma legislação própria e específica para os casos de violência contra mulher. A Lei 2417 de 15 de março de 200611 criou o Conselho Municipal da Mulher (CMDM), institucionalizado em 2007, para onde convergem todas as Notificações Compulsórias dos diferentes serviços de saúde. A necessidade de monitorar o preenchimento destas notificações motivou a realização deste estudo que teve como objetivo: verificar a adequação do registro dos dados que compõem o formulário de notificação compulsória de violência contra a mulher, no município. Resultados Neste estudo, foram analisadas as fichas de notificação compulsória arquivadas no Conselho de Direitos da Mulher que caracterizavam violência contra a mulher ,com idade, acima de 19 anos, encaminhadas pelos serviços de saúde do município, no período de agosto de 2008 a dezembro de 2010. Os resultados indicam o encaminhamento de 10 fichas (7%) em 2008, 92 ( 64%) em 2009 e, 42 (29%) em 2011.Do total de fichas analisadas (144) apenas 19% apresentavam todos os itens preenchidos e, apenas, o item identificação do profissional que realizou a notificação estava completo em 100% delas, observou-se, ainda, que o profissional que mais realizou notificações foi o enfermeiro (51%). Das 104 fichas que continham informação sobre a evolução dos casos a maioria (86%) teve como desfecho a alta após o atendimento. Método Trata-se de pesquisa descritiva, exploratória, documental com abordagem quantitativa, realizada no Conselho Municipal da Mulher do município de Itaquaquecetuba. Este conselho é responsável pelo arquivamento de todas as fichas de notificação compulsória de casos de violência encaminhadas pelos serviços de saúde do município. Os dados foram coletados no primeiro semestre de 2011 e Variáveis % N % N % N % (n = 144) (n = 42) (n = 92) (n = 10) Total 2010 2009 2008 N Tabela1. Distribuição dos dados sociodemográficos contidos nas fichas com o item preenchido. Itaquaquecetuba. 2008 – 2010. Raça/ Cor Branca 04 50 38 50 21 58 63 53 Parda 01 13 24 32 09 25 34 28 Preta 03 38 12 16 03 8 18 15 Amarela 00 0 02 2 01 3 03 2 Indígena 00 0 00 0 02 6 02 2 Total 08 100 76 100 36 100 120 100 Faixa etária 19 ├ 30 03 30 47 51 10 24 60 42 30 ├ 40 03 30 14 15 17 42 34 28 52 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Garcia, M. L. F.; Fernandes, R. Á. Q. 40 ├ 50 03 30 18 20 10 24 31 22 ≥ de 50 anos 01 10 13 14 04 10 18 13 Total 10 100 92 100 41 100 143 100 8 01 4 04 6 Escolaridade Analfabeta 00 0 03 Fundamental Incompleto 00 0 06 17 01 4 07 10 Fundamental Completo 00 0 06 17 01 4 07 10 Médio Incompleto 02 25 07 21 02 7 11 15 Médio Completo 04 50 07 21 08 28 19 27 Superior Incompleto 02 25 03 8 08 28 13 18 Superior Completo 00 0 03 8 07 25 10 14 Total 08 100 35 100 28 100 71 100 Casada/ União 02 40 34 53 18 47 54 49 Solteira 02 40 21 32 16 41 39 36 Separada 01 20 06 9 03 7 10 9 Viúva 00 0 04 6 02 5 06 6 Total 05 100 65 100 39 100 109 100 41 02 9 22 29 Situação Conjugal Ocupação Do lar 01 17 19 Desempregada 01 17 10 21 01 4 12 16 Aposentada 00 0 07 15 00 0 07 9 Vendas/ Comércio 01 17 04 9 11 48 16 21 Secretária 02 32 03 6 02 9 07 9 Enfermagem 00 0 03 6 02 9 05 7 Outros 01 17 01 2 05 21 07 9 Total 06 100 47 100 23 100 76 100 O item raça/ cor foi preenchido em 80% das fichas no ano de 2008, (83%) em 2009 e 86% no ano de 2010 e evidenciou que a maioria das vítimas se autorreferiu como branca (53%). Dos itens preenchidos por completo, a idade das mulheres foi um dos mais anotados (99%). No ano de 2009 todas as fichas (100%) estavam preenchidas neste item. A idade das vítimas variou de 19 a 89 anos. No ano de 2008, houve distribuição uniforme de três faixas etárias com percentual de 30%, no ano de 2009 a maioria (51%) encontrava-se na faixa etária de 19 a 29 anos e, em 2010 predominou a faixa etária de 30 a 39 anos (42%). A escolaridade foi preenchida em menos da metade das notificações (49,3%) e o ano de 2009 teve o menor preenchimento desse item (38,4%). No que se refere à situação conjugal a maioria das fichas (75,6%) tinha o item preenchido e 49,5% das mulheres viviam com companheiro. Nesse item, o ano de 2008 foi o que apresentou o menor percentual de preenchimento (50%). A profissão/ocupação foi registrada em 52,7% das fichas e o ano com menor preenchimento (51%) foi o de 2009. Tabela 2. Distribuição dos dados da violência preenchidos por tipologia e meio de agressão. Itaquaquecetuba. 2008 – 2010. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 53 Notificação Compulsória de violência contra a mulher Variáveis N N % N % % (n = 42) (n = 92) (n = 10) Total 2010 2009 2008 N % (n = 144) Tipo de Violência * Física 09 50 73 50 37 66 119 54 Psicológica/ Moral 07 38 43 29 10 18 60 28 Sexual 01 6 18 12 01 2 20 9 Financeira/ Econômica 00 0 04 3 02 4 06 3 Tortura 01 6 04 3 05 8 10 4 Outros 00 0 04 3 01 2 05 2 Total 18 100 146 100 56 100 220 100 Violência Sexual Assédio Sexual/ AVP** 00 0 02 9 01 20 03 11 Estupro 01 100 18 86 04 80 23 85 Exploração Sexual 00 0 01 5 00 0 01 4 Total 01 100 21 100 05 100 27 100 Força corporal/ espancam 08 73 61 66 34 76 103 68 Outros 00 0 10 9 00 0 10 6 Ameaça 00 0 07 7 00 0 07 5 Objeto perfurocortante 00 0 05 5 02 4 07 5 Enforcamento 02 18 04 4 08 18 14 9 Objeto contundente 00 0 04 4 01 2 05 3 Substância /Objeto quente 00 0 04 4 00 0 04 2 Envenenamento 00 0 01 1 00 0 01 1 Arma de fogo 01 9 00 0 00 0 01 1 Total 11 100 96 100 45 100 152 100 Meio de Agressão* * Há mais de uma resposta para cada item. ** AVP Atentado Violento Pudor Observa-se, na Tabela 2, que o item tipo de violência teve o maior número de dados notificados com 97% dos itens preenchidos. Nos demais itens que caracterizam a violência o número de fichas preenchidas por completo foi bem menor. Na análise conjunta dos dados, observa-se, na Tabela 2, que a violência mais praticada foi a física (54%), seguida da psicológica (28%). Nos anos de 2008 e 2009, a violência física foi identificada como a mais frequente (50%), em 2010 o percentual foi de 66%. A violência psicológica foi a mais praticada em 2008 (38%) e 2009 (29%). A violência sexual foi mais encontrada em 2009 (12%). O estudo atual evidencia, no ano de 2009, a violência 54 sexual em 18 mulheres, sendo o estupro o mais apontado em 85% dos casos. Em relação ao meio de agressão, a força corporal/ espancamento, no conjunto dos três anos de pesquisa, representou o item de maior frequência de ocorrência (68%), no ano de 2008 (73%), 2009 (66%) e em 2010 (76%). O segundo meio mais evidenciado de ataque às mulheres foi o enforcamento (9%) e é observado nos três anos analisados. Em 2008 e 2010 representaram (18%) dos meios de agressão. Tabela 3. Distribuição dos dados segundo local da ocorrência e reincidência da agressão. Itaquaquecetuba. 2008 – 2010. REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Garcia, M. L. F.; Fernandes, R. Á. Q. Variáveis N % (n = 10) 2010 2009 2008 N % % N (n = 42) (n = 92) Total N % (n = 144) Local da Ocorrência Residência 05 50 70 77 29 74 104 74 Via Pública 03 30 18 19 06 15 27 19 Indústria/ Construção 00 0 02 2 00 0 02 1 Habitação coletiva 02 20 01 1 01 3 04 3 Escola 00 0 01 1 00 0 01 1 Bar/ similar 00 0 00 0 03 8 03 2 Total 10 100 92 100 39 100 141 100 Não 07 30 41 61 27 71 75 65 Sim 03 70 26 39 11 29 40 35 Total 10 100 67 100 38 100 115 100 Reincidência Este dado encontrava-se anotado em 5% das fichas do ano de 2008, em 44% de 2009 e em 35% nas do ano de 2010. A segunda lesão mais registrada foi corte/ perfurações/ laceração com percentual de registro de 36% nos três períodos, 3% das fichas preenchidas em 2008, 17% em 2009 e 16% em 2010. Quanto à topografia, analisando-se os três anos estudados, este item foi preenchido por completo em 131 fichas e os membros superiores foram os locais mais atingidos (69%), seguido de cabeça e face (45%). Na Tabela 3, observa-se que o local da ocorrência foi preenchido em 98% nos três anos analisados e a anotação sobre a reincidência da agressão em 80%. Os dados revelam que, no geral, não houve reincidência do agravo em 65% das vezes. Em 2008,100% das fichas foram preenchidas e, nesse ano, o percentual de reincidência foi de 70%. Em 2009, 73% foram preenchidas, e, em 2010, 90%. Das fichas com este item preenchido evidenciou-se, no ano de 2009, que, em 61% delas, não foi apontada reincidência da violência e, no ano de 2010, o percentual foi de 71%. Nas características da violência dois itens devem ser registrados: a natureza da lesão e a topografia. No que se refere à natureza da lesão, as contusões foram as mais frequentes em todos os anos pesquisados, com registro em 84% das fichas. Tabela 4. Distribuição dos dados segundo número de envolvidos, vínculo/ parentesco e sexo do agressor. Itaquaquecetuba 2008 - 2010. 2008 Variáveis N 2009 % (n = 10) N 2010 % (n = 92) N Total % N % (n = 42) (n = 144) 39 Número de Envolvidos Um 10 100 68 93 117 95 Dois ou mais 00 0 05 7 01 2 06 5 Total 10 100 73 100 40 100 123 100 REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 98 55 Notificação Compulsória de violência contra a mulher Vinculo/ Parentesco Cônjuge 01 10 28 30 23 56 52 37 Desconhecido 03 30 20 24 11 27 34 24 Outros 00 0 14 16 00 0 14 10 Amigos /Conhecidos 01 10 11 14 00 0 12 9 Filho (a) 00 0 05 6 00 0 05 3 Irmão 01 10 04 4 01 2 06 5 Cuidador 01 10 04 4 00 0 05 4 Pai 01 10 01 1 01 2 03 2 Ex- Cônjuge 02 20 01 1 05 13 08 6 Total 10 100 88 100 41 100 139 100 Masculino 08 89 61 87 40 98 109 91 Feminino 01 11 04 6 01 2 06 5 Ambos os sexos 00 0 05 7 00 0 05 4 Total 09 100 70 100 41 100 120 100 Sexo do Agressor Na Tabela 4 observa-se nos três períodos que o número de envolvidos foi preenchido em 86% das fichas, a anotação do vínculo/ parentesco em 96% e o sexo do agressor em 83%. Na análise total dos dados, percebe-se que a maioria das vítimas (95%) foi agredida por uma pessoa, do sexo masculino (91%) e, em 43% dos casos, o agressor foi o cônjuge ou excônjuge. Discussão O profissional de saúde que atende a vítima de violência deve ser capaz de detectar e notificar os casos de que tiver conhecimento, diagnosticar situações de violência e, acima de tudo, livrar-se de ideias preconcebidas a respeito de violência e notificação dos casos. Os achados desta pesquisa, mesmo prejudicados pela deficiência dos dados das fichas, são importantes para subsidiar tanto autoridades e gestores da área da saúde, quanto de outras áreas no desenvolvimento de políticas de prevenção, contenção da violência, estabelecimento de prioridades, metas e ações adequadas à magnitude do problema, o que contribuirá para o rompimento do silêncio e a invisibilidade da violência contra a mulher. A violência contra a mulher, apesar de configurar problema de alta relevância e elevada incidência, apresenta pequena visibilidade social. O registro no Sistema Único de Saúde (SUS) destes casos é fundamental para dimensionar o problema e suas consequências, a fim de contribuir para o desenvolvimento das políticas e atuações governamentais em todos os níveis 9, 12. Os registros, quando devidamente preenchidos, possibilitam a informação e, consequentemente, a visibilidade do fenômeno, visando o rompimento, a indiferença e a cumplicidade da violência vivida. Do ponto de vista da saúde pública, as informações são essenciais para traçar o perfil epidemiológico da violência contra a mulher por tipos; identificar os fatores de risco; elaborar estratégias de promoção à saúde e de prevenção dos agravos; formular políticas públicas intersetoriais do enfrentamento da violência 56 contra a mulher; contribuir para qualificar as ações relativas à assistência, recuperação e reabilitação9. “..a necessidade de melhorar a qualidade da informação não deve ser entendida apenas do ponto de vista técnico, mas sim como uma possibilidade de capacitar a sociedade a tomar decisões coerentes com seus problemas, com vistas ao avanço da cidadania e da qualidade de vida...” 13 A notificação compulsória tem por finalidade não só atender às legislações de âmbito federal, estadual e municipal, que dispõem sobre a notificação de casos suspeitos ou confirmados de violência contra a mulher que chegam aos serviços de saúde, mas também a produção de informações em saúde relacionada à violência5. O monitoramento da violência contra a mulher na saúde, em nosso país, abrange a mortalidade e morbidade hospitalar, internamento via SUS e notificação compulsória da violência de gênero. Os sistemas existentes no SUS não demonstram a totalidade dos casos de violência, e sim uma pequena parcela, representando os casos mais graves da violência, subestimando o verdadeiro valor, visto que nem todos os tipos de violência causam lesões e na maioria das vezes não necessitam de avaliação médica12. Dessa forma, com a carência de informações, faz-se necessário que profissionais adquiram competências durante sua formação e comprometimento em atender aos casos que chegam ao serviço de saúde14,15,16 , 17. Os dados de morbimortalidade dos casos atendidos na área hospitalar são essenciais, mas não suficientes para a caracterização do perfil epidemiológico de violência contra a mulher. Os casos de violência que não chegam a óbito ou internação não são captados. As informações incompletas dificultam a caracterização da vítima, não permitindo fazer associação com fatores de risco importantes e localização espacial das violências, o que REVISTA ENFERMAGEM ATUAL IN DERME 2013; 64 Garcia, M. L. F.; Fernandes, R. Á. Q. gera altos custos para a sociedade, para os indivíduos e para o setor saúde12. Reconhecer a violência contra a mulher como uma questão de vigilância constitui um grande avanço18,9,19. Ao mesmo tempo, a compreensão da complexidade do fenômeno a partir de uma abordagem interdisciplinar e intersetorial possibilita o planejamento das políticas públicas integradas de superação da violência9. Portanto, é fundamental a captação e produção da informação sobre as diversas formas de violência para dimensionar o impacto na vida das pessoas e nos serviços de saúde12. O setor saúde convive cotidianamente com um quadro de violência, no qual mulheres não contam e os profissionais não perguntam17,20 permanecendo uma parede de silêncio. Múltiplas e complexas são as razões que sustentam essa situação. As mulheres em situação de violência sentem medo, vergonha, culpa e, muitas vezes, não acreditam que podem receber apoio. Os profissionais, em geral, não se sentem habilitados para o cuidado e muitos serviços não estão preparados para a tarefa21,22, 9. O despreparo e o descomprometimento profissional em lidar com as vítimas que recorrem ao serviço se devem, possivelmente, ao desconhecimento acerca de como proceder frente a esses casos, inclusive no que tange à notificação23, 24, 25. Na formação dos profissionais de saúde, envolvidos no atendimento de vítimas de violência, a maioria das disciplinas não contempla, em seus currículos e programas de educação permanente, a formação, treinamento ou orientação para realizar a notificação23,26 ,ou seja, os profissionais não se encontram preparados para oferecer uma atenção que tenha impacto efetivo na saúde das vítimas e tendem a compreender a violência contra mulher como uma problemática que diz respeito à esfera da Segurança Pública e à Justiça, e não à assistência saúde23,26. Entretanto, os profissionais têm o dever de notificar os casos de violência de que tiverem conhecimento, podendo inclusive responder por essa omissão 27, 28, 29. No Brasil, existem vários entraves à notificação compulsória, como escassez de regulamentos que firmem os procedimentos técnicos para isso, ausência de mecanismos legais de proteção aos profissionais encarregados de notificar, falha na identificação da violência no serviço de saúde e quebra de sigilo profissional30, 31 . Pesquisa realizada com profissionais de saúde32 avalia a percepção, o conhecimento e a atitude em relação à violência de gênero e aponta que a maioria dos entrevistados tem atitudes positivas e bom potencial para manejo dos casos, entretanto, para isso necessitam de capacitação. Quando indagados se a percepção da violência seria papel do profissional, 88% responderam que sim, mas concordaram que a violência não é averiguada. A maioria dos profissionais (93%) considerou ser papel do médico e enfermeiro encorajar as vítimas a sair da situação de violência. Em relação ao conhecimento sobre violência, pouco mais da metade (55%) tinha conhecimento geral sobre a violência de gênero. A maioria (93%) concordou ser inaceitável um homem bater em uma mulher, mesmo que ela tenha provocado e não culpa a mulher por estar nessa situação. O autor faz algumas considerações sobre o desconhecimento do profissional a respeito da Lei Maria da Penha, da nova legislação e sobre os profissionais que não veem a Lei como uma intervenção em casos de violência, por não acreditarem ser necessária a prisão do agressor. Confrontar o assunto violência com a vítima e a notificação dos casos configura uma grande importância, pois é por meio deles que a violência ganha visibilidade, permitindo o dimensionamento epidemiológico do problema e a criação de políticas públicas voltadas à sua prevenção9. Considerações finais A Notificação compulsória é um poderoso instrumento de política pública, representa uma ótima fonte de informações para a vigilância em saúde e monitoramento de agravos de relevância epidemiológica, para tanto é primordial que esteja adequadamente preenchida. Assim, é incontestável a necessidade premente de capacitação dos profissionais da saúde quanto à importância do preenchimento correto da notificação compulsória e de suas obrigações perante os casos suspeitos ou confirmados de violência. Recomenda-se o aprofundamento de estudos na temática violência contra mulher e notificação compulsória, de modo a responder muitas dúvidas e questionamentos que envolvem o problema. Referências (Endnotes) 1 Souto CM R M, Pessoa S M F, Damasceno M M C, Araújo TL. Tendências das pesquisas de enfermagem em saúde da Mulher no período de 2001 a 2005. Texto Contexto Enferm, 2007; 16(4): 719-26. 2 Penna LHG, Santos NC dos. Violência contra a mulher. In: Fernandes RAQ, Narchi NZ. 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