tumor de wilms - Grupos.com.br

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE
CURSO DE MEDICINA
CIRURGIA PEDIÁTRICA
TUMOR DE WILMS E NEUROBLASTOMA
Mateus Frezza
Morgana Balbinot
Natalia Paes
Itajaí, 2007
TUMOR DE WILMS:
5.1 Introdução
Também chamado nefroblastoma, é o tumor maligno primário de rim mais
freqüente da infância. Responsável por 5 a 10% de todos os tumores infantis. Há
evidências de que tenha maior incidência na raça negra e na Escandinávia,
Nigéria e Brasil, e menor no Japão, Índia e Singapura. É um exemplo de grande
sucesso terapêutico, com sobrevida livre de doença em torno de 85%.
Atualmente o tratamento da criança portadora do tumor de Wilms visa não
somente a cura, mas com muita importância a morbidade do tratamento.
Há diversos grupos cooperativos estudando o tumor de Wilms, entre eles:
National Wilms Tumor Study (NWTS) nos Estados Unidos, grupo da Sociedade
Internacional de Oncologia Pediátrica (SIOP) na Europa e grupo Cooperativo
Brasileiro para o Tratamento do Tumor de Wilms (GCBTTW). Através desses
estudos foram desenvolvidos e avaliados tratamentos e características do tumor
definindo fatores prognósticos e orientando o tratamento ideal.
Apresentação Clínica:
Tanto o sexo feminino como o masculino são igualmente afetados. O pico
de incidência está ao redor dos 3 anos de idade. É raro no recém-nascido e no
adulto. Pacientes do sexo feminino são mais velhos em média 6 meses que os
do sexo masculino. Os pacientes de raça negra são significativamente mais
velhos que os de raça branca e asiáticos. Pacientes com anomalias congênitas,
tais como aniridia e genitourinárias, são mais novos do que os que não
apresentam anomalias.
A associação com anomalias congênitas é extremamente útil para
determinar formas hereditárias e os possíveis locais dos genes envolvidos. As
anomalias mais associadas são a aniridia, hemi-hipertrofia e malformações
genitourinárias. Também apresenta maior incidência em pacientes com
neurofibromatose, síndrome de Beckwith-Wiedmann e Denys-Drash. As
anomalias genitourinárias são as mais freqüentes (4-8%), entre elas: rim em
ferradura, displasia renal, doença cística renal bilateral, hipospádia, criptorquidia
(a mais freqüente, 1,3%) e duplicação do sistema pielocalicial. Recomenda-se
US abdominal rotineiramente para as crianças portadoras de hemi-hipetrofia e
aniridia, porém a freqüência desse exame ainda é discutida.
Geralmente apresenta-se como uma massa abdominal assintomática em
consulta rotineira ou palpada pelos próprios pais ao dar banho na criança. A
massa geralmente é firme e regular, preenchendo a loja renal, podendo
ultrapassar a linha média. Outros sinais e sintomas associados incluem: dor
abdominal, hematúria macro ou microscópica, hipertensão, febre de origem
indeterminada, anorexia e vômitos. A hipertensão está presente em 25% dos
casos, e ocorre pela produção de renina pelo próprio tumor ou por compressão
direta na artéria renal. Pode também ocorrer hemorragia intratumoral
provocando aumento abdominal agudo, anemia e febre.
Existe a descrição de algumas Síndromes paraneoplásicas e marcadores
bioçógicos associadas ao tumor de Wilms, como a doença Von-Willebrand
adquirida, a hipercalcemia, aumento da secreção de ACTH, e aumento da
eritropoetina.
Diagnóstico:
A avaliação radiológica inicial de uma massa abdominal de origem
desconhecida tem como objetivo fornecer informações que permitam o
tratamento mais adequado. Inclui extensão local da massa, doença unilateral ou
bilateral, função do rim contralateral, presença e extensão de metástases locais
e a distância, como também extensão intravascular na veia renal, veia cava
inferior e/ou intracardíaco.
A US deve ser o primeiro exame a ser solicitado. Fornece a origem da
massa (renal ou extra renal), a consistência (sólido ou cístico), como também a
presença de trombos tumorais na veia cava inferior e intracardíaco. Deve-se
identificar o tipo (solto - estádio I, aderido ou infiltrativo - estádio III) e extensão
do trombo. É importante a identificação do trombo tumoral para evitar o
desprendimento do mesmo no ato cirúrgico.
A TC foi descrita como melhor método para avaliação de uma massa
abdominal, delineando o tumor, identificando ambos os rins, fígado e estruturas
retorperitoneais. O uso de contraste melhora as informações topográficas e
fornece informações sobre a função renal. Os riscos consistem na necessidade
de utilização de contraste, de sedação e de radiação.
Caso a US não for disponível e/ou não for feita por médicos experientes,
a urografia excretora deve ser o primeiro exame a ser solicitado. Permite
identificar formas especiais to tumor, como tumor bilateral e em rim único.
A radiografia de tórax nas quatro posições é recomendada para detecção
de metástases pulmonares.
Diagnóstico Diferencial:
O principal diagnóstico diferencial é o neuroblastoma. Quando originado
da supra-renal ou gânglio simpático paravertebral desloca, em vez de distorcer o
rim. Lesões císticas benignas, tais como rins policísticos, cistos multinodulares e
hematomas, podem ser confundidos. Lesões intra-renais, como o nefroma
mesoblástico, nefroblastematose, nefroma cístico, carcinoma renal, teratoma
renal e linfoma renal, devem ser consideradas.
Diagnóstico histopatológico:
Além da confirmação diagnóstica, o exame histopatológico deve identificar
marcadores de agressividade biológica, como a anaplasia descrita por Beckwith,
como sendo o fator prognóstico mais importante.
Estadiamento:
É sempre clínico, cirúrgico e patológico. Os sistemas mais utilizados são
os desenvolvidos pelo NWTS e pela SIOP.
Estadiamento NWTS e SIOP
Estadiamento NWTS
I
II
III
Tu
limitado
ao
rim,
completamente
retirado;
superfície da cápsula renal
intacta.
Tu estende-se além do rim, mas
é
completamente
retirado.
Existe
extensão
regional:
penetração através da cápsula
renal nos tecidos perirrenais.
Vasos extra-renais podem estar
infiltrados ou conter trombos
soltos,
não
aderentes
e
totalmentente retirados. Biópsia
anterior e/ou rotura localizada.
Nenhum gânglio pode estar
comprometido.
Tu residual confinado ao abd.
Um dos seguintes itens pode
ocorrer:
 Linfonodos
comprometidos no hilo,
cadeias peri-aórticas ou
outros
 Contaminação peritoneal
por rotura tumoral
 Implantes peritoneais
 Vasos
com
êmbolo
tumoral aderente à íntima
não
totalmente
ressecado
 Tu não completamente
ressecado
 Biópsia
prévia
com
SIOP
Idem
Idem. Gânglios peri-hilares
podem
estar
comprometidos.
Tu residual confinado ao
abd. Um dos seguintes itens
pode ocorrer:
 Tu biopsiado
 Rotura durante ou
após cirurgia
 Meta peritoneais
 Comprometimento de
linfonodos além dos
regionais
 Ressecção
incompleta
contaminação peritoneal
IV
Metástases
hematogênicas Idem
(pulmão, fígado, osso, cérebro)
V
Envolvimento
diagnóstico
bilateral
ao Idem
Tratamento:
Uma das maiores controvérsias com relação ao tratamento é a indicação
do tratamento pré-operatório, utilizado rotineiramente pelos protocolos da SIOP
e, comente em casos excepcionais, no NWTS. É administrado com a finalidade
de reduzir o tumor, tornando mais fácil a cirurgia. Quando o tumor está
comprimindo outros órgãos, a quimioterapia pré-operatória também está
indicada.
Vale ressaltar que nem sempre a quimioterapia pré-operatória diminui o
tumor, sendo que a falha indica mau prognóstico. A falha pode ser devido a
presença de músculo esquelético ou elementos benignos como ocorre na
variante rabdomiomatoso fetal. Pode também ocorrer hemorragia intramural até
apresentando um aumento da massa palpável, porém com o acompanhamento
por ultra-som demonstrar um cisto hemorrágico com resposta a quimioterapia
pré-operatória.
A nefrectomia continua sendo o passo fundamental no tratamento. O
cirurgião tem a responsabilidade de avaliar a cavidade abdominal com a
finalidade de promover o estadiamento correto. A via de acesso de escolha é
uma incisão transversa para que o tumor possa ser retirado completamente sem
que haja ruptura. Todo e qualquer gânglio deve ser retirado e marcado com clipe
metálico, mesmo os aparentemente inocentes, para estudo histológico e melhor
estadiamento do caso. Recomenda-se a exploração do rim contralateral antes
da remoção do tumor. Qualquer lesão suspeita deve ser biopsiada. A presença
de tumor de Wilms bilateral modifica o procedimento cirúrgico, por isso a
visualização do rim contralateral deve ser realizada antes da nefrectomia. A
infiltração hepática por contigüidade e as metástases hepáticas hematogênicas
devem ser observadas, pois apresentam prognósticos diferentes. A complicação
cirúrgica mais freqüente é a obstrução intestinal, seguida de hemorragia e
infecção da cicatriz. Os fatores associados às complicações são: tumor
avançado localmente, extensão intravascular e ressecção de outros órgãos
durante o ato cirúrgico. A ruptura tumoral é o fator mais importante para
aumentar a incidência de recorrência abdominal, tanto a ruptura local como a
disseminada.
As
três
principais
drogas
classicamente
sensíveis
usadas
na
quimioterapia são a actinomicina D, a vincristina e a adriamicina. Porém, tem se
demonstrado resposta a outras drogas, como: ifosfamida, etopóside, a
ciclofosfamida e a carboplastina.
A radioterapia é indicada somente nos casos de histologia desfavorável e
nos estádios III e IV.
Tratamento de acordo com o estadiamento
histologia favorável
Estádio
Drogas
Duração
Radioterapia
I
Ac+V
18 s
Não
II
III
IV
Ac+V
24 s
Não
Ac+V+Ad
24 s
Sim
Ac+V+Ad
24 s
Sim
Fatores Prognósticos:
Os dois principais fatores prognósticos conhecidos e estabelecidos são a
histologia do tumor e o estadiamento. Outros fatores quem sugerem ter valor
prognóstico são: a perda da heterozigose do cromossomo 16 q e 1 p, conteúdo
de DNA, mutação do p53 e o fator de crescimento fibroblástico.
6 NEUROBLASTOMA
6.1 Introdução
Neuroblastoma é um tumor proveniente de simpatogônias, um tipo celular
proveniente de células nervosas indiferenciadas da crista neural e que dão
origem à medula adrenal e a todos os gânglios e plexos simpáticos do
organismo.
Os neuroblastomas representam o quão incerta pode ser a evolução de
uma doença: são, ao mesmo tempo, os tipos de tumores que apresentam o
maior número de casos com regressão espontânea de neoplasias malignas e os
que apresentam os menores potenciais de cura, situando-se em torno de 10%
dos casos. Explica-se tal estimativa de regressão espontânea através de estudo
realizado com necropsia da medula adrenal de crianças com idade até 3 meses
onde foram encontradas características histológicas de neuroblastoma in situ
numa proporção de 1 para cada 39 crianças. (GUIN, G. H.; GILBERT, E. F.;
JONES, B., 1969)
Esse tipo de tumor acomete principalmente crianças, sendo raro em
adultos. Cerca de 75% dos casos têm seu início até o 4º ano de vida. Ocorre
discreto predomínio de incidência no sexo masculino. Sua etiologia ainda é
desconhecida, entretanto, por sua origem de células neurais, os neuroblastomas
são frequentemente encontrados em associação com a Neurofibromatose e a
doença de Hirschsprung.
O achado histopatológico característico do neuroblastoma é um agrupado
de células neoplásicas ao redor de um centro no qual processos neurais
fibrilares se entrelaçam formando as Rosetas. Agrupamentos semelhantes são
também encontrados na medula óssea, as pseudo-rosetas, que nada mais são
que células metastáticas sem material fibrilar central.
O grau de diferenciação celular determina o grau de malignidade do
tumor:
os
constituídos
ganglioneuromas,
exclusivamente
forma
por
benigna
células
dos
neuroblastomas,
ganglionares
diferenciadas;
são
os
ganglioneuroblastomas, forma intermediária da doença, são formados por
células
em
estágios
também
intermediários
de
diferenciação;
os
neuroblastomas, por sua vez, são formados exclusivamente por células
indiferenciadas.
A análise das características histopatológicas desses tumores surgiu
como uma forma não só de sistematizar sua descrição, mas também de estimar
seu prognóstico. Essa análise leva em consideração o aspecto histológico
específico da massa tumoral, idade de incidência do tumor e seu índice de
cariorrexia (MKI), que significa o número de células tumorais em mitose e em
processo de ruptura nuclear. (SHIMADA et al, 1984)
Grupos de prognóstico de acordo com a classificação de Shimada
Prognóstico Histopatologia e Idade
Favorável
Estroma rico, não nodular, todas as idades
Estroma pobre, em diferenciação, MKI<100, idade entre 18
meses e 5 anos
Estroma pobre, MKI<100, idade < 18 meses
Desfavorável Estroma rico, nodular, qualquer idade
Estroma pobre, idade > 5 anos
Estroma pobre, indiferenciado, idade entre 18 meses e 5 anos
Estroma pobre, em diferenciação, MKI>100, idade entre 18
meses e 5 anos
Estroma pobre, MKI>100, idade < 18 meses
De particular importância é o fato que, durante o período ativo da doença,
os neuroblastomas estão associados à presença de vários marcadores, que
permite ao médico conhecer se a doença encontra-se em estado ativo e se o
tratamento é eficaz. Os mais importantes marcadores são as catecolaminas e
metabólitos urinários como o ácido vanilmandélico (VMA) e o ácido homovalínico
(HVA). Desta forma, níveis anormais dessas substâncias, quando mais de uma
é dosada, são encontrados em aproximadamente 90% dos portadores de
neuroblastoma e, em quase sua totalidade, a excreção permanece aumentada,
desde que persista a doença ativa.
6.2 Quadro Clínico
O
quadro
clínico
dos
neuroblastomas é
extremamente
variado,
dependendo, por exemplo, das características do tumor primário, de sua
integridade, do comprometimento de estruturas vizinhas e da presença de
metástases, cujos sítios mais comuns são a medula ósssea, ossos
(principalmente o crânio), linfonodos e fígado. O sintoma inicial mais comum é a
presença de massa abdominal (ficando em torno de 55% e 75% para crianças
menores e maiores de 1 ano, respectivamente). Essa massa apresente como
características superfície dura e irregular, indolor à palpação e sem predomínio
por lateralidade. Dentre os sintomas sistêmicos mais comuns estão desnutrição,
apatia e perda de peso. Efeitos metabólicos secundários à produção de
catecolaminas podem ser ocasionalmente observados, como hipertensão, rubor
cutâneo, sudorese excessiva, taquicardia e cefaléia.
6.3 Diagnóstico
O diagnóstico do neuroblastoma depende de uma amostra tecidual e/ou
da identificação de uma doença metastática. A natureza disseminada dos
neuroblastomas e suas repercussões sistêmicas fazem com que inúmeras
alterações possam ver verificadas com o emprego de variados recursos
laboratoriais; exames gerais podem revelar anemia grave (via de regra
secundária à hemorragia do próprio tumor, e mais raramente pelo acometimento
da medula óssea), leucocitose com desvio à esquerda, hipofibrinogenemia e
aumento inespecífico da enzima Lactato Desidrogenase (LDH). O exame da
punção aspirativa por agulha fina (PAAF), pode encontrar células neoplásicas na
medula óssea (realizada em pelo menos dois territórios e com realização
concomitante de biópsia).
Os critérios diagnósticos dos neuroblastomas reconhecidos pela literatura
médica são os propostos pela International Neuroblastoma Staging System
(INSS), que incluem, pelo menos:

Diagnóstico patológico indubitável do tecido tumoral, por microscopia
óptica, com ou sem recursos imunohistológicos, de microscopia eletrônica, ou
catecolaminas/metabólitos, séricos e/ou urinários elevados.

Punções aspirativas da medula óssea ou biópsia contendo células
neoplásicas,
além
de
catecolaminas/metabólitos,
séricos
e/ou
urinários
elevados.
Os exames de imagem também contribuem no diagnóstico da doença,
onde tanto a radiografia quanto a ultrassonografia podem permitir a
caracteriazação da maioria dos tumores primários e de um de seus territórios de
metástase de maior freqüência. Os achados radiológicos mais freqüentes são
representados por massas tumorais finamente calcificadas localizadas no
abdome causando deslocamento do rim ipisilateral, com preservação de sua
estrutura pielocalicial. Tanto tomografia computadorizada (TC) quanto a
ressonância magnética (RM) são igualmente eficazes em determinar e
caracterizar o tumor primário assim como as metástases regionais. Entretanto, é
a cintilografia óssea o recurso com maior acurácia na detecção de metástases.
6.4 Estadiamento
Os estadiamentos são necessários para a caracterização sistemática das
neoplasias malignas, identificando maior ou menor gravidade e, a partir deste
ponto, individualizando o tratamento e determinando o prognóstico. Para o
estadiamento dos neuroblastomas, os critérios de Evans e do Pediatric
Oncology Group (POG) são os representantes clássicos. Entretanto, ao
negligenciar a disseminação de células a linfonodos regionais esses dois
critérios de estadiamento foram substituídos pelos do INSS.
Sistema Internacional de Estadiamento (INSS)
Estádio 1
Tumor localizado, restrito ao local de origem, ressecção
completa, com ou sem resíduo microscópios, linfonodos ipsi e
contralaterais negativos e fígado normal.
Estádio 2A
Tumor
unilateral
parcialmete
ressecado,
pode
haver
envolvimento de linfonodos aderidos ao tumor, linfonodos
distantes negativos e fígado normal.
Estádio 2B
Tumor unilateral total ou parcialmente ressecado, linfonodos
ipsilaterais não aderidos positivos, linfonodos contralaterais e
fígado negativos.
Estádio 3
Tumor ultrapassa a linha média, com ou sem envolvimento de
linfonodos
regionais; ou
tumor
unilateral
com
linfonodos
contralaterais positivos; ou tumor mediano com envolvimento
ganglionar bilateral; fígado normal.
Estádio 4
Metástases a linfonodos distantes, ossos.
Estádio 4S
Tumor primário localizado como nos estádios 1, 2A ou 2B, com
metástases hepáticas, de pele e/ou medula óssea.
Fatores de Prognóstico:
Infelizmente a maioria das crianças apresenta chances de cura
extremamente limitadas. São crianças com idade acima de 1 ano ao diagnóstico
e doença disseminada, em particular ao esqueleto e/ou medula óssea. O grau
de risco representado por estes dois fatores é tão grande que restringe a
avaliação dos outros fatores de prognóstico a condições clínicas com
apresentação
menos
desfavorável,
quais
sejam,
moléstias
limitadas
regionalmente e com idade abaixo de 1 ano de idade.
6.5 Tratamento
O tratamento do neuroblastoma é, em regra, complexo. Em
muitos casos, é necessário o recurso a múltiplas modalidades terapêuticas,
incluindo cirurgia, radioterapia e quimioterapia, em variadas combinações.
Sempre que possível, estes pacientes devem ser tratados no contexto
de uma investigação clínica, em que novos protocolos são testados e
comparados com tratamentos "standard". Devido à idade destes doentes, todos
os esforços devem ser realizados no sentido de uma cura definitiva da doença.
O conceito de "intensificação de dose", que consiste no uso de doses
terapêuticas intensivas de quimioterapia com ou sem transplante de medula
óssea, pode ter aqui um largo campo de aplicação.
6.5.1 Cirurgia
A cirurgia tem um papel importante no tratamento do neuroblastoma em
estádios iniciais. De fato, a cirurgia sozinha é curativa em muitos casos de
doença inicial. No estádio 3, uma melhoria na sobrevivência tem sido
demonstrada com o uso de quimioterapia neo-adjuvante seguida de cirurgia. A
quimioterapia inicial diminui a vascularidade e friabilidade do tumor, facilitando
uma ressecção cirúrgica completa, que é um fator crítico na taxa de
sobrevivência. Tumores metastáticos (estádio 4) são tratados com quimioterapia
intensiva, com ou sem transplante autólogo de medula óssea ( TAMO ). Nestes
casos, a remoção cirúrgica do tumor primário diminui a taxa de recorrência local,
embora não melhore a sobrevivência, já que a maior parte dos doentes sucumbe
a relapso do tumor em sítios distantes. Crianças com doença no estádio 4S não
requerem, em regra, ressecção cirúrgica do tumor, já que a regra é a resolução
espontânea.
6.5.2 Radioterapia
A radioterapia tem sido usada no tratamento destes pacientes com o
intuito de diminuir a frequência de recorrências locais e erradicar metástases
distantes microscópicas ou macroscópicas. É usada como complemento da
cirurgia ou quimioterapia. Estudos sugerem que, em pacientes com doença
residual ou gânglios linfáticos positivos, a adição de radioterapia parece
melhorar o prognóstico.
6.5.3 Quimioterapia
Crianças com doença nos estádios 1 ou 2 com uma única cópia de N myc têm um prognóstico excelente com a ressecção cirúrgica do tumor primário.
Não hà indicação para o uso de radioterapia ou quimioterapia, a não ser em
doença recorrente. Crianças com doença no estádio 3 e com uma única cópia
de N - myc têm um risco moderado de recorrência do tumor. O seu tratamento
pode incluir radioterapia local e quimioterapia combinada. Crianças muito
pequenas com neuroblastomas no estádio 4S requerem, apenas, tratamento de
suporte. Crianças com amplificação do oncogene N - myc, independentemente
do estádio da doença, ou crianças com idade superior a 1 ano com tumores no
estádio 4 têm um risco substancial de progressão da doença. Estas crianças
devem ser tratadas usando protocolos de investigação clínica em uso em
grandes centros de Oncologia Pediátrica. Nos pacientes com tumores
quimiosensitivos, o uso de TAMO está em avaliação.Estudos randomizados
comparando
doentes
tratados
com
quimioterapia
convencional
versus
quimioterapia intensiva com TAMO estão em curso.
6.5.4 Considerações Gerais
O tratamento é realizado de acordo com o estadiamento e as opções
geralmente incluem cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou transplante autólogo
de medula óssea. A cirurgia é importante tanto para o diagnóstico quanto para o
tratamento, sendo o procedimento de escolha, pois pode proporcionar
tratamento curativo quando a doença for localizada e o tumor passí vel de
ressecção. Através da ressecção tumoral, obtém-se tecido para estudos
biológicos, e é feito o estadiamento cirúrgico. É importante retirar o tumor sem
comprometer estruturas vitais, enquanto os linfonodos dev. Com o second look
(segundo procedimento cirúrgico), o cirurgião determina a resposta à terapia
(completa ou parcial) e remove doença residual, quando possí vel. Se o tumor é
irressecável, parcialmente ressecável ou apresenta metástases ao diagnóstico,
a quimioterapia e/ou radioterapia devem ser utilizadas. A quimioterapia pode
reduzir a massa tumoral, quando esta compromete estruturas vitais ou é de difí
cil ressecção, melhorando a morbidade e sobrevida dos pacientes em ser
ressecados para estadiamento.
O neuroblastoma é um tumor radiosensível e a dose geralmente
utilizada é de 15 a 30Gy, dependendo da idade do paciente, volume e
localização tumoral. As doses podem ser fracionadas de 150 a 400 cGy
dependendo do volume tumoral. Antigamente a radioterapia era utilizada para
neuroblastomas residuais, tumores irressecáveis e doença disseminada.
Atualmente, a radioterapia é utilizada para controle local de foco residual da
doença (HAAS-KOGAN et al., 2003) após a quimioterapia, ou como medida
paliativa
(BRODEUR;
MARIS,
2002).
Nos
estádios
4,
a
radioterapia
hiperfracionada após cirurgia é bem tolerada e melhora o controle local da
doença.
No estádio 4S a radioterapia é indicada naqueles neonatos que
desenvolvem desconforto respiratório secundário a hepatomegalia ou quando a
quimioterapia foi ineficaz. A dose efetiva é de 3 a 6 Gy simples ou fracionada.
Entretanto, devido aos efeitos colaterais da radioterapia, a quimoterapia deve
ser a primeira escolha nestes pacientes.
A irradiação corporal total representa outra possibilidade terapêutica
nos pacientes com neuroblastoma. As doses de 7,5 a 12 Gy, feitas em 3 a 5
frações, têm sido utilizadas para regimes de transplante autólogo (TAMO) ou
transplante de células tronco. Os benefí cios de altas doses de quimio e
radioterapia,
comparada
com
quimioterapia
mieloablativas
isolada
no
diagnóstico de neuroblastoma são de alto risco e alcançam sobrevida livre de
eventos em aproximadamente 30% dos casos, aos 3 anos de acompanhamento,
mesmo aquelas que são submetidas a transplante.
A cirurgia é também o tratamento de escolha dos pacientes com estádio
2. A sobrevida livre de eventos em 4 anos é de 81%, e a maioria dos pacientes
que recidivaram foram salvos, com sobrevida global de 98%. Muitos pacientes
são tratados com quimioterapia e tem excelentes resultados de sobrevida,
porém, há muita controvérsia na literatura se estes pacientes com estádio 2,
com MYCN amplificado ou não, devem fazer quimioterapia.
A maioria dos pacientes do estádio 2 que fizeram cirurgia isolada e não
fizeram quimioterapia tiveram recidiva ou óbito pela doença, principalmente
aqueles pacientes com MYCN amplificado (RUBIE et al., 2003). O estádio 4S
entra na classificação de baixo risco e a sobrevida global é de 57 a 97%. Há um
subgrupo de pacientes com estádio 4S que apresenta histologia desfavorável
com amplificação do MYCN, onde há rápida progressão tumoral ou recidiva de
doença semelhante ao estádio 4. Isto enfatiza a importância das caracterí sticas
biológicas dos tumores e indicações de intervenção terapêutica nestes
pacientes. Uma biópsia é indicada para definir as caracterí sticas biológicas
desses tumores. Os pacientes que apresentam histologia favorável devem ser
observados, principalmente aqueles menores de 2 meses de idade, pois o tumor
pode regredir espontaneamente. Se há comprometimento respiratório a
quimioterapia é indicada. A radioterapia em doses baixas de 450 a 600 cGy, em
3 ou 4 frações é indicada naqueles pacientes que já estão sendo tratados com
quimioterapia e que mantém desconforto respiratório. Os pacientes raros, de
estádio 4S, que têm histologia desfavorável, devem ser classificados como risco
intermediário (diploidia ou histologia desfavorável de SHIMADA) ou alto risco
(amplificação do MYCN) e o tratamento deve ser planejado conforme o risco.
Os pacientes que apresentam infiltração da doença na extensão
intraespinhal ou compressão do canal medular geralmente são de baixo risco,
embora as caracterí sticas da doença possam parecer de risco intermediário ou
alto. A laminectomia descompressiva e a radioterapia são de alta morbidade. A
quimioterapia isolada reduz o tumor em 58% dos casos e a função neurológica é
preservada em 92% dos casos. Então, a quimioterapia nesses casos é a melhor
opção.
O tratamento adotado em pacientes com risco intermediário é a
quimioterapia com ciclofosfamida, doxorrubicina, cisplatina e etoposí deo. No
estudo de MATTHAY et al. (1998), a sobrevida livre de eventos em 4 anos foi
de 100% nos pacientes que tinham histologia favorável e MYCN não
amplificado. Nos lactentes, a sobrevida livre de eventos e global foi de 90% e
93%, respectivamente; enquanto a sobrevida em crianças maiores que um
ano, com caracterí sticas biológicas desfavoráveis livres de eventos, foi de 65%
e a global 75% em 4 anos.
A maioria dos lactentes com estádio quatro são de risco intermediário e
não está claro se lactentes com neuroblastoma metastático e MYCN amplificado
tem curso altamente maligno. A sobrevida livre de eventos para estes pacientes
foi de 10% e os lactentes com MYCN não amplificado têm comportamento
menos agressivo e respondem a doses moderadas de quimioterapia e evitam a
radioterapia externa. A sobrevida livre de eventos para estes pacientes foi de
93%. A combinação de quimioterápicos determinado pelo COG para o risco
intermediário inclui a carboplatina, o etoposí deo, a ciclofosfamida e a
doxorrubicina.
Os neuroblastomas classificados como de alto risco apresentam
sobrevida menor que 15%. O tratamento amplo, que inclui quimioterapia de
indução, terapia de consolidação mieloablativa com resgate das células tronco e
terapia centralizada na doença residual mí nima melhorou a sobrevida global
dos pacientes nos Estados Unidos. Entretanto, as taxas de sobrevida ainda são
baixas e há alta morbidade.
O objetivo da terapia de indução consiste em redução máxima do tumor
primário e dos sí tios metastáticos. O neuroblastoma é sensí vel à quimioterapia,
mesmo os com MYCN amplificado e doses intensivas dos derivados da platina
têm melhorado a sobrevida da doença. A eficácia da quimioterapia de indução é
determinada após o segundo procedimento cirúrgico (second look), onde é
observada resposta completa ou parcial.
A terapia de consolidação geralmente é realizada com agentes
citotóxicos e resgate com células tronco, com o objetivo de eliminar os clones
tumorais resistentes à quimioterapia supraletal com transplante autólogo de
medula óssea (TAMO).
O tratamento para neuroblastomas recorrentes ou refratários pode ser
feito através de agentes citotóxicos (topotecano, paclitaxel, irinotecan e
rebecamicina), radionuclí deos (MIBG, anticorpos anti-GD2), retinóides (13-cisácido retinóico) e terapia imune-mediada (anticorpos contra GD2). Entretanto,
para neuroblastomas de alto risco a sobrevida ainda é muito baixa.
6.5.5 Complicações
As complicações do tratamento podem ser cirúrgicas, além de efeitos
tardios da quimio e radioterapia. Os pacientes de alto risco têm maiores riscos
de complicações durante o tratamento, entre eles: alterações no crescimento,
disfunções cardí aca e renal, ototoxicidade em pacientes que utilizaram
derivados da platina, principalmente em crianças muito jovens, entre outras. O
uso extensivo de agentes alquilantes e inibidores da topoisomerase II têm alta
prevalência de esterilidade e neoplasias secundárias, particularmente sí
ndromes mielodisplásicas e leucemias não linfoblásticas.
As propostas futuras de tratamento incluem a atuação direta contra as
alterações gênicas e protéicas, que contribuem para o fenótipo maligno da
célula.
Desta forma, é importante a detecção de anomalias genéticas no
momento do diagnóstico para que seja estabelecido um tratamento adequado,
principalmente para aquelas crianças que são inicialmente estadiadas como de
baixo risco, algumas com histologia favorável, mas que recidivaram ao longo do
tratamento. Assim sendo, o diagnóstico molecular das alterações genéticas
especí ficas do neuroblastoma, principalmente a amplificação do MYCN, tornase fundamental na determinação do prognóstico clí nico desses pacientes,
capaz de alterar, através das mudanças dos protocolos de tratamento, a
morbidade e mortalidade envolvida nesta doença.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPELLA, M.R, Alarme Cirúrgico do Recém-nascido – sinais e sintomas. Rio
de Janeiro. Atheneu, 1986.
Maksoud-Filho JG, Maksoud JG; Cirurgia Pediátrica. 1ª ed. Rio de Janeiro:
Revinter; 1998.
VILLAMARTIN, J.M et al, Cirurgia Pediátrica. Madrid, Espanha. Ediciones Dias
de Santos S.A. 1994.
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