Trabalho

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XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Serra Talhada, 09 a 13 de dezembro.
MICROCRUSTÁCEOS (CLADOCERA E COPEPODA) DE DOIS
RESERVATÓRIOS DA CAATINGA DE PERNAMBUCO*
Laíze Alanne Nunes Pereira1, Leidiane Pereira Diniz 2, Mauro de Melo Junior3

Introdução
Um reservatório é considerado uma barreira artificial construída para retenção de grandes quantidades de água. Em
várias regiões, a exemplo da Caatinga de Pernambuco, este ecossistema artificial é uma ferramenta importante para
reduzir os impactos durante os períodos de estiagem (Straskraba & Tundisi, 2000). Mesmo sendo utilizado para
diversos fins, esses mananciais albergam uma grande diversidade de organismos, especialmente de microcrustáceos, já
que em ambientes lênticos podem se estabelecer com maior facilidade (Coelho-Botelho, 2003).
O zooplâncton é um importante componente das cadeias tróficas, representando o primeiro elo estrutural, a partir da
transferência de matéria e energia entre os produtores primários e os consumidores de níveis tróficos superiores, em
vários ecossistemas aquáticos (Melão, Rocha & Roche, 2005). Dessa forma, alterações em seus padrões de abundancia e
diversidade irão refletir em modificações em toda a extensão das cadeias tróficas dos ambientes aquáticos. Além disso,
por responderem rapidamente aos estímulos do ambiente e por possuírem um ciclo de vida curto são importantes
indicadores do grau de trofia nos ecossistemas continentais (Santos, 2009).
Diante da grande importância dos microcrustáceos e dos reduzidos estudos na Caatinga de Pernambuco, o presente
trabalho objetivou caracterizar e comparar dois reservatórios de um rio perene e de pequeno porte da Caatinga de
Pernambuco. Para isso, foram utilizados os grandes grupos de microcrustáceos (Cladocera e Copepoda).
Material e métodos
A. Área de estudo
O rio Brígida está localizado no alto Sertão de Pernambuco, entre 07º 19’ 02” e 08º 36’ 32” de latitude Sul, e 39º 17’
33” e 40º 43’ 06” de longitude Oeste. Ao longo do ser curso várias represas foram construídas, dentre elas destacam-se
os reservatórios do Fomento e do Chapéu, na cidade de Parnamirim, onde foi realizado o presente estudo.
O reservatório do Fomento está inserido em uma propriedade da Estação de Agricultura Irrigada de Parnamirim –
EAIP, distando cerca de 570 km da capital (Recife). O reservatório do Chapéu, também está localizado em Parnamirim,
possuindo capacidade de armazenamento de 188.000.000m3 de água (APAC, 2013).
B. Procedimentos de coleta
No reservatório do Fomento as coletas foram realizadas entre os meses de abril e maio de 2013, sendo filtrado
aproximadamente 100 L de água em cada estação, enquanto que no Reservatório do Chapéu foram filtrados 60 L de
água, em setembro do mesmo ano. O número de estações variou entre 2 (Chapéu) e 4 (Fomento). Os microcrustáceos
foram coletados com o auxílio de uma rede de plâncton com abertura de malha de 45 μm e de um recipiente graduado,
sendo as amostras fixadas com formol neutro a 4%.
C. Análise do material biológico
Os organismos foram observados sob microscópio óptico e estereoscópico, com identificação realizada por meio de
dos grandes grupos de microcrustáceos (Cladocera e Copepoda). Para cada amostra, a quantificação foi realizada por
meio de três subamostras de 2 ml, em câmaras do tipo Sedgwick-Rafter, confeccionadas especialmente para tal volume.
As amostras com reduzido número de indivíduos foram contadas integralmente.
Os dados obtidos foram inicialmente tratados quanto à frequência de ocorrência (%) e abundância (%), sendo
posteriormente realizado o teste não paramétrico de Mann-Whitney (teste U) para verificar as possíveis diferenças entre
os reservatórios estudados, com valor de significância de p < 0,05.
Resultados e Discussão
Foram identificados dois grupos de microcrustáceos (Cladocera e Copepoda, sendo este último subdividido nas
Ordens Calanoida, Cyclopoida e Harpacticoida) (Fig. 1).
1
Aluna bolsista da FACEPE, Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Fazenda Saco s/n. Serra
Talhada, PE. CEP: 56903-970. E-mail: [email protected]
2
Aluna bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET Biologia UAST/UFRPE), Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal
Rural de Pernambuco, Fazenda Saco s/n. Serra Talhada, PE. CEP: 56903-970. E-mail: [email protected]
3
Professor Adjunto II da Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST/UFRPE), Fazenda Saco s/n.
Serra Talhada, PE. CEP: 56903-970. E-mail: [email protected]
*Contribuição LEPLANC 043
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Serra Talhada, 09 a 13 de dezembro.
No reservatório do Chapéu todos os grupos apresentaram 100% de ocorrência, ao passo que os Harpacticoida que
foram registrados apenas no Fomento (Fig. 2). De acordo com Witty (2004), Harpacticoida é um grupo raro, existindo
poucos estudos sobre sua taxonomia. Além disso, eles são bastante sensíveis à poluição dos ecossistemas aquáticos
(Murolo, 2005) e participam de processos importantes do bentos (Vasconcelos, 2003; Trindade, 2007), apresentando
uma relação com os produtores primários ainda pouco conhecida (Trindade, 2007).
Mesmo não existindo diferenças significativas entre os ambientes estudados (Mann-Whitney; p > 0.05), no
reservatório do Chapéu os copepoditos de Cyclopoida (47,46%) e os náuplios (24,91%) apresentaram as maiores
abundâncias relativas, enquanto que os demais foram inferiores a 15 %. Para o Fomento, a abundância relativa de todos
os grupos foi inferior a 30% (Fig. 3). Isso pode estar relacionado à grande quantidade de Chaoborus spp. - larva de
Diptera (42,34%) registradas nesse reservatório. Segundo Câmara et al., (2012), essas larvas são importantes predadores
dos microcrustáceos, especialmente dos copépodes.
A presença de predadores invertebrados pode ser responsável pela grande quantidade de formas juvenis de
microcrustáceos, já que essa é uma estratégia desses organismos para compensar a alta taxa de mortalidade antes de
alcançar a fase adulta (Simões & Sonoda, 2009). No entanto, mesmo com poucas larvas de Chaoboridae os copepoditos
de Cyclopoida e os náuplios foram os mais abundantes, sugerindo que possivelmente fatores abióticos ou a qualidade do
manancial aquático tenham influenciados esse resultado.
A predominância de táxons de pequeno porte, assim como a ausência de Harpacticoida no reservatório do Chapéu
sugere uma possível alteração ambiental do ecossistema (neste caso, eutrofização acentuada). No entanto, estudos
sobre a ecologia desse grupo se fazem necessários para maximizar os conhecimentos sobre a sua dinâmica. Os
microcrustáceos apresentaram composição diferente entre os mananciais estudados, sugerindo provável influência da
predação e/ou distribuição geográfica não contínua na bacia do rio estudado.
Agradecimentos
Ao Laboratório de Ecologia do Plâncton (LEPLANC), à Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST/UFRPE) e a
Estação de Agricultura Irrigada de Parnamirim (EAIP), pelo apoio para realização deste trabalho. À Fundação de
Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE), pela bolsa de Iniciação Científica concedida
(#BIC-2079-2.04/13). Ao Programa de Educação Tutorial (MEC, SESu/SECAD) pelo apoio financeiro à segunda
autora.
Referências
APAC: Agência Pernambucana de Águas e Clima. Disponível em: <http://www.apac.pe.gov.br/>. Acesso em: 28
Outubro 2013.
Câmara, C.F.; Castilho-Noll, M.S. M.; Arcifa, M.S. Predation on microcrustaceans in evidence: the role of chaoborid
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Coelho-Botelho, M. J.; Dinâmica da Comunidade Zooplanctônica e sua Relação com o Grau de Trofia em
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2003.
Melão, M.G.G.; Rocha O.; Roche, K.F. 2005. Produtividade, biomassa, flutuações populacionais e interações biológicas
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de Pesca, v.4, n.1, p. 44-56; 2009.
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XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Serra Talhada, 09 a 13 de dezembro.
Figura 1. Grupos de microcrustáceos (Cladocera e Copepoda) dos reservatórios estudados.
Cyclopoida, D. Calanoida, E. Harpacticoida.
A. Cladocara, B. Náuplio, C.
Figura 2. Frequência de ocorrência dos microcrustáceos e de Chaoborus spp. no reservatório do Fomento (Paramirim, PE).
Figura 3. Frequência de ocorrência dos microcrustáceos e de Chaoborus spp. dos reservatórios do Chapéu e Fomento (Paramirim,
Pernambuco).
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