QUANTIFICAÇÃO DE DANOS EM ALFACE CAUSADO POR DIFERENTES NÍVEIS DE Meloidogyne incognita EM DIFERENTES TIPOS DE SOLO Leonardo de Azevedo Peixoto 1, Fábio Ramos Alves2, Wanderson Bucker Moraes1, Leônidas Leoni Belan3 Graduandos em Agronomia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, ES, Brasil ([email protected]) 2 Professor Doutor do Centro de ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo 3 Pós-graduando em Produção Vegetal no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo 1 Data de recebimento: 02/05/2011 - Data de aprovação: 31/05/2011 RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar a quantificação de danos em alface parasitada por Meloidogyne incognita em diferentes tipos de solo. Foi utilizado o delineamento experimental inteiramente casualizado em um esquema fatorial de 4x2, sendo quatro níveis do nematóide (0, 2000, 4.000 ou 6.000 ovos + juvenis de segundo estádio) e dois tipos de solo (argiloso e franco-argilo-arenoso). Foi avaliada a massa fresca do sistema radicular (MFSR), massa fresca da parte aérea (MFPA), massa seca da parte aérea (MSPA), área foliar (AF), razão da área foliar (RAF), número de galhas (NG), número de massa de ovos (NMO) e população final (PF). Plantas cultivadas em solo argiloso apresentaram os maiores valores de MFPA, MSPA e MFSR. O incremento do nível de inóculo de nematóides aumentou de formar linear o NG, NMO e PF, em ambos os solos analisados. Entretanto, este aumento foi mais acentuado em plantas cultivadas em solo argiloso, quando comparada as cultivadas no franco-argilo-arenoso. Houve correlação positiva entre NG e NMO com a MSPA e MFSR; e entre a PF com a AF, MFPA, MSPA e MFSR. Contrariamente, as variáveis NG e NMO apresentaram correlação negativa com a RAF, AF e MFPA, sendo que a PF correlacionou de forma negativa somente com a RAF. O aumento dos níveis de nematóides (2000, 4000 e 6000) no solo reduziu a produção comercial de alface (3,04%, 12,13% e 11,61%). Portanto, para as condições em que o experimento foi realizado o nematóide Meloidogyne incognita provoca danos a cultura de alface, tanto em solos argiloso quanto em solos francoargilo-arenoso. PALAVRAS-CHAVE: Nematóide das galhas, Lactuca sativa, textura do solo DAMAGE MEASUREMENT IN LETTUCE CAUSED BY DIFFERENT LEVELS OF Meloidogyne incognita IN DIFFERENT TYPES OF SOIL ABSTRACT The aim of this study was to evaluate the damage quantification in lettuce parasitized by Meloidogyne incognita in different kinds of soil. It was used the completely ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 1 randomized design in a factorial design 4x2, with four levels of nematodes (0; 2,000; 4,000 or 6,000 eggs + second stage juveniles) and two soil types (clay and sandy clay loam). The fresh root mass (MFSR), fresh shoot mass (MFPA), shoot dry mass (MSPA), leaf area (AF), leaf area ratio (RAF), number of galls (NG) , number of egg mass (NMO) and final population (PF) were evaluated. Plants grown in clay soil showed the highest values of MFPA, MSPA and MFSR. The increment of the inoculum level of nematodes increased linearly the NG, NMO and PF, in both analyzed soils. However, this increase was more pronounced in plants grown in clay soil, when compared to those grown in the sandy clay loam. There was a positive correlation between NG and NMO with MSPA and MFSR; and between the PF with the AF, MFPA, MSPA and MFSR. In contrast, the variables NG and NMO were negatively correlated with the RAF, AF and MFPA, and PF only correlated negatively with the RAF. The increase on the nematodes levels (2000, 4000 and 6000) in the soil reduced the commercial production of lettuce (3.04%, 12.13% and 11.61%). Therefore, Meloidogyne incognita causes damage to the lettuce culture, either in clay soils or in sandy clay loam. KEYWORDS: Galls nematodes, Lactuca sativa, soil texture INTRODUÇÃO Entre as hortaliças folhosas, a alface (Lactuca sativa) é a mais importante economicamente para o Brasil, sendo consumida in natura na forma de salada (FONSECA, 2007). Devido à sua alta perecibilidade, normalmente é plantada próximo aos centros consumidores, sendo necessário produzi-la nas mais variadas regiões brasileiras e nos mais variados tipos de solo ao longo do ano. Em condições de elevadas temperaturas, tem sido afetada por problemas como o nematóide das galhas (SILVA, 2006). A alface é muito susceptível ao ataque de nematóide, principalmente as espécies Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica (WILCKEN et al., 2005). Como o ciclo da cultura fica em torno de 45 dias, muitos produtores conseguem fazer três a quatro colheitas na mesma área de cultivo, sendo que após isso o nível de nematóide na área é superior ao nível de dano, causando perdas significativas na produção (AGRIOS, 2005). A maioria das cultivares de alface utilizada apresenta alta suscetibilidade a este patógeno, o qual tem alta taxa reprodutiva, acumulando no solo grandes populações de ovos após cultivos consecutivos de espécies consideradas boas hospedeiras (CAMPOS et al., 2001; SILVA, 2006). As cultivares de alface, quando atacadas pelos nematóides das galhas, apresentam debilidade intensa da planta, ocasionada pela densa formação de galhas no sistema radicular. As galhas obstruem a absorção de água e nutrientes do solo, resultando em plantas amareladas, com cabeça de tamanho reduzido, pequeno volume foliar e sem valor para o consumo in natura (CHARCHAR e MOITA, 1996). As perdas na cultura devido ao parasitismo desses patógenos estão estimadas entre 10 e 100% (PINOCHET, 1987), sendo as espécies de nematóides de maior importância Meloidogyne incognita e Meloidogyne javanica (Treub) (WILCKEN et al., 2005)). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 2 A textura do solo é um importante fator que afeta tanto a produtividade das culturas quanto as comunidades de nematóides parasitas de plantas. O tipo de solo influência os potenciais de dano de vários nematóides, inclusive Meloidogyne incognita (KOENNING et al., 1988). A textura do solo influencia na porosidade e na capacidade de retenção de água pelo solo que interferem no comportamento e no potencial de dano dos nematóides (YOUNG, 1992). A mudança na capacidade de retenção de água influencia a umidade do solo. Baixa umidade no solo inibe a eclosão e afeta o desenvolvimento embrionário, aumentando no solo a quantidade de ovos com J2 a espera de condições propicias para à eclosão, aumentando o ciclo do nematóide (STARR, 1993). Solos mais arenosos são mais favoráveis à ocorrência de nematóides porque a aeração é maior quando comparado com solos argilosos (DROPKIN, 1980). De acordo com JESUS JUNIOR et al. (2004), estimativas confiáveis dos danos causados pelos patógenos são um pré-requisito para o desenvolvimento de qualquer programa bem sucedido de controle de doenças, independentemente do método a ser empregado. A quantificação de danos é, portanto, um ponto chave na definição de qualquer estratégia de controle. De acordo com MICHEREFF (2004) existem muitos trabalhos sobre os danos causados por doenças foliares, mas poucos são aqueles que dão ênfase aos patógenos radiculares, entre eles os fitonematóides. Segundo o autor, deve-se determinar o impacto desses patógenos nas culturas que parasitam e para isso deve-se considerar não apenas a espécie do patógeno, mas também o quanto ele está presente na área. Alguns trabalhos têm sido desenvolvidos objetivando a busca por fontes de resistência aos nematóides das galhas, Meloidogyne spp., (FIORINI et al., 2005; WILCKEN et al., 2005; FIORINI et al., 2007), porém, nenhum trabalho foi feito objetivando a quantificação de danos em alface à M. incognita levando-se em consideração o nível de inóculo do nematóide e as classes texturais do solo. Posto isto, o objetivo deste trabalho foi quantificar os danos em alface cultivar Vitória de Santo Antão parasitada por diferentes níveis de inóculo de M. incognita e cultivada em dois tipos de solo comumente empregados para o cultivo de alface e nos quais já se observou ocorrência de Meloidogyne spp. no sul do Espírito Santo. METODOLOGIA O experimento foi conduzido sob condições controladas no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCAUFES), Alegre – ES, localizado a uma altitude de 250m, latitude = 20º 45' S, longitude = 41º 29' WGr.. Segundo a classificação internacional de Köppen, o clima da região é do tipo “Cwa”, isto é, tropical quente úmido com inverno frio e seco, com temperatura anual média de 23,1 °C e precipitação total anual média de 1341 mm. Foi utilizado o delineamento experimental inteiramente casualizado em esquema fatorial 4x2, sendo quatro níveis de nematóide (0, 2000, 4.000 ou 6.000 ovos + juvenil de segundo estádio (J2)) e dois tipos de solo com diferentes granulometria (solo 1: 405,480 g/Kg de areia, 104,67 g/Kg de silte e 489,65 g/kg de argila e solo 2: 644,69 g/Kg de areia, 99,08 g/Kg de silte e 255,96 g/Kg de argila) com 8 repetições. Esses solos são comumente empregados para plantio de alface ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 3 no Sul do Espírito Santo, nos quais se observa ocorrência de fitonematóides do gênero Meloidogyne. O solo 1 é classificado como argiloso e o solo 2 como francoargilo-arenoso. Os solos possuem as seguintes características químicas: solo 1 – pH: 5,1;P: 3,0 mg/dm3; K: 61,0 mg/dm3; Ca: 0,8 cmolc/dm3; Mg: 0,8 cmolc/dm3; Na: 7,0 mg/dm3; Al: 0,1 cmolc/dm3; S.B.: 1,8 cmolc/dm3; CTC: 6,1 cmolc/dm3; v: 29,4%; m: 5,3%; solo 2 - pH: 4,7;P: 3,0 mg/dm 3; K: 52,0 mg/dm3; Ca: 0,6 cmolc/dm3; Mg: 0,6 cmolc/dm3; Na: 4,0 mg/dm3; Al: 0,6 cmolc/dm3; S.B.: 1,4 cmolc/dm3; CTC: 5,1 cmolc/dm3; v: 26,3%; m: 30,8%. Em ambos os solos é realizado o cultivo se alface e ocorrem problemas com nematoides das galhas, principalmente M. incógnita. Os nematóides foram multiplicados e mantidos em raízes de tomateiro Solanum lycopersicon Mill cultivar Santa Clara, em casa de vegetação, conforme descrito por PEIXOTO (1995). O substrato empregado para o plantio do tomateiro foi composto de solo e areia traço 1:1. O solo, colhido de local não cultivado, foi peneirado e autoclavado por 2 horas a 140º C, sendo esse processo repetido três vezes. As sementes de alface do cultivar Vitória de Santo antão foram semeadas em bandejas de 200 células contendo substrato comercial Plantmax, sendo transplantadas 25 dias após a semeadura para vasos de 4 L contendo os substratos. Foram semeadas duas sementes por célula e, posteriormente, foi feito o desbaste deixando-se apenas uma planta por célula. Foi realizado adubação de cobertura recomendada segundo PREZOTTI et al. (2007). A irrigação foi realizada de maneira que a umidade ficasse em torno de 80% da capacidade de campo que é uma lâmina de água considerada boa para o desenvolvimento da alface. Para isso os vasos eram pesados a cada 2 dias. Ao término do ciclo da alface (45 dias após o transplantio), foram quantificados os danos que os nematóides causaram às plantas. Para isso, foram determinadas a massa fresca da parte aérea (MFPA), massa fresca do sistema radicular (MFSR), área foliar (AF) e razão da área foliar (RAF). A MFPA e MFSR foram determinadas utilizando balança analítica com precisão de 0,001g. A AF foi calculada segundo RODRIGUEZ (1995), conforme Equação 1. AF= [(C x L)/2 x FC x NF] (1) Onde C= comprimento da folha em cm, L= largura da folha em cm, FC= fator de correção, e NF= número de folhas por planta. Utilizou-se um fator de correção de 0,68, por apresentar as melhores aproximações da área real estimada. Foram consideradas apenas as folhas com comprimento superior a 4 cm. A RAF foi calculada dividindo-se a AF pela MSPA. Posteriormente, a parte aérea das plantas foi colocada em estufa a 70º C por 72 horas, sendo posteriormente a parte aérea seca, pesada em balança analítica com precisão de 0,001g para avaliar a massa seca da parte aérea (MSPA). O sistema radicular foi lavado, e foi feita a contagem visual das galhas em todo o sistema radicular, para a quantificação do número de galhas (NG) e número de massas de ovos (NMO) por sistema radicular. Para essa última avaliação, as ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 4 raízes foram imersas em solução de floxina B para garantir uma melhor visualização das massas de ovos. Todo sistema radicular foi cortado em pedaços de 0,5 cm e cada porção de 50 a 100 g de raízes foram colocadas em liquidificador com 200 mL de Hipoclorito de sódio a 0,5% e trituradas durante 1 minuto, segundo o método de HUSSEY e BARKER (1973), modificado por BONETTI e FERRAZ (1981). Desta suspensão, foram obtidas três alíquotas de 1 mL que foi utilizado para a contagem dos ovos e J2 em microscópio estereoscópio, obtendo-se a média. O número de ovos da suspensão foi multiplicado pelo volume total da suspensão e obtido a população final por sistema radicular (PF). Os dados foram submetidos à análise de regressão a 5% de probabilidade. Também foi realizado a correlação entre os dados de produção da planta (MSPA, MFPA, AF, MFSR e RAF) e os danos causados pelo nematoide (NF, NG , NMO e PF). Utilizou-se o programa estatístico GENES® versão Windows (CRUZ, 2006). RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a MSPA, no solo 1, não houve diferença entre os níveis de nematóide e no solo 2 houve aumento da MSPA a medida que o nível de inóculo inicial do nematóide aumentou (Figura 1a). A MFPA no solo 1 diminuiu a medida que o nível de inóculo inicial do nematóide aumentou. No solo 2 não houve diferenças entre os níveis de nematóide (figura 1b). No solo 1 foi observado maiores valores para MSPA, MFPA e MFSR quando comparado com o solo 2 (Figuras 1a, 1b e 2). Figura 1. a) Matéria seca da parte aérea (MSPA) e b) matéria fresca da parte aérea (MFPA) em alface cv. Vitória de Santo Antão cultivada em dois solos (solo 1 argiloso e solo 2 franco-argilo-arenoso) e inoculada com 4 níveis de inóculo inicial (0, 2000, 4000 e 6000 mais J2) de M. incógnita. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 5 Figura 2. Massa fresca do sistema radicular (MFSR) em alface cv. Vitória de Santo Antão cultivada em dois solos (solo 1 argiloso e solo 2 franco-argilo-arenoso) e inoculada com 4 níveis de inóculo inicial (0, 2000, 4000 e 6000 mais J2) de M. incógnita. Houve correlação positiva entre MSPA e MFSR com PF, NG e NMO e MFPA com PF. Contrariamente houve correlação negativa entre MFPA com NG e NMO (Tabela 1). Tabela 1. Correlação entre as variáveis de crescimento e as variáveis relacionadas ao ataque do nematoide. NFP NG NMO PF AF 0.751 -0.002 -0.004 0.105 MFPA 0.847 -0.015 -0.044 0.112 MSPA 0.766 0.141 0.098 0.206 RAF -0.043 -0.251 -0.182 -0.191 MFSR 0.551 0.401 0.342 0.374 Não houve diferença estatística entre os solos para MFSR (Figura 2), porém observou-se no solo 1 raízes mais desenvolvidas. Esse maior desenvolvimento do sistema radicular das plantas cultivadas no solo 1 implicou em maior desenvolvimento da parte aérea (FORTNUM et al., 1991). AF e RAF não apresentaram diferença estatistica entre os solos analizados. A medida que aumentou o inóculo inicial de nematóides houve queda da AF e RAF (Figuras 3a e 3b). Houve correlação negativa entre AF e RAF com NMO, NG e PF (Tabela 1). Isso mostra que a maior população de nematóide nas raizes das plantas de alface causa queda na absorção de água e nutrientes pelas raizes, diminuindo a ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 6 área foliar destas plantas e causando perdas na produção comercial e na produtividade destas plantas, devido ao tamanho reduzido das folhas, que é a parte comercial da alface. Figura 3. a) área foliar (AF) e b) razão da área foliar (RAF) em alface cv. Vitória de Santo Antão cultivada em dois solos (solo 1 argiloso e solo 2 franco-argilo-arenoso) e inoculada com 4 níveis de inóculo inicial (0, 2000, 4000 e 6000 mais J2) de M. incógnita. Observou-se maior número de galhas (NG) por sistema radicular no solo 2 nas populações iniciais de 2000 e 4000 ovos (Figura 4). O número de massas de ovos (NMO) foi maior no solo 2 para os níveis inicial de nematóide de 2000 e 4000 ovos (Figura 5a). O tamanho das partículas do solo é um fator determinante para o tamanho dos poros que influência na movimentação dos nematóides (YOUNG, 1992). Esse fator explica a maior quanidade de galhas e massa de ovos no solo com textura mais arenosa, onde houve maior movimentação do nematóide, havendo a colonização pelo nametóide de uma maior área do sistema radicular em relação ao solo de textura mais argilosa. Figura 4. Número de galhas (NG) em alface cv. Vitória de Santo Antão cultivada em dois solos (solo 1 argiloso e solo 2 franco-argilo-arenoso) e inoculada com 4 níveis de inóculo inicial (0, 2000, 4000 e 6000 mais J2) de M. incógnita. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 7 Figura 5. a) Número de massa de ovos (NMO) e b) população final de nematóides (PF) em alface cv. Vitória de Santo Antão cultivada em dois solos (solo 1 argiloso e solo 2 franco-argilo-arenoso) e inoculada com 4 níveis de inóculo inicial (0, 2000, 4000 e 6000 mais J2) de M. incógnita. No entanto, a população final de nematóides no sistema radicular foi maior no solo 1 em relação ao solo 2 para todos os níveis iniciais de nematóides (Figura 5b). Trabalhos realizados por ROCHA et al. (2006) testaram diferentes texturas do solo e verificaram que o nematóide do cisto da soja (Heterodera glycines) obteve maior número de fêmeas nas raízes nos solos com textura franco-argilo-arenoso e argiloso, não havendo diferença estatistica entre eles. Esses autores cocluiram que solos com porcentagem de argila entre 22 e 48% são favoráveis ao desenvolvimento do nematóide do cisto da soja. NOE & BARKER (1985) relatam que o aumento do teor de argila diminui a mobilidade e a distribuição do nematóide, embora que algum teor de argila parece ser necessário para o movimento dos mesmos. No presente trabalho houve redução na mobilidade do nematóide com o aumento do teor de argila, porém houve maior viabilidade dos ovos, acarretando em maior PF no solo mais argiloso, mesmo quando este apresentou menor NMO e NG. A textura do solo ainda influência a umidade de água no solo, influenciando na capacidade de retenção de água e na aeração (NORTON, 1978). Essas caracteristicas influenciam diretamente o desenvolvimento das plantas. Uma planta com bom suprimento de água, o que ocorreu mais no solo 1 devido a maior retenção de água neste solo, desenvolve-se melhor e tem um sistema radicular mais vigoroso, oferecendo mais sítios de alimentação para o nematóide. No solo mais argiloso, mesmo uma população menor de nematóides consegue estar mais em contato com a raiz devido ao maior desenvolvimento destas e como as plantas estão absorvendo mais nutrientes, os nematóides podem se alimentar melhor e desenvolver mais, tornando seus ovos mais viáveis, aumentando a população final. Este fato foi observado no presente trabalho. À medida que se aumentou o nível de inoculo dos nematóides, observou-se um aumento do NG, NMO e PF para ambos os solos. Esse resultado era previsível, ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 8 pois estes patógenos apresentam enorme potencial de reprodução e infestação do solo por se multiplicarem em escala logarítmica (TAYLOR e SASSER, 1978). Segundo esses autores, considerando-se uma única fêmea que produz em média 500 ovos e destes apenas 5% sejam viáveis para originar novos indivíduos, em suas próximas quatro gerações serão originados 25, 625, 15.625 e 390.625 adultos, respectivamente. Vale ressaltar que o solo 1 é mais argiloso do que o solo 2 e um conhecimento que se tem desde os primórdios da fitonematologia é que solos mais arenosos são mais propícios à ocorrência dos nematóides, de forma que esses patógenos são mais ativos nesses solos (CAMPOS, 1999). Assim, os resultados sugerem que um menor número de nematóides no solo mais arenoso tenha provocado um parasitismo mais intenso, de forma a reduzir as características de crescimento das plantas. Outro ponto a ser destacado é que, geralmente, solos argilosos têm maiores níveis de matéria orgânica, o que proporcionou melhor nutrição às plantas e acarretou aumento nas características de crescimento da alface (LIMA et al., 2010). No presente trabalho houve uma queda na produção comercial de alface de 3,04%, 12,13% e 11,61% quando o inóculo inicial foi de 2000, 4000 e 6000 ovos de nematoides mais J2 respectivamente. O manejo dos fitonematóides deve ser bem feito durante o ciclo da cultura para evitar que a população final seja superior a população inicial de nematoides, porque isso acarreta em maiores perdas no próximo ciclo da cultura e isso aumenta a cada ciclo. Por isso a quantificação de danos em vários ciclos consecutivos da cultura torna-se uma ferramenta importante para indicar quantos ciclos consecutivos da cultura podem ser realizados antes que o cultivo torna-se antieconômico. Uma alternativa importante para o cultivo da cultura em solos propícios ao ataque de nematoides é a utilização de variedades resistentes. Inúmeros trabalhos foram realizados buscando variedades resistentes de alface a M. incognita (CARVALHO FILHO et al., 2008; FERREIRA et al., 2011). CONCLUSÕES Baseado nos resultados encontrados neste trabalho é possível concluir que quanto maior o número de nematoides infectando as raízes das plantas de alface menor a quantidade de água e nutrientes que chegam as folhas diminuindo a produção comercial, causando perdas significativas para o produtor. A textura do solo influencia no desenvolvimento das plantas de alface e na reprodução dos fitonematóides. Portanto conclui-se que é mais interessante fazer o cultivo desta cultura em solos com uma textura apropriada para o desenvolvimento da planta, porém que a taxa de reprodução dos fitonematóides seja baixa para evitar perdas na cultura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRIOS, G.N. Plant pathology. Burlington, MA: Elsevier Academic, 2005. 922p. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.12; 2011 Pág. 9 BONETI, J. I.; FERRAZ, S. Modificações do método de Hussey & Barker para extração de ovos de Meloidogyne exigua em raízes de cafeeiro. Fitopatologia Brasileira, v. 6, p. 553, 1981. CAMPOS, V. P. Manejo de doenças causadas por fitonematóides, In: Curso de pós-graduação à distância: Manejo de doenças de plantas. UFLA, Lavras, 1999. 120 p. CAMPOS, V. P.; CAMPOS, J. R.; SILVA, L. H. C. P.; DUTRA, M. R. Manejo de nematóides em hortaliças. In: SILVA, L. H. C. P.; CAMPOS, J. R.; NOJOSA, G. B. A. Manejo integrado: doenças e pragas em hortaliças. UFLA, Lavras, 2001. p.125158. 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