1 UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DEPARTAMENTO DE ESTUDOS AGRÁRIOS CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA ÁREA DE CLÍNICA MÉDICA E CIRÚRGICA DE PEQUENOS ANIMAIS Gabriela Maria Madke Ijuí, RS, Brasil 2014 2 RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA Gabriela Maria Madke Relatório do Estágio Curricular Supervisionado na área de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais apresentado ao curso de Medicina Veterinária, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Médica Veterinária Orientadora: Profª. MSc. Cristiane Beck Ijuí, RS, Brasil 2014 3 Universidade Regional Do Noroeste Do Estado Do Rio Grande Do Sul Departamento De Estudos Agrários Curso De Medicina Veterinária A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Relatório do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA elaborado por Gabriela Maria Madke como requisito parcial para obtenção do grau de Médica Veterinária COMISSÃO EXAMINADORA _____________________________________ Cristiane Beck (UNIJUÍ) (Orientadora) _____________________________________ Cristiane Teichmann (UNIJUÍ) (Banca) Ijuí, 05 de dezembro de 2014. 4 RESUMO RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA – ÁREA DE CLÍNICA MÉDICA DE PEQUENOS ANIMAIS AUTORA: GABRIELA MARIA MADKE ORIENTADORA: CRISTIANE BECK Data e Local da Defesa: Ijuí, 05 de dezembro de 2014 O Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária foi realizado na área de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, no Hospital Veterinário da UNIJUÍ, localizado na cidade de Ijuí, Rio Grande do Sul, durante o período de 06 de agosto de 2014 a 13 de outubro de 2014, em três dias da semana nas segundas, quartas e quintas, perfazendo um total de 150 horas. O estágio teve como supervisor interno o Médico Veterinário MSc. Renan Kruger e orientado pela professora MSc. Cristiane Beck. Durante o estágio foram acompanhadas diversas atividades da rotina veterinária de atendimentos da clínica geral e cirúrgica, coleta de material para exames complementares e ainda interpretação dos mesmos e auxílio nas atividades que envolviam os animais internados, o que estará explicado e dividido em tabelas, para melhor visualização e compreensão. Serão relatados aqui dois casos clínicos acompanhados neste período, a farmacodermia em um canino com piodermite secundária a demodicose e o complexo granuloma eosinofílico felino. O estágio nos permite vivenciar os conhecimentos adquiridos em sala de aula, relacionar e aplicar a teoria acadêmica na rotina. 5 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Procedimentos ambulatoriais específicos realizados e/ou acompanhados durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária na área de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais no Hospital Veterinário- UNIJUI, no período de 06 de agosto a 13 de outubro de 2014 ........... 11 Tabela 2 – Diagnósticos estabelecidos das afecções envolvendo os diversos sistemas orgânicos durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária na área de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais no Hospital Veterinário - UNIJUI, no período de 06 de agosto a 13 de outubro de 2014 ....................................................................................................... 11 Tabela 3 – Procedimentos cirúrgicos acompanhados e/ou encaminhados durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária na área de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais no Hospital Veterinário - UNIJUI, no período de 06 de agosto a 13 de outubro de 2014 .......... 12 Tabela 4 – Exames complementares solicitados durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária na área de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais no Hospital Veterinário - UNIJUI, no período de 06 de agosto a 13 de outubro de 2014 ............................................................................... 13 6 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS BID = Duas Vezes ao Dia CGA = Campo De Aumento CGE = Complexo Granuloma Eosinofílico DASP = Dermatite Alérgica À Saliva Da Pulga DG = Demodicose Generalizada DL = Demodicose Localizada FA = Fosfatase Alcalina GE = Granuloma Eosinofílico HV = Hospital Veterinário IM = Intramuscular Kg = Quilograma Mg = Miligramas Ml = Mililitros Msc = Mestre Em Ciência PE = Placa Eosinofílica RAM= Reação Adversa A Medicamentos RS = Rio Grande Do Sul SC = Subcutâneo SID = Uma Vez ao Dia SRD = Sem Raça Definida TID = Três Vezes ao Dia TPC = Tempo de Perfusão Capilar TR = Temperatura Retal UI = Úlcera Indolente UTI = Unidade de Terapia Intensiva VO = Via Oral % = Porcentagem 7 LISTA DE ANEXOS Anexo A – Hemograma do paciente com suspeita de farmacodermia ..................................... 32 Anexo B – Exame de Bioquímica Sérica do paciente com suspeita de farmacodermia .......... 33 Anexo C – Hemograma do paciente com suspeita de Complexo Granuloma Eosinofílico Felino ..................................................................................................................... 34 Anexo D – Exame de Bioquímica Sérica paciente com suspeita de Complexo Granuloma Eosinofílico Felino................................................................................................ .35 Anexo E – Resultado do Exame Microbiológico do paciente com suspeita Complexo Granuloma Eosinofílico Felino ............................................................................. 36 Anexo F – Resultado do Exame Citológico do paciente com suspeita Complexo Granuloma Eosinofílico Felino ............................................................................. 37 Anexo G – Resultado Histopatológico do paciente com suspeita Complexo Granuloma Eosinofílico Felino................................................................................................. 38 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9 1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ............................................................. 11 2 DISCUSSÃO .................................................................................................................... 14 2.1 Farmacodermia em um canino com piodermite secundária a demodicose – relato de caso ........................................................................................................................... 14 2.2 Complexo granuloma eosinofílico felino – relato de caso ............................................. 21 3 CONCLUSÃO ................................................................................................ 29 ANEXOS ............................................................................................................ 30 9 INTRODUÇÃO O estágio curricular supervisionado é de grande valia na formação do Médico Veterinário, pois permite vivenciar os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo da faculdade, nas diversas disciplinas. Durante a execução do estágio é possível aprimorar os conhecimentos, e viver diferentes situações, desde a formação do diagnóstico de uma afecção até a convivência com os proprietários. O Estágio Curricular Supervisionado foi desenvolvido no período de 06 de agosto de 2014 a 13 de outubro de 2014 no Hospital Veterinário da UNIJUÍ- Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, com supervisão interna do Médico Veterinário MSC. Renan Kruger e orientação da professora MSc. Cristiane Beck. O Hospital Veterinário (HV) está localizado no campus da UNIJUÍ, Rua do Comércio, nº 3000, Bairro Universitário, no município de Ijuí, Rio Grande do Sul. Foi inaugurado no dia 05 de abril de 2013, sob a direção clínica do Professor Doutor Médico Veterinário Daniel Muller, e responsabilidade técnica do Médico Veterinário Renan Kruger. O novo e moderno hospital surgiu da necessidade de um espaço para a execução das aulas práticas, e viabilizar aos alunos o aperfeiçoamento de sua formação e o aprimoramento de seus conhecimentos, além do atendimento a comunidade. No HV atuam em tempo integral três médicos veterinários, sendo eles Renan Kruger, Mauricio Borges da Rosa e Rafael Lukarsewski, além dos médicos veterinários professores que atendem os pacientes em suas áreas de especialização. Conta com os serviços de clínica geral, cirurgias gerais e especializadas, intervenções odontológicas. Para auxílio aos diagnósticos oferece exames complementares de análises clínicas, parasitológicos, histopatológicos, diagnóstico por imagem (radiografias simples e contrastadas, ultrassonografias) e eletrocardiograma. Ainda conta com serviços de internação, para pacientes do hospital e clínicas da cidade e região. A estrutura do hospital divide-se em três blocos. No primeiro está a recepção, três ambulatórios, salas de radiografia e interpretação de exames, sala de ultrassonografia, laboratório de análises clínicas, farmácia, sala da quimioterapia, sala de direção, cozinha e a sala dos professores. O segundo bloco contém o centro da enfermagem, a sala de 10 procedimentos, a UTI, três canis e um gatil para internação, três blocos cirúrgicos, sendo um didático, usado nas aulas práticas e um auditório. O terceiro bloco divide-se em sala de aula prática, salas onde estão armazenadas peças anatômicas e o laboratório de histopatologia veterinária, além de banheiros femininos e masculinos em todos os blocos. A escolha por realizar o estágio no HV surgiu da ideia de procurar um local de clínica e clínica cirúrgica completo, com profissionais capacitados nas diferentes áreas, o que proporciona um maior aprendizado. Outro fator que contribuiu na escolha é a disponibilidade dos exames complementares, que permitem chegar a conclusões de diagnósticos precisos, o que concilia a didática das salas de aula com a rotina hospitalar. O objetivo do estágio curricular é proporcionar um aprimoramento à formação do futuro profissional capaz de aplicar o que aprendeu ao longo da graduação, estando preparado para enfrentar as diferentes situações do dia a dia, vivenciando na rotina o que aprendeu na teoria. 11 1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS As atividades desenvolvidas durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária no Hospital Veterinário da UNIJUI consistiram no acompanhamento da clínica médica e clínica cirúrgica, que serão descritas em tabelas para melhor visualização e interpretação. Tabela 1 - Procedimentos ambulatoriais específicos realizados e/ou acompanhados durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária na área de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais no Hospital Veterinário- UNIJUI, no período de 06 de agosto a 13 de outubro de 2014. Procedimentos Aplicação medicamento sub-conjuntival Aplicação vacinas polivalente Assistência animais internados Consultas- avaliação pré cirúrgica aulas Confecção de tala Robert Jones Eutanásia Lavagem estomacal Limpeza drenos Fluidoterapia sub-cutânea Remoção pontos cirúrgicos Sondagem uretral Quimioterapia TOTAL Caninos 1 6 38 12 0 1 0 10 3 3 1 2 77 Felinos 0 8 19 9 1 0 2 0 3 4 2 0 48 Total 1 14 57 21 1 1 2 10 6 7 3 2 125 % 0,80 11,20 45,60 16,80 0,80 0,80 1,60 8,00 4,80 5,60 2,40 1,60 100,00 Tabela 2 - Diagnósticos estabelecidos durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária na área de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais no Hospital Veterinário - UNIJUI, no período de 06 de agosto a 13 de outubro de 2014. Diagnóstico Atopia Calcificação do disco inter vetebral Cálculo dentário Caninos Felinos 2 0 1 0 2 0 (continua) Total % 2 5,26 1 2,63 2 5,26 12 Carcinoma de células escamosas Complexo granuloma eosinofílico felino Conjuntivite Demodicose Entrópio bilateral Doença do trato urinário inferior felino Farmacodermia Fratura metacarpiana Fratura múltipla pélvica Piodermite Hemangiossarcoma hepático Hérnia perineal Insuficiência renal crônica Intoxicação Lipomas sub-cutâneo Luxação de patela Malasseziose 1 0 1 2 1 0 1 0 1 2 1 1 1 0 1 1 3 0 1 0 0 0 1 0 1 1 0 0 0 0 2 0 0 0 1 1 1 2 1 1 1 1 2 2 1 1 1 2 1 1 3 2,63 2,63 2,63 5,26 2,63 2,63 2,63 2,63 5,26 5,26 2,63 2,63 2,63 5,26 2,63 2,63 7,89 Ferida traumática membro pélvico Neoplasia mamária Parvovirose Piometra Trombocitopenia por aplicação de estrógenos Úlcera de córnea TOTAL 0 3 1 1 1 3 31 1 0 0 0 0 0 7 1 3 1 1 1 3 38 2,63 7,89 2,63 2,63 2,63 7,89 100,00 Tabela 3 - Procedimentos cirúrgicos acompanhados e/ou encaminhados durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária na área de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais no Hospital Veterinário - UNIJUI, no período de 06 de agosto a 13 de outubro de 2014. (continua) Cirurgias Correção entrópio bilateral Exerese carcinoma de células escamosas Exérese lipoma Laparotomia exploratória Lobectomia hepática parcial Mastectomia parcial Orquiectomia Ovariosalpingohisterctomia Osteossíntese pélvica Redução hérnia perineal Redução luxação de patela Caninos 1 1 1 1 1 3 2 8 1 1 1 Felinos 0 0 0 0 0 0 2 4 1 0 0 Total 1 1 1 1 1 3 4 12 2 1 1 % 3,33 3,33 3,33 3,33 3,33 10,00 13,33 40,00 6,67 3,33 3,33 13 Profilaxia Dentária TOTAL 2 23 0 7 2 30 ((conclusão) 6,67 100,00 Tabela 4 - Exames complementares solicitados durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária na área de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais no Hospital Veterinário - UNIJUI, no período de 06 de agosto a 13 de outubro de 2014. Exames complementares Alanina aminotransferase Citologia aspirativa por agulha fina Citologia de ouvido Creatinina Fosfatase alcalina Gama glutamiltransferase Hemograma Histopatológico Parasitológico de pele Proteinas plasmáticas totais Radiografias Teste de fluorosceína Teste para detecção Parvovirus Ultrassonografia Ureia Urinálise TOTAL Caninos 40 2 3 45 40 2 44 2 2 40 12 3 1 4 1 1 242 Felinos 19 0 0 21 19 0 19 1 0 19 5 0 0 0 0 2 105 Total 59 2 3 66 59 2 63 3 2 59 17 3 1 4 1 3 347 % 17,00 0,58 0,86 19,02 17,00 0,58 18,16 0,86 0,58 17,00 4,90 0,86 0,29 1,15 0,29 0,86 100,00 14 2 DISCUSSÃO 2.1 Farmacodermia em um canino com piodermite secundária a demodicose – relato de caso Resumo Efeitos adversos a medicamentos são fenômenos indesejáveis que podem acometer distintos sistemas orgânicos. Qualquer medicamento tem capacidade de desencadear uma reação adversa, porém é difícil caracterizar o agente causador, pela multiplicidade de medicamentos empregados em uma terapia. As reações de hipersensibilidade causadas por fármacos são caracterizadas por lesões cutâneas, e algumas vezes associadas a sinais sistêmicos. O tratamento consiste na interrupção imediata do tratamento, e terapia de suporte como reposição eletrolítica e terapia tópica. O objetivo do presente estudo é relatar o caso clínico de um canino, Yorkshire, macho, de sete meses de idade, diagnosticado com piodermite bacteriana secundária a demodicose, que estava sendo tratado com doramectina e cefalexina quando desencadeou reação farmacodérmica. Palavras-chave: reação medicamentosa, canino, cefalexina. Introdução De acordo com Sousa (2005) reações cutâneas decorrentes de hipersensibilidade a fármacos são comum em humanos, mas em cães é um fenômeno raro. Para Spinosa (2006) em humanos são estimados que de 1,5 a 35% dos pacientes hospitalizados apresentam reações adversas a medicamentos, mas que em animais esse percentual não ultrapassa 1%, havendo predileção relativa à hereditariedade, espécie e raça. As raças que podem ser predispostas incluem Poodle, Bichon Frise, Yorkshire, Pequinês, Maltês, Dobermann, Schnauzer, Dálmata, entre outras. Um fator que contribui para o desenvolvimento da reação cutânea medicamentosa é o crescente lançamento de medicamentos pela indústria farmacêutica e o uso indiscriminado dos mesmos (ALEIXO, 2009). 15 Reação adversa ao medicamento (RAM) é aquela reação de perigo iminente, nãointencional que se manifesta em dosagens habitualmente usadas para terapia ou profilaxia das enfermidades (SPINOSA, 2006). Pode ser previsível, quando é dose-dependente e se relacionam a ações farmacológicas do medicamento, e em imprevisíveis, as quais são independentes da dose e se relacionam à resposta imune ou à susceptibilidade do indivíduo (SOUSA, 2005). Aleixo (2009) classifica as farmacodermias quanto a origem, podendo ser imunológica ou não-imunológica. As de ordem imunológica são ocasionadas pela formação de anticorpos específicos contra o fármaco e geralmente ocorrem após uma segunda exposição a ele. As farmacodermias de etiologia não imunomediadas, podem ser ocasionadas após a administração de altas doses do medicamento, segundo Spinosa (2006) além de superdosagens, podem ser por intolerância, idiossincrasia, distúrbio ecológico, biotropismo, liberação de histamina e reações fotoquímicas. A afecção pode apresentar um quadro clínico diversificado, variando desde lesões localizadas até reações generalizadas graves que podem levar a óbito (ALEIXO, 2009). Os sinais dermatológicos associados às farmacodermias incluem eritemas esfoliativos, erupção, urticária, edema, dermatopatias vesico-bolhosas ou pustulares como o pênfigo foliáceo farmacodérmico, vasculites e necrólise epidérmica tóxica (SILVA, 2014). A identificação do agente etiológico da farmacodermia, ou seja, o fármaco desencadeador pode ser difícil, visto que muitos pacientes recebem diversos medicamentos simultaneamente (ALEIXO, 2009). No diagnóstico de erupção causada por medicamentos, para Souza (2005) único teste confiável é a suspensão do medicamento até evolução das lesões, e em seguida administrar novamente o medicamento de forma proposital, embora perigosa, o que poderá determinar se ocorrerá reprodução das lesões indesejáveis, que para Aleixo (2009) contraindicado em razão do risco que pode gerar para o paciente, podendo levar ao óbito. Segundo a literatura consultada a anamnese é fundamental para o diagnóstico, informações importantes como afecções dermatológicas anteriores, ainda é importante averiguar com o proprietário o histórico de todos os remédios ingeridos no último mês, incluindo os dias das administrações e as doses empregadas. O exame clínico é de suma importância, e muitas vezes é o responsável pelo diagnóstico, na falta de exames complementares. (SPINOSA, 2006; ALEIXO, 2009; SOUSA, 2005). Para diagnosticar a farmacodermia é necessário descartar outras dermatopatias, como as infecções parasitárias, fúngica, entre outras, para isto o exame histopatológico é 16 imprescindível, no qual pode haver a presença de eosinófilos, edema e inflamação, sugestivo de reação de hipersensibilidade (ALEIXO, 2009). Mesmo com a histopatologia indicando reações de hipersensibilidade, ela não identifica o fármaco responsável pela erupção medicamentosa (SPINOSA, 2006). Para avaliar o quadro clínico geral e descartar outras possíveis afecções, recomenda-se também a realização de outros exames complementares, entre eles, o hemograma e as provas de função renal e hepática (ALEIXO, 2009). Para o tratamento, é fundamental a interrupção imediata da administração do fármaco que desencadeou a reação. Para as formas mais severas indica-se terapia de suporte, através reposição hidroeletrolítica via parenteral, alimentação rica em proteína e vitaminas, antibioticoterapia, analgesia e a aplicação de soluções antissépticas sobre as lesões (ALEIXO, 2009). Para Spinosa (2009) o prognóstico para pacientes com erupção cutânea varia muito de acordo com a gravidade dos sinais, tipo de reação medicamentosa e a evolução do animal, oscilando entre bom a mau. A demodicose é uma enfermidade de alta incidência em cães que se caracteriza por reação cutânea inflamatória quando há a presença de ácaros Demodex canis e um estado de imunodeficiência no animal. A presença da sarna demodécica nos folículos pilosos e glândulas sebáceas pode ocasionar sua dilatação, permitindo assim a invasão bacteriana, levando ao quadro de piodermite (CONTE, 2008). Para tratamento da demodicose DELAYTE et al, (2006) indica o uso de medicamentos como doramectina ou moxidectina, e a terapia indicada para piodermite segundo Vieira (2012) é a atibioticoterapia, como o mais comum e um dos mais eficazes é a cefalexina. Segundo estudo, o grupo de fármacos que comumente desencadeia reações de hipersensibilidade são os antibióticos (SILVARES, et al, 2008). Metodologia Durante o período do estágio supervisionado foi atendido um canino Yorkshire terier, macho, de sete meses de idade, apresentando prurido intenso, alopecia, pústulas, lesões úmidas, e presença de exsudato sanguinopurulento, foi feito um raspado cutâneo em lamina de microscopia qual observou-se Demodex canis, confirmando o diagnóstico de sarna demodécica. Foi submetido à terapia com doramectina, cefalexina e xampu de clorexidine. 17 Após quinze dias o paciente retornou apresentando edema e eritema de face, aspecto muito ruim na pele, com crostas e odor fétido. A suspeita imediata, baseada na experiência do veterinário responsável pelo paciente, foi de farmacodermia, reação ao uso da cefalexina. Então foi suspenso o uso deste antibiótico, e o paciente foi internado para receber terapia de suporte. Para saber o estado geral do canino, e verificar se havia acometimento dos demais sistemas, foram solicitados exames laboratorias, hemograma, FA, ALT e Creatinina. Resultados e Discussão Farmacodermia é uma reação adversa a fármacos que se manifesta na pele, mucosas e anexos, isoladamente, ou ainda, associado a alterações em outros órgãos ou sistemas (SILVA, 2014). Reafirmando a citação de Silvares, et al, (2008), os antibióticos compõe o grupo dos fármacos que desencadeiam reações de hipersensibilidade com maior frequência. A doença primária apresentada pelo paciente é demodicose canina. Uma patologia de alta incidência em caninos, provocada pelo ácaro Demodex canis, que faz parte da fauna normal da pele dos cães, mas que se manifesta e aumenta sua população quando há falha no mecanismo de defesa de pele. A patogenia decorre da presença de Demodex nos folículos pilosos e glândulas sebáceas ocasionando sua dilatação, permitindo assim a invasão bacteriana (CONTE, 2008). As características clínicas variam da forma localizada (DL) para a generalizada (DG). Na DL as lesões geralmente são brandas e consistem em eritema, e acometem os recém-nascidos, a DG são lesões disseminadas a partir do foco inicial, com múltiplas manchas mal circunscritas de eritema, alopecia, pápulas, pústulas e crostas e presença de exsudato sanguinopurulento (BOWMAN e BARR, 2010), o que condiz com as condições clínicas do paciente ao primeiro atendimento, sendo confirmada a DG. A suspeita clínica deve ser confirmada a partir de raspados cutâneos em lâmina de microscopia. (DELAYTE et al, 2006) O raspado do paciente teve resultado positivo para Demodex canis onde foram observados 20/cga. A DG é uma patologia severa, e necessita terapia tópica com Amitraz, única droga com eficácia comprovada para o tratamento da sarna demodécica, mesmo com alto risco de efeitos colaterais. É indicado o uso de ectoparasiticidas do grupo das avermectinas, como a doramectina e milbemicina ou moxidectina. Como ectoparasiticidas, essas substâncias 18 são aprovadas no Brasil somente para uso em suínos, eqüinos e ruminantes (DELAYTE et al, 2006; BOWMAN e BARR, 2010). O tratamento para piodermite de acordo com Vieira (2012) inclui uso de xampus como peróxido de benzoíla ou clorexidine e antibióticoterapia. Nessa perspectiva, o tratamento foi instituído com Doramectina, 0,5 mg/kg SC, uma aplicação a cada sete dias, quatro aplicações, Cefalexina, na dose de 30mg/kg, BID, durante sete dias, e banho com xampu de clorexidine uma vez ao dia por 15 dias. Mas ao invés de apresentar melhora nas lesões, o paciente apresentava edema e eritema de face, aspecto muito ruim na pele, com crostas, odor fétido. Dentre os medicamentos que desencadeiam erupções cutâneas, e as diferentes apresentações clínicas, os antibióticos beta-lactâmicos, a cefalexina mais especificamente pode desenvolver, reação no ponto de aplicação, urticária, erupções liquenóides, eritema polimorfo e necrólise epidérmica tóxica (SPINOSA, 2006). Além das lesões de pele, é preciso averiguar se há acometimento dos demais sistemas orgânicos (ALEIXO, 2009). De acordo com Spinosa (2006) hemograma, provas de funções renal e hepática, podem ser feitos para afastar outras possíveis etiologias. Analisando a série vermelha do hemograma (ANEXO A), pode-se afirmar que o paciente apresentava anemia normocítica e normocrômica. De acordo com Lopes (2007), alguns pacientes após serem submetidos à fluidoterapia podem apresentar anemia relativa, ocasionada pela expansão do volume plasmático, o que se acredita ser o caso do paciente, que havia recebido Solução fisiológica, conforme indica Aleixo (2009) para reposição hidroeletrolítica. No hemograma ainda foi possível observar que havia aumento dos neutrófilos não segmentados (bastonetes). Outra alteração vista na hematologia é baixa do número de plaquetas, para Hlavac (2012) a trombocitopenia pode ocorrer por quatro fatores distintos, o primeiro diz respeito à perda de sangue ou coagulação intravascular disseminada, o segundo a um fator imunomediados, o terceiro a sequestro secundário a endotoxemia, hipotermia, hepato ou esplenomegalia e o quarto refere-se à diminuição da produção devido à doença medular. O paciente ainda apresentava aumento no número de proteínas plasmáticas totais, de acordo com Lopes (2007) esse aumento se explica por doença inflamatória aguda ou anemia. A creatinina, usada para mensurar o índice de filtração glomerular, apresentou-se inalterada, (ANEXO B). A ALT (alanina amino transferase) enzima sérica que serve como indicativo de lesão hepática, no caso do paciente não apresentou alteração, já a fosfatase 19 alcalina que pode ser usada para avaliar o sistema hepato-biliar estava aumentada, mas para ser considerado indicativo de doença hepato-bilar deve ser três vezes o valor normal (LOPES, 2007). Baseado nos sinais clínicos apresentados, chegou-se ao diagnóstico de farmacodermia. Segundo Aleixo (2009) diagnóstico é baseado no quadro clínico apresentado pelo paciente. Pode-se suspeitar de hipersensibilidade dermatológica se as lesões apareceram após a administração do fármaco. O exame de histopatologia pode ser feito, ele indicará reação de hipersensibilidade, mas apenas o a suspensão do fármaco com remissão da lesão seguido da readministração do medicamento de forma proposital, embora perigosa, concluir o diagnóstico (SOUSA, 2005). Salientando o que já foi descrito, a principal intervenção terapêutica é a suspensão do medicamento causador da reação. Para as formas mais severas indica-se terapia de suporte, através reposição hidroeletrolítica via parenteral, alimentação rica em proteína e vitaminas, antibioticoterapia, analgesia e a aplicação de soluções antissépticas sobre as lesões (ALEIXO, 2009). Então se institui uma terapia com Enrofloxacina 10%, 2,5 – 5mg/kg, IM, SID, durante 15 dias, azitromicina 5-10 mg/kg, SID, VO, por cinco dias, analgesia com tramadol 1 – 4 mg/kg, SC, TID e fluidoterapia com solução fisiológica. Para dar segmento ao tratamento da demodicose, continuou-se com as aplicações semanais de doramectina e para terapia de piodermite seguiu-se com os banhos com clorexidine até completar os 15 dias indicados e com o uso dos antibióticos. O prognóstico para faramacodermias pode variar muito, podendo ir de bom a mau, dependendo da gravidade das lesões e do diagnóstico correto (SPINOSA, 2006). Após cinco dias de internação, recebendo terapia de suporte, o paciente apresentou melhora, e recebeu alta. Recomendou ao proprietário retornar para que se faça um novo raspado cutâneo, que segundo Conte (2008) deve ser refeito 30 dias após o primeiro, para que se tenha controle da infecção da sarna demodécica, sendo que é indicado apenas após dois raspados negativos o paciente recebe alta terapêutica. Conclusão Reações adversas a medicamentos são cada vez mais frequentes na medicina veterinária, em função do crescimento da indústria farmacêutica. Farmacodermias atingem principalmente cães Terriers, com apresentação clínica variada, o que dificulta o 20 diagnóstico preciso, fazendo com que muitas vezes passem desapercebidos, confundidos com outras dermatopatias. Referências ALEIXO, G. A. S. et al. Farmacodermia em cães. Medicina Veterinária, Recife, v. 3, n. 3, p. 31-35, jul./set. 2009. Disponível em: <www.revista.dmv.ufrpe.br/index. php/rdmv/article/viewFile/90/89>. Acesso em: 11 nov. 2014. BOWMAN, D. D.; BARR, S. C. Doenças infecciosas e parasitárias em cães e gatos: consulta em cinco minutos. 1 ed. São Paulo: Revinter, p.159-165. 2010. CONTE, A. P. Demodicose canina generalizada: relato de caso. Monografia (Curso de Especialização Latu Sensu em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais – CMCPA), Universidade Castelo Branco, Braço do Norte – SC, 2008. Disponível em: <qualittas.com.br/.../Demodicose%20Canina%20Generalizada %20-%20A...>. Acesso em: 11 nov. 2014. DELAYTE, E. H. et al. Eficácia das lactonas macrocíclicas sistêmicas (ivermectina e moxidectina) na terapia da demodicidose canina generalizada. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v. 58, n. 1, p. 31-38, 2006. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/abmvz/ v58n1/28777.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2014. HLAVAC, N. R. C. Avaliação de parâmetros plaquetários em cães saudáveis: efeitos da temperatura, tempo e tipo de anticoagulante. 2012. 53p. Dissertação (Programa de PósGraduação em Ciências Veterinárias), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012. Disponível em: <www.ufrgs.br/lacvet/restrito/pdf/disserta__o_nico.pd>. Acesso em: 11 nov. 2014. LOPES, S. T. A. Manual de patologia clínica veterinária. Santa Maria: UFSM/ Departamento de Clínica de Pequenos Animais, 3. ed. 2007. SILVA, C. D. C. F. et al. Reações cutâneas após administração de tetraciclina em um cão: relato de caso. In: ANCLIVEPA, 35., 2014. Anais eletrônicos... Disponível em: <https://www.anclivepa2014.com.br/353/092.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2014. 21 SILVARES MRC, Abbade LPF, Lavezzo M, Gonçalvez TM, Abbade JF. Reações cutâneas desencadeadas por drogas. Anais Brasileiros de Dermatologia; 83, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0365- 05962008000300006. Acesso em nov. 2014. SOUSA, M. G. et al. Reação farmacodérmica decorrente do uso do levamisol: relato de caso. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v. 57, supl. 2, p. 154-157, 2005. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/abmvz/v57s2/28316.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2014. SPINOSA, H. S. et al. Farmacologia aplicada a Medicina Veterinária. 4.ed. São Paulo: Gen, 2006 VIEIRA, J. M. C. Tratamento da piodermite recidivante em cães e gatos causada por microrganismos multirresistentes. 2012. 44p. Trabalho de Conclusão de Curso (Programa de Graduação em Medicina Veterinária), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012. 22 2.2 Complexo granuloma eosinofílico felino – relato de caso Resumo O complexo granuloma eosinofílico (CGE) consiste num grupo de lesões de ocorrência comum em gatos domésticos, e pode ser desencadeada e/ou acompanhada por diversas afecções, as principais causas são alérgicas, bacterianas, parasitárias, genéticas, víricas ou autoimunes. Caracteriza-se por lesões na pele ou cavidade bucal, que podem ser severas e causar graus variáveis de prurido e/ou dor, e tem três classificações clínicas: úlcera indolente, placa eosinofílica e granuloma eosinofílico. O diagnóstico é feito com base no histórico, exame clínico, citologia e histopatologia, porém outros métodos devem ser usados para diagnosticar a causa primária. O tratamento consiste basicamente em glicocorticóides sistêmicos e remover a causa primária. O objetivo do presente estudo é relatar o caso clínico de um felino, SRD, macho, 16 anos atendido no HV- UNIJUÍ durante o Estágio Curricular Supervisionado. Palavras-chave: dermatopatia felina, placa eosinofílica, gato. Introdução O complexo granuloma eosinofílico felino que acomete a cavidade bucal e a pele dos felinos. Também chamada de dermatose eosinofílica. Apesar dos recentes progressos na dermatologia felina, o CGE segue sendo uma síndrome mal conhecida e, portanto, origem de muitas falhas e erros terapêuticos (BIRCHARD; SHERDING, 2008; LERNER, 2013). É uma dermatopatia comum, de incidência sazonal, das épocas em que há maior proliferação dos insetos picadores, como a pulga. É uma patologia restrita a gatos, sem predileção por raça nem sexo, mas é mais relatado em fêmeas (TILLEY; SMITH, 2008). As causas primárias ou fatores pré- disponentes do CGE são alérgicas, parasitárias, bacterianas, víricas, genéticas ou autoimunes. As alergias a insetos picadores (pulgas, pernilongos, moscas), a alimentos, à alérgenos ambientais, estão associadas ao complexo, em especial a hipersensibilidade a picada de pulga, tem sido descrita como a causa mais 23 comum. Os parasitas, como pulgas, Demodex, Notoedres, Otodectes, piolhos, ácaros, desencadeiam a CGE em função da reação de hipersensibilidade. Quanto à origem bacteriana há controvérsias, apesar de infecção bacteriana secundária ser incomum em gatos, elas ocorrem. Então não há clareza, se as bactérias isoladas das lesões são agentes etiológicos do CGE ou decorrentes da infecção secundária. Doenças víricas, fatores hereditários, distúrbios imunomediados, neoplasias podem estar relacionadas ao surgimento do complexo. Ainda há formas idiopáticas, que provavelmente se devem ao fato da incapacidade de identificar um das causas citadas anteriormente (SANDOVAL et al, 2005; BIRCHARD; SHERDING, 2008; LERNER, 2013). A base da patogenia do CGE está na reatividade da pele dos felinos em relação à ação dos mastócitos e eosinófilos (LERNER, 2013). Os eosinófilos desenvolvem importante função na reação inflamatória, além de sua presença como indicativo de parasitoses e alergias. De outra parte, existe nos gatos uma doença hipereosinofílica que pode se originar de uma disfunção medular neoplásica ou de uma incapacidade na regulação de uma reação parasitária ou alérgica (SANDOVAL et al, 2005). As lesões clínicas apresentam-se de formas variáveis, em diferentes localizações anatômicas, podendo apresentar aspectos, dor e pruridos variados (LERNER, 2013) e são classificadas em três tipos: úlcera indolente (UI), placa eosinofílica (PE) e granuloma eosinofílico (GE). A úlcera indolente, também conhecida por úlcera eosinofílica ou dermatite ulcerativa do lábio superior felina pode ser uni ou bilateral, por ser restrita ao lábio superior (SANDOVAL et al, 2005). São lesões ulceradas, úmidas, alopécicas, bem circunscritas, em geral não cursam com prurido, tão pouco com dor (BIRCHARD; SHERDING, 2008). As erosões que evoluem para forma mais severas, podem ter tamanhos variáveis, com crostas nas superfícies e bordas bem elevadas, podendo levar a perda de tecidos mais profundos e edema labial. As lesões histopatológicas na UI são pouco específicas, apresentando- se como uma dermatite hiperplásica ulcerativa, perivascular. Costuma cursar com linfadenopatia regional, e geralmente não ocorre eosinofilia sérica. Podem ser concomitantes com a PE, com GE e dermatite miliar (LERNER, 2013). Outra forma de apresentação é a placa eosinofílica, uma lesão exsudativa, elevada e muito pruriginosa (BIRCHARD; SHERDING, 2008). De acordo com Lerner (2013) são áreas alopécicas, em relevo, eritematosas, erosivas e ulceradas, com um aspecto que varia desde uma pequena erosão mal definida a uma grande placa circunscrita. Devido às características pruriginosas, as lesões e pelos adjacentes permanecem úmidos devido a 24 lambidas constantes. Podem ser encontradas em qualquer localização do corpo, porem ocorrem mais comumente na região ventral do abdômen, perineal, face medial dos membros pélvicos e espaço interdigital. Os felinos com PE podem ter UI, GE ou ambos (LERNER, 2013; SANDOVAL et al, 2005). As lesões histopatológicas caracterizam-se por dermatite eosinofílica perivascular hiperplásica superficial ou profunda, podendo ser constatados micro-absessos eosinofílicos (SANDOVAL et al, 2005). A terceira maneira que pode apresentar-se é o granuloma eosinofílico que decorre mais comumente em gatos jovens. Caracteriza-se por lesões bem demarcadas, elevadas, alopécicas, de eritematosas a delinear amarelada, papular ou nodular (BIRCHARD; SHERDING, 2008). Os locais mais acometidos são face e cavidade bucal (especialmente lábios e palato duro), face caudal dos membros pélvicos, face medial dos membros torácicos e coxins podais (LERNER, 2013). De acordo com Sandoval et al, (2005) microscopicamente, o GE caracteriza-se por um granuloma nodular, difuso constituído de eosinófilos, histiócitos e células gigantes multinucleadas com focos de degeneração de colágeno. Geralmente está associado à eosinofilia sérica e a linfadenopatia regional. Para o diagnóstico pode-se basear em diferentes métodos, os principais são anamnese, exame cínico, citologia e histopatologia, os demais exames são utilizados para o descarte dos diagnósticos diferenciais e identificação da causa primária. Segundo o Birchard e Sherding, (2008) a anamnese tem papel importante, principalmente para definir as possíveis causas, como a identificação de alergias sazonais, como hipersensibilidade à pulga e outros insetos e dermatite atópica. O exame físico é fundamental para minimizar a lista de diagnósticos diferenciais. O raspado de pele é realizado para descartar demodicoses. As preparações com fita adesiva e o ato de escovar os pelos à procura de pulgas e outros ectoparasitas, que podem ser causa primária ou diagnóstico diferencial. O uso da lâmpada de Wood e cultura fúngica visam descartar dermatofitose felina (LERNER, 2013). Birchard e Sherding (2008) indicam testes alérgicos, uma dieta com restrição alimentar, para descartar alergia alimentar, e o teste alérgico intradérmico, para detectar hipersensibilidade a pulga e a alérgenos ambientais. Para Sandoval et al, (2005) a biopsia e o exame citológico representam ferramenta importante para auxiliar no diagnóstico, ao mostrarem predominância de eosinófilos nas lesões, embora neutrófilos e microorganismos possam também ser observados em casos de infecção secundária. Os achados histopatológicos achados nas biopsias cutâneas, conforme descritos em cada uma das três formas de apresentação, são os responsáveis pelo diagnóstico definitivo do CGE e pela classificação em UI, PE ou GE, além de ser uma 25 ferramenta importante para descartar diagnósticos diferenciais de doenças virais e neoplasias. A cultura e antibiograma podem ser solicitados, no caso de crescimento bacteriano, não é possível afirmar se é causa ou consequência, mas é importante na hora de escolher o antibiótico a ser usado (BIRCHARD; SHERDING, 2008). De acordo com Tilley e Smith (2008) os exames laboratoriais como hemograma, bioquímica sérica e exames de imagem não tem relevância. Para Birchard e Sherding, (2008) o hemograma completo pode revelar eosinofilia, que está relacionada com afecções parasitárias e alérgicas. Teste da leucemia felina e vírus da imunodeficiência felina são recomendados em casos recorrentes. A investigação da causa do problema, em função da busca do tratamento apropriado é essencial, para que não ocorram recidivas. Para todas as formas do CGE a administração de glicocorticoides sistêmicos tem sido o tratamento de eleição. Os felinos possuem menor número de receptores para glicocorticoides do que os cães, apresentando menores efeitos colaterais, o que facilita o uso por tempo prolongado (SANDOVAL et al, 2005). As lesões do CGE geralmente são erosivas e ulceradas, podendo haver infecções bacteriana. Para Birchard e Sherding, (2008) as bactérias mais comumente isoladas nas lesões são Staphylococcus, Streptococcus e Pasteurella, o mesmo indica sempre fazer cultura e antibiograma para que não haja uso indiscriminado de antimicrobianos. Lerner (2013) indica a utilização de amoxicilina com clavulanato 13,5 a 22mg/kg, BID. Já Tilley e Smith (2008) sugere o uso de clindamicina 5,5mg/kg, BID, VO ou cefalexina, 22mg/kg, BID, VO. Metodologia Foi atendido durante o estágio no Hospital Veterinário da UNIJUÍ, um felino, macho, SRD, de 16 anos de idade pesando 5,5kg. Na anamnese o proprietário relatou feridas de pele, prurido de moderado a intenso e lambedura nas áreas lesionadas, há mais de quatro anos. Que já havia tentado outros tratamentos, como Itraconazol, Ivermectina, Cefalexina, Cefovecina Sódica, mas que nenhum apresentou resultado adequado, e que a Prednisona utilizada por 15 dias diminuiu a intensidade do prurido, mas não havia reduzido às lesões. O paciente estava desverminado, com vacinas polivalentes em dia e não apresentava nenhum tipo de ectoparasita. 26 Ao exame físico, os parâmetros fisiológicos como frequência respiratória e cardíaca, temperatura retal, tempo de perfusão capilar, hidratação encontravam-se de acordo com a espécie. Para chegar a diagnóstico conclusivo foram solicitados exames de citologia, exame micológico direto, cultura fúngica e exame histopatológico. Também como medida preventiva, em função de ser um animal idoso, e para auxiliar no diagnóstico foi solicitado hemograma completo e bioquímica sérica (creatinina, ALT e FA). Resultados e Discussão O paciente apresentava úlceras eritematosas, delimitadas, umidificadas, alopécicas e com crostas, com prurido moderado a intenso, localizadas do abdômen, região lombar, lesões pequenas nas regiões do calcâneo bilateral, e outras pequenas multifocais pelo corpo. Já teve uma lesão, semelhante às atuais na região do mento. Segundo Prado (2014) dentre as dermatopatias que acometem os felinos, são incomuns os casos de granuloma eosinofílico que acometem somente a pele, a maioria dos casos é de úlceras indolentes em cavidade oral. Entre as possíveis causas da patologia, a hipersensibilidade a pulgas (DASP) é umas das mais comuns segundo Birchard e Sherding, (2008), o paciente já havia sido diagnosticado em outro atendimento por outro veterinário como alérgico a saliva da pulga, então se acredita ser esta a causa do CGE, mas antes de se chegar a esta conclusão foram analisados os exames laboratoriais. Apesar das lesões serem características, a suspeita clínica de CGE precisa ser confirmada, para isso são necessários exames complementares para que se chegue ao diagnóstico definitivo, principalmente a histopatologia, os quais irão diferenciar de outros diagnósticos como infecções fúngica, neoplasias, como carcinoma de células escamosas e mastocitoma, lesões traumáticas, infecções por Mycobacterium spp., abscessos, doenças virais de pele, dermatite miliar, entre outras. (LERNER, 2013) Após exame físico foram realizados exames hematológicos, contagem de plaquetas, bioquímico de ALT, FA e creatinina, exame micológico direto, citologia e histopatologia. No anexo C consta o resultado do hemograma, que pode ser comparado com a literatura, a qual descreve que os pacientes podem apresentar eosinofilia, indicativo de infecção parasitária ou alérgica, e linfadenopatia (BIRCHARD; SHERDING 2008). O hemograma teve como resultados linfocitose e eosinofilia conforme Anexo C. Segundo Lopes (2007) 27 linfocitose pode ser indicativo de infecção crônica, hipersensibilidade, doença autoimune, pós vacinação, entre outras, neste caso é explicada pela linfadenopatia que acompanha a dermatopatia, ou ainda pode ser fisiológica, causada pelo medo ou estresse, normal aos felinos quando submetidos ao exame físico, manipulação e coleta de material para exames . A eosinofilia é esperada nos casos de CGE, pois de acordo com Lopes (2007) as causas são perda tecidual crônica, reação alérgica, parasitismo, hipersensibilidade cutânea entre outras. A creatinina, ALT e FA não apresentaram nenhuma alteração (Anexo D), o que é afirmado por Tilley e Smith (2008), quando descreve que os animais que são com CGE não têm acometimentos sistêmicos significantes. O exame micológico direto e cultura fúngica também foram solicitados, tendo como laudo microbiológico resultados negativo para dermatófito (Anexo E). O exame citológico demonstra presença de eosinófilos, sendo estes, a maioria desgranulados (Anexo F). Presença de material basofílico ao fundo da lâmina, raros neutrófilos e linfócitos, sugestivo de placa eosinofílica, que como descreve Lerner (2013) pode mostrar altos níveis de eosinófilos. A histopatologia cutânea é o exame mais importante, responsável pelo diagnóstico definitivo, que confirme o CGE e o tipo de lesão (SANDOVAL et al, 2005). Conforme o Anexo G descreve, há fragmentos de pele com úlcera focalmente extensa recoberta de crostas e subjacente a esta há grande quantidade de infiltrado inflamatório difuso dissecando os feixes de colágeno da derme. Para Birchard e Sherding, (2008) a placa eosinofílica é caracterizada por edema intercelular marcante e eosinofilia tecidual, formação de crostas superficiais contendo células inflamatórias com áreas focais de erosão, ulceração ou necrose. São descritos diversos tratamentos para o CGE, mas de acordo com Birchard e Sherding, (2008), o melhor controle a longo prazo é obtido quando se estabelece um diagnóstico definitivo da causa primária e uma terapia específica para aquela doença. Mas, além disto, é necessário tratar as lesões ulceradas, para isso os glicocorticoides sistêmicos são a opção que apresenta melhores resultados. O paciente recebeu azitromicina na dose 510 mg/kg, SID, VO, por sete dias até cicatrização da ferida cirúrgica feita na pele para coleta de material para biopsia, a fins de prevenir infecções bacterianas cutâneas, bem como descreve Spinosa et al, (2006). Para Birchard e Sherding, (2008) infecções bacterianas secundarias acontecem com muita frequência, para isso faz-se necessária uma terapia antimicrobiana. Não se iniciou o tratamento para o CGE com corticoide antes da 28 cicatrização da ferida cirúrgica, de acordo com Spinosa et al, (2006) os glicocorticoides inibem a síntese de material conjuntivo, retardando cicatrização. De acordo com Lerner (2013) a prednisolona oral na dose de 1,0 a 2,0 mg/kg a cada 24 horas apresenta resultados satisfatórios. O acetato de metilprednisolona pode ser usado em casos que o proprietário tem dificuldade em fazer ingerir medicamento VO. É recomendada na dose de 5,0mg/kg, e em casos severos podem ser feitas duas a três aplicações com intervalos de duas semanas. O acetato de hidrocortisona, de uso tópico, na apresentação de spray pode ser aplicado por até 14 dias, sem o risco de efeitos sistêmicos, e é um complemento à terapia. Iniciou-se a terapia com glicocorticoides usando prednisona na dose de 10mg, SID, VO, por sete dias. Depois na dose de 5 mg, SID por sete dias. Continuou-se com a redução gradativa da dose. Por mais sete dias ele recebeu prednisona na dose de 2,5 mg, e por fim administrou-se durante sete dias 2,5mg de prednisona a cada 48h. De acordo com Spinosa, (2006), a redução gradativa da dose é essencial, uma vez que interrupção abrupta da medicação pode levar situação de hipoadrenocorticismo. Foi indicado que o proprietário continuasse aplicando antipulgas preventivamente a cada trinta dias para controle da causa primária da dermatopatia no paciente, de acordo com Birchard e Sherding, (2008) é o fundamental para o sucesso da terapia. Já nas duas primeiras semanas do tratamento com prednisona o paciente retornou, e apresentava melhora significativa, todas as lesões haviam regredido de tamanho e as menores já haviam desaparecido. Segundo Tilley e Smith (2008) o prognóstico é favorável se a causa primária for definida e controlada. Conclusão O complexo granuloma eosinofílico felino é uma dermatopatia comum. O que é incomum é não apresentar lesões no mento ou cavidade bucal, que era o caso do paciente relatado neste estudo, mas que segundo a proprietária havia apresentado anteriormente ao atendimento, já que as lesões persistiam desde 2010. O tratamento desta afecção é simples, a principal causa de insucesso nos tratamentos se deve ao fato de não remover a causa, que na maioria das vezes é indefinida. Diante desse caso, é possível ressaltar a importância dos exames complementares, especialmente a histopatologia e a citologia, responsáveis por um diagnóstico definitivo. 29 Referências BIRCHARD, S. J.; SHERDING, R. G. Manual Saunders: Clínica de Pequenos Animais, 2. ed. São Paulo: Roca, cap.53, p.541-546, 2008. LERNER, D. D. Complexo Granuloma Eosinofílico em Felinos Domésticos, Monografia (Graduação em Medicina Veterinária)–Universidade Federal de Porto Alegre, Porto Alegre, 2013. LOPES, S. T. A., Manual de Patologia Clínica Veterinária. Santa Maria: UFSM/ Departamento de Clínica de Pequenos Animais, 3. ed. 2007. PRADO, M. G. C. et al. Aspectos clínicos e patológicos do granuloma eosinofílico felino: relato de caso. In: ANCLIVEPA, 35., 2014. Anais eletrônicos... Disponível em: <https://www.anclivepa2014.com.br/353/068.pdf>. Acesso em: nov. 2014. SANDOVAL, J. G. et al. Complexo granuloma eosinofílico em felinos: revisão de literatura. Revista Veterinária em Foco, v. 2, n. 2, nov. 2004/abr. 2005. SPINOSA, H. S. et al. Farmacologia aplicada a Medicina Veterinária. 4.ed. São Paulo: Gen, 2006. TILLEY, L. P.; SMITH, F. W. K. J. Consulta veterinária em cinco minutos: espécies canina e felina. 3. ed. São Paulo: Manole, p.258, 259, 2008. 30 3 CONCLUSÃO O estágio curricular supervisionado é um dos componentes mais importantes do currículo acadêmico da graduação em Medicina Veterinária, se não o mais importante. É um momento único, que permite vivenciar a rotina da futura profissão, é o primeiro passo para habituação da vida que deixa de ser acadêmica e passa a ser profissional, onde se deixa de ser estudante para ser Médico Veterinário. Este momento ímpar, onde todas as disciplinas estudadas ao longo dos anos de faculdade se relacionam e se completam, é quando se percebe que cada detalhe estudado é fundamental para que sejam tomadas decisões corretas e seguir a conduta clínica mais adequada para cada caso. O período que se passou no HV da UNIJUÍ foi extremamente proveitoso, sendo que vários fatores contribuíram para isso. Um deles é o fluxo de animais atendidos, que possibilitou acompanhar diferentes casos e procedimentos, enriquecendo o conhecimento. Outro fator é a moderna e completa estrutura que o hospital oferece, permitindo conhecer o que há de novidades em tratamentos e formas de diagnósticos, incluindo os exames complementares, que normalmente, pelo menos um por paciente é solicitado, isso é essencial na Medicina Veterinária para estabelecer decisões éticas em relação aos pacientes. E ainda, o fato de o corpo clínico ser formado por três médicos veterinários, profissionais capacitados e experientes, além dos professores que atuam na rotina hospitalar. Assim, é possível acompanhar e aprender com profissionais de opiniões e métodos de trabalho diferentes. Cada um com condutas clínicas e terapêuticas diversas, possíveis e adequadas para cada paciente atendido, que são discutidas e estudadas em conjunto, isso é muito proveitoso, já que permite visualizar as formas particulares que cada situação do dia a dia pode ser encarada. Assim sendo, ao findar desse período, que além de aprimorar muito o conhecimento específico, possibilitou o convívio com pessoas diferentes, profissionais com pontos de vistas particulares, mas acima de tudo, possibilitou o aprendizado do trabalho em conjunto, de respeitar as pessoas, dividir as tarefas, compartilhar conhecimentos. 31 ANEXOS 32 Anexo A - Hemograma do paciente com suspeita de farmacodermia 33 Anexo B - Exame de Bioquímica Sérica do paciente com suspeita de farmacodermia 34 Anexo C - Hemograma do paciente com suspeita de Complexo Granuloma Eosinofílico Felino 35 Anexo D - Exame de Bioquímica Sérica paciente com suspeita de Complexo Granuloma Eosinofílico Felino 36 Anexo E – Resultado do Exame Microbiológico do paciente com suspeita Complexo Granuloma Eosinofílico Felino 37 Anexo F – Resultado do Exame Citológico do paciente com suspeita Complexo Granuloma Eosinofílico Felino 38 Anexo G - Resultado Histopatológico do paciente com suspeita Complexo Granuloma Eosinofílico Felino