Avaliação do potencial terapêutico das células-tronco

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO
CAROLINA CALIÁRI OLIVEIRA
Avaliação do potencial terapêutico das células-tronco mesenquimais em
feridas ocasionadas por queimaduras em ratos
Ribeirão Preto
2010
CAROLINA CALIÁRI OLIVEIRA
Avaliação do potencial terapêutico das células-tronco mesenquimais em
feridas ocasionadas por queimaduras em ratos
Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
para obtenção do título de Mestre em Ciências.
Área de Concentração: Imunologia Básica e
Aplicada
Orientador: Prof. Dr. Júlio César Voltarelli
Ribeirão Preto
2010
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO
CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
FICHA CATALOGRÁFICA
Caliári -Oliveira, Carolina
Avaliação do potencial terapêutico das células-tronco mesenquimais em
feridas ocasionadas por queimaduras em ratos. Ribeirão Preto, 2010.
127 p. il. 30cm.
Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Área de concentração: Imunologia Básica e Aplicada. Orientador:
Voltarelli, Júlio César
1. Queimaduras. 2. Células-tronco mesenquimais. 3. Terapia celular.
4. Cicatrização de feridas. 5. Célula multipotente mesenquimal estromal .
6. Medicina regenerativa.
FOLHA DE APROVAÇÃO
Carolina Caliári Oliveira
Avaliação do potencial terapêutico das células-tronco mesenquimais em feridas ocasionadas por
queimaduras em ratos
Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Mestre em Ciências.
Área de Concentração: Imunologia Básica e Aplicada
Aprovado em:
Banca Examinadora
Prof. Dr. __________________________________________________________________________
Instituição: _______________________________ Assinatura: _______________________________
Prof. Dr. __________________________________________________________________________
Instituição: _______________________________ Assinatura: _______________________________
Prof. Dr. __________________________________________________________________________
Instituição: _______________________________ Assinatura: _______________________________
Dedico este trabalho à minha mãe, por me
fazer ser, a cada dia, uma pessoa melhor.
Agradeço imensamente,
aos profissionais sem os quais esse trabalho não teria sido realizado...
Reinaldo e Ramon (Biotério da FCFRP/USP)
Ana Cristine Silva Ferreira (Dpto. Imunologia Básica e Aplicada FMRP/USP)
Patrícia V.B. Palma e Camila C.B.O. Menezes (FUNDHERP)
Cici (Laboratório de Dermatologia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto)
Dr. Marco Andrey C. Frade (Depto. de Clínica Médica da FMRP)
Alessandra Almeida (FUNDHERP)
Rodrigo Gomes Teixeira e Cíntia Almeida da Silva Santos (FUNDHERP)
Dra. Leandra Naíra Z. Ramalho (Laboratório de Patologia da FMRP/USP)
Sr. Dejano e Sr. Otávio (Oficina de Precisão/USP)
Carmem (FUNDHERP)
Dra. Daniela Carlos (Laboratório de Farmacologia da FMRP/USP)
Dr. Marcelo D. Baruffi (FCFRP/USP)
Dra. Cristina R. B. Cardoso (FMTM/Uberaba)
Dra. Maria Aparecida C. Fontes (FUNDHERP)
Maria Emília N. Bonifácio da Silva (Laboratório de Análises Clínicas FCFRP/USP)
Sandra Navarro (FUNDHERP)
Rodrigo Gomes Teixeira (FUNDHERP)
Cíntia Almeida da Silva Santos (FUNDHERP)
Elaine e Renata (FUNDHERP)
Dra. Rita de Cássia Carrara (FUNDHERP)
...também
aos
funcionários
da
limpeza,
da
segurança,
da
copa,
da
manutenção e da jardinagem da FUNDHERP por tornarem a realização deste
trabalho mais agradável.
À Daurea,
por ter plantado essa idéia...
Ao Jorge,
por ter aceito o desfio e me ensinado os primeiros passos da
cultura de células...
Ao Dr. Júlio,
por ter confiado em mim...
Às meninas Voltarelli,
por terem me recebido....
À Ju,
pela enorme colaboração (em todos os sentidos) e por todas as coisas
que ainda virão...
À Gabi,
pelas discussões produtivas e pela objetividade...
À Má,
por picotar tecido adiposo alheio, pelas fotos, IHQ... pela alegria...
À Kelen,
por ter me recebido e ajudado...
Ao Willian,
por ter me acompanhado...
Ao pessoal do laboratório de T. gênica,
pela parceria freqüente...
Às meninas Voltarelli que chegaram depois,
pela companhia...
Ao meu irmão Ricardo,
pela câmera fotográfica, pela formatação da tese e por todo o
tempo perdido...
À Kelen e à Isabella,
pela correção da tese (pensou que eu ia esquecer?)...
À comissão julgadora de defesa de dissertação,
por me ouvir...
À minha família (pais, irmãos, tios, tias...),
pelo apoio constante sem o qual o que eu sou não
seria possível...
Os meus mais sinceros agradecimentos.
RESUMO
Caliari-Oliveira, C. Avaliação do potencial terapêutico das células-tronco
mesenquimais na regeneração de feridas ocasionadas por queimaduras em ratos.
2010. 127p. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, SP.
Queimaduras extensas de pele são de difícil tratamento, principalmente porque levam ao
comprometimento do sistema imunológico e de outros órgãos, podendo levar o paciente ao
óbito em poucos dias. O paciente com queimaduras graves e extensas requer cuidados
especiais e longos tempos de internação. Uma alternativa terapêutica recente para o tratamento
de úlceras de pele é a utilização de células-tronco mesenquimais (CTMs) para acelerar o
processo de cicatrização da pele. Vários fatores são favoráveis à utilização das CTMs no
tratamento de queimaduras extensas, tais como suas propriedades de angiogênese,
regeneração e imunoregulação. No entanto, pacientes com queimaduras graves necessitam de
tratamento com urgência e a expansão de CTMs autólogas é um processo relativamente
demorado o que inviabilizaria a utilização das mesmas em grandes queimados. Com isto, faz-se
necessário a utilização de culturas de CTMs alogênicas, previamente estabelecidas de outros
doadores saudáveis. Dessa forma, o objetivo do presente foi avaliar o potencial terapêutico das
CTMs xenogênicas no tratamento de úlceras ocasionadas por queimaduras extensas e graves
em ratos. Para isto, CTMs foram isoladas a partir da medula óssea (MO) de camundongos FVB
GFP+ e expandidas in vitro. Ratos Wistar foram submetidos à queimadura experimental através
do contato de chapa de metal aquecida a 200˚C por 25 segundos em contato com o dorso
tricotomizado dos mesmos, esse procedimento originou queimaduras extensas e graves. As
CTMs foram aplicadas pela via intradérmica (ID) nos animais pertencentes ao grupo tratado
CTM-ID, enquanto foi aplicado PBS via ID nos animais pertencentes ao grupo controle (PBSID). Uma diminuição da taxa de mortalidade pós-queimadura foi observada nos animais CTM-ID
(23.81%) quando comparada aos animais PBS-ID (39.14%). A partir do quadragésimo quinto
dia após injúria térmica uma melhora do processo de cicatrização foi observada nos animais
CTM-ID (72.95 ± 5.170) em comparação aos animais PBS-ID (57.74 ± 2.016) p= 0.0179.
Análises microbiológicas revelaram que o principal tipo de microorganismo encontrado na pele
dos animais de ambos os grupos foi o gênero Staphylococcus sp. Foram acompanhadas as
alterações das populações celulares TCD4+ e CD8+ no baço e na região das feridas dos
animais, bem como a porcentagem de neutrófilos na região da pele lesada pela queimadura.
Durante a avaliação final do processo de cicatrização, no período referente ao sexagésimo dia
após injúria térmica a porcentagem de cicatrização dos animais CTM-ID (90.81 ± 5.054) foi
maior que a porcentagem de cicatrização dos animais PBS-ID (76.11 ± 3.457), p = 0.0335,
evidenciando o recobrimento mais rápido da ferida nos animais CTM-ID. Dessa forma, esse
estudo mostrou resultados positivos, encorajando o uso das CTMs no tratamento de
queimaduras extensas e profundas em modelo animal. O potencial terapêutico das CTMs na
regeneração de úlceras da pele é interessante não só para o tratamento de pacientes com
queimaduras, mas também para o tratamento de pacientes com outras doenças que acometem
a pele. Os resultados desse trabalho de pesquisa poderão embasar a terapia regenerativa com
CTMs para que a mesma possa se tornar uma alternativa terapêutica rápida e eficaz para o
tratamento de pacientes com queimaduras extensas e graves que necessitam de cuidados
imediatos.
Palavras chave: Queimaduras, células-tronco mesenquimais, terapia celular, cicatrização
de feridas.
ABSTRACT
Caliari-Oliveira, C. Evaluation of the mesenchymal stem cells therapeutic potential in
rat burn wounds. 2010. 127p. Medicine Faculty of Ribeirão Preto, São Paulo University,
SP.
Burns in the skin are difficult to treat, once they lead to an impairment of the immune system
and other organs, leading the patient to death in a few days. Patients with deep burn require
special care and long periods of hospitalization. A recent therapeutic alternative to treat skin
ulcer is the use of mesenchymal stem cells (MSC) to accelerate the process of wound
healing. Several factors are favorable to the use of MSCs in the treatment of deep burn, such
as their properties of angiogenesis, regeneration and immunoregulatory function. However,
patients with deep burns need urgent treatment and the expansion of autologous MSCs is a
relatively lengthy process, becoming unfeasible its use in full thickness thermal burns. Thus it
is necessary the use of allogeneic MSCs, previously established from other healthy donors.
Therefore the objective of this study was to evaluate the therapeutic potential of xenogeneic
MSCs in the treatment of ulcers caused by deep burn in mice. MSCs were isolated from the
bone marrow (BM) of FVB GFP+ mice and expanded in vitro. Wistar rats were submitted to
experimental burn through the contact with brass bar to 200˚C for 25 seconds in contact with
dorsal shaved, this procedure originated deep burn. MSCs were given by via intradermal (ID)
in animals belonging to the treated group MSC-ID, and PBS was given via ID in animals
belonging to the group control (PBS-ID). A decrease in the post burning mortality rate was
observed in animals MSC-ID (23.81%) when compared to the animals PBS-ID (39,14%).
From the 45th day after thermal injury, an improvement in the healing process was observed
in animals MSC-ID (72.95 ± 5.170) in comparison to the animals PSB-ID (57.74 ± 2.016) p=
0.0179. Microbiological analyses showed that the main type of microorganism found in the
animal skin of both groups was the genus Staphylococcus sp. Alterations in the cell
population T CD4+ and CD8+ in spleen and in the area of damaged skin, as well as the
percentage of neutrophils in the damaged area by burn were observed. During the final
evaluation of healing process, period concerning the 60th day after the thermal injury, the
percentage of healing in animals MSC-ID (90.81 ± 5.054) was bigger than the healing
percentage in animals PBS-ID (76.11 ± 3.457), p = 0.0335, evidencing a faster in the healing
of animals MSC-ID. This way, this study indicated the effectiveness of MSCs in the treatment
of deep burn in animal model. The therapeutic potential of MSCs in wound healing is
interesting for the treatment of patients with burns, as well as for the treatment of patients
with other diseases related to skin. The results of this study may serve as a base for
regenerative therapy with MSCs in order to become a fast and effective therapeutic
alternative for the treatment of patients with deep burn in need of immediate care.
Key words: Burns, mesenchymal stem cell, cellular therapy, wound healing.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01: Determinação da superfície corporal total queimada. Regra dos nove para
medida de área corporal queimada .....................................................................................
19
Figura 02: Determinação da profundidade das queimaduras. Classificação da
queimadura de acordo com sua profundidade ....................................................................
20
Figura 03: Esquema de quadrantes utilizado para realização da queimadura .....................
43
Figura 04: Histogramas representativos da população de CTMs de camundongos
FVB GFP+. ..........................................................................................................................
52
Figura 05: Avaliação da multipotencialidade das CTMs isoladas de medula óssea de
camundongos FVB GFP ......................................................................................................
53
Figura 06: Análise da sobrevida dos animais submetidos ao procedimento de injúria
térmica experimental............................................................................................................
55
Figura 07: Análise da massa corporal dos animais submetidos ao procedimento de
injúria térmica experimental por um período de sessenta dias .............................................
56
Figura 08: Aspecto das feridas ocasionadas por queimadura nos animais
pertencentes ao subgrupo PBS-ID no início do experimento (0d) ........................................
59
Figura 09: Aspecto das feridas ocasionadas por queimadura dos animais
pertencentes ao subgrupo CTM-ID no início do experimento...............................................
59
Figura 10: Aspecto das feridas ocasionadas por queimadura nos animais
pertencentes ao subgrupo PBS-ID no sétimo dia após o início do experimento ..................
63
Figura 11: Aspecto das feridas ocasionadas por queimadura dos animais
pertencentes ao subgrupo CTM-ID no sétimo dia do início do experimento. .......................
63
Figura 12: Área da queimadura, em pixels, no sétimo dia após o início do
experimento .........................................................................................................................
64
Figura 13: População de linfócitos T CD4+ no baço dos animais sete dias após o
início do experimento ...........................................................................................................
65
Figura 14: População de células CD8+ no baço dos animais sete dias após o início do
experimento .........................................................................................................................
66
Figura 15: População de linfócitos T CD4+ na pele dos animais sete dias após o início
do experimento. ..................................................................................................................
67
Figura 16: População de células CD8+ na pele dos animais sete dias após o início do
experimento .........................................................................................................................
67
Figura 17: Cortes histológicos da pele dos animais no 7d após a injúria térmica .................
68
Figura 18: Número de neutrófilos na região da ferida ocasionada por queimadura nos
70
animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID, no sétimo dia após início do experimento .........
Figura 19: Aspecto das feridas ocasionadas por queimadura nos animais
pertencentes ao subgrupo PBS-ID no décimo quinto dia após o início do
experimento. ...............................................................................................................
73
Figura 20: Aspecto das feridas ocasionadas por queimadura dos animais
pertencentes ao subgrupo CTM-ID no décimo quinto dia após o início do
experimento. .......................................................................................................................
73
Figura 21: Área da queimadura, em pixels, no décimo quinto dia após o início do
experimento .........................................................................................................................
74
Figura 22: População de linfócitos T CD4+ no baço dos animais quinze dias após o
início do experimento ...........................................................................................................
75
Figura 23: População de células CD8+ no baço dos animais quinze dias após o início
do experimento ....................................................................................................................
76
Figura 24: População de linfócitos T CD4+ na pele dos animais quinze dias após o
início do experimento ...........................................................................................................
77
Figura 25: População de células CD8+ na pele dos animais quinze dias após o início
do experimento ....................................................................................................................
77
Figura 26: Número de neutrófilos na região da ferida ocasionada por queimadura nos
animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID, no décimo quinto dia após início do
experimento .........................................................................................................................
79
Figura 27: Aspecto das feridas ocasionadas por queimadura nos animais
pertencentes ao subgrupo PBS-ID no trigésimo dia após o início do experimento..............82
.
Figura 28: Aspecto das feridas ocasionadas por queimadura dos animais
pertencentes ao subgrupo CTM-ID no trigésimo dia após o início do experimento .............82
.
Figura 29: Porcentagem de cicatrização trinta dias após injúria térmica experimental .........
83
Figura 30: População de linfócitos T CD4+ no baço dos animais trinta dias após o
início do experimento. .........................................................................................................
84
Figura 31: População de células CD8+ no baço dos animais trinta dias após o início
do experimento ....................................................................................................................
85
Figura 32: População de linfócitos T CD4+ na pele dos animais trinta dias após o
início do experimento. População ........................................................................................
86
Figura 33: População de células CD8+ na pele dos animais trinta dias após o início do
experimento ........................................................................................................................86
.
Figura 34: Cortes histológicos da pele dos animais corados por HE ....................................
87
Figura 35: Número de neutrófilos na região da ferida ocasionada por queimadura nos
animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID, no trigésimo dia após início do
experimento ........................................................................................................................88
.
Figura 36: Aspecto das feridas ocasionadas por queimadura nos animais
pertencentes ao subgrupo PBS-ID no quadragésimo quinto dia após o início do
experimento ........................................................................................................................
91
Figura 37: Aspecto das feridas ocasionadas por queimadura dos animais
pertencentes ao subgrupo CTM-ID no quadragésimo quinto dia após o início do
experimento ........................................................................................................................91
.
Figura 38: Porcentagem de cicatrização quarenta e cinco dias após injúria térmica
experimental .......................................................................................................................92
.
Figura 39: População de linfócitos T CD4+ no baço dos animais quarenta e cinco dias
após o início do experimento ..............................................................................................93
.
Figura 40: População de células CD8+ no baço dos animais quarenta e cinco dias
após o início do experimento ...............................................................................................
94
Figura 41: População de linfócitos T CD4+ na pele dos animais quarenta e cinco dias
após o início do experimento ...............................................................................................
95
Figura 42: População de células CD8+ na pele dos animais quarenta e cinco dias
após o início do experimento ...............................................................................................
95
Figura 43: Número de neutrófilos na região da ferida ocasionada por queimadura nos
animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID, no quadragésimo quinto dia após início do
experimento .........................................................................................................................
97
Figura 44: Aspecto das feridas ocasionadas por queimadura nos animais
pertencentes ao subgrupo PBS-ID no sexagésimo dia após o início do experimento .........
101
Figura 45: Aspecto das feridas ocasionadas por queimadura dos animais
pertencentes ao subgrupo CTM-ID no sexagésimo dia após o início do experimento .........
101
Figura 46: Porcentagem final de cicatrização após injúria térmica experimental ..................
102
Figura 47: Cortes histológicos da pele dos animais corados por HE sessenta dias
após injúria térmica experimental.........................................................................................
103
LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Associação entre a superfície corporal total queimada e o número de
mortes no Hospital das Clínicas da faculdade de Medicina de Ribeirão Preto .....................
21
Tabela 02: Terapia celular experimental com CTMs ............................................................
30
Tabela 03: Distribuição dos animais utilizados nos experimentos ........................................
44
Tabela 04: Microorganismos colonizadores da pele dos animais submetidos à
injúria térmica no dia 0 .........................................................................................................
57
Tabela 05: Microorganismos colonizadores da pele dos animais submetidos à
injúria térmica no terceiro dia após o início do experimento .................................................
60
Tabela 06: Microorganismos colonizadores da pele dos animais submetidos à
injúria térmica no sétimo dia após o início do experimento ..................................................
62
Tabela 07: Avaliação histopatológica da interface entre pele normal e úlcera no
sétimo dia após injúria térmica.............................................................................................
69
Tabela 08: Microorganismos colonizadores da pele dos animais submetidos à
injúria térmica quinze dias após o início do experimento .....................................................
71
Tabela 09: Avaliação histopatológica da interface entre a pele normal e a úlcera no
décimo quinto dia após a injúria térmica ..............................................................................
78
Tabela 10: Microorganismos colonizadores da pele dos animais submetidos à
injúria térmica no trigésimo dia após o início do experimento ..............................................
80
Tabela 11: Avaliação histopatológica da interface entre a pele normal e a úlcera no
trigésimo dia após injúria térmica .........................................................................................
88
Tabela 12: Microorganismos colonizadores da pele dos animais submetidos à
injúria térmica no quadragésimo quinto dia após o início do experimento ............................
90
Tabela 13: Avaliação histopatológica da interface entre pele normal e a úlcera no
quadragésimo quinto dia após injúria térmica ......................................................................
96
Tabela 14: Microorganismos colonizadores da pele dos animais submetidos à
injúria térmica no sexagésimo dia após o início do experimento ..........................................
99
Tabela 15: Avaliação histopatológica da interface entre pele normal e a úlcera no
quadragésimo quinto dia após injúria térmica ......................................................................
104
LISTA DE ABREVIATURAS
ALFA-MEM: meio essencial mínimo
CT:
célula-tronco
CTH:
célula-tronco hematopoiética
CTM:
célula-tronco mesenquimal
DMEM:
meio essencial modificado
EAE:
encefalomielite autoimune experimental
EGF:
fator de crescimento endotelial
FGF:
fator de crescimento de fibroblastos
FITC:
isotiocianato de fluoresceína
GFP:
proteína verde fluorescente
HE:
hematoxilina/eosina
ID:
intradérmico
IL-10:
interleucina 10
IL-2:
interleucina 2
IL-6:
interleucina 6
MHC:
complexo principal de histocompatibilidade
MMPs:
metaloproteases
MO:
medula óssea
MPO:
mieloperoxidase
PBS:
tampão fosfato tamponado
PDGF:
fator de crescimento derivado de plaquetas
PE:
ficoeritrina
PGE2:
prostaglandina 2
SBF:
soro bovino fetal
SIRS:
síndrome da resposta inflamatória sistêmica
SRAC:
síndrome da resposta antiinflamatória compensatória
STC:
superfície corporal total
T CD4+:
linfócitos T CD4+
T CD8+:
linfócitos T CD8+
TGF-β:
fator transformador de crescimento beta
TNF-α:
fator de necrose tumoral alfa
TNF-α:
fator de necrose tumoral alfa
VEGF:
fator de crescimento vascular endotelial
Treg:
linfócitos T reguladores
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 19
1.1. Paciente queimado ......................................................................................... 19
1.2. Lesão da pele em queimados ......................................................................... 23
1.3. Terapia celular e células-tronco mesenquimais .............................................. 26
1.4. Terapia com células-tronco mesenquimais na cicatrização de úlceras ........... 30
1.5. Terapia com células-tronco mesenquimais em queimaduras ......................... 34
2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 37
2.1. Objetivo geral .................................................................................................. 37
2.2. Objetivos específicos ...................................................................................... 37
3. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 38
3.1. Considerações gerais ..................................................................................... 38
3.2. Isolamento das células-tronco mesenquimais (CTMs) de medula óssea de
camundongos FVB GFP+ ...................................................................................... 39
3.2.1. Extração da medula óssea dos camundongos FVB GFP+ ....................... 39
3.2.2. Cultura das células-tronco mesenquimais ................................................ 40
3.2.3. Tripsinização das células-tronco mesenquimais ....................................... 40
3.3. Imunofenotipagem de MSCs murinas ............................................................. 41
3.4. Ensaio de diferenciação in vitro das células CTMs murinas ........................... 41
3.5. Procedimento experimental ............................................................................ 42
3.6. Monitoramento fotográfico das lesões obtidas a partir da injúria térmica ........ 45
3.6.1. Cálculo da porcentagem de cicatrização .................................................. 45
3.7. Coleta, processamento e análise de materiais biológicos ............................... 46
3.7.1. Obtenção de plasma dos animais ............................................................. 46
3.7.2. Coleta do baço .......................................................................................... 46
3.7.3. Obtenção de esplenócitos dos animais .................................................... 47
3.7.4 Imunofenotipagem das subpopulações linfocitárias................................... 47
3.7.5 Coleta de pele ............................................................................................ 48
3.7.6 Realização da atividade de dosagem de mieloperoxidase (MPO) ............. 48
3.7.7 Análises histológicas.................................................................................. 49
3.7.8. Teste microbiológico ................................................................................. 50
3.7.9. Análise de dados ...................................................................................... 51
4. RESULTADOS ...................................................................................................... 52
4.1. Obtenção das células-tronco mesenquimais a partir da medula óssea de
camundongos FVB GFP+ ...................................................................................... 52
4.2. Análise da multipotencialidade das células-tronco mesenquimais .................. 53
4.3. Procedimento de injúria térmica experimental ................................................ 53
4.4. Curva de sobrevida dos animas ...................................................................... 54
4.5. Acompanhamento da massa corporal dos animais......................................... 56
4.6. Avaliação dos animais no início do experimento............................................. 57
4.7. Avaliação microbiológica dos animais três dias após o início do
experimento ........................................................................................................... 60
4.8. Avaliação dos animais sete dias após o início do experimento....................... 61
4.8.1. Grupo GR60d ........................................................................................... 61
4.8.1.1. Análise microbiológica das feridas ..................................................... 61
4.8.1.2. Análise fotográfica das feridas ocasionadas por injúria térmica ......... 62
4.8.2. Grupo GR7d ............................................................................................. 64
4.8.2.1. Análise das populações de linfócitos TCD4 + e células CD8+ do
baço dos animais por citometria de fluxo ........................................................ 65
4.8.2.2. Análise das populações de linfócitos T CD4 + e células CD8+ da
pele dos animais por citometria de fluxo ......................................................... 66
4.8.2.3. Análises histopatológicas das lesões ................................................. 68
4.8.2.4. Dosagem de MPO da pele da região da ferida dos animais............... 69
4.9. Avaliação dos animais quinze dias após o início do experimento ................... 70
4.9.1. Grupo GR60d............................................................................................ 70
4.9.1.1. Análise microbiológica das feridas ..................................................... 71
4.9.1.2. Análise fotográfica das lesões por queimadura .................................. 72
4.9.2. Grupo GR15d ........................................................................................... 74
4.9.2.1. Análise das populações de linfócitos T CD4 + e células CD8+ no
baço dos animais por citometria de fluxo ........................................................ 75
4.9.2.2. Análise das populações de linfócitos T CD4 + e células CD8+ na
pele dos animais por citometria de fluxo ......................................................... 76
4.9.2.3. Análises histopatológicas das lesões ................................................. 78
4.9.2.4. Dosagem de MPO da pele da região da ferida dos animais ............... 79
4.10. Avaliação dos animais trinta dias após o início do experimento ................... 80
4.10.1. Grupo GR60d.......................................................................................... 80
4.10.1.1. Análise microbiológica das feridas ................................................... 80
4.10.1.2. Análise fotográfica das lesões por queimadura ................................ 81
4.10.2. Grupo GR30d.......................................................................................... 83
4.10.2.1. Análise das populações de linfócitos T CD4 + e células CD8+ do
baço dos animais por citometria de fluxo ........................................................ 84
4.10.2.2. Análise das populações de linfócitos T CD4 + e células CD8+ na
pele dos animais por citometria de fluxo ......................................................... 85
4.10.2.3. Análises histopatológicas das lesões ............................................... 87
4.10.2.4. Dosagem de MPO na pele da região da ferida dos animais ............. 88
4.11. Avaliação dos animais quarenta e cinco dias após o início do experimento . 89
4.11.1 Grupo GR60d........................................................................................... 89
4.11.1.1. Análise microbiológica das feridas ................................................... 89
4.11.1.2. Análise fotográfica das lesões por queimadura ................................ 90
4.11.2. Grupo GR45d.......................................................................................... 92
4.11.2.1. Análise das populações de linfócitos T CD4 + e células CD8+ no
baço dos animais por citometria de fluxo ........................................................ 93
4.11.2.2. Análise das populações de linfócitos T CD4+ e células CD8+ da
pele dos animais por citometria de fluxo ......................................................... 94
4.11.2.3. Análises histopatológicas das lesões ............................................... 96
4.11.2.4. Dosagem de MPO da pele da região da ferida dos animais............. 97
4.12. Avaliação dos animais sessenta dias após o início do experimento ............. 98
4.12.1. Análise microbiológica das feridas .......................................................... 98
4.12.2. Análise fotográfica das lesões por queimadura .................................... 100
4.12.3. Análises histopatológicas das lesões.................................................... 102
5. DISCUSSÃO ....................................................................................................... 105
6. CONCLUSÕES ................................................................................................... 118
7. REFERÊNCIAS ................................................................................................... 120
Introdução
1. INTRODUÇÃO
1.1. Paciente queimado
Queimaduras na pele o maior órgão do sistema imunológico acarretam
prejuízos ao organismo como um todo. Queimaduras na pele são de difícil
tratamento, principalmente porque levam ao comprometimento do sistema
imunológico e de órgãos, o que pode levar o paciente ao óbito. O paciente queimado
requer cuidados especiais e longos tempos de internação. Casos graves de
queimaduras podem levar o paciente ao óbito em poucos dias (revisado por
ALGÖER et al., 1995).
Após internação do paciente queimado a correta determinação da superfície
total corporal queimada (STC) é fundamental para que o tratamento possa ser
iniciado (figura 01). É considerado grande queimado aquele que apresenta
queimadura de extensão igual ou superior a vinte por cento da STC.
Figura 01: Determinação da superfície corporal total queimada. Regra dos nove para
medida de área corporal queimada, adaptado de Hiettiarathy e Papini, 2004.
19
Introdução
O paciente queimado desenvolve várias complicações sendo necessária a
realização de procedimentos especiais como a transferência de fluídos, o monitoramento
do balanço eletrolítico, cuidados sépticos com a ferida, suporte nutricional, respiratório e
renal, além do tratamento das infecções, e em casos mais graves, tratamento de sepse e
de síndrome de falência de múltiplos órgãos (BISHARA, et al., 2005).
Além da correlação com a STC a gravidade da injúria por queimadura está
diretamente relacionada à sua profundidade (figura 02). As queimaduras de menor
gravidade não atingem todas as camadas da pele, já queimaduras graves danificam
não só as camadas da pele como o tecido subcutâneo (revisado por
HETTIARATCHY e PAPINI, 2004).
Figura 02: Determinação da profundidade das queimaduras. Classificação da
queimadura de acordo com sua profundidade, adaptado de Hiettiarathy e Papini, 2004.
A principal causa de queimaduras é o contato direto com chamas ou líquidos
quentes. Já as queimaduras químicas ou ocasionadas por condução elétrica são
menos comuns. Vale ressaltar que a fonte de queimadura está relacionada à idade
do paciente (revisado por HETTIARATCHY e DZIEWULSKI, 2004).
Cerca de sessenta por cento dos pacientes queimados, apresenta idade entre
quinze e sessenta e quatro anos, sendo que a maioria das queimaduras em indivíduos
com essa faixa etária está relacionada a acidentes ocupacionais, principalmente contato
com a chama. Vinte por cento dos pacientes queimados são crianças com idade a cima
de quatro anos, sendo que o tipo de queimadura mais comum em indivíduos dessa idade
são as queimaduras acidentais por escaldadura. Na faixa etária entre cinco e quatorze
anos encontram-se dez por cento dos pacientes queimados, afligidos principalmente por
20
Introdução
queimaduras por combustíveis ou queimaduras elétricas são as mais representativas
(revisado por HETTIARATCHY e DZIEWULSKI, 2004).
Alguns fatores como idade avançada, grande STC queimada e a presença de
injúria por inalação aumentam o risco de mortalidade em queimados (revisado por
HETTIARATCHY e DZIEWULSKI, 2004). Em trabalho publicado a partir de um
estudo multicêntrico nos Estados Unidos, Ryan et al., 1998, encontraram maiores
taxas de mortalidade em pacientes com idade acima de sessenta anos, com injúria
por inalação e queimaduras em quarenta por cento ou mais da STC. Nesse estudo,
a associação de, dois ou mais desses fatores aumentaram consideravelmente a
morbidade dos pacientes.
Em estudo realizado no Brasil De-Souza et al., 1998, apontaram as
queimaduras ocupacionais ou decorrentes de acidentes domésticos como a principal
causa de internação de pacientes com idade superior a dezoito anos na Unidade de
Queimados da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Nesses pacientes a
mortalidade foi maior nos indivíduos do sexo masculino. Além disso, a letalidade das
injúrias decorrentes de acidentes ocupacionais e domésticos foi menor do que a
letalidade observada em pacientes internados em decorrência de tentativa de
suicídio. Esse trabalho evidencia que a mortalidade em pacientes queimados pode
ser influenciada pelo gênero e intencionalidade da queimadura.
Dentre todos os fatores de risco de morte em pacientes queimados a
porcentagem corporal queimada e a profundidade dos ferimentos são determinantes
cruciais para o prognóstico do paciente. A tabela 01 evidencia a porcentagem de
mortalidade observada de acordo com a porcentagem de superfície corporal
queimada observada em pacientes da unidade de Queimados da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto.
Tabela 01: Associação entre a superfície corporal total queimada e o número de
mortes no Hospital das Clínicas da faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
Superfície
corporal total
queimada (STC)
0.1-20%
Mortalidade
1.4%
20-40%
4.3%
40-60%
18.5%
60-80%
78.9%
80-100%
100%
* Adaptado de De Souza, et al., 1998.
21
Introdução
Jeschke et al., 2007, demonstrou que o aumento da mortalidade de pacientes
pediátricos com grande STC está relacionado principalmente ao aumento da
inflamação e do hipermetabolismo. A resposta hipermetabólica que segue a injúria
térmica é iniciada aproximadamente cinco dias após a injúria podendo persistir por
cerca de vinte e quatro meses após a queimadura. O hipermetabolismo do paciente
queimado é caracterizado pelo aumento do consumo de O 2 e glicose, aumento da
produção de CO2, aumento da temperatura corporal e
exacerbação da
gliconeogênese, bem como pelo aumento da proteólise e da lipólise. Esse fenômeno
acarreta além de perda de massa corporal a diminuição da densidade óssea e um
prejuízo na cicatrização da pele queimada (HERNDON e TOMPKINS, 2004).
O súbito aumento da temperatura na região queimada resulta em uma
imediata resposta local. Essa resposta promove vasodilatação com o intuito de
dissipar o calor proveniente da injúria térmica. Além disso, ocorre um aumento da
secreção de mediadores inflamatórios iniciando uma cascata de reações locais
(revisado por ARTURSON, 1996). A resposta inflamatória local, caracterizada pela
produção exacerbada de mediadores químicos e ativação de leucócitos e células
endoteliais pode contribuir para os efeitos sistêmicos observados após o trauma
térmico (revisado por ARTURSON, 1996).
Em grandes queimados, mediadores inflamatórios liberados podem causar
broncoconstrição acarretando insuficiência respiratória. O desenvolvimento de
hipermetabolismo e imunossupressão afetando tanto a imunidade mediada por
células quanto a imunidade humoral também são comumente observados (revisado
por HETTIARATCHY e DZIEWULSKI, 2004).
Queimaduras que atingem mais trinta por cento da STC, induzem efeitos
sistêmicos consideráveis no organismo. Esses efeitos são desencadeados pela
secreção de citocinas e outros mediadores inflamatórios. Nesses pacientes há um
aumento da permeabilidade capilar que ocasiona a perda intravascular de proteínas
e fluidos para o compartimento intersticial. Paralelamente, a contratilidade do
miocárdio é diminuída provavelmente devido à secreção de TNF-α. Essas alterações
somadas à perda de fluidos pelo ferimento resultam em hipotenção sistêmica e
hipoperfusão em órgãos (HETTIARATCHY e DZIEWULSKI, 2004).
A secreção exacerbada de citocinas como a IL-6, IL-1 e TNF-α está
relacionada aos efeitos negativos sistêmicos em pacientes queimados. Essas
citocinas provavelmente são responsáveis pela manutenção prolongada da ativação
22
Introdução
de macrófagos e esses, por sua vez, produzem mediadores lipídicos, como
prostaglandinas e leucotrienos. Esses mediadores ativam cascatas enzimáticas que
conseqüentemente levam à imunossupressão do paciente queimado (revisado por
SPARKES, 1997).
A injúria grave, especialmente a injúria térmica prejudica os mecanismos de
defesa do organismo. A imunossupressão decorrente da injúria térmica causa um
aumento da suscetibilidade do paciente a infecções. Em conseqüência, as infecções em
pacientes queimados estão associadas a um maior risco de mortalidade. A principal
porta de entrada de patógenos em pacientes queimados é o trato respiratório,
acarretando principalmente pneumonia nesses pacientes. Por outro lado, as infecções
locais nas feridas ocasionadas pela injúria térmica representam uma importante fonte
de sepse sistêmica (revisado por O´SULLIVAN e O´CONNOR, 1997).
Além disso, pacientes queimados com má evolução podem freqüentemente
apresentar o desenvolvimento de SIRS (síndrome da resposta imune sistêmica),
síndrome da angústia respiratória do adulto (SARA) e síndrome da disfunção de
múltiplos órgãos (SDMO) que podem ocasionar progressiva falência de órgãos e
morte (revisado por ARTURSON, 1996).
A introdução do procedimento de reposição de fluidos por Underhill em 1930
representou um ganho para o tratamento de pacientes queimados e esse
procedimento continua sendo atualmente o padrão ouro para esse tipo de injúria. A
administração adequada de fluidos é crítica para a prevenção de choque e outras
complicações decorrentes da injúria térmica (revisado por BENSON et al., 2006).
Além disso, nos últimos 50 anos, a menor incidência de infecções das feridas,
menor ocorrência de sepse sistêmica e menor taxa de mortalidade dos pacientes
queimados têm sido atribuídas aos avanços substanciais no cuidado de queimados,
particularmente ao desbridamento precoce (revisado por CHURCH et al., 2006).
1.2. Lesão da pele em queimados
Por um longo período o tegumento foi considerado um órgão de proteção
passiva.
Porém
atualmente
a
pele
tem
sido
considerada
um
órgão
imunologicamente competente (revisado por ALLGÖWER, 1995).
23
Introdução
A pele constitui a primeira barreira de defesa do corpo humano,
desempenhando importantes funções na proteção contra uma grande variedade de
agressões ambientais e na manutenção da homeostasia através da termo-regulação
e do balanço de fluidos (revisado por BARTHEL e ABERDAM, 2005).
O epitélio cutâneo é composto por três estruturas bem definidas
histologicamente: a epiderme, os folículos pilosos e as glândulas sebáceas (revisado
por FUCHS e RAGHAVAN, 2002). A epiderme compreende a camada mais externa
da pele sendo constituída por um tecido estratificado e escamoso posicionado sobre
uma membrana basal que o separa do tecido subjacente, a derme. As células da
lâmina basal são mitoticamente ativas, o que confere sua grande capacidade
regenerativa (revisado por GHAZIZADEH e TAICHMAN, 2001).
A população celular da epiderme é compreendida principalmente por
queratinócitos e células de Langerhans. Os queratinócitos que correspondem a
aproximadamente
normalmente
95%
em
sua
da
população
superfície
de
células
antígenos
do
epidérmicas,
complexo
expressam
maior
de
histocompatibilidade de classe I (MHC-I), mas em algumas situações patológicas
passam também a expressar antígenos MHC de classe II. Já as células de
Langerhans que compreendem de 3-4% da população das células epidérmicas,
expressam em sua superfície principalmente moléculas do tipo CD1, podendo
expressar também moléculas MHC de classe II (MHC-II). As principais funções das
células de Langerhans são o reconhecimento, captura e apresentação de antígenos
para os linfócitos T CD4+ (revisado por ALGÖWER, et al., 1995). Na derme, as
células presentes em maior número (cerca de 80% na região papilar) são os
dendrócitos.
Esse
tipo
celular
encontra-se
intimamente
associado
à
microvascularização cutânea, agindo tanto como célula apresentadora de antígenos
quanto como célula fagocítica. (ALGÖWER, et al., 1995).
A injúria por queimadura, além de lesar o tegumento permitindo a invasão do
organismo por agentes externos, pode provocar alterações vasculares como
descamação das células endoteliais e trombose microvascular, o que dificulta a
chegada de componentes do sistema imune ao local da lesão. Fatores próinflamatórios como o TNF-α, IL-2 e IL-6 são impedidos pela barreira mecânica de
chegarem à área queimada, o que diminui consideravelmente a resposta
inflamatória e imunológica do organismo (MORAN e MUNSTER, 1987; ONO et al,
1995).
24
Introdução
Três diferentes zonas são detectáveis no ferimento por queimadura, segundo
Jackson, 1947: a zona de coagulação, a zona de estase e a zona de hiperaemia. O
dano máximo causado pela injúria térmica é observado na zona de coagulação,
onde o dano ao tecido é irreversível devido à coagulação das proteínas
constituintes. A região ao redor da zona de coagulação,compreende a zona de
estase, onde há uma diminuição da perfusão. Porém esta representa uma área
predisposta à recuperação através principalmente do procedimento ressuscitação de
fluidos que aumenta a reperfusão local prevenindo danos subseqüentes. A região
mais externa, denominada região de hiperanemia é caracterizada por perfusão
aumentada, nessa região, o tecido é comumente recuperado (revisado por
HETTIARATCHY e DZIEWULSKI, 2004).
O processo de cicatrização de úlceras/úlceras de pele compreende três fases
distintas: a fase inflamatória, a proliferativa e a fase de remodelamento. Todas essas
fases são reguladas pela atuação de diversos fatores de crescimento (revisado por
WITTE e BARBUL, 1997). A interrupção vascular seguida pelo extravasamento de
plasma ocorrido após a injúria funciona como um sinal para que um coágulo de
fibrina temporário seja formado na superfície lesada com o intuito de restabelecer a
homeostasia e promover um substrato temporário para que ocorra a agregação
plaquetária. As plaquetas aderidas ao coágulo secretam fatores de crescimento,
citocinas e componentes da matriz extracelular. Esses mediadores inflamatórios
recrutam macrófagos e neutrófilos os quais, por sua vez, secretam outros fatores
específicos orquestrando o processo de reepitelização (revisado por SANTORO e
GAUDINO, 2005).
A fase inflamatória é essencial para o processo normal de cicatrização de
úlceras. Essa fase é caracterizada pelo aumento da permeabilidade vascular,
liberação de citocinas, óxido nítrico (iNOS) e fatores de crescimento e conseqüente
quimiotaxia das células da circulação para a superfície lesada (revisado por WITTE
e BARBUL, 1997). Durante a fase inflamatória, os macrófagos controlam a
degradação do tecido conectivo extracelular através da secreção de enzimas e de
fagocitose. Além disso, os macrófagos promovem a cicatrização através da
produção de fatores de crescimento, tais como o fator de crescimento derivado de
plaquetas (PDGF), o TGF-, o TNF- e outras interleucinas (revisado por STEED,
1997).
25
Introdução
Fibroblastos e células endoteliais são as primeiras células a iniciarem a fase
proliferativa. Tanto a quimiotaxia quanto a proliferação de fibroblastos no local da
injúria são reguladas por fatores de crescimento, tais como o PDGF, EGF (fator de
crescimento epidermal), FGF (fator de crescimento de fibroblastos) e TGF-. A
matriz de fibronectina fornece o substrato para ancoragem das células. Nessa fase
proliferativa, as células endoteliais iniciam o processo de angiogênese (revisado por
WITTE e BARBUL, 1997). Fibroblastos estimulados por EGF e TGF-β iniciam o
processo de síntese de colágeno, característico da fase de remodelamento da
cicatrização. A deposição de colágeno representa um ponto crítico do processo à
medida que define a qualidade do processo cicatricial (revisado por WITTE e
BARBUL, 1997). Além da atuação dos fatores de crescimento, as integrinas e as
metaloproteinases
são
reguladores
imprescindíveis
para
o
processo
de
remodelamento tecidual (SANTORO e GAUDINO, 2005).
A perda da integridade do tegumento como ocorre em pacientes queimados é
associada à alta morbidade e mortalidade devido à perda de fluidos, proteínas e
eletrólitos e ao aumento da susceptibilidade do indivíduo a infecções e a sepse
(revisado por FALABELLA, 2001). O rápido recobrimento da área de pele perdida ou
danificada representa uma melhora do prognóstico do indivíduo sendo que o padrão
ouro para esse tipo de trauma é o auto-enxerto de pele, porém grandes queimados
dificilmente apresentam disponibilidade de área não queimada para a realização
desses enxertos (BUTLER, 2003).
1.3. Terapia celular e células-tronco mesenquimais
Células-tronco (CT) são células indiferenciadas e não especializadas,
capazes de se multiplicar por um longo período de tempo, mantendo-se
indiferenciadas, de forma que um pequeno número pode originar uma grande
população de células semelhantes, além disso, as CT são capazes de se diferenciar
em células especializadas de um tecido particular (ZAGO e COVAS, 2006).
As células-tronco mesenquimais (CTMs) foram descritas pela primeira vez por
Friedenstein et al., em 1966, que observaram a presença de uma população celular
peculiar em células mononucleares da medula óssea de camundongos, essa
26
Introdução
população era representada por células de formato fibroblastóide e apresentava a
propriedade de formar colônias in vitro, sendo dessa forma denominadas de
unidades formadoras de colônias fibroblástóides.
Atualmente, sabe-se que a medula óssea (MO) contém além das célulastronco hematopoiéticas e das células-tronco endoteliais, uma população rara de
células-tronco, que corresponde a 0,001% a 0,01% de todas as células nucleadas
medulares, constituídas pelas CTMs. Na MO as CTMs são responsáveis por dar
suporte à hematopoese (revisado por ZAGO e COVAS, 2006).
Segundo a Sociedade Internacional para Terapia Celular (ISTC) a
nomenclatura célula-tronco mesenquimal não é a mais adequada para designar
essa população celular, sendo mais apropriada a denominação de células
multipotentes mesenquimais estromais, (HORWITZ, et al., 2005), porém para efeito
didático continuaremos nos referindo a essa população como CTMs.
CTMs são rotineiramente isoladas da MO e de tecidos de origem
mesodérmica, tais como o tecido adiposo, muscular, ósseo e cartilaginoso. As
células estromais multipotentes tem sido isoladas também a partir de outros tecidos,
de origem não mesodérmica (PITTENGER et al., 1999; ERICES et al., 2000; BAKSH
et al., 2004).
Em estudo recente foi demonstrado o isolamento de CTMs a partir de
cérebro, baço, fígado, rins, pulmões, MO, músculo, timo e pâncreas de
camundongos (da SILVA MEIRELLES et al., 2006).
Dessa forma, as CTMs existem virtualmente em todos os órgãos (revisado
por da SILVA MEIRELLES, et al., 2008) podendo ser facilmente isoladas a partir de
diversos tecidos. Para justificar a vasta distribuição desse tipo celular pelo
organismo vários estudos têm sugerido a natureza perivascular das CTMs. Em
trabalho realizado em 2003, Shi e Gronthos demonstraram que populações
ontogenicamente distintas de CTMs, as células estromais da MO e as células tronco
da polpa dentária encontram-se associadas à microvasculatura de seus respectivos
tecidos (SHI e GRONTHOS, 2003).
Em 2008, Covas et al., propuseram a existência de CTMs e células de
pericitos
na
parede
vascular,
não
só
coexistindo
como
compartilhando
características como a diferenciação em outros tipos celulares. Para os autores essa
conformação constitui um compartimento de CTMs que se estende por todo o
organismo responsável não só pela manutenção de tecidos como também pelo
27
Introdução
reparo em situações de injúria (COVAS et al., 2008). Posteriormente, foi
demonstrada a origem perivascular de CTMs provenientes de múltiplos órgão
adultos e fetais.
Paralelamente, Crisan et al., 2008, isolaram células perivasculares a partir de
tendão adulto, músculo esquelético fetal, pâncreas fetal, placenta, coração fetal, pele
fetal, pulmões, cérebro, olhos, intestino, medula óssea, cordão umbilical e
observaram que essas células expressavam nativamente marcadores comuns às
CTMs, indicando que esses tipos celulares estariam intimamente relacionados em
tecidos intactos.
Dessa forma, esses trabalhos sugerem a hipótese de que as CTMs estejam
distribuídas por todo o corpo como pericitos, estabilizando os vasos sanguíneos e
contribuindo para a homeostase de tecidos e do sistema imune sob condições
fisiológicas. Em situações de injúria, quando os mecanismos de reparo tecidual são
acionados, ocorre um aumento da proliferação e atividade dessas células, que
passam secretar fatores bioativos os quais atuam na proteção, reparo e/ou
regeneração do tecido em questão; dessa forma os pericitos atuam como uma fonte
local de CTMs com finalidade terapêutica (revisado por da SILVA MEIRELLES,
2008).
Nos últimos anos, a expansão do conhecimento sobre a biologia das CTMs
abriu
perspectivas
para
multipotencialidade favorece
sua
sua
utilização
terapêutica,
sendo
que
sua
utilização
na
regenerativa
e/ou
medicina
reconstrutiva. Pittenger, et al., 1999, demonstrou que as CTMs são células
multipotentes passíveis de se diferenciarem em células de tecidos mesodérmicos
como osso, cartilagem, gordura, tendão, músculo e estroma da MO.
Trabalhos posteriores demonstraram que as CTMs são capazes de se
diferenciar em tipos celulares como células endoteliais (REYES, et al., 2002),
hepatócitos (SATO, et al., 2005) e células neurais (KANG, et al., 2004) e células da
epiderme (SASAKI, et al., 2008) in vitro. Adicionalmente as CTMs poderiam se
diferenciar in vivo em células tecido-específicas em resposta ao nicho encontrado
em diferentes órgãos (revisado por JIANG, et al., 2002).
Além do potencial de diferenciação o potencial regenerativo das CTMs devese à secreção de um largo espectro de moléculas bioativas como citocinas e fatores
de crescimento que podem estruturar o microdesevolvimento de regiões injuriadas
(revisado por CAPLAN, 2007).
28
Introdução
Além de seu potencial de diferenciação e regenerativo, importantes para o
processo
de
regeneração
imunoreguladora.
As
tecidual,
CTMs
as
CTMs
apresentam
apresentam
propriedade
propriedades
imunoreguladoras/imunomodulatoras in vitro e in vivo, sendo capazes de modular a
função imunológica de várias populações celulares do sistema imune, tais como
células apresentadoras de antígenos, células T, células B e células NK
(RAMUSSON, 2006). Ademais, por não expressarem moléculas co-estimulatórias,
as CTMs apresentam limitada imunogenicidade, sendo fracamente reconhecidas
pelo HLA de hospedeiros incompatíveis (UCELLI e PISTOIA, 2006).
De acordo com critérios estabelecidos pela ISTC, são características mínimas
para a definição de CTMs: a. a propriedade de aderir ao plástico quando mantidas
em garrafas de cultura; b. expressão dos marcadores de superfície celular CD105,
CD73 e CD90 e a expressão menor que 2% ou ausência de expressão dos
marcadores de superfície celular CD45, CD34, CD14, CD11b, CD79α ou CD19 e
HLA classe II e c. a capacidade, se diferenciarem em adipócitos, condrócitos e
osteócitos após a indução específica in vitro (DOMINICI et al., 2006).
Dessa forma, características como o fácil isolamento, multipotencialidade,
potencial regenerativo e imunomodulador favorecem o uso das CTMs para terapia
celular de várias patologias (tabela 02) o que é especialmente interessante para a
medicina regenerativa e a engenharia de tecidos (KOLF et al., 2007).
29
Introdução
Tabela 02: Terapia celular experimental com CTMs
Doença
Modelo
animal
Órgão alvo
Mecanismos ação CTMs
Rota
administração
Co-infusão
CTMs e
CTHs
Ovelha
Hematopoéticos
Aumento da hematopoese
Sistêmica
Infarto
miocárdio
Camundongo
Coração
Desenvolvimento novos miócitos e
estruturas vasculares
Local
Rejeição
enxerto pele
Macaco
Pele
Inibição linfócitos T
Sistêmica
Derrame
Rato
SNC
Liberação de fatores tróficos e
indução de neurogênese
Sistêmica
Falência
renal aguda
Rato
Rins
Inibição citocinas próinflamatórias
e liberação fatores tróficos e
antiapoptóticos
Sistêmica
EAE
Camundongo
SNC
Inibição linfócitos mielinaespecífios e indução tolerância
periférica
Sistêmica
Diabetes
Camundongo
Pâncreas e
glomérulos
renais
Indução céls progenitoras locais e
inibição de infiltrado de
macrófagos
Sistêmica
Artrite
reumatóide
Camundongo
Articulações
Inibição céls T e geração céls
Tregs
Sistêmica
Degeneração
retina
Rato
Olho
Produção de fatores tróficos e
antiapoptóticos
Local
Injúria
pulmonar
aguda
Camundongo
Pulmão
Inibição citocinas próinflamatórias
Sistêmica
Falência
hepática
Rato
Fígado
Inibição da invasão leucocitária via
liberação citocinas
Meio
condicionado
por CTMs
*Adaptado de Uccelli, et al., 2008.
1.4. Terapia com células-tronco mesenquimais na cicatrização de úlceras
A perspectiva de utilização de CTs no tratamento de úlceras de pele é
promissora, uma vez que trabalhos têm mostrado que essas células têm capacidade
de acelerar o processo de cicatrização desse tecido via efeito parácrino e
transdiferenciação
em
tipos
celulares
importantes
para
a
cicatrização.
A
reepitelização mais rápida impede complicações posteriores como subseqüentes
infecções
30
Introdução
O co-cultivo de queratinócitos com três tipos de tecido de origem
mesenquimal: CTMs derivadas da MO, preadipócitos ou fibroblastos dermais em
modelo de reconstrução de pele in vitro foi capaz de regenerar a epiderme (AOKI, et
al., 2004). Nesse estudo, CTMs foram capazes de diminuir a apoptose dos
queratinócitos e de promover a neo-formação organizada dos componentes da
epiderme. Mecanismos autócrinos e parácrinos possivelmente estão envolvidos
nesse processo, sendo que o contato célula a célula é imprescindível para que
ocorresse a regeneração da epiderme nesse modelo (AOKI, et al., 2004).
Em modelo de feridas excisionais cutâneas em ratos a infusão única de CTMs
alogênicas derivadas da MO, vinte e quatro horas após a excisão, ou múltiplas
infusões de CTMs por quatro dias subseqüentes à excisão, não só reduziu o tempo
de cicatrização como também aumentou a elasticidade do tecido associada ao
aumento da deposição de colágeno na área da lesão. Além disso, nesse modelo a
infusão de CTMs alogênicas foi mais eficiente em promover a reepitelização das
feridas do que a infusão de fibroblastos singênicos (McFARLIN et al., 2006).
No trabalho realizado por Goldenberg et al. (2006) foi avaliada a dinâmica da
cicatrização de úlceras provocadas cirurgicamente em camundongos de acordo com
a concentração de CTMs aplicadas na superfície da ferida. Goldenberg et al.,
observaram uma diminuição da quantidade de CTMs na superfície da lesão a partir
do 3º dia, devido à possível diferenciação das mesmas no local e um aumento de
células precursoras estromais nos tecidos hematopoéticos durante o processo de
cicatrização.
Com o intuito de avaliar o potencial terapêutico tópico das CTMs em úlceras
crônicas isquêmicas e não isquêmicas, Volk et al., 2007, demonstraram que as
CTMs foram mais efetivas na promoção da cicatrização das feridas que células
mononucleares da medula óssea. As CTMs não só aceleraram a formação de tecido
de granulação, como também aumentaram a deposição de colágeno auxiliando a
reepitelização
através
de
mecanismos
diretos
como
a
diferenciação
em
miofibroblastos e indiretos ou efeito parácrinos como a produção de fatores, tais
como os fatores de crescimento bFGF, VEGF e PDGF (VOLK, et al. 2007).
Em estudo clínico Falanga et al. (2007) comprovaram que CTMs contribuem
significativamente para a cicatrização de úlceras crônicas de membros inferiores em
pés de pacientes que apresentavam insuficiência venosa crônica e neuropatia
diabética ou úlceras agudas após a remoção cirúrgica de alguns tipos de cânceres
31
Introdução
de pele. Em ambos os casos os pacientes foram tratados com aplicação tópica de
CTMs autólogas e um spray de fibrina foi utilizado como veículo. Os pacientes do
grupo portador de úlceras crônicas apresentavam um histórico prévio de insucesso
dos tratamentos de rotina para cicatrização de úlceras e todos os indivíduos tinham
úlceras persistentes por mais de um ano. Nesse grupo, o decréscimo do tamanho
das úlceras ou a cicatrização completa puderam ser observados em torno de 16-20
semanas. Destacou-se o caso de uma paciente portadora de artrite reumatóide com
úlcera venosa existente há mais de 10 anos, cuja ferida cicatrizou completamente
nesse período.
No caso das úlceras agudas, o tratamento com CTMs autólogas foi iniciado
logo após a cirurgia. Para isso foi realizada uma aspiração da MO dos pacientes,
duas semanas antes do procedimento cirúrgico e essas células foram cultivadas em
meio de cultura seletivo para CTMs. Foram aplicadas 2 x 10 6 cels/cm² entre as 2ª e
4ª passagens. Nesse grupo, as CTMs foram efetivas na cicatrização das lesões
desses pacientes. Os autores demonstraram a formação de novas fibras elásticas,
cerca de oito dias e a cicatrização total das úlceras oito semanas após o início do
tratamento com CTMs (FALANGA et al., 2007).
Úlceras crônicas acometem cerca de 25-50% dos indivíduos diabéticos, o que
representa um custo anual para os sistemas de saúde de todo o mundo em cerca de
8-9 bilhões de dólares (JAVAZON, et al., 2007). Dessa forma, é um problema de
saúde que têm despertado o interesse de vários grupos de pesquisa. A cicatrização
em diabéticos é prejudicada entre outros fatores devido ao aporte sanguíneo local
ineficiente e a capacidade de recrutamento de células inflamatórias reduzida para o
local da lesão cutânea.
Javazon et al. (2007) demonstraram que a aplicação tópica de CTMs da MO
em úlceras de camundongos diabéticos db/db, diferentemente do observado nos
grupos que receberam células da MO e PBS, aumentou a reepitelização, a formação
de tecido de granulação e a neovascularização através de mecanismos indiretos
(efeito parácrino).
Com o objetivo de definir se as CTMs persistem no local da lesão após o
tratamento e se a mesmas teriam capacidade de originar novas estruturas, Falanga
et al. (2007) utilizaram um modelo animal de ferida cirúrgica em camundongos
diabéticos db/db e CTMs que expressavam GFP. Nesse experimento, pôde-se
observar que as CTMs foram capazes de penetrar na ferida por volta do 5º dia,
32
Introdução
porém, poucas células GFP+ foram encontradas na lesão cicatrizada e as mesmas
pareceram não ter se diferenciado em queratinócitos. Vale ressaltar o aparecimento
de estruturas endoteliais, como vasos sanguíneos marcados positivamente por GFP,
evidenciando a possível diferenciação das CTMs nessas estruturas e seu importante
papel para o processo de neo angiogênese (FALANGA et al., 2007).
A injeção de CTMs GFP+ derivadas da MO de camundongos ao redor das
úlceras foi capaz de acelerar o processo de proliferação celular, angiogênese e
reepitelização tanto em camundongos normais, quanto em camundongos diabéticos
db/db, quando comparada à aplicação de fibroblastos dermais alogênicos neonatais
ou de veículo controle (WU et al., 2007). Os pesquisadores demonstraram ainda a
possível diferenciação das CTMs GFP+ em queratinócitos na derme do tecido
cicatrizado. Além disso, em um período mais tardio, foram observadas estruturas
glandulares GFP+. Wu et al. (2007) constataram ainda um aumento significativo da
expressão gênica de fatores de crescimento vasculares e endoteliais e de
angiopoetina-1, evidenciando o potencial pró-angiogênico das CTMs.
Badillo et al. (2007) trataram úlceras de camundongo diabético (db/db) com
CTMs isoladas a partir de fígado fetal e observaram ao 7º dia uma diminuição
significativa do espaçamento entre as bordas da úlcera, além do aumento da
formação de tecido de granulação e da presença de células CD31 + no local. Foi
observado um aumento da expressão dos genes EGF, TGF-β1, VEGF e SDF1-α em
biópsias das úlceras. Badillo et al. (2007) também observaram no grupo de animais
tratado com CTMs um aumento da contractilidade do tecido neo-formado,
característico de um processo de deposição de colágeno eficiente durante o
processo cicatricial.
Kwon et al., 2008, trataram úlceras em ratos diabéticos com CTMs isoladas de
MO. O diabetes foi induzido nos ratos pela aplicação de estreptozotocina e foram
testadas duas vias de aplicação das CTMs, a infusão intravenosa e a aplicação local.
Os autores observaram uma melhor reepitelização nos animais tratados associada ao
aumento da dos níveis de colágeno do tipo I e V no leito da ferida, bem como o
aumento da expressão de fatores solúveis como TGF-β, KGF, EGF, VEGF e PDGF.
Recentemente, foi demonstrado que o efeito parácrino das CTMs derivadas da
MO de camundongos é capaz de aumentar a proliferação de macrófagos, progenitoras
endoteliais e a secreção de diversos fatores de crescimento importantes para o
processo de cicatrização em modelo de ferida excisional em camundongos. A aplicação
33
Introdução
tópica do sobrenadante concentrado das culturas de CTMs nas lesões foi mais eficiente
que a aplicação tópica do sobrenadante das culturas de fibroblastos dermais
aumentando não só o número de macrófagos e células progenitoras endoteliais no local
da lesão, mas também a quantidade de fatores de crescimento tais como VEGF, EGF,
SDF-1 e angiopoetina-1 secretadas (CHEN, et al., 2008).
A maioria dos trabalhos realizados utilizando CTMs na cicatrização de feridas
têm destacado seu potencial parácrino, sendo que poucos trabalhos demonstraram
a transdiferenciação das mesmas em outros tipos celulares capazes de promover a
cicatrização cutânea.
Nesse contexto, Sasaki e et al., 2008, demonstraram que CTMs isoladas da
MO de camundongos GFP+ são capazes de se diferenciar em queratinócitos e
células endoteliais in vitro. Além disso, os pesquisadores infundiram CTMs GFP +
intravenosamente em camundongos submetidos à realização de ferida cirúrgica. Foi
observado através de imunohistoquímica que uma pequena porcentagem de CTMs
GFP+ foi capaz de se diferenciar em queratinócitos in vivo (0,14%), enquanto 13,2%
das células endoteliais no leito da ferida eram GFP+. Uma porcentagem
relativamente maior de células GFP+ (33%) estava localizada na parede de capilares
e foram positivas para o marcador α-SMA e negativas para CD31, sendo
identificadas como pericitos. Os autores descartaram a possibilidade da ocorrência
de fusão entre as células GFP+ e as células da pele pela técnica de hibridização in
situ por fluorescência, onde os mesmos observaram que todas as células GFP+
continham cromossomos XY, enquanto os animais recipientes eram XX. Sasaki, et
al., (2008) demonstraram também que a aplicação intradérmica da quimiocina
SLC/CCL21 aumentou a migração de CTMs para o local da lesão e contribuiu para o
processo de cicatrização via transdiferenciação.
1.5. Terapia com células-tronco mesenquimais em queimaduras
Em um modelo experimental de queimaduras em camundongos, Shumakov et
al. (2003) mostraram que a utilização de CTMs autólogas ou alogênicas e de células
fibroblastóides embrionárias acelerou o processo de regeneração da pele quando
comparados aos controles que não receberam tratamento com células. Os
34
Introdução
resultados mostraram uma diminuição da infiltração de células imunocompetentes
nas úlceras e aceleração do processo de formação de vasos e de tecido de
granulação no local afetado pelas queimaduras profundas.
Em outro estudo, Fu et al. (2006) mostraram que CTMs alogênicas isoladas
de mini-porcos e induzidas em cultura com VEGF ou cultivadas em meio de cultura
epitelial suplementado com EGF, foram capazes de se transdiferenciar em células
com fenótipo epidermal e endotelial. Quando associadas à um selante de fibrina e
implantadas ex vivo em queimaduras no dorso de mini-porcos, as CTMs foram
capazes de acelerar o processo de regeneração originando células especializadas
como células endoteliais, células epidermais e células do ducto sebáceo (FU et al.,
2006).
Rasulov et al. (2006) compararam o potencial terapêutico do transplante de
fibroblastos fetais e de CTMs alogênicas na cicatrização de queimaduras em ratos.
Esse estudo demonstrou que ambas as CTs utilizadas topicamente nas lesões
reduziram a quantidade de infiltrado inflamatório na superfície lesada, bem como
promoveram a formação de novos vasos sanguíneos e de tecido de granulação.
Em humanos, Rasulov et al. (2005) mostraram a possibilidade de tratamento
de queimaduras utilizando CTMs alogênicas. Neste caso, uma paciente com 45
anos apresentando queimaduras de I, II, III A-B em 40% da área corporal foi tratada
com as técnicas habituais em casos de queimaduras graves, incluindo o
procedimento de auto-enxertos de pele que foram rejeitados. Após 20 dias de
internação foi observada a ausência de “pega” dos enxertos e a piora do estado
clínico da paciente, com progressão da insuficiência cardiovascular, hepática e
respiratória. Neste momento foi introduzida a terapia células utilizando CTMs
alogênicas. Três dias após implante de pele com CTMs alogênicas houve um
aumento da angiogênese nas regiões queimadas, e após oito dias, foi observada a
normalização dos valores bioquímicos sanguíneos da paciente, aceleração do
processo de reepitelização e conseqüente recobrimento da ferida. Aparentemente
não
houve
rejeição
dos
enxertos
quando
estes
foram
implantados
concomitantemente às CTMs alogênicas, o que possibilita a utilização deste tipo
celular associada a implantes de enxertos no período inicial do tratamento
(RASULOV et al., 2005).
Em um estudo recente, Liu et al., 2008, demonstraram que a utilização de
CTMs alogênicas isoladas de MO e adicionadas à matriz de colágeno foi eficiente
35
Introdução
para promover a reepitelização de queimaduras dérmicas superficiais em mini
porcos. Quatro semanas após a queimadura, foi observada uma maior densidade de
vasos sanguíneos nos animais que receberam a matriz colágena contendo as
CTMs. Nesse período também foi observado no grupo tratado uma maior
queratinização e a migração das CTMs da matriz colágena para tecidos subjacentes
compreendidos pela neo-epiderme e neo-derme (LIU, et al., 2008).
36
Objetivos
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral
Estabelecer modelo de queimadura grave em ratos Wistar e avaliar o
potencial terapêutico das células-tronco mesenquimais nesse modelo experimental.
2.2. Objetivos específicos
 Estabelecer e caracterizar um modelo de queimadura experimental grave e
extensa em ratos Wistar;
 Avaliar a freqüência das subpopulações de células T CD4 + e CD8+ no baço
dos animais, em vários períodos após a queimadura experimental;
 Avaliar a freqüência das subpopulações de células T CD4+ e CD8+ na região
da ferida ocasionada pela queimadura nos animais, em vários períodos após
a queimadura experimental;
 Avaliar a quantidade de neutrófilos presentes na região da ferida ocasionada
pela queimadura nos animais em vários períodos após a queimadura
experimental;
 Avaliar os achados histopatológicos encontrados na pele dos animais em
vários períodos após a queimadura experimental;
 Determinar os microorganismos colonizadores da região da ferida ocasionada
pela queimadura nos animais, em vários períodos após a queimadura
experimental;
 Estabelecer uma cinética dos acontecimentos observados durante a evolução
das queimaduras graves e extensas por período total de sessenta dias,
relacionando a freqüência de linfócitos T CD4+ e células CD8+ no baço e na
região da ferida, a quantidade de neutrófilos presentes na região da ferida e
os achados histopatológicos e microbiológicos das feridas.
37
Material e Métodos
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Considerações gerais
Para a realização deste estudo foram utilizadas como fonte de células-tronco
mesenquimais (CTMs) medulas ósseas de camundongos da linhagem FVBGFP+
machos. As matrizes dos camundongos FVBGFP+ foram adquiridas do laboratório
de criação The Jackson Laboratory (http://jaxmice.jax.org) e foram mantidas pelo
biotério de criação da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo.
Para a realização do experimento de injúria térmica foram utilizados ratos
Wistar machos fornecidos pelo Biotério Central da Universidade de São Paulo do
Campus de Ribeirão Preto. Esses animais foram aclimatados por um período
aproximado de uma semana antes da realização dos experimentos. A aclimatação
foi feita no Biotério de Experimentação da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, após o procedimento de injúria
térmica experimental, os ratos Wistar foram mantidos no Biotério de Experimentação
da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo até o final dos experimentos.
Os animais dos quais foram retirados materiais biológicos (sangue, baço e
pele) durante o experimento foram sacrificados por decapitação, enquanto os
animais que foram avaliados no período máximo estipulado no experimento,
equivalente há sessenta dias após o início do experimento, foram sacrificados em
câmara de CO2.
Os procedimentos experimentais utilizando animais estão de acordo com as
normas do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA), e o presente
trabalho foi aprovado pela Comissão de Ética em Experimentação Animal (CETEA)
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
(Processo número: 115/2007).
38
Material e Métodos
3.2. Isolamento das células-tronco mesenquimais (CTMs) de medula óssea de
camundongos FVB GFP+
3.2.1. Extração da medula óssea dos camundongos FVB GFP+
Camundongos FVB GFP+ foram sacrificados e submetidos à remoção
cirúrgica dos fêmures e tíbias, dos quais foi extraída a medula óssea (MO). Os ossos
foram mantidos em placa de Petri contendo PBS.
Em seguida, as epífises (extremidades) dos fêmures e das tíbias foram
retiradas com o auxílio de uma tesoura. Em uma das extremidades do orifício do
osso foi acoplada uma agulha de 0.3cc fixa à seringa de 1mL contendo PBS. Em
seguida, a extração da MO foi realizada através do procedimento de lavagem do
osso (conhecido por “flushing”) com PBS. Durante o “flushing” os ossos foram
posicionados sobre o tubo coletor em posição vertical, com o auxílio de uma pinça.
O procedimento foi repetido até que a ausência dos componentes da medula óssea
no interior do fêmur fosse visualmente perceptível.
Após a coleta, as células mononucleares da medula óssea foram
centrifugadas por 10 minutos à 1200rpm. O sobrenadante foi descartado e o pellet
ressuspenso em 1mL de meio de cultura RPMI (Gibco, USA) 10%SFB
para a
contagem das células obtidas. Cada animal forneceu cerca de 7 x 10 7 células totais
da medula óssea.
Todos esses procedimentos foram realizados em capela de fluxo laminar em
condições estéreis, utilizando material cirúrgico esterilizado e seringas e tubos
descartáveis.
Cerca de 7 x 107 células mononucleares da MO foram plaqueadas em meio
de cultura -MEM (Gibco, USA) com baixa concentração de glicose contendo 15%
de soro fetal bovino (SFB), em garrafas de cultura (75cm2) para isolamento das
CTMs pela propriedade de aderência ao plástico.
39
Material e Métodos
3.2.2. Cultura das células-tronco mesenquimais
Garrafas de cultura de 75cm2 contendo as células mononucleares da MO dos
camundongos FVB GFP+ foram mantidas em 20mL de meio de cultura -MEM
contendo baixa concentração de glicose (Gibco, USA) acrescido de 15% SFB, em
estufa contendo 5% de CO2, à temperatura de 37˚C em atmosfera umidificada. Após
setenta e duas horas as células não aderentes foram retiradas através da troca de
todo o meio de cultura, em seguida 20mL de meio de cultura -MEM 15%SFB foram
adicionados à garrafa de cultura e a mesma foi mantida por mais setenta e duas
horas nas condições especificadas anteriormente. Nesse momento foi realizada a
primeira troca de metade do meio de cultura (10mL) e esse procedimento foi
realizado a cada setenta e duas horas até que a cultura primária de CTMs atingisse
cerca de 80% de confluência.
Ao atingir em torno de 80% de confluência, a cultura primária passou pelo
procedimento de tripsinização para que as células aderentes fossem desprendidas e
o primeiro repique fosse feito. A tripsinização foi realizada toda vez que a
confluência de 80% foi atingida, de modo que a cada passagem a população de
CTMs foi tornando-se mais homogênea e pura. As culturas de CTMs foram mantidas
até a terceira ou quarta passagens e em seguida usadas nos experimentos.
3.2.3. Tripsinização das células-tronco mesenquimais
Ao atingirem cerca de 80% de confluência as culturas de CTMs foram
tripsinizadas. A tripsinização foi feita após a retirada de todo o meio de cultura da
garrafa e da lavagem cuidadosa das células aderidas com 10mL de PBS por três
vezes.
Após a retirada do PBS, 5mL de solução de
tripsina/EDTA
(0,05%
Tripsina/0,53 mM EDTA, Gibco, USA) foram adicionadas à garrafa de cultura. Após
cinco minutos a solução de tripsina foi inativada através da adição de 10mL de RPMI
10%SFB. A suspensão celular foi centrifugada por 10min à 1200rpm, o
sobrenadante foi descartado e o pellet foi ressuspenso em PBS e centrifugado
40
Material e Métodos
novamente por 10min à 1200rpm. Esse procedimento de lavagem das células em
PBS foi repetido por mais uma vez.
Imediatamente após a segunda lavagem das células em PBS as mesmas
foram ressuspensas em meio de cultura α-MEM 15%SFB e contadas. Após a
contagem das células, alíquotas das mesmas foram destinadas ao requipe para
expansão , e/ou à imunofenotipagem por citometria de fluxo, e/ou diferenciação in
vitro e/ou procedimento experimental de terapia celular em modelo de queimadura
experimental.
3.3. Imunofenotipagem de MSCs murinas
Alíquotas de 100 l de contendo 1x106 células/mL foram incubadas por 20
minutos a TA no escuro com 5l de anticorpos monoclonais ou isotipos controles
diretamente conjugados ao fluorocromo ficoeritrina (PE). Foram feitas marcações
simples para a análise dos diversos marcadores. Após a incubação, as células foram
centrifugadas por cinco minutos a 1800rpm, lavadas duas vezes com PBS,
ressuspensas em 200L de PBS e analisadas imediatamente no citômetro de fluxo
FACSort (Becton-Dickson). Foram adquiridos 20000 eventos/amostra com base nos
parâmetros de tamanho (FSC) por granularidade (SSC). As análises foram
realizadas utilizando-se o software Cellquest (BD). Para a caracterização
imunofenotípica das MSCs murinas foram utilizados os anticorpos monoclonais
contra os marcadores CD45, CD34, CD105, CD31 e CD73 (eBioscience, EUA).
3.4. Ensaio de diferenciação in vitro das células CTMs murinas
Para avaliar a multipotencialidade das CTMs murinas, uma alíquota das
células expandidas foi reservada no momento do processamento para utilização na
terapia célular (3ª passagem). As CTMs foram plaqueadas em placas de 24 poços
contendo lamínulas previamente esterilizadas na concentração de 1,0 x 10 4
41
Material e Métodos
células/poço. A avaliação do potencial de diferenciação das CTMs em adipócitos e
osteócitos in vitro foi realizada.
Nos poços destinados a diferenciação em adipócitos foi adicionado o meio
indutor de adipogênese (meio α-MEM suplementado com 15% de soro fetal bovido,
1 µM de dexametasona, 10 µg/mL de insulina e 100 µM de indometacina) e nos
poços para osteócitos o meio indutor de osteogênese (meio α-MEM suplementado
com 7,5% de soro fetal bovino, 0,1 µM de dexametasona, 200µM de ácido ascórbico
e 10 mM de β-glicerolfosfato). O acompanhamento das mudanças morfológicas ao
longo do cultivo foi feito por meio de um microscópio invertido com contraste de fase
(Zeiss, modelo Axioskop. 2.0., Alemanha). Após quinze dias do início do processo
de indução de diferenciação das CTMs, as lamínulas foram retiradas, lavadas três
vezes em PBS. As células diferenciadas em adipócitos e os seus controles foram
fixados em paraformaldeído (Electron Microscopy Science, EUA) a 4% por 15
minutos a TA, em seguida lavadas em água destilada e incubadas em álcool 70%
por 2 a 3 minutos. Posteriormente, as células foram coradas com a solução de
sudan II-escarlate por 2 a 5 minutos, lavadas em álcool 70% em água corrente e
contra-coradas com hematoxilina de Harris por 2 minutos. O material foi montado em
glicerina.
As células diferenciadas em osteócitos e os seus controles foram fixados em
paraformaldeído a 4% por 15 minutos a TA, lavadas em água destilada e coradas
com solução de nitrato de prata a 5% no escuro por 30 minutos. Em seguida, foram
lavadas em água destilada, expostas a lâmpada de 100W por 60 minutos (coloração
Von Kossa) e então lavadas rapidamente com tiossulfato de sódio a 5%.
Posteriormente, as células foram contra-coradas com hematoxilina de Harris,
submetidas ao processo de diafinização e montadas em Permout SP 15.
3.5. Procedimento experimental
Ratos Wistar pesando em torno de 250g foram fornecidos pelo Biotério
Central da Universidade de São Paulo Campus Ribeirão Preto e aclimatados no
Biotério de Experimentação da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da mesma
Universidade antes da realização do experimento. Os animais foram mantidos em
42
Material e Métodos
temperatura e ciclos claro/escuro controlados e com água e alimentação ad libtum,
durante todo o período do experimento. Os animais foram divididos aleatoriamente
em grupos e subgrupos mostrados na Tabela 03.
Todos os animais utilizados no experimento foram anestesiados, por via
intraperitoneal, com 400μL de solução na concentração de 1:1 de quetamina 10%
(Agener União, Brasil) e xilazina 20mg/mL (Dopaser-Calier, Espanha). Após
anestesia, os animais foram tricotomizados. A tricotomia foi realizada em duas
etapas, em um primeiro momento os pêlos dos animais foram removidos com o
auxílio de máquina elétrica (PHILIPS, Brasil), em um segundo momento, o mesmo
animal teve a região dorsal recoberta por creme depilatório (Depilart, Brasil) por 5
minutos, esse creme foi removido com auxílio de gaze úmida. A pele recém
tricotomizada foi seca com auxílio de papel toalha e em seguida foi realizada a
queimadura experimentalutilizando um aparelho com controle digital de temperatura
confeccionado pela Oficina de Precisão da Universidade de São Paulo. O aparelho
consiste basicamente em um resistor que aquece uma placa de metal de tamanho
aproximado de 2cm x 3cm. Com a chapa de metal a uma temperatura de 200˚C
foram realizadas quatro queimaduras de duração de 25 segundos cada uma. As
queimaduras foram realizadas na região dorsal do animal formando um retângulo de
tamanho correspondente a quatro vezes o tamanho da chapa de metal como
evidenciado na Figura 04 A e B.
Figura 03: Esquema de quadrantes utilizado para realização da queimadura. A.
Aparência final da queimadura. B. Estabelecimento dos quadrantes e dos pontos da
aplicação intradérmica de PBS ou CTMs.
43
Material e Métodos
Aproximadamente 30 minutos após a realização da queimadura experimental
os animais ainda encontravam-se anestesiados quando foram submetidos à
aplicação intradérmica (ID) de PBS ou de CTMs, em volume total de 2000μL
aplicado em 10 doses de 200μL em pontos pré-estabelecidos (Figura 04 B).
Tabela 03: Distribuição dos animais utilizados nos experimentos.
Grupo
GR60d
GR45d
GR30d
GR15d
GR7d
n
Procedimento
Subgrupos
n
Aplicação ID de PBS
PBS-ID
7
Aplicação ID de CTMs
CTM-ID
7
Aplicação ID de PBS
PBS-ID
5
Aplicação ID de CTMs
CTM-ID
5
Aplicação ID de PBS
PBS-ID
5
Aplicação ID de CTMs
CTM-ID
5
Aplicação ID de PBS
PBS-ID
5
Aplicação ID de CTMs
CTM-ID
5
Aplicação ID de PBS
PBS-ID
5
Aplicação ID de CTMs
CTM-ID
5
14
10
10
10
10
Os animais foram mantidos em gaiolas individuais com água e alimentação ad
libtum e sem a utilização de antibióticos durante o período de realização do
experimento.
44
Material e Métodos
3.6. Monitoramento fotográfico das lesões obtidas a partir da injúria térmica
A avaliação clínico-fotográfica das lesões foi realizada pela porcentagem de
cicatrização das ulcerações, observado a partir da captura e análise de imagens
pelo programa Image J®.
O Image J® – Image Processing and Analysis in Java (Bethesda, Maryland, EUA)
é um programa de análise de imagem de domínio público desenvolvido por Wayne
Rasband do National Institutes of Health (NIH), é um sucessor do NIH Image possuindo
a vantagem de ter aplicação multidisciplinar, na pesquisa e na prática clínica.
A captura de imagens foi realizada imediatamente após a queimadura
experimental (0d) e nos períodos de 7, 15, 30, 45 e 60 dias após o início do
experimento. No momento da captura das imagens os animais foram anestesiados
por via intraperitoneal com 200μL de solução na concentração de 1:1 de quetamina
10% (Agener União, Brasil) e xilazina 20mg/mL (Dopaser-Calier, Espanha).
Utilizando o programa Image J®, a mensuração dimensional de imagens
constitui um método de análise não-invasivo importante para o acompanhamento do
dinamismo da cicatrização de úlceras cutâneas. Foi acompanhado fotograficamente
um grupo composto por 14 ratos Wistar (n=14), sendo que sete animais foram
submetidos à aplicação intradérmica de PBS (PBS-ID) e sete ratos foram
submetidos ao tratamento intradérmico (ID) com CTMs (CTM-ID).
No momento da captura da imagem uma régua foi colocada ao lado de cada
animal fotografado o que permitiu a calibração do programa e posterior análise
computacional. As imagens foram capturadas por uma câmera fotográfica digital Fuji
Film Finepix S2000HD com resolução de 10.0 megapixels, nos períodos acima
citados e analisadas pelo software Image J® (versão 1.40g para WindowsTM),
disponível gratuitamente na internet.
3.6.1. Cálculo da porcentagem de cicatrização
A porcentagem de cicatrização foi avaliada através dos dados fornecidos pelo
programa Image J®. A medida da área da lesão em pixels fornecida, pelo programa
45
Material e Métodos
Image J®, foi aplicada à uma fórmula para cálculo da porcentagem de cicatrização. A
fórmula em questão considera a área inicial da lesão bem como a área final e está
demonstrada abaixo:
Porcentagem de cicatrização = 100 - Área final da úlcera (pixels)
x 100
Área inicial da úlcera (pixels)
3.7. Coleta, processamento e análise de materiais biológicos
3.7.1. Obtenção de plasma dos animais
Nos períodos que equivalentes aos 7º, 15º, 30º e 45º dias após o
procedimento experimental, cerca de 10 animais submetidos ao tratamento com
CTMs ID ou não, foram sacrificados por decaptação. O sangue desses animais foi
colhido em tubos contendo solução anticoagulante. O sangue foi centrifugado por
15min a 1800rpm e o plasma contido no sobrenadante foi coletado e armazenado à 80˚C para possíveis análises posteriores.
3.7.2. Coleta do baço
Após o sacrifício dos animais os baços dos mesmos foram removidos
cirurgicamente, pesados e mantidos em placas de Petri estéreis contendo 2-3mL de
meio de cultura RPMI incompleto (sem adição de soro fetal bovino) a 4°C. Um
pequeno fragmento foi separado e pesado para ser submetido à análise das
subpopulações de linfócitos por citometria de fluxo, o restante do órgão foi
imediatamente congelado à -80˚C para possíveis análises futuras.
46
Material e Métodos
3.7.3. Obtenção de esplenócitos dos animais
O fragmento extraído do baço total foi divulsionado até obtenção de uma
suspensão celular turva. Essa suspensão foi centrifugada a 400g durante 10 min, a
4o C, o sobrenadante foi descartado e o pellet foi ressuspenso em 4 ml de tampão de
lise de hemáceas (Tris 0,17M e NH4Cl 0,16M) por 4 minutos. Para inativação do
tampão de lise foram acrescentados 5 mL de RPMI completo (10% SFB). As células
foram centrifugadas a 400g durante 10 min a 4 o C e posteriormente a concentração
celular foi ajustada para o experimento de imunofetipagem das células por citometria
de fluxo.
3.7.4 Imunofenotipagem das subpopulações linfocitárias
Alíquotas de 100 l de solução de esplenócitos, contendo 2 x 10 6 células/mL,
foram incubadas por 20 minutos a TA, no escuro, com 2l de anticorpos
monoclonais diretamente conjugados ao fluorocromo isotiocianato de fluoresceína
(FITC) ou ficoeritrina (PE) ( eBioscience, EUA). Foram feitas marcações duplas para
a análise das subpopulações linfocitárias. Todas as incubações foram realizadas no
escuro para evitar perda de fluorescência. As células foram centrifugadas por 5
minutos a 500g, lavadas duas vezes com PBS, ressuspensas em 200 l de PBS e
analisadas imediatamente no citômetro de fluxo FACSort (BD).
As seguintes subpopulações linfocitárias foram analisadas: CD3+ (linfócitos T
totais), CD3+CD4+ (linfócitos T helper ou auxiliares) e CD8+ (linfócitos T citotóxicos e
NK).
Durante a aquisição das células, foi desenhada uma gate na população de
linfócitos (R1), estabelecida com base nos parâmetro de tamanho (FSC) por
parâmetros de granularidade (SSC). Foram adquiridos 10000 eventos/amostra. As
análises foram realizadas utilizando-se o software Cellquest (BD). Os eventos da
gate de linfócitos (R1) foram analisados para marcação com os diferentes anticorpos
por dot plots de fluorescência 1 (FL1, FITC), por fluorescência 2 (FL2, PE).
47
Material e Métodos
3.7.5 Coleta de pele
Após o sacrifício, nos períodos que equivalentes ao 7º, 15º, 30º e 45º dia após
o procedimento experimental, foram extraídas cirurgicamente amostras de pele de
aproximadamente
1cm2,
contendo
a
região
da
borda
da
lesão
cutânea
compreendida por um pequeno fragmento de pele saudável e pela área da lesão
propriamente dita. As amostras foram armazenadas em formaldeído 10% ou
congeladas em Tissue Tek para realização de análises histológicas (HE) e por
imunohistoquímica (IH), respectivamente.
Outras amostras de pele foram pesadas e acondicionadas em tubos contendo
200 μL de tampão contendo NaCl 0,1M, NaPO4 0,02M, NaEDTA 0,015 M gelado.
Os fragmentos de pele foram homogeneizados em POLITRON PT 3100 a
13000rpm. O homogeinato foi congelado à -80˚C para a realização do ensaio de
produção de mieloperoxidase (MPO), o qual quantifica a atividade de neutrófilos no
local da lesão.
Um terceiro grupo de amostras de pele, coletadas nos respectivos períodos,
foi destinado à quantificação da porcentagem de células T CD4 + e T CD8+ por
citometria de fluxo. Essas amostras foram pesadas, dilaceradas em placa de Petri e
mantidas em 1mL de meio de cultura RPMI incompleto onde foram tratadas com
10% Liberase Blendzyme 2 (Roche) por 1 hora. Após esse período foi realizada a
inativação da liberase através da adição do mesmo volume de meio RPMI contendo
10% SFB. Essa solução foi passada por uma peneira de nylon para a retirada dos
fragmentos de pele e centrifugada por 10min a 400g. O pellet contendo células foi
ressuspenso em PBS para ser feita a análise das subpopulações de linfócitos da
região da lesão por citometria de fluxo.
3.7.6 Realização da atividade de dosagem de mieloperoxidase (MPO)
Para a realização da dosagem de mieloperoxidase (MPO), enzima produzida
através da atividade de neutrófilos (explicar, fragmentos de pele foram colhidos e
acondicionadas em tubos eppendorfs com 200 μL de tampão 1 (NaCl 0,1M, NaPO4
48
Material e Métodos
0,02M, NaEDTA 0,015 M; pH 4,7) gelado, a -70ºC até a dosagem. Os fragmentos
foram homogeneizados em POLITRON PT 3100 a 13000rpm. Em seguida, o
homogeinato foi centrifugado em 3000rpm por 15 minutos a 4°C. Foi realizado então
um choque hipotônico no pellet de células com 600 μL de NaCl 0,2%, seguido de
600μL de uma solução de NaCl 1,6% e glicose 5%. Depois de uma nova
centrifugação a 3000rpm por 15 minutos a 4°C, o pellet celular foi ressuspenso em
tampão 2 (NaPO4 contendo 0,5% de brometo de hexadeciltrimetilamônio; pH 5,4) e
novamente homogeneizado. A seguir, o homogeinato foi submetido a um
procedimento de choque térmico que consiste no congelamento em nitrogênio
líquido e descongelamento, por três vezes, para lise dos neutrófilos e liberação do
conteúdo (MPO) de seus grânulos. Em seguida, o homogeinato foi centrifugado à
20000rpm por 15 minutos a 4°C. Após centrifugação, 5μL do sobrenadante das
amostras foram colocadas em placa de 96 poços para o ensaio. Em cada poço
foram adicionados 25μL de TMB (“3, 3´, 3, 3´ - tetramethylbenzidine” – 1,6 mM final
na placa) e a placa foi incubada por 5 minutos a 37º C. Logo após, 100μL de H2O2
(concentração final de 0,5 M l) foram adicionados aos poços e a placa foi incubada
por mais 5 minutos a 37º C. A seguir, a reação foi interrompida com ácido sulfúrico 4
M. A quantificação dos neutrófilos foi feita a partir de uma curva padrão de
neutrófilos obtidos da cavidade peritoneal, 6 horas após os camundongos serem
injetados com carragenina. Os neutrófilos foram diluídos seriadamente em tampão
NaPO4 0,08M (1 x 105 neutrófilos/poço em 50μL de tampão). Foi determinada a
absorbância em leitor de ELISA (SPECTRA MAX 250; Molecular Devices) em
comprimento de onda de 450nm. Os resultados foram expressos em número de
neutrófilos x 106/mg de tecido.
3.7.7 Análises histológicas
Amostras de pele da região da queimadura foram colhidas dos animais de
todos os grupos. As amostras foram retiradas da interface queimadura e pele
saudável e mantida em formaldeído 10% por no mínimo quarenta e oito horas antes
de serem processadas para a histologia.
49
Material e Métodos
Após serem retirados do formaldeído, os tecidos foram incluídos em parafina
líquida e cortados em micrótomo com espessura 5μm. Em seguida foram montadas
lâminas contendo os cortes histológicos de pele que foram corados por hematoxilina
e eosina (HE). As lâminas foram observadas sob microscópio ótico para a análise
morfológica das estruturas da pele.
As análises histológicas foram realizadas no laboratório de Patologia da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, sob a
responsabilidade da médica patologista Prof. Dra. Leandra Naira Zambeli Ramalho.
Foram determinadas duas regiões a serem analisadas nos cortes histológicos
da pele: a região da borda e a região da úlcera propriamente dita. Foram observadas
em ambas as regiões as características do epitélio, presença de inflamação,
presença de colágeno, presença de tecido de granulação e de vasos sanguíneos.
Para a análise dessas características foi estabelecido um esquema de
pontuação variando de 0 a 3,
onde: 0, corresponde a achado histopatológico
ausente; 1, achado histopatológico pontual; 2, achado histopatológico moderado; e
3: achado histopatológico considerável.
3.7.8. Teste microbiológico
Após o procedimento de queimadura, fez-se a coleta de material
microbiológico passando uma haste de algodão estéril sobre uma área de
aproximadamente 1cm2 da ferida. Este procedimento foi repetido duas vezes mais,
tomando-se o cuidado de girar a haste de algodão em sentido horário para que toda
sua superfície entrasse em contato com a ferida.
Como recomendado pela ANVISA, a coleta foi feita em regiões significativas
(LEVY, 2004), onde era mais provável o aparecimento de infecções.
Terminada a coleta, as hastes de algodão foram introduzidos em tubos
contendo 1mL de soro fisiológico estéril em capela de fluxo laminar (LEVY, 2004).
Em seguida, as amostras foram encaminhadas imediatamente para o laboratório de
análises clínicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo (LAC-FCFRP), sob responsabilidade da microbiologista
Maria Emília Nadaletto Bonifácio da Silva, para análise microbiológica.
50
Material e Métodos
No LAC-FCFRP, o material foi semeado em ágar CLED (Cystine Lactose
Electrolyte Deficient Agar) e o crescimento dos microorganismos foi avaliado após
48 horas de incubação.
3.7.9. Análise de dados
Para determinação da curva de sobrevida dos animais submetidos às
queimaduras foi utilizada uma análise exploratória dos dados, composta de
estatísticas descritivas, seguida de estimativas, gráficos de Kaplan-Meier e para os
resultados foi utilizado o teste não paramétrico com modificação Peto & Peto
(Gehan- Wilcoxon) para se ter uma idéia do comportamento das variáveis em
estudo.
As outras análises estatísticas realizadas no trabalho basearam-se na
comparação de uma variável entre dois grupos experimentais, dessa forma foi
utilizado somente o Teste t não paramétrico para determinar as diferenças
existentes entre os grupos experimentais. As diferenças foram consideradas
estatisticamente significantes quando p valor foi menor que 5% (p <0,05). Esses
testes foram realizados com auxílio do programa estatístico PRISMA 5.0.
51
Resultados
4. RESULTADOS
4.1. Obtenção das células-tronco mesenquimais a partir da medula óssea de
camundongos FVB GFP+
As células-tronco mesenquimais (CTMs) isoladas a partir da medula óssea
(MO) de camundongos machos FVB GFP+ foram mantidas em cultura em meio αMEM até atingirem a 3ª-4ª passagem. Nessas passagens as CTMs foram
imunofenotipadas, submetidas à análise de multipotencialidade e utilizadas na
terapia celular das feridas de pele por queimadura. A Figura 04 mostra uma
caracterização imunofenotípica representativa, por citometria de fluxo, da população
de CTMs cultivadas e utilizadas nos experimentos.
Figura 04: Histogramas representativos da população de CTMs de camundongos FVB
GFP+. Histogramas obtidos por citometria de fluxo, representativos da população de CTMs
de camundongos FVB GFP+ em quarta passagem.
52
Resultados
4.2. Análise da multipotencialidade das células-tronco mesenquimais
Para testar a multipotencialidade das CTMs utilizadas no experimento, as
mesmas foram induzidas à diferenciação in vitro em adipócitos e osteócitos por 15
dias, conforme descrito em Material e Métodos.
A
Figura
05
mostra
uma
fotomicrografia
representativa
de
CTMs
diferenciadas em adipócitos e osteócitos.
Figura 05: Avaliação da multipotencialidade das CTMs isoladas de medula óssea de
camundongos FVB GFP+ A. Fotomicrografia em contraste de fase de CTMs na segunda
passagem (40X). B. CTMs submetidas à diferenciação adipogênica; A adipogênese
demonstrada pela formação de vacúolos lipídicos corados com Sudan II-escarlate (aumento
40X). C. CTMs submetidas à diferenciação osteocítica; osteogênese demonstrada pela
deposição de matrix mineralizada revelada pela coloração de von Kossa (aumento 40X).
4.3. Procedimento de injúria térmica experimental
Ratos Wistar submetidos à queimadura experimental foram previamente
aclimatados no biotério de experimentação da Faculdade de Ciências Farmacêuticas
de Ribeirão Preto. Após o período de aclimatação esses animais foram pesados,
depilados e submetidos à queimadura experimental com auxílio de chapa de metal
com controle de temperatura a 200˚C.
A realização das queimaduras foi padronizada utilizando-se a placa de metal
aquecida à 200˚C em contato com o dorso do animal depilado por um período de 25
segundos. A pressão aplicada pela placa ao dorso dos animais foi mínima
53
Resultados
correspondendo apenas ao peso da própria placa.
A queimadura realizada nos
animais ocupou uma extensa superfície do dorso dos mesmos, com área de
aproximadamente 24cm2, sendo que essa área corresponde a aplicação da chapa
de metal por quatro vezes, em quatro quadrantes não sobrepostos.
Posteriormente à injúria térmica, os animais foram subdivididos em cinco
grupos experimentais de acordo com o período em que foram sacrificados: 7, 15, 30,
45 ou 60 dias pós-injúria. Além disso, os animais foram subdivididos em dois
subgrupos, de acordo com o tratamento a que foram submetidos: o subgrupo
controle (PBS-ID) que recebeu aplicação intradérmica (ID) de PBS e o subgrupo
tratado (CTM-ID) que recebeu aplicação intradérmica de 5 x 10 6 CTMs. Os animais
foram mantidos em gaiolas individuais.
4.4. Curva de sobrevida dos animas
Para a avaliação da sobrevida dos animais após o procedimento experimental
de injúria térmica, foram analisados um total de cinqüenta e seis animais (n=56),
sendo que trinta animais pertenciam ao subgrupo PBS-ID (n=30) e vinte e seis
animais pertenciam ao subgrupo CTM-ID (n=26). A sobrevida dos animais foi
observada diariamente em ambos os subgrupos e a Figura 06 representa as curvas
de sobrevida dos animais pertencentes ao grupo PBS-ID e ao grupo CTMs-ID nos
primeiros nove dias após início do experimento.
54
Resultados
Figura 06: Análise da sobrevida dos animais submetidos ao procedimento de injúria
térmica experimental. Curvas de sobrevida de ratos Wistar submetidos à queimadura
experimental e tratados com PBS (grupo controle PBS-ID; N=30; linha cinza) ou com CTMs
(grupo tratado ou CTM-ID; N=26; linha preta).
No dia 0, referente ao dia em que foi realizado o experimento nenhum animal
morreu. O subgrupo CTM-ID não apresentou óbitos até o dia 3 após início do
experimento, já o subgrupo PBS-ID apresentou o seu primeiro óbito vinte e quatro
horas após o início do experimento.
O período mais crítico durante a realização do experimento para os animais do
subgrupo PBS-ID ocorreu entre os dias 2 e 3 pós-injúria, nos quais morreram 19,57% dos
animais. No dia subseqüente morreram mais 13,04% dos animais submetidos ao
experimento, totalizando 32,61% de óbitos no grupo controle até o quarto dia pós-injúria.
Já para o subgrupo CTM-ID o período mais crítico observado ocorreu entre os dias
3 e 4, nos quais 11,91% dos animais tratados foram a óbito. Entretanto, entre os dias 4 e 5
houve uma taxa de mortalidade baixa nesse grupo (4,76%), ao contrário do observado no
subgrupo PBS-ID que apresentou uma alta taxa de mortalidade nesse período
A partir dos períodos críticos poucos animais morreram, sendo que a partir do
dia 7 da curva de sobrevida não foram observados mais óbitos significativos em
ambos os subgrupos. Dessa forma, ao final de sete dias o subgrupo PBS-ID
apresentou uma taxa de sobrevida de 60,86%, enquanto o subgrupo CTM-ID
apresentou uma taxa de sobrevida de 76,19%. Essa diferença da taxa de
sobrevivência dos animais não foi estatisticamente significativa (p=0,07).
55
Resultados
4.5. Acompanhamento da massa corporal dos animais
Os animais pertencentes aos subgrupos PBS-ID e CTM-ID foram avaliados
no período referente ao início do experimento (0d) e nos períodos subseqüentes:
sete dias (7d), quinze dias (15d), trinta dias (30d), quarenta e cinco dias (45d) ou
sessenta dias (60d) após início do experimento de injúria térmica. Nesses períodos,
foram observadas características como a variação da massa corporal, presença de
alterações comportamentais e presença de infecção nas feridas. A Figura 07
demonstra a variação da massa corporal dos animais PBS-ID e dos animais CTM-ID
durante o período de acompanhamento. Os animais pertencentes aos subgrupos
PBS-ID e CTM-ID que foram acompanhados por um período igual ou maior que
sessenta dias fizeram parte do grupo denominado GR60d.
Dias
Figura 07: Análise da massa corporal dos animais submetidos ao procedimento de
injúria térmica experimental por um período de sessenta dias. Massa corporal de ratos
Wistar (em gramas) submetidos à queimadura experimental. Subgrupo controle ou PBS-ID
(n=7; linha preta) e subgrupo tratado ou CTM-ID (n=7; linha cinza).
56
Resultados
Foi observada uma diminuição da massa corporal de ambos os grupos na
primeira semana após queimadura experimental. Esse fato ocorreu associado a
alterações comportamentais, já que os animais apresentaram-se menos ativos
nesse período após o procedimento da injúria térmica. Além disso, os animais
provavelmente apresentaram dificuldade para se alimentarem o que levou à perda
de massa corporal. Em torno da segunda semana após a injúria térmica, não foi
mais observada perda de peso em ambos os subgrupos. Ao contrário, foi observado
a partir desse período um aumento crescente da massa corpórea dos animais.
4.6. Avaliação dos animais no início do experimento
O dia em que o experimento foi iniciado foi considerado o dia zero (0d). Antes
do início do experimento, no 0d, os animais foram pesados (Figura 07) e em
seguida anestesiados e submetidos à depilação para a realização da queimadura.
No momento seguinte à realização da queimadura foi colhida uma amostra de
material de dez animais (n=10) com o auxílio de uma haste de algodão estéril para
realização de testes microbiológicos a fim de determinar os microorganismos
colonizadores da pele dos animais. Dos dez animais em que foram realizados os
testes microbiológicos da pele no dia zero, cinco animais pertenciam ao subgrupo
PBS-ID (n=5) e cinco animais pertenciam ao subgrupo CTM-ID (n=5). O material foi
semeado em placa de Petri contendo ágar CLED e cultivado por 48 horas para
verificação do crescimento de colônias. O resultado das análises microbiológicas
das feridas no dia 0 para ambos os subgrupos é mostrado na Tabela 04.
Tabela 04: Microorganismos colonizadores da pele dos animais submetidos à injúria
térmica no dia 0.
PBS-ID
Microorganismo
1
2
3
4
5
CTM-ID
Microorganismo
1
A: Pseudomonas sp.
B: Bacilo gram
negativo não
fermentador
2
3
4
A: Pseudomonas sp.
B: Bacilo gram
negativo não
fermentador
5
57
Resultados
As análises microbiológicas demonstraram que no início do experimento (0d)
a pele de todos os animais pertencentes a ambos os grupos continha exatamente os
mesmos microorganismos colonizadores: Pseudomonas sp. e bacilo gram negativo
não fermentador.
Após a realização dos testes microbiológicos da pele dos animais os mesmos
foram submetidos à aplicação intradérmica de PBS ou de 1x10 6 CTMs em 10 pontos
preestabelecidos (Figura 03). Em ambos os subgrupos (controles ou PBS-ID e
tratados ou CTM-ID) foi utilizado um volume total de 2000μL, sendo aplicado
intradermicamente em cada ponto um volume de 200μL.
Em seguida, os animais de ambos os subgrupos foram fotografados. As
Figuras 08 e 09 mostram o aspecto inicial das úlceras obtidas imediatamente após
a realização das queimaduras (0d) e representam um total de quatorze animais que
foram destinados à avaliação fotográfica do início ao fim do experimento (dia 0 ao
dia 60 pós-injúria térmica) e constituem o grupo GR60d. Do total de quatorze
animais destinados a essa avaliação, sete animais pertenciam ao grupo PBS-ID
(Figura 08) e sete animais pertenciam ao grupo CTM-ID (Figura 09).
Além de serem fotografados no início do experimento (0d) e no final do
experimento (60d) esses animais também foram fotografados nos períodos
intermediários referentes aos dias 7 (7d), 15 (15d), 30 (30d) e 45 (45d) pós-injúria
térmica.
58
Resultados
Figura
08:
Aspecto
das
feridas
ocasionadas por queimadura nos animais
pertencentes ao subgrupo PBS-ID no
início do experimento (0d). A. Aspecto geral
de um animal pertencente ao subgrupo PBSID no 0d após a realização da queimadura
experimental. B-H. Aspecto das feridas
ocasionadas por queimadura no dorso dos
animais pertencentes ao subgrupo PBS-ID no
0d após a realização da queimadura
experimental.
Figura
09:
Aspecto
das
feridas
ocasionadas por queimadura dos animais
pertencentes ao subgrupo CTM-ID no
início do experimento (0d). A. Aspecto
geral de um animal pertencente ao subgrupo
CTM-ID no 0d após a realização da
queimadura experimental. B-H. Aspecto das
feridas ocasionadas por queimadura no
dorso dos animais pertencentes ao subgrupo
CTM-ID no 0d após a realização da
queimadura experimental.
59
Resultados
4.7.
Avaliação microbiológica dos animais três dias após o início do
experimento
Após o início do experimento foi estabelecido um ponto intermediário entre o
dia inicial e o primeiro dia de avaliação fotográfica (7d) onde os animais foram
submetidos somente à análise microbiológica. Esse período correspondeu ao
terceiro dia (3d) após queimadura experimental. A Tabela 05 representa o conteúdo
microbiológico encontrado nas feridas dos animais no 3d após a queimadura
experimental.
Tabela 05: Microorganismos colonizadores da pele dos animais submetidos à injúria
térmica no terceiro dia após o início do experimento.
PBS-ID
Microorganismo
CTM-ID
Microorganismo
1
A. Pseudomonas sp.
B. Bacilo gram negativo não
fermentador
C. Staphylococcus coagulase
negativa
1
A. Pseudomonas sp.
B. Staphylococcus coagulase
negativa
2
A. Pseudomonas sp.
B. Staphylococcus coagulase
negativa
2
A. Pseudomonas sp.
B. Bacilo gram negativo não
fermentador
3
A. Pseudomonas sp.
B. Bacilo gram negativo não
fermentador
C. Staphylococcus coagulase
negativa
4
A. Pseudomonas sp.
B. Staphylococcus coagulase
negativa
4
A. Pseudomonas sp.
B. Bacilo Gram negativo não
fermentador
C. Staphylococcus coagulase
negativa
5
Pseudomonas sp.
5
A. Pseudomonas sp.
B. Staphylococcus coagulase
negativa
3
A. Pseudomonas sp.
B. Bacilo gram negativo não
fermentador
60
Resultados
No terceiro dia após o início do experimento foi observada uma alteração dos
microorganismos colonizadores da queimadura, sendo que apenas Pseudomonas
sp. que se encontrava colonizando a ferida no 0d permaneceu presente em todos os
animais no 3d pós-injúria térmica.
Nesse período, não foram observadas diferenças entre as espécies de
microorganismos
colonizadores
do
grupos
PBS-ID
e
CTM-ID.
Além
de
Pseudomonas sp., foi observada nos animais de ambos os grupos a presença de
Staphylococcus coagulase negativa e de bacilo gram negativo não fermentador.
4.8. Avaliação dos animais sete dias após o início do experimento
4.8.1. Grupo GR60d
Transcorridos sete dias do início do experimento os animais do grupo GR60d
foram fotografados, pesados e submetidos à análise microbiológica e análise
fotográfica das feridas ocasionadas pela queimadura.
4.8.1.1. Análise microbiológica das feridas
Os animais pertencentes ao grupo GR60d (n=10) foram submetidos à análise
da população de microrganismos presente na pele queimada no período referente
ao sétimo dia após início do experimento. Os microorganismos colonizadores
presentes na pele queimada dos animais pertencentes aos subgrupos PBS-ID (n=5)
CTM-ID (n=5) no sétimo dia após início do experimento estão mostrados na Tabela
06.
61
Resultados
Tabela 06: Microorganismos colonizadores da pele dos animais submetidos à injúria térmica
no sétimo dia após o início do experimento.
PBS-ID
Microorganismo
CTM-ID
Microorganismo
1
Staphylococcus
coagulase negativa
1
Staphylococcus
coagulase negativa
2
3
4
5
A. Enterobacter sp.
B. Staphylococcus
coagulase negativa
A. Enterococcus sp.
B. Staphylococcus
coagulase negativa
A. Enterococcus sp.
B. Staphylococcus
coagulase negativa
C. Escherichia coli
Staphylococcus
coagulase negativa
2
3
4
5
A. Enterococcus sp.
B. Staphylococcus
coagulase negativa
A. Enterococcus sp.
B. Staphylococcus
coagulase negativa
C. Escherichia coli
Staphylococcus
coagulase negativa
Staphylococcus
coagulase negativa
Foram encontrados microorganismos em comum colonizando a pele dos
animais de ambos os subgrupos. Esses microorganismos foram: Enterococcus sp.,
Staphylococcus coagulase negativa e Escherichia coli. Entretanto a bactéria do
gênero Enterobacter sp. foi encontrada apenas em feridas dos animais do subgrupo
PBS-ID.
4.8.1.2. Análise fotográfica das feridas ocasionadas por injúria térmica
As Figuras 10 e 11 mostram o aspecto das feridas ocasionadas pelas
queimaduras nos animais dos subgrupos PBS-ID (Figura 10) e CTM-ID (Figura 11)
do grupo GR60d.
62
Resultados
Figura 10: Aspecto das feridas ocasionadas
por queimadura nos animais pertencentes
ao subgrupo PBS-ID no sétimo dia após o
início do experimento (7d). A. Aspecto geral
de um animal pertencente ao subgrupo PBS-ID
no 7d após a realização da queimadura
experimental. B-H. Aspecto das feridas
ocasionadas por queimadura no dorso dos
animais pertencentes ao subgrupo PBS-ID no
7d após a realização da queimadura
experimental.
Figura 11: Aspecto das feridas ocasionadas
por queimadura dos animais pertencentes ao
subgrupo CTM-ID no sétimo dia do início do
experimento (7d). A. Aspecto geral de um animal
pertencente ao subgrupo CTM-ID no 7d após a
realização da queimadura experimental. B-H.
Aspecto das feridas ocasionadas por queimadura
no dorso dos animais pertencentes ao subgrupo
CTM-ID no 7d após a realização da queimadura
experimental.
63
Resultados
O primeiro período no qual os animais do grupo GR60d foram submetidos à
avaliação fotográfica foi estipulado como sendo sete dias após o início do
experimento. Nesse período inicial, não foram observadas diferenças entre as
feridas dos animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID. Os dados em pixels para
cálculo da área da região de pele queimada dos animais fornecidos pelo programa
Image J, demonstraram que do início do experimento até o 7d ocorreu um aumento
da área das lesões em ambos os grupos devido ao início do processo de necrose na
região da borda da ferida, no sentido da pele não queimada. Esse aumento modesto
do tamanho das lesões no sétimo dia após início do experimento foi observado tanto
nos animais do subgrupo PBS-ID (42.61 ± 4.627) (Figura 12 A), quanto nos animais
do subgrupo CTM-ID (49.55 ± 4.557) (Figura 12 B). A média da área das lesões
iniciais (no 0d) dos animais do subgrupo PBS-ID era de 40.10 ± 1.115 e dos animais
do subgrupo CTM-ID era de 48.72 ± 2.111.
Figura 12: Área da queimadura, em pixels, no sétimo dia após o início do experimento.
A. Comparação da área da lesão, em pixels, no 0d e no 7d nos animais do subgrupo PBSID. B. Comparação da área da lesão, em pixels, no 0d e no 7d dos animais do subgrupo
CTM-ID.
4.8.2. Grupo GR7d
Um grupo de dez animais (GR7d), cinco pertencentes ao subgrupo PBS-ID
(n=5) e cinco pertencentes ao subgrupo CTM-ID (n=5) foi sacrificado para análise
das subpopulações de linfócitos T CD4+ e CD8+ presentes no baço e na pele
64
Resultados
queimada por citometria de fluxo, dosagem de mieloperoxidase (MPO) na pele
queimada e análises histológicas de pele normal e queimada por coloração
hematoxilina/eosina (HE).
4.8.2.1. Análise das populações de linfócitos TCD4+ e células CD8+ do baço dos
animais por citometria de fluxo
Os animais pertencentes ao grupo GR7d foram sacrificados por decapitação e
o baço dos mesmos foi removido cirurgicamente. Um fragmento do baço de cada
animal foi divulsionado para obtenção de esplenócitos livres que foram lavados com
PBS e marcados com anticorpos anti-CD3 anti-CD4 ou anti-CD8, associados à
fluorocromos. Os esplenócitos marcados foram analisados por citometria de fluxo. A
figura 13 representa a população de células T CD3+CD4+ do baço dos animais
obtida por citometria de fluxo.
Figura 13: População de linfócitos T CD4+ no baço dos animais sete dias após o início
do experimento. População celular do baço dos animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID,
duplamente marcadas com anticorpos anti-CD3 e anti-CD4 no 7d.
65
Resultados
A análise da porcentagem de linfócitos T CD3 +CD4+ no baço dos animais
sacrificados sete dias após o início do experimento não revelou diferenças
estatisticamente significativas entre os subgrupos PBS-ID (21.55 ± 3.024) e CTM-ID
(29.74 ± 2.772) (Figura 13). A porcentagem de células CD8+ nos baços dos animais
do subgrupo PBS-ID (18.58 ± 1.069) e do subgrupo CTM-ID (17.70 ± 1.985), (Figura
14) transcorridos sete dias do início do experimento, também não demonstrou
diferença estatística.
Figura 14: População de células CD8+ no baço dos animais sete dias após o início do
experimento. População celular do baço dos animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID,
marcadas com anticorpos anti-CD8 no 7d.
4.8.2.2. Análise das populações de linfócitos T CD4+ e células CD8+ da pele dos
animais por citometria de fluxo
Amostras de pele da região da queimadura foram colhidas após o sacrifício
dos animais e digeridas enzimaticamente. As células da pele, obtidas a partir da
digestão enzimática dos componentes da matriz extracelular, foram lavadas com
PBS, incubadas com anticorpos anti-CD3, anti-CD4 ou anti-CD8 e analisadas por
citometria de fluxo. A porcentagem de linfócitos T CD4 + e CD8+ na pele dos animais
sacrificados nesse período está mostrada nas Figura 15 e 16, respectivamente.
66
Resultados
Figura 15: População de linfócitos T CD4+ na pele dos animais sete dias após o início
do experimento. População celular do baço dos animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID,
duplamente marcadas com anticorpos anti-CD3 e anti-CD4no 7d.
A análise por citometria de fluxo revelou a presença de uma pequena
população de linfócitos T CD4+ na pele dos animais de ambos os grupos. A
porcentagem de linfócitos T CD4+ da pele dos animais PBS-ID (0.1600 ± 0.03642)
não foi estatisticamente diferente da porcentagem de linfócitos T CD4+ na pele dos
animais do grupo CTM-ID (0.1080 ± 0.07024) nesse período.
Figura 16: População de células CD8+ na pele dos animais sete dias após o início do
experimento. População celular da pele dos animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID,
marcadas com anticorpos anti-CD8 no 7d.
67
Resultados
Apesar de não serem observadas diferenças estatísticas significativas, a
freqüência de células CD8+ foi um pouco menor na pele dos animais do grupo CTMID (0.0520 ± 0.02871) do que no grupo PBS-ID (0.1200 ± 0.04066) (Figura 16).
4.8.2.3. Análises histopatológicas das lesões
Fragmentos de pele da interface entre a pele saudável e a úlcera térmica,
extraídos dos animais do subgrupo PBS-ID (n=4) e subgrupo CTM-ID (n=4) no 7d
após o início do experimento, foram processados e corados por hematoxilina e
eosina (HE) (Figura 17) e submetidos à análise histopatológica. As análises
histopatológicas foram realizadas com base em esquema de pontuação indicando a
freqüência do achado histopatológico observado na pele do animal em questão
(Tabela 07). Foram estabelecidas duas regiões a serem abordadas pela análise: a
região da borda e a região da úlcera.
Figura 17: Cortes histológicos da pele dos animais no 7d após a injúria térmica. Os
cortes foram corados por HE. A. Pele normal (40x). B. Pele da região da úlcera de um
animal pertencente ao subgrupo CTM-ID, evidenciando a lesão ocasionada na região da
queimadura (100x). C. Pele da região da úlcera de um animal pertencente ao subgrupo
PBS-ID, evidenciando a lesão ocasionada na região da queimadura (100x).
68
Resultados
Tabela 07: Avaliação histopatológica da interface entre pele normal e úlcera no sétimo
dia após injúria térmica.
Animal
Borda
Úlcera
epitélio
inflamação
colágeno
epitélio
granulação
vasos
inflamação
PBS-ID 1
1
0
0
0
0
0
0
PBS-ID2
2
1
0
0
0
1
0
PBS-ID 3
2
1
0
0
0
0
0
PBS-ID 4
2
1
0
0
1
0
2
CTM-ID 1
2
2
0
1
1
1
3
CTM-ID 2
2
1
0
1
1
0
2
CTM-ID 3
1
1
0
0
0
0
0
CTM-ID 4
2
0
0
0
0
0
0
Com base nas pontuações obtidas a partir da avaliação histopatológica dos
animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID, pôde-se observar que não houve
diferença entre os subgrupos na região da borda. Enquanto que, na região da úlcera
propriamente dita, observou-se o início da formação de um novo epitélio somente
nos animais pertencentes ao subgrupo CTM-ID. Nesse subgrupo também pareceu
ocorrer um processo inflamatório mais evidente do que o observado nos animais do
subgrupo PBS-ID nesse período inicial.
4.8.2.4. Dosagem de MPO da pele da região da ferida dos animais
Amostras de pele da região da ferida ocasionada pela injúria térmica foram
colhidas dos animais do grupo GR7d para a realização do ensaio de produção de
mieloperoxidase (MPO). A MPO é uma enzima produzida durante o metabolismo de
neutrófilos. Dessa forma, a produção da mesma na pele dos animais, comparada a
uma curva padrão da produção de MPO por neutrófilos, fornece o número de
neutrófilos por grama de tecido analisado. Para a realização desse ensaio as
amostras de pele foram extraídas cirurgicamente, pesadas e submetidas à digestão
mecânica em tampão adequado. A Figura 18 indica o número de neutrófilos
encontrado por grama de tecido (pele) dos animais dos subgrupos PBS-ID e CTMID.
69
Resultados
Figura 18: Número de neutrófilos na região da ferida ocasionada por queimadura nos
animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID, no sétimo dia após início do experimento.
Número de neutrófilos por grama de tecido (pele) indicado pela dosagem de MPO no
homogeinato da ferida dos animais.
Sete dias após a queimadura experimental, a pele da região lesada dos
animais pertencentes ao subgrupo PBS-ID apresentou 2.950 (± 2.360) x 106
neutrófilos/grama de tecido, enquanto que a pele da mesma região dos animais do
subgrupo CTM-ID apresentou 1.9 (±1.384) x 106 neutrófilos/grama de tecido. Não
houve diferença estatisticamente significativa entre a quantidade de neutrófilos por
grama de pele entre os grupos tratado e controle no período em questão.
4.9. Avaliação dos animais quinze dias após o início do experimento
4.9.1. Grupo GR60d.
Quinze dias após injúria térmica o grupo GR60d foi pesado, fotografado e foi
colhido material da ferida para análise microbiológica.
70
Resultados
4.9.1.1. Análise microbiológica das feridas
O resultado da análise microbiológica das úlceras ocasionadas por
queimadura nos animais pertencentes aos subgrupos PBS-ID e CTM-ID está
mostrado na Tabela 08.
Tabela 08: Microorganismos colonizadores da pele dos animais submetidos à injúria
térmica quinze dias após o início do experimento.
PBS-ID
Microorganismo
CTM-ID
Microorganismo
1
Staphylococcus
coagulase negativa
1
A. Staphylococcus
coagulase negativa
B. Proteus vulgaris
2
3
4
5
A. Staphylococcus
coagulase negativa
B. Enterococcus sp.
C. Enterobacter
cloacae
A. Staphylococcus
coagulase negativa
B. Escherichia coli
C. Proteus mirabilis
A. Staphylococcus
coagulase negativa
B. Escherichia coli
A. Staphylococcus
coagulase negativa
B. Enterococcus sp.
C. Proteus vulgaris
D. Enterobacter sp.
2
3
A. Enterococcus sp
B. Proteus vulgaris
A. Staphylococcus
coagulase negativa
B. Escherichia coli
C. Enterococcus sp.
4
Staphylococcus
coagulase negativa
5
Staphylococcus
coagulase negativa
A maioria dos microorganismos identificados encontrou-se presentes na pele
lesada tanto dos animais do subgrupo PBS-ID quanto nos animais do subgrupo
CTM-ID, sendo esses: Staphylococcus coagulase negativa, Enterococcus sp.,
Escherichia coli e Proteus vulgaris. Outros microorganismos, tais como Enterobacter
cloacae, Proteus mirabilis e Enterobacter sp., foram encontrados exclusivamente na
pele lesada dos animais pertencentes ao subgrupo PBS-ID.
71
Resultados
4.9.1.2. Análise fotográfica das lesões por queimadura
No décimo quinto dia após injúria térmica experimental as úlceras dos animais
passaram a apresentar grande quantidade de material necrótico. Foram observadas
também regiões de crosta já desprendidas evidenciando a profundidade da lesão.
As fotografias obtidas das feridas dos animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID
estão mostradas nas Figuras 19 e 20, respectivamente.
72
Resultados
Figura 19: Aspecto das feridas ocasionadas
por queimadura nos animais pertencentes ao
subgrupo PBS-ID no décimo quinto dia após o
início do experimento (15d). A. Aspecto geral de
um animal pertencente ao subgrupo PBS-ID no
15d após a realização da queimadura
experimental. B-H. Aspecto das feridas
ocasionadas por queimadura no dorso dos animais
pertencentes ao subgrupo PBS-ID no 15d após a
realização da queimadura experimental.
Figura 20: Aspecto das feridas ocasionadas
por queimadura dos animais pertencentes ao
subgrupo CTM-ID no décimo quinto dia após o
início do experimento (15d). A. Aspecto geral de
um animal pertencente ao subgrupo CTM-ID no
15d após a realização da queimadura
experimental. B-H. Aspecto das feridas
ocasionadas por queimadura no dorso dos
animais pertencentes ao subgrupo CTM-ID no
15d após a realização da queimadura
experimental.
73
Resultados
Através das análises realizadas no programa Image J, pode-se observar que
no décimo quinto dia após o procedimento de injúria térmica experimental as feridas
dos animais tiveram sua área sutilmente diminuída (Figura 21 A e B), aproximandose da área inicial observada no 0d, tanto nos animais do subgrupo PBS-ID (40.00 ±
2.620), quanto do subgrupo CTM-ID (45.40 ± 2.280).
Figura 21: Área da queimadura, em pixels, no décimo quinto dia após o início do
experimento. A. Comparação da área da lesão, em pixels, no 0d e no 15d nos animais do
subgrupo PBS-ID. B. Comparação da área da lesão, em pixels, no 0d e no 15d dos animais
do subgrupo CTM-ID.
4.9.2. Grupo GR15d
Um grupo de animais (GR15d) foi sacrificado quinze dias após o início dos
experimentos, esse grupo GR15d continha dez animais (n=10) sendo que esses dez
animais estavam subdivididos entre os subgrupos PBS-ID (n=5) e CTM-ID (n=5). O
grupo GR15d foi submetido às análises por citometria da população CD3 +CD4+ e
CD8+ das células do baço, análise por citometria da população CD3+CD4+ e CD8+
das células da pele da região queimada, dosagem da produção de MPO na pele
queimada e análises histológicas.
74
Resultados
4.9.2.1. Análise das populações de linfócitos T CD4+ e células CD8+ no baço
dos animais por citometria de fluxo
O baço dos animais do GR15d foi extraído cirurgicamente e divulsionado, as
células obtidas foram lavadas em PBS e foram feitas marcações com anticorpos
anti-CD8, anti-CD3 e anti-CD4. As Figuras 22 e 23 mostram a porcentagem de
linfócitos T CD4+ e células CD8+, respectivamente, no baço dos animais dos
subgrupos PBS-ID e CTM-ID.
Figura 22: População de linfócitos T CD4+ no baço dos animais quinze dias após o
início do experimento. População celular do baço dos animais dos subgrupos PBS-ID e
CTM-ID, duplamente marcadas com anticorpos anti-CD3 e anti-CD4no 15d.
Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre a
freqüência das populações de linfócitos T CD4+ do baço dos animais PBS-ID (23.62
± 3.129%) e CTM-ID (27.16 ± 5.257%).
75
Resultados
Figura 23: População de células CD8+ no baço dos animais quinze dias após o início
do experimento. População celular do baço dos animais do subgrupos PBS-ID e CTM-ID,
marcadas com anticorpos anti-CD8 no 15d.
Igualmente, não foram observadas diferenças estatísticas significativas na
porcentagem de células CD8+ presentes no baço dos animais controle e tratados,
embora a porcentagem de células CD8+ no baço dos animais do subgrupo PBS-ID
(22.69 ± 1.773) tenha sido um pouco maior do que a encontrada no baço dos
animais do subgrupo CTM-ID (17.99 ± 0.7638), transcorridos quinze dias do início do
experimento.
4.9.2.2. Análise das populações de linfócitos T CD4+ e células CD8+ na pele
dos animais por citometria de fluxo
A pele dos animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID foi extraída no período
de quinze dias do início do experimento. Fragmentos de pele foram digeridos
enzimaticamente e as células obtidas foram lavadas e imunofenotipadas.
A porcentagem de linfócitos T CD4+ e células CD8+ presentes na pele dos
animais pertencentes aos subgrupos PBS-ID e CTM-ID quinze dias após
queimadura experimental, está mostrada nas Figura 24 e 25, respectivamente.
76
Resultados
Figura 24: População de linfócitos T CD4+ na pele dos animais quinze dias após o
início do experimento. População celular do baço dos animais dos subgrupos PBS-ID e
CTM-ID, duplamente marcadas com anticorpos anti-CD3 e anti-CD4 no 15d.
Apesar do subgrupo PBS-ID apresentar uma porcentagem de linfócitos T
CD4+ (0.1517 ± 0.07054) menor do que o subgrupo CTM-ID (0.3650 ± 0.2133), essa
diferença não é estatisticamente significativa.
Figura 25: População de células CD8+ na pele dos animais quinze dias após o início
do experimento. População celular da pele dos animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID,
marcadas com anticorpos anti-CD8 no 15d.
77
Resultados
Da mesma forma, não foram observadas diferenças estatisticamente
significantes entre a freqüência de células CD8+ encontradas na pele dos animais do
subgrupo PBS-ID (0.09167 ± 0.03816 %) e do subgrupo CTM-ID (0.1075 ± 0.04905
%), no período referente há quinze dias após início do experimento.
4.9.2.3. Análises histopatológicas das lesões
No décimo quinto dia após a injúria térmica fragmentos de pele foram
processados para a confecção de lâminas que foram coradas por HE. A análise
histopatológica dos cortes histológicos foi realizada com base no sistema de
pontuação descrito em Material e Métodos. A pontuação dos animais pertencentes
ao grupo GR15 está evidenciada na Tabela 09.
Tabela 09: Avaliação histopatológica da interface entre a pele normal e a úlcera no
décimo quinto dia após a injúria térmica.
Animal
Borda
Úlcera
epitélio
inflamação
colágeno
epitélio
granulação
vasos
inflamação
PBS-ID 1
2
1
0
0
1
0
2
PBS-ID 2
2
1
1
0
1
0
2
PBS-ID 3
2
1
1
0
3
1
3
PBS-ID 4
2
1
0
0
1
1
2
PBS-ID 5
2
1
0
0
3
0
2
CTM-ID 1
2
1
2
0
3
1
3
CTM-ID 2
2
1
0
0
3
2
3
CTM-ID 3
2
1
0
0
1
1
1
Não foram observadas grandes diferenças entre os achados histopatológicos
na pele dos animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID no 15d pós-injúria térmica.
Porém, é interessante notar que nesse período todos os animais pertencentes ao
subgrupo CTM-ID apresentaram a presença de novos vasos sanguíneos na região
da úlcera, enquanto que apenas dois em cinco animais do subgrupo PBS-ID
apresentaram vasos sanguíneos pontuais na região da úlcera.
78
Resultados
4.9.2.4. Dosagem de MPO da pele da região da ferida dos animais
No décimo quinto dia após a queimadura experimental foram extraídos
fragmentos da pele queimada dos animais dos subgrupos PBS-ID e CTMID,destinados à dosagem de MPO. O número de neutrófilos por grama de tecido
(pele), calculados pela dosagem de MPO no homogeinato de pele dos animais dos
subgrupos PBS-ID e CTM-ID no 15d após injúria térmica, está demonstrado na
Figura 26.
Figura 26: Número de neutrófilos na região da ferida ocasionada por queimadura nos
animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID, no décimo quinto dia após início do
experimento. Número de neutrófilos por grama de tecido (pele) indicado pela dosagem de
MPO no homogeinato da ferida dos animais.
Apesar do número de neutrófilos encontrado por grama de pele dos animais
controles ou PBS-ID ser menor (3.878 ± 1.093 x 106) do que nos animais tratados ou
CTM-ID (9.360 ± 5.218 x 106) no 15d após a injúria térmica, não houve diferença
estatística os subgrupos.
79
Resultados
4.10. Avaliação dos animais trinta dias após o início do experimento
4.10.1. Grupo GR60d
Trinta dias após o início do experimento os animais do grupo GR60d foram
fotografados, pesados e submetidos à análise microbiológica.
4.10.1.1. Análise microbiológica das feridas
No período referente ao trigésimo dia após início do experimento, foi colhido
material para análise microbiológica dos animais pertencentes ao grupo GR60d (n=10). A
Tabela 10 evidencia os microorganismos encontrados na região da ferida dos animais
dos subgrupos PBS-ID (n=5) e CTM-ID (n=5) no período trinta dias após injúria térmica.
Tabela 10: Microorganismos colonizadores da pele dos animais submetidos à injúria
térmica no trigésimo dia após o início do experimento.
PBS-ID
Microorganismo
CTM-ID
Microorganismo
1
A. Proteus mirabilis
B. Staphylococcus aureus
1
A. Staphylococcus
coagulase negativa
B.Bacilo gram negativo não
fermentador
C.Coco gram negativo não
fermentador
2
Ausência de crescimento
2
Citrobacter diversus
3
Staphylococcus aureus
3
A. Staphylococcus aureus
B. Escherichia coli
4
Staphylococcus aureus
4
Ausência de crescimento
5
A. Staphylococcus coagulase negativa
B. Bacilo gram negativo não fermentador
5
A. Staphylococcus
coagulase negativa
B. Bacilo gram negativo
não fermentador
80
Resultados
Transcorridos trinta dias após serem submetidos à queimadura, as feridas dos
animais pertencentes ao grupo GR60d permaneceram intensamente colonizadas por
microorganismos. Staphylococcus aureus, Staphylococcus coagulase negativa e
bacilo gram negativo não fermentador foram microorganismos comuns aos
subgrupos PBS-ID e CTM-ID. Proteus mirabilis foi encontrado exclusivamente no
grupo controle (PBS-ID) e coco gram negativo não fermentador, Citrobacter diversus
e Escherichia coli foram microorganismos encontrados apenas nos animais
pertencentes ao grupo tratado (CTM-ID).
4.10.1.2. Análise fotográfica das lesões por queimadura
Foram capturadas imagens das lesões ocasionadas por queimadura dos
animais pertencentes aos subgrupos PBS-ID (Figura 27) e CTM-ID (Figura 28). As
fotografias obtidas dos animais do grupo GR60d evidenciaram o início do processo
de reepitelização, perceptível visualmente, principalmente na região das bordas das
lesões
81
Resultados
Figura 27: Aspecto das feridas ocasionadas por
queimadura nos animais pertencentes ao
subgrupo PBS-ID no trigésimo dia após o início
do experimento (30d). A. Aspecto geral de um
animal pertencente ao subgrupo PBS-ID no 30d
após a realização da queimadura experimental. BH. Aspecto das feridas ocasionadas por queimadura
no dorso dos animais pertencentes ao subgrupo
PBS-ID no 30d após a realização da queimadura
experimental.
Figura 28: Aspecto das feridas ocasionadas por
queimadura dos animais pertencentes ao
subgrupo CTM-ID no trigésimo dia após o início
do experimento (30d). A. Aspecto geral de um
animal pertencente ao subgrupo CTM-ID no 30d
após a realização da queimadura experimental. BH. Aspecto das feridas ocasionadas por
queimadura no dorso dos animais pertencentes ao
subgrupo CTM-ID no 30d após a realização da
queimadura experimental.
82
Resultados
A partir do trigésimo dia após injúria térmica a área das lesões da pele dos
animais passou a decrescer em conseqüência do processo de reepitelização, no
sentido das bordas para o interior da lesão, A medida da área em pixels fornecida
pelo programa Image J foi utilizada para o cálculo da porcentagem de cicatrização
(Figura 29) no trigésimo dia após o procedimento de queimadura experimental.
Figura 29: Porcentagem de cicatrização trinta dias após injúria térmica experimental.
Porcentagem de cicatrização encontrada nos subgrupos PBS-ID e CTM-ID trinta dias após o
início do experimento.
Não houve diferença estatística significativa entre a porcentagem de
cicatrização dos animais pertencentes ao subgrupo PBS-ID (29.10 ± 6.413) e a
porcentagem de cicatrização dos animais pertencentes ao subgrupo CTM-ID (46.14
± 5.570) no período referente há trinta dias após injúria térmica experimental.
4.10.2. Grupo GR30d
Trinta dias após o início do experimento, um grupo (GR30d) de dez animais
(n=10) foi sacrificado, sendo cinco animais do subgrupo PBS-ID (n=5) e cinco
animais do subgrupo CTM-ID (n=5). Os animais pertencentes ao grupo GR30d
foram submetidos à análise da população de linfócitos T CD4 + e de células CD8+ no
83
Resultados
baço, análise da população de linfócitos T CD4+e de células CD8+ na pele por
citometria de fluxo, dosagem de MPO e análises histológicas.
4.10.2.1. Análise das populações de linfócitos T CD4+ e células CD8+ do baço
dos animais por citometria de fluxo
Os esplenócitos obtidos a partir do baço dos animais do grupo GR30d foram
lavados e marcados com anticorpos anti-CD3+anti-CD4 ou anti-CD8 e as
populações celulares foram analisadas por citometria de fluxo. As Figuras 30 e 31
mostram a porcentagem de célulasT CD4+ e células CD8+ no baço dos animais dos
sub-grupos PBS-ID e CTM-ID, respectivamente,no período correspondente a trinta
dias após injúria térmica.
Figura 30: População de linfócitos T CD4+ no baço dos animais trinta dias após o
início do experimento. População celular do baço dos animais dos subgrupos PBS-ID e
CTM-ID, duplamente marcadas com anticorpos anti-CD3 e anti-CD4no 30d.
Não houve diferenças significativas entre as porcentagens de linfócitos T
CD4+ do subgrupo PBS-ID (18.53 ± 3.076) e do subgrupo CTM-ID (20.90 ± 2.451)
nesse período.
84
Resultados
Figura 31: População de células CD8+ no baço dos animais trinta dias após o início do
experimento. População celular do baço dos animais do subgrupos PBS-ID e CTM-ID,
marcadas com anticorpos anti-CD8 no 30d.
Igualmente, transcorridos trinta dias do início do experimento, não ocorreram
diferenças estatisticamente significativas entre a freqüência células CD8 + entre o
subgrupo PBS-ID (20.13 ± 1.795 %) e o subgrupo CTM-ID (19.55 ± 1.540).
4.10.2.2. Análise das populações de linfócitos T CD4+ e células CD8+ na pele
dos animais por citometria de fluxo
Através da citometria de fluxo também foram determinadas as porcentagens
de células T CD3+CD4+ e células CD8+ presentes na pele acometida pela injúria
térmica. A porcentagem de células T CD4+ e células CD8+ da pele dos animais do
GR30d estão mostradas nas Figuras 32 e 33, respectivamente.
85
Resultados
Figura 32: População de linfócitos T CD4+ na pele dos animais trinta dias após o início
do experimento. População celular do baço dos animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID,
duplamente marcadas com anticorpos anti-CD3 e anti-CD4no 30d.
Trinta dias após o início do experimento, a porcentagem de linfócitos T CD4 +
na pele injuriada dos animais do subgrupo PBS-ID (0.6200 ± 0.322) foi muito
semelhante à porcentagem de linfócitos T CD4 + na pele dos animais pertencentes
ao subgrupo tratado ou CTM-ID (0.4620 ± 0.1610), dessa forma não houve diferença
estatística significativa.
Figura 33: População de células CD8+ na pele dos animais trinta dias após o início do
experimento. População celular da pele dos animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID,
marcadas com anticorpos anti-CD8 no 30d.
86
Resultados
Uma leve diminuição da porcentagem de células CD8 + foi observada na pele
dos animais pertencentes ao subgrupo CTM-ID (0.1420 ± 0.05652) quando
comparado subgrupo PBS-ID (0.4300 ± 0.3504), porém, essa diferença não é
estatisticamente significante.
4.10.2.3. Análises histopatológicas das lesões
Transcorridos trinta dias após a queimadura experimental os cortes
histológicos da região das lesões na pele dos animais do grupo GR30d foram
corados por HE (Figura 34), para avaliação histopatológica nesse período.
Figura 34: Cortes histológicos da pele dos animais corados por HE. A. Pele da região
da úlcera de animal pertencente ao subgrupo CTM-ID sacrificado trinta dias após o início do
experimento, evidenciando a presença de vasos sanguíneos na região de borda da úlcera
(40x). B. Pele da região da úlcera de animal pertencente ao subgrupo CTM-ID sacrificado
trinta dias após injúria térmica, evidenciando o início do processo de reepitelização no
sentido da borda para o centro da lesão (40x).
A pontuação das análises histopatológicas das lesões dos animais
pertencentes ao subgrupo controles ou PBS-ID CTM-ID, no trigésimo dia após o
início do procedimento de injúria térmica experimental é mostrada na Tabela 11.
87
Resultados
Tabela 11: Avaliação histopatológica da interface entre a pele normal e a úlcera no
trigésimo dia após injúria térmica.
Animal
Borda
Úlcera
epitélio
inflamação
colágeno
epitélio
granulação
vasos
inflamação
PBS-ID 1
1
1
0
0
1
1
1
PBS-ID 2
2
1
0
0
2
2
2
PBS-ID 3
0
0
0
0
0
0
1
PBS-ID 4
2
1
1
0
2
2
3
CTM-ID 1
1
1
0
0
2
0
2
CTM-ID 2
2
0
0
0
2
2
2
CTM-ID 3
2
0
0
0
3
1
3
CTM-ID 4
3
0
0
0
3
2
3
CTM-ID 5
3
1
0
0
3
3
3
4.10.2.4. Dosagem de MPO na pele da região da ferida dos animais
Fragmentos da pele dos animais pertencentes ao grupo GR30d foram
submetidos à dosagem de MPO. A Figura 35 demonstra o número de neutrófilos
encontrados por grama de tecido analisada dos animais pertencentes aos subgrupos
PBS-ID e CTM-ID, trinta dias após do início do experimento.
Figura 35: Número de neutrófilos na região da ferida ocasionada por queimadura nos
animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID, no trigésimo dia após início do
experimento. Número de neutrófilos por grama de tecido (pele) indicado pela dosagem de
MPO no homogeinato da ferida dos animais.
88
Resultados
O número de neutrófilos por grama de tecido encontrou-se muito reduzido nos
animais pertencentes ao subgrupo PBS-ID (2.068 ± 0.5011) quando comparado ao
subgrupo CTM-ID (9.360 ± 5.218), no trigésimo dia após início do experimento.
Porém, porém essa diferença não é estatisticamente significante , provavelmente
devido à grande variância apresentada entre os animais pertencentes ao subgrupo
CTM-ID.
4.11. Avaliação dos animais quarenta e cinco dias após o início do
experimento
4.11.1 Grupo GR60d
Quarenta e cinco dias após o início do experimento os animais do grupo
GR60d foram fotografados, pesados e submetidos à análise microbiológica.
4.11.1.1. Análise microbiológica das feridas
O material da região da ferida para análise microbiológica da região em
questão foi realizado no período referente à quarenta e cinco dias após injúria
térmica. A Tabela 12 mostra os microorganismos presentes na pele lesada dos
animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID nesse período.
89
Resultados
Tabela 12: Microorganismos colonizadores da pele dos animais submetidos à injúria térmica
no quadragésimo quinto dia após o início do experimento.
PBS-ID
1
2
3
4
Microorganismo
A. Staphylococcus coagulase
negativa
B. Staphylococcus aureus
Staphylococcus coagulase
negativa
Staphylococcus aureus
Staphylococcus aureus
CTM-ID
1
2
3
4
Microorganismo
A. Bacilo gram negativo não
fermentador
B. Corynebacterium sp.
Staphylococcus aureus
A. Staphylococcus aureus
B. Escherichia coli
C. Staphylococcus coagulase
negativa
A. Staphylococcus aureus
B. Morganella morganii
C. Staphylococcus coagulase
negativa
D. Corynebacterium sp.
Staphylococcus aureus
5
5
*
* Animal não foi avaliado no período 30d porque morreu durante a anestesia
Na pele dos animais pertencentes ao subgrupo PBS-ID foi encontrada apenas
uma espécie de microorganismo no período referente a quarenta e cinco dias após
injúria térmica: Staphylococcus. No entanto, foram encontradas nos animais desse
subgrupo duas subespécies de Staphylococcus; Staphylococcus aureus e
Staphylococcus coagulase negativa. Já na pele dos animais do subgrupo CTM-ID,
além de Staphylococcus aureus e Staphylococcus coagulase negativa, também
foram encontrados microorganismos das espécies Corynebacterium sp., Escherichia
coli, Morganella morganii e bacilo gram negativo não fermentador.
4.11.1.2. Análise fotográfica das lesões por queimadura
A avaliação fotográfica realizada após quarenta e cinco dias do início do
experimento demonstrou um evidente processo de cicatrização em curso. A crosta
da ferida da maioria dos animais já havia se desprendido nesse período, permitindo
com que o tecido neo-formado antes encoberto pela mesma pudesse ser observado.
Essas características apareceram tanto nos animais do subgrupo PBS-ID (Figura
36), quanto nos animais do subgrupo CTM-ID (Figura 37).
90
Resultados
Figura 36: Aspecto das feridas ocasionadas
por queimadura nos animais pertencentes ao
subgrupo PBS-ID no quadragésimo quinto dia
após o início do experimento (45d). A. Aspecto
geral de um animal pertencente ao subgrupo
PBS-ID no 45d após a realização da queimadura
experimental. B-H. Aspecto das feridas
ocasionadas por queimadura no dorso dos
animais pertencentes ao subgrupo PBS-ID no 45d
após a realização da queimadura experimental.
Figura 37: Aspecto das feridas ocasionadas por
queimadura dos animais pertencentes ao
subgrupo CTM-ID no quadragésimo quinto dia
após o início do experimento (45d). A. Aspecto
geral de um animal pertencente ao subgrupo CTMID no 45d após a realização da queimadura
experimental. B-H. Aspecto das feridas
ocasionadas por queimadura no dorso dos animais
pertencentes ao subgrupo CTM-ID no 45d após a
realização da queimadura experimental.
91
Resultados
O crescente processo de cicatrização, observado visualmente quarenta e
cinco dias após o início do experimento, foi confirmado através das análises
fornecidas pelo programa Image J. A porcentagem de cicatrização de ambos os
subgrupos, PBS-ID e CTM-ID, está demonstrada na Figura 38.
Figura 38: Porcentagem de cicatrização quarenta e cinco dias após injúria térmica
experimental. Porcentagem de cicatrização encontrada nos subgrupos PBS-ID e CTM-ID
quarenta e cinco dias após o início do experimento.
A porcentagem de cicatrização da ferida dos animais do subgrupo PBS-ID
(57.74 ± 2.016) foi significativamente maior (p=0.0179) do que a porcentagem de
cicatrização das feridas dos animais do subgrupo CTM-ID (72.95 ± 5.170)
(p=0.0179), demonstrando que transcorridos quarenta e cinco dias do início do
experimento o processo de cicatrização das feridas dos animais tratados com CTMs
foi consideravelmente melhor do que o processo de cicatrização observado no
subgrupo controle. Isto sugere um importante papel das CTMs no processo de
cicatrização e regeneração tecidual.
4.11.2. Grupo GR45d
Transcorridos quarenta e cinco dias do início do experimento um grupo
(GR45d) de dez animais (n=10) foi sacrificado, a esse grupo pertenciam cinco
92
Resultados
animais do subgrupo PBS-ID (n=5) e cinco animais do subgrupo CTM-ID (n=5). Os
animais do grupo GR45 dias foram submetidos à análise por citometria de fluxo dos
linfócitos T CD4 do baço e da pele, análise por citometria de fluxo das populações
celulares CD8+ do baço e da pele. Além disso, foram realizadas a dosagem de MPO
e avaliações histológicas da pele queimada. Após o sacrifício, o material biológico
proveniente dos animais (baço e pele) foi extraído cirurgicamente e destinado às
análises.
4.11.2.1. Análise das populações de linfócitos T CD4+ e células CD8+ no baço
dos animais por citometria de fluxo
As Figuras 39 e 40 demonstram as porcentagens de células T CD4+ e células
CD8+ no baço dos animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID, respectivamente.
Figura 39: População de linfócitos T CD4+ no baço dos animais quarenta e cinco dias
após o início do experimento. População celular do baço dos animais dos subgrupos
PBS-ID e CTM-ID, duplamente marcadas com anticorpos anti-CD3 e anti-CD4no 45d.
Não houve diferença entre a porcentagem de linfócitos T CD4 + encontrados
no baço dos animais do subgrupo PBS-ID (32.99 ± 1.358) e do subgrupo CTM-ID
(34.77 ± 5.959) no período referente a quarenta e cinco dias após injúria térmica.
93
Resultados
Figura 40: População de células CD8+ no baço dos animais quarenta e cinco dias após
o início do experimento. População celular do baço dos animais do subgrupos PBS-ID e
CTM-ID, marcadas com anticorpos anti-CD8 no 45d.
Da mesma forma, não foi encontrada diferença estatística significativa entre a
população de células CD8+ entre os subgrupos PBS-ID (17.68 ± 2.481) e CTM-ID
(14.28 ± 0.7286).
4.11.2.2. Análise das populações de linfócitos T CD4+ e células CD8+ da pele
dos animais por citometria de fluxo
Após a digestão enzimática dos fragmentos de pele extraídos dos animais do
grupo GR45d, as células obtidas foram lavadas, incubadas com anticorpos
monoclonais específicos e analisadas por citometria de fluxo. As porcentagens de
células T CD4+ e células CD8+ na região da ferida dos animais dos subgrupos PBSID e CTM-ID estão demonstradas nas Figuras 41 e 42, respectivamente.
94
Resultados
Figura 41: População de linfócitos T CD4+ na pele dos animais quarenta e cinco dias
após o início do experimento. População celular do baço dos animais dos subgrupos
PBS-ID e CTM-ID, duplamente marcadas com anticorpos anti-CD3 e anti-CD4 no 45d.
A freqüência de linfócitos T CD4+ da pele injuriada foi relativamente maior nos
animais pertencentes ao subgrupo PBS-ID (1.073 ± 0.2983 %) do que nos animais
do subgrupo CTM-ID (0.6233 ± 0.1114%), porém essa diferença não foi
estatisticamente significante.
Figura 42: População de células CD8+ na pele dos animais quarenta e cinco dias após
o início do experimento. População celular da pele dos animais dos subgrupos PBS-ID e
CTM-ID, marcadas com anticorpos anti-CD8 no 45d.
95
Resultados
A porcentagem de células CD8+ encontrada na região da ferida nos animais
pertencentes ao subgrupo CTM-ID (0.1633 ± 0.01202) foi menor quando comparada
ao subgrupo PBS-ID (0.5500 ± 0.2517), porém essa diferença não é significativa
estatisticamente.
4.11.2.3. Análises histopatológicas das lesões
A pontuação dos achados histológicos estabelecida para os animais de
ambos os subgrupos (PBS-ID e CTM-ID) está mostrada na Tabela 13. No período
referente a quarenta e cinco dias do início do experimento, algumas diferenças
modestas entre os sub-grupos puderam ser observadas através da avaliação
histológica da região da borda da ferida. De maneira geral, os animais pertencentes
ao subgrupo tratado com CTMs (CTM-ID) apresentaram uma maior deposição de
colágeno na borda da lesão no período em questão, além de apresentarem um
processo inflamatório nessa mesma região, mais evidente que o observado nos
animais controle (pertencentes ao subgrupo PBS-ID).
Tabela 13: Avaliação histopatológica da interface entre pele normal e a úlcera no
quadragésimo quinto dia após injúria térmica.
Animal
Borda
Úlcera
epitélio
inflamação
colágeno
epitélio
granulação
vasos
inflamação
PBS-ID 1
1
0
0
0
1
1
2
PBS-ID 2
3
1
0
0
3
2
3
PBS-ID 3
1
0
0
0
3
2
3
PBS-ID 4
3
1
1
0
3
1
3
PBS-ID 5
2
0
0
0
3
2
3
CTM-ID 1
2
1
2
0
3
2
3
CTM-ID 2
3
2
0
0
3
2
3
CTM-ID 3
3
1
1
1
2
2
2
CTM-ID 4
3
1
1
0
3
1
3
96
Resultados
4.11.2.4. Dosagem de MPO da pele da região da ferida dos animais
Fragmentos de pele triturados dos animais correspondentes ao grupo GR45d
foram submetidos à dosagem de MPO e os resultados obtidos para os animais dos
subgrupos PBS-ID e CTM-ID estão mostrados na Figura 43.
Figura 43: Número de neutrófilos na região da ferida ocasionada por queimadura nos
animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID, no quadragésimo quinto dia após início do
experimento. Número de neutrófilos por grama de tecido (pele) indicado pela dosagem de
MPO no homogeinato da ferida dos animais.
Foi observada uma relevante diferença numérica entre o número de
neutrófilos por grama de pele avaliada dos animais do subgrupo PBS-ID (2.967 ±
1.530 x 106) e do subgrupo CTM-ID (22.64 ± 12.53 x 106) nesse período. Porém, o
número de neutrófilos por grama de tecido encontrado nos animais do subgrupo
CTM-ID apresentou grande variação individual. . Dessa forma, a diferença
observada não apresentou significância estatística.
97
Resultados
4.12. Avaliação dos animais sessenta dias após o início do experimento
No período final do experimento, equivalente há sessenta dias após o início
do mesmo, foram realizadas análises apenas com o grupo GR60d, que consistiram
na avaliação fotográfica, microbiológica e histológica das lesões ocasionadas por
injúria térmica.
4.12.1. Análise microbiológica das feridas
A análise microbiológica demonstrou que sessenta dias após o início do
experimento, a região da lesão (muitas vezes quase totalmente reepitelizada) ainda
apresentava-se intensamente colonizada, sendo o número de espécies de
microorganismos colonizadores nesse período muito maior do que o número de
espécies colonizadoras encontradas no período do início do experimento (0d). A
Tabela 14 mostra os microorganismos colonizadores presentes nas feridas dos
animais dos subgrupos PBS-ID e CTM-ID sessenta dias após a queimadura
experimental.
98
Resultados
Tabela 14: Microorganismos colonizadores da pele dos animais submetidos à injúria térmica
no sexagésimo dia após o início do experimento.
PBS-ID
1
2
3
4
5
Microorganismo
A. Staphylococcus
coagulase negativa
B. Staphylococcus
aureus
A. Staphylococcus
aureus
B. Staphylococcus
coagulase negativa
C. Bacilo gram positivo
esporulado
A. Staphylococcus
aureus
B. Bacilo gram positivo
esporulado
*
A. Staphylococcus
aureus
B. Staphylococcus
coagulase negativa
CTM-ID
1
2
Microorganismo
A. Staphylococcus
coagulase negativa
B. Bacilo gram negativo
não fermentador
C. Staphylococcus
aureus
Staphylococcus aureus
3
A. Staphylococcus
aureus
B. Staphylococcus
coagulase negativa
4
A. Staphylococcus
aureus
B. Staphylococcus
coagulase negativa
5
*
* Animal não foi avaliado no período 60d porque morreu durante a anestesia
A maioria dos animais, tanto do subgrupo PBS-ID quanto do subgrupo CTMID continham dois tipos de microorganismos em comum na região da ferida:
Staphylococcus aureus e Staphylococcus coagulase negativa. Por outro lado, o
bacilo gram negativo esporulado esteve presente exclusivamente na pele de animais
pertencentes ao subgrupo PBS-ID e o bacilo gram negativo não fermentador foi
encontrado somente na pele lesada dos animais pertencentes ao subgrupo CTM-ID.
99
Resultados
4.12.2. Análise fotográfica das lesões por queimadura
A avaliação fotográfica dos animais do grupo GR60d evidenciou que muitos
animais já se encontravam em processo final de reepitelização. Além disso, foram
observadas grandes diferenças entre o processo de cicatrização dos animais
pertencentes ao subgrupo PBS-ID (Figura 44) e ao subgrupo CTM-ID (Figura 45).
100
Resultados
Figura 44: Aspecto das feridas ocasionadas por
queimadura nos animais pertencentes ao
subgrupo PBS-ID no sexagésimo dia após o
início do experimento (60d). A. Aspecto geral de
um animal pertencente ao subgrupo PBS-ID no
60d após a realização da queimadura
experimental.
B-H.
Aspecto
das
feridas
ocasionadas por queimadura no dorso dos animais
pertencentes ao subgrupo PBS-ID no 60d após a
realização da queimadura experimental.
Figura 45: Aspecto das feridas ocasionadas
por queimadura dos animais pertencentes ao
subgrupo CTM-ID no sexagésimo dia após o
início do experimento (60d). A. Aspecto geral de
um animal pertencente ao subgrupo CTM-ID no
60d após a realização da queimadura
experimental. B-H. Aspecto das feridas
ocasionadas por queimadura no dorso dos animais
pertencentes ao subgrupo CTM-ID no 60d após a
realização da queimadura experimental.
101
Resultados
A porcentagem de cicatrização obtida com base nas análises feitas no
programa Image J demonstrou que no período final de avaliação da cicatrização, os
animais do subgrupo tratado ou CTM-ID apresentaram uma maior cicatrização das
úlceras (90.81 ± 5.054 %) em relação aos animais do subgrupo controle ou PBS-ID
(76.11 ± 3.457 %) (Figura 46).
Figura 46: Porcentagem final de cicatrização após injúria térmica experimental.
Porcentagem de cicatrização encontrada nos subgrupos PBS-ID e CTM-ID sessenta dias
após o início do experimento.
4.12.3. Análises histopatológicas das lesões
As análises histológicas realizadas através da observação de lâminas
contendo tecidos corados por HE do último período analisado,foram realizadas em
torno de sessenta dias após o procedimento de injúria térmica experimental. Nesse
período a maioria dos animais de ambos os subgrupos apresentavam uma alta
porcentagem de cicatrização. Cortes histológicos referentes ao processo de
cicatrização dos animais nesse período encontram-se evidenciados na Figura 47.
102
Resultados
Figura 47: Cortes histológicos da pele dos animais corados por HE sessenta dias
após injúria térmica experimental. A. Pele da região da úlcera de animal pertencente ao
subgrupo PBS-ID evidenciando o processo de reepitelização recente (40X). B. Pele da
região da úlcera de animal pertencente ao subgrupo CTM-ID evidenciando o processo de
reepitelização recente (40X). C. Pele da região da úlcera pertencente ao subgrupo CTM-ID
evidenciando o processo de reepitelização recente (100X). D. Pele da região da úlcera
pertencente ao subgrupo CTM-ID evidenciando o processo de reepitelização recente (100X)
A pontuação atribuída a partir dos achados histológicos observados nos
animais do grupo GR60d indicou que nesse período ainda havia evidências de
inflamação na região da borda da úlcera dos animais do subgrupo PBS-ID enquanto
o processo inflamatório na borda da lesão dos animais do subgrupo CTM-ID
encontrava-se finalizado (Tabela 15). Além disso, um maior número de vasos
sanguíneos foi observado na região da úlcera dos animais pertencentes ao
subgrupo tratado com CTMs (CTM-ID) aos sessenta dias após injúria térmica.
103
Resultados
Tabela 15: Avaliação histopatológica da interface entre pele normal e a úlcera no
quadragésimo quinto dia após injúria térmica
Animal
Borda
Úlcera
epitélio
inflamação
colágeno
epitélio
granulação
vasos
inflamação
PBS-ID 1
2
1
1
0
2
1
3
PBS-ID 2
2
0
0
2
0
0
0
PBS-ID 3
2
1
0
2
3
1
2
PBS-ID 4
2
2
0
2
3
1
2
CTM-ID 1
2
0
0
2
0
3
0
CTM-ID 2
2
0
0
2
0
2
0
CTM-ID 3
3
0
0
3
0
2
1
CTM-ID 4
3
0
0
2
0
1
0
104
Discussão
5. DISCUSSÃO
Nesse trabalho, demonstramos que a terapia celular xenogênica utilizando
CTMs murinas isoladas a partir da MO de camundongos da linhagem FVB GFP+ é
efetiva para o tratamento de queimadura experimental em ratos.
Para tanto, a MO dos camundongos foi isolada através do procedimento de
flushing e as CTMs foram purificadas principalmente pelo processo de aderência ao
plástico. O cultivo de CTMs a partir de MO de camundongos é relativamente bem
padronizado, porém a sabe-se que durante as primeiras passagens a população
celular obtida não é homogênea. Contaminantes hematopoiéticos são freqüentes
durante as primeiras passagens (NADRI e SOLEIMANI, 2009) e em nosso estudo
confirmamos esse fato.
As culturas utilizadas no experimento encontravam-se entre a terceira e a
quarta passagem. Em CTMs obtidas a partir de MO humana as culturas em terceira
passagem apresentam um excelente grau de pureza, porém a pureza ideal para a
cultura de CTMs murinas só é atingida em passagens mais tardias ou através do
cultivo em baixa densidade (NADRI e SOLEIMANI, 2009) o que seria inviável para
nosso trabalho já que a terapia celular em modelo de queimadura experimental
exige um grande número de células.
As populações celulares utilizadas no experimento encontravam-se na
terceira e na quarta passagens. Na quarta passagem, cerca de 80,11% das células
eram CD105+, 69,09% CD73+, 0,10% CD34+ e 9,46% CD45+ positivas, além de
apresentarem formato fibroblastóide típico de CTMs (figura 05 e 06A).
Apesar dos contaminantes, ao serem induzidas à diferenciação em adipócitos
e osteócitos in vitro, essas mesmas culturas, apresentaram sua multipotencialidade
preservada, diferenciando-se nos tipos celulares em questão
(figura 06),
demonstrando que a contaminação hematopoiética não foi capaz de afetar o
potencial de diferenciação em outros tipos celulares das CTMs.
Já durante a padronização do modelo de queimadura experimental em ratos,
maiores dificuldades foram encontradas. A literatura na área é controversa diferindo
quanto ao tempo de exposição, temperaturas utilizadas e gravidade da injúria
(SHUMAKOV, et al. 2003, MEYER, et al,. 1999).
105
Discussão
Primeiramente, visando uniformizar as queimaduras idealizamos uma chapa
de metal com controle digital de temperatura que foi confeccionada pela Oficina de
Precisão da Universidade de São Paulo, Campus Ribeirão Preto. Essa chapa
permite que durante a realização da queimadura (contato com a pele do animal) a
variação da temperatura seja mínima, cerca de 1-2˚C.
Outra dificuldade consistiu na determinação da profundidade e da extensão
das queimaduras em pele de rato. A classificação das queimaduras em
profundidade como: a. primeiro grau: queimaduras que atingem a derme; b. segundo
grau: queimaduras que afetam a derme e a epiderme; c. terceiro grau: queimaduras
que afetam além das três camadas da pele o tecido subcutâneo; d. quarto grau:
queimaduras que afetam outros tecidos além da pele; foi estabelecida para a pele
humana, porém a pele do rato é estruturalmente diferente da pele humana.
Para a determinação da extensão da queimadura é utilizada em humanos a
regra dos nove (figura 01), porém esse procedimento é perceptivelmente inviável em
ratos, devido às grandes diferenças anatômicas encontradas entre ambos.
Dessa forma, procedemos durante a padronização baseados nas situações
reais observadas em nossas condições. Realizamos um estudo piloto onde foram
testados dois tipos de queimaduras experimentais, a primeira utilizando a chapa de
metal a 100˚C por 20 segundos e a segunda utilizando a chapa de metal a 200˚C
por 25 segundos, alguns animais do grupo piloto foram sacrificados no dia seguinte
à realização das queimaduras e foram feitas necropsias e análises histológicas da
pele da região da queimadura, já outros animais foram acompanhados por sessenta
dias.
As necropsias, bem como as avaliações histológicas demonstraram que
ambas as queimaduras afetavam as três camadas da pele do rato, porém a
observação dos animais que não foram sacrificados demonstrou que os animais
submetidos à queimadura a 100˚C apresentavam 100% de sobrevida, além do
fechamento da ferida muito mais rápido quando comparado ao fechamento das
feridas apresentado pelos animais submetidos à queimadura a 200˚C.
Como o objetivo desse trabalho foi avaliar o potencial terapêutico das CTMs
em queimaduras graves, capazes de induzir efeitos sistêmicos próximos dos
observados em grandes queimados humanos, optamos pelo modelo experimental
de queimadura a 200˚C. Devido às dificuldades em classificar a queimadura em
106
Discussão
ratos, durante a realização deste trabalho adotamos apenas o termo queimadura
extensa e profunda.
A partir da padronização do modelo de queimadura procedemos com o
estudo experimental de utilização de CTMs para a terapia celular em nosso modelo
experimental, dessa forma, foram estabelecidos os grupos e subgrupos e realizadas
as
queimaduras
experimentais.
Os
animais
submetidos
às
queimaduras
experimentais foram mantidos em gaiolas individuais e não foram adotados
procedimentos como a reposição hidro-eletrolítica, antibioticoterapia ou analgesia.
A antibioticoterapia poderia interferir no resultado real dos experimentos e a
analgesia não foi necessária, pois queimaduras profundas são menos dolorosas que
queimaduras superficiais, já que as primeiras lesam as terminações nervosas. Foi
observado em alguns animais, uma atrofia transitória dos membros posteriores, esse
fato pode ter ocorrido devido à postura antálgica, lesão de nervo relacionado à
movimentação das patas ou lesão de vaso importante da região. Todos os animais
que apresentaram essa complicação foram excluídos do estudo.
Os animais que receberam as CTMs xenogênicas localmente, aparentemente
não desenvolveram o processo de rejeição das mesmas. É possível que os
contaminantes hematopoiéticos tenham originado algum tipo de resposta do
hospedeiro, porém as CTMs podem ter modulado essa resposta do hospedeiro,
permitindo a manutenção dessa população celular sem que fossem desenvolvidas
respostas agudas (BARTHOLOMEW, et al., 2002).
A primeira característica observada após o início do experimento foi que os
animais submetidos à terapia intradérmica com CTMs (CTM-ID) tiveram melhor
sobrevida (76,19%) em comparação aos animais controles do experimento onde foi
aplicado intradermicamente apenas PBS (PBS-ID), que tiveram uma sobrevida de
60,86%.
O soro dos animais submetidos a ambos os tratamentos foi coletado, porém
não foram realizadas dosagens de citocinas pró inflamatórias. Devido às
propriedades imunoregulatórias das CTMs (revisado por da SILVA MEIRELLES, et
al., 2009) é possível que as mesmas tenham regulado a resposta inflamatória
desenvolvida após a injúria térmica. Sabe-se que imediatamente após a queimadura
é induzida localmente uma resposta inflamatória exacerbada (O´SULLIVAN e
O´CONNOR, 1997), através do aumento da secreção de fatores antiinflamatórios
107
Discussão
como TGF-β e PGE2 as CTMs podem ter atuado diminuindo a exacerbação inicial
da resposta imunológica local e influenciando na sobrevida dos animais.
Na semana que se seguiu à injúria térmica todos os animais perderam peso,
isso ocorreu provavelmente devido a alterações comportamentais, bem como devido
a dificuldades durante a alimentação. Também pode ter ocorrido uma resposta
hipermetabólica, comum em indivíduos queimados, porém essa hipótese é menos
provável já que a partir da segunda semana os animais não só retomaram o peso
inicial
como
passaram
a
ganhar
peso
semanalmente
e
uma
resposta
hipermetabólica comumente duraria um maior período de tempo (HERNDON e
TOMPKINS, 2004).
Imediatamente após a queimadura, a região lesada deveria estar estéril,
porém os testes microbiológicos realizados imediatamente após a realização das
queimaduras demonstraram a presença de dois tipos de bactérias na região
queimada: Pseudomonas e bacilo gram negativo não fermentador, essas bactérias
possivelmente encontravam-se nas regiões do entorno das lesões fazendo parte da
microbiota normal da pele dos animais.
Algumas bactérias gram positivas como Staphylococcus sp. podem sobreviver
à grandes temperaturas principalmente por localizarem-se no interior das glândulas
sebáceas e folículos pilosos, dessa forma, são capazes de infectar a superfície
rapidamente, cerca de quarenta e oito horas após a injúria térmica (revisado por
CHURCH, et al., 2006).
Devido à rápida colonização bacteriana da pele, estabelecemos um período
intermediário entre o dia da realização do experimento e o sétimo dia (primeiro
período em que foram realizadas as outras análises) no qual avaliamos somente a
colonização das feridas, dessa forma, no terceiro dia foi encontrado no
microambiente da lesão um grande número de microorganismos, porém não foram
observadas diferenças entre os microorganismos colonizadores dos animais PBS-ID
e CTM-ID.
Os microorganismos presentes no primeiro dia avaliado (Pseudomonas sp. e
bacilo gram negativo não fermentador) se mantiveram presentes em ambos os
grupos e como esperado, três dias após a injúria térmica além desses dois
microorganismos observamos a presença de Staphylococus sp..
Transcorridos sete dias após injúria térmica foi observada através da análise
fornecida pelo programa Image J um aumento das áreas das lesões ocasionadas
108
Discussão
pelas queimaduras, esse fato ocorreu provavelmente devido à progressão da região
necrótica no sentido da borda da lesão para a pele saudável. Nesse período foi
observado o extravasamento de líquidos por regiões de fístulas, na maioria dos
animais de ambos os subgrupos.
O aumento da área das lesões na maioria dos animais não permitiu o cálculo
da porcentagem de cicatrização nos períodos iniciais pós injúria térmica. Dessa
forma, os resultados nesses períodos foram apresentados em pixels, (indicadores da
área das lesões fornecidos pelo programa Image J).
A região da ferida é rica em proteínas e o tecido avascular necrótico é o
microambiente ideal para a colonização e proliferação bacteriana, devido à
existência desse microambiente ideal, após injúria térmica, a região é rapidamente
colonizada, principalmente por bactérias endógenas. Cerca de cinco a sete dias
após a queimadura a região queimada passa a ser colonizada por outros
microorganismos, incluindo bactérias gram positivas e gram negativas provenientes
principalmente do trato gastrointestinal e respiratório do próprio paciente (revisado
por CHURCH, et al., 2006).
O aumento do tecido necrótico favoreceu o crescimento bacteriano nas
lesões, dessa forma, sete dias após a injúria térmica a região das lesões foi
intensamente colonizada. Além dos microorganismos que já se encontravam
anteriormente no local, foram observadas bactérias possivelmente provenientes do
trato gastrointestinal dos animais como Enterococcus sp. e Escherichia coli, ambas
pertencentes à família Enterobacteriaceae, essa família de bactérias é responsável
por cerca de 70% das infecções urinárias e 50% das septicemias (LEVY, 2004).
Sete dias após injúria não foram observadas diferenças significativas entre as
porcentagens de linfócitos T CD4 encontrados no baço dos animais, porém a
porcentagem de células T CD4 positivas no baço dos animais CTM-ID foi sutilmente
maior que a porcentagem de células T CD4 presentes no baço dos animais PBS-ID.
Já a porcentagem de células CD8+ no baço dos animais nesse período não foi
alterada entre os grupos PBS-ID e CTM-ID.
Quando avaliamos a resposta local, analisando a população de células T CD4
+
e CD8 na pele dos animais também não observamos diferenças significativas nas
proporções das mesmas entre os grupos, porém os animais PBS-ID apresentaram
um número um pouco maior tanto de células T CD4, quanto de células CD8+ na pele
nesse período inicial.
109
Discussão
As análises histopatológicas das lesões no sétimo dia após injúria térmica
demonstraram um alto grau de comprometimento estrutural na pele dos animais de
ambos os grupos, já que estruturas como epitélio e vasos sanguíneos foram
praticamente inexistentes. Nos animais CTM-ID um princípio de neo-epitelização
pôde ser observado, bem como o início de um processo inflamatório local, enquanto
nos animais PBS-ID esses dois processos estão ausentes nesse período.
A dosagem de MPO da região da ferida nesse período demonstrou que os
animais PBS-ID apresentaram um maior número de neutrófilos na região da lesão,
embora a diferença entre o número de neutrófilos na ferida dos animais PBS-ID e
CTM-ID não seja significativa. É possível que haja uma correlação entre o maior
número de linfócitos T CD4 na região da lesão dos animais PBS-ID com o maior
número de neutrófilos observado na mesma região, já que células T CD4 ao
exibirem um padrão de resposta do tipo TH1, secretam citocinas pró-inflamatórias
como IFN-γ que induzem a proliferação de neutrófilos.
Quinze dias após a injúria térmica os animais apresentavam grande
quantidade de tecido necrótico nas lesões ocasionadas por queimadura. As feridas
de
todos
os
animais
estavam
recobertas
por
uma
crosta
espessa
e
conseqüentemente, nesse período, um maior número de microorganismo foi
encontrado na área de pele lesada.
Nesse período foi observado também uma substituição dos microorganismos
encontrados inicialmente, representados por Pseudomonas sp. e bacilos gram
negativos não fermentadores, que possivelmente seriam colonizadores não
patogênicos, por microorganismos potencialmente patogênicos como Proteus sp.,
característicos do trato genito-urinário e responsáveis por graves infecções renais
(ALLISON, et al., 1992).
Sabe-se que o processo cicatricial é extremamente prejudicado em pacientes
queimados. Além de a própria ferida atuar como uma barreira mecânica impedindo a
chegada de citocinas e fatores de crescimento importantes para o processo de
cicatrização a síndrome da resposta antiinflamatória compensatória desenvolvida
após a SIRS causa imunossupressão sistêmica inibindo a fase inflamatória inicial,
importante para o desenvolvimento de uma boa resposta cicatricial (revisado por
ARTHUSON, 1996).
Dessa forma, quinze dias após o procedimento de queimadura experimental,
as úlceras tanto dos animais CTM-ID, quanto dos animais PBS-ID permaneciam com
110
Discussão
a área praticamente inalterada. Nesse período houve uma pequena diminuição das
mesmas com relação ao período de sete dias após a injúria térmica, porém, quando
comparadas ao tamanho inicial, as áreas das úlceras não apresentaram diminuição.
A análise da população de linfócitos T CD4 no baço dos animais demonstrou
que nesse período as diferenças numéricas na porcentagem desse tipo celular entre
os animais PBS-ID e CTM-ID diminuíram, porém os animais CTM-ID continuaram
apresentando um número um pouco mais elevado de linfócitos T CD4 no baço
quando comparado à porcentagem de linfócitos T CD4 do baço dos animais PBS-ID.
Já a análise das células CD8+ no baço dos animais apresenta correlação
inversa à observada para linfócitos TCD4. A população celular representada pelas
células CD8+ encontra-se levemente aumentada no baço dos animais PBS-ID
quando comparada a essa mesma população celular no baço dos animais CTM-ID.
Quando observamos a população de linfócitos T CD4 na região da ferida dos
animais nesse período, pudemos observar, da mesma forma que observado no baço
dos animais nesse mesmo período que o grupo CTM-ID apresenta uma maior
proporção desse tipo celular no tecido injuriado, apesar dessa diferença não ser
estatisticamente significante. Já a população celular CD8+ encontrada na região da
queimadura não diferiu entre os animais PBS-ID e os animais CTM-ID nesse
período.
A partir de análises histológicas das regiões das lesões, observamos que
quinze dias após a injúria térmica, os achados histopatológicos da região mais
externa das feridas, compreendida pela borda, estavam praticamente inalterados
entre os animais PBS-ID e CTM-ID. Nesse período pôde ser observado o início da
formação de epitélio, bem como um processo inflamatório modesto e o início da
deposição de colágeno na borda da lesão.
Já na região compreendida pela ferida propriamente dita, durante esse
período há o surgimento de tecido de granulação. O tecido de granulação é o
primeiro tecido a ser formado em regiões de epitélio lesado, apesar de ser um tecido
desorganizado, onde ainda não estão evidenciadas estruturas fundamentais da pele,
é um tecido extremamente importante, principalmente por ser um tecido
vascularizado. Além disso, estão presentes no tecido de granulação, células
imunologicamente competentes (revisado por WITTE e BARBUL, 1997).
Transcorridos quinze dias do início do experimento também foi observado
tanto na região das úlceras dos animais PBS-ID quanto na região das úlceras dos
111
Discussão
animais CTM-ID, grande presença de infiltrado inflamatório, porém não há diferença
na quantidade de infiltrado inflamatório entre os grupos. Já a presença de vasos
sanguíneos na região da lesão parece ser mais evidente nos animais CTM-ID.
As CTMs apresentam grande potencial angiogênico principalmente por a
secretarem VEGF. Em modelo animal de isquemia de membros em rato, foi
demonstrado que as CTMs são capazes de induzir a neo-vascularização e aumentar
o fluxo sanguíneo no membro isquêmico (AL-KHALDI, et al., 2003). CTMs também
foram capazes de aumentar a densidade capilar em modelo de isquemia de
miocárdio em ratos (NAGAYA, et al., 2004). Dessa forma, fatores pró-angiogênicos
secretados pelas CTMs podem ter induzido a neo-formação de vasos sanguíneos na
região da injúria térmica.
Quando investigamos o conteúdo de neutrófilos na região da lesão no décimo
quinto dia após a queimadura experimental, observamos que nesse período o
número desse tipo celular na região da injúria dos animais CTM-ID foi um pouco
elevado quando comparado ao número de neutrófilos existentes na região da ferida
dos animais PBS-ID, ao contrário do que foi observado no período inicial sete dias
após a realização da lesão por queimadura experimental.
Trinta dias após o início do experimento as feridas dos animais
permaneceram intensamente colonizadas destacando o surgimento nesse período
do microorganismo Staphylococcus aureus. S. aureus é encontrado comumente
infectando pacientes queimados, antes do emprego de antibioticoterapia o
microorganismo Streptococcus pyogenes era o patógeno predominantemente
encontrado em úlceras de queimados e a maior causa de mortalidade em
queimados graves. Após a introdução da penicilina S. pyogenes foi virtualmente
exterminado como causa de infecção em pacientes queimados. Atualmente o
principal microorganismo encontrado em úlceras ocasionadas por queimaduras é o
S. aureus (revisado por CHURCH, et al., 2006). Em estudo realizado com pacientes
queimados por um período de três anos na Suécia, S. aureus foi o microorganismo
que causou o maior número de infecções na região das lesões ocasionadas por
queimadura (APPERLGREN et al., 2002).
Já foram descritos no Brasil, casos de infecções causadas por S. aureus
parcialmente resistentes aos antibióticos mais potentes como a vancomicina e
relatos da capacidade que os Staphylococcus têm de desenvolver resistência a
112
Discussão
antibióticos, assim há a necessidade de uma identificação rápida e eficiente de todos
os casos em que esses microorganismos se apresentem (LEVY, 2004).
No período referente há trinta dias após a injúria térmica as úlceras dos
animais encontravam-se abertas e a maior parte das crostas já havia se
desprendido. Esse período foi o primeiro momento em que a diminuição das úlceras
ficou evidente. Esse fato foi confirmado pelos dados fornecidos pelo programa
Image J. Dessa forma, ao aplicarmos à área em pixels fornecida pelo Image J à
fórmula para cálculo da porcentagem de cicatrização pudemos observar nesse
período além do processo de reepitelização uma melhor porcentagem de
cicatrização nos animais CTM-ID quando comparada à porcentagem de cicatrização
dos animais PBS-ID, porém essa diferença entre os grupos não apresenta
relevância significativa.
Ao avaliarmos a população de linfócitos T CD4 no baço dos animais nesse
período, não foram observadas diferenças entre os animais PBS-ID e os animais
CTM-ID; o mesmo foi observado para a população de células CD8 + do baço dos
animais, trinta dias após injúria térmica. Já ao observarmos a população de linfócitos
TCD4 e de células CD8+ local, percebemos uma diminuição dessas duas
populações celulares nos animais CTM-ID. Essa diminuição foi mais evidente na
população celular CD8+ da pele dos animais da mesma forma que fora observado
em períodos anteriores.
As análises histopatológicas do trigésimo dia pós-queimadura, demonstraram
uma melhora do processo cicatricial de ambos os grupos, evidenciada pela presença
de epitélio neo-formado, tecido de granulação e vasos sanguíneos em todos os
animais, porém não houve diferenças histopatológicas entre os grupos PBS-ID e
CTM-ID nesse período.
Quanto ao conteúdo de neutrófilos na região da lesão as diferenças entre os
grupos PBS-ID e CTM-ID se tornaram mais perceptíveis nesse período, sendo que
os animais CTM-ID apresentaram um maior número de neutrófilos, no entanto, esse
resultado não apresenta relevância significativa provavelmente devido à grande
variação individual entre os animais de um mesmo grupo.
Sabe-se que neutrófilos são células da imunidade inata que apresentam
grande importância na erradicação de microorganismos, porém o pico da atividade
desse tipo celular ocorre em períodos muito iniciais, não sendo descritos picos tão
tardios como os observados nesse trabalho por outros pesquisadores em trabalhos
113
Discussão
com modelos de queimadura. Esse tipo celular poderia estar relacionado a uma
diminuição
do
conteúdo
microbiológico
das
lesões,
porém
as
análises
microbiológicas realizadas não nos permitem fazer essa correlação, já que não
foram observadas diferenças entre a colonização microbiológica dos animais PBS-ID
e CTM-ID.
Quarenta e cinco dias após a injúria térmica os microorganismos encontrados
nas feridas dos animais PBS-ID e nas feridas dos animais CTM-ID não diferiram
consideravelmente. Nesse período a bactéria Staphylococcus sp. estava presente
na maioria dos animais de ambos os subgrupos.
Já a análise da porcentagem de cicatrização demonstrou que a reepitelização
dos animais CTM-ID encontrava-se em estágio nitidamente avançado quando
comparada à porcentagem de cicatrização dos animais PBS-ID. A maioria dos
animais pertencentes ao grupo CTM-ID apresentavam uma taxa de cicatrização de
cerca de 80% nesse período, enquanto os animais do grupo PBS-ID apresentaram
cerca de 60% de porcentagem de cicatrização no período em questão. Essa
diferença foi estatisticamente significante (p=0.0179).
Transcorridos quarenta e cinco dias do início do experimento, a análise da
população celular TCD4 positiva e CD8 positiva do baço dos animais não
demonstrou diferenças entre os grupos, já na pele dos animais foi observado um
aumento não significativo tanto de células TCD4 positivas, quanto de células CD8
positivas nos animais do grupo PBS-ID.
As análises histológicas do período também não demonstraram grandes
diferenças entre os achados histopatológicos de animais PBS-ID e CTM-ID, nesse
período foi observada uma grande presença de vasos sanguíneos e tecido de
granulação em ambos os grupos. Os animais CTM-ID só começaram a apresentar
deposição de colágeno na região da borda da lesão remanescente no período
referente a quarenta e cinco dias do início do experimento.
O ensaio de dosagem de MPO da região da ferida nesse período demonstrou
que existia uma quantidade numericamente maior de neutrófilos na região
remanescente de ferida dos animais CTM-ID, porém essa diferença não apresentou
relevância significativa devido à grande variância observada. Nesse período também
não foi possível correlacionar o grande número de neutrófilos a aumento ou
diminuição de infecção.
114
Discussão
Picos da quantidade de neutrófilos na pele queimada são observados vinte e
quatro horas após a injúria térmica permanecendo os valores elevados por até uma
semana após a injúria em modelo de queimaduras extensas em ratos (BASKARAN,
et al., 1999). É provável que tenhamos perdido o primeiro pico de ativação de
neutrófilos na pele queimada por não termos avaliado a produção de MPO em
períodos anteriores à sete dias.
O processo de cicatrização requer o balanço entre a acumulação de
componentes colágenos e seu remodelamento pela matriz de metaloproteases
(LOBMANN et al., 2002). Neutrófilos secretam colagenases do tipo metaloproteases
(MMPs) ativamente, dessa forma o papel do aparecimento tardio de neutrófilos na
região da pele injuriada pode estar relacionado ao processo de remodelamento da
ferida através da secreção de colagenases e não ao controle de infecções. As
colagenases, como as MMPs são importantes para a degradação de componentes
da matriz extracelular e conseqüente diminuição de fibrose local (revisado por GILL
e PARKS, 2008), em contraste a elevada produção de colagenases está associada
à má cicatrização de úlceras crônicas em diabéticos (LOBMANN, et al., 2002).
No sexagésimo dia após injúria térmica, grande parte das úlceras dos animais
encontrava-se em processo final de reepitelização, porém nesse período as úlceras
ainda apresentavam intensa colonização, sendo que os microorganismos do gênero
Staphylococcus continuaram sendo os colonizadores mais representativos.
Nesse período final, os dados fornecidos pelo Image J demonstraram que
grande parte das úlceras dos animais do grupo CTM-ID encontravam-se totalmente
reepitelizadas (cerca de quatro animais dos sete avaliados), ao contrário do
observado nas úlceras dos animais PBS-ID, onde apenas um animal apresentou em
torno de 100% de reepitelização, esse resultado demonstrou-se estatisticamente
significativo. As análises histopatológicas realizadas nesse período confirmaram a
presença de maior reepitelização nos animais CTM-ID.
Dessa forma, a terapia celular com CTMs em modelo de queimadura
experimental grave foi efetiva, promovendo não só um aumento da sobrevida dos
animais pós-injúria térmica, como acelerando o processo cicatricial. Os mecanismos
envolvidos nesse processo não foram elucidados durante o estudo.
É descrito que a resposta de linfócitos TCD4 do tipo TH1 em queimados é
protetora. Essa resposta é desenvolvida mediante o aumento da secreção de
citocinas do tipo IL-2 e IFN-γ. Porém, o trauma por queimadura comumente induz a
115
Discussão
inflamação exacerbada e o desenvolvimento de SIRS nos pacientes em um período
inicial pós-trauma (revisado por, O´SULLIVAN e O´CONNOR, 1997).
Conseqüentemente, em um segundo momento, em resposta à SIRS
pacientes submetidos a grandes traumas, como pacientes queimados desenvolvem
a síndrome da resposta antiinflamatória compensatória (SRAC) visando desativar o
sistema imunológico e culminando com a imunossupressão sistêmica (revisado por
WARD, et al., 2008).
Dessa forma freqüentemente observa-se que em pacientes queimados ocorre
uma polarização da resposta de linfócitos do TCD4 para o padrão TH2,
acompanhada da produção de citocinas antiinflamatórias como IL-4 e IL-10,
características desse subtipo. Além disso, acompanhando esse padrão de resposta
prejudicial para o grande queimado, é observado um aumento da proporção de
linfócitos TCD8. Essa alteração do padrão de resposta imunológica e desequilíbrio
entre as populações de linfócitos T CD4 e T CD8 em pacientes queimados é
associada ao mau prognóstico da patologia (revisado por, O´SULLIVAN e
O´CONNOR, 1997).
Baue et al., 1999, demonstraram a ocorrência dessas alterações nas
proporções dos subtipos de linfócitos no sangue periférico de pacientes queimados,
demonstrando que a polarização da resposta de linfócitos TCD4 para o padrão TH2
está associada ao aumento da proporção de linfócitos TCD8 e ao aumento da
mortalidade nos pacientes, além disso, o grupo observou a existência de
discrepâncias do tipo de resposta imunológica desenvolvida entre os indivíduos dos
grupos analisados.
Em nosso trabalho, o aumento não significativo da população de células T
CD4 e a conseqüente diminuição da população de células CD8 positivas foi
observada ao longo da maior parte do tempo avaliado para o grupo submetido à
terapia celular com CTMs, podendo indicar uma possível manutenção do padrão de
resposta do tipo TH1.
As CTMs podem ter atuado em um período inicial secretando fatores
antiinflamatórios e diminuindo a ocorrência de SIRS, dessa forma, os animais CTMID apresentam uma menor SRAC o que seria suficiente para impedir o
desenvolvimento de um padrão de resposta imunológica do tipo TH2, diminuindo
conseqüentemente a imunossupressão pós-trauma térmico.
116
Discussão
Citocinas diretamente relacionadas ao padrão TH1 como IFN-γ estimulam a
proliferação de neutrófilos o que explicaria o aumento desse tipo celular nas feridas
dos animais CTM-ID e esses por sua vez, seriam importantes para a qualidade e
rapidez do processo cicatricial.
Dessa forma, em nosso modelo de queimadura experimental as CTMs podem
estar sendo efetivas promovendo uma maior rapidez da cicatrização não só através
de seu potencial angiogênico e regenerativo, mas também através de seu potencial
imunomodulatório, já que em queimados a dificuldade de cicatrização está
comumente relacionada ao estado de imunossupressão sistêmica desenvolvida pósSIRS.
Porém maiores investigações mostram-se necessárias a fim de confirmar
essas hipóteses.
117
Conclusões
6. CONCLUSÕES
O tratamento intradérmico local com CTMs xenogênicas, isoladas a partir de
MO de camundongos FVB GFP+ interferiu positivamente na sobrevida de ratos
Wistar submetidos à injúria térmica grave.
As CTMs foram efetivas ao promoverem uma melhora da cicatrização, bem
como o fechamento mais rápido das feridas ocasionadas por queimaduras a partir
do quadragésimo quinto dia após injúria térmica, sendo que transcorridos sessenta
dias a partir da realização das queimaduras experimentais, a maioria das lesões
térmicas dos animais tratados com a aplicação intradérmica de CTMs já havia
reepitelizado, ao contrário do observado nos animais controles do experimento.
Histopatologicamente a melhora na cicatrização dos animais tratados
intradermicamente também pôde ser observada, sendo que esse grupo apresentou
um processo cicatricial mais precoce e dinâmico quando comparado ao grupo
controle do experimento (aplicação intradérmica de PBS). Esse processo foi
caracterizado principalmente pela presença de inflamação local, tecido de
granulação e vasos sanguíneos em um primeiro momento nos animais CTM tratados
e em momento posterior nos animais que receberam aplicação intradérmica de PBS.
Não foram observadas diferenças entre os microorganismos colonizadores
das feridas dos animais tratados intradérmicamente com CTMs e dos animais
submetidos à aplicação intradérmica de PBS, porém foram observadas alterações
constantes da microbiota do local da injúria de acordo com a evolução das lesões e
o tempo pós queimadura.
Ao avaliarmos as populações celulares T CD4+ e CD8+ do baço dos animais
pôde-se observar que a manutenção do equilíbrio entre células T CD4+ e células
CD8+ característico da homeostase do sistema imunológico foi aparentemente
mantido nos animais queimados e submetidos à aplicação intradérmica de CTMs,
enquanto um desbalanço nessa proporção, característico da patologia da injúria
térmica foi observado ao avaliarmos essas populações celulares no baço dos
animais do grupo controle.
Alterações nas populações celulares TCD4+ e CD8+ positivas na região da
pele injuriada foram observadas com o transcorrer do processo cicatricial tanto nos
118
Conclusões
animais submetidos à aplicação intradérmica de PBS, quanto nos animais
submetidos à aplicação intradérmica de CTMs.
Um aumento do número de neutrófilos por grama de tecido proveniente do
local da injúria foi observado nos animais tratados com CTMs, esse fato
aparentemente não está relacionado às infecções na região da injúria térmica. O
aparecimento tardio de neutrófilos no local da lesão pode estar associado à
secreção de colagenases necessárias durante o processo de remodelamento da
ferida.
119
Referências
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