ANA PAULA PIRES FREITAS IDENTIFICAÇÃO DO FITOPLÂNCTON COMO INDICADOR BIOLÓGICO EM UM BANHADO CONSTRUÍDO PARA O TRATAMENTO DA DRENAGEM ÁCIDA DE MINAS - DAM CANOAS, 2007 ANA PAULA PIRES FREITAS IDENTIFICAÇÃO DO FITOPLÂNCTON COMO INDICADOR BIOLÓGICO EM UM BANHADO CONSTRUÍDO PARA O TRATAMENTO DA DRENAGEM ÁCIDA DE MINAS - DAM Trabalho de Conclusão apresentado à banca examinadora do Curso de Ciências Biológicas, do UNILASALLE – Centro Universitário La Salle, como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas, sob orientação do Prof. Ms. Giovani André Piva e co-orientação do Prof. Dr. Ivo André Homrich Schneider. CANOAS, 2007 TERMO DE APROVAÇÃO ANA PAULA PIRES FREITAS IDENTIFICAÇÃO DO FITOPLÂNCTON COMO INDICADOR BIOLÓGICO EM UM BANHADO CONSTRUÍDO PARA O TRATAMENTO DA DRENAGEM ÁCIDA DE MINAS – DAM Trabalho de Conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas – Bacharelado, do Centro Universitário La Salle – UNILASALLE, pelo avaliador: Prof. Ms. Giovani André Piva UNILASALLE Canoas, 13 de julho de 2007 DEDICATÓRIA Dedico este meu trabalho de conclusão de curso a toda a minha família que acreditou na minha capacidade, e aos meus amigos, colegas e professores que me ajudaram ao longo destes anos de estudo. AGRADECIMENTOS A todos aqueles que direta ou indiretamente me incentivaram e me apoiaram durante todo o período da minha graduação; A minha família, especialmente a minha mãe Rosa Maria Pires Freitas, por toda a compreensão e dedicação; Ao meu namorado, Luiz Fernando Bohm que se mostrou um grande companheiro, tendo muita paciência e compreendendo minhas ausências; Aos meus colegas que agora se tornaram amigos, em especial ao meu grande amigo Marcio Machado Andrade que colaborou neste trabalho; Aos professores do Unilasalle, principalmente meu orientador Giovani André Piva que não foi apenas um Mestre, mas também um amigo; Aos colegas do Laboratório de Estudos Ambientais para Metalurgia-UFRGS, em especial ao Prof. Dr. Ivo Schneider por ter me dado um voto de confiança; A minha colega e amiga Beatriz Ferraz por ter me dado muito apoio enquanto precisava me ausentar do PPGEM; A todos os meus chefes que nesse longo período de estudos, souberam compreender a minha ausência. RESUMO O ambiente aquático sofre influencia de vários microrganismos, os quais muitos são usados para indicação da qualidade de água. As algas são diretamente afetadas pela eutrofização do ambiente, ocorrendo com isso um rápido crescimento e multiplicação da população, dominação por uma(s) espécie(s) e/ou floração de algas, condições estas que indicam deterioração na qualidade da água. Essa eutrofização do ambiente causa alteração na qualidade da água, incluindo a redução de oxigênio dissolvido, e a perda das qualidades cênicas. Carga elevada de nutrientes, o tempo longo de retenção da água, a estratificação e temperatura elevada são os principais fatores que influenciam na formação e na intensidade das florações. O estudo foi realizado a partir do sistema piloto de tratamento que foi implantado junto à Mina Verdinho de propriedade da companhia mineradora Carbonífera Criciúma S.A.. Este trabalho teve a finalidade de identificar e relacionar os gêneros de algas presentes no banhado construído para o tratamento da DAM gerada na região da carbonífera à qualidade do sistema aquático. Quanto menor a diversidade, maior a poluição do sistema. De acordo com os resultados encontrados, podemos perceber que mesmo com o tratamento realizado na DAM oriunda da carbonífera, a qualidade do efluente lançado nas bacias da região carbonífera não está de acordo com os parâmetros legais de lançamento permitidos pela Resolução CONAMA 357. Além disso, o fato da floração das algas no banhado construído para o tratamento da DAM corrobora a necessidade de haver monitoramento e um tratamento mais específico do efluente. Palavras-chave: Florações; Qualidade de água; Drenagem Ácida de Minas; Banhado Construído. ABSTRACT The aquatic environment suffers influences of some microorganisms, which many are used for the indication of water quality. The seaweeds are directly affected by the eutrophy of the environment, occurring consequently a fast growth and the multiplication of the population, domination by some species and/or seaweed budding, conditions that indicate deterioration in the water quality. This environment eutrophy causes alteration in the water quality, including reduction of dissolved oxygen and loss of scenic qualities. High quantity of nutrients, long time of water retention, stratification and high temperature, are the main factors, which influence on the formation and buddings intensity. This study was performed based on a pilot system of treatment implanted on Mina Verdinho, property of Mineradora Carbonífera Criciúma S.A. This paper had the purpose of identify and connect the seaweed sorts present in the swamp constructed for DAM’s treatment generated in carboniferous region to the aquatic system quality. The vaster the diversity is, the higher the system pollution is.According to the results, we can notice that even with the treatment executed in DAM of the carboniferous, the quality of the effluent poured into the carboniferous region basins is not in accordance with the legal parameters of outpouring allowed by CONAMA 357 Resolution. Moreover, the fact of the seaweed budding in the constructed swamp for DAM’s treatment, corroborates the necessity of monitoring and a more specific treatment of the effluent. Keywords: Buddings; Water quality; Acid draining of Mines; Constructed swamp. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................9 2 PLANETA ÁGUA ...............................................................................................11 2.1 Água, um bem em extinção..............................................................................12 2.2 Gestão de águas. ..............................................................................................12 2.3 O Bem Público ..................................................................................................13 3 AMBIENTE AQUÁTICO .....................................................................................14 3.1 Lagos .................................................................................................................14 3.2 Áreas alagadas e pântanos..............................................................................15 3.3 Banhado.............................................................................................................16 4 CARACTERÍSTICAS DO MEIO .........................................................................18 4.1 Morfologia do ambiente....................................................................................18 4.2 Bacia carbonífera de Santa Catarina...............................................................18 5 ÁGUA E EFLUENTES........................................................................................20 5.1 Água para uso industrial ..................................................................................20 5.2 Geração de efluentes na indústria ..................................................................20 5.3 Drenagem ácida de minas – DAM....................................................................21 6 QUALIDADE DA ÁGUA .....................................................................................23 6.1 Legislação - recursos hídricos ........................................................................24 6.2 Comunidade fitoplanctônica............................................................................25 6.2.1 Algas em sistemas aquáticos ........................................................................26 6.2.2 Chlorophyta ...................................................................................................26 6.2.3 Cianobactérias ..............................................................................................27 6.2.4 Eutrofização ..................................................................................................29 6.2.5 Fatores que afetam o desenvolvimento do fitoplântcon ................................30 6.2.6 Luz.................................................................................................................30 6.2.7 Interações algais ...........................................................................................31 7 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................33 7.1 Característica do efluente ................................................................................33 7.2 Área de estudo ..................................................................................................34 8 7.3 Variáveis químicas............................................................................................36 7.4 Variáveis biológicas..........................................................................................37 8 RESULTADOS ...................................................................................................38 8.1 Temperatura ......................................................................................................38 8.2 Potencial hidrogeniônico (pH) .........................................................................39 8.3 Oxigênio dissolvido (OD) .................................................................................39 8.4 Ferro...................................................................................................................39 8.5 Manganês ..........................................................................................................40 8.6 Fitoplâncton ......................................................................................................40 9 DISCUSSÃO.......................................................................................................42 9.1 Variáveis físico-químicas da água...................................................................42 9.2 Variáveis biológicas..........................................................................................43 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................45 REFERÊNCIAS.........................................................................................................46 APÊNDICE A – espécies de algas componentes do fitoplâncton encontrado no banhado construído na Mina do Verdinho............................................................49 1 INTRODUÇÃO A vida na água é muito influenciada pelos microrganismos, eles são encontrados em quase todos ambientes aquáticos. A reação sensível de um microrganismo frente à qualidade do seu ambiente pode ser usada como indicação de qualidade ou não. A crescente expansão demográfica e industrial tem aumentado à necessidade de utilização de água doce, por tanto devemos ter maior prioridade a preservação, no controle e na utilização racional das águas, desenvolvendo e aperfeiçoando as técnicas de utilização, tratamento e recuperação de nossos mananciais. A região carbonífera de Santa Catarina é considerada um importante mercado produtor e consumidor de carvão mineral. A poluição hídrica causada pelas drenagens ácidas é provavelmente o impacto mais significativo das operações de mineração, beneficiamento e rebeneficiamento (ALEXANDRE; KREBS apud FIRPO, 2007, p. 01) fato este que tem demonstrado significativo impacto nas três bacias hidrográficas desta região: a Bacia do Rio Araranguá, do Rio Tubarão e do Rio Urussanga. Os rejeitos ricos em sulfetos de ferro oxidam-se em presença do ar, da água e da ação de bactérias Thiobacillus ferrooxidans, produzindo a acidificação de drenagens e a dissolução de metais, originando assim a drenagem ácida de mina (DAM). Esse processo pode ocorrer tanto em minas abandonadas ou em operação. Essa acidificação causa impacto nos recursos hídricos e crescimento vegetal, entre outros. De forma a impedir os danos causados pela DAM, tratamentos ativos têm sido aplicados aos efluentes das plantas de beneficiamento. Tais tratamentos estão baseados na adição de reagentes alcalinos (cal virgem ou hidratada e soda cáustica) ou mesmo rejeitos alcalinos de processos industriais capazes de elevar o 10 pH do efluente e remover metais em solução via precipitação (SCHNEIDER apud FIRPO, 2007, p. 01). As algas são diretamente afetadas pelos efluentes químicos ou domésticos. Excesso de nutrientes com N e P, causa eutrofização do ambiente, ocorrendo com isso um rápido crescimento e multiplicação da população, dominação por uma(s) espécie(s) e/ou floração de algas, condições estas que indicam deterioração na qualidade da água. A determinação da disponibilidade biológica de N e P, as mudanças nessa carga colaboram para avaliação do impacto ambiental das descargas de efluentes. Baseado nos gêneros presentes de algas, no banhado construído, para o tratamento da DAM na região da carbonífera, podemos avaliar a qualidade do sistema aquático. Quanto menor a diversidade, maior a poluição do sistema. 2 PLANETA ÁGUA Com cerca de dois terços de sua superfície dominados pelos vastos oceanos, nosso planeta deveria se chamar água. Ele é formado por 97,5% de água oceânicas, 2,493% de água doce de difícil acesso (encontradas nas geleiras ou regiões subterrâneas) e 0,007% de água doce de fácil acesso para o consumo (rios, lagos e na atmosfera).1 As fontes hídricas, embora, sejam abundantes, são freqüentemente mal distribuídas na superfície do planeta. Em algumas áreas, a oferta é muito menor do que a demanda, com isso, as retiradas são elevadas, fazendo com que a disponibilidade superficial de água esteja sendo reduzida e os recursos subterrâneos rapidamente esgotados2. A água tem muito valor econômico, social, essencial à existência e bem estar do homem e dos ecossistemas do planeta. Infelizmente a escassez d’água tem sido intensificada e afetada pela aceleração da contaminação de recursos d’água potável, especialmente em regiões de urbanização intensa. Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo a água deve ser manipulada com racionalidade, preocupação e parcimônia. 1 UNIVERSIDADE DA ÁGUA. Água no Planeta. Tucuruvi, 2003. Disponível em <http://www.uniagua.org.br/website/default.asp?tp=3&pag=aguaplaneta.htm>. Acesso em: 01 mar. 2007 2 FREITAS, Marcos Aurélio Vasconcelos de; SANTOS, Afonso Henriques Moreira. Importância da Água e da Informação Hidrológica. In: O ESTADO DAS ÁGUAS NO BRASIL – Parte 1: Perspectivas de gestão e Informação de Recursos Hídricos, 1999. Disponível em <http://www.mma.gov.br/port/srh/acervo/publica/doc/oestado/texto/13-16.html>. Acesso em: 27 mar. 2007 12 2.1 Água, um bem em extinção. De todos os recursos naturais, a água é um bem mais precioso. Seus múltiplos usos são indispensáveis a um largo espectro das atividades humanas, onde se destacam, entre outros, o abastecimento público e industrial, a irrigação agrícola, a produção de energia elétrica e as atividades de lazer e recreação, bem como a preservação da vida aquática. A grande necessidade de utilização de água doce tem aumentado de maneira exponencial. Na falta deste recurso ou a sua presença em quantidade ou qualidade inadequadas têm sido um dos principais fatores limitantes ao crescimento social e econômico de várias regiões do Brasil e do mundo. A crescente expansão demográfica e industrial observada nas últimas décadas trouxe como conseqüência o comprometimento das águas dos rios, lagos e reservatórios. Muito do aumento da demanda d’água ocorre nos países em desenvolvimento, onde o crescimento populacional aliado a expansão industrial e agrícola é ainda maior. Todavia, o consumo per capita continuará a ser muito mais elevado nos países industrializados. Quando o padrão espacial de disponibilidade de água – ou seja, a distribuição dos locais onde ela será disponível – não está adequada ao padrão espacial das demandas dos centros de consumo – ou seja, a distribuição dos locais onde existem demandas relacionadas às águas – a solução para a satisfação das demandas é a procura de água em locais onde seja disponível. Isto pode levar a busca ao subsolo ou a superfície, em outros locais. (PORTO et al., 1997, p. 15). A disponibilidade de água doce na natureza é limitada. Deve-se, por tanto dar maior prioridade a preservação, o controle e a utilização racional das águas. 2.2 Gestão de águas. Para preservar e garantir o acesso à suas reservas e corpos hídricos, nos diversos pontos do território brasileiro e às gerações atuais e futuras, o Brasil deverá promover uma eficiente gestão da água, deve ser objeto de um plano que contemple os múltiplos usos desse recurso, desenvolvendo e aperfeiçoando as técnicas de utilização, tratamento e recuperação de nossos mananciais. Um bom conhecimento das necessidades de seus diversos usuários e da capacidade de oferta e renovação 13 de suas fontes naturais são fundamentais para a definição dos marcos regulatórios principais e da capacidade de suporte (retirada) de cada bacia hidrográfica. As alterações da cobertura vegetal dos solos e a implantação de obras de captação, regularização e despejo de efluentes nos corpos d’água e seus resultados para a bacia, usuários e atingidos, necessitam da discussão prévia e acompanhamento permanente, por parte da sociedade envolvida. A redução do desperdício d’água, a nível de poder público, empresariado e sociedade civil, é uma responsabilidade difusa, cada dia mais presente em nosso cotidiano. Assim, conforme LANNA apud PORTO et al. (1997, p. 83), o gerenciamento de oferta das águas acha-se dividido, por questões de apresentação, em duas classes – quantidade e da qualidade. Isso não significa que estes gerenciamentos devem ser separados. Ao contrário, é necessário enfatizar-se a necessidade de que eles sejam realizados de forma articulada, pois uma afeta a outra. A derivação de água reduz o seu volume e a capacidade de diluição dos despejos, comprometendo a qualidade. O despejo de resíduos e a conseqüente degradação da qualidade da água poderão torná-la inadequada para os usos que nela são supridos. Ambas as situações poderão comprometer o atendimento das demandas hídricas, sob ambos os aspectos: quantitativo e qualitativo. 2.3 O Bem Público De acordo com a legislação de Recursos Hídricos do Estado do Rio Grande do Sul, a Constituição Federal de 1988 definiu as águas como bens públicos e colocou os corpos d’água sob os domínios federal e estadual. São estaduais os rios que nascem e têm foz em território de um Estado e as águas subterrâneas. Os demais corpos d’água encontram-se sob o domínio da União. É importante frisar que estes dispositivos dizem respeito à água e não às áreas das bacias hidrográficas. Poderá haver uma bacia hidrográfica (p. ex. Bacia do Rio Uruguai) nos rios sob o domínio estadual e federal, exigindo a construção de uma forte articulação entre os dois níveis de poder. O reconhecimento da relevância da água e de sua escassez quantitativa e qualitativa, para atender às demandas humanas e dos ecossistemas, tem levado diversos Estados e a união ao desenvolvimento de Sistemas de Gestão de Recursos Hídricos. 3 AMBIENTE AQUÁTICO Segundo Esteves (1998, p. 94) o ambiente aquático apresenta certas características que lhe conferem peculiaridades tais como: a) Alta capacidade para solubilização de compostos orgânicos e inorgânicos, possibilitando que os organismos, especialmente os autotróficos, possam absorver nutrientes por toda a superfície do corpo. b) Gradientes verticais e, em certos casos, gradientes horizontais, que se tornam evidentes através da distribuição desigual da luz, nutrientes, temperatura e gases (e. g., oxigênio dissolvido e gás carbônico). A distribuição desigual destas variáveis no ambiente aquático tem grandes conseqüências na distribuição dos organismos. c) O baixo teor de sais dissolvidos típico de ambientes de água doce faz com que a maioria dos organismos que habitam estes ambientes seja hipertônica em relação ao meio, sendo necessárias, portanto, adaptações no sentido de manter o equilíbrio osmótico entre os líquidos internos e o meio. d) Alta densidade e viscosidade da água têm grande significado para a locomoção dos organismos no meio aquático, uma vez que a água é 775 vezes mais densa do que o ar. Para reduzir o efeito da resistência do meio à locomoção os organismos aquáticos apresentam profundas adaptações morfológicas fisiológicas. 3.1 Lagos Os lagos atualmente representam redes hidrográficas seccionadas. As dimensões variam desde pequenos lagos com 1-2 km2 até lagos com 28 km2 e 15 profundidade de aproximadamente 30 metros. Este sistema foi considerado como um paradigma para a compreensão de processos geomorfológicos que deram origem a lagos de diferentes profundidades, morfometrias e dimensões. Estabilidade térmica, de 8 a 9 meses seguida de isotermia, no inverno (2-3 meses) é devida ao aquecimento e resfriamento térmico, ao efeito das águas de precipitação que produzem gradientes verticais acentuados de densidade e à ausência de ventos. Ciclos diurnos de temperatura mostram a importância destes processos no controle químico e biológico nos lagos. 3.2 Áreas alagadas e pântanos Os grandes sistemas de águas interiores do continente sul americano incluem muitas áreas de transição tais como: várzeas, lagos rasos permanentes ou temporários, e pântanos em grandes deltas internos. Áreas alagadas periodicamente são comuns em todos os sistemas de grandes rios da América do Sul. O total de áreas alagadas nas regiões tropicais e subtropicais do Brasil é de aproximadamente 1.000.000 km2, considerando-se todos os tipos (temporários e permanentes) e todas as regiões. A estas áreas alagadas interior deve-se também adicionar as extensas regiões de mangue que se estendem até 30° latitude-sul. Estas regiões alagadas costeiras, com lagos permanentes, pântanos de águas doces e salobras, formam importantes sistemas de transição. Entre as águas interiores e os sistemas marinhos, sendo áreas de maior produtividade primária e regiões de reprodução para peixes e crustáceos, além de funcionarem como recipientes de matéria orgânica dissolvida e particulada que tem como origem as próprias matas de mangue e a Floresta Atlântica nas elevações adjacentes. As áreas alagadas têm um importante papel econômico, sendo nessas áreas que se reproduzem e desenvolvem elevadas biomassas de peixes, répteis, pássaros e mamíferos, e também macrófitas aquáticas emersas e submersas. 16 3.3 Banhado Banhadas são áreas alagadas permanente ou temporariamente, conhecidos na maior parte do país como brejos, são também denominados de pântanos, pantanal, charcos, varjões e alagados, entre outros. A FEPAM, instituição responsável pelo licenciamento ambiental no Rio Grande do Sul, usa a definição de Junk para zonas que correspondem a banhados e áreas úmidas. Estas são "zonas de transição terrestre-aquáticas que são periodicamente inundadas por reflexo lateral de rios e lagos e/ou pela precipitação direta ou pela água subterrânea e que resultam num ambiente físico-químico particular que leva a biota a responder com adaptações morfológicas, anatômicas, fisiológicas, fenológicas e/ou etológicas e a produzir estruturas de comunidades características para estes sistemas” (RIO GRANDE DO SUL, 2003). Um banhado construído consiste em uma bacia devidamente projetada contendo água, substrato e, na maioria das vezes, vegetação além de microorganismos e invertebrados aquáticos os quais se desenvolvem naturalmente. Pela interconexão com os demais componentes a água é o mais importante componente para o sucesso ou fracasso obtido pelos banhados construídos. O sedimento e lixo acumulado pelo substrato, normalmente composto por solo, areia, brita e matéria orgânica (fonte de carbono para suportar atividade microbiana), em função das baixas velocidades da água e da alta produtividade típica destes ambientes. Também, dá suporte à vegetação, proporcionando sítios para transformações químicas e bioquímicas e armazenando poluentes. A vegetação reflete sobre a dinâmica de nutrientes e metais, do substrato, limitando a canalização do fluxo das águas, reduzindo a velocidade da água, agregando oxigênio dissolvido às águas (principalmente algas), a sedimentação de material em suspensão, absorve carbono, nutrientes e metais incorporando-os ao tecido vegetal transferindo gases da atmosfera ao sedimento (e. g. o oxigênio criando pequenos sítios oxidados). As espécies normalmente utilizadas para a construção dos banhados são dos gêneros Scirpus, Efeocharis, Cyperus, Juncu, Phragrnites e Typha. Por serem grande depósitos de carbono orgânico e de nutrientes, os microorganismos presentes nos banhados (bactérias, fungos, protozoários, alga) são responsáveis pela transformação de um grande número de substâncias orgânicas e inorgânicas 17 em substâncias inócuas ou insolúveis, alterando, assim as condições de oxirredução do substrato, envolvidas no ciclo de nutrientes. Devido a serem corpos de água abertos à atmosfera, os banhados construídos, são influenciados pelo clima e tempo. Podendo assim, ter sua eficiência diminuída durante chuva intensa, em função do aumento da vazão e diminuição do tempo de contato. 4 CARACTERÍSTICAS DO MEIO O Brasil é dominado por grandes rios, extensas regiões de várzeas a eles associadas, áreas alagadas pantanosas e lagos rasos. Os grandes rios têm grande importância ecológica, econômica e social, drenando alguns, vastas áreas com escassa população (menos de 1 habitante por km2 - Amazonas) outros com grande concentração populacional (superior a 400 habitantes por km2). 4.1 Morfologia do ambiente Segundo Sperling, (apud PÁDUA, 2006, p.97) as características limnológicas de um ambiente aquático têm influência da sua morfologia, condicionando a interação dos componentes físicos, químicos e biológicos do sistema. O aspecto mais importante refere-se à ocorrência de distintos padrões de mistura da coluna d’água conforme as características físicas do ambiente. Esta mistura fortemente influenciada pela configuração morfológica do ambiente aquático constitui-se no principal fator que regula a distribuição de compostos químicos e de organismos na massa líquida. Além disso, a ocorrência de estratificação térmica, que influencia a química da coluna d’água e o tempo de residência são informações que podem contribuir para o conhecimento desses ambientes. 4.2 Bacia carbonífera de Santa Catarina Assim, conforme Barbosa et al (2001 p. 7), a Bacia Carbonífera de Santa Catarina, localizada a sudeste do estado, estende-se das proximidades de Morro dos Conventos – Arroio Silva, no litoral ao sul, até as cabeceiras do rio Hipólito, ao 19 norte. No limite oeste, atinge Nova Veneza, e a leste, a linha natural de floramento vai até Lauro Müller e Brusque do Sul. A Bacia possui um comprimento conhecido de 95 km e uma largura média de 20 km, compreendida na área delimitada pelas coordenadas 28011’ a 29°03’ de latitude sul e 49°10’ a 49°37’de longitude oeste (Figura 1). Abrange os municípios de Orleans, Lauro Müller, Urussanga, Siderópolis, Treviso, Cocal do Sul, Içara, Morro da Fumaça, Criciúma e Forquilhinha (JICA/SDM/FATMA apud FIRPRO, 2007, p. 5) Figura 1 – Mapa de localização da Região Carbonífera de Santa Catarina Fonte: Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), 2001 5 ÁGUA E EFLUENTES 5.1 Água para uso industrial As diversas atividades desenvolvidas pelo ser humano, são grandes consumidoras de água, principalmente aquelas relacionadas à transformação e o processamento dos recursos naturais e industriais. De acordo com Mierzwa e Hespanhol (2005, p. 14) dependendo do processo industrial a água pode ser tanto matéria-prima, incorporada ao produto final, como um composto auxiliar na preparação de matérias-primas, fluido de transporte, fluído de aquecimento e/ou refrigeração ou nos processos de limpeza de equipamentos etc. Os padrões de qualidade para a água industrial dependem de como ela será aplicada. Esses padrões podem ser mais restritivos do que os padrões de qualidade da água para o consumo humano. Existem indústrias que precisam de água com diversos padrões de qualidades, desde uma água com alto grau de pureza até uma que não tenha sofrido qualquer tipo de tratamento, conhecida como água bruta. 5.2 Geração de efluentes na indústria Conforme Mierzwa e Hespanhol (2005, p. 67) qualquer atividade que envolva a utilização ou tratamento de água é potencialmente capaz de gerar efluentes que, na maioria dos casos, são lançados para o meio ambiente. Os Efluentes líquidos têm características físicas, químicas e biológicas variáveis, de acordo com o tipo de indústria, com o período de operação, com a matéria-prima utilizada, com a reutilização de água etc. Para a definição do tipo de tratamento, é fundamental ter o conhecimento da vazão e da composição do efluente industrial, possibilitando a 21 determinação das cargas de poluição / contaminação. Evitando assim, danos ambientais, demandas legais e prejuízos para a imagem da indústria junto à sociedade. O gerenciamento adequado dos efluentes é importante para minimizar impactos ambientais, o que exige a adoção de procedimentos específicos de coleta e tratamento. 5.3 Drenagem ácida de minas – DAM Segundo Fungaro (2006, p. 1) o carvão mineral é a maior fonte de energia não renovável no país. As maiores reservas de carvão estão localizadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná com 28,8 bilhões, 3,4 bilhões e 100 milhões de toneladas, respectivamente. Os principais impactos ambientais produzidos durante as etapas de lavra e beneficiamento do carvão decorrem da disposição de resíduos sólidos estéreis e rejeitos, esses rejeitos são ricos em pirita e argilominerais. Os rejeitos ricos em sulfetos de ferro oxidam-se em presença do ar, da água e da ação de bactérias Thiobacillus ferrooxidans, produzindo a acidificação de drenagens e a dissolução de metais, originando assim a drenagem ácida de mina (DAM). Esse processo pode ocorrer tanto em minas abandonadas ou em operação. Em conseqüência desse fenômeno, além do risco de contaminação de fontes de água superficiais e subterrâneas com a possível destruição do habitat aquático, há maior dificuldade de recuperação e reflorestamento dessas áreas. As reações químicas que explicam a adição da pirita e a produção de ácido in situ são representadas pelas seguintes equações: 2 FeS2 + 7 O2 + 2 H2O = 2 Fe2+ + 4 SO42- + 4 H+ (1) 4 Fe2+ + 10 H2O + O2 = 4 Fe(OH)3 + 8 H+ (2) Fe2+ + O2 + 2 H+ = 2 Fe3+ + H2O (3) FeS2 + 14 Fe3+ + 8 H2O = 15 Fe2+ + 2 SO42- + 16 H+(4) Uma vez que os produtos da oxidação estão na solução, a etapa que determina a reação ácida é a oxidação do íon ferroso (Fe2+) ao íon férrico (Fe3+). Os produtos solúveis da oxidação da pirita são removidos pela água, 22 conseqüentemente, na ausência de materiais alcalinos, as reações de produção de ácidos podem prosseguir por períodos de tempo indefinidos. A DAM vem causando poluição em várias regiões carboníferas do sul do Brasil. A atividade mineradora de carvão vem causando impacto ambiental nas três bacias hidrográficas do Estado de Santa Catarina: a bacia do Rio Araranguá, do Rio Tubarão e do Rio Urussanga. Ainda, conforme Fungaro (2006, p. 2) publicou, a DAM contém íons metálicos dissolvidos (As, Cd, Cu, Ni, Pb, Zn, Al, Cr, Mn, etc.), em composições e concentrações que dependem de condições geológicas específicas. Os Efluentes de mineração variam de sítio para sítio, devido às múltiplas combinações de acidez e íons metálicos. Portanto existem vários métodos de tratamento de DAM, onde se deve levar em consideração suas variações, para alcançar os níveis de descarga de poluentes permitidos pela legislação do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Resolução CONAMA 20/86. 6 QUALIDADE DA ÁGUA Segundo Souza Filho (2003, p. 42), os organismos aquáticos são exigentes, com relação às características que definem a qualidade da água, por serem sensíveis à presença de substâncias tóxicas. Às vezes, sua sensibilidade à presença de certos metais pesados como o zinco, cobre e mercúrio, por exemplo, pode ser maior que a do próprio ser humano. Por esta razão, a água que serve ao nosso abastecimento não atende aos padrões de qualidade exigidos para a manutenção de peixes. A presença de cloro, de zinco (proveniente dos canos de aço galvanizado das redes de distribuição) ou de cobre (proveniente do sulfato de cobre utilizado no tratamento da água) apresenta-se conjuntamente com as variações de temperatura da água, como sendo a causa da morte de peixes em aquários domésticos. O índice de acidez ou alcalinidade (pH), também não pode variar além de certos limites, para que seja mantida a vida aquática, quer nos rios ou oceanos. Assim, conforme Ferreira (2003, p.16) empresas lançavam no meio ambiente efluentes industriais que podiam conter substâncias perigosas como mercúrio e seus derivados e, também, compostos de chumbo, cádmio, zinco, etc., que são absorvidos por algas e entram na cadeia alimentar do homem. Tais compostos causam sérios danos ao sistema nervoso, fígado e rins. As indústrias e usinas usam água de rios, também, para resfriamento de tanques e tubulações. Se a água quente for lançada novamente no rio ela pode matar peixes (a maioria dos peixes só vive em temperaturas abaixo de 30ºC). Isso implica na necessidade de que as indústrias tratem seus efluentes antes de lançálos nos rios. Há consciência da população de que resíduos incorretamente disseminados no meio ambiente penetram na cadeia alimentar causando danos à biodiversidade e demais características, em função da bioacumulação. Algumas empresas passaram 24 a se preocupar com a preservação da natureza, por conta do caráter social, da necessidade de manutenção/conquista de mercados mais exigente, marketing social e da expansão dos seus negócios para o mercado internacional. 6.1 Legislação - recursos hídricos De acordo com a Resolução CONAMA no. 357/2005 (BRASIL, 2005), que regulamenta os procedimentos para o lançamento de efluentes nos corpos d’água e define as concentrações máximas para o lançamento de algumas substâncias. É importante observar que o lançamento de qualquer efluente não pode provocar a mudança de classe do corpo receptor. Por um longo período de tempo, a Resolução CONAMA no. 20/1986 foi um dos principais instrumentos para o controle da degradação da qualidade dos nossos recursos hídricos. Segundo Mierzwa e Hespanhol (2005, p. 25) outra lei que deve ser considerada, muito embora não seja específica sobre gerenciamento de recursos hídricos, é a Lei de Crimes Ambientais, no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Merecendo a atenção especial a seção III do Capítulo V, “Dos crimes contra o meio ambiente”. Os crimes ambientais são processos que causam poluição de qualquer natureza, podendo provocar danos ou destruição significativa da flora e da fauna, que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana. Estão sujeitos a pena de reclusão, que podem variar de um a cinco anos, os responsáveis pelos crimes de poluição hídrica que: a) Tornem necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; b) Dificultem ou impeçam o uso público das praias; c) Ocorrerem por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos. O Ministério do Meio Ambiente criou, com a Lei no 9.984, a Agência Nacional de Águas (ANA), uma entidade federal de coordenação e apoio do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, para facilitar a implantação dos novos 25 mecanismos instituídos para a gestão dos recursos hídricos. (MIERZWA e HESPANHOL, 2005, p. 25) 6.2 Comunidade fitoplanctônica A diversidade das espécies presentes em um ambiente constitui-se também em importante informação para a compreensão e acompanhamento das alterações desse local. A riqueza de espécies (número de táxons/amostra) é uma das primeiras avaliações de um estudo e pode se complementada pela aplicação de índices de diversidade, usualmente utilizados em ecologia (KREBS apud PÁDUA, 2006, p.106). A avaliação da comunidade fitoplanctônica pode ser por meio de algumas características, sendo a principal, a densidade de organismos (demografia), onde são identificados os táxons (em nível de gênero ou espécie) e quantificados o número de organismos, em termos de organismos por mililitro. Essas informações têm grande contribuição para que se possa fazer o levantamento das variações tanto naturais quanto as decorrentes de alterações no ambiente devido às ações antrópicas, em especial quando se dispõem de registros da comunidade fitoplanctônica e da sua variabilidade diária, sazonal e até em longos períodos de séries anuais. Recentemente, tem sido proposta a avaliação de grupos funcionais de cianobactérias e microalgas fitoplanctônicas, com base nas suas características ecológicas, isto é, no nicho que ocupam no ambiente aquático, para melhor compreensão da dinâmica dessas populações (REYNOLDS et al. apud PÁDUA, 2006, p. 108). O conhecimento das águas continentais e de suas comunidades do fitoplâncton é uma ferramenta relevante para a compreensão da dinâmica das populações fitoplanctônicas, principalmente grupos de interesse para o saneamento. Conforme Huszar e Silva (1999) publicaram que as cianobactérias predominaram, com períodos de maior biomassa e/ou densidade, em 52% dos 44 estudos analisados. Esse fato é um forte indicativo da dominância de sistemas natural ou artificialmente eutróficos no Brasil. Os registros de florações de cianobactérias em ambientes aquáticos brasileiros, especialmente lagos e reservatórios, vem aumentando nas últimas 26 décadas. Em reservatórios – um dos ambientes mais estudados devido aos usos para abastecimento público, irrigação e geração de energia (BARBOSA et al. apud PÁDUA, 2006, p. 108), os eventos de floração de cianobactérias, com liberação potencial de cianotoxinas, têm ampliado os estudos dessas áreas. 6.2.1 Algas em sistemas aquáticos As algas nos sistemas aquáticos agem na mineralização e no ciclo dos elementos químicos, incorporando energia solar em biomassa e produzindo o oxigênio que é dissolvido na água e usado pelos demais organismos aquáticos. Estes diferentes desempenhos das algas nos sistemas aquáticos dependem da temperatura, da intensidade da radiação solar, da concentração de nutrientes na água e da alimentação dos animais presentes no sistema. o balanço destes fatores controladores pode ser alterado por razões naturais ou antropogênicas no sistema aquático, causando mudanças na composição química da água, na comunidade de algas, nas taxas de produtividade, e na biomassa. É importante perceber que, qualquer alteração na produtividade das algas ou na composição da comunidade, tanto a inibição como a estimulação do crescimento dos organismos, em relação ao usual para aquele sistema em particular, são igualmente indesejáveis, pois, pode ameaçar todo o equilíbrio do ecossistema. Nos dias de hoje, espécies de algas estão sendo usadas na avaliação da qualidade dos sistemas aquáticos, quanto menos diversificada a população, maior a poluição do sistema. De acordo Vidotti et al (2004, p. 140) “um outro aspecto está relacionado à capacidade em retirar do meio aquoso elementos químicos, o que sugere a utilização de algumas espécies de algas na recuperação de sistemas aquáticos, em especial quanto à presença de íons metálicos e de alguns compostos orgânicos”. 6.2.2 Chlorophyta Conforme publicado por Vidotti et al (2004, p. 140) As algas verdes são extremamente abundantes nos ambientes aquáticos, sendo um dos mais importantes componentes do fitoplâncton; as algas verdes são responsáveis pela 27 maior parte da produção de oxigênio molecular disponível no planeta a partir da fotossíntese. Habitando águas doces ou salgadas, solos úmidos ou troncos, estes organismos podem também estabelecer relações de mutualismo como outros seres vivos, como fungos, formando liquens. As algas verdes acumulam amido no interior de suas células, e contêm os pigmentos clorofila a e b, carotenos e xantofilas; a presença de clorofilas a e b sustenta a idéia de que as algas verdes tenham sido ancestrais das plantas por serem estas possuidoras deste tipo de clorofila. 6.2.3 Cianobactérias As cianobactérias são organismos aeróbios, que necessitam de água, dióxido de carbono, substâncias inorgânicas e luz para seus processos vitais. A fotossíntese é seu principal modo de obtenção de energia para os processos metabólicos de biossíntese, crescimento e multiplicação, produzindo oxigênio molecular. (CARMICHAEL apud PÁDUA, 2006, p. 25). Nas águas doces dos ambientes continentais é aonde seu desenvolvimento chega a ser abundante, devido à maioria das espécies apresentarem melhor crescimento em águas neutras a alcalinas (pH 6 a 9), temperatura entre 15 a 30°C e alta concentração de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo. Mesmo assim, é encontrada em uma grande diversidade de habitats, desde ambientes marinhos e até em ambientes polares, assim como solos úmidos. Nas espécies filamentosas, há presença de células diferenciadas para a fixação de nitrogênio e de resistência, que se denominam heterocistos e acinetos. No Brasil, Portaria MS no. 1.469 (BRASIL, 2000), incorporou novas normas de controle e vigilância da qualidade de água para o consumo humano, a importância da qualidade e quantidade de água representa a melhoria da qualidade de vida e manutenção da saúde humana. Com o episódio de Caruaru (Pernambuco), em 1996, devido à presença de cianotoxinas na água, acabou ocorrendo a morte de pacientes que realizavam diálise. Ressaltou-se, então, a importância da regulamentação desses compostos na água para consumo humano e também do controle das cianobactérias no manancial. Embora a relevância dessa questão, manteve-se ainda um grande obstáculo na implementação das diretrizes da Portaria MS no. 1469 (BRASIL, 2000), a 28 dificuldade para a análise da cianotoxina microcistina, quanto para a identificação e quantificação de cianobactérias, pelas companhias de saneamento e pelos responsáveis por sistemas de abastecimento público. Conforme a Portaria MS no. 518 (BRASIL, 2004), que revogou a portaria anterior, o prazo para atendimento das exigências para o monitoramento de cianobactérias e cianotoxinas foi de 12 meses após a entrada em vigor desse instrumento legal. Hoje em dia, os responsáveis pelo abastecimento público, têm incorporado plenamente à rotina do monitoramento. Assim, conforme (ESTEVES; BOUVY et al.; HUSZAR et al. apud PÁDUA, 2006, p. 23) é cada vez mais freqüentes as florações de cianobactérias em ambientes aquáticos lênticos continentais de clima tropical, como citado anteriormente, as temperaturas elevadas estimulam seu desenvolvimento, embora se observe também em rios, no mar e nos estuários, das mais diversas regiões do mundo, independente do clima. O monitoramento de variáveis que favorecem o crescimento de cianobactérias e/ou sua acumulação é valioso para se reconhecer que o manancial está em risco de desenvolvimento de floração, assim como os locais mais prováveis para a formação e acúmulo de escumas. O acompanhamento do nível de fósforo total é um aspecto importante, pois é um nutriente relevante para as cianobactérias e outros organismos fotossintéticos. Dados sobre outras variáveis ambientais e condições hidrológicas do manancial (como tempo de detenção e condições de estratificação térmica) disponibilidade de luz (relação entre a profundidade de penetração da luz e profundidade de mistura), assim como nitrogênio dissolvido (nitrato e amônia), proporcionam a base para o entendimento de porque certas espécies ou gêneros de cianobactérias dominam naquele ambiente. As variações de toxicidade nas cianobactérias podem ser por variação temporal, desde intervalos curtos de tempo até diferenças sazonais, e também espaciais. Essas variações de toxicidade nas cianobactérias ainda não foram devidamente esclarecidas, provavelmente são decorrentes de alterações na proporção de cepas tóxicas e não tóxicas na população. Contudo, são cada vez mais freqüentes as florações tóxicas. Tipicamente, cerca de 50% de todas as florações testadas em diferentes países mostram-se tóxicas em bioensaios. 29 De acordo com Azevedo apud Pádua, 2006, p. 34, em 11 dos 26 estados brasileiros foram registradas florações com cianobactérias tóxicas, distribuídos do norte ao sul do país. Embora florações ocorram com mais freqüência em reservatório (represas e açudes), se verificam também em lagoas costeiras, rios e estuários. 6.2.4 Eutrofização A eutrofização dos ambientes aquáticos provoca o enriquecimento artificial das águas naturais, isso é gerado pelas crescentes atividades antropogênicas (descargas de esgotos domésticos industriais dos centros urbanos e a poluição difusa das regiões agricultáveis). A eutrofização é reconhecida como a principal causa do aumento da freqüência e intensidade das florações de microalgas ou cianobactérias nos sistemas aquáticos, causando alteração na qualidade da água, incluindo a redução de oxigênio dissolvido, e a perda das qualidades cênicas (alterações das características estéticas do ambiente e de seu potencial para lazer). Esse aumento de incidência de floração de microalgas e cianobactérias traz conseqüências negativas sobre a eficiência e custo de tratamento da água para o abastecimento público. Conforme publicado por Azevedo (1998) as conseqüências da eutrofização que se caracteriza pelo crescimento exuberante de microalgas ou de cianobactérias, denomina-se floração ou blooms. As florações são eventos de multiplicação e acumulação de cianobactérias e microalgas, seja durante horas ao longo do dia ou com maior duração, havendo registros, em lagos e represas, com florações durante vários meses. Estudos ecofisiológicos e limnológicos demonstram que a carga elevada de nutrientes, o tempo longo de retenção da água, a estratificação e temperatura elevada são os principais fatores que influenciam na formação e na intensidade das florações. Este fenômeno vem se intensificando no Brasil, devido ao fato de que grande parte dos reservatórios de água para o abastecimento apresentarem as características necessárias para o desenvolvimento abundante de cianobactérias e microalgas ao longo de todo o ano. A necessidade de intensificar o crescimento vegetal, pelo uso de fertilizantes, tem causado o grande crescimento de florações e 30 a rápida eutrofização de rios e reservatórios, resultando no incremento de macrófitas aquáticas e de altas concentrações de fósforo na coluna d’água e/ou sedimento. 6.2.5 Fatores que afetam o desenvolvimento do fitoplâncton De acordo com De Leon Bonilla e Aubriot apud Pádua (2006, p. 99) para os organismos fitoplanctônicos, algumas condições do ambiente aquático são fundamentais para garantir a sua viabilidade. As características destas comunidades dependem de fatores como a penetração da luz, a temperatura e os movimentos na coluna d’água. Com tudo, características ópticas, a disponibilidade de nutrientes e a temperatura, são parâmetros relevantes, pois repercutem diretamente sobre os organismos do fitoplâncton e de forma indireta sobre a viscosidade da água. 6.2.6 Luz A luz é essencial para atividade fotossintética do fitoplâncton. À medida que a luz penetra na água, parte é absorvida e transformada em calor, e parte é dispersa. A necessidade de luminosidade varia de espécie para espécie, algumas precisam de muita luz, enquanto outras são mais tolerantes a menor luminosidade. 6.2.6.1 Temperatura Segundo publicado por Pádua (2006, p. 100) a temperatura da água resulta do processo de penetração da luz solar, que vai aquecendo as camadas de água. Além disso, também pode resultar de vertentes e água subterrânea, com diferentes temperaturas e principalmente da contribuição de efluentes. No caso da DAM (Drenagem Ácida de Minas) a ocorrência de reações exotérmicas no interior da massa líquida também pode influenciar neste parâmetro. Existem duas concepções importantes da temperatura para os organismos, em relação às temperaturas preferenciais para o desenvolvimento ótimo de cada espécie; e indiretamente, para o ambiente, quando temos o estabelecimento de processos de estratificação das águas. 31 A estratificação da coluna d’água em massas ou zonas com diferentes densidades e temperaturas afetará as distribuição de gases (como oxigênio) e isto por sua vez afetará a distribuição de organismos do fitoplâncton. 6.2.6.2 Hidrodinâmica O movimento da água afeta na distribuição de calor do ambiente aquático, além das suas demais propriedades e componentes, sendo que condições de pequena vazão em rios e reservatórios podem favorecer a formação de florações de cianobactérias. 6.2.6.3 Nutrientes Os fatores limitantes para a produção primária do fitoplâncton são o nitrogênio e o fósforo, todavia carbono, hidrogênio, oxigênio e enxofre são os macronutrientes essenciais, e, no caso das diatomáceas, a sílica é também importante. Embora cada gênero de alga tenha respostas metabólicas diferentes para na utilização do nitrogênio tanto na forma de nitrato (NO3-) quanto de amônio (NH4+), estudos realizados em laboratório, com clorofíceas (Oocystis lacustris e Eutetramorus plactonicus) (ALMEIDA apud PÁDUA, 2006, p. 105) e cianofícea (Microsystis viridis) (VON RÜCKERT e GIANI apud PÁDUA, 2006, p. 105) mostraram que as espécies utilizam o amônio mais rapidamente, quando a fonte de nitrogênio encontra-se sob a forma de nitrato. Por outro lado, a capacidade de vários gêneros de cianobactérias de fixar nitrogênio atmosférico (N2), em situações de limitação por nitrogênio são em muitos casos satisfatórias, não representando este elemento um fator limitante para sua sobrevivência. 6.2.7 Interações algais 6.2.7.1 Macrófitas Conforme Vidotti e Rollemberg (2004, p. 140) há muita discussão sobre o papel das macrófitas, os contaminantes de macrófitas podem produzir diversos efeitos 32 sobre a comunidade de algas, além da competição pelos nutrientes do ambiente, pois elas absorvem Nitrogênio e Fósforo inorgânicos dissolvidos. Pode haver um aumento dos nutrientes inorgânicos no sistema pela morte das macrófitas, no entanto estudos realizados com herbicidas (eliminando as macrófitas) indicaram que este aumento nas quantidades de nitrogênio e de fósforo disponíveis para as algas só ocorre após uma grave desoxigenação da água. Contudo estudos mostram que com o aumento de níveis de nutrientes e com o aumento da luminosidade, pode ocorrer um crescimento da população de algas. 6.2.7.2 Íons metálicos Íons de metais como Cu, Cd, Hg, Pb, Zn, etc., podem causar dano estrutural aos cloroplastos, devido à restrição da fotossíntese; quantidade traços de cobre, por exemplo, acima da capacidade do meio, inibem por completo a fixação de N2, reduzindo o processo de eutrofização. Entretanto, a biodegradação das algas mortas acaba favorecendo a esse processo, pelo aumento do consumo de oxigênio. 6.2.7.3 Luz O fitoplâncton necessita da energia solar para a fotossíntese; entretanto, essa necessidade varia de espécie, muitas espécies não toleram níveis elevados de luz ultravioleta ou visível, sendo rapidamente afetadas pela ação da radiação e, a fim de evitar o excesso da radiação, algumas espécies migram na coluna d’água. 7 MATERIAL E MÉTODOS 7.1 Característica do efluente Conforme Firpo (2007, p. 65) a drenagem ácida de mina – DAM, originária do processo de mineração na Mina Verdinho (Unidade de Mineração II) da Companhia Mineradora Carbonífera Criciúma S.A., é tratada por meio de processo ativo, seguido do processo de decantação em uma sucessão de lagoas. O Rio Sangão é o receptor final desse processo. Suas características médias, no ano de 2006, não estão de acordo com os parâmetros legais de lançamento permitidos pela Resolução CONAMA 357 de 17 de março de 2005. A figura 2 mostra o aspecto visual pré e pós-tratamento da drenagem. (a) (b) Figura 2. Efluente pré-tratamento (a) e pós-tratamento (b). Fonte: Firpo, 2007, p. 3 34 7.2 Área de estudo O estudo foi realizado dentro do projeto de Mestrado da Agrônoma Beatriz Firpo. O sistema piloto de tratamento foi implantado junto à Mina Verdinho de propriedade da companhia mineradora Carbonífera Criciúma S.A., ao lado da atual lagoa de polimento final que segue o tratamento ativo em operação por precipitação/sedimentação. O plano experimental consistiu na montagem do banhado construído em escala piloto conforme Figura 3. entrada reservatório SISTEMA AERÓBICO CAIXA 3 CAIXA 2 CAIXAS ANAERÓBICAS CAIXA 1 SISTEMA MISTO tubulação 40mm registros tempo de detenção: 1 dia 10 dias 20 dias CAIXA 9 CAIXA 8 CAIXA 7 CAIXA 6 CAIXA 5 CAIXAS AERÓBICAS CAIXA 4 tubulação 40mm 1 dia 10 dias 20 dias saída Figura 3. Planta baixa indicativa da montagem dos banhados piloto. Fonte: Firpo, 2007, p. 67 35 A implantação de um sistema misto compreende um banhado para operação em condições anaeróbicas seguido de outro, em condições aeróbicas. As vazões foram ajustadas para cada conjunto operar com tempo de detenção de 1, 10 e 20 dias, de forma que pudessem ser comparados entre si. Consistiu na construção de nove (09) caixas nas dimensões de 0,50 x 5,00 x 0,60 m, sem fundo, impermeabilizadas com lona emborrachada para impedir a perda de efluente, preenchidas somente com substrato nas caixas aeróbicas ou composto orgânico nas caixas anaeróbicas e 10 cm de brita. Em sua porção inferior foram instaladas longitudinalmente e interligadas mangueiras de borracha perfuradas para captar e retirar o efluente na base das mesmas. No sistema anaeróbico foram depositados 45 cm de composto orgânico compreendido por uma mistura de lascas de madeira, esterco bovino seco e solo local. Para a quantidade de efluente sobre o composto foi estabelecida em 10 cm por meio de torneiras de saída (Figura 4). substrato h=45cm efluente h=10cm torneira entrada caixa anaeróbica saída caixa aeróbica registro brita h=10 cm (terreno natural) Figura 4. Corte longitudinal em caixas do sistema misto. Fonte: Firpo, 2007, p. 71 Já no sistema aeróbico foi preenchido com solo horizonte B do próprio local, até uma altura de 40 cm, cobertas por 14 cm de água. Em todas as caixas do sistema aeróbico foram plantadas com Taboa (Typha sp.). A figura 5 ilustra a montagem. O experimento tornou-se apto ao início do controle dos banhados com 4 meses de ajustes e crescimento da vegetação. As coletas constituíram dos 9 pontos indicados na figura 3. 36 taboas torneira entrada flange saída efluente h=14cm substrato h=40cm (terreno natural) Figura 5. Corte longitudinal em caixa do sistema aeróbico. Fonte: Firpo, 2007, p.69 7.3 Variáveis químicas De cada ponto foram recolhidas e acondicionadas em garrafas de polietileno de alta densidade (HDPE) previamente lavadas com água destilada e ambientadas. Uma amostra de cada foi analisada in situ, os seguintes parâmetros pH e OD (Figura 6). Uma amostra de cada ponto, preservada com ácido sulfúrico p.a. (2%v.v.) e refrigeração, para análise de DQO. Uma amostra de cada ponto, preservada com ácido nítrico p.a. (2%v.v) e refrigeração para análise dos metais ferro, alumínio e manganês. Uma amostra de cada preservada em refrigeração para análise de sulfato, acidez e alcalinidade. As análises químicas foram realizadas no Laboratório de Estudos Ambientais para Metalurgia – UFRGS. Figura 6. Aparelhos de medição de pH e OD. Fonte: Firpo, 2007, p. 76 37 7.4 Variáveis biológicas De cada ponto foram recolhidas e acondicionadas em garrafas de polietileno de alta densidade (HDPE) previamente lavadas com água destilada e ambientadas e preservadas em refrigeração, para a identificação de fitoplânctons existentes. As amostras foram examinadas no Laboratório de Microbiologia do Centro Universitário La Salle para. Para a identificação do fitoplâncton foram utilizadas as chaves de identificação e descrições de Bicudo e Menezes (2006). 8 RESULTADOS O fitoplâncton apresentou um crescimento intenso nas caixas anaeróbicas a partir de junho, nas caixas aeróbicas também houve crescimento, porém de menor intensidade (Figura 7). Percebeu-se que este evento teve maior proporção nas caixas aeróbicas com período de detenção de 10 dias. (a) (b) Figura 7. Caixa do sistema anaeróbico (a) Caixa do sistema aeróbico (b). Fonte: Autoria própria, 2007. 8.1 Temperatura De acordo com o boletim do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – Climanálise (SETZER et al 2006) a temperatura em junho de 2006, quando ocorreu a floração das algas, destacou-se pelo aumento das temperaturas mínimas. As temperaturas máximas mantiveram praticamente os mesmos valores em comparação ao mês anterior, variando entre 18oC a 34oC3·. 3 CLIMANAÁLISE. Climanálise Boletim. Cachoeira Paulista, 2006. Disponível em <http://www6.cptec.inpe.br/revclima/boletim/index0606.shtml>. Acesso em: 11 jun. 2007 39 8.2 Potencial hidrogeniônico (pH) Nas caixas anaeróbicas do sistema houve queda no valor do pH, a redução mais significativa foi na caixa do tempo de detenção de 1 dia (FIRPO 2007, p. 89), onde foi encontrada a cianobactéria Oscillatoria. Contudo, não houve expressiva redução do valor do pH nas caixas com o tempo de detenção de 10 e 20 dias, até apresentou uma pequena elevação, onde foi encontrada a maior incidência de Klebsormidium. Em relação às caixas aeróbicas o valor do pH na caixa com 1 dia de detenção manteve-se em queda. Porém, apresentou uma pequena elevação na caixa com 10 dias de detenção, a qual não foi significativa. No entanto nas caixas de 20 dias de detenção o valor do pH obteve um aumento expressivo (FIRPO 2007, p. 89). 8.3 Oxigênio dissolvido (OD) Segundo Firpo (2007, p. 90) o oxigênio dissolvido nas caixas anaeróbicas apresentou redução expressiva, o fator relevante nesse caso foi o tempo de detenção, quanto maior o tempo de detenção maior a redução de OD. Já nas caixas aeróbicas ocorreu a oxigenação da água vinda das caixas anaeróbicas. As caixas aeróbicas funcionaram como “aeradores” devolvendo OD às águas do efluente. Entretanto, a caixa de detenção de 1 dia não foi capaz de retornar o efluente a sua condição original. Contudo as caixas aeróbicas com 10 e 20 dias de detenção foram capazes de retomar sua condição original. 8.4 Ferro De acordo com Firpo (2007, p. 97) houve alteração da concentração do ferro nas caixas anaeróbicas, o aumento se equivaleu nos três períodos de detenção 1, 10 e 20 dias. Já nas caixas aeróbicas ocorreu a diminuição da concentração de ferro, essa diminuição significativa comparando as suas respectivas caixas anaeróbicas. 40 8.5 Manganês Conforme Firpo (2007, p. 99) nas caixas anaeróbicas a concentração de manganês teve um aumento expressivo e equivalente com os períodos de detenção de 10 e 20 dias. Porém, em relação às caixas aeróbicas no tempo de detenção de 1 e 10 dias não houve alteração na concentração de manganês, manteve-se a mesma concentração de suas respectivas caixas anaeróbicas. No entanto, percebeu-se uma significativa redução de concentração na caixa com a detenção de 20 dias. Tabela 1 – Parâmetros físico-químicos nos pontos de coleta no banhado construído da Mina Verdinho Pontos de Coleta Parâmetro 1 2 3 4 5 6 7 8 9 pH 5,9 6,41 6,21 5,8 6,44 6,72 6,00 5,90 5,5 Fe total 2,35 1,51 1,50 0,4 0,6 0,3 N.I. N.I. N.I. OD 2,0 1,55 1,45 4,00 5,00 4,95 N.I. N.I. N.I. Mn 1,35 1,90 2,00 1,20 2,00 0,4 N.I. N.I. N.I. N.I.: Valores não informados Fonte: Autoria própria, 2007. 8.6 Fitoplâncton Como podemos visualizar na tabela 2 foram identificados 5 táxons, a espécie mais representativa é a Klebsormidium (Apêndice A, Figura K), classe Clorophyceae, encontrada nos pontos 2, 3, 5, 6 e 8, onde as caixas anaeróbicas e aeróbicas mantinham os períodos de detenção de 10 e 20 dias. Foram encontradas outras espécies da classe Clorophyceae, mas não com a mesma representatividade, Closterium e Volvox (Apêndice A, Figuras C e V, respectivamente) no ponto 4, onde a caixa aeróbica tinha o período de 1 dia de detenção. No ponto 9 foi encontrada a espécie Genicullaria (Apêndice A, Figura G), também pertencente à classe das Clorophyceae. A espécie não muito representativa neste ambiente, mas de grande representatividade, classe das Cianobactérias, a Oscillatoria (Apêndice A, Figura O), foi encontrada no ponto 1, onde o período de detenção é de 1 dia. 41 Tabela 2 – Ocorrência de Fitoplâncton nos pontos de coleta no banhado construído da Mina Verdinho Pontos de Coleta Espécies 1 2 3 Closterium sp 5 6 X X 7 8 9 X Klebsormidium sp Oscillatoria sp 4 X X X X Volvox sp X Genicullaria sp Não identificada Fonte: Autoria própria, 2007. X X 42 9 DISCUSSÃO 9.1 Variáveis físico-químicas da água O aumento da temperatura do ambiente aquático no mês de junho foi um dos fatores relevantes para desenvolvimento da floração nas caixas anaeróbicas. Mostrou-se de grande importância nos processos químicos e biológicos que ocorreram no ambiente aquático, causando mudanças na composição química da água, na comunidade de algas, nas taxas de produtividade, e na biomassa. Em relação ao pH, os valores obtidos encontraram-se na faixa de 5,9 a 6,72, essas medidas são consideradas favoráveis para as florações, as comunidades aquáticas podem interferir nos valores de pH do meio. Segundo Matsuzaki, Mucci e Rocha (2004 p. 684) os organismos autotróficos, como macrófitas aquáticas e algas, podem elevar o pH por meio do processo de assimilação de CO2 na fotossíntese, como ocorre nas caixas anaeróbicas com floração de microalgas e nas caixas aeróbicas com Typha sp. De acordo com resolução do CONAMA no 357, o valor máximo de Ferro permito para a qualidade padrão de água doce é de 0,3 mg/L e o Manganês é de 0,1 mg/L. O Ferro e o Manganês possuem afinidade geoquímica, por isso encontram-se sempre reunidos. Conseqüentemente os valores averiguados apresentaram semelhanças, os maiores valores de concentração foram encontrados nas caixas anaeróbicas, Fe 1,50 a 2,35 mg/L, e Mn 1,35 a 2,00 mg/L. Verificou-se conforme Esteves apud Peres (2002, p. 88) o oxigênio dissolvido é um dos principais responsáveis pela dinâmica e caracterização dos ecossistemas aquáticos, que suas fontes são a atmosfera e a fotossíntese, e as principais fontes de perda são a difusão para a atmosfera, a oxidação da matéria orgânica e de íons metálicos (principalmente ferro e manganês). Deste modo, foi possível observar que houve 43 uma relação entre os resultados obtidos de OD, Fe e Mn. Nas caixas anaeróbicas onde o OD teve uma redução expressiva, é onde compreende a maior concentração de Fe e Mn. 9.2 Variáveis biológicas A eutrofização é uma das principais causas do crescimento de microalgas ou de cianobactérias, essas florações foram estimuladas pelo aumento das temperaturas e provocadas pelo enriquecimento artificial das águas, gerado pela descarga de efluente da atividade carbonífera, causando alteração na qualidade da água. Além disso, a necessidade do crescimento vegetal, no banhado construído, usando o composto orgânico, colaborou para o crescimento de florações e a eutrofização do reservatório. A avaliação da composição e abundância da biota mede a qualidade do ambiente aquático. Devido a pouca diversidade de fitoplâncton encontrada no banhado construído, Closterium, Klebsormidium, Volvox, Genicullaria (Clorofíceas) e Oscillatoria (Cianobactéria) e visto que a variáveis físico-químicas da área em estudo evidenciam alterações na qualidade da ambiente aquático, as informações biológicas corroboram com as informações físico-químicas. Conforme Azevedo et al apud Azevedo (1998) as florações de microalgas e cianobactérias são uma resposta a eutrofização. Essas florações podem apresentar toxinas e gerar odores desagradáveis. A ocorrência destas algas tem sido relacionada a eventos de mortandade de animais e com danos à saúde humana. Entre o fitoplâncton encontrado devemos dar destaque a duas espécies, a microalga Klebsormidium por ter sido a mais representativa no ambiente aquático e a cianobactéria Oscillatoria pela sua importância. Segundo Peres (2002, p. 73) Klebsormidium é considerado bioindicador de qualidade e classificada como α-mesossapróbica (zona poluída, forte poluição), com isso caracteriza a área em estudo como zona poluída, devido à perturbação antropogênica, no caso a região carbonífera. Já as florações de cianobactérias, no caso Oscillatoria, conforme Brandão e Domingos (2006, 42) têm geralmente conseqüências visíveis e danosas para organismos e o meio ambiente, podendo liberar substâncias tóxicas afetando a potabilidade do reservatório. 44 Várias espécies envolvidas em fenômenos de florações são produtoras de cianotoxinas, no caso da Oscillatoria a cianotoxina produzida é a neurotoxina, atuante no nível de transmissão dos impulsos nervosos, provocando paralisação da atividade muscular e, conseqüentemente, parada respiratória (CHARMICHAEL apud BRANDÃO e DOMINGOS, 2006 p.45). 45 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS As variáveis físico-químicas evidenciaram um nível de degradação da qualidade da água, permitindo a verificação de condições propícias para a floração do fitoplâncton. É importante perceber que, qualquer alteração na produtividade das algas ou na composição da comunidade, tanto a inibição como a estimulação do crescimento dos organismos, em relação ao usual para aquele sistema em particular, são igualmente indesejáveis, pois, pode ameaçar todo o equilíbrio do ecossistema. O aumento de incidência de floração de microalgas e cianobactérias trazem conseqüências negativas sobre a eficiência e custo de tratamento da água para o abastecimento público. A comunidade fitoplanctônica apresentou pouca diversidade, constituída na maior parte de clorofíceas e cianobactérias, com isso caracterizando o ambiente aquático como poluído e de baixa qualidade. Portanto, foi constatado os tratamentos ativos aplicados ao efluente não são capazes de remover íons metálicos ferro e manganês, para o qual foi implementado um sistema de banhado construído. Com a implantação desse sistema ocorreu a floração do fitoplâncton, comprovando a eutrofização e baixa qualidade da água. Conseqüentemente os resultados deste estudo recomendam o monitoramento e a remediação da área da carbonífera. No entanto, sugiro estudo de alternativas para tratamento de efluentes com a utilização de processos biológicos que têm se mostrado em crescimento e de grande eficiência em vários setores. 46 REFERÊNCIAS AZEVEDO, Sandra M. F. O. Toxinas de cianobactérias: causas e conseqüências para a saúde pública. Medicina On line - Revista Virtual de Medicina, São Paulo, v. 1 n. 3, Jul/Ago/Set de 1998. Disponível em: <http://www.medonline.com.br/med_ed/ med3/microcis.htm>. Acesso em 11 de jun. 2007 BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução no 357/2005 de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil, Brasília, DF. 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APÊNDICE A – Espécies de algas componentes do fitoplâncton encontrado no banhado construído na Mina do Verdinho (k) (o) (c) (v) (G) (K): Klebsormidium sp; (O): Oscillatoria sp; (C): Closterium sp; (V): Volvox sp; (G): Genicullaria sp.