RELATO DE VIVÊNCIA PRÁTICA: II SEMINÁRIO DE ALUNOS SOBRE “O PRÍNCIPE” DE MAQUIAVEL: O MAQUIAVELISMO NAS EMPRESAS AUTOR Roberto Patrus Mundim Pena INSTITUIÇÃO PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS A idéia de promover um Seminário de alunos sobre a obra “o Príncipe”, de Maquiavel, nasceu da minha experiência como professor da disciplina Iniciação Filosófica II no Departamento de Administração da PUCMG. Depois de discutirmos em sala de aula toda a obra do autor florentino, os alunos fizeram trabalhos nos quais se procurava atualizar o conteúdo da obra à realidade gerencial, política ou escolar, vivida pelos alunos. Nos cinco semestres em que lecionei este conteúdo, os trabalhos dos alunos me surpreenderam pela variedade de temas e pelo alto nível de reflexão crítica e ética. No segundo semestre de 1990, promovi, com o apoio do Departamento de Administração, uma Aula em Aberto, onde os alunos autores dos melhores trabalhos – e que aceitarem o convite – expuseram seus textos para a turma. a aula era aberta para quem quisesse participar e alguns alunos de outros períodos do curso estiveram presentes. Essa primeira experiência pareceu-nos válida, pois atendeu aos objetivos de dar chance aos “conferencistas” de treinarem expor suas idéias em público, e de socializar as suas reflexões para os colegas. No primeiro semestre de 1991, promovi, com o apoio dos Departamentos de Filosofia e Teologia, de Administração, e de Ciências Contábeis, o I Seminário de Alunos sobre “O Príncipe” de Maquiavel. O evento assumiu um caráter mais acadêmico. Compuseram a mesa um representante de cada Departamento envolvido. O professor da PUC-MG Mestre João Carlos Lino Gomes, autor de dissertação de mestrado sobre “Maquiavel e a Moderna Concepção do Político” fez uma breve conferência. A seguir, os alunos de Administração e de Ciências Contábeis, cujos trabalhos foram selecionados apresentaram seus textos. Em seguida, desenrolou-se um rico debate cujo tema predominante foi a relação ética x realidade x estrutura organizacional. No segundo semestre de 1991, foi realizado o II Seminário de Alunos sobre “O Príncipe de Maquiavel”. Desta vez, o Seminário se restringiu aos alunos do curso de Administração e seu enfoque foi o maquiavelismo nas empresas. O evento teve a participação como conferencista da professora de Teoria Geral da Administração sra. Ana Maria Passos Colares. Enquanto o I Seminário foi um evento inter-departamental, o II Seminário foi um evento interdisciplinar do Curso de Administração, ambos com o apoio do Departamento de Filosofia e Teologia. Os objetivos do II Seminário se dividem em gerais (de difícil verificação), específicos (de médio prazo), e imediatos (de curto prazo). Eles são descritos a seguir: Objetivos Gerais: – promover a reflexão filosófica, crítica e ética, entre os alunos. - desenvolver a capacidade do aluno de pensar e de comunicar o pensado de forma oral e escrita. - promover e incentivar os alunos para a produção acadêmica Objetivos específicos: - treinamento dos alunos para atividades acadêmicas. - publicação de artigos de alunos, com a supervisão do professor. - Integração da disciplina Iniciação Filosófica II com disciplinas afins do curso de Administração. Objetivos imediatos: - promover um maior aproveitamento dos alunos de Iniciação Filosófica II sobre o conteúdo em questão e suas implicações políticas e éticas. - desenvolver maior reflexão sobre as práticas políticas e o exercício do poder (por administradores, gerentes, chefes...). A idealização do Seminário corresponde á penúltima fase de um projeto maior. O primeiro passo foi a leitura e o estudo da obra em sala de aula. Cada grupo de alunos apresentou alguns capítulos e coordenou o debate feito logo em seguida, procurando comparar o Príncipe ao gerente de empresa, ou a alguém que exerça algum tipo de poder dentro da organização. O segundo passo foi a elaboração dos trabalhos pelos alunos. O terceiro passo foi a avaliação e a seleção dos melhores trabalhos. O quarto passo foi o Seminário propriamente dito, do qual temos tratado nesse relato. O quinto passo, e último, consiste na tentativa de se publicarem os trabalhos apresentados, ou em revistas especializadas, ou em uma apostila de publicação própria para circulacão interna na PUC-MG. Os resultados do11 Seminário de Munas sobre "o Príncipe" de Maquiavel apontam para um melhor aproveitamento do conteúdo teórico da disciplina Iniciação Filosófica II, para o aperfeiçoamento da capacidade de comunicação escrita e oral dos alunos, para a integração interdisciplinar e inter-departamental na universidade. Assim, do ponto de vista acadêmico, o Seminário parece atender aos objetivos propostos. Do ponto de vista da formação dos nossos profissionais, futuros administradores, é urgente a necessidade de uma reflexão rigorosa e abrangente sobre a Ética. Num momento histórico onde campeia o individualismo exarcebado, a corrupção, a busca de se levar vantagem em tudo, é absolutamente necessário que a universidade desempenhe seu papel de formadora de profissionais com responsabilidade e consciência moral elevada. Assim a reflexão sobre a obra maquiaveliana justifica-se por nos levar a pensar em questões como a relação ética X política, a problemática do poder, o conflito realismo X utopia, o papel da história, o "mito do maquiavelismo" (ou 1ei do Gérson). A amplitude do seu pensamento não se limita à Itália do século XVI, mas abrange toda situação de poder, desde a sala de aula, passando pelas instituições e organizações, até à sociedade política. Trata-se, enfim, de uma atividade de aprendizagem. Mais vale o esforço de cada aluno-expositor e o seu empenho em apresentar o seu trabalho da melhor maneira possível, vencendo o medo de falar em público, as dificuldades de linguagem e expressão, a expectativa de se ver exposto a perguntas e considerações dos participantes no Seminário, do que o rigor metodológico. Justamente por ser uma atividade de aprendizagem e treinamento, os alunos não estão sujeitos às mesmas retaliações das quais poderiam ser vítimas se estivessem em um ambiente de trabalho. Valorizamos o processo educativo, e não erros que devem ser punidos e usados contra o estudante. A convicção pessoal que embasa este trabalho é a de que o aluno, mesmo nos períodos iniciais do curso, é capaz de produzir bons artigos e trabalhos sobre temas estudados e discutidos em sala de aula, desde que devidamente motivado. Essa certeza do potencial do aluno, antes de ser uma crença, é uma constatação. Se motivarmos o aluno a pensar e produzir idéias, e premiarmos seu esforço e competência, estaremos contribuindo para um efetivo aprimoramento da formação do cidadão e do profissional.