DIFICULDADES ENCONTRADAS ENTRE HIPERTENSOS PARA PARTICIPAÇÃO DE REUNIÕES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE NO SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA INTEGRADA A SAÚDE, EM TUBARÃO, SC Edla Maria Silveira Luz1 Janete Elza Felisbino2 Juliana Bitencourt de Souza3 RESUMO Este estudo abordará as dificuldades de pacientes hipertensos em participar das reuniões de educação em saúde promovidas por uma unidade de saúde da cidade de Tubarão, SC. A Hipertensão Arterial é considerada a primeira causa de mortalidade no Brasil. Por este motivo, conforme MANTOVANI; MOTTIN e RODRIGUES (2007), é considerada, atualmente, um dos principais problemas de saúde pública, pois acomete a população economicamente ativa. Como doença, SMELTZER et al. (2005, p. 905) afirmam que “é um importante contribuinte para a morte por disfunção cardíaca, renal ou vascular periférica”. Seu alto custo social, segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), é responsável por cerca de 40% dos casos de aposentadoria precoce e de absenteísmo no trabalho em nosso meio. Para a SBN a prevalência da hipertensão arterial é alta, estimando-se que entre 15% e 20% da população brasileira adulta possa ser rotulada como hipertensa. No entanto sua prevalência em crianças e adolescentes não é desprezível. Devido à magnitude do problema, tem sido constante a preocupação mundial em ampliar e aperfeiçoar os métodos para diagnóstico e tratamento da mesma. Seu controle tem constituído um desafio para os profissionais de saúde, pois seu tratamento envolve a participação ativa dos hipertensos no sentido de modificar alguns comportamentos prejudiciais à sua própria saúde e assimilar outros que beneficiem sua condição (CADE, 2001). Investir na prevenção é considerado um fator relevante pelas instituições de saúde, com vistas a propiciar uma melhor qualidade de vida para os hipertensos, reduzindo os agravos que a hipertensão pode gerar (BASTOS e BORENSTEIN, 2004). Este aspecto propiciará aos pacientes e à comunidade, conforme divulgação da SBN, uma gama maior de informações, procurando torná-los participantes ativos das ações que a eles serão dirigidas, e com motivação suficiente para vencer o desafio de adotar atitudes que tornem essas ações efetivas e definitivas. A educação é um componente essencial para a promoção, manutenção e restauração da saúde do paciente. Para Cesarino et al.(2004, p. 147) o trabalho de educação com os pacientes “desempenha papel de destaque na equipe multidisciplinar para a promoção do auto-cuidado do indivíduo”. No entanto, a educação em saúde não tem se mostrado transformador da qualidade de saúde dos portadores de hipertensão, conforme dados de MOREIRA e ARAÚJO, (2004), pois os índices de não adesão e complicações decorrentes desta mantêm-se elevados. Por este motivo identificar o porquê da não adesão aos grupos poderá possibilitar um cuidado mais afetivo, com diminuição de seqüelas, complicações e gastos públicos. Esta pesquisa tem como objetivo geral conhecer as dificuldades encontradas entre hipertensos para participação de reuniões de um grupo em PSF de SC; e como objetivos específicos: identificar os sentimentos dos pacientes frente à participação nos grupos de hipertensão arterial; descrever os fatores que dificultam a participação de reuniões do grupo. Esta pesquisa configura-se como um estudo de caso, de abordagem qualitativa. O estudo será realizado no Serviço de Assistência Integrada a Saúde da UNISUL (SAIS), Tubarão – SC, bairro Dehon, concomitantemente com a equipe do Programa de Saúde da Família (PSF) desta unidade. Para coleta e registro dos dados foi adotada a técnica de entrevista e observação dos participantes, pois na pesquisa qualitativa estas técnicas são primordiais para a compreensão da realidade estudada. Participaram desta pesquisa hipertensos do ESF do bairro Dehon, do município de Tubarão, SC. Este estudo foi norteado pela resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, na qual estão descritas as Diretrizes e Normas Regulamentadoras sobre Pesquisa envolvendo seres humanos. Em observância a esta resolução foi solicitado um termo de Consentimento Livre e Esclarecido garantindo aos sujeitos do estudo a participação espontânea e que esta não acarretará prejuízos para o sujeito. Para garantir o anonimato aos sujeitos do estudo, os mesmos serão nomeados pelas iniciais de seus nomes e idade. A análise dos dados coletados foi realizada no decorrer e no encerramento do estudo. A coleta de dados foi realizada no período de novembro de 2008 a março de 2009. À medida que se realizavam as visitas domiciliárias, faziam-se os registros no questionário e uma avaliação diária dos mesmos. Os pacientes foram visitados em seu domicílio, no período selecionado, com aviso prévio da visita, através da entrega de convites informando a data e a hora, pelas agentes comunitárias de saúde. Ao término da pesquisa foram entrevistados 100 pacientes hipertensos pertencentes ao bairro selecionado. Foi constatado que a idade dos participantes variou entre 35 e 90 anos. O grupo de pessoas com idade acima de 50 anos prevaleceu sobre os demais participantes, representando 88% dos entrevistados. Porém a faixa etária predominante foi entre 60 e 69 anos. Valores semelhantes podem ser encontrados nos estudos realizados por MONTEIRO et. al., SANTOS, et. al., ALVES e NUNES. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC, 2009) a pressão arterial aumenta conforme aumenta, também, a idade do paciente, sendo que o principal componente que caracteriza a hipertensão após a sexta década de vida é a elevação da pressão sistólica. Dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2006) estimam que, pelo menos, 65% dos idosos brasileiros são hipertensos. A maioria dos entrevistados (66%) era do sexo feminino, indicando semelhança com as estimativas globais de que as mulheres têm maior prevalência de hipertensão arterial após os 60 anos de idade (SBC, 2009). Ao serem questionados a respeito de sua escolaridade, verificou-se que, no mínimo, 93% das pessoas eram alfabetizadas. Destas, 51 % possuem até a 4ª série do ensino fundamental completa, 22% concluíram todo o ensino fundamental, 16% finalizaram o ensino médio, 2% concluíram o ensino superior e 2% são pós-graduados. Os 7% restantes responderam que ou não sabem ler/escrever (4%) ou não sabem até qual série haviam estudado (3%). Em seu estudo Santos et al. (2005) concluem que “a prevalência da hipertensão é inversamente proporcional à escolaridade e renda” ou seja, quanto menor o grau de instrução, maior a incidência / prevalência, possivelmente em virtude do maior cuidado com a saúde em pessoas mais instruídas. A respeito do estado civil dos entrevistados, 68 % responderam ser casados, 21% são viúvos, 6% são divorciados e 5 % são solteiros. No estudo realizado por MONTEIRO et al. (2005) também houve prevalência de pacientes casados (57,93%) sobre os demais grupos. Para a SBC existe uma relação positiva entre estresse emocional e elevação da pressão arterial. LOURES et al. (2002, p. 525) diz que “o sistema cardiovascular participa ativamente das adaptações ao estresse, estando portanto sujeito às influências neuro-humorais” e que a resposta cardiovascular a estas alterações refletem em aumento da freqüência cardíaca, da contratilidade, do débito cardíaco e da pressão arterial. Logo, controlar o estresse emocional, conforme a SBC, é fundamental para prevenção primária da hipertensão arterial. Com relação à hereditariedade, 83% dos entrevistados responderam que os pais apresentam (ou apresentavam) diagnóstico de hipertensão (49% para as mães e 34% para os pais). De acordo com Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure (JNC VII) na anamnese do paciente deveria estar incluso a história familiar de hipertensão deste paciente, já que é uma forma de identificar os possíveis fatores de risco para a hipertensão, principalmente se a história familiar de hipertensão estiver acompanhada de doença cardiovascular. Ao serem questionados sobre a participação no grupo terapêutico, 68% dos entrevistados afirmaram que nunca haviam participado. Dentre os motivos mais ressaltados para a não participação, destacam-se: a falta de tempo (10%), a falta de convite (12%), a incompatibilidade entre o horário das reuniões e o horário de trabalho (17%), falta de conhecimento sobre a existência do grupo (12%), dentre outros. Quando questionados se realizam algum cuidado para a hipertensão, 97% dos pesquisados responderam que sim, sendo que os principais são: a redução de sal da dieta (76%), a administração diária de medicações (80%), o controle na quantidade de gorduras ingeridas (52%), prática de atividade física regular (25%). Já 27% responderam que não fazem nenhum tipo de atividade física. Para a SBC existe uma relação inversa entre atividade física (qualquer tipo de movimento corporal) e incidência de pressão arterial. A prática regular de atividades aeróbicas reduz a pressão arterial casual na clínica e ambulatorial. Segundo JNC VII a atividade física regular pode aumentar a perda de peso e a atividade cardíaca, além de reduzir o risco de doenças cardiovasculares e mortalidades por estas causas. Pessoas sedentárias que possuem uma pressão arterial normal têm um risco aumentado entre 20 e 50% de desenvolver hipertensão quando comparadas com indivíduos ativos. Associada a prática de atividade física está a adoção de hábitos alimentares saudáveis. Estes hábitos são, conforme explica a SBC, componentes importantes na prevenção primária da hipertensão. Entre eles estão a manutenção de peso adequado, a redução do consumo de sal, a moderação na ingesta de álcool, o controle na quantidade de gorduras e a inclusão de alimentos ricos em potássio. Estas práticas devem ser seguidas diariamente. Conforme explica o JNC VII existem barreiras para a prevenção da hipertensão, tais como normas culturais, pouco acesso das pessoas a locais de práticas de atividades físicas, presença de muitas opções de comidas nas escolas associado a poucos programas de exercícios, insuficiente atenção dos programas de educação em saúde, pouco financiamento dos serviços de educação em saúde, entre outros. O Healthy People 2010, de acordo com JNC VII, identificou a comunidade como um parceiro significante e um ponto vital da intervenção para alcançar objetivos saudáveis e suas conseqüências. A associação destes com grupos educacionais fornecem localmente focos de orientação para a saúde de diversas populações que necessitam. A probabilidade do sucesso aumenta com o uso de estratégias de intervenções mais apropriadas com as características daquela região. Estes serviços de educação podem promover a prevenção da hipertensão através de mensagens educacionais e suporte na alteração e manutenção do estilo de vida. Explica TOLEDO, RODRIGUES e CHIESA (2007, p. 236) que a atual configuração do ESF sugere que “as equipes realizem regularmente atividades educativas, visto que o programa constitui-se num modelo pautado no desenvolvimento de ações preventivas e de promoção à saúde dos indivíduos, famílias e comunidades”. Para os pacientes que participaram das reuniões 24% disseram que gostaram do que presenciaram e que aprenderam muitas coisas que ainda não sabiam e que, atualmente, auxilia no tratamento (14%). Quando questionados se gostariam de expressar algo mais, 20 relataram que gostariam de participar e o melhor horário seria no período vespertino. É essencial ressaltar, segundo observações de Toledo, Rodrigues e Chiesa (2007, p. 234), que os clientes “não são consumidores apenas, por exemplo, das orientações, dos grupos educativos, são, além disso, agentes/co-produtores de um processo educativo. [...] são ao mesmo tempo objetos de trabalho dos agentes educativos e sujeitos de sua própria educação”. No entanto, para que os programas educativos sejam exitosos é imprescindível que haja uma equipe multidisciplinar envolvida e que esta equipe esteja capacitada a desenvolver um bom processo. De acordo com SILVA (2006) a organização e a capacitação da equipe servem para que o trabalho siga uma padronização de condutas e habilidades técnicas, nas diferentes categorias profissionais. A SBC (2009, p. 42) confirma tal fato ao dizer que “as intervenções devem adotar um modelo multidimensional, multiprofissional e incorporar diversos níveis de ação, usando e integrando recursos das sociedades científicas, da universidade, do setor público e privado”. Esta pesquisa permite que a conclusão seja realizada sob três aspectos relevantes: o primeiro aspecto é o que trata da importância da educação em saúde para pacientes com doenças crônicas, como é o caso da HAS. Claro que o resultado deste trabalho deve estar aliado a outros fatores de igual importância, como o tratamento farmacológico e as mudanças no estilo de vida. É de extrema importância que as equipes de saúde estimulem seus pacientes a procurarem e freqüentarem estes grupos, pois desta forma não estão contribuindo somente em melhorar a qualidade de vida do cliente mas, também, melhorar a qualidade de assistência. O segundo aspecto concluído é a sobre a necessidade de atualização dos grupos terapêuticos pelas equipes de saúde, do ponto de vista didático e informativo. Há necessidade de inovar constantemente o grupo, seja com os conteúdos a serem ministrados, seja com as pessoas que irão ministrar, ou até mesmo inovar com algum tipo de atividade educativa que eles poderão praticar nas suas residências. Enfim, trazer novidades é o que irá despertar no grupo o interesse, e a garantia, de participação contínua. Outro aspecto digno de conclusão é o trabalho em equipe. O princípio fundamental para que um grupo terapêutico traga resultados para a Unidade e para quem dele participa é o fato da equipe querer resultados deste grupo. Sem uma equipe unida, integrada e sem objetivos em comum o grupo não se sentirá motivado a participar. A multidisciplinaridade, a inovação e o desejo de querer fazer acontecer possibilita que o grupo terapêutico seja eficaz e torne-se cada vez mais fortalecido nos seus objetivos. Palavras - chaves: hipertensão, educação em saúde, qualidade de vida. 1 – Professora Mestra em Saúde Coletiva do curso de Enfermagem da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). E-mail: [email protected] 2 - Coordenadora do curso de Enfermagem da Universidade do Sul de santa Catarina (UNISUL). E-mail: [email protected] 3 - Acadêmica do curso de Enfermagem da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). E-mail: [email protected]