O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE PEDAGOGIA

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O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE PEDAGOGIA COMO
MOMENTO DE RELAÇÕES ENTRE TEORIAS E PRÁTICAS: O QUE
PENSAM AS ESTAGIÁRIAS
FRAGA, Laura Pippi – UFSM
[email protected]
LOPES, Anemari Roesler Luersen Vieira – UFSM
[email protected]
HUNDERTMARCK, Jucilene – UFSM
[email protected]
POZEBON, Simone – UFSM
[email protected]
Eixo Temático: Formação de Professores e Profissionalização Docente
Agência: Não contou com financiamento
Resumo
As disciplinas cursadas no decorrer do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia devem
oportunizar ao futuro professor a apropriação de conhecimentos para sua atuação no Estágio
Curricular Supervisionado. A experiência obtida nos Estágios é importante para que o
graduando coloque seus conhecimentos em prática e reflita sobre sua ação no ambiente
escolar. Nessa perspectiva, este trabalho trata de uma pesquisa de cunho qualitativo, na qual
através de um estudo de caso, foram analisados dez questionários semi – estruturados,
respondidos por acadêmicas do oitavo semestre do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia
na Universidade Federal de Santa Maria. Estes questionários foram organizados com o
objetivo de investigar como os futuros professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental
percebem a contribuição das disciplinas para o desenvolvimento de seu Estágio. Este artigo
apresenta, inicialmente, alguns aspectos que embasaram teoricamente o estudo no que se
refere a formação inicial de professores no curso de Pedagogia, a partir de autores como
Moretti (2007), Pimenta (1997) e Moura (2010). Em seguida traz algumas discussões e
observações realizadas com base nas respostas dos questionários semi-estruturados sobre os
Estágios e as relações com as disciplinas da matriz curricular deste curso de graduação. A
partir dos resultados foi possível perceber algumas lacunas que existem no curso de formação
de professores, no que se refere a relação entre as disciplinas cursadas e a realização do
Estágio, principalmente, na declaração das futuras professoras de suas poucas possibilidades
de relacionar seus estudos realizados durante o curso de Pedagogia com o desenvolvimento
do Estágio Curricular Supervisionado.
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Palavras-chave: Formação Inicial de Professores. Estágio Curricular Supervisionado. Curso
de Pedagogia. Disciplinas Curriculares.
Introdução
Este trabalho teve início a partir de algumas inquietações sobre a contribuição das
disciplinas da graduação para a atuação no Estágio Curricular Supervisionado, devido ao fato
de muitos alunos não conseguirem visualizar as possíveis relações com a prática em sala de
aula.
Acreditamos que a intenção da organização e a distribuição de todas as disciplinas que
fazem parte da matriz curricular seja oportunizar ao futuro professor a apropriação de
conhecimentos e as disciplinas contribuem para os momentos da atuação em sala de aula. No
entanto algumas questões nos inquietavam: será que isso fica claro para o estudante? Qual a
relevância destas disciplinas na sua concepção? O que eles pensam e sentem em relação a sua
preparação para atuar no seu futuro espaço de trabalho?
Em tese, não se poderia admitir a separação entre teoria e prática, pois uma
complementa a outra, na perspectiva de que a teoria ampara a prática que, por sua vez é por
ela originada. Essa perspectiva deveria direcionar o Estágio Curricular Supervisionado em
especial por esse ser um importante momento em que o futuro professor pode refletir sobre
seus saberes e fazeres através da atuação em sala de aula.
O estar em sala de aula exigirá o planejar, executar as ações, refletir e avaliar sua
prática, e esta dinâmica do aprender a ser professor, não é uma tarefa simples, pois a prática
nos leva a uma aprendizagem contínua, no sentido de sempre buscar a melhorar nossa atuação
enquanto educadores.
A partir do exposto, nos propomos a desenvolver essa investigação buscando possíveis
respostas para o seguinte problema: quais as contribuições das disciplinas cursadas ao longo
da licenciatura para o desenvolvimento do Estágio Curricular Supervisionado, na percepção
dos futuros professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental?
Na busca de respostas ao problema de pesquisa, o principal objetivo foi investigar
como os futuros professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental percebem a
contribuição das disciplinas para o desenvolvimento de seu estágio curricular.
Para a coleta de dados fizemos uso de questionário semi-estruturado entregue a uma
2872
turma de 15 alunas que tinham realizado o Estágio nos Anos Iniciais, que acontece ao final do
curso, ou seja, no oitavo semestre, em 2010, do Curso de Pedagogia da Universidade federal
de Santa Maria (UFSM-RS). Dez alunas concordaram em participar da pesquisa e devolveram
os questionários. Estaremos nos referindo aos sujeitos no sexo feminino, uma vez que a
amostra não contou com nenhum sujeito do sexo masculino.
Para as autoras Lüdke e André (1986), a preocupação central ao se desenvolver uma
pesquisa qualitativa é a compreensão de uma instância singular, com isso os questionários
semi-estruturados contemplam essa afirmação, pois permitem perceber através das respostas
obtidas o que cada aluna pensa e acredita sobre os itens respondidos.
Este questionário semi-estruturado abordou questões referentes à como as disciplinas
da matriz curricular as orientaram para atuação no Estágio Curricular Supervisionado, sendo
que sua organização e análise direcionou-se a contemplar quatro categorias: As aulas do curso
de Pedagogia e o Estágio; As disciplinas e a elaboração dos planos de aula; As dificuldades
encontradas no decorrer do Estágio; As aulas de Educação Matemática e o Estágio.
Especificamente neste artigo, limitados pelo espaço, apresentaremos somente a primeira
categoria referente As aulas do curso de Pedagogia e o Estágio.
A partir disso, trazemos, primeiramente, alguns aspectos que embasaram teoricamente
o trabalho realizado, relacionados a formação inicial de professores nos cursos de Pedagogia.
Após, discutimos sobre o Estágio e algumas relações com as disciplinas da matriz curricular
do curso de pedagogia, tomando por base os dados coletados com as estagiárias deste curso.
Finalizando, concluímos com algumas considerações sobre a realização do trabalho.
A formação inicial de professores nos cursos de Pedagogia algumas reflexões
De acordo com Pimenta e Lima (2004), foi a partir dos anos de 1990 que as pesquisas
relacionadas aos Estágios no Brasil começaram a ser valorizadas, pois a atuação dos
acadêmicos sempre estava envolvida por questões que dissociavam a teoria da prática.
A existência de dois espaços de aprendizagem – um teórico e outro prático – tem sido
uma das maiores críticas em relação a formação de professores que, nessa perspectiva não
consegue formar profissionais capacitados para enfrentar os desafios do cotidiano escolar.
Compreendemos como Estágio supervisionado aquele que acontece ao término ou ao
longo do curso de graduação, e a partir desta prática é feita a análise e a reflexão da atuação
na escola.
2873
Também entendemos que o Estágio que não está relacionado ao curso, e sim com a
experiência profissional, sem embasamento teórico, não é considerado reflexivo, pois a
prática acontece de maneira dissociada da teoria. Na visão de Pimenta (1997) o Estágio é
composto pelas atividades que os alunos deverão realizar durante o seu curso de formação,
junto ao futuro campo de trabalho.
Cabe ressaltar a importância de que a atuação dos estudantes no Estágio seja pautada
na reflexão, pois o aluno que cursa a licenciatura em Pedagogia deve ter em mente que sua
prática na sala de aula deve permear vários âmbitos do conhecimento, muito destes discutidos
durante as aulas teóricas ao longo da graduação.
A experiência obtida no Estágio é importante para o aluno pensar sobre como agiu e
como agirá no ambiente escolar, após essa reflexão vai perceber se precisa modificar algo em
sua prática como professor.
Corroboramos com Reali e Mizukami (2002), quando explicitam que a capacidade de
análise e reflexão sobre a própria prática é um tipo de conhecimento importante para que os
professores avaliem os efeitos do ensino ministrado, para assim poderem refiná-lo para
posteriormente melhorarem o trabalho realizado em sala de aula.
Ao longo do processo formativo é interessante que o graduando em Pedagogia tenha a
oportunidade de atuar na escola e aprender neste espaço, que será seu futuro local de atuação
profissional.
Torna-se importante para preparação do futuro professor a vivência em sala de aula,
em especial por esse ser um momento em que ele pode organizar sua proposta, assim o
acadêmico de Pedagogia poderá refletir sobre seus saberes e fazeres através da atuação em
sala de aula, e através disso constituir um espaço de aprendizado da docência.
Nesse sentido Moretti (2007, p. 10) afirma que.
Oscilando entre momentos de reflexão teórica e ação prática e complemetando-os
simultaneamente que o professor vai se constituindo como profissional por meio de
seu trabalho docente, ou seja, da práxis pedagógica. Podemos dizer então que: se,
dentro da perspectiva histórico-cultural, o homem se constitui pelo trabalho,
entendendo este como uma atividade humana adequada a um fim e orientada por
objetivos, então o professor constitui-se professor pelo seu trabalho, na atividade de
ensino.
O futuro professor, ao atuar na sala de aula, realizando seu trabalho, estará aprendendo
por meio da organização das atividades, e a partir de sua análise e reflexão crítica sobre a
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prática, de tal modo terá a oportunidade de aprender na docência.
Moura (2010) relata que a atividade de ensino se constituirá como práxis pedagógica
se permitir a transformação da realidade escolar por meio da transformação dos sujeitos,
professores e estudantes.
A teoria aprendida na graduação é uma ferramenta importante na vida do estudante
para a execução da prática. Assim, o Estágio Curricular Supervisionado adquire um papel
fundamental no processo de aprendizagem da docência, pois, o mesmo caracteriza-se como a
prática baseada na teoria.
Nesse sentido, o Estágio não possui a valorização da qual requer o processo de
aprendizagem da docência, pois esta experiência deveria ser o local adequado para a aquisição
de conhecimentos práticos.
No entanto, é necessário considerar os problemas encontrado no Estágio, considerando
os elementos sócio-históricos presentes no contexto educacional. Por isso, encontrar as
melhores condições de formar os pedagogos é importante para que ele possa contribuir com a
melhoria de sua aprendizagem da docência, esse processo pode ocorrer através da pesquisa e
se constitui como um desafio que demanda a reflexão crítica sobre a prática.
As aulas do curso de Pedagogia e o Estágio
De acordo com o Projeto Político Pedagógico do curso de Pedagogia da UFSM (2006)
o Estágio Curricular Supervisionado tem o objetivo de desenvolver a atuação docente
reflexiva na escola. Assim, o acadêmico irá se inserir no campo de atuação profissional dos
Anos Iniciais, buscando articular conceitos teóricos e práticos durante a formação docente.
Desse modo o Estágio oportunizará ao acadêmico uma prática educativa reflexiva sobre a sua
atividade de docência.
A carga horária para o Estágio nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental é de 150
(cento e cinquenta) horas, sendo 120 (cento e vinte) horas de aulas práticas e 30 (trinta) horas
de aulas teóricas.
Não é intenção deste artigo discutir sobre a organização e o desenvolvimento do
Estágio. Embora consideramos isto pertinente, nesta pesquisa nossa intenção é dar voz às
angústias das estagiárias durante a realização do mesmo, investigando quais as relações que
elas podem estabelecer entre as disciplinas teóricas cursadas durante o sua formação inicial e
a prática desenvolvida no Estágio. Assim, visamos atender nosso objetivo de investigar como
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os futuros professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental percebem a contribuição das
disciplinas para o desenvolvimento de seu Estágio.
Como já citamos anteriormente, a coleta de dados foi realizada através de um
questionário semi-estruturado entregue aos alunos do curso de Pedagogia da UFSM que já
tinham realizado o Estágio. Seguindo aos princípios éticos que fazem parte do
encaminhamento de pesquisas, os sujeitos, ao concordarem em participar, assinaram um
termo livre e esclarecido, e os nomes utilizados durante o trabalho são fictícios.
Inicialmente apresentamos questões que buscaram as possíveis relações que as
estagiarias estabeleciam entre as disciplinas curriculares e a sua atuação no Estágio.
A primeira questão teve em vista verificar se as estagiárias fizeram uso de algum
material, do ponto de vista teórico ou prático, utilizado ou indicado durante as disciplinas
cursadas.
Nove das alunas afirmaram que utilizaram materiais indicados por seus professores,
citando os mesmos, como podemos observar no quadro a seguir.
Quadro 01: Textos, livros, ou outros materiais disponibilizados ou recomendados por professores da graduação e
utilizados durante o Estágio Curricular Supervisionado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Respostas obtidas
Livros infantis
Filmes infantis
Livros didáticos para o EJA
Jogos
Polígrafo contendo letras de música
Planos de aula feitos na graduação
Atividades de confecção de materiais
Livros teóricos
Não respondeu
Fonte: Respostas obtidas pelas acadêmicas do curso de Pedagogia.
Número de estagiárias
04
01
01
01
01
02
01
03
01
Dentre as respostas obtidas quatro alunas disseram ter utilizado livros infantis
recomendados por algum professor do curso de Pedagogia universidade.
A acadêmica Luna, que teve resposta afirmativa, citou alguns livros e filmes usados:
A Família de Gatos do autor Ademir Martins, A menina e o pássaro
encantado, A volta do pássaro encantado de Rubens Alves, o filme do
Dumbo e o filme do Tigrão sobre a família.
A aluna Maria, que também respondeu que sim, explicitou:
Durante o estágio utilizei alguns referenciais sobre a EJA que a
minha professora orientadora disponibilizou, dois cadernos didáticos
do MEC, com o título “Viver e aprender” Porém, este foi o único
contato com materiais específicos ao meu campo de estágio, a
2876
Educação de Jovens e Adultos”
Esta aluna, além de responder sobre o material que utilizou, complementou dizendo
que este foi o único que ela estudou durante o curso de Pedagogia sobre o seu campo de
Estágio. Essa afirmação pode ser indicativo de alerta uma vez que em um curso na qual
habilita seus alunos a atuar na modalidade de Educação de Jovens e Adultos - EJA, presumese a necessidade de trabalhar com esta temática.
De acordo com Fonseca,
as dificuldades da concepção de uma proposta pedagógica que considere a condição
de não-crianças de seus alunos não estão relacionadas somente aos entraves
provenientes das limitações impostas pela estrutura e pelos propósitos escolares.
Mesmo que a escola e seus professores estejam imbuídos da disposição de elaborar e
implementar um projeto pedagógico voltado especificamente para o público EJA,
enfrentarão desafios próprios de uma seara pouco trilhada, ou trilhada com o suporte
relativamente frágil de uma reflexão teórica ainda incipiente (FONSECA, 2007, p.
19-20).
Assim o ensino da modalidade de Jovens e Adultos é um desafio o qual a acadêmica
teve que enfrentar baseada num referencial ainda pouco estudado, e como diz a autora, frágil
de uma reflexão sobre a prática neste contexto.
A estagiária Vanessa citou vários livros na qual fez uso durante o estágio:
Alguns livros de Paulo Freire, FERREIRO, Emília. TEBEROSKY,
Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas,
1985. OSTETTO, Luciana Esmeralda. Planejamento na educação
infantil: mais do que atividade, a criança em foco. In: (Org.)
Encontros e encantamentos na educação infantil. Campinas, SP:
Papirus, 2000. VYGOTSKI, L. Semenovich. A formação social da
mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 4.
ed. São Paulo: 1991. E muitos outros.
Pimenta (1997) considera teoria e prática como pólos associados, diferentes e não
necessariamente opostos. Pode-se perceber que a aluna Vanessa conseguiu associar a teoria
aprendida nas aulas da graduação com sua atuação no estágio, ela usou os livros trabalhados
no curso de Pedagogia e os utilizou para embasar sua atuação no Estágio Curricular
Supervisionado. Penso que ela buscou nesses livros aspectos que a ajudassem a compreender
situações de suas vivências diárias.
Além dos livros, foram citados jogos, como aponta Anita:
Utilizei alguns com histórias infantis e jogos.
2877
Concordamos com Smole, 2006, quando ela afirma que:
no trabalho com jogos todos ganham. Ganha o professor que tem possibilidade de
propor formas diferenciadas dos alunos aprenderem, permitindo um maior
envolvimento de todos, e criando naturalmente uma situação de atendimento à
diversidade de aprendizagem uma vez que cada jogador é que controla o seu ritmo,
seu tempo de pensar e aprender. Ganha o aluno porque fica envolvido por uma
atividade complexa que permite a ele ao mesmo tempo que constrói noções e
conceitos, desenvolve muitas outras habilidades que serão úteis por toda a vida
(SMOLE, 2006, p. 65).
Com isso percebe-se a utilização de jogos sugeridos pelos professores da graduação,
mostrando a importância dos jogos para estimular o interesse de determinado conteúdo pelo o
aluno dos anos iniciais do EF.
A segunda questão que as entrevistadas responderam tratava sobre alguma abordagem
feita por um professor durante a graduação, que voltaram a memória durante o Estágio.
Quadro 02: Lembranças obtidas através de explicações feitas por professores da graduação no curso de
Pedagogia.
Respostas obtidas
Número de estagiárias
Durante a aula de artes
04
Em um passeio, lembrou da aula de geografia
01
Nos processos de aquisição da leitura e da escrita
02
Durante a aula de história
02
Durante a aula de matemática
03
Durante as aulas de Educação Física
03
Durante a aula de música
02
Lembrou de explicações da professora de Psicologia em vários
01
momentos
Lembrava das orientações de estágio
01
Lembrava de embasamentos teóricos estudados na graduação
01
Fonte: Respostas obtidas pelas acadêmicas do curso de Pedagogia.
Nessa questão todas as respostas foram afirmativas e as acadêmicas trouxeram
diferentes aspectos que contemplavam à pergunta.
Por exemplo, a estagiária Luna lembrou das explicações feitas pelo professor na aula
de artes e pelo professor de geografia:
O momento foi quando eu estava explicando as obras de arte que
trabalhei durante o meu estágio e no passeio no quarteirão da escola
durante uma aula de geografia.
A aluna Maria explicita:
Como trabalhei com alfabetização, muitas teorias aprendidas em
processos de Leitura e Escrita I e II foram úteis, é claro que fiz
2878
algumas ressignificações para o meu público de alunos, mas as
disciplinas foram muito válidas.
Maria lembrou-se de alguns aspectos relevantes para o público que estava trabalhando,
que no caso era uma classe de alfabetização.
Eduarda citou que em diferentes momentos do Estágio utilizou explicações realizadas
pelos professores do curso de Pedagogia como:
Nas aulas de música (algumas músicas), artes (construção de
materiais, técnicas), matemática (construção de material didático),
psicologia (sempre).
No caso da Vanessa, acontece um exemplo muito interessante, pois no Estágio
entramos em contradições com o que estudamos e a realidade que temos que enfrentar na
escola, ela explica dizendo:
Com certeza, o tempo todo, especialmente quando pedia que as
crianças trabalhassem em silêncio, quando na verdade eu queria que
elas interagissem, trocassem. Então, meu discurso e minha prática
estavam contraditórios. E, isso, os professores sempre nos chamavam
atenção em sala de aula. Mas, acredito ser devido ao fato do grande
equívoco de sempre presenciar em sala de aula, silêncio absoluto
como se isso fosse garantia de aprendizado.
Durante o Estágio temos que aliar teoria e prática, e muitas vezes entramos em
contradição com nosso discurso, acreditamos em determinada teoria, mas ao mesmo tempo
devemos aprender a trabalhar com uma turma de crianças que não nos permite que a teoria
seja aplicada a todo momento, contudo esse processo é formativo, assim penso que aos
poucos aprendemos a lidar com essa questão.
Em relação a esta questão Tardif coloca que,
as teorias muitas vezes são pregadas por professores que nunca colocaram os pés
numa escola ou, o que é pior, que não demonstram interesse pelas realidades
escolares e pedagógicas, as quais consideram demasiado triviais ou demasiado
técnicas. Assim, é normal que as teorias e aqueles que a professam não tenham, para
os futuros professores e para os professores de profissão nenhuma eficácia nem
valor simbólico e prático. No entanto se quero saber como realizar um trabalho
qualquer, o procedimento mais normal consiste me aprendê-lo com aqueles que
efetuam o trabalho (TARDIF, 2002, p. 195).
Para este autor seria interessante que o futuro professor aprendesse dentro da sala de
aula, vivenciando o seu futuro local de atuação profissional, para nele aprender e desenvolver
2879
as teorias aprendidas ao longo da graduação.
A terceira questão indagou se as estagiárias sentiram falta de algum subsídio teórico
na graduação.
Quadro 03: Temas que na concepção das estagiárias não foram abordados durante o curso de Pedagogia.
Respostas obtidas
Subsídios que tratassem de temas como: saúde, higiene,
religião
Disciplinas que trabalhassem com EJA
Maior relação entre teoria e prática
Embasamentos sobre como a criança aprende
Fonte: Respostas obtidas pelas acadêmicas do curso de Pedagogia.
Número de estagiárias
01
02
06
01
Esta pergunta obteve todas as respostas afirmativas, as alunas trouxeram questões
como a falta de subsídios teóricos em vários momentos do curso de Pedagogia, entre eles:
Luna sentiu falta de:
Alguma disciplina ou um subsídio teórico que se trabalhasse com
saúde, higiene, religião, eu tive que dar essa disciplina no meu
estágio e não sabia muito o que explicar em relação a Educação
Religiosa.
Esta acadêmica sentiu falta de conteúdos relativos a realidade na qual trabalhou, pois
estes aspectos que ela não estudou, fizeram falta no momento de atuação em sala de aula.
Já a aluna Maria afirma que:
Senti muita falta de capacitação para o meu trabalho em EJA. Não
temos nenhuma disciplina voltada para esta modalidade, nem é
trabalhado sobre ela dentro das disciplinas do curso.
Essa estudante sentiu falta de subsídios que tratassem da modalidade sobre Educação
de Jovens e Adultos, e ainda finaliza dizendo que durante a graduação não temos nenhuma
disciplina que trate sobre essa temática. Nessa afirmação, ela retoma o que já havia
apresentado anteriormente sobre a EJA.
Fonseca explicita,
a compreensão da EJA como um direito do cidadão, uma necessidade da sociedade e
uma possibilidade de realização da pessoa como sujeito de conhecimento tem uma
significativa repercussão na prática pedagógica do educador (FONSECA, 2007, p.
63-64).
A citação desse autor nos alerta para a importância de que os cursos de formação de
2880
professores deveriam dar mais atenção a esta modalidade, para que o futuro professor tenha
um embasamento teórico melhor para trabalhar nessa modalidade de ensino.
Também aparecem questões referentes a falta de relação entre a teoria e a prática
dentro do curso, como salienta Fabíola:
Acredito que se o curso de pedagogia se voltasse para trabalhar as
questões mais práticas com a teoria seria mais significativo.
De acordo com esta aluna o curso oportuniza pouca relação entre a teoria durante as
aulas e a prática, na ida até as escolas falta o entrelaçamento entre estas duas esferas do
conhecimento.
Para a discente Vanessa a falta de subsídios teóricos é explícita, ao responder a
questão usando o termo.
Com certeza falta, especialmente em relação a como a criança
aprende, pois estudamos de forma bastante sucinta esse tema.
Esta estagiária sente falta de subsídios teóricos sobre a como a criança aprende e se
desenvolve, penso que durante as aulas da graduação este tema deveria ser melhor
contemplado, pois como nossa atuação é diretamente com a criança, este assunto teria que ser
bem esclarecido, para que durante o Estágio não tenhamos tantas dúvidas com relação ao seu
desenvolvimento intelectual, psíquico e motor.
Para o autor Zabalza,
o encontro com a realidade em sala de aula, aflora dificuldades na relação
professor-aluno-formação-sociedade e as interações muitas advindas do processo
de ensino-aprendizagem, pois a dinâmica de funcionamento de uma aula se
desenvolve meio ao afrontamento de dilemas, ou mais propriamente, meio a
espaços problemáticos (ZABALZA, 1994, p.63).
Corroboramos com o autor citado quando ele ressalta que a realidade na qual o
acadêmico encontra nas escolas pode não ser aquele idealizado durante o curso de graduação,
mas em meio a todos as problemáticas enfrentadas ele terá que estudar para suprir estes
desafios.
Considerações finais
Através da análise e do estudo realizado com base nos questionários semi-estruturados
2881
que foram respondidos por alunas do curso de oitavo semestre do curso Licenciatura Plena em
Pedagogia da UFSM, que tinham realizado o Estágio Curricular Supervisionado nos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental, é possível perceber algumas lacunas que existem neste curso
de formação de professores, no que se refere a relação entre as disciplinas cursadas e a
realização do Estágio.
Os dados mostraram que muitas das alunas utilizaram durante a sua atuação na sala de
aula materiais sugeridos, e que durante as aulas ministradas também se lembraram de alguma
explicação feita por um professor durante as aulas da graduação. Porém, também ressaltaram
a necessidade de mudanças na estrutura do curso, salientando a necessidade de haver mais
relação entre a teoria e a prática.
Destacaram, ainda que tiveram pouco tempo de Estágio para sanar suas dificuldades,
pois se este momento fosse maior talvez sua atuação fosse aprimorada.
Apesar das críticas sobre o curso que forma professores para atuar nos Anos Iniciais
do Ensino Fundamental da UFSM, concordarmos com a necessidade de mudanças que
atendam os problemas aqui apresentados, bem como outros, entendemos que não se pode ter a
ilusão de que um curso de graduação, seja qual for a sua organização, vai formar um professor
“pronto” para atuar em sala de aula. Precisamos ter em mente a necessidade do professor estar
em permanente formação e esta idéia deve permear o curso de formação inicial.
Nesse sentido, nos reportamos a Freire que afirma que o professor se constitui ao
longo de sua trajetória histórica.
Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira, às quatro horas da tarde.
Ninguém nasce educador ou marcado para se educador. A gente se faz educador, a
gente se forma como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a
prática (FREIRE, 1991, p. 58).
Concluímos lembrando que a concepção de formação de professores como um
processo contínuo, implica em desenvolver uma formação inicial que não tenha o
compromisso de preparar o futuro professor para saber todas as soluções para os problemas
encontrados em sua prática docente. Mas sim, prepará-lo para buscar soluções e trilhar
possíveis caminhos.
REFERÊNCIAS
FONSECA, Maria da Conceição Ferreira Reis. Educação Matemática de Jovens e Adultos:
2882
especificidades, desafios e contribuições. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1991.
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso. Pesquisa em educação:
abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MORETTI, Vanessa. Professores de matemática em Atividade de ensino: uma perspectiva
histórico-cultural para a formação docente. 2007. 208f. Tese (Doutorado em Educação).
Faculdade de Educação – USP, São Paulo, 2007.
MOURA, Manoel Oriosvaldo de, et. al. A atividade Orientadora de Ensino como Unidade
entre Ensino e Aprendizagem. In. Moura. Manoel Oriosvaldo (Org.). A atividade pedagógica
na teoria Histórico-Cultural. Brasília: Líber livro, 2010. p. 45 – 66.
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência. São Paulo:
Cortez, 2004.
PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação de professores: unidade teoria e prática?
3. ed. São Paulo: Cortez, 1997.
REALI, Aline Maria de Medeiros Rodrigues; MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Práticas
profissionais, formação inicial e diversidade: análise de uma proposta de ensino e
aprendizagem. In. MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. REALI, Aline Maria de Medeiros
Rodrigues. Aprendizagem profissional da docência: saberes, contextos e práticas. São
Carlos: EdUFSCar, 2002.
SMOLE, Kátia; DINIZ, Maria Ignez; MILANI, Estela. Jogo para 6º ao 9º anos. Cadernos do
Mathema. Vol 2. Porto Alegre: Artmed, 2006.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA. Projeto Político Pedagógico do Curso
de Licenciatura Plena em Pedagogia, 2006.
ZABALZA, A. Diários de aula. Porto: Porto Editora, 1994.
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