Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA UNIDADE DE SÃO JOSÉ DEPARTAMENTO DE TELECOMUNICAÇÕES E REDES MULTIMÍDEA CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM SISTEMAS DE TELECOMUNICAÇÕES Disciplina: SOP3607 – Sistemas Ópticos Professor: Marcio Henrique Doniak Horário: São José, Janeiro de 2009. Sistemas Ópticos 1 / 11 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia CAPÍTULO 2: Fundamentação de Sistemas Ópticos 1. Origem da Onda Eletromagnética Sempre que houver um campo magnético variando no tempo, surgirá um campo elétrico induzido, de acordo com a lei de Faraday. Simetricamente, quando em uma região existir um campo elétrico variando no tempo, surgirá um campo magnético induzido, indicando que, no caso dinâmico, os campos elétrico e magnético são grandezas indissociáveis, constituindo o chamado campo eletromagnético. Esta idéia foi proposta inicialmente por Maxwell em 1864, e comprovada pouco tempo depois. A presença de um campo magnético variável no tempo implica em um campo elétrico variável no tempo, que novamente ocasionará um campo elétrico variável, e assim, indefinidamente. Portanto, a partir do momento em que uma dessas grandezas sofrer qualquer variação no tempo, ainda que transitoriamente, a outra será originada por indução. O resultado é uma sucessão de campos elétrico e magnético que se induzem mutuamente e se afastam da origem, constituindo uma onda eletromagnética. Esta onda pode ter direções preferenciais de deslocamento, dependendo das características de sua fonte e do ambiente em que estiver presente. O seu deslocamento é conhecido como propagação e garante a transferência da energia eletromagnética de um ponto para outro ponto do meio. 2. A Onda Eletromagnética em um Meio Ilimitado As experiências mostram que as ondas eletromagnéticas são compostas por um campo elétrico e um campo magnético, relacionados entre si através de um conjunto de leis da teoria eletromagnética. Quando a corrente que deu origem ao campo eletromagnético variar senoidalmente no tempo, os campos elétrico e magnético também variam senoidalmente no tempo. Em um meio ilimitado, esses dois campos formam um ângulo de 90º no espaço. A direção de deslocamento do conjunto é normal ao plano formado pelos vetores que representam os campos elétrico e magnético. O sentido de propagação segue a regra do parafuso de passo à direita, ou seja, inicia-se a rotação a partir do sentido do campo elétrico e gira a fenda do parafuso na direção do campo magnético da onda. O sentido do Sistemas Ópticos 2 / 11 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia deslocamento do parafuso coincide com o sentido de propagação da onda. A Figura 2.2.1 ilustra os eixos dos campos elétrico e magnético e a direção de propagação da onda eletromagnética. Figura 2.2.1: Orientações dos campos elétrico e magnético. De acordo com a Figura 2.2.1, em um meio ilimitado a onda possui o campo elétrico e o campo magnético perpendiculares entre si e em relação à direção de propagação. Isto é, em qualquer instante e em qualquer posição do espaço os campos elétrico e magnético estão contidos em um plano transversal à direção de propagação. 3. Comprimento de Onda Por definição, o comprimento de onda λ é a distância necessária para introduzir uma variação de fase de 2π radianos em uma onda senoidal propagando no meio especificado. Como o fator de fase β representa a modificação de fase por unidade de deslocamento, tem-se: 2 (Equação 2.3.1) Logo, 2 (Equação 2.3.2) Multiplicando e dividindo a expressão anterior pela frequência f, aparecerá no numerador a frequência angular νp. A relação entre a frequência angular e o fator de fase é a velocidade de fase na direção de propagação, assim pode-se redefinir o comprimento de onda como: Sistemas Ópticos 3 / 11 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia p f (Equação 2.3.3) As expressões mostradas acima, possuem fatores que dependem das características do material: o fator de fase e a velocidade de fase. Logo, uma onda eletromagnética com frequência fixa altera seu comprimento de onda ao passar de um material para outro. Quanto maior for a velocidade de propagação, maior será o comprimento de onda. A velocidade de fase máxima, quando medida na direção de propagação, coincide com a velocidade da luz no vácuo, o cálculo com este valor levará ao comprimento de onda máximo medido nessa direção. 4. Índice de Refração A velocidade de propagação da onda eletromagnética em outros meios ilimitados é menor do que o valor no vácuo. A maior parte dos materiais tem características magnéticas semelhantes ou muito próximas à do vácuo. Nesses casos, a velocidade de propagação fica na dependência das propriedades dielétricas do meio. Este parâmetro é variável com a frequência, principalmente quando se refere a valores muito elevados, como na faixa de microondas, de ondas milimétricas e nas faixas ópticas. O número que relaciona a velocidade no vácuo com a velocidade em outro meio qualquer é conhecido como índice de refração (N): N c p (Equação 2.4.1) Pode-se interpretar o índice de refração como sendo uma medida da densidade óptica do meio. Assim como a velocidade da luz em um cristal de quartzo é menor do que a velocidade no vácuo, significa que esse meio é mais denso. Como o comprimento de onda está associado à sua velocidade de propagação no meio, podem-se combinar as Equações 2.3.3 e 2.4.1 para obter o comprimento de onda para o meio considerado λm: m p f c o Nf N (Equação 2.4.2) Onde, λo é o comprimento de onda no vácuo e a frequência f é considerada invariável. Sistemas Ópticos 4 / 11 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Desta forma, pode-se concluir que o comprimento de onda varia na mesma proporção que a variação da velocidade de propagação. Exemplo 2.4.1: Para uma dada frequência óptica com índice de refração 1,31 (camada de gelo), calcule a velocidade de propagação da luz nesse meio. Solução: p Exemplo c 3 10 8 2,29 10 8 m / s N 1,31 2.4.2: Determinada irradiação eletromagnética apresenta comprimento de onda no vácuo igual a 1 µm. Qual é o comprimento dessa onda ao atravessar um composto de sílica cujo índice de refração é igual a 1,52? Solução: m o N 1 0,658m 658nm 1,52 Este valor corresponde a 2/3 do valor no vácuo. 5. Polarização da Onda Eletromagnética Conforme já foi explicado, os campos elétrico e magnético da onda variam no espaço e no tempo à medida que viajam no meio. Imagine um plano normal à direção de propagação, em uma distância qualquer da origem da onda, sobre o qual serão projetados os valores instantâneos do campo elétrico. Unindo os pontos projetados pela extremidade desse vetor, surge uma figura geométrica e o formato dessa figura define a polarização da onda eletromagnética, conforme ilustra a Figura 2.5.1. Se a projeção resultante for uma reta, diz-se que a polarização é linear, quando for uma circunferência, a onda possui uma polarização circular e quando for uma elipse, é polarização elíptica. Figura 2.5.1: Polarização da onda eletromagnética. Sistemas Ópticos 5 / 11 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia No estudo da luz, a polarização pode não ser tão perfeitamente definida. Isto acontece porque as fontes elementares que dão origem à irradiação luminosa, tais como, os átomos, as moléculas, transições de elétrons entre níveis de energia, são praticamente independentes entre si. Logo, a luz emitida é formada por ondas também independentes, cujos campos elétricos distribuem-se de maneira mais ou menos aleatória em torno da direção de propagação. Sempre que isto estiver acontecendo, diz-se que se trata de uma irradiação não-polarizada. Para muitas aplicações, é necessário prover um meio de garantir a polarização da luz que será utilizada. Modernamente, são construídos lasers que irradiam luz com uma polarização especificada. 6. Reflexão e Refração As equações de Maxwell mostram que um campo eletromagnético, ao incidir na fronteira entre dois meios, faz surgir duas outras ondas. Parte da energia retorna ao primeiro meio, formando a onda refletida, e a outra parte é transferida ao segundo meio, constituindo a onda refratada ou transmitida, conforme pode ser visto na Figura 2.6.1. Figura 2.6.1: Reflexão e Refração de uma onda incidente. Sistemas Ópticos 6 / 11 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Onde, os ângulos θi (ângulo de incidência), θr (ângulo refletido) e θt (ângulo refratado ou transmitido) representam as direções de propagação da onda incidente, refletida e refratada ou transmitida, respectivamente, em relação a normal à superfície de separação. A primeira lei da reflexão diz que os vetores que representam as direções de propagação das ondas incidente e refletida estão contidos em um mesmo plano, denominado plano de incidência, normal ao plano de separação entre os dois meios. A segunda lei da reflexão estabelece que o ângulo de reflexão é igual ao ângulo de incidência: i r (Equação 2.6.1) A lei de Snell ou lei da refração mostra que o ângulo da onda refratada faz com a normal à superfície de separação está relacionado com o ângulo de incidência dado por: sen i N 2 sen t N1 (Equação 2.6.2) Onde N1 e N2 representam os índices de refração dos meios. O ângulo de refração pode ser maior ou menor do que o ângulo de incidência. Exemplo 2.6.1: Um determinado feixe óptico vindo do ar (N1 = 1,00029) incide sobre uma região formada por quartzo fundido (N2 = 1,46). O ângulo que o feixe óptico no ar faz com a normal é de 58º. Calcule o ângulo de refração na região de maior densidade óptica. Solução: Pela lei de Snell: sen i N 2 sen(58) 1,46 sen t N1 sen t 1,00029 Logo, sen t 0,5810 t 35,5 . Nota-se que o ângulo de refração ficou menor do que o ângulo de incidência, aproximando-se da normal. Isso ocorreu devido o segundo meio ser mais denso do que o primeiro. Exemplo 2.6.2: Uma onda eletromagnética presente em um meio com índice de refração igual a 1,33, incide em outro meio, o ar. O ângulo de incidência em relação a normal é de 45º. Calcule o ângulo com o qual a onda eletromagnética emerge do meio incidente para o ar. Solução: sen i sen t Sistemas Ópticos N2 N1 sen(45) 1,00029 sen t 1,00029 sen45 1,33 sen t 1,33 7 / 11 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Logo, sen t 0,9402 t 70,1 Portanto, quando uma onda incide em um meio com menor densidade o ângulo com a normal será maior do que o de incidência, fazendo com que a direção de propagação da onda refratada, aproxime-se da superfície de separação dos meios. Conforme foi visto nos dois exemplos acima, o ângulo de refração cresce à medida que se aumenta o ângulo de incidência. Note também que, quando o meio 1 for mais denso que o meio 2 (N1 > N2), o ângulo de refração aumenta. Assim, existirá um valor para o qual o ângulo de refração resulta em 90º. Neste caso, o campo eletromagnético no segundo meio tende a se propagar paralelamente a essa superfície. Assim, não haverá mais transmissão de energia para dentro do segundo meio e a onda será totalmente refletida ao primeiro meio, conforme ilustra a Figura 2.6.2. O ângulo de incidência que satisfaz esta condição é denominado ângulo crítico (θc). Para determinar o ângulo crítico, deve-se atribuir 90º ao ângulo de refração na Equação 2.6.2, logo: sen c N2 N1 (Equação 2.6.3) Figura 2.6.2: Ângulo crítico. Quando o ângulo de incidência for maior do que o ângulo crítico, continuará a ocorrer reflexão total, com uma defasagem entre os campos refletido e incidente diferente da ocorrida sob a condição de ângulo crítico. Na separação entre os dois meios, no lado do material menos denso, o campo eletromagnético propaga-se paralelamente a essa interface. Se o ângulo for superior ao ângulo crítico, a Sistemas Ópticos 8 / 11 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia amplitude desse campo decresce exponencialmente com a distância normal à interface dos dois meios. O decréscimo será tanto mais rápido quanto maior for o ângulo de incidência em relação ao valor crítico. Como o ângulo crítico é um ângulo real, cujo seno é um número menor do que a unidade, o valor crítico só existe quando o índice de refração do meio de onde o campo eletromagnético está vindo for maior do que o do meio para onde ele estaria indo. Isto é, quando a onda tender a passar de um meio mais denso para um menos denso do ponto de vista eletromagnético. É importante observar que para ocorrer a reflexão total devem, obrigatoriamente, existir duas situações: O raio incidente deve ir do meio mais denso para o menos denso; O ângulo de incidência deve ser maior que o ângulo crítico. Outra observação importante, quando o raio incidente for perpendicular a superfície de separação dos meios, o mesmo não sofre mudança de direção. 7. Prisma Identifica-se o prisma como sendo um sólido de vidro ou de cristal, frequentemente utilizado para decompor a luz em seus comprimentos de onda constituintes. Apresenta formato triangular ou trapezoidal, na maioria das vezes. Seu comportamento é baseado no fato de que o índice de refração depende da frequência do campo eletromagnético em seu interior. O desenho de um prisma está apresentado na Figura 2.7.1. Sistemas Ópticos 9 / 11 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Figura 2.7.1: Prisma ilustrando a separação de diversos comprimentos de onda que compõem um feixe óptico. Um feixe óptico constituído dos comprimentos de onda λ 1, λ2, ..., λn, incide na face de entrada do prisma com determinado ângulo θ i. Para cada comprimento de onda, o material apresenta um índice de refração diferente. Portanto, o ângulo de transmissão dentro do vidro terá valor também diferente, de acordo com a lei de Snell. Assim, a incidência na face oposta terá um ângulo para cada comprimento de onda e, a transferência para fora do prisma ocorre com ângulos próprios para cada comprimento de onda. Conforme a refração mais ou menos acentuada, separam-se na saída do dispositivo as várias componentes do feixe óptico de entrada. Na Figura 2.7.1, tem-se uma refração no ponto de entrada do feixe óptico, de modo que a lei de Snell estabelece: Np sen i sen p N1 (Equação 2.7.1) Onde, θp é o ângulo de refração dentro do prisma, Np é o índice de refração do prisma. Na saída do prisma, pela lei de Snell: Np sen t sen ip N1 (Equação 2.7.2) Sendo θip o ângulo de incidência na face interna do prisma, no lado da saída do feixe óptico. O ângulo formado no ponto de cruzamento das normais às faces do prisma é igual ao ângulo existente entre os lados do prisma, uma vez que é formado por segmentos de reta perpendiculares aos lados. Como a soma dos ângulos internos do triângulo é igual a 180º, tem-se: p ip 180 180 p ip (Equação 2.7.3) Observa-se que a existência de um desvio de trajetória do feixe que sai do prisma em relação ao percurso de incidência na face oposta. Usando a propriedade da soma dos ângulos internos de um triângulo, na construção ABE tem: i (180 ) 180 i (Equação 2.7.4) No triângulo CDE, resulta: (180 i ) 180 Sistemas Ópticos (Equação 2.7.5) 10 / 11 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Então, substituindo a Equação 2.7.4 na Equação 2.7.5, obtém-se o desvio do raio na saída do prisma, que é característico para cada comprimento de onda: i t (Equação 2.7.6) Se na face de entrada de um prisma incidir uma luz branca, e um anteparo visível estiver localizado em sua saída, este será iluminado por faixas de cores que vão do vermelho ao violeta, conforme ilustra a Figura 2.7.2. Figura 2.7.2: Espectro de cores na saída de um prisma a partir de uma luz branca incidente. 8. Difração A difração consiste na possibilidade da onda contornar um obstáculo ou espalhar-se quando for parcialmente interrompida por ele. Ela representa uma forma de conseguir mudança na direção de um feixe óptico e tem ampla aplicação em vários dispositivos, tais como: lasers e filtros. 9. Exercícios 10. Referências Bibliográficas Sistemas Ópticos 11 / 11