o que é formar um professor? experiência de estágio na

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O QUE É FORMAR UM PROFESSOR? EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO
NA UNIVERSIDADE SEVERINO SOMBRA
PAIVA, Ana Maria Severiano de – USS-RJ
[email protected]
PINTO, Tânia Maria Machado – USS- RJ
[email protected]
SÁ, Ilydio Pereira de – USS- RJ / UNIBAN- SP
[email protected]
Área Temática: Práticas e Estágios nas Licenciaturas
Agência Financiadora: FUNADESP
Resumo:
Este ensaio tem o objetivo de apresentar experiência desenvolvida, a partir de 2007, no curso
de Licenciatura da Universidade Severino Sombra (USS), localizada no município de
Vassouras (RJ). A experiência se desenvolve a partir da criação de um setor – Central de
Estágio- com a atribuição de organizar e acompanhar o Estágio Curricular Supervisionado de
Ensino dos cursos que possuem como identidade principal a “formação de professores”. “ O
que é formar um professor?” Foi a pergunta inicial em 2007 e que continua a ser a mesma em
2009. O que se desejava era fazer com que os alunos estagiários compreendessem que não
basta ao professor ter conhecimento específico de sua área, mas também é necessário
conhecer para quem se dirige esse conhecimento. A experiência da USS questiona o senso
comum de que a “responsabilidade” de “formar professores” estaria concentrada no “tempo e
nas atividades de estágio”, sendo neste em que a “prática” se produziria e se aprenderia. A
experiência fundamenta-se na perspectiva crítico-reflexiva desenvolvida por autores como
Paulo Freire, António Nóvoa, Donald Schon, Ken. Zeichner e Selma Garrido Pimenta. Dentre
os resultados obtidos identificamos que o Estágio ganhou na USS centralidade na formação
de professores para além do cumprimento de carga horária e realização de tarefas,
tradicionalmente prescritas e burocratizadas, ao trazer aos cursos de licenciatura discussões
sobre múltiplos locais de “formação”; saber(es) da docência; identidade de professor(a);
conceito de aula; tempos, espaços e modos de ser da “prática docente”. Esses resultados
pretendem contribuir para a discussão sobre as licenciaturas, sobre a formação de educadores
e sobre o papel da universidade, enquanto o espaço de formação inicial.
Palavras-chave: Formação docente, Estágio supervisionado, Prática docente.
Introdução
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A Formação de Professores é uma das questões mais instigantes para as instituições
formadoras tanto as de formação inicial, quanto as de formação continuada. A história da
Universidade Severino Sombra (USS) se faz tendo a formação de educadores como um de
seus objetivos, ainda no final da década de 1970, na cidade de Paraíba do Sul, município do
Estado do Rio de Janeiro.
No campo da graduação, a concepção de qual professor se quer formar tem se colocado
como desafio para as Universidades. Mudar as concepções e as práticas é parte do processo de
“formar professores”, quando constantemente os “formadores” se perguntam: Qual professor
formar? Para que formar professores?
É a partir da perspectiva crítico-reflexiva sobre formação de professores de autores
como Paulo Freire, António Nóvoa, Donald Schon, Ken. Zeichner e Selma Pimenta que vem
se organizando, a partir do segundo semestre de 2007, na Universidade Severino Sombra,
localizada no município de Vassouras (RJ) as atividades do Estágio Curricular
Supervisionado de Ensino, componente curricular obrigatório.
A legislação que regulamenta o estágio curricular supervisionado conceitua o Estágio
como sendo “tempo de aprendizagem que, através de um período de permanência, alguém se
demora em algum lugar ou ofício para aprender a prática do mesmo e depois poder exercer
uma profissão ou ofício”, por isto é chamado de estágio curricular supervisionado. É o
Estágio um momento de formação profissional seja pelo exercício direto in loco, seja pela
presença participativa em ambientes próprios de atividades da área profissional específica,
sob responsabilidade da instituição de Ensino Superior. Na Universidade Severino Sombra
(USS), são responsáveis pelo Estágio a Coordenação dos Cursos de Graduação -modalidade
Licenciatura- e a supervisão da Central de Estágios de Licenciaturas e Bacharelados (CELB).
A Central de Estágios de Cursos de Licenciatura e Bacharelado (CELB) criada pela
Universidade Severino Sombra, para atuar a partir do segundo semestre de 2007, tem como
atribuições estabelecer as normas e critérios para organizar, supervisionar e acompanhar as
práticas de Estágio. A CELB é constituída por um coordenador do setor, por “Professores
Supervisores da Central de Estágios” e por “Professores Supervisores de Curso” com o
objetivo de organizar e supervisionar o Estágio Curricular Supervisionado de Ensino dos
cursos de graduação, do Centro de Ciências Exatas, Tecnológicas e da Natureza (CECETEN)
e Centro de Letras, Ciências Sociais Aplicadas e Humanas (CELCSH) em acordo com as
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Diretrizes Curriculares Nacionais- perfil do egresso- com o Projeto Pedagógico de cada curso,
bem como com o Regulamento da Licenciatura e Bacharelado, em concordância com o
Regimento desta instituição.
A temática central da proposta de Estágio Curricular Supervisionado na Universidade
Severino Sombra (USS) é a unidade entre a teoria e a prática na formação de professores para
os anos finais do ensino fundamental e séries do ensino médio. Essa temática vem trazendo
desafios. O que apresentamos neste trabalho são exemplos de experiências desenvolvidas
entre 2007 e 2009, nos cursos de licenciatura.
Fundamentando as experiências de estágio
Refletir sobre práticas pedagógicas para o século XXI exige colocar em questão: a
Formação de Professores e os locais de Formação. Considerando-se a perspectiva do
educador português António Nóvoa é a ESCOLA o melhor lugar para aprender e ensinar.
Afirma o educador que a produção de práticas educativas eficazes só surge de uma reflexão
da experiência pessoal partilhada entre os colegas, sendo importante ter conhecimento sobre o
significado que a escola tem na história de vida das pessoas, na história de cada local. No
mesmo sentido Paulo Freire (1996) considera que na formação permanente dos professores, o
momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. Para Freire formar é muito mais
do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas. Para Schon (1992) o
processo de formação exige reflexão na ação; reflexão sobre a ação. Na perspectiva de Ken
Zeickner (1992, 1998) e de Nóvoa (1992, 2000) não basta mudar o profissional, é preciso
mudar também os contextos em que ele intervém. É neste sentido que a USS, através do
Estágio busca “intervir” na formação do futuro professor já durante o seu processo de
formação, para que não exista desarticulação entre teoria e prática, entre universidade e escola
básica.
Analisando-se o Regulamento do Estágio Supervisionado da USS, que normatiza as
atividades de Estágio, identificamos que este, coerente com a perspectiva crítico-reflexiva,
visa favorecer a formação do professor-pesquisador, do professor-reflexivo sobre a prática
pedagógica, sobre os saberes que definem a identidade do profissional que atua na Educação
Básica, possibilitando ao futuro licenciado identificar e exercer competências exigidas na
prática profissional, especialmente quanto à docência. É através das atividades de Estágio que
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o licenciando acompanha aspectos do cotidiano da instituição escolar que fazem parte das
incumbências dos docentes, conforme Legislação Educacional (LDB n. 9394, Art. 11, 12, 13,
14).
A experiência desenvolvida pela USS, através das atividades de Estágio, parte da
compreensão de que o tempo de formação, não é exclusivamente associado ao “tempo e as
atividades de estágio”, mas articulado com todas as experiências vividas durante o curso
superior. O educador António Nóvoa (1992, p.18) ao refletir sobre o tempo de formação
afirma que “[...] mais do que um lugar de aquisição de técnicas e de conhecimentos, [...] é o
momento-chave da socialização e da configuração profissional”. Crítica o autor a redução da
profissão docente a um conjunto de competências e de capacidades. Afirma que esta redução
contribui para realçar a dimensão técnica da ação pedagógica, impondo uma separação entre
o eu pessoal e o eu profissional. Seria através “do tempo de formação”, quando identificado à
vivência em curso de licenciatura, através das atividades de Estágio que possibilitariam a
apropriação dos seus processos de formação, contribuindo para dar-lhes um sentido no
quadro de suas histórias de vida.
Para Zeichner (1992) a reflexão sobre a prática não é um conjunto de técnicas que
possam ser empacotadas e ensinadas aos professores, não consiste num conjunto de passos ou
procedimentos específicos. Ser reflexivo é uma maneira de ser professor.
Na perspectiva crítica reflexiva questiona-se uma formação com currículo formal com
conteúdos e atividades de estágios distanciados da realidade das escolas, numa perspectiva
burocrática e cartorial que pouco tem contribuído para gestar uma nova identidade do
profissional docente. (PIMENTA, 2000). Para a autora a licenciatura teria como função
formar o professor; desenvolver nos alunos conhecimentos e habilidades, atitudes e valores
que lhes possibilitem permanentemente irem construindo seus saberes-fazeres docentes ao
mobilizarem os conhecimentos da teoria da educação e da didática e investigarem a própria
atividade.
Nenhum professor consegue criar, planejar, realizar, gerir e avaliar situações didáticas
eficazes para a aprendizagem e para o desenvolvimento dos alunos se ele não compreender,
com razoável profundidade e com a necessária adequação a situação escolar, os conteúdos das
áreas do conhecimento que serão objeto de sua atuação didática, os contextos em que se
inscrevem e as temáticas transversais ao currículo escolar.
Ao professor, segundo a LDBN n. 9394/96 (art. 12) incumbe zelar pela aprendizagem
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do aluno-inclusive daqueles com ritmos diferentes de aprendizagem-, tomando como
referência, na definição de suas responsabilidades profissionais, o direito de aprender do
aluno. Associado a esta incumbência está o exercício da autonomia do professor, na execução
de um plano de trabalho próprio, assim como o trabalho coletivo de elaboração da proposta
pedagógica da escola. Para os cursos de Licenciatura, espaços de formação de docentes há um
local específico para atuação e formação - as escolas- e que não são apenas instituições cujo
trabalho se esgota na instrução, mas, ao contrário, são espaços complexos onde circulam
culturas, ideologias e visões de mundo.
A escola e a docência: objetos de investigação
Na proposta de Estágio da USS considerou-se a Escola como objeto de estudo e a
Docência como campo de investigação. Na Universidade Severino Sombra o Estágio está
dividido entre os três últimos semestres letivos. A exceção é para o curso de Pedagogia
dividido em quatro (4) etapas para atender a diversidade de área de atuação docente como
também o curso de Ciências Bilógicas, por oferecer Bacharelado e Licenciatura, em um
mesmo curso.
São características da organização do Estágio, na Universidade Severino Sombra: a) No
Estágio I o licenciando será estimulado a “observar a instituição escolar”; b) No Estágio II e
III o aluno inicia a docência. Primeiramente nos anos finais do ensino fundamental e depois
no Ensino Médio. Em todos eles estimula-se a docência no regular e na modalidade da
educação de jovens e adultos, assim como a inserção em atividades extra-classe e projetos das
instituições escolares.
Começa no Estágio I a proposta de formar um professor que reflita sobre o local, os
sujeitos e as relações que envolvem o “ser professor”, antes de “ser professor de uma
determinada disciplina”.
É através das atividades de Estágio que o licenciando acompanha aspectos do cotidiano da
instituição escolar que fazem parte das incumbências dos docentes, conforme Legislação
Educacional (LDB n. 9394, Art. 11, 12, 13, 14).
Todos os alunos, independentemente de cursarem a licenciatura possuem experiências
no espaço escolar. Foram alunos da escola básica, são alunos do ensino superior, mas, neste
momento em que ampliam as identidades(s) de educadores torna-se necessário refletir sobre o
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espaço em que exercerão sua atividade profissional. As atividades propostas incentivarão a
observação geral da instituição-escola em seus aspectos pedagógicos, sociais, culturais e
administrativos; a observação de atividades pedagógicas no campo das redes sociais (reunião
com famílias; professores; equipe técnico-pedagógica; equipe de apoio); no campo do
processo de ensino e aprendizagem (regência de turma); laboratórios, extra-classe, projetos
pedagógicos, utilização de tecnologias de informação e comunicação, etc. observação de
Conselho de Classe.
Para todas as atividades chama-se a atenção dos licenciandos de que a sua experiência
de vida e a sua concepção de mundo, orientará “o olhar”, as “observações” sobre todas as
atividades que constituem a prática docente. É objetivo do planejamento para a conclusão do
Estágio criar condições para a reflexão sobre a prática. Como estratégia para atingir esse
objetivo desenvolve-se atividades que passaremos a relatar.
Experiência 1: Leitura, debate e resenha de livro articulado a formação e prática
docente.
Esta atividade desenvolve-se em três etapas: leitura, debate e resenha. A primeira delas
começa quando os professores supervisores de estágio definem, em reunião, qual será o livro
do período para todos os alunos, em estágio. A escolha recairá em livro de reflexão sobre
formação e prática docente.
A segunda etapa ocorre quando os alunos de todas as licenciaturas, mediados pelos
professores de estágio, participam de debate sobre a leitura do livro. Como esta atividade
ocorre ao final do semestre e reúne alunos de diferentes tempos de estágio, observamos o
cotejamento da teoria com a prática, com exemplificações trazidas pelo cotidiano de “ser
estagiário”. A última etapa é quando os alunos, após a leitura e o debate, realizam resenha
sobre o livro. A partir de 2009:2 será incluído um filme como possibilidade para também
discutir articulação entre escola, docência, cultura, sociedade.
Nos dois anos -2007-2009- de existência da Central de Estágios foram livros lidos:
a) HOFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré-escola à
universidade. Porto Alegre: Editora Mediação, 1993. O texto contribui para discussão sobre práticas
avaliativas tanto no ensino superior, quanto na escola básica;
b) DEMO, Pedro. Professor do Futuro e Reconstrução do Conhecimento. Editora Vozes:
2004. O texto discute a importância estratégica do professor numa sociedade do
conhecimento.
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c) FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à prática educativa. Ed.
Paz e Terra. 1999. O texto tem o objetivo de pensar sobre o que é “ensinar”, ao refletir sobre
saberes necessários à prática educativo-crítica.
d) PARO, Vitor Henrique. Gestão Escolar, Democracia e Qualidade de Ensino. Ed. Atica.
2007. O autor examina o conceito de qualidade do ensino e sua relação com a democracia na
organização da escola, propondo reflexões sobre o papel sociopolítico da educação.
e) BURKE, Thomas Joseph. O Professor Revolucionário. Ed. Vozes. 2003. O autor
argumenta que é necessária uma “verdadeira revolução educacional” que deve ser iniciada
dentro da cada professor.
f) ALVES, Rubem. Conversas Sobre Educação. Ed. Verus. 2005. O autor estimula a postura
de um educador provocativo que tenha capacidade de induzir ao raciocínio, curiosidade,
indignação e o desafio.
g) ANTUNES, Celso. Professor E Professauros: reflexões sobre a aula e as práticas Diversas.
Editora Vozes, 2007. O autor instiga a refletir sobre “o ser professor” . Desafia a pensar sobre
a necessidade de ser curioso, investigador, crítico sobre a prática docente.
Experiência 2: Realização de oficinas e elaboração de portfólio
A partir da etapa de Estágio em que o aluno terá como uma de suas atividades a
regência de turma, busca-se valorizar diferentes possibilidades do que se denomina “aula”.
Esta não apenas a que tradicionalmente o estagiário está habituado a assistir e mesmo a ser
avaliado, a “aula individual” e em que deve demonstrar conhecimento de conteúdo específico
a sua área de formação. A partir da criação da Central de Estágios, na USS, inclui-se no
processo de docência e, portanto, de avaliação e validação a aula-oficina. Através desta os
licenciandos terão a possibilidade de “construir” coletivamente a “aula”, terão a possibilidade
de, a partir de um tema, articular de forma transdisciplinar a sua área específica de
conhecimento com outras. Parte-se da compreensão de que a complexidade da proposta
transversal faz com que nenhuma das áreas, isoladamente, seja suficiente para abordá-los. Ao
contrário, a problemática Transversal atravessa os diferentes campos do conhecimento.
A partir desta atividade estimula-se no futuro professor a prática de considerar a
necessidade de, na sua experiência no espaço escolar, desenvolver práticas pedagógicas em
conjunto com professores de diferentes disciplinas escolares.
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Esta prática de Estágio se fundamenta na crítica a uma concepção de conhecimento
que toma a realidade como um conjunto de dados estáveis, sujeitos a um ato de conhecer
isento e distanciado. Ambas apontam a complexidade do real e a necessidade de se considerar
a teia de relações entre os seus diferentes e contraditórios aspectos. Neste sentido a USS
discute o conceito de “aula” que, em uma prática “tradicional” é concebida como restrita as
quatro paredes da sala de aula, em que o professor é o centro e os alunos são aqueles que
“recebem” o conhecimento pré-definido pelo “professor que sabe”, para alguém, o “aluno que
não sabe”.
A concepção assumida pelos professores da CELB considera “aula” como uma prática
que se faz em tempos e espaços múltiplos; que se faz de forma transdisciplinar.
Considera-se “aula” atividades como: visita guiada a museu, a biblioteca, arquivos,
conjuntos arquitetônicos; visita a trilhas; oficinas realizadas em instituições de ensino;
oficinas realizadas em laboratório na USS ou na escola, campo de estágio
Como se desenvolvem? Inicialmente os professores supervisores de estágio, da
Universidade Severino Sombra definem, em parceria com os professores da Escola Básica,
onde ocorrerão as “oficinas”, o tema/o conteúdo a ser desenvolvido. A partir de então os
alunos-estagiários, em grupo e com a parceria do professor supervisor, organizam as
atividades, definem a metodologia e os recursos que serão utilizados. Sempre o que move a
construção da “oficina” é uma proposta de trabalho capaz de integrar os alunos no
desenvolvimento das oficinas, fazendo com que também sejam protagonistas da “oficina”,
educandos e educadores se alternam, aprendizes serão todos: estagiários e alunos da escola
básica. O professor mediador do processo de conhecer aflora na experiência da “oficina”.
Como afirma Ponte (2003) as atividades de investigar e ensinar não são necessariamente
contraditórias: “Eu próprio tenho retirado muitos benefícios para a minha atividade de
investigação do contacto com os meus alunos, pelo desafio que eles colocam à organização
das idéias e pelas perguntas pertinentes que obrigam muitas vezes a repensar os problemas”
(PONTE, 2003, p.2).
De um modo geral os alunos reagem muito bem à proposta de “aula-oficina”, não
somente os alunos-estagiários, mas principalmente os alunos das classes em que se fazem as
oficinas e também os professores que percebem “uma outra forma de ministrar aula”, que é
capaz de “despertar o prazer de aprender”, de “partir (do) e valorizar o saber extra-escolar”.
Como material complementar, e de apoio às oficinas, temos recomendado o uso de
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paradidáticos, revistas e materiais multimídia, envolvendo temas como: lúdicos, curiosidades,
metodologias, história da disciplina.
Para fazer as oficinas os alunos precisam investigar o que vão ensinar, mas
principalmente como vão ensinar, como vão propor atividades que estimulem a participação,
quais materiais serão mais instigantes para o aprender, que nessa proposta se define e se
articula com o ato de investigar.
A composição do relatório final será com a inclusão do portfólio (registro das oficinasatividades)
relatório de todas as atividades e documentos de estágio. O grupo deverá
apresentar porfólio da oficina-atividade com discriminação das atividades individuais de cada
membro do grupo, em todas as oficinas realizadas. O professor supervisor de cada curso de
graduação irá avaliar individualmente cada aluno a partir de: a) apresentação durante a
oficina;
b) apresentação no portfólio. O portfólio deverá conter textos, fotos, atividades,
planejamento, avaliação das oficinas-atividades; considerações individuais sobre as atividades
como também as experiências vivenciadas nesta prática pelo aluno-estagiário.
Experiência 3: Reflexão sobre as experiências de estágio
Em um encontro, no final do semestre, que reúne todos os alunos dos cursos de
graduação-licenciatura, os que são estagiários apresentam e refletem sobre as atividades de
estágio. Falam aos “futuros estagiários”, informam publicamente sobre a concepção que a
USS considera como sendo a que responde a questão inicial de 2007: “O que e como formar
um professor?”
A experiência desenvolve-se a partir de Mesa-Redonda com um aluno representante
por curso e etapa de estágio para apresentar questões emergentes da experiência de estágio
como: a) observação das instituições escolares (reuniões, planejamento, projetos); b)
observação e participação em regência de classe; c) reflexão sobre práticas avaliativas; d)
reflexão sobre a prática de estágio (observação e docência) nas três redes de ensino em que
desenvolvem o estágio: municipal, estadual e particular; e) reflexão sobre a prática das
oficinas e realização de portifólio; f) reflexão sobre a participação em projetos das instituições
escolares; g) reflexão sobre a experiência em espaços não-escolares, especificamente para o
curso de Pedagogia.
A atividade possibilitou avaliar a proposta de realização do Estágio. Uma questão que,
para a experiência da USS, é fundamental é que o futuro professor consiga identificar que a
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sua função não se “reduz” a “dar aulas”, mas é preciso ter perguntas sobre para quem serão
ministradas as aulas.
Considerações Finais
Dentre os resultados obtidos identificamos que o Estágio ganhou centralidade na
formação de professores para além do cumprimento de carga horária, realização de tarefas,
tradicionalmente prescritas, ao trazer aos cursos de licenciatura discussões sobre múltiplos
locais de “formação”; saber (es) da docência; identidade de professor(a); conceito de aula;
tempos, espaços e modos de ser da “prática docente”. Esses resultados pretendem contribuir
para a discussão sobre as licenciaturas e investigar uma pergunta fundamental. Como é que
cada um se tornou no professor que é hoje?
O que a proposta de Estágio Supervisionado da USS procura ter como eixo norteador é a
compreensão de que a Escola, anteriormente reconhecida pela sociedade como a instituição da
aprendizagem e do contato com o conhecimento, a tecnologia e a cultura produzidas pela
humanidade, encontra-se frente a uma série de desafios trazidos pelas mudanças do mundo
globalizado.
Novas tarefas são atribuídas à escola, não porque seja a única instância responsável pela
educação, mas por ser a instituição que desenvolve uma prática educativa planejada e
sistemática, durante um período contínuo e extenso do tempo na vida das pessoas.
Para acompanhar as transformações da sociedade e/ou ser a propulsora de
transformações, a escola precisa, portanto, reorientar constantemente as suas práticas. Mas
não será a escola básica a única a cumprir esse desafio, também a instituição de ensino
superior, que se pretende formadora de professores, terá que responder essa questão. Sobre
esses dois espaços, por nós considerados como “espaços de formação, incide a investigação:
Como formar professores?
REFERÊNCIAS
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de 1996.
356
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1996.
NÓVOA, António. Formação de professores e profissão docente in NÓVOA, António. Os
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PONTE, João Pedro. Investigar, ensinar e aprender. Actas do ProfMat 2003 (CD-ROM, pp,
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